segunda-feira, 16 de abril de 2018

Dos enxadristas em Curitiba...


A Um gênio no jogo de damas de Leningrado chamado Sokov;

Levando a Um Sábio e "Malandro" no jogo de damas da Ucrânia chamado Bakumenko;


Passando pelo gênio das pernas tortas de Pau Grande apelidado Garrincha.

Conformando...

Gênios dos tabuleiros da vida...

Nas Quebradas do Mundaréu de Plínio Marcos.


Ricardo Noblat: Meu personagem inesquecível
- Blog do Noblat | Veja

Que magnífica biografia, a de Lula. De preso político a político preso

Lula virou, mexeu, mas não saiu do lugar. Sérgio Moro, o mais exímio enxadrista da sua geração de juízes, aplicou-lhe um xeque e 40 horas depois, Lula continua em xeque. Ganhou tempo para pensar se o xeque o deixou sem saída ou se há alguma. Não parece haver.

Na prática, Lula está preso desde que se refugiou na sede do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo na noite da última quinta-feira. Com a diferença de que ali sua cela é mais ampla do que será a de Curitiba. E visitas são permitidas a qualquer hora.

Ter que dormir numa cama improvisada, sem frigobar por perto, sem a tv de 50 polegadas e de alta definição a qual estava acostumado, sem poder levantar de madrugada e desfilar nu pela casa, enfim sem o conforto de estar em um lugar que é seu, é um tremendo incômodo.

E ter que ouvir o ex-senador Eduardo Suplicy a dissertar sobre as vantagens do programa de renda mínima? E a ter que ouvir amiúde a vozinha irritante da senadora Gleisy Hoffman, presidente do PT? E à algaravia infernal de conselheiros, admiradores e até desconhecidos?

Em uma de suas primeiras reuniões com ministros no Palácio do Planalto, em 2003, Lula comentou irritado depois de ouvir uma sugestão estúpida: “Toda vez que segui os conselhos da esquerda, me dei mal”. Não disse que se dera mal. Usou um dos seus palavrões preferidos. Mas deixemos assim.

Nas primícias do PT, a esquerda imaginou cavalgar Lula para com ele arrombar as portas do poder. Arrombou de fato na quarta tentativa. Mas como Lula nunca foi de esquerda e nem quis ser, foi ele que a cavalgou. Cavalga até hoje. Faz o que quer com ela. Continuará a fazer, por ora.

Lula sempre foi primeiro ele, segundo ele, terceiro, quarto, e suas circunstâncias. Uma vez, deram-lhe uma apostilha com uma espécie de Raio-X da esquerda. Para que ele a entendesse melhor. Páginas da apostilha que Lula jamais leu forraram o chão da casa do cachorro dele.

O líder das gigantescas greves do ABC paulista no início dos anos 80 foi também, e na mesma época, o analista informal da Odebrecht para assuntos sindicais. Está no depoimento a Moro do ex-presidente da construtora, Emílio Odebrecht. Já gostava de viver de obséquios.

O retirante da seca nordestina, que diz ter passado fome em São Paulo, transformou-se em sócio da Odebrecht ao se eleger presidente da República. Enriqueceu-a ainda mais, e enriqueceu, porque afinal ninguém é de ferro, nem mesmo ele, o filho de dona Lindu, nascida analfabeta.

De Garanhuns para o mundo, de acanhado língua presa para “este é o cara” como o saudou certa vez o presidente Barack Obama, Lula está a caminho de Curitiba. Questão de horas. Ou de um dia a mais, quem sabe mais um. E somente os fados impedirão que isso aconteça.

Enfim, de preso político nos idos de 80 do século passado, que driblava greve de fome chupando balinhas, a político preso, condenado por corrupção e lavagem de dinheiro, à espera do julgamento de mais oito processos. É o epílogo notável de uma biografia igualmente notável.



Ricardo Noblat: O enxadrista de Curitiba
- Blog do Noblat | Veja

Cheque mate

O juiz Sérgio Moro joga xadrez. A maioria dos seus adversários, damas.

A decisão de Moro de mandar prender Lula, decorrida apenas 17 horas do fim da sessão de ontem do Supremo Tribunal Federal, foi mais um lance de jogador de xadrez.

