“Eu não acompanhei nada desse patético espetáculo
que foi o “impeachment tabajara” de Dilma Roussef. Não quis perder tempo.”
“Se ele sair, será a primeira vez que muita
gente não votará em branco”, 'atalhou Delfim com um trocadilho que arrancou
risos.’
A
PARTE AMARGA
Um
brinde, ainda que um pouco amargo, à Advocacia
"Sucesso
desta etapa tem gosto amargo para nossa instituição", diz Janot em carta
31/08/2016 20h24 - Atualizado
em 31/08/2016 22h41
Joaquim
Barbosa chama impeachment de 'tabajara' e 'patético'
Ex-presidente do STF diz que Temer não terá o
respeito dos brasileiros.
Para Barbosa, grupo conservador agora no poder 'não tem votos'.
Para Barbosa, grupo conservador agora no poder 'não tem votos'.
Do G1, em São Paulo
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Joaquim
Barbosa comentou impeachment no Twitter (Foto: Reprodução/Twitter/joaquimboficial)
SENADO CASSA DILMA
61 senadores votaram pelo impeachment.
fim do julgamento
como votou cada senador
70 fotos do julgamento
direitos da ex-presidente
os 13 anos do pt
20 fatos do governo
trajetória de dilma
camarotti: faltou governabilidade
cristiana lôbo: faltou diálogo
dilma discursa: íntegra
O ex-presidente do Supremo Tribunal Federal, Joaquim
Barbosa, voltou a comentar o impeachment de Dilma Rousseff nesta quarta-feira
(31) no Twitter, após definida a condenação da presidente no Senado. “Não
acompanhei nada desse patético espetáculo que foi o ‘impeachment tabajara’ de
Dilma Roussef. Não quis perder tempo”, afirmou.
“Mais patética ainda foi a primeira entrevista do
novo presidente do Brasil, Michel Temer”, prosseguiu.
“O homem parece acreditar piamente que terá o
respeito e a estima dos brasileiros pelo fato de agora ser presidente.
Engana-se” disse o agora aposentado juiz.
Ele também fez comentários em inglês e francês. “É
tão embaraçoso! De repente, forças políticas altamente conservadoras tomaram o
Brasil. Tomaram tudo! Dominam o Congresso. Cercam o novo presidente (um
politico que pode ser comparado aos velhos ‘caudilhos’ latino-americanos)”,
prosseguiu. “Eles conduzem a mídia, incluindo as emissoras de TV. Mas sabem de
uma coisa? Eles não têm votos. Esperem um par de anos!”, disse.
Em francês, Barbosa prosseguiu suas críticas:
“Michel Temer pensa que um ‘toque de varinha jurídica’ lhe dará legitimidade. O
pobre!”
Nesse trecho, o ex-presidente do STF usou a
expressão “coup de baguette juridique”, que, ao mesmo tempo em que significa
“toque de varinha jurídica”, inclui a palavra “coup”, que em francês,
separadamente, também quer dizer golpe.
Os
100 Melhores Contos de Crime e Mistério da Literatura Universal
Em 1851 conseguiu formar-se
como advogado, mas embora nunca tivesse chegado a exercer, aproveitou os conhecimentos
adquiridos na área do Direito para a elaboração dos seus romances policiais,
sendo o criador do primeiro policial inglês. Nesse mesmo ano conheceu o
escritor Charles Dickens, com quem manteria uma duradoura amizade.
"luneta" e "corneta".
55. A
PARTE AMARGA
EXTRATO DA CORRESPONDÊNCIA INTERNA DA POLÍCIA DE LONDRES WILKIE COLLINS (1824 -1889 | Inglaterra) Escritor profissional já em sua época, e companheiro de Dickens, com quem escreveu alguns livros e a quem chegou a influenciar, William Wilkie Collins é um pioneiro reconhecido do romance policial, com The Woman in White (1860) e The Moonstone (1868). Este A Parte Amarga que se vai ler, de estrutura acurada e linguagem ágil, mostra como o conto policial (no caso, com mais ênfase no aspecto investigativo do que no crime propriamente] já começava com o pé direito.
DO INSPETOR-CHEFE THEAKSTONE, DO DEPARTAMENTO DE
DETETIVES, PARA O SARGENTO BULMER, DO MESMO DEPARTAMENTO
Londres, 4 de julho de 18. . .
Sargento Bulmer,
Esta é para informá-lo de que seus serviços são
necessários na investigação de um caso importante, que requer atenção em
tempo integral de um membro experiente do departamento. O caso de roubo, do
qual agora se ocupa, deve ser transferido para o jovem portador desta carta.
O senhor o informará de todas as circunstâncias do caso e o atualizará nos
progressos que fez (se algum) no sentido de descobrir o culpado, ou culpados;
passando a ele a responsabilidade total pelo caso, bem como todo crédito pelo
sucesso, que porventura ele venha a ter na solução do mesmo.
Estas são as ordens que me pediram passasse ao
senhor.
Agora, em confidência, algumas palavras sobre este
novato que deve substitui-lo no caso. Seu nome é Matthew Sharpin e, por
alguma razão, devemos dar-lhe a chance de entrar, saltando todas as etapas,
diretamente em nosso departamento, se provar sua capacidade para tal.
Naturalmente o senhor gostaria de saber por que lhe é dado este privilégio.
Tudo que posso dizer é que ele conta com o forte interesse de algumas pessoas
situadas no alto da hierarquia; pessoas cujos nomes é melhor que nem eu nem o
senhor mencionemos em voz alta. Trabalhava num escritório de advocacia e,
apesar de seu aspecto traiçoeiro e mesquinho, tem um ótimo conceito de si
mesmo. Segundo ele, foi por sua livre e espontânea vontade que decidiu
abandonar sua profissão anterior e juntar-se a nós. O senhor não precisa
acreditar nisto, como eu tampouco acredito. Na minha opinião, ele teve acesso
a alguma informação confidencial sobre um dos clientes de seus patrões, o que
fez impossível sua permanência no escritório, mas, ao mesmo tempo, perigosa sua
demissão sumária. Acho que esta chance, sem precedentes, dada a ele entre
nós, tem todo o aspecto daquilo que vulgarmente chamam de um "cala
boca". Seja como for, o Sr. Matthew Sharpin se ocupará do caso, até este
momento em suas mãos, e, se conseguir resolvê-lo, teremos que suportar sua
cara desagradável em nosso departamento, tão certo como dois e dois são
quatro. Dou-lhe estas informações, sargento, para que possa agir de acordo
com seu melhor interesse e não dar ao novato nenhuma razão para reclamações
ao quartel-general.
Cordialmente,
FRANCIS THEAKSTONE
DE MATTHEW SHARPIN
PARA O INSPETOR-CHEFE THEAKSTONE
Londres, 5 de julho de 18. . .
Prezado Senhor,
Já de posse das informações que o sargento Bulmer
teve a gentileza de me fornecer, me permito lembrá-lo de minhas instruções em
referência ao relatório que deverei preparar, para a apreciação do
quartel-general.
Segundo entendi, a razão de submeter meus
relatórios ao senhor, antes de serem enviados a autoridades mais altas, é
para que eu, na minha inexperiência, possa contar com sua orientação, caso
julgue necessária (o que, ouso dizer, não acontecerá), em qualquer etapa da
investigação. Como as circunstâncias excepcionais deste caso tornam
impossível minha ausência da cena do roubo, pelo menos até quando consiga uma
pista que me leve ao culpado, vejo-me na impossibilidade de consultá-lo
diretamente; assim sou obrigado a colocar no papel vários detalhes que
seriam, talvez, melhor comunicados oralmente. Esta é, se não me engano, a
posição em que nos encontramos agora. Escrevo sobre minha impressão da
situação para que possamos entender com clareza um ao outro, desde o início.
Seu criado,
MATTHEW SHARPIN
DO INSPETOR-CHEFE THEAKSTONE
PARA MATTHEW SHARPIN
Londres, 5 de julho de 18. . .
Prezado Senhor,
O senhor começa por desperdiçar tempo, tinta e
papel. Nós dois conhecíamos bem nossas posições, em relação um ao outro,
quando o mandei procurar o sargento Bulmer com minha carta. Não havia nenhuma
razão para uma descrição por escrito. Espero que no futuro restrinja o uso de
sua pena à investigação que tem nas mãos.
O senhor tem, neste momento, três assuntos
distintos para escrever-me a respeito. Primeiro, gostaria de receber uma
declaração das instruções que lhe foram passadas pelo sargento Bulmer, de
forma a mostrar-nos que nada escapou à sua memória e que o senhor está bem
familiarizado com as circunstâncias do caso que lhe confiamos. Segundo, o
senhor deve escrever me informando daquilo que se propõe a fazer. Terceiro,
desejo receber relatórios diários, detalhados,
de cada passo de seu progresso (se fizer algum). Esta é a sua obrigação.
Quanto às minhas obrigações, se por acaso, algum dia, eu desejar ser
recordado delas pelo senhor, escreverei avisando.
Enquanto isto não acontece, me despeço.
Cordialmente,
FRANClS THEAKSTONE
DE MATTHEW SHARPIN
PARA O INSPETOR-CHEFE THEAKSTONE
Londres, 6 de julho de 18. . .
Senhor,
Sendo o senhor uma pessoa de mais idade, é, como
tal, propenso a sentir uma certa inveja de pessoas como eu, na flor da
juventude e em pleno gozo de todas as faculdades, físicas e mentais; nestas
circunstâncias, é meu dever ter uma certa consideração para consigo, e não
ser demasiado rigoroso com suas pequenas falhas. Assim sendo, declino de
sentir-me, de alguma forma, ofendido com o tom de sua carta, oferecendo-lhe a
total benevolência de minha natureza generosa, apagando completamente de
minha memória sua comunicação áspera. Resumindo, inspetor-chefe Theakstone,
eu o perdôo e passo ao trabalho.
Meu primeiro dever é redigir uma declaração completa das instruções que recebi do sargento Bulmer. Aqui vai ela, segundo meu melhor entendimento, e a seu completo dispor:
No número 13 de Rutherford Street, no Soho, há uma
pequena papelaria. É administrada pelo proprietário, um Sr. Yatman, casado e
sem filhos. Além do Sr. e da Sra. Yatman, vivem na casa um pensionista, jovem
e solteiro, chamado Jay, que ocupa o quarto da frente no segundo andar,
um caixeiro da loja, que dorme em um dos sótãos, e uma empregada doméstica,
que faz sua cama na cozinha, no fundo. Uma vez por semana, uma faxineira vem
ajudar a empregada. Estas são as pessoas que, em circunstâncias normais, têm
acesso ao interior da casa. O Sr. Yatman está no comércio há vários anos,
administrando seu negócio de forma próspera, alcançando uma independência admirável
para alguém de sua posição. Desafortunadamente para ele, no entanto, o desejo
de aumentar sua fortuna o levou a especular em investimentos pouco seguros.
