Até
quem sabe a voz do dono
Gostava
do dono da voz
A INSUSTENTÁVEL
LEVEZA DO SER
(...)
Nesse momento, o
intérprete que ia na frente do grupo colocou um grande alto-falante na boca e
se pôs a gritar em língua khmer para a outra margem do rio:
(...)
A resposta da outra
margem foi um silêncio inacreditável. Um silêncio tão absoluto que todo mundo
ficou angustiado.
(...)
O intérprete gritou
seu apelo no megafone pela segunda vez. Como na primeira, teve como única
resposta um enorme silêncio infinitamente indiferente.
(...)
Pela terceira vez,
o intérprete gritou seu apelo no megafone.
Mais uma vez, o
silêncio respondeu, transformando de repente a angústia de Franz em raiva
frenética.
(...)
Por Milan Kundera em a insustentável
leveza do ser na tradução de Teresa Bulhões de Carvalho da Fonseca
para L’Insoutenable Légètereté de l’Être, com base na versão
francesa de François Kérel.
"Minha voz, se
vós não sereis minha
Vós não sereis de
mais ninguém"
A
Voz do Dono e o Dono da Voz
Chico
Buarque
Até quem sabe a voz do dono
Gostava do dono da voz
Casal igual a nós, de entrega e de abandono
De guerra e paz, contras e prós
Fizeram bodas de acetato - de fato
Assim como os nossos avós
O dono prensa a voz,
A voz resulta um prato
Que gira para todos nós
O dono andava com outras doses
A voz era de um dono só
Deus deu ao dono os dentes
Deus deu ao dono as nozes
Às vozes Deus só deu seu dó
Porém, a voz ficou cansada após
Cem anos fazendo a santa
Sonhou se desatar de tantos nós
Nas cordas de outra garganta
A louca escorregava nos lençóis
Chegou a sonhar amantes
E, rouca, regalar os seus bemóis
Em troca de alguns brilhantes
Enfim a voz firmou contrato
E foi morar com novo algoz
Queria se prensar,
Queria ser um prato
Girar e se esquecer, veloz
Foi revelada na assembléia - atéia
Aquela situação atroz
A voz foi infiel, trocando de traquéia
E o dono foi perdendo a voz
E o dono foi perdendo a linha - que tinha
E foi perdendo a luz e além
E disse: "Minha voz, se vós não sereis minha
Vós não sereis de mais ninguém"
(O que é bom para o dono é bom para a voz
O que é bom para o dono é bom para vós
O que é bom para o dono é bom para nós)
Composição: Chico Buarque
Há
controvérsias
-
Foi a campainha que tocou?
-
Não foi a Banda de Chico Buarque.
“Francisco Milani nasceu na capital paulista, em 19 de
novembro de 1936. Sua carreira artística teve início em 1959, na TV Tupi de São
Paulo, tendo participado de vários TVs de Vanguarda, principal teleteatro da
época. Também atuou em muitos TVs de Comédia, pois já se percebia sua veia
cômica. Francisco Milani também era ligado à política e chegou a ser eleito
vereador no Rio de Janeiro, pelo Partido Comunista do Brasil. Em agosto de
2005, Francisco Milani faleceu de falência múltipla dos órgãos., na cidade do
Rio de Janeiro. Seu corpo foi cremado e suas cinzas jogadas ao mar. Toda a
família televisiva chorou sua morte.”
‘...em
vez de "se vós não sereis minha”, o bom português não mandava escrever
"se vós não fordes minha"?...’
Nota
sobre A voz do dono e o
dono da voz
Por Humberto Werneck
dono da voz
Por Humberto Werneck
Das mãos do pai, Chico recebeu um exemplar do
Dicionário analógico da língua portuguesa, do goiano Francisco Ferreira dos
Santos Azevedo, com a informação certeira de que a obra lhe seria muito útil.
Tanto tem sido que Chico cuidou de tê-la em duplicata — carregou o volume, em
mau estado (é de 1950), para o seu apartamento parisiense e comprou outro
para ter à mão no Rio de Janeiro. Os dicionários, aliás, vêm a ser uma de
suas saudáveis obsessões, ao lado de variadas obras de referência — e foi
essa paixão que o levou, certa vez, a ir fundo no esclarecimento de um
suposto erro numa letra, apontado por um admirador que era fã, também, da
ortodoxia gramatical.