Meia hora antes, um dos advogados de Lula, o sempre bem engomado Cristiano Zanin Martins, havia dito inexistir risco de “prisão iminente” do seu ilustre cliente. Zanin Martins joga damas.

Até Lula, hábil enxadrista, às vezes joga damas. Jamais imaginou que poderia ser preso antes do final da próxima semana.

Ao agir com rapidez, uma vez autorizado pelo tribunal de Porto Alegre, Moro encurtou o tempo da defesa de Lula para mantê-lo solto.

Não foi a primeira, nem a segunda, nem a terceira vez que Moro pôs Lula e seus advogados em xeque.

Há dois anos, na véspera de Lula assumir a chefia da Casa Civil da presidência da República para assim ganhar foro especial escapando de ser preso, Moro divulgou uma gravação que fulminou a manobra.

Foi aquela onde Dilma, presidente, avisava a Lula que um emissário lhe entregaria uma cópia do ato de sua nomeação para ministro. Caso Moro tentasse prendê-lo, bastava mostrá-la para não ser.

O novo lance do enxadrista de Curitiba detonou também uma manifestação de solidariedade a Lula marcada pelo PT para esta tarde.

Às pressas, o partido antecipou-a para ontem à noite. Só reuniu cinco mil pessoas, segundo as contas infladas dos organizadores.

Se simplesmente tivesse mandado prender Lula, Moro poderia ter desatado a fúria dos seus devotos e – quem sabe? – conflitos violentos.

Preferiu intimá-lo a se entregar em Curitiba. Ainda economizou com o avião que buscaria Lula em São Paulo. Lula que vá às próprias custas.



Luiz Carlos Azedo: Lula no xadrez
- Correio Braziliense

A notícia foi uma bomba. Embora o Supremo houvesse rejeitado habeas corpus da defesa, a ficha de que a prisão o ex-presidente da República havia sido decretada não havia caído

O juiz federal Sérgio Moro, da 13ª Vara Federal de Curitiba, cumprindo determinação do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4), deu prazo até as 17h de hoje para o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva se apresentar à Polícia Federal em Curitiba para cumprir pena de 12 anos e 1 mês de prisão em regime fechado. Proibiu o uso de algemas, em qualquer hipótese. “Relativamente ao condenado e ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, concedo-lhe, em atenção à dignidade do cargo que ocupou, a oportunidade de apresentar-se voluntariamente”, diz o mandado. Moro deu um xeque-mate na defesa de Lula.

A notícia caiu como uma bomba. Embora o Supremo Tribunal Federal (STF), por 6 na 5, em polêmico julgamento, houvesse rejeitado o pedido de habeas corpus da defesa de Lula, a ficha de que o ex-presidente da República poderia ser preso a qualquer momento ainda não havia caído — nem para seus aliados nem para seus adversários. As atenções ainda estavam voltadas para o STF, onde os advogados criminalistas Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, Cláudio Pereira de Souza Neto e Ademar Borges de Sousa Filho ingressaram ontem com um pedido de liminar para que a Corte somente permita a prisão após condenação no Superior Tribunal de Justiça (STJ), terceira instância do Judiciário.

Relator da ação, o ministro Marco Aurélio disse ontem que pode levar o caso para decisão dos 11 ministros “em mesa”, isto é, sem necessidade de que a presidente da Corte, Cármen Lúcia, marque uma data previamente. “De início, eu sou avesso à atuação individual”, disse. A decisão de Moro, porém, também pegou de surpresa o ministro e os advogados de Lula, que estavam trabalhando com o prazo de 10 de abril para apresentar um “embargo dos embargos” no TRF-4 e protelar a prisão. O advogado de Lula, Cristiano Zanin Martins, em nota, disse que a “expedição de mandado de prisão nesta data contraria decisão proferida pelo próprio TRF-4 no dia 24/01, que condicionou a providência — incompatível com a garantia da presunção da inocência — ao exaurimento dos recursos possíveis de serem apresentados para aquele tribunal, o que ainda não ocorreu”.

