quinta-feira, 25 de julho de 2019

A voz do dono e o dono da voz




Até quem sabe a voz do dono
Gostava do dono da voz



A INSUSTENTÁVEL LEVEZA DO SER

(...)

Nesse momento, o intérprete que ia na frente do grupo colocou um grande alto-falante na boca e se pôs a gritar em língua khmer para a outra margem do rio:

(...)

A resposta da outra margem foi um silêncio inacreditável. Um silêncio tão absoluto que todo mundo ficou angustiado.

(...)

O intérprete gritou seu apelo no megafone pela segunda vez. Como na primeira, teve como única resposta um enorme silêncio infinitamente indiferente.

(...)

Pela terceira vez, o intérprete gritou seu apelo no megafone.
Mais uma vez, o silêncio respondeu, transformando de repente a angústia de Franz em raiva frenética.

(...)

Por Milan Kundera em a insustentável leveza do ser na tradução de Teresa Bulhões de Carvalho da Fonseca para L’Insoutenable Légètereté de l’Être, com base na versão francesa de François Kérel. 


"Minha voz, se vós não sereis minha
Vós não sereis de mais ninguém"



A Voz do Dono e o Dono da Voz
Chico Buarque



Até quem sabe a voz do dono
Gostava do dono da voz

Casal igual a nós, de entrega e de abandono
De guerra e paz, contras e prós
Fizeram bodas de acetato - de fato
Assim como os nossos avós

O dono prensa a voz,
A voz resulta um prato
Que gira para todos nós

O dono andava com outras doses
A voz era de um dono só

Deus deu ao dono os dentes
Deus deu ao dono as nozes

Às vozes Deus só deu seu dó
Porém, a voz ficou cansada após
Cem anos fazendo a santa

Sonhou se desatar de tantos nós
Nas cordas de outra garganta

A louca escorregava nos lençóis
Chegou a sonhar amantes
E, rouca, regalar os seus bemóis
Em troca de alguns brilhantes

Enfim a voz firmou contrato
E foi morar com novo algoz

Queria se prensar,
Queria ser um prato
Girar e se esquecer, veloz

Foi revelada na assembléia - atéia
Aquela situação atroz

A voz foi infiel, trocando de traquéia
E o dono foi perdendo a voz

E o dono foi perdendo a linha - que tinha
E foi perdendo a luz e além

E disse: "Minha voz, se vós não sereis minha
Vós não sereis de mais ninguém"

(O que é bom para o dono é bom para a voz
O que é bom para o dono é bom para vós
O que é bom para o dono é bom para nós)
Composição: Chico Buarque



Há controvérsias


- Foi a campainha que tocou?
- Não foi a Banda de Chico Buarque.





“Francisco Milani nasceu na capital paulista, em 19 de novembro de 1936. Sua carreira artística teve início em 1959, na TV Tupi de São Paulo, tendo participado de vários TVs de Vanguarda, principal teleteatro da época. Também atuou em muitos TVs de Comédia, pois já se percebia sua veia cômica. Francisco Milani também era ligado à política e chegou a ser eleito vereador no Rio de Janeiro, pelo Partido Comunista do Brasil. Em agosto de 2005, Francisco Milani faleceu de falência múltipla dos órgãos., na cidade do Rio de Janeiro. Seu corpo foi cremado e suas cinzas jogadas ao mar. Toda a família televisiva chorou sua morte.”



‘...em vez de "se vós não sereis minha”, o bom português não mandava escrever "se vós não fordes minha"?...’