Um revés da sorte e, há menos de dois anos atrás, viu-se pobre outra vez.
Tudo que pôde salvar de sua antiga fortuna foi a quantia de duzentas libras.
Embora o Sr. Yatman fizesse o possível para
adaptar-se às novas circunstâncias, abandonando confortos e luxos a que ele e
sua esposa se haviam acostumado, tornara-se impossível economizar qualquer coisa
do que rendia a loja. O negócio declinara nos últimos anos devido à
concorrência imposta pelas papelarias baratas e sua publicidade. Assim, até a
semana passada, todas as economias do Sr. Yatman consistiam nessas duzentas
libras que restaram de sua antiga fortuna. Esta quantia estava depositada num
banco da mais alta credibilidade.
Oito dias atrás, o Sr. Yatman e seu inquilino, o
Sr. Jay, tiveram uma conversa sobre as dificuldades por que passavam, nos
dias de hoje, todos os tipos de negócios. O Sr. Jay (que ganha a vida
fornecendo pequenas notas aos jornais sobre acidentes, crimes e qualquer
outro fato de relevo) disse a seu senhorio que estivera naquela tarde no
centro da cidade, onde ouvira rumores sobre a situação de quase falência em
que se encontravam os bancos. O Sr. Yatman, que já ouvira os mesmos rumores
de outras fontes, ao ouvi-los novamente de seu inquilino e predisposto ao
alarme como era, devido a suas perdas anteriores, ficou em tal estado de
espirito que resolveu ir imediatamente ao banco sacar seu dinheiro. Isto
aconteceu no final da tarde, e o Sr. Yatman conseguiu retirar o dinheiro
apenas alguns minutos antes que o banco fechasse.
Recebeu seu dinheiro em notas, da seguinte forma:
uma nota de cinqüenta libras, três notas de vinte libras, seis notas de dez
libras e seis notas de cinco libras. Seu objetivo em ter o dinheiro trocado
assim era o de tê-lo pronto para usar, com garantias seguras, em pequenos
empréstimos aos comerciantes da área, todos pressionados por dificuldades.
Este tipo de investimento parecia ao Sr. Yatman ser o mais seguro e lucrativo
nas circunstâncias em que se encontrava agora.
Trouxe o dinheiro para casa num envelope, guardado
no bolso junto ao peito, e pediu a seu caixeiro, logo que chegou, que
procurasse uma latinha achatada para guardar dinheiro, que não era usada
havia já alguns anos, mas que, o Sr.
Yatman se recordava, teria o tamanho exato das notas. Por algum tempo
procuraram a caixa sem encontrá-la. O Sr. Yatman chamou sua esposa para
perguntar-lhe se tinha alguma idéia de onde a tal lata estaria. A pergunta
foi ouvida pela empregada, que levava a bandeja do chá naquele momento, e
pelo Sr. Jay, que descia de seu quarto para ir ao teatro. No final, a latinha
foi encontrada pelo caixeiro, e o Sr. Yatman guardou nela as notas e meteu-a
no bolso do casaco, onde ela entrou apertada e ficou aparecendo um pouco.
Passou o resto da noite em casa, sem receber visitas; às onze horas foi para
a cama dormir e pôs a caixa debaixo de seu travesseiro.
Quando ele e a mulher acordaram, no dia seguinte,
a caixa desaparecera. O pagamento das notas foi imediatamente sustado no
Banco da Inglaterra, mas não se encontrou mais o dinheiro, desde então.
Até este ponto, as circunstâncias do caso são bem
claras. Levam à conclusão de que o roubo foi executado por alguma das pessoas
dentro da casa. As suspeitas recaíram então sobre a doméstica, sobre o
empregado da loja e sobre o Sr. Jay. Os dois primeiros ouviram o Sr. Yatman
procurando pela caixinha e, embora não soubessem para que ele a queria, não
era difícil deduzir que seria para guardar dinheiro. Os dois tiveram
oportunidade de ver a caixa no bolso do Sr. Yatman (a empregada quando fora
retirar o chá, e o caixeiro quando fora levar as chaves da loja depois de fechá-la)
e inferir que ele a levaria consigo para o quarto quando fosse dormir.
O Sr. Jay, por sua vez, soubera na conversa
daquela tarde que seu senhorio tinha duzentas libras depositadas num banco e que
o deixara para ir retirar este dinheiro; além disso ouvira, quando saía para
o teatro, que o Sr. Yatman procurava pela caixinha, donde seria fácil
concluir que o dinheiro já estava com ele. Não tinha, no entanto, nenhuma
idéia de onde o Sr. Yatman pretendia guardá-lo durante a noite, pois a
caixinha só fora encontrada depois que já saíra para o teatro, e ele só
voltara depois que o Sr. Yatman já fora dormir. Logo, se fora ele o ladrão,
entrara no quarto por pura intuição.
Falando no quarto, me lembro da necessidade de
descrever sua situação na casa e da facilidade de entrar ali a qualquer hora
da noite.
O quarto em questão se encontra nos fundos do
primeiro andar. Devido a um particular medo de incêndios que tem a Sra.
Yatman, e em especial à idéia de morrer queimada, ficando presa no fogo por
uma porta trancada, seu marido nunca passa a chave na fechadura da porta.
Ambos, segundo seus próprios relatos, têm o sono pesado; o que tornaria quase
nenhum o risco de ser descoberto, para alguém
mal-intencionado que entrasse no quarto à noite. Qualquer um poderia entrar
no quarto apenas girando a maçaneta, e, movendo-se com um mínimo de cuidado,
estaria seguro de que não despertaria nenhum dos dois. Este é um detalhe
importante e que fortalece nossa opinião de que o roubo foi cometido por
alguém da casa, mostrando que o crime poderia ser executado por amadores
inexperientes, por não requerer nenhuma das habilidades especiais de um
ladrão profissional.
Estas são as circunstâncias, como foram relatadas
ao sargento Bulmer, quando iniciou suas investigações depois de chamado ao
local para tentar descobrir o culpado do roubo e se possível reaver o
dinheiro desaparecido. O minucioso inquérito estabelecido pelo sargento não
conseguiu estabelecer o menor fragmento de evidência contra nenhum dos
suspeitos naturais. Suas respostas e comportamento, quando informados do
roubo, eram consistentes com as respostas e comportamento de pessoas
inocentes. O sargento Bulmer, em conseqüência disso, considerou desde o
início que este seria um caso para ser resolvido por uma investigação
secreta. Começou por recomendar ao Sr. e Sra. Yatman que tratassem a todos
como se estivessem seguros da inocência de cada um deles, enquanto começava
sua campanha seguindo as idas e vindas da empregada doméstica e descobrindo
quem eram seus amigos, seus hábitos e seus segredos.
Depois de três dias e três noites de esforços,
seus e de seus competentes auxiliares, chegou à conclusão de que não havia
nada que depusesse contra a garota.
Em seguida, fez o mesmo em relação ao caixeiro da
loja. Houve um pouco mais de dúvidas a serem esclarecidas, e um pouco mais de
dificuldade em fazer isto em segredo, no caso desta pessoa, mas no final,
embora sem a mesma certeza definitiva como no caso da garota, concluiu ser
pouco provável que o caixeiro também tivesse alguma coisa a ver com o roubo.
Como conseqüência natural, a lista de suspeitos
ficou reduzida assim ao inquilino, o Sr. Jay.
Quando levei sua carta de apresentação ao sargento
Bulmer, ele já começara a investigar este jovem. Os resultados desta
investigação, até o momento, não foram muito favoráveis a ele. Os hábitos do
Sr. Jay são irregulares e ele é um freqüentador de bares; parece ter relações
com vários personagens de vida dissoluta e tem dividas por toda parte. Não
paga o aluguel ao Sr. Yatman há um mês; ontem chegou em casa embriagado e, na
semana passada, foi visto conversando com um lutador profissional; em suma,
embora se intitule jornalista, em virtude das notas que vende por alguns
trocados aos jornais, o Sr. Jay não passa de um jovem de maus hábitos,
maneiras vulgares e gostos duvidosos. Até agora, nada do que foi descoberto
sobre ele pode ser considerado, mesmo que de forma longínqua, favorável ao
seu caráter.
Com isto, termino de relatar, até o último
detalhe, todas as informações que me passou o sargento Bulmer. Não creio que
o senhor seja capaz de encontrar nenhuma omissão, e acho que, mesmo com todos
os preconceitos que tem contra mim, o senhor será
obrigado a admitir que nunca lhe foi apresentado um relatório mais claro e
preciso do que este. Minha segunda obrigação é a de relatar-lhe o que me
proponho a fazer, agora que o caso está em minhas mãos.
Antes de tudo, me parece claro que meu dever me
obriga a pegar este caso no ponto em que o sargento Bulmer o abandonou.
Baseado no trabalho feito por ele, me parece justo assumir que não devo
preocupar-me mais com a doméstica ou com o empregado da loja, cuja inocência
sua investigação estabeleceu. Assim, o que resta a ser investigado em segredo
é a questão da culpa ou inocência do Sr. Jay; e antes de darmos por perdido o
dinheiro desaparecido, devemos nos certificar de que ele não tem nada a ver
com o roubo.
Este é o plano adotado por mim, com a total
aprovação do Sr. e da Sra. Yatman, para descobrir se o Sr. Jay é ou não é o
ladrão:
Eu me apresentarei hoje na casa fazendo-me passar
por alguém à procura de um quarto para alugar. A Sra. Yatman me mostrará o
quarto dos fundos no segundo andar como sendo aquele a ser alugado e me
estabelecerei ali, como um jovem do interior em Londres à procura de uma
colocação num escritório ou numa loja respeitável.
Desta forma, ficarei ao lado do quarto ocupado
pelo Sr. Jay. A parede divisória é apenas de argamassa e não será difícil
fazer nela um pequeno furo por onde possa observar o que faz o Sr. Jay em seu
quarto e ouvir as conversas que porventura tenha com eventuais visitantes.
