Por José de Souza Martins
09/11/2018 às 05h00
Valor
Econômico
Quando Luiz Inácio foi eleito presidente da República, em 2002, vencendo José Serra, o fato provavelmente mais importante da eleição foi o de que os dois candidatos eram provenientes do subúrbio de São Paulo. Representavam um novo...
Roda
Viva A Temer
Com Eduardo Guardia
José
de Souza Martins: De Luiz Inácio a Jair Messias
- Eu &Fim de Semana | Valor Econômico
Quando Luiz Inácio foi eleito presidente da
República, em 2002, vencendo José Serra, o fato provavelmente mais importante
da eleição foi o de que os dois candidatos eram provenientes do subúrbio de São
Paulo. Representavam um novo sujeito da política brasileira.
Ao chegar a São Paulo, vindo de Pernambuco, de uma
família de pequenos agricultores, Luiz Inácio foi morar na Vila Carioca,
próxima de São Caetano, e foi trabalhar em fábrica. José Serra, por sua vez, é
de uma família de imigrantes italianos, originários da Calábria pobre, nascido
na Mooca, do outro lado do rio Tamanduateí. O pai tinha uma banca no Mercado
Municipal de São Paulo. Da várzea em que morava, Luiz Inácio podia ver a Mooca
de Serra, do lado de lá. E vice-versa. Nos dois lados, finalmente, a classe
média originária da revolução decorrente da abolição da escravatura desbancava
as oligarquias e chegava ao poder.
Agora, estamos vivendo outro momento da história
política que, de vários modos, representa a continuação da crise de
alternativas que se expressou na vitória de Lula. Com diferenças. O novo
presidente eleito, Jair Messias, vem do outro ramo da formação das classes
populares em São Paulo, o dos imigrantes italianos que se tornaram brasileiros
nos tempos do café. Família originária do Vêneto agrícola e pobre que chegou ao
Brasil em 1888, no mesmo ano da abolição da escravatura. Veio viver aqui um
momento crucial do nascimento do Brasil moderno, em atividades econômicas
modestas, como milhares de outros imigrantes, sobretudo em São Paulo.
Essas possibilidades debatem-se com o que é próprio
do movimento do pêndulo oculto que governa o processo político brasileiro. A
ele já se referiram Victor Nunes Leal, Raimundo Faoro, Nestor Duarte. É o
movimento entre descentralização política - e o protagonismo histórico do
município, sob a aparência formal de democracia - e a centralização política,
se necessário com ditadura.
No primeiro caso, o localismo pulveriza os recursos
públicos em detrimento das necessidades nacionais, que são outras e
específicas. O que exclui as grandes cidades. A centralização política busca a
reunião dos meios econômicos para o atendimento de necessidades e funções da
nação, enquanto todo, despesas sem visibilidade para o conjunto do eleitorado
cuja identidade é local.
Com o programa setorizado do Bolsa Família, Lula
conseguiu romper a força política do municipalismo brasileiro, mas sua política
de coalizão não conseguiu romper-lhe o poder hegemônico no Congresso Nacional.
Nestas eleições, Jair Messias conseguiu, largamente,
angariar os votos de província e os votos municipais, mas em nome de uma
bandeira que implica não só numa reforma política, mas numa reforma do Estado.
Contrárias ambas à tese da força política do Brasil fracionado, tanto pelas
oligarquias quanto pelo próprio PT.
Na estrutura que está dando à composição de seu
governo, com base nas grandes frentes de interesses e a minimização dos
partidos e do que representam, o Estado brasileiro terá outra configuração. O
governo não poderá ser um governo de facções e nem mesmo de acordos
partidários. Constituirá um governo de superministros com superpoderes e um
presidente-juiz que maneja o leme do barco.
Jair Messias pensa o poder como o contrário da
concepção de poder de Luiz Inácio. Luiz Inácio pensou a fragilização do Estado
para fortalecer seu partido e, sobretudo, sua pessoa. Jair Messias terá que
refortalecer o Estado sem apelar para a estatização já que seu compromisso é
com a economia privada e com o lucro. Terá problemas. Nem tudo que é bom e
necessário para o país é lucrativo. Sem lucro, o capitalismo não sobrevive. Só
com lucro, tampouco.
Os grandes valores sociais que asseguraram o
equilíbrio da sociedade capitalista foram aqueles originários do bom senso
pré-capitalista, quando o homem ainda não era o homem-coisa, que estão no
centro das propostas atuais. O que é bom no capitalismo não é propriamente
capitalista. Ao mesmo tempo, imensas multidões neste país estão fora da lógica
da lucratividade. Estão cada vez mais fora das prioridades do Estado.
Na verdade, esse número tenderá a crescer pelo que
sugerem as informações sobre as medidas que vão vazando do elenco de
meias-informações que dizem o que nos espera. Há algumas décadas a sociedade
brasileira vem se tornando uma sociedade residual, do que sobra de uma economia
regulada pela produtividade crescente sem emprego crescente compensatório do
desemprego que dela decorre.
As enormes brechas de vazamento das tensões sociais
continuarão abertas. As novas lideranças dos novos movimentos sociais já não
saberão lidar com o novo presente. Só com seu obsoleto passado...
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José de Souza Martins é sociólogo. Membro da
Academia Paulista de Letras. Entre outros livros, autor de “A Sociologia como
Aventura” (Contexto).
Roda
Viva | Eduardo Guardia | 05/11/2018
Roda Viva
Publicado em 6 de nov de 2018
O Roda Viva entrevista o ministro da Fazenda,
Eduardo Guardia. No programa, ele discute os números do governo, as dívidas
atuais, o orçamento para o próximo ano e a situação da Previdência. Além disso,
fala também do cenário econômico que o próximo ministro, Paulo Guedes,
encontrará em janeiro de 2019. Guardia foi nomeado para o cargo em abril de
2018, após seu antecessor, Henrique Meirelles, deixar a pasta para concorrer à
Presidência da República pelo MDB. Compõem a bancada de entrevistadores
Cristina Canas, editora-executiva do broadcast da Agência Estado; Sergio
Lamucci, repórter do jornal Valor Econômico; André Lahóz Mendonça de Barros,
diretor da revista Exame; Vinicius Torres Freire, colunista do jornal Folha de
S.Paulo e comentarista do jornal Jornal da Gazeta; e José Francisco Gonçalves,
economista-chefe do Banco Fator e professor da FEA-USP.
Referências
https://www.valor.com.br/cultura/5975053/de-luiz-inacio-jair-messias
http://gilvanmelo.blogspot.com/2018/11/jose-de-souza-martins-de-luiz-inacio.html
https://youtu.be/oVoG5kilwwE
https://www.youtube.com/watch?v=oVoG5kilwwE&t=2301s
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