Ontem, porém, o TRF-4 encaminhou ofício a Moro autorizando a execução da pena. A defesa de Lula ainda pode apresentar um último recurso ao TRF-4, que Moro desconsiderou. “Hipotéticos embargos de declaração de embargos de declaração constituem apenas uma patologia protelatória e que deveria ser eliminada do mundo jurídico”, justificou. Segundo Moro, “embargos de declaração não alteram julgados, com o que as condenações não são passíveis de alteração na segunda instância.”

Resistência
O ex-presidente estava na sede do Instituto Lula quando soube da decisão. Rumou para o Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo, transformado num búnquer petista. Estavam lá reunidos a ex-presidente Dilma Rousseff, o deputado Paulo Pimenta (SP), o senador Lindbergh Farias (RJ), o ex-prefeito de São Bernardo Luiz Marinho, os governadores Camilo Santana (Ceará) e Wellington Dias (Piauí), Guilherme Boulos, líder do MTST e candidato a presidente do PSol, e Wagner Santana, presidente do sindicato. Lula chegou por volta das 19h à sede do sindicato. A senadora Gleisi Hoffmann (SC), presidente do PT, falou em nome do partido: “Consideramos uma prisão política. É uma prisão que vai expor o Brasil ao mundo. Viraremos uma republiqueta de bananas.”

A notícia da ordem de prisão teve realmente repercussão mundial, isso animou os militantes e dirigentes petistas. A primeira reação da cúpula foi não aceitar a prisão. O próprio presidente Lula, na linha de confrontação com Moro, manifestou a intenção de não se apresentar em Curitiba. A predisposição de Lula é aguardar a execução da prisão pela Polícia Federal em São Bernardo. Liderada pela CUT, uma grande concentração está sendo convocada pelas centrais sindicais para as 10h de hoje, na sede do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, em São Bernardo. Os sindicalistas querem fazer um cordão de isolamento e impedir a prisão de Lula.

Resistir à prisão não costuma ser uma boa ideia, mesmo quando o gesto é revestido de uma narrativa política. Todas as vezes em que resolveu afrontar a Justiça, desde os depoimentos perante o juiz Sérgio Moro, politizando o julgamento, Lula atrapalhou a própria defesa e deu com os burros n’água. Apenas reforça o senso comum de que se considera um cidadão acima das leis e das instituições. Lula está inelegível em razão da Lei da Ficha Limpa, mas insiste na candidatura a presidente da República. Essa reação, porém, é previsível. Há um certo desespero na cúpula petista com o desfecho da estratégia equivocada que adotou no plano eleitoral. A legenda contava com a possibilidade de fazer a pré-campanha com Lula em caravana pelo país, agora terá que antecipar a escolha de um candidato que o substitua na urna eletrônica.



Dia do Damista - 9 de maio

Todo damista brasileiro nasceu no dia 9 de maio !
Esta é uma forma de homenagem sincera, simples e delicada ao Mestre Geraldino Izidoro, que também nasceu no dia 9 de maio.
Há quem diga que o Dia do Damista não é dividido em horas, minutos ou segundos, mas que o Dia do Damista é dividido em pequenas saudades.
Saudades da mesa em que Júlio Mindelo fazia suas belas análises. Daquelas planilhas do Waldemar Bakumenko. Da agitação do Miranda da Bahia. Daquela elegância dos finais do Fabelo Chaves. Da Defesa Leningrado que o Reginaldo Cruz trouxe da Paraíba. Saudades do Américo Gaet, quase que imbatível em Brasília. Do Nilton Stock com sua simpatia, trazida de Porto Alegre.
Enfim, saudades de todos os que já se foram, mas que, por força do encantamento do jogo de damas, ainda continuam junto de nós.
A Confederação Brasileira do Jogo de Damas sente que contribuiu para que estes jogadores do passado fossem o espelho e a alma dos damistas que aí estão, com suas personalidades próprias, com seus conceitos aprimorados, com suas técnicas evolutivas.
E a lembrança deste crescimento todo é o presente que a Confederação oferece ao mundo damístico brasileiro no dia 9 de maio, dia de Izidoro e de todos nós.
Texto de Protásio Bueno.