Sempre que ele estiver em casa, estarei em meu posto de observação; quando
sair, eu o seguirei. Acredito que desta forma descobrirei, com certeza, seu
segredo, caso esteja envolvido com o roubo.
Não me sinto no direito de prever sua avaliação de
meu plano, mas tenho para mim que ele une os incalculáveis méritos da ousadia
com aqueles da simplicidade. Revigorado por esta convicção, encerro a
presente, com sentimentos do maior otimismo em relação ao futuro.
Sempre seu obediente criado,
MATTHEW SHARPIN
DO MESMO REMETENTE
PARA O MESMO DESTINATÁRIO
7 de julho
Prezado Senhor,
Sem a honra de uma resposta à minha última
comunicação, ouso presumir que esta, apesar de todos seus preconceitos contra
mim, causou em sua mente uma impressão favorável. Gratificado e encorajado,
além de qualquer medida, por esta aprovação que seu eloqüente silêncio me
transmite, passo agora a relatar os progressos resultantes de meus esforços
no decurso das últimas vinte e quatro horas.
Encontro-me, neste momento, confortavelmente
instalado no quarto ao lado daquele do Sr. Jay, e é um prazer comunicar-lhe
que, em vez de um buraco na parede, tenho dois à minha disposição. Meu senso
de humor inato permitiu-me a desculpável extravagância de batizá-los com
nomes apropriados. Ao primeiro chamei de "luneta", e ao segundo de
"corneta". O nome do primeiro é auto-explicativo; o do segundo se
refere a um pequeno tubo de metal inserido e retorcido no buraco, de forma a
chegar até meu ouvido, quando me encontro
em meu posto de observação. Assim, ao mesmo tempo em que observo, pelo meu
furo "luneta", tudo que se passa no quarto do Sr. Jay, pelo meu
furo "corneta", posso ouvir qualquer coisa que for dita.
Minha total honestidade, virtude que cultivo desde
a mais tenra infância, obriga-me a confessar, antes de poder prosseguir com
meu relato, que a idéia de juntar um furo "corneta" ao meu furo
"luneta" partiu da Sra. Yatman. Esta senhora inteligente e dotada,
pessoa de modos refinados e ainda assim de simples trato, passou a colaborar
em todos os meus planos com um entusiasmo e inteligência que nenhum elogio
seria excessivo no descrever. O Sr. Yatman ficou tão deprimido com sua perda
que tem sido incapaz de prestar-me qualquer assistência. A Sra. Yatman, cujo
afeto por ele é evidente, sente mais pelo estado de espírito do marido que
pela própria perda do dinheiro, e é estimulada a auxiliar-me pelo desejo e
pela esperança de ajudá-lo a sair do miserável estado de prostração em que se
encontra.
- O dinheiro, Sr. Sharpin - me disse ela, ainda
ontem à noite, com lágrimas nos olhos -, o dinheiro pode ser recuperado com
trabalho e economia. É o estado de espírito em que se encontra meu marido que
me preocupa e me faz ansiosa por descobrir o ladrão. Talvez esteja enganada,
mas foi a partir do momento em que o senhor entrou nesta casa que me sinto
segura de sucesso. Se existe alguém no mundo capaz de descobrir o desgraçado
que nos roubou, este alguém é o senhor - aceitei este gratificante elogio na
sinceridade com que foi feito e creio que o tempo dirá se o mereci ou não.
Voltando ao assunto deste relatório, ou seja,
minha "luneta" e minha "corneta".
Pude observar com calma, por algumas horas, o Sr.
Jay. Embora normalmente passe muito pouco tempo em casa, como soube pela Sra.
Yatman, ele ontem permaneceu no quarto o dia inteiro. O que é, por si só,
bastante suspeito. Devo ainda juntar que se levantou tarde esta manhã (o que
é sempre um péssimo sinal numa pessoa jovem), e que passou a maior parte do
tempo, depois de levantar-se, bocejando e reclamando em voz alta de uma dor
de cabeça. Como é comum em pessoas de caráter dissoluto, comeu pouco, ou
quase nada, no seu café da manhã. Sua próxima providência foi acender um
cachimbo, um sujo cachimbo de barro que um cavalheiro, digno deste nome,
jamais colocaria entre os lábios. Quando terminou de fumar, pegou papel, pena
e tinteiro e sentou-se para escrever com um grunhido,
que eu não saberia determinar se era de remorso por roubar o dinheiro ou se
era de puro desagrado pela tarefa que tinha diante de si. Depois de escrever
algumas linhas (muito distantes de minha "luneta" para que pudesse lê-las),
se recostou na cadeira e começou a cantarolar algumas canções populares. Se
estas canções eram ou não parte de um código secreto, com que se comunicava
com outros cúmplices, é algo ainda a ser determinado. Depois de cantarolar
por algum tempo, resolveu levantar-se e caminhar pelo quarto, parando de vez
em quando para colocar mais uma frase no papel sobre sua mesa. Pouco tempo
depois, foi a um armário fechado e o abriu. Forcei a vista na expectativa de
descobrir algo. Vi que retirava com cuidado alguma coisa do armário, afinal
virou-se para mim e pude ver, tratava-se apenas de meia garrafa de brandy.
Depois de beber um pouco, este reprovável indolente deitou-se outra vez na
cama e, em cinco minutos, voltou a dormir.
Ouvi seu ronco por pelo menos duas horas, até que
uma batida em sua porta me chamou outra vez ao meu posto de observação. Ele
acordou e abriu a porta com uma presteza bastante suspeita.
Um menino pequeno, com uma cara imunda, entrou no
quarto.
- Por favor, estão esperando pelo senhor! - disse,
sentando-se numa cadeira, onde em pouco tempo começou a dormir. O Sr. Jay
disse um palavrão, enrolou uma toalha molhada em torno da testa e, voltando
ao seu papel, começou a cobri-lo de frases, tão rapidamente quanto seus dedos
eram capazes de mover a pena. Continuou neste exercício durante umas três
horas, com ocasionais interrupções para molhar e tornar a enrolar a toalha na
testa. No final, dobrou as folhas escritas e, depois de acordar o menino,
entregou-as a ele dizendo:
- Pronto, dorminhoco, ai estão. Pode levá-las.
Rápido! Se estiver com o patrão diga que tenha meu dinheiro pronto para
quando for vê-lo - o menino sorriu e desapareceu. Estive a ponto de seguir o
tal "dorminhoco", mas acabei desistindo da idéia, considerando mais
seguro manter o olho nos movimentos do Sr. Jay.
Meia hora depois, ele punha o chapéu na cabeça e
saía. Eu, claro, também pus meu chapéu e saí. Quando descia, cruzei com a
Sra. Yatman, que subia a escada. Por um prévio acordo entre nós, ela se
prontificara a revistar o quarto do Sr. Jay quando este se ausentasse,
estando eu ocupado, enquanto isto, na prazerosa tarefa de segui-lo. Na
referida ocasião, ele caminhou direto para a taverna mais próxima e ordenou
um par de costeletas de carneiro para seu jantar. Coloquei-me no
compartimento próximo ao seu e pedi também duas costeletas de carneiro para o
meu jantar. Menos de um minuto depois, um jovem de aspecto e modos bastante
suspeitos, que se encontrava sentado numa mesa oposta, pegou seu copo de
cerveja e juntou-se ao Sr. Jay. Fingindo ler um jornal, ouvi a conversa
de ambos com a maior atenção.
- Jack esteve perguntando por você - disse o
jovem.
- Ele deixou algum recado? - perguntou o Sr. Jay.
- Sim - disse o outro. - Pediu-me que, se o visse,
dissesse que ele precisa muito vê-lo esta noite, e que passaria por
Rutherford Street para procurá-lo, às 19h.
- Tudo bem - disse o Sr. Jay. - Já estarei de
volta em casa a esta hora.
Depois disso, o jovem de ar suspeito terminou sua
cerveja e, dizendo estar com pressa, despediu-se de seu amigo (talvez fosse
mais apropriado dizer seu cúmplice?) e foi embora.
Entre 18h25 e 18h30 (em casos como este é
importante ser preciso quanto à hora), o Sr. Jay terminou suas costeletas e
pagou sua conta. Entre 18h26 e 18h45, comi e paguei pelas minhas. Dez minutos
mais tarde estava em casa, em Rutherford Street, e fui recebido pela Sra.
Yatman no corredor. Entristeceu-me muito ver no rosto da encantadora senhora
um ar de melancolia e desapontamento.
- Vejo, madame - disse eu -, que a senhora não
descobriu nenhuma prova incriminadora no quarto do pensionista.
Ela balançou a cabeça e deu um suspiro. Um suspiro
lânguido, macio e vibrante, que me comoveu. Por um momento esqueci-me do
trabalho e senti apenas uma enorme inveja do Sr. Yatman.
- Não se desespere, madame - disse com uma
insinuante doçura que pareceu tocá-la. - Acabo de ouvir, numa misteriosa
conversa, sobre um encontro suspeito e tenho grandes esperanças em minha
"luneta", e em minha "corneta". Não diga nada, mas creio
que estamos prestes a fazer uma descoberta.
Então, o entusiasmo de minha devoção pelo trabalho
tomou conta de mim; olhei-a nos olhos, pisquei com um aceno de cabeça e a
deixei.
De volta ao meu observatório, encontrei o Sr. Jay
digerindo suas costeletas numa poltrona, com seu cachimbo na boca. Na sua
mesa havia dois copos, um jarro de água e a meia garrafa de brandy. Eram
quase sete horas. /\s sete em ponto, Jack entrou.
Ele parecia agitado, para felicidade minha,
parecia muito agitado. A antecipação do sucesso tomou conta de mim da cabeça
aos pés. Com a respiração suspensa pelo interesse, vi através de minha
"luneta" o visitante sentar-se diante do Sr. Jay e de frente para
mim. Descontando as diferenças de expressão no rosto de cada um, naquele
momento os dois se pareciam tanto como se fossem irmãos.
- Que é que houve, Jack? - perguntou o Sr. Jay.
- Você não está vendo no meu rosto? - respondeu
Jack. - Atrasos são perigosos, meu caro. Vamos acabar com os riscos e com o
suspense depois de amanhã.
- Já? - disse o Sr. Jay com surpresa. - Bem, se
você está pronto, eu também estou, mas será que a outra pessoa estará? Você
tem certeza disto?
Falava com um sorriso nos lábios, um sorriso
assustador, e colocou uma ênfase especial em sua voz quando falou da
"outra pessoa". É evidente que existe um terceiro bandido envolvido
no caso, um desesperado de quem ainda não sabemos o nome.
