quarta-feira, 11 de abril de 2018

Medo de quê?


José de Souza Martins: O processo
- Eu &Fim de Semana/Valor Econômico

Na direita, assim chamada, milhões de brasileiros desiludidos e alienados querem Lula na cadeia já. Nem mesmo percebem que a Justiça processa Luiz Inácio, não Lula, que são diferentes personificações do processo político. No extremo oposto, outros milhões de brasileiros irados e também alienados pressupõem que crime de esquerda não é crime e querem seu herói livre da possibilidade de prisão para que volte ao poder.

Entre os extremos, há o silêncio do processo, quebrado apenas no vozerio dos julgamentos. A lei, que o sustenta, reconhece, mesmo a quem já condenado em segunda instância, o direito aos recursos nela previstos. É o mesmo direito que tem os que urram e berram por soluções extremistas e ilegais. Lei é lei. Berro é outra coisa, bem aquém da civilidade.

Para entender este complicado momento da história política brasileira, talvez seja o caso de reler "O Processo", de Franz Kafka. Luiz Inácio não é Josef K., a personagem do romance. Mas o é também. No cenário atual, todos somos Josef K. Todos fomos detidos e acusados naquela misteriosa manhã em que surgiam as primeiras informações do que veio a ser chamado de mensalão. Porque ou votamos nele ou não tendo nele votado reconhecemos a legitimidade de seu mandato. Na democracia é assim: simples e complicada.

Desde então, todos os dias, como Josef K., quando levantamos e nos preparamos para ir ao trabalho intuímos que o olho de um poder oculto nos diz que somos o avesso do que julgávamos ser. Urros e berros das multidões inquietas, de "direita" e de "esquerda", estão muitíssimo longe do drama político brasileiro e mesmo do drama pessoal de Lula.

Na pessoa do ex-presidente, somos interrogados sobre os mistérios do poder. E quanto mais respondemos, mais nos desculpamos e mais nos sentimos culpados. Falta saber culpados de quê. Os acusados e condenados da Lava-Jato sabem o que fizeram, mas os processos caminham com base em evidências indiretas, delações pela via torta da infidelidade, a obra dos manipuladores ocultos do malfeito.

Lula temeu a possibilidade desse momento. Revelou seu temor naquele documentário que João Moreira Salles fez a respeito de sua trajetória. Quando, já finalmente eleito presidente da República, declarou que queria ter meia hora para refletir sobre quem seria ele após a Presidência da República.

Ele intuía, no limiar da travessia, que, do lado de lá, já não seria ele mesmo. De certinho retrato de pintura acadêmica, sairia como retrato pós-moderno. Tudo sugere que ele temia o poder, com razão, justamente o contrário de seus milhões de constituintes, no PT e fora dele, que na alucinação política do mando, equivocadamente, achavam e ainda acham que o poder, sendo deles, pode tudo. Não pode.

Estas horas difíceis, que se iniciaram com o mensalão e tem seu apogeu cada vez mais dramático na Operação Lava-Jato, mostram que o poder não é a pessoa que o ocupa transitoriamente. O poder é o conjunto das instituições, das leis, a Constituição, os códigos, os funcionários da lei. O poder é sempre maior do que quem se deixa fascinar pela cadeira que o simboliza. O poder é performance e personificação. Lula está fora do poder, mas ainda se imagina nele, o que nele dificulta a ação política que dos políticos se espera.

No entanto, a Justiça vai, lentamente, mostrando-lhe quem manda. No STF vai ficando claro, também para Lula, que é a Justiça que decide quem ele é. Não a rua. Mesmo que a Suprema Corte decida que, por enquanto, ele não vai para a cadeia. Não irá para a cadeia não porque tenha direitos que outros não têm, mas porque a Justiça está sendo benevolente ao considerá-lo ficção do poder. Mesmo ganhando, sairá perdendo. Esse é o aspecto doloroso do processo.