Estreia em 58 na copa com a 11 e a conquistou por todos



Garrincha, 80 anos: 7 histórias incríveis da Alegria do Povo
Por: Equipe Trivela
28 de outubro de 2013 às 8:00
Nesta segunda-feira, faz 80 anos que nasceu, no interior do Rio de Janeiro, o homem que transformava um pequeno guardanapo em um latifúndio, como escreveu Armando Nogueira. Mané Garrincha desafiou uma legião de marcadores e transformou todos em Joões. Desafiou a deformidade do seu corpo e se eternizou como o Anjo das Pernas Tortas. Desafiou o álcool e perdeu. Morreu de cirrose, cinquenta anos depois de sair da barriga da mãe.

O que ficou para a história foram milhares de dribles, centenas de gols e uma dupla com Pelé que nunca perdeu uma partida pela seleção brasileira. O melhor jogador da Copa do Mundo de 1962 também era conhecido pela ingenuidade que contrastava com a extrema inteligência dentro de campo. Ele, porém, não era tão inocente quanto se pensava. As histórias que o retratam como um bobo tapado contém doses de exagero e de misticismo. Acontece com toda lenda.

Nos 80 anos do nascimento do mulherengo que tinha medo de agulha e que foi apelidado por caçar passarinhos, reunimos sete histórias deliciosas para lembrarmos que Garrincha não foi apenas o maior camisa sete da história, mas também um dos personagens mais interessantes que o futebol já viu.

“Didi, fala com ele para não fazer isso”


Desde o primeiro treino no Botafogo, em 1953, Nílton Santos sofria com Garrincha. Todos já ouviram detalhes de como o novato ponta-direita humilhou o experiente lateral esquerdo na primeira vez que se encontraram. Aliás, como o gol de Pelé na Javari, milhões de pessoas garantem que estavam em General Severiano assistindo. Na biografia que Ruy Castro escreveu sobre Mané, consta outra história em que a Enciclopédia do Futebol teve problemas pelo infortúnio de ter que enfrentar o colega de pernas tortas.

Nílton Santos tinha 33 anos na época da Copa do Mundo de 1958, mas essa era apenas a desculpa que Mendonça Falcão, presidente da Federação Paulista de Futebol, usava para tentar barrá-lo e colocar Oreco, do Corinthians, como titular. Bairrista e quase analfabeto, Falcão também tinha problemas pessoais com Nílton, que viu a sua vaga no time de Vicente Feola ameaçada. Por isso, resolveu treinar a sério contra Garrincha.

O problema é que querer parar Mané nunca bastou. Era necessária uma conjunção de fatores extraordinários. Nílton Santos achou que tivesse pegado o jeito de marcar Garrincha. Manteve o pé de apoio no gramado e aguardou o amigo tomar a iniciativa. Não funcionou, claro. Levou um, dois, três, quatro dribles e não aguentou mais. Precisou apelar.

“Didi, fala com ele para não fazer mais isso!”, implorou, praticamente. Didi, outro craque do Botafogo, foi tentar argumentar com Garrincha. “Poxa, Mané, não faz isso. O Nílton é do Botafogo e teu chapa”. O jogador percebeu que poderia prejudicar o companheiro e tentou maneirar. O problema é que Garrincha era instintivo. Não conseguia se segurar. E mais uma vez transformou um dos maiores laterais do futebol brasileiro em um João qualquer. Nílton Santos, então, partiu para a violência e deu alguns socos na barriga de Mané, que reclamou após o treino.

“O que deu em você? Olha a minha barriga. Está toda vermelha”.
 “Ou você sossega ou eu não jogo essa Copa do Mundo. Os homens estão querendo me botar na cerca. Vamos com calma”, pediu Nílton Santos, que garantiu a posição de titular em dois amistosos contra a Bulgária, no Maracanã e no Pacaembu, mas nunca descobriu a melhor forma de marcar Garrincha.

Mané humilhou na Copa e ainda foi leal


A partida mais célebre de Garrincha foi logo sua estreia na Copa de 1958. O Brasil corria o risco de ser eliminado pela União Soviética e Vicente Feola apostou no camisa 11 entre os titulares. Era a criatividade do ponta direita contra o cientificismo que era atribuído aos soviéticos. Antes do apito inicial, o técnico ordenou a Didi: “Lembre, o primeiro passe vai para Mané”. E, segundo Nelson Rodrigues, “a desintegração da defesa começou exatamente no primeiro momento em que Garrincha tocou a bola”.