Nota sobre A voz do dono e o
dono da voz
Por Humberto Werneck

Das mãos do pai, Chico recebeu um exemplar do Dicionário analógico da língua portuguesa, do goiano Francisco Ferreira dos Santos Azevedo, com a informação certeira de que a obra lhe seria muito útil. Tanto tem sido que Chico cuidou de tê-la em duplicata — carregou o volume, em mau estado (é de 1950), para o seu apartamento parisiense e comprou outro para ter à mão no Rio de Janeiro. Os dicionários, aliás, vêm a ser uma de suas saudáveis obsessões, ao lado de variadas obras de referência — e foi essa paixão que o levou, certa vez, a ir fundo no esclarecimento de um suposto erro numa letra, apontado por um admirador que era fã, também, da ortodoxia gramatical.
Quem conta é o paulista Wagner Homem, responsável pelo website do compositor e provavelmente a mais copiosa fonte de informações sobre ele, sua obra e sua carreira. No final de 1998, durante os ensaios para o show As cidades, Wagner — "Kxorrão", como é por todos tratado — esteve com o amigo no Rio e lhe falou de um e-mail que tinha recebido, no qual um professor, "todo formal, chamando o Chico de senhor", questionava um verso de "A voz do dono e o dono da voz": em vez de "se vós não sereis minha” , o bom português não mandava escrever "se vós não fordes minha"?, questionava o remetente. "Chico coçou a orelha, num gesto muito seu, e arriscou uma ou duas explicações, sem muita convicção, tanto que não me convenceu", conta o Kxorrão. "Brinquei com ele, disse que ia responder ao cara que o dono da voz, além de arrogante, era ignorante."
No final da temporada, pelo menos seis meses depois dessa conversa, Chico ligou insistentemente para Wagner e, como não conseguiu falar com ele, deixou recado na secretária eletrônica: "Kxorro, sobre aquele negócio da 'Voz do dono e o dono da voz', ouça aqui" — e leu uma informação do dicionário Caldas Aulete, para concluir, de alma lavada: "Portanto, eu estava certo!". A história, acredita o amigo, "deve ter ficado em algum lugar prioritário da memória do Chico, esperando acabar a turnê, e resolver essa questão seguramente foi uma das primeiras coisas que ele fez depois de descansar um pouquinho".
(O autor de "A voz do dono e o dono da voz" também se lembra do episódio, mas diz que o dicionário apenas corroborou a explicação que deu ao Kxorrão já no primeiro momento, e que este julgou inconvincente. "Eu dizia que o 'se', no caso, não era condicional, mas uma constatação desesperançada, equivalente a um 'já que', ou seja: se você não será minha, não será de mais ninguém." E acrescenta: "Mas não faz mal, a versão do Kxorrão é melhor do que a minha")
© Copyright Humberto Werneck, em Chico Buarque: Tantas Palavras, Cia da Letras, 1989
Leia mais notas sobre A voz do dono e o dono da voz:
Crônica do livro Chico Buarque Letra e Música, de Humberto Werneck, Cia da Letras, 1989



"se vós não fordes minha"?


Senador exibe áudio de Lula e Gleisi vai à loucura

“(...) Gleisi Hoffmann perde o controle após José Medeiros expor gravação no Senado.”



É o Foro de São Paulo que defende a democracia
Combatido, fórum trata de bandeiras avançadas



Gleisi Hoffmann: É o Foro de São Paulo que defende a democracia


“O governo de extrema-direita de Jair Bolsonaro mente sobre o Foro nas redes sociais, em cumplicidade com setores ativos na imprensa”, afirma Gleisi em artigo publicado na Folha de S. Paulo
 25/07/2019 08h29
Karol Santos