A crua realidade da história faz isso com todos os que um dia são chamados a desempenhar um papel diferente daquele a que estavam acostumados. Numa sexta-feira chuvosa de 1889, dia 15 de novembro, dom Pedro II acorda imperador do Brasil e anoitece prisioneiro, sem destino, sem segurança nem mesmo sobre as condições de sobrevivência de sua família. Getúlio Vargas, que o PT já execrou e agora quer imitar, dormiu mal aquela noite de agosto de 1954, mas amanheceu presidente da República. Antes do café da manhã, do dia 24, estava morto com um tiro que dera no próprio peito.

Mesmo absolvido ao fim de um processo judicial que poderá ser longo, Lula estará condenado. Viverá todos os seus dias até lá temendo que lhe batam à porta, que o sucessor do japonês da Federal tenha ido buscá-lo. Até esse dia, se ele chegar, Luiz Inácio terá sido prisioneiro do tormento da incerteza. O condenado confinado atrás das grades invisíveis do seu próprio medo difuso, perguntando-se: medo de quê?
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José de Souza Martins é sociólogo. Professor emérito da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP. Membro da Academia Paulista de Letras. Entre outros livros, autor de “Moleque de Fábrica” (Ateliê Editorial).



Fernando Gabeira: Embargo do embargo

- O Globo

Nesse momento em que vejo a vida como um milagre, o fato mais previsível do mundo é alguém condenado pela Justiça ser preso

Gostaria de estar à altura do nível dramático desta semana no Brasil. No entanto, aconteceu algo que me deixou frio e calmo. 

Viajávamos para Serafina Correa (RS) e, na altura de um lugar que se chama Encantado, um carro perdeu a direção, cruzou a estrada e bateu violentamente no nosso. Em meio à fumaça, lembro-me de ter dito apenas: sobrevivemos.

Quando se vê a morte tão de perto e se escapa dela, pelo menos no primeiro momento tudo fica mais simples.

Horas depois conseguimos um novo carro, o outro teve perda total, e voltamos a ouvir os longos votos dos ministros do Supremo sobre o habeas corpus de Lula. Sinceramente, talvez influenciado pela alegria de sobreviver, não via o fim de tudo se o STF derrubasse a prisão em segunda instância.

O velho mecanismo de corrupção seria de novo azeitado e, para nos impressionar, de vez em quando prenderiam um ancião e criariam um vaivém de cadeiras de rodas no presídio. Como somos sentimentais, aceitaríamos que os anciões fossem libertados logo para cumprir prisão domiciliar.

O único problema dessa opção: a Justiça no Brasil deixaria de funcionar em nome do belo princípio de presunção da inocência. As vítimas dos crimes continuariam desemparadas.

Mas a recusa do habeas corpus também não me parece um drama. É apenas a continuidade do bem-sucedido processo da Lava-Jato e da política do STF desde 2015.

Quando Lula foi condenado na segunda instância, não entendia os repórteres que diziam: o destino de Lula é incerto. Destino incerto é o meu e de todos que estão em liberdade. Lula será preso.

Infelizmente, com a calma dos sobreviventes, não consigo entender a agitação da imprensa. Há sempre alguém falando de um recurso, de um embargo do embargo, dando a falsa impressão de que as coisas vão mudar. Uma pessoa que vê a imprensa à distância pode supor que produzir tantas tramas artificiais é algo feito para ajudar Lula. Mas não é o caso. As pessoas precisam de emoção, de criar tramas que mantenham o interesse. Nesse filme, o ator não pode morrer no princípio, pois seria um anticlímax.

Nesse momento em que vejo a vida como um milagre, pouco me importam as pancadas, mas devo dizer que o fato mais previsível do mundo quando alguém é condenado pela Justiça, caso não fuja, é ser preso.

Todo esse miolo dramático, todas essas tramas que se criam entre a definição da Justiça e o momento da prisão são apenas tentativa de alongar o interesse pelo caso. Somos novelistas, criando enredos secundários.