Idealizador da Liga dos Campeões, o jornalista Gabriel Hanot definiu o início daquele jogo como ‘os três melhores minutos da história do futebol’. Neste curto intervalo, Garrincha e Pelé acertaram a trave de Lev Yashin, enquanto Didi lançou Vavá para abrir o placar.

Naquele dia, Mané eternizava o ‘joão’, o marcador que sabia muito bem o que ele faria, mas não se cansava de ser driblado. Boris Kuznetzov, o lateral esquerdo da seleção soviética, foi quem mais sofreu com aquele trançar infinito de pernas tortas.

Com 30 segundos de jogo, Kuznetzov já tinha sido ludibriado por Garrincha algumas vezes e ido ao chão – pouco antes de receber reforço de outros dois companheiros na marcação, igualmente enganados pela ginga. E a cena dos soviéticos tropeçando nas próprias pernas seria constante. Em uma delas, Mané colocou o pé sobre a bola e estendeu a mão para o defensor se levantar. Bastou o adversário ficar em pé novamente para que ele voltasse a correr. Uma humilhação gigantesca, tratada pelo craque como um lance de pelada.

Teve aquela vez que Garrincha criou o grito de olé

Sabe quando a torcida começa a gritar “olé” ao ver um time muito superior ao adversário? A primeira vez que isso aconteceu foi em 1957, no México. Graças a Garrincha. João Saldanha, técnico do Botafogo na época, conta em seu livro Histórias do Futebol que Mané estava impossível em um amistoso contra o River Plate, no Estádio Universitário, parte da excursão do time carioca ao país. Quem mais sofria era Vairo.

“Toda vez que Mané parava na frente de Vairo, os espectadores mantinham-se no mais profundo silêncio. Quando Mané dava aquele seu famoso drible e deixava Vairo no chão, um coro de cem mil pessoas exclamava: ‘Ô ô ô ô ô ô-lê!'”, escreveu Saldanha. “Foi ali, naquele dia, que surgiu a gíria do ‘olé’. As agências telegráficas enviaram longas mensagens sobre o acontecimento e deram grande destaque ao ‘olé’. As notícias repercutiram bastante no Rio e a torcida carioca consagrou o ‘olé'”.

O jogo terminou empatado, mas Vairo não terminou o jogo. O técnico José Maria Minella, do River Plate, foi piedoso e substituiu o jogador, que saiu de campo dando risada. “Não tem o que fazer. Impossível”, disse, antes de acrescentar para o seu suplente. “Boa sorte, amigo. Antes, porém, te aconselho a escrever algo para sua mãe”.

Como escreveu Saldanha – tão craque com as palavras quanto Garrincha com a bola – é apropriado que Mané tenha inspirado esse grito. “Garrincha é o próprio ‘olé’ Dentro e fora de campo, jamais vi alguém tão desconcertante, tão driblador. É impossível adivinhar o lado por onde Mané vai sair da enrascada. Foi a coisa mais justa do mundo que Garrincha tivesse sido o inspirador do ‘olé'”.

Para onde foi o Mané?

O Botafogo tinha dois amistosos em El Salvador. Contra a seleção local e contra o Independiente. O último jogo foi antecipado em um dia e, na véspera, um jogador não estava no hotel. João Saldanha, técnico, não sabia onde estava Mané Garrincha. Pegou um táxi, acompanhado do roupeiro Aloísio Birruma e do dirigente Renato Estelita e saiu pelas ruas para procurar o craque desaparecido.

Rodaram, rodaram e rodaram e nada de encontrar Mané. Aloísio viu um cartaz pendurado em um poste que anunciava um “Gran concurso de Bolero” naquela mesma noite. Era difícil imaginar Garrincha participando de um concurso de dança, mas, como as opções estavam se esgotando, a delegação do Botafogo foi para La Caverna ver se ele estava lá.