Gleisi Hoffmann


Como faz desde 1990, o Partido dos Trabalhadores estará presente à 25ª reunião do Foro de São Paulo, que neste ano se realiza em Caracas. O PT e mais de 120 partidos políticos progressistas e de esquerda de 25 países latino-americanos e caribenhos, além de centenas de observadores de todo o mundo, incluindo 60 representantes de movimentos sociais dos Estados Unidos que pela primeira vez participam do Foro.
Debateremos as opções progressistas e de esquerda na construção de alternativas ao neoliberalismo que devastou a região nas últimas décadas do século 20 e vem se impondo novamente, muitas vezes por meio de governos autoritários e de origem não democrática.
Em nossa concepção, ser de esquerda é defender a igualdade das pessoas em direitos sociais e econômicos e lutar por um Estado que promova o desenvolvimento com inclusão, frente à ferocidade do mercado. É ser contra a fome e a pobreza.
Nesses 29 anos, o Foro de São Paulo vem mantendo o compromisso de sua declaração inaugural “com a vigência dos direitos humanos, com a democracia e a soberania popular”.
Partidos ligados ao Foro chegaram, sempre pelo voto, ao governo de mais de uma dezena de países: Brasil, Uruguai, Chile, Bolívia, Paraguai, Equador, entre outros. E em todos a opção democrática resultou em redução das desigualdades, mais direitos, crescimento e soberania.
As questões que se colocam hoje para o campo de esquerda e progressista na América Latina e no Caribe ligam-se ao avanço do neoliberalismo e do imperialismo no mundo e na região, com suas trágicas consequências de aumento da pobreza, ameaças à democracia e à paz, tentativas de ingerência econômica, política, social e até mesmo militar. Por isso, o tema central do Foro neste ano é “pela paz, soberania e prosperidade dos povos”.
Ao lado de bandeiras históricas como o fim do criminoso bloqueio econômico dos Estados Unidos contra o povo de Cuba, o PT defenderá no Foro a construção da paz na Venezuela, apoiando os diálogos de negociação promovidos pelo governo da Noruega, e também na Colômbia, onde centenas de lideranças sociais e populares foram mortas desde os acordos de paz de 2016.
Aqui vale lembrar que do Foro participam partidos políticos comprometidos com a via democrática. O ingresso das Farc se deu só após a conversão em partido legal, a Fuerza Alternativa Revolucionaria del Común, no âmbito do acordo de 2016. Também foi depois de depor as armas e atuar como partido que o M-19 colombiano participou, nos anos 1990.
Tratar um fórum político de tais dimensões como se fosse uma organização secreta, uma rede clandestina de seitas terroristas, há muito deixou de ser mera demonstração de ignorância ou preconceito ideológico.
O governo de extrema-direita de Jair Bolsonaro mente sobre o Foro nas redes sociais, em cumplicidade com setores ativos na imprensa, na academia e até nos meios diplomáticos. Sua visão autoritária de mundo exclui a existência do outro. Legítimos, para eles, só os fóruns entre seus iguais, como a conferência de partidos conservadores que a família Bolsonaro quer realizar no Brasil, ou o Prosul, criado para atacar a Unasul e os países que ainda exercem sua soberania frente aos Estados Unidos.
Democracia é a palavra-chave na construção de uma sociedade mais justa e é disso que tratamos no Foro. Essa pauta inclui necessariamente a liberdade de todas as lideranças políticas e sociais da região, especialmente a do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, sem o que não se pode falar em respeito aos direitos democráticos no Brasil. Como se vê, é o tão combatido Foro de São Paulo que levanta as bandeiras mais avançadas diante da crise política, social, econômica e de valores civilizatórios que vivemos.
Gleisi Hoffmann é Deputada federal (PT-PR), presidenta nacional do PT, ex-senadora (de fev. a jun.2011 e de fev.2014 a jan.2019) e ex-ministra-chefe da Casa Civil (2011-2014, governo Dilma)
Artigo publicado originalmente na Folha de S. Paulo



Soltura de Lula no Foro de São Paulo
Brasil O ANTAGONISTA 25.07.19 07:13
Leia mais sobre este assunto

Gleisi Hoffmann defendeu o Foro de São Paulo (na Folha de São Paulo):

“Como faz desde 1990, o Partido dos Trabalhadores estará presente à 25ª reunião do Foro de São Paulo, que neste ano se realiza em Caracas. O PT e mais de 120 partidos políticos progressistas e de esquerda de 25 países latino-americanos e caribenhos, além de centenas de observadores de todo o mundo, incluindo 60 representantes de movimentos sociais dos Estados Unidos que pela primeira vez participam do Foro (…).
O governo de extrema direita de Jair Bolsonaro mente sobre o Foro nas redes sociais, em cumplicidade com setores ativos na imprensa, na academia e até nos meios diplomáticos. Sua visão autoritária de mundo exclui a existência do outro.”
Ela disse também:
“Democracia é a palavra-chave na construção de uma sociedade mais justa e é disso que tratamos no Foro. Essa pauta inclui necessariamente a liberdade de todas as lideranças políticas e sociais da região, especialmente a do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, sem o que não se pode falar em respeito aos direitos democráticos no Brasil.”
Isso mesmo: democracia, para Gleisi, é a soltura de um criminoso.




Referências

https://youtu.be/050xNbpGeOU
https://www.letras.mus.br/chico-buarque/45102/
https://youtu.be/5Ni6Ia2Uuz8
https://www.youtube.com/watch?v=5Ni6Ia2Uuz8
http://www.chicobuarque.com.br/letras/notas/n_werneck.htm
https://youtu.be/jsvayxnPwh4
https://www.youtube.com/watch?v=jsvayxnPwh4
https://pt.org.br/wp-content/uploads/2019/04/photo5012957322925942804-780x440.jpg
https://pt.org.br/gleisi-hoffmann-e-o-foro-de-sao-paulo-que-defende-a-democracia/
https://www.oantagonista.com/brasil/soltura-de-lula-no-foro-de-sao-paulo/

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