- Encontre-nos amanhã - disse Jack - e veja por
você mesmo. Esteja em Regent's Park amanhã às onze, nós estaremos na curva
que leva a Avenue Road.
- Eu estarei lá - disse o Sr. Jay. - Não quer um
pouco de òrondycom água? Por que é que está se levantando? Você já vai
embora?
- Sim, já vou - disse Jack. - Na verdade estou tão
nervoso que não consigo ficar mais de cinco minutos sentado no mesmo lugar.
Pode parecer ridículo, mas tenho os nervos à flor da pele. Não consigo parar
de pensar que podemos ser descobertos. Qualquer pessoa que olhe para mim na
rua me parece um espião. ..
Quando ouvi estas palavras, tive medo que minhas
pernas me traíssem e cedessem sob o peso de meu corpo. Apenas minha
força de vontade, dou-lhe minha
palavra de honra, me manteve ali, no meu posto de observação.
- Bobagem! - exclamou o Sr. Jay, com a ousadia de
um veterano do crime. -Fizemos tudo em segredo até aqui, e continuaremos
trabalhando bem até o final. Tome um trago e se sentirá tão confiante quanto
eu.
Jack recusou a bebida e insistiu em partir.
- Não se esqueça, amanhã às onze, em Regent's
Park, do lado de Avenue Road. Com estas palavras foi embora. Seu parente mais
calejado riu com desespero e voltou ao seu cachimbo.
Sentei-me na cama tremendo de excitação.
Parece-me claro que não foi feita ainda nenhuma
tentativa para trocar as notas roubadas, e devo mencionar que esta era também
a opinião do sargento Bulmer quando deixou o caso comigo. Qual seria então a
conclusão natural a tirar da conversa que acabara de ouvir? Parece claro que
o encontro de amanhã seria para dividir o dinheiro e decidir a melhor forma
de trocá-lo no dia seguinte. O Sr. Jay deve ser o chefe do bando e é provável
que assuma o risco maior, que será a troca da nota de cinqüenta libras. Assim
sendo, continuarei a segui-lo, comparecendo ao encontro em Regent's Park
amanhã, e fazendo o possível para ouvir o que disserem. Se um outro encontro
for marcado para o mesmo dia, é claro que também irei. Enquanto isto,
necessito da assistência de duas pessoas competentes para seguir os dois
outros cúmplices (caso se separem depois do encontro). No caso de
permanecerem todos juntos, manterei meus subordinados de reserva, pois,
devido à minha natural ambição, pretendo ter todo o crédito pela descoberta
dos bandidos.
8 de julho
Confirmo e agradeço a chegada de meus dois
subordinados, que parecem ser homens de inteligência apenas mediana, mas que,
afortunadamente, trabalharão sempre orientados por mim.
Minha primeira providência esta manhã, para
prevenir qualquer mal-entendido, foi a de avisar o Sr. e a Sra. Yatman da
presença de dois estranhos na casa. O Sr. Yatman (aqui entre nós, um pobre
coitado fraco de vontade) apenas concordou com a cabeça e suspirou. A Sra.
Yatman (uma mulher superior) favoreceu-me com um olhar inteligente e
encantador.
- Oh, Sr. Sharpin! - disse-me ela. - Fico tão
triste em ver estes dois homens. Este seu pedido de auxílio me parece uma
quase admissão de desesperança.
Sem que o Sr. Yatman visse, pisquei para ela
(coisa que ela me permite fazer sem ofender-se), e disse-lhe, na minha forma
bem-humorada, que ela se enganava.
- Pelo contrário, madame, é justamente por estar
seguro do sucesso que os chamei. Estou determinado a recuperar o dinheiro,
não apenas por minha causa, mas pelo Sr. Yatman e pela senhora - disse,
colocando uma ênfase especial nas duas últimas palavras.
- Oh, Sr. Sharpin! - disse, corando de um vermelho
celestial e baixando o olhar para seu trabalho. Eu seria capaz de qualquer
coisa por aquela mulher, se o marido, pelo menos, se resolvesse a morrer.
Mandei os dois agentes para que esperassem, até
que tivesse necessidade deles, no portão de Avenue Road, do Regent's
Park. Meia hora mais tarde, segui na mesma
direção os passos do Sr. Jay.
Os dois cúmplices foram pontuais ao encontro. Fico
vermelho de vergonha ao lembrar disso, mas é necessário dizer que o terceiro
membro do bando (o desesperado ainda sem nome de meu último relatório, ou, se
o senhor preferir, a "outra pessoa", referida na conversa dos dois
irmãos) é uma mulher. E, o que é mais sério, uma mulher jovem e atraente. Por
muitos anos tenho tentado erradicar de minha mente a convicção de que sempre
que se comete algum malfeito, há uma mulher envolvida. Depois daquilo que vi
esta manhã, não lutarei mais contra esta triste conclusão. Dou por perdido
todo o sexo feminino; com a exceção da Sra. Yatman, é claro.
O homem chamado Jack ofereceu seu braço a ela, o
Sr. Jay colocou-se do outro lado, e os três começaram a caminhar devagar
entre as árvores. Eu os segui a uma respeitável distância, enquanto os dois
agentes, também a uma respeitável distância, seguiam a mim.
Sinto profundamente dizer que foi impossível
aproximar-me deles o bastante para que pudesse ouvir a conversação sem correr
o risco de ser descoberto; pude apenas deduzir, de seus gestos e da expressão
em seus rostos, que falavam todos com extraordinária franqueza de algum
assunto que os interessava profundamente. Depois de passar assim conversando
um bom quarto de hora, inverteram, de repente, o sentido da caminhada que
faziam, voltando sobre os próprios passos. Minha presença de espírito não me
abandonou na emergência. Fiz um gesto aos meus subordinados para que
seguissem descuidados no mesmo sentido passando por eles, enquanto eu mesmo
conseguia me esconder com habilidade atrás de uma árvore. Ao passarem por
mim, pude ouvir a voz de Jack, que dirigia ao Sr. Jay as seguintes palavras:
- Digamos às 10h30 amanhã de manhã. E venha com um
carro. É melhor não nos arriscarmos, pegando um aqui nesta área.
O Sr. Jay deu uma breve resposta que não pude ouvir.
Despediram-se com apertos de mão cordiais, numa ousadia de dar náusea. Depois
se separaram. Segui os passos do Sr. Jay, enquanto meus subordinados
dedicavam a mesma atenção aos outros dois.
Em vez de levar-me de volta a Rutherford Street, o
Sr. Jay fez-me segui-lo até o Strand, onde entrou em uma casa de ar suspeito
e decadente, que, segundo a inscrição na fachada sobre a porta, seria um
jornal, embora tivesse toda a aparência exterior de um local dedicado à
receptação de furtos.
Depois de permanecer ali por alguns minutos, saiu
com as mãos nos bolsos e assoviando. Uma outra pessoa talvez o prendesse ali
mesmo. Lembrei-me da necessidade de pegar seus dois cúmplices, e da
importância de não interferir com o encontro que tinham marcado para o dia
seguinte. Imagino que meu sangue-frio, no calor das circunstâncias, não seja
coisa comum num novato inexperiente e com uma reputação de detetive policial
ainda não estabelecida.
Daquela casa de aparência suspeita, o Sr. Jay se
dirigiu a uma tabacaria onde se sentou num sofá para
ler o jornal, enquanto fumava um charuto. Da
tabacaria foi para a taverna, onde comeu suas costeletas. Fui atrás dele até
a taverna e comi minhas costeletas. Quando terminou, voltou ao seu quarto.
Quando terminei, também voltei ao meu quarto. Cedo se sentiu sonolento, e foi
para a cama. Logo que o ouvi roncando, também me senti sonolento, e fui para
a cama.
Cedo pela manhã, meus dois subordinados vieram
fazer seus relatórios.
Viram o homem chamado Jack acompanhar a mulher até
o portão de uma residência de aspecto respeitável, não muito distante de
Regent's Park. Depois de ficar só, virou à direita e, caminhando nesta
direção, foi até uma rua de aparência suburbana, numa vizinhança habitada
principalmente por comerciantes. Parou na porta de uma das casas, onde entrou
usando sua própria chave, não sem antes olhar para os lados e fixar meus dois
subordinados que passavam pelo outro lado da rua. Estes eram todos os
particulares que tinham para comunicar-me. Mantive-os em meu quarto, caso
fossem necessários, e fui para minha "luneta" observar o Sr. Jay.
Estava ocupado em vestir-se, tomando extremos
cuidados na tentativa de esconder todos os traços de seu natural relaxamento.
Era exatamente o que eu esperava. Um vagabundo como o Sr. Jay sabe a
importância que tem um aspecto respeitável quando vai correr o risco de
trocar notas de banco roubadas. Cinco minutos depois das dez, dera a última
escovada em seu velho chapéu e a última esfregada com miolo de pão em suas
luvas sujas. Dez minutos depois das dez, já estava na rua em direção ao ponto
mais próximo de carros de aluguel. Meus subordinados e eu estávamos logo
atrás dele.
Ele tomou um carro, e nós tomamos outro. Não
ouvira deles o local do encontro, mas logo percebi que íamos na conhecida
direção do portão de Avenue Road. O carro do Sr. Jay entrou no parque
vagarosamente. Nós paramos do lado de fora, para evitar suspeitas. Saltei
pensando em segui-lo a pé, mas naquele momento vi que parava, e detectei que
os dois cúmplices se aproximavam vindo por entre as árvores. Entraram, e o
carro fez o giro para voltar por onde entrara. Corri de volta para meu
próprio carro e disse ao cocheiro que os deixasse passar, e os seguisse como
antes.
O homem obedeceu às minhas instruções, mas de
forma tão desajeitada a ponto de despertar suspeitas. Três minutos depois,
nós os seguíamos pela estrada por onde viéramos, e decidi olhar pela janela
para ver a que distância estavam. Quando fiz isto, vi dois chapéus saindo das
janelas do carro deles, e dois rostos que olhavam diretamente para mim.
Sentei-me de volta com o sangue gelado.
- Fomos descobertos - disse num fio de voz a meus
subordinados. Eles me olharam espantados. E naquele instante o desespero que
sentia transformou-se em indignação.
- A culpa é do cocheiro. Um de vocês vá lá fora -
disse com dignidade -, vá lá fora e dê um murro nele.