E não é que estava?. O público tomava conta da pista, extasiado com os movimentos de uma dupla singular: uma garota baixa, de um metro e meio, usando um vestido verde e um lenço amarelo e vermelho e o maior ponta direita da história. Renato não quis saber de nada. Invadiu a pista e mandou Mané entrar no táxi, deixando a pequena dançarina aturdida, sem saber o que estava acontecendo.

Por que diabos Mané Garrincha estava em um concurso de dança? A explicação, reproduzida no livro Histórias do Futebol, escrito por Saldanha, é simples: “O senhor (Renato) não me mandou ir representar a gente na Escola Brasil? Lá só tinha velha e ninguém quis ir. Eu fui e me chateei a tarde toda. Depois, fui ao cinema e voltei ao hotel. A garota me convidou para o concurso. Era dia livre e eu fui. Eu ia ganhar vinte dólares no concurso. Ainda tinha uma taça. A garota é o fino na dança e o papai aqui é o maior. O senhor estragou tudo”.

Todos entenderam que Mané não viu o aviso de que o jogo havia sido antecipado e não houve punição, mas Garrincha tinha outra preocupação: não queria que os companheiros tirassem sarro. Não deu muito certo. No café da manhã do dia seguinte, Édson chamou o colega de pernas tortas de “Cinderela” porque ele “tinha saído à meia-noite antes do baile acabar”.

E que fim levou a garota? Bom, ela apareceu no hotel e fez um escândalo até que Renato Estelita aceitasse pagar os vinte dólares, já que ela tinha certeza que seria campeã do concurso. Ao ver o chefe tirar a carteira do bolso, Mané emendou: “Seu Renato, também tenho direito a vinte dólares. Eu também ia ganhar o prêmio. O senhor viu como o pessoal aplaudia, né?”. Garrincha não ganhou os vinte dólares.

Tio Patinhas contra a rapa

Amigo de Garrincha, o jornalista Sandro Moreyra foi um dos principais encarregados de listar os folclores do craque. Uma das anedotas mais célebres aconteceu em um jogo da Seleção. No intervalo, o técnico Vicente Feola foi orientar seus comandados. E se dirigiu ao ponta:

– Você, Mané, vai avançar mais pelo canto. Daí…

Quem disse que ele prestara atenção? Garrincha estava encostando em um canto, lendo um gibi. Foi a deixa para que Feola esbravejasse:

– Bem, então você faça o que quiser

O ponta foi fiel às ordens e fez o que quis para os brasileiros saírem com a vitória.

Comendo o prato errado

Durante uma excursão à Europa, a Seleção precisou fazer escala em Paris. E, entre um voo e outro, os jogadores acabaram almoçando no próprio restaurante do aeroporto. Dentista da equipe, Mário Trigo foi ajudar os jogadores com o cardápio em francês. Mas Garrincha recusou qualquer intervenção:

– Doutor, deixa que eu mesmo peço.

– Como é que você vai pedir, se não conhece a língua?

– Deixa, doutor. É simples. Só preciso apontar o dedo para o prato que quiser.

Enquanto todos almoçavam, Garrincha esperava. E o impaciente Mané reclamou da demora da comida ao doutor, que foi verificar com os garçons o que tinha acontecido. Desfez-se o mistério. O que ele tinha pedido?

– Não o servimos porque ele indicou que quer comer o dono do restaurante, Monsieur Jean Paul.

O radinho da discórdia


Uma história de Garrincha que possui várias versões fala sobre a compra de um rádio na Copa de 1958. Segundo o dentista Mario Trigo, o massagista Mario Américo foi quem passou a perna em Mané. O jogador estava maravilhado com um radinho de pilha adquirido na Suécia, quando o massagista resolveu pregar a peça:

– Esse rádio não funcionará no Brasil, ele só fala sueco! Façamos o seguinte: você pagou 180 coroas, te dou 90 para diminuir seu prejuízo.

Garrincha caiu na lábia e foi reclamar com Trigo, com quem tinha ido à loja fazer a compra. O dentista desfez a confusão ao pegar 180 coroas com Paulo Machado de Carvalho, chefe da delegação, e trazer outro aparelho. Bom para o Mané, contente com o rádio poliglota.