Naturalmente, para o PT e seus aliados, as manobras e as constantes dúvidas mantêm a chama e podem ser de interesse político. Mesmo nesse caso, duvido da eficácia do cálculo. Se estivessem de olho no futuro, talvez escolhessem outra tática.

Toda essa interpretação talvez seja resultado da visão esquisita que tomou conta de mim desde o acidente em Encantado. Nada mais tedioso de quem supõe que conhece todo o enredo e subestima os lances emocionantes das tramas que eletrizam a imprensa.

Espero me curar disso, na próxima semana. Ou então deixar de escrever, pois, realmente, eu me sinto numa outra galáxia. Num lugar onde a lei vale para todos, as pessoas são condenadas e o fato mais banal é sua prisão.

A cidade onde nos acidentamos chama-se Encantado. Ao contrário do que seu nome sugere, foi ali que o Brasil finalmente se desencantou para mim.

Precisaria voltar a viver todas essas emoções, como um ateu que recupera sua fé. E voltar a acreditar em embargos dos embargos e em toda essa conversa.






Einstein e o famoso debate de Deus não joga aos dados.
By Manel Rosa Martins in Cosmologia, Einstein, Relatividade
“Deus não joga aos dados com o Universo.”



Albert Einstein foi um dos cientistas mais famosos da História da Humanidade, e manteve com os cientistas da mecânica quântica um debate que ficou para sempre marcante.

Einstein concebia um universo com quantas, e até foi galardoado com o Prémio Nobel da Física pelo seu trabalho sobre o efeito foto-eléctrico. Estabeleceu com Planck a quantização por níveis de energia, por pacotes de energia, ou quantas, das ondas electromagnéticas, que são inversamente proporcionais aos níveis de energia.

Por exemplo um dos quanta dos fotões ( a partícula, ou bosão, que “transporta” a luz) é 575 nm, e é um nível de energia que corresponde ao “spectrum” da luz visível aos nossos olhos na intersecção das cores amarela e verde.

Luz é todo o electromagnetismo. A que vemos e a que não vemos.
Só que Einstein chegou a estes e outros fabulosos avanços empregando métodos clássicos, da física newtoniana, melhorando-os de tal forma que revolucionou o conceito do Universo.

Com Einstein o tempo deixou de ser absoluto mas pode dilatar se aumenta a velocidade do objecto medido. Mais, o tempo pode ter medidas diferentes sobre um mesmo objecto dependendo (é relativo) da localização do observador.

Não obstante, a Física de altas energias mantinha teimosamente uma propriedade intrínseca que Einstein nunca aceitou: manifestava-se, e era medida com incrível precisão em relação às suas previsões, de forma probabilística, por probabilidades de encontrar digamos um electrão no número de vezes que sondássemos a zona de interesse e não por uma equação clássica que nos diga “está” ou “está ali” ou “não está”, e caso não esteja então nunca estará.

Einstein opunha uma filosofia de equações deterministas.

Assim: em determinados sistemas a probabilidade de encontrar um eixo de rotação (de 3 possíveis) não pode ser igual a, ou maior do que, 1/2.

Ou se encontra ou não se encontra.

Só bastante mais tarde foi possível estabelecer por experiências e na base matemática do Teorema de Bell que as probabilidades eram de facto 5/9, e é maior do que 1/2.

Foi a prova experimental e matemática que elucidou que Einstein estava a ter um conceito, o clássico, não funcional no regime do muito pequeno. Ele procurava a existência de “variáveis escondidas” no meio dos seus 1/2 e Bell resolveu a favor da sua inigualdade, como ficou conhecida a 5/9 ≠ 1/2.

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Isto implicava um avanço tremendo: seria um dia possível entrelaçar pares de partículas, como electrões com spin oposto, ou fotões com polarizações opostas.

Seria possível pela observação de uma, saber, por oposição, o spin ou a polarização da outra.