Em vez de fazer o que mandara (gostaria que este
ato de indisciplina fosse denunciado ao quartel-general). Ambos se debruçaram
para olhar pela janela. Antes que pudesse puxá-los de volta, estavam sentados
de novo. Antes que pudesse expressar minha indignação, os dois disseram:
- Por favor, olhe lá fora, senhor! Olhei. O carro
havia parado. Onde?
Na porta de uma igreja!
Não sei o efeito que isto teria numa pessoa comum.
Mas a mim, pessoa extremamente religiosa que sou, encheu de horror. Leio com
freqüência sobre a esperteza sem princípios dos criminosos,
mas nunca ouvira de três ladrões que usassem uma igreja para despistar seus
perseguidores. Esta audácia sacrílega me parece sem paralelos nos anais do
crime.
Com o cenho franzido, fiz parar de sorrir meus
subordinados. Era fácil imaginar o que passava por suas mentes superficiais.
Não fosse eu capaz de enxergar além das aparências, poderia também, vendo
aqueles dois homens e aquela mulher, todos bem-vestidos, entrarem numa
igreja, antes das onze horas, num dia de semana, chegar à mesma conclusão
apressada a que haviam chegado meus inferiores. Mas as aparências não tinham
o poder de determinar as minhas conclusões. Desci e, seguido por um de meus
homens, entrei na igreja. O outro, eu mandei que vigiasse a porta da
sacristia, pois este seu humilde criado não vai ser pego dormindo.
Subimos as escadas para o balcão do órgão, de onde
podíamos espiar por uma fresta na cortina. Lá estavam eles, todos três,
sentados num banco! Sim! Por incrível que possa parecer, estavam ali,
sentados num banco!
Antes que pudesse decidir o que fazer apareceu um
sacerdote; vinha da sacristia, vestido com todos os seus paramentos e seguido
de um auxiliar. Um turbilhão de pensamentos passou por minha mente e meus
olhos se turvaram. Sombrias memórias de roubos cometidos em sacristias
cruzaram meus pensamentos, e temi por aquele bom homem em vestes canônicas,
temi até pelo sacristão.
O sacerdote parou diante do altar. Aqueles três
desesperados se aproximaram dele. Ele abriu um livro e começou a ler em voz
alta. O quê? Perguntará o senhor.
Respondo sem a menor hesitação: As primeiras
linhas da cerimônia de casamento.
Meu subordinado teve a audácia de olhar para mim
com um lenço na boca para sufocar o riso. Não me dignei a olhá-lo. Depois de
descobrir que o homem chamado Jack era o noivo, e o Sr. Jay fazia a parte de
padrinho, deixei a igreja, seguido por meu subordinado, e fui encontrar o
outro homem na porta da sacristia. Outra pessoa em meu lugar teria sentido
algum desânimo e talvez começasse mesmo a pensar que cometera um erro. Nenhum
destes pensamentos derrotistas me ocorreu, nem me passou pela mente a idéia
de reavaliar minhas opiniões. E mesmo agora, três horas depois do fato, me
alegra dizer que continuo tranqüilo nas minhas convicções.
Tão logo nos reunimos, eu e meus associados,
diante da porta da sacristia, evidenciei minha vontade de continuar seguindo
os suspeitos, apesar do ocorrido. Minhas razões ficarão claras mais adiante.
Meus homens pareceram espantados com a minha decisão. Um deles teve a
impertinência de dizer:
- Desculpe, senhor, mas o que é que estamos
investigando? O roubo do dinheiro, ou o roubo de uma noiva?
O outro o encorajou com seu riso. Ambos merecem
uma severa reprimenda e espero que ambos a recebam.
Quando o casamento acabou, os três entraram no
carro, e nosso veículo (mantido bem escondido na esquina) voltou a segui-los.
Nós os acompanhamos até a estação terminal da
Southwestern Railway. Os recém-casados compraram bilhetes para Richmond,
pagando com uma moeda de meio soberano, roubando-me o prazer de prendê-los,
coisa que teria feito, caso houvessem pago com uma nota de banco.
Despediram-se do Sr. Jay dizendo: "Não se esqueça do endereço - Babylon
Terrace, número 14. Você janta conosco daqui a uma semana." O Sr. Jay
aceitou o convite e disse brincando que ia direto para casa tirar aquelas
roupas limpas e passar o resto do dia na sua confortável sujeira. Tenho que
relatar ainda que o acompanhei até em casa, onde se encontra outra vez
confortável e sujo (para usar sua própria expressão) neste exato momento.
Assim se encontra a investigação, que chegou ao
que eu chamaria de sua primeira etapa.
Sei muito bem o que certas pessoas, apressadas em
seus julgamentos, estariam inclinadas a pensar de meus atos. Diriam que venho
me iludindo da forma mais absurda; diriam que a conversa suspeita de meu
relatório fazia referência apenas às dificuldades e riscos de uma fuga para o
altar; e usariam a cena da igreja como prova cabal da justeza de suas
conclusões. Que seja. Não pretendo contestá-los. Mas gostaria de colocar uma
questão, do mais profundo de minha sagacidade de homem do mundo que sou, uma
questão que mesmo o mais ferrenho dos meus inimigos não achará fácil
responder.
Aceitando-se o fato do casamento, que é que isto
prova da inocência destas três pessoas, já envolvidas em uma transação
clandestina? Nada! Pelo contrário, reforça minhas suspeitas contra o Sr. Jay
e seus associados, porque sugere um motivo preciso para o roubo. Um
cavalheiro que pretenda passar sua lua-de-mel em Richmond necessita de
dinheiro; da mesma forma que um cavalheiro que deve a todos seus fornecedores
necessita dinheiro. Seria uma imputação injusta de motivos? Em nome da
moralidade pública ultrajada, insisto que não. Estes dois homens conspiraram
juntos para roubar uma mulher do lar paterno. Por que não conspirariam para
roubar o dinheiro? Atenho-me à lógica da Virtude, e desafio todos os sofismas
do Vicio a me fazerem mover, um centímetro que seja, de minhas conclusões.
Falando em virtude, devo adicionar que expliquei
meu ponto de vista no caso ao Sr. e a Sra. Yatman. No início, aquela
brilhante dama teve alguma dificuldade em acompanhar de perto meu raciocínio.
Devo confessar que ela também balançou a cabeça em dúvida, derramou lágrimas,
e juntou-se ao marido em prematuras lamentações sobre a perda das duzentas libras.
Mas uma cuidadosa explicação de minha parte, somada a sua mais sincera
atenção, terminaram por fazê-la mudar de opinião. Ela agora concorda comigo
que não existe nada nesta inesperada circunstância do casamento clandestino
que nos leve a eliminar as suspeitas contra o Sr. Jay, ou contra Jack, ou
contra a noiva fugitiva. "Mulherzinha audaciosa" - foi como minha
querida amiga se referiu a ela; mas isto não vem ao caso. Mais importante é
registrar que a Sra. Yatman não perdeu sua confiança em mim, e seu marido
promete seguir seu exemplo e fazer todo o possível para olhar o futuro com
otimismo e esperança.
Espero agora, devido ao rumo que tomaram os
acontecimentos, por instruções suas. Faço uma pausa nas investigações,
enquanto espero por novas ordens, com a tranqüilidade de um homem com duas
balas na pistola. Quando segui os suspeitos até a estação, tive dois motivos
para fazê-lo. Primeiro, eu os segui por motivos oficiais e ainda na crença de
serem eles os culpados do roubo. Em segundo lugar, para satisfazer uma
curiosidade particular, no intento de descobrir o esconderijo do casal de
fugitivos e transformar esta informação em mercadoria rentável, oferecendo-a
à família ou aos amigos da noiva. Assim, aconteça o que acontecer, posso
congratular-me antecipadamente por não haver perdido meu tempo. Se o
departamento aprovar minha conduta, tenho meus
planos prontos para continuar com a investigação; caso seja reprovado, sairei
da força com algo para vender naquela residência próxima ao Regent's Park. Em
qualquer caso, isto significa dinheiro em meu bolso e crédito para minha
inteligência.
Tenho apenas uma palavra a mais para colocar aqui.
Se qualquer pessoa afirmar que o Sr. Jay e seus asseclas são inocentes, eu a
desafio - seja ela quem for, até mesmo o inspetor-chefe Theakstone - a
dizer-me quem roubou o dinheiro em Rutherford Street, Soho.
Na certeza de minhas convicções, tenho a honra de
subscrever-me.
Seu criado,
MATTHEW SHARPIN
DO INSPETOR-CHEFE THEAKSTONE
PARA O SARGENTO BULMER
Birmingham, 9 de julho
Sargento Bulmer,
A idiotice pretensiosa do Sr. Matthew Sharpin
conseguiu confundir tudo no caso de Rutherford Street, exatamente como era de
se esperar. O trabalho me prende aqui, e assim escrevo ao senhor para que
resolva o problema. Anexo as páginas de subliteratura delirante que aquela
criatura, Sharpin, batizou de relatório. Dê uma olhada, se conseguir
atravessar todo o lixo; acho que o senhor concordará comigo que o imbecil
olhou em todas as direções, menos na direção certa. O senhor pegará o ladrão
em cinco minutos. Resolva o caso imediatamente e mande seu relatório para
esta cidade. E diga ao Sr. Sharpin que ele está suspenso até segundo aviso.
Seu,
FRANCIS THEAKSTONE
DO SARGENTO BULMER
PARA O INSPETOR-CHEFE THEAKSTONE
Londres, 10 de julho
Inspetor Theakstone,
Sua carta e anexo chegaram bem às minhas mãos.
Dizem que um homem sábio é capaz de aprender alguma coisa até mesmo de um
tolo. Quando terminei a leitura do relatório incoerente, que Sharpin fez da
sua própria loucura, já tinha resolvido o caso de Rutherford Street, exatamente
como o senhor previu. Em meia hora estava no local, e a primeira pessoa que
encontrei foi o próprio Sharpin.
- O senhor veio me ajudar? - perguntou ele.
- Não é bem assim - disse eu. - Vim avisá-lo que o
senhor está suspenso até segunda ordem.
- Muito bem - disse ele, nem um pouco diminuído em
seu próprio conceito. -Sabia que despertaria ciúme no senhor. Entre e fique à
vontade. Estou de saída para um pequeno trabalho por minha conta nas
vizinhanças de Regent's Park. Ta-ta, sargento, ta-ta.
Com estas palavras, desapareceu, que era
exatamente aquilo que eu desejava.