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'Os 3 minutos mais incríveis da história do futebol' - Brasil x URSS, Copa 1958

'Os 3 minutos mais incríveis da história do futebol' - Brasil x URSS, Copa 1958

Publicado em 8 de mai de 2011
"A descoberta de Garrincha" (Nelson Rodrigues) - "E eis que pela primeira vez, um “seu” Manuel é o personagem da semana. Com esse nome cordial e alegre de anedota ele tomou conta da cidade, do Brasil e, mais do que isso, da Europa. Creiam, amigos: o jogo Brasil x Rússia acabou nos três minutos iniciais . Insisto: nos três minutos já o seu Manuel, já o Garrincha, tinha derrotado a colossal Rússia, com a Sibéria e tudo o mais. E notem: bastava ao Brasil um empate. Mas o meu personagem não acredita em empate e disparou pelo campo adversário, como um tiro. Foi driblando um, driblando outro e consta, inclusive, que, na sua penetração fantástica, driblou até as barbas de Rasputin. Amigos, a desintegração da defesa russa começou exatamente na primeira vez em que Garrincha tocou na bola. Eu imagino o espanto imenso dos russos diante deste garoto de pernas tortas, que vinha subverter todas as concepções do futebol europeu. Como marcar o imarcável? Na sua imaginação impotente, o adversário olhava Garrincha, as pernas tortas e concluía: “Isso não existe!”. E eu, como os russos, já me inclino a acreditar que de fato domingo Garrincha não existiu. Foi para o público internacional uma experiência inédita. Realmente, jamais se viu, num jogo de tamanha responsabilidade, um time, ou melhor, um jogador começar a partida com um baile. Repito: baile sim, sim, baile! E o que dramatiza o fato é que foi baile não contra um perna-de-pau, mas contra o time poderosíssimo da Rússia. Só um Garrincha poderia fazer isso. Porque Garrincha não acredita em ninguém e só acredita em si mesmo. Se tivesse jogado contra a Inglaterra, ele não teria dado a menor pelota para a rainha Vitória, o Lord Nelson e a tradição naval do adversário. Absolutamente. Para ele, Pau Grande, que é a terra onde nasceu, vale mais que toda comunidade britânica. Com esse estado de alma, plantou-se na sua ponta para enfrentar os russos. Os outros brasileiros poderiam tremer. Ele não e jamais. Perante a platéia internacional, era quase um menino. Tinha essa humilhante sanidade mental do garoto que caça cambaxirra com espingarda de chumbo e que, em Pau Grande, na sua cordialidade indiscriminada, cumprimenta até cachorro. Antes de começar o jogo, o seu marcador havia de olhá-lo e comentar para si mesmo, em russo: “Esse não dá para saída!”. E , com dois minutos e meio, tínhamos enfiado na Rússia duas bolas na trave e um gol. Aqui, e em toda a extensão do território nacional, começávamos a desconfiar que é bom, é gostoso ser brasileiro. Está claro que não estou subestimando o peito dos outros jogadores brasileiros. Deus me livre. Por exemplo, cada gol de Vavá era um hino nacional. Na defesa, Bellini chutava até a bola. E quando, no segundo tempo, Garrincha resolveu caprichar no baile, foi um carnaval sublime. A coisa virou show de Grande Otelo. E tem razão um amigo, que, ouvindo o rádio, ao meu lado, sopra-me :”Isso que o Garrincha esta fazendo é pior que xingar a mãe!”. Calculo que, a essa altura, as cinzas do czar haviam de estar humilhadíssimas. O marcador do “seu Manuel” já não era um, eram três. E, então, começou a se ouvir, aqui no Brasil, na praça da Bandeira, a gargalhada cósmica tremenda do público sueco. Cada vez que Garrincha passava por um, o público vinha abaixo. Mas não creiam que ele fizesse isso por mal. De modo algum. Garrincha estava ali com a mesma boa fé inefável com que, em Pau Grande, vai chumbando as cambaxirras, os pardais. Via nos russos a inocência dos passarinhos desterrados de Pau Grande. Calculo que, lá pelas tantas, os russos, na sua raiva obtusa e inofensiva, haviam de imaginar que o único meio de destruir Garrincha era caçá-lo a puladas. De fato, domingo, só a pauladas e talvez nem isso, amigos, talvez nem assim." NELSON RODRIGUES (Manchete Esportiva, 21/6/1958) Brasil 2 x 0 União Soviética, 15/6/1958, em Gotemburgo (Suécia). A URSS era apontada como o grande fantasma da Copa por seu "futebol científico". https://www.facebook.com/botafogofotos RARIDADE: Curta o Facebook de fotos históricas do Botafogo, constantemente atualizado