Quem conta é o paulista Wagner Homem, responsável pelo
website do compositor e provavelmente a mais copiosa fonte de informações
sobre ele, sua obra e sua carreira. No final de 1998, durante os ensaios para
o show As cidades, Wagner — "Kxorrão", como é por todos tratado —
esteve com o amigo no Rio e lhe falou de um e-mail que tinha recebido, no
qual um professor, "todo formal, chamando o Chico de senhor",
questionava um verso de "A voz do dono e o dono da voz": em vez de
"se vós não sereis minha” , o bom português não mandava escrever
"se vós não fordes minha"?, questionava o remetente. "Chico
coçou a orelha, num gesto muito seu, e arriscou uma ou duas explicações, sem
muita convicção, tanto que não me convenceu", conta o Kxorrão.
"Brinquei com ele, disse que ia responder ao cara que o dono da voz,
além de arrogante, era ignorante."
No final da temporada, pelo menos seis meses depois
dessa conversa, Chico ligou insistentemente para Wagner e, como não conseguiu
falar com ele, deixou recado na secretária eletrônica: "Kxorro, sobre
aquele negócio da 'Voz do dono e o dono da voz', ouça aqui" — e leu uma
informação do dicionário Caldas Aulete, para concluir, de alma lavada:
"Portanto, eu estava certo!". A história, acredita o amigo,
"deve ter ficado em algum lugar prioritário da memória do Chico,
esperando acabar a turnê, e resolver essa questão seguramente foi uma das
primeiras coisas que ele fez depois de descansar um pouquinho".
(O autor de "A voz do dono e o dono da voz"
também se lembra do episódio, mas diz que o dicionário apenas corroborou a
explicação que deu ao Kxorrão já no primeiro momento, e que este julgou
inconvincente. "Eu dizia que o 'se', no caso, não era condicional, mas
uma constatação desesperançada, equivalente a um 'já que', ou seja: se você
não será minha, não será de mais ninguém." E acrescenta: "Mas não
faz mal, a versão do Kxorrão é melhor do que a minha")
© Copyright Humberto Werneck, em Chico Buarque: Tantas
Palavras, Cia da Letras, 1989
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Leia mais notas sobre A voz do dono e o dono da voz:
|
Crônica do livro Chico Buarque Letra e Música, de
Humberto Werneck, Cia da Letras, 1989
"se
vós não fordes minha"?
Senador
exibe áudio de Lula e Gleisi vai à loucura
“(...) Gleisi Hoffmann perde o controle após José
Medeiros expor gravação no Senado.”
É o
Foro de São Paulo que defende a democracia
Combatido, fórum trata de bandeiras avançadas
Gleisi
Hoffmann: É o Foro de São Paulo que defende a democracia
“O governo de extrema-direita de Jair Bolsonaro mente
sobre o Foro nas redes sociais, em cumplicidade com setores ativos na
imprensa”, afirma Gleisi em artigo publicado na Folha de S. Paulo
25/07/2019 08h29
Karol Santos
Gleisi
Hoffmann
Como faz desde 1990, o Partido dos Trabalhadores estará
presente à 25ª reunião do Foro de São Paulo, que neste ano se realiza em
Caracas. O PT e mais de 120 partidos políticos progressistas e de
esquerda de 25 países latino-americanos e caribenhos, além de centenas de
observadores de todo o mundo, incluindo 60 representantes de movimentos
sociais dos Estados Unidos que pela primeira vez participam
do Foro.
Debateremos as opções progressistas e de esquerda na
construção de alternativas ao neoliberalismo que devastou a região nas últimas
décadas do século 20 e vem se impondo novamente, muitas vezes por meio de
governos autoritários e de origem não democrática.
Em nossa concepção, ser de esquerda é defender a
igualdade das pessoas em direitos sociais e econômicos e lutar por um Estado
que promova o desenvolvimento com inclusão, frente à ferocidade do mercado. É
ser contra a fome e a pobreza.
Nesses 29 anos, o Foro de São Paulo vem
mantendo o compromisso de sua declaração inaugural “com a vigência dos direitos
humanos, com a democracia e a soberania popular”.
Partidos ligados ao Foro chegaram, sempre pelo voto, ao
governo de mais de uma dezena de países: Brasil, Uruguai, Chile, Bolívia,
Paraguai, Equador, entre outros. E em todos a opção democrática resultou em
redução das desigualdades, mais direitos, crescimento e soberania.
As questões que se colocam hoje para o campo de esquerda
e progressista na América Latina e no Caribe ligam-se ao avanço do
neoliberalismo e do imperialismo no mundo e na região, com suas trágicas
consequências de aumento da pobreza, ameaças à democracia e à paz, tentativas
de ingerência econômica, política, social e até mesmo militar. Por isso, o
tema central do Foro neste ano é “pela paz, soberania e prosperidade dos
povos”.