Tão logo a empregada fechou a porta, disse-lhe que
fosse informar seu patrão que precisava vê-lo. Ela me levou a uma salinha
atrás da loja, e ali estava o Sr. Yatman, sozinho, lendo o jornal.
- A respeito do roubo, senhor - disse eu.
Ele me interrompeu num tom bastante mal-humorado
para um homenzinho fraco e afeminado.
- Sim, sim, eu sei - disse ele. - O senhor veio me
dizer que aquela sua maravilha de sagacidade que fez aqueles furos na minha
parede do segundo andar cometeu um engano e não tem nenhuma idéia de quem
roubou meu dinheiro.
- Sim, senhor - disse eu. - Esta é uma das coisas
que vim lhe dizer. Mas tenho outra coisa a lhe dizer.
- O senhor pode me dizer quem é o ladrão? - disse
ele, mais mal-humorado que nunca.
- Sim, senhor - disse eu. - Acho que posso.
Ele largou o jornal e olhou para mim com um rosto
ansioso e assustado.
- Não é o meu caixeiro? - disse. - Espero para seu
próprio bem que não seja ele.
- Tente de novo - disse eu.
- Aquela puta preguiçosa da empregada? - perguntou
ele.
- Ela é preguiçosa - disse eu - e pode-se dizer
que também é uma puta; minhas investigações iniciais confirmaram isto. Mas
ela não é a ladra.
- Mas então, em nome de Deus, quem foi?
- O senhor poderia, por favor, preparar-se para
uma surpresa desagradável? -disse eu. - E caso o senhor resolva indignar-se,
gostaria de lembrá-lo que sou o mais forte de nós dois, e que se o senhor
tentar agredir-me, posso, sem querer, machucá-lo, em legítima defesa.
Ele empalideceu e empurrou sua cadeira para longe
de mim.
- O senhor pediu para que lhe dissesse quem roubou
o dinheiro - continuei. - Se o senhor insiste em ter esta resposta...
- Eu insisto - disse em voz fraca. - Quem foi?
- Sua mulher - disse eu de modo calmo, mas firme.
Saltou da cadeira como se eu o tivesse espetado
com uma faca e deu um soco na mesa, tão forte que a madeira estalou.
- Calma, senhor - disse eu. - Perder o controle
não vai ajudá-lo a descobrir a verdade.
- É mentira! - disse ele, com um outro soco na
mesa. - Uma mentira baixa, vil e infame! Como ousa ...
Parou e caiu outra vez na cadeira, olhou-me com um
olhar de incompreensão e começou a chorar.
- Quando o senhor se acalmar - disse eu - tenho
certeza de que irá se desculpar pelas palavras que usou. Enquanto isso, tente
ouvir minha explicação. O Sr. Sharpin enviou ao nosso Inspetor um relatório,
se é possível chamar assim àquela coisa ridícula e absurda, no qual coloca
não só todas as idiotices que disse e fez, mas também tudo que disse e fez
sua esposa. Normalmente, o destino daquelas folhas seria a cesta de lixo,
mas, neste caso, acontece que as tolices relatadas nos levam a certas conclusões.
E destas conclusões, que o idiota que escreveu o relatório não chegou a
suspeitar, estou tão seguro que apostaria meu posto na polícia como é certo
que a Sra. Yatman vem se aproveitando da deficiência mental e da vaidade do
Sr. Sharpin para proteger-se, encorajando-o a suspeitar das pessoas erradas.
Digo tudo isto em confidência. E mais, estou disposto a mostrar-lhe as razões
que a levaram a pegar o dinheiro, bem como onde ela o gastou, ou parte dele.
Ninguém pode olhar para sua mulher sem notar o bom gosto e a beleza de seus
vestidos.
Ouvindo estas palavras, o pobre homem pareceu ter
encontrado a voz. De novo me interrompeu num tom que parecia mais o de um
duque que o de um dono de papelaria.
- Tente outra forma de justificar sua vil calúnia
- disse ele. - A conta, já paga, de sua costureira, pelo ano que passou, está
arquivada na minha pasta de recibos.
- Desculpe-me, senhor - disse eu
-, mas isto não prova nada. - Costureiras têm hábitos pouco recomendáveis,
que na minha profissão se termina por conhecer. Uma senhora casada, se assim
o desejar, pode manter duas contas com elas; uma é aquela que seu marido vê e
paga; a outra é pessoal e contém todas aquelas pequenas extravagâncias que a
esposa paga em segredo, sempre que pode, em prestações, com o dinheiro que
consegue subtrair das despesas com a casa. No seu caso, diria que há tempos
sua esposa não faz um pagamento, talvez tenha havido a ameaça de uma
cobrança; a Sra. Yatman, conhecendo sua situação econômica, sentiu-se contra
a parede; e assim pagou a conta com o dinheiro que havia naquela caixa.
- Não acredito nisso - disse ele. - Cada uma de
suas palavras é um abominável insulto, à minha mulher e a mim.
- O senhor seria suficientemente homem - cortei
rápido para economizar tempo e palavras - para pegar aquele recibo que tem
arquivado e vir comigo, agora mesmo, até a costureira de sua mulher?
O homem ficou vermelho e foi pegar o recibo,
colocando-o no chapéu. Eu peguei na carteira a lista com o número das notas
de banco roubadas e saímos juntos.
Chegando à costureira (uma das mais caras do West
End, como esperava). Pedi uma entrevista com a dona do estabelecimento. Não
era a primeira vez que nos encontrávamos para conversar sobre o mesmo
problema delicado. No momento em que me viu, mandou chamar seu marido.
Expliquei quem era o Sr. Yatman, e aquilo que desejávamos.
- Isto é um assunto privado? - perguntou o marido.
Confirmei com um aceno de cabeça.
- E confidencial? - perguntou a mulher. Novamente
acenei que sim.
- Você tem alguma objeção, querida, a que o
sargento dê uma olhada nos livros? -perguntou o marido.
-Nenhuma, meu amor, se você aprovar - disse a
mulher.
Enquanto isto, o Sr. Yatman permanecia sentado com
seu ar de desconsolo e espanto, completamente deslocado naquela conferência
cordial. Vieram os livros e bastou um minuto para olharmos a página com o
nome da Sra. Yatman e confirmarmos a verdade de cada uma de minhas palavras.
Num livro estava a conta para o marido, que o Sr.
Yatman pagara e tinha o recibo; no outro, a conta pessoal, também cancelada,
com a data de pagamento coincidindo com o dia seguinte ao roubo. Era no valor
de 175 libras e alguns centavos, e estendia-se por um período de três anos.
Nem uma única prestação fora paga até a data da liquidação da conta. Abaixo
da última linha havia uma anotação: "Cobrada pela terceira vez, 23 de
junho." Perguntei à costureira se isto fora em junho deste ano. Sim,
fora no último mês de junho; e agora ela lamentava muito lembrar, houvera uma
ameaça de cobrança judicial.
- Pensei que bons clientes tivessem crédito por
mais de três anos - disse eu.
A costureira olhou para o Sr. Yatman e me disse em
voz baixa:
- Não quando o marido desta cliente se encontra em
dificuldades.
Ela mostrava a conta enquanto falava. As despesas
no último ano, depois das dificuldades econômicas do marido, eram tão
extravagantes para alguém em sua situação quanto haviam sido antes de seus
problemas. Se aquela senhora cortara despesas nos últimos tempos, não fora
com seus vestidos.
Não havia mais nada a fazer além de examinar o
pagamento, por pura formalidade. A conta fora paga em notas de banco com
números que conferiam com os de minha lista.
Depois disso achei melhor tirar o Sr. Yatman dali
o mais rápido possível. Estava em condições de ânimo tão deploráveis que
resolvi chamar um carro para acompanhá-lo até sua casa. No início,
chorava desesperado como uma criança, mas aos poucos consegui acalmá-lo; devo
dizer a seu favor que durante o caminho ele se desculpou pelas coisas que me
dissera; em troca, aconselhei-o na forma com que devia tratar sua esposa,
pensando no futuro de seu casamento. Ele deu pouca atenção a meus conselhos,
e entrou em casa falando em separação. Que a Sra. Yatman consiga sair de toda
esta história, sem arranhões em sua imagem, me parece duvidoso. Imagino que
ela vá usar de um ataque histérico para apavorar o pobre homem e forçar seu perdão.
Mas no que nos concerne o caso está encerrado e, com isto, aproveito para
encerrar meu relatório também.
Permaneço, como de costume, às suas ordens,
THOMAS BULMER
P. S. - Devo adicionar que, quando deixava
Rutherford Street, encontrei o Sr. Matthew Sharpin, que vinha fazer suas
malas para partir.
- Pense só! - disse ele, esfregando as mãos de
satisfação. - Estive naquela residência perto de Regent's Park, e mal
mencionei a razão da minha visita, eles me jogaram na rua aos pontapés. Tenho
duas testemunhas da agressão, e tirarei deles uma indenização de no mínimo
cem libras.
- Desejo que o senhor faça o melhor proveito de
sua sorte - disse eu.
- Obrigado - disse ele. - Quando poderei devolver,
cumprimentando-o pela descoberta do ladrão?
- Quando quiser - disse eu. - O ladrão foi
descoberto.
- Exatamente como pensei - disse ele. - Faço todo
o trabalho e o senhor vem colher os créditos. O Sr. Jay, é claro.
- Não - disse eu.
- Quem foi então? - perguntou ele.
- Pergunte à Sra. Yatman - disse eu; - ela o está
esperando para contar tudo.
- Muito bem! Prefiro ouvir daquela encantadora
mulher - e entrou apressado na casa.
O que é que o senhor acha, inspetor Theakstone? O senhor gostaria de estar na pele do Sr. Matthew Sharpin? Não creio que eu gostaria.
DO INSPETOR-CHEFE THEAKSTONE PARA O SR. MATTHEW
SHARPIN.
12 de julho
Prezado Senhor,
O sargento Bulmer já havia comunicado ao senhor
sua suspensão até segunda ordem. Tenho agora a autorização para informá-lo de
que seus serviços como membro de nosso departamento não serão mais
necessários. O senhor deve, por favor, considerar esta carta como uma
notificação oficial de dispensa do departamento.
Posso informá-lo, no entanto, que esta rejeição
não reflete nada de desabonador sobre seu caráter. Implica apenas que o senhor
não é inteligente o bastante para nossos propósitos; e, se devêssemos
precisar de um novo recruta, seria infinitamente preferível ter conosco a
Sra. Yatman.