Um gênio no jogo de damas chamado Sokov


Lélio Sarcedo
Publicado em 13 de fev de 2015
Vasily Alexandrovich Sokov, um dos maiores gênios do jogo de damas de toda a história. Nasceu em 1912 e faleceu em 1944, na frente de batalha da ex-União Soviética contra os alemães na Segunda Guerra Mundial. Sokov foi campeão da ex-União Soviética, morava em Leningrado, e foi um dos responsáveis pelo grande avanço técnico do jogo de damas. Era um jogador muito criativo. Jogava em função de fazer combinações complexas. E contra combinações. Neste vídeo abordo duas posições ocorridas em duas partidas jogadas por Sokov. A primeira contra Lerner, onde Sokov vence com uma magnífica idéia de prisão. E a segunda contra Kazanski, onde Sokov vence com uma contra combinação de um tema clássico. Um tema, a propósito, muito trabalho No Treinamento de Cálculo. Sokov mostra nessas duas contra combinações todo seu poder de análise e cálculo. Sokov, sem dúvidas, sempre terá seu nome cravado na lista dos melhores do mundo na história do jogo de damas. Sokov, além de um grande jogador, também foi um grande compositor. Criou inúmeros finais clássicos e inúmeras posições combinativas de uma qualidade impressionante.http://youtu.be/xUb3FZ_59U4





Bakumenko, Sábio e "Malandro"no jogo de damas

Lélio Sarcedo
Publicado em 2 de jan de 2015
Mexendo nas minhas coisas neste final de ano encontrei uma foto de Bakumenko, de 1968. E aí lembrei-me de uma partida que Bakumenko jogou contra Romanov, em 1931, onde ele mostra todo o seu lado sábio e "malandro" ! Ele faz um lance sutil e engana o Grande Mestre Romanov e ganha com uma contra-combinação muito bonita. Bakumenko veio para o Brasil após a Segunda Guerra Mundial e viveu em São Paulo até 1968, quando faleceu. Bakumenko foi um dos maiores jogadores de toda a história da União Soviética, onde foi campeão em 1927. Veja mais no www.lelio.com.br.http://youtu.be/8KTXiSHqREw



Plínio Marcos Nas Quebradas do Mundaaréu - Trailer



BakuGarrincha - The Charlie Chaplin of Football


Referências

http://gilvanmelo.blogspot.com.br/2018/04/ricardo-noblat-meu-personagem.html#more
http://gilvanmelo.blogspot.com.br/2018/04/ricardo-noblat-o-enxadrista-de-curitiba.html
http://gilvanmelo.blogspot.com.br/2018/04/luiz-carlos-azedo-lula-no-xadrez.html#more
http://www.damasciencias.com.br/dia_do_damista/diadodamista.html
http://m.trivela.uol.com.br/wp-content/uploads/2013/10/Garrincha-365x205.jpg
http://m.trivela.uol.com.br/sete-historias-de-garrincha/?utm_source=www.google.com&utm_medium=referral&utm_campaign=mobile-redirect&qs=2018-3-7-8
https://youtu.be/ojLKzLuvni8
https://www.youtube.com/watch?v=ojLKzLuvni8&feature=youtu.be
https://youtu.be/xUb3FZ_59U4
https://www.youtube.com/watch?v=xUb3FZ_59U4&feature=youtu.be
https://www.youtube.com/watch?v=xUb3FZ_59U4&feature=youtu.be
https://youtu.be/8KTXiSHqREw
https://www.youtube.com/watch?v=8KTXiSHqREw
https://www.youtube.com/watch?v=sbJHCAUV09c
https://youtu.be/nWIzgkbN1W8

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