Ao lado de bandeiras históricas como o fim do criminoso
bloqueio econômico dos Estados Unidos contra o povo de Cuba, o PT
defenderá no Foro a construção da paz na Venezuela, apoiando os diálogos
de negociação promovidos pelo governo da Noruega, e também na Colômbia, onde
centenas de lideranças sociais e populares foram mortas desde os acordos de paz
de 2016.
Aqui vale lembrar que do Foro participam
partidos políticos comprometidos com a via democrática. O ingresso das Farc se
deu só após a conversão em partido legal, a Fuerza Alternativa Revolucionaria del
Común, no âmbito do acordo de 2016. Também foi depois de depor as armas e atuar
como partido que o M-19 colombiano participou, nos anos 1990.
Tratar um fórum político de tais dimensões como se fosse
uma organização secreta, uma rede clandestina de seitas terroristas, há muito
deixou de ser mera demonstração de ignorância ou preconceito ideológico.
O governo de extrema-direita de Jair Bolsonaro mente
sobre o Foro nas redes sociais, em cumplicidade com setores ativos na
imprensa, na academia e até nos meios diplomáticos. Sua visão autoritária de
mundo exclui a existência do outro. Legítimos, para eles, só os fóruns entre
seus iguais, como a conferência de partidos conservadores que a família
Bolsonaro quer realizar no Brasil, ou o Prosul, criado para atacar a Unasul e
os países que ainda exercem sua soberania frente aos Estados Unidos.
Democracia é a palavra-chave na construção de uma
sociedade mais justa e é disso que tratamos no Foro. Essa pauta inclui
necessariamente a liberdade de todas as lideranças políticas e sociais da
região, especialmente a do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva,
sem o que não se pode falar em respeito aos direitos democráticos no Brasil.
Como se vê, é o tão combatido Foro de São Paulo que levanta as bandeiras mais
avançadas diante da crise política, social, econômica e de valores
civilizatórios que vivemos.
Gleisi Hoffmann é Deputada federal (PT-PR),
presidenta nacional do PT, ex-senadora (de fev. a jun.2011 e de fev.2014 a
jan.2019) e ex-ministra-chefe da Casa Civil (2011-2014, governo Dilma)
Artigo publicado originalmente na Folha de S. Paulo
Soltura
de Lula no Foro de São Paulo
Leia mais sobre este assunto
Gleisi
Hoffmann defendeu o Foro de São Paulo (na Folha de São Paulo):
“Como faz desde 1990, o Partido dos Trabalhadores estará
presente à 25ª reunião do Foro de São Paulo, que neste ano se realiza em
Caracas. O PT e mais de 120 partidos políticos progressistas e de esquerda de
25 países latino-americanos e caribenhos, além de centenas de observadores de
todo o mundo, incluindo 60 representantes de movimentos sociais dos Estados
Unidos que pela primeira vez participam do Foro (…).
O governo de extrema direita de Jair Bolsonaro mente
sobre o Foro nas redes sociais, em cumplicidade com setores ativos na imprensa,
na academia e até nos meios diplomáticos. Sua visão autoritária de mundo exclui
a existência do outro.”
Ela disse também:
“Democracia é a palavra-chave na construção de uma
sociedade mais justa e é disso que tratamos no Foro. Essa pauta inclui
necessariamente a liberdade de todas as lideranças políticas e sociais da
região, especialmente a do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, sem o que
não se pode falar em respeito aos direitos democráticos no Brasil.”
Isso
mesmo: democracia, para Gleisi, é a soltura de um criminoso.
Referências
https://youtu.be/050xNbpGeOU
https://www.letras.mus.br/chico-buarque/45102/
https://youtu.be/5Ni6Ia2Uuz8
https://www.youtube.com/watch?v=5Ni6Ia2Uuz8
http://www.chicobuarque.com.br/letras/notas/n_werneck.htm
https://youtu.be/jsvayxnPwh4
https://www.youtube.com/watch?v=jsvayxnPwh4
https://pt.org.br/wp-content/uploads/2019/04/photo5012957322925942804-780x440.jpg
https://pt.org.br/gleisi-hoffmann-e-o-foro-de-sao-paulo-que-defende-a-democracia/
https://www.oantagonista.com/brasil/soltura-de-lula-no-foro-de-sao-paulo/
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