ANOTAÇÃO À CORRESPONDÊNCIA PRECEDENTE, FEITA PELO
INSPETOR-CHEFE THEAKSTONE
Não estamos em posição de adicionar nenhuma
explicação de importância à última carta. Soube-se que o Sr. Matthew Sharpin
deixou a casa de Rutherford Street cinco minutos depois de sua conversa com o
sargento Bulmer - suas maneiras denotavam um estado de profundo choque e atordoamento,
tinha em sua face esquerda uma marca vermelha que parecia a impressão de uma
mão aberta, e sugeria aquilo que é popularmente conhecido como "um
poderoso bife na orelha". Um lojista de Rutherford Street o ouviu,
quando usava uma expressão chocante em referência à Sra. Yatman, e
foi visto fazendo, com a mão fechada, um gesto de
vingança enquanto dobrava correndo a esquina da rua. Nada mais se soube dele,
conjetura-se que tenha deixado Londres, para oferecer seus serviços à polícia
da província.
Do interessante assunto da vida doméstica do casal
Yatman, menos ainda é conhecido. Sabe-se com certeza, no entanto, que o
médico da família foi chamado com grande urgência no dia em que o Sr. Yatman voltou
da costureira. O farmacêutico da área recebeu, pouco depois, uma receita de
calmante para aviar. No dia seguinte, o Sr. Yatman comprou sais-de-cheiro
para sua esposa, e mais tarde foi visto na biblioteca, procurando um romance
sobre o mundo dos ricos com que distrair uma senhora inválida. É de
deduzir-se destes fatos que não considerou mais desejável continuar com suas
ameaças de separação, pelo menos nas presentes condições (presumíveis) do
sensível sistema nervoso de sua senhora.
Tradução de Octávio Marcondes
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Uma
União Poliafetiva Vitoriana
Wilkie
Collins
Romancista inglês, William Wilkie Collins nasceu a
8 de janeiro de 1824, em Londres. A mãe era filha de um pintor e
o pai, William Collins, era umreputado pintor paisagista, membro da Academia Real Britânica, pelo queWilkie Collins cresceu num ambiente protegido, embora tivesse sido umacriança enferma e definhada. Foi educado por professores particulares,
tendo estudado pintura durante alguns anos.
Em 1835 foi enviado à escola mas, nesse mesmo ano, a família optou por se mudar para Itália, onde permaneceu durante dois anos, regressando a Inglaterra. Em 1841, Wilkie Collins começou a trabalhar nos escritórios de uma firma de importação de chá, dando também início à atividade da escrita, publicando, em 1843, o seu primeiro conto, ‘The Last Stagecoachman’. Ingressou depois no Lincoln’s Inn como estudante de Direito, mas a sua atanção concentrava-se sobretudo na escrita, pelo que dedicou a maior parte do seu tempo à criação do romance histórico, Antonina; Or, The Fall of Rome (1850).
Em 1851 conseguiu formar-se como advogado, mas embora nunca tivesse chegado a exercer, aproveitou os conhecimentos adquiridos na área do Direito para a elaboração dos seus romances policiais, sendo o criador do primeiro policial inglês. Nesse mesmo ano conheceu o escritor Charles Dickens, com quem manteria uma duradoura amizade.
Em 1852 publicou Mr. Wray's Cash-Box,
obra de espírito natalício e onde se revela a influência do amigo, que o ajudou
também na criação de personagens, tornando-os credíveis.
Em 1856 passou a fazer parte do núcleo de
colaboradores da revista mantida por Dickens, a Household Works.
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Em 1860 publicou a sua obra mais conhecida, The Woman In White, romance em que utiliza uma técnica inovadora para a altura, ao fazer
desenrolar a trama pelo desenvolvimento, em tribunal, de uma série de
testemunhas.
A ideia para a obra ter-lhe-ia
surgido no meditar no encontro que teve com Caroline Graves, uma viúva que se
tornou sua companheira até à altura da sua morte. Wilkie Collins também teria
mantido uma relação com uma mulher casada, de quem assumiu a paternidade de
três filhos.
Diz-se que, por volta de 1868, vivia com Collins como amante,
enquanto que Caroline vivia como dona de casa. A sociedade inglesa da
época chocava-se e admirava-se com a bizarraria da vida privada
de Wilkie Collins.
Também na década de 60, e por se queixar de dores reumáticas, Wilkie Collins começou a abusar do láudano (ópio dissolvido em álcool), chegando a tornar-se dependente.
Publicou, entre muitas outras obras, The Moonstone em 1868, The FrozenDeep and Other Tales (1874), Jezebel's Daughter (1880) e The Evil Genius(1886).
Faleceu a 23 de setembro de 1889, vítima de uma apoplexia.
Um
brinde, ainda que um pouco amargo, à Advocacia
(ou, um país se faz com homens e livros: homenagem
ao Magistrado Sérgio Moro)
Publicado por Paulo
Antonio Papini
há 3 anos
38 visualizações
No dia 11 de agosto os cursos jurídicos brasileiros
fazem aniversário, trata-se de momento propício para que façamos uma reflexão
sobre estarmos, ou não, evoluindo e caso entendemos que nossa andar é para traz
pensarmos o que pode ser feito para mudar essa atual conjuntura.
Um país se faz com homens e livros – Homenagem ao
Magistrado Sergio Moro:
É de Monteiro Lobato a citação posta no subtítulo
acima e, trata-se, de uma profunda, absoluta realidade. A leitura, o constante
aprimoramento intelectual, a constante preocupação com seu aprimoramento
profissional que qualquer Advogado deve ter, é a base do crescimento
intelectual e financeiro de um indivíduo e, no plano macro, do próprio país.
Chegou a hora de refinarmos nossos paradigmas,
redefinirmos quem serão nossos formadores de opinião. Em 2.002 elegemos para o
cargo de Presidente da República a pessoa de Luiz I. Lula da Silva, o qual
dizia pra quem quisesse ouvir que era preguiçoso para ler – vídeo facilmente
localizável no youtube – e que, em 20 anos à frente do Partido dos
Trabalhadores, não se dignou a fazer uma Faculdade (isso para não falarmos de
passagens suspeitas sobre sua vida, como, por exemplo, ter sido alcagüete do
Dops e o estranho acidente que o fez perder o dedo mínimo).
Estávamos, ainda, pouco acostumados à democracia e
nos deixamos enganar pelos charlatões da política. Uma vez eleito, Lula, e não
podemos criticá-lo por isso, comportou no Poder, e pior ainda, na qualidade de
ex-Presidente da República, da forma que deveríamos esperar que um sindicalista
se comportasse. Sem ofensas aos sindicalistas. Esperar algo diverso de Lula –
aquele que se vangloriava de nunca ser preguiçoso pra ler e é conhecido por seu
alcoolismo – era algo como pedir para um rinoceronte voar. Não iria acontecer.
Simples assim.
Pois bem, se o Brasil de 2.002 idolatrava Lula, o de
2.015 o rejeita e passa a admirar (algo muito diferente de idolatrar, como
dizia Bertolt Brecht: “triste é o povo que precisa de heróis”) as pessoas dos
Magistrados Sérgio Moro e Joaquim Barbosa, os quais se mostraram altivos no
cumprimento de seus cargos, avessos à desmedida exposição midiática dos
processos sob sua responsabilidade (nada mais, nada menos que ação penal 470 e
Operação Lava Jato). Trata-se de dois Magistrados que, infelizmente ainda são
exceções em nossa Magistratura, que não se atemorizam por pressões de Advogados
caríssimos, não aceitam espécie alguma de carteirada, e começam a criar um novo
padrão na Justiça Criminal Brasileira. Até bem pouco tempo, principalmente em
crimes de colarinho branco, havia uma certeza no Brasil de que se o réu tivesse
mais de US$ 1.000.000,00 para gastar com sua defesa ele, quase que com absoluta
certeza, não passaria um dia sequer na cadeia. Após o estupendo trabalho
desempenhado tanto por Joaquim Barbosa [ação penal 470] e por Sérgio Moro
[Operação Lava Jato] começamos a ver um país não prende apenas ladrão de pote
de manteiga.
Em comum, voltando a Monteiro Lobato, os dois, Moro
e Barbosa têm em comum uma ampla produção intelectual, notabilíssima cultura
jurídica, livros e artigos publicados dentre outros. Noutras palavras: leram
muito, provavelmente mais de 2.000 livros cada.
Damos importância demais aos aspectos macro e
ignoramos o micro – isso vale também para a Advocacia:
É claro que é muito, mas muito importante, que
lembremos da importância que tem e terão para a República Joaquim Barbosa e
Sérgio Moro. Contudo, há algo nisso que me incomoda um pouco. Explico: temos,
no Brasil, a péssima mania de nos ocuparmos demais dos aspectos
macroeconômicos, pensarmos muito nas reformas institucionais que temos que
fazer para eliminar a saúva do nosso solo (“ou o Brasil acaba com a saúva, ou a
saúva acaba com o Brasil”, Lima Barreto, in “O triste fim de Policarpo
Quaresma”) e esquecermos de pagar nossas contas de luz.
Como disse acima, é mesmo bom e necessário que
louvemos os Magistrados que estão passando o Brasil a limpo, contudo, nos
esquecemos de elogiar ótimos Magistrados anônimos, em causas pequenas, que
fazem, também um ótimo trabalho. É claro que são ações que isoladamente não tem
o condão de mudar nada, mas a somatória desses esforços, pode ser muito mais
eficiente à [re]construção do país que qualquer Operação Lava Jato. Imaginemos,
por exemplo, que em cada ação de reparação por dano moral movida em razão de
negativação indevida cometida por grandes conglomerados econômicos, exista um
juiz que se inspire no trabalho do Magistrado Moro. Deu para imaginar; talvez a
conduta dos Bancos e empresas de telefonia, em relação aos seus clientes, neste
novo e hipotético cenário [cenário este que não é mais improvável, do que era o
Presidente da maior construtora do país ser preso] seja diferente, concordam!?
Mas, outras coisas devem ser pensadas, também,
quando falamos em microcosmo jurídico. O fundamento maior do Direito, enquanto
ciência, é o princípio do Contraditório e do Devido Processo Legal. Bem, em São
Paulo estes princípios foram rasgados com a aprovação e uma norma jurídica que
eleva as custas de apelação para 4% do valor da causa. Isso mesmo, se alguém
lhe vendeu e não entregou um apartamento de R$ 500.000,00 [em São Paulo,
infelizmente, esse valor corresponde a um imóvel bastante modesto] e você tiver
que entrar com um recurso contra eventual sentença, gastará, além de contratação
com Advogado, R$ 20.000,00 [vinte mil reais] apenas para poder recorrer.