Só que isso implicava que se saberia dessa informação instantaneamente, em todo o caso mais depressa do que a luz, e isso Einstein desclassificou como “acção fantasmagórica à distância.”

Nada no corpo de teorias da mecânica quântica, ou na Teoria Quântica da Informação refuta Einstein na sua Teoria da Relatividade, essa apenas implica que a luz não viaja mais depressa do que a luz, e que os objectos com massa (dita em repouso) invariante aumentam de peso com o aumento da velocidade.

Não podem por isso alcançar a velocidade da luz.

Mas nada diz a Teoria da Relatividade sobre a velocidade dos objectos emitentes, havendo galáxias inteiras que são arrastadas pela expansão do tecido do espaço-tempo (do Universo) a velocidades bem superiores à da luz.

E a informação também não está presa ou condicionada pela Teoria da Relatividade Especial, ou Geral.

Havia no entanto este debate sobre a natureza da Física, se a mecânica quântica era à luz da relação causa-efeito da mecânica clássica uma história incompleta que precisava de variáveis escondidas que determinassem uma lógica intuitiva para as suas observações.

Deus não joga aos dados, disse Einstein.

Foi então que o cientista dinamarquês Niels Bohr aconselhou Einstein, em resposta confirmada pelas Ciências, a “parar de dizer a Deus o que este tem de fazer.”

Uma experiência recente da Universidade de Delfos conseguiu abrir horizontes de regras conceptuais para a utilização de electrões para o futuro desenvolvimento do software, ou programação, dum conceito futurista, o da computação quântica, ao arquitectar uma disposição e um uso dos aparatos de detecção conhecida como Loophole-free Bell inequality violation using electron spins, na ocasião separados por uma distância de 1300 metros.

Se bem que na sua refutação do Realismo clássico de Einstein esta apenas fosse residual (é um sigma 2, são indícios típicos duma mera anomalia estatística) os experimentalistas da equipa lograram contornar um série de falhas conceptuais (de pressupostos dúbios) anteriormente suspeitadas em sistemas entrelaçados de 2 ou mais partículas.

É um debate que continua acesso fora da Física, já que nesta o paradoxo do gato de Schroedinger está resolvido pela de-coerência.

Mas é, sem dúvida, por se prestar a interpretações filosóficas e a uma vaga de neo-misticismos, apaixonante.

Parem então de dizer a Deus o que ele tem, ou não, de fazer.


“Deus não se limita a jogar aos dados… mas às vezes até os lança para onde não podem ser vistos.”

paper de referência:
Quantum Mechanics: Bell and Quantum Entropy for the Classroom
Philipp Pluch
Department of Statistics, Klagenfurt University
http://arxiv.org/pdf/physics/0701125.pdf
http://www.astropt.org/2015/11/24/einstein-e-o-famoso-debate-de-deus-nao-joga-aos-dados/


EINSTEIN falando de Deus


Se Eu Quiser Falar Com Deus
Elis Regina



Se Eu Quiser Falar Com Deus
Maria Rita




Composição: Gilberto Gil



Referências
http://gilvanmelo.blogspot.com.br/2018/04/jose-de-souza-martins-o-processo.html
http://gilvanmelo.blogspot.com.br/2018/04/fernando-gabeira-embargo-do-embargo.html
http://www.astropt.org/blog/wp-content/uploads/2015/11/god-does-not-play-dice-with-the-universe-einstein-arley-blankenship.jpg
http://www.astropt.org/blog/wp-content/uploads/2015/11/quote-Stephen-Hawking-not-only-does-god-play-dice-but-124563-534x300.png
http://www.astropt.org/2015/11/24/einstein-e-o-famoso-debate-de-deus-nao-joga-aos-dados/
https://youtu.be/2CG9ob-JvkE
https://mail.google.com/mail/u/0/#inbox/1629fd92c8206240?projector=1
https://youtu.be/ivwHnJpcU3Y
https://youtu.be/Sg2zwJRKNik

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