Reconheço a importância que tem as ações penais 470
e Lava Jato, mas, com efeito, a norma em comento afeta enormemente o exercício
da cidadania e parece que os órgãos de classe, OAB e AASP, bem como a imensa
maioria dos Advogados ficou absolutamente anestesiada com a novel alteração.
Mais ainda, estamos tão acostumados com os desmandos
do Poder Executivo, que a a lei, indecente, que permite ao Estado utilizar
depósitos judiciais [de processos entre particulares] para pagar suas contas,
foi contestada no Supremo. Pela Ordem dos Advogados do Brasil? Por incrível que
pareça, não; mas pela AMB – Associação dos Magistrados Brasileiros.
Porquê o brinde ainda é amargo e não devemos ufanar:
A Advocacia ainda continua a ser maltratada e o
desrespeito à lei ainda é a norma para boa parte dos Magistrados. Inúmeros são
os processos, extremamente complexos, onde as verbas sucumbenciais são fixadas
em valores irrisórios, até mesmo ofensivos.
Não devemos ufanar, pois, apesar de existir o
artigo 404 do Código
Civil, que regulamenta que o vencido em ação de perdas e
danos deva ressarcir o vencedor daquilo que gastou com Advogado, esta norma vem
sendo – de forma sistemática – descumprida pelos Magistrados do Estado de São
Paulo.
Não devemos ufanar, uma vez que, cada vez mais
assistimos quase que diariamente, decisões judiciais que estão totalmente
divorciadas da lei, e, pior de tudo, há uma classe de magistrados [não merecem,
neste caso, a maiúscula alegorizante] que está absolutamente revoltada com a
idéia de ter que trabalhar, quer dizer, ter que fundamentar legal e
juridicamente as decisões proferidas.
Não devemos ufanar, ainda, pois um dos maiores entraves
ao nosso sistema processual ainda não foi derrubado pelo novo
Código de Processo Civil[provavelmente por lobby de
Febraban e outros grupos que ganham, e muito, com o caos], qual seja: a
manutenção do efeito suspensivo aos Recursos de Apelação.
Contudo, apesar de um aparente pessimismo deste
texto, seu condão não é o de deprimir os Advogados que o lerem. Todos os
problemas aqui apontados, com muito Estudo e dedicação de cada um de nós [e
somos centenas de milhares pelo Brasil] podem ser solucionados, da mesma forma
que também foi possível a prisão dos corruptos envolvidos nos escândalos do
petrolão e mensalão.
Paulo Antonio Papini
Advogado
Dr. Paulo Antonio Papini - Mestrando e Doutorando
pela Universidade Autónoma de Lisboa, Pós-graduando em Direito Civil e Direito
Processual Civil pela Escola Paulista de Direito. Graduado em Direito pela
Faculdade de Direito da Universidade Mackenzie. Autor do Livro: “Direito e
Democracia – Ordem Constitucional x Neoliberalismo”; Palestrante. Autor de mais
de 250 artigos e ensaios jurídicos para diversas revistas e sites. Advogado especialista
em Direito Imobiliário, Direito Bancário e Direito Processual Civil. (CV -
Lattes:http://lattes.cnpq.br/8542723949391103 )
"Sucesso
desta etapa tem gosto amargo para nossa instituição", diz Janot em carta
Gosto amargo chegou à PGR, diz Janot; leia nota na
íntegra
Pedro Ladeira - 27.mai.2015/Folhapress
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O
procurador-geral da República, Rodrigo Janot, ao centro da imagem
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DE BRASÍLIA
18/05/2017 09h59
O procurador-geral da República, Rodrigo Janot,
divulgou uma nota aos procuradores sobre os desdobramentos da operação
Lava-Jato nesta quinta-feira (18).
O procurador da República Ângelo Goulart Villela
foi preso por ordem do STF (Supremo
Tribunal Federal).
Leia
a íntegra da nota:
*
Prezados colegas
Foi deflagrada nesta quinta-feira, 18 de maio, mais
uma fase do caso Lava Jato, especificamente a partir de investigações que
correm perante o Supremo Tribunal Federal. O sucesso desta etapa, contudo, tem
um gosto amargo para a nossa Instituição.
Há três anos, revelou-se um esquema criminoso que
estarrece os brasileiros. As investigações realizadas pelo Ministério Público
Federal e outros órgãos públicos atingiram diversos níveis dos Poderes da
República em vários Estados da Federação e, aquilo que, até então, estava
restrito aos círculos da política e da economia, acabou chegando à nossa
Instituição.
Exercer o cargo de Procurador-Geral da República
impõe, não poucas vezes, a tomada de decisões difíceis. Nesses momentos, o
único caminho seguro a seguir é o cumprimento irrestrito da Constituição, das
leis e dos deveres institucionais. Não há outra forma legítima de ser
Ministério Público.
A meu pedido, o ministro Edson Fachin determinou a
prisão preventiva do procurador da República Ângelo Goulart Villela e do
advogado Willer Tomaz. A medida está embasada em robusta documentação, coletada
por meio de ação controlada. As prisões preventivas de ambos foram por mim pedidas
com o objetivo de interromper suas atividades ilícitas. No que diz respeito ao
procurador da República, o mandado de prisão expedido pelo STF foi executado
por dois procuradores regionais da República com o auxílio da Polícia Federal.
Também foram realizadas buscas e apreensões em seus endereços residenciais e
funcionais. Foi pedido ainda o afastamento do procurador de suas funções no
Ministério Público Federal. Determinei também sua exoneração da função de
assessor da Procuradoria-Geral Eleitoral junto ao TSE e revoguei sua designação
para atuar na força-tarefa do caso Greenfield.
O membro e o citado advogado são investigados por
tentativa de interferir nas investigações da referida operação, que envolve o
Grupo J&F, e de atrapalhar o processo de negociação de acordo de
colaboração premiada de Joesley Batista.
A responsabilidade criminal do procurador e dos
demais suspeitos atingidos pela operação de hoje será demonstrada no curso do
processo perante os juízos competentes, asseguradas todas as garantias constitucionais
e legais.
Como Procurador-Geral da República, cumpri meu dever
institucional e adotei as medidas que a Constituição e as leis me impunham.
Sigamos confiando nas instituições republicanas.
Rodrigo Janot
Eclesiastes1
Ouvir
1 Palavras do pregador, filho
de Davi, rei em Jerusalém.
2 Vaidade de vaidades, diz o pregador, vaidade
de vaidades! Tudo é vaidade.
3 Que proveito tem o homem, de todo o seu
trabalho, que faz debaixo do sol?
4 Uma geração vai, e outra geração vem; mas a
terra para sempre permanece.
5 Nasce o sol, e o sol se põe, e apressa-se e
volta ao seu lugar de onde nasceu.
6 O vento vai para o sul, e faz o seu giro para
o norte; continuamente vai girando o vento, e volta fazendo os seus circuitos.
7 Todos os rios vão para o mar, e contudo o mar
não se enche; ao lugar para onde os rios vão, para ali tornam eles a correr.
8 Todas as coisas são trabalhosas; o homem não
o pode exprimir; os olhos não se fartam de ver, nem os ouvidos se enchem de
ouvir.
9 O que foi, isso é o que há de ser; e o que se
fez, isso se fará; de modo que nada há de novo debaixo do sol.
10 Há alguma coisa de que se possa dizer: Vê,
isto é novo? Já foi nos séculos passados, que foram antes de nós.
11 Já não há lembrança das coisas que
precederam, e das coisas que hão de ser também delas não haverá lembrança,
entre os que hão de vir depois.
12 Eu, o pregador, fui rei sobre Israel em
Jerusalém.
13 E apliquei o meu coração a esquadrinhar, e a
informar-me com sabedoria de tudo quanto sucede debaixo do céu; esta enfadonha
ocupação deu Deus aos filhos dos homens, para nela os exercitar.
14 Atentei para todas as obras que se fazem
debaixo do sol, e eis que tudo era vaidade e aflição de espírito.
15 Aquilo que é torto não se pode endireitar;
aquilo que falta não se pode calcular.
16 Falei eu com o meu coração, dizendo: Eis que
eu me engrandeci, e sobrepujei em sabedoria a todos os que houve antes de mim
em Jerusalém; e o meu coração contemplou abundantemente a sabedoria e o
conhecimento.
17 E apliquei o meu coração a conhecer a
sabedoria e a conhecer os desvarios e as loucuras, e vim a saber que também
isto era aflição de espírito.
18 Porque na muita sabedoria
há muito enfado; e o que aumenta em conhecimento, aumenta em dor.
Vaidade
das vaidades tudo é vaidade
Referências
http://www.tribunadainternet.com.br/ciro-e-haddad-comecam-a-articular-uma-frente-de-centro-esquerda/
http://s2.glbimg.com/S4W8aXEDZCBibH81guOpvWW3W0E=/s.glbimg.com/jo/g1/f/original/2016/08/31/barbosa.jpg
http://g1.globo.com/politica/processo-de-impeachment-de-dilma/noticia/2016/08/joaquim-barbosa-chama-impeachment-de-tabajara-e-patetico.html
COSTA, Flávio Moreira da (Org.). Os cem melhores contos de crime e mistério da literatura universal. Rio de Janeiro: Ediouro, 2002. Disponível em: <http://livred.info/os-100-melhores-contos-de-crime-e-mistrio-da-literatura-univer.html?page=16>, Acesso em: 25 ago. 2018.
https://www.infopedia.pt/$wilkie-collins
https://papini.jusbrasil.com.br/artigos/218109387/um-brinde-ainda-que-um-pouco-amargo-a-advocacia
http://g1.globo.com/politica/operacao-lava-jato/videos/t/todos-os-videos/v/sucesso-desta-etapa-tem-gosto-amargo-para-nossa-instituicao-diz-janot-em-carta/5877537/
http://f.i.uol.com.br/folha/poder/images/17114176.jpeg
http://www1.folha.uol.com.br/poder/2017/05/1885087-gosto-amargo-chegou-a-pgr-diz-janot-leia-nota-na-integra.shtml
https://www.bibliaonline.com.br/acf/ec/1https://youtu.be/A3GAHF-vZjc
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