TEATRO
EM CENA - JOÃO DE BARROS.wmv
SESC Campinas
Publicado em 20 de ago de 2011
João De Barros - Mais Uma Brincadeira Poética Com a
Cia. Engasga Gato. Baseado na obra de Manoel de Barros, a peça mostra o mundo
deste autor a partir de brincadeiras, músicas e desconstrução de objetos ao
contar as aventuras de uma menina avoada, um contador de histórias, um
cabeludinho e um desinventor de objetos.
Música
"Hop Là" por Debout sur le Zinc ()
Cabeludinho
Quando a Vó me recebeu nas férias, ela me apresentou
aos amigos: Este é meu neto. Ele foi estudar no Rio e voltou de ateu. Ela disse
que eu voltei de ateu. Aquela preposição deslocada me fantasiava de
ateu. Como quem dissesse no Carnaval: aquele menino está fantasiado de
palhaço. Minha avó entendia de regências verbais. Ela falava de sério. Mas
todo-mundo
riu. Porque aquela preposição deslocada podia fazer de uma informação um chiste. E fez. E mais: eu acho que buscar a beleza nas palavras é uma solenidade de amor. E pode ser instrumento de rir. De outra feita, no meio da pelada um menino gritou: Disilimina esse, Cabeludinho. Eu não disiliminei ninguém. Mas aquele verbo novo trouxe um perfume de poesia à nossa quadra. Aprendi nessas férias a brincar de palavras mais do que trabalhar com elas. Comecei a não gostar de palavra engavetada. Aquela que não pode mudar de lugar. Aprendi a gostar mais das palavras pelo que elas entoam do que pelo que elas informam. Por depois ouvi um vaqueiro a cantar com saudade: Ai morena, não me escreve / que eu não sei aler. Aquele a preposto ao verbo ler, ao meu ouvir, ampliava a solidão do vaqueiro.
riu. Porque aquela preposição deslocada podia fazer de uma informação um chiste. E fez. E mais: eu acho que buscar a beleza nas palavras é uma solenidade de amor. E pode ser instrumento de rir. De outra feita, no meio da pelada um menino gritou: Disilimina esse, Cabeludinho. Eu não disiliminei ninguém. Mas aquele verbo novo trouxe um perfume de poesia à nossa quadra. Aprendi nessas férias a brincar de palavras mais do que trabalhar com elas. Comecei a não gostar de palavra engavetada. Aquela que não pode mudar de lugar. Aprendi a gostar mais das palavras pelo que elas entoam do que pelo que elas informam. Por depois ouvi um vaqueiro a cantar com saudade: Ai morena, não me escreve / que eu não sei aler. Aquele a preposto ao verbo ler, ao meu ouvir, ampliava a solidão do vaqueiro.
BARROS, M. Memórias inventadas: a infância. São
Paulo: Planeta, 2003.
ENEM
2012 QUESTÃO 110
No texto, o autor desenvolve uma reflexão sobre
diferentes possibilidades de uso da língua e sobre os sentidos que esses
usos podem produzir, a exemplo das expressões “voltou de ateu”, “disilimina
esse” e “eu não sei a ler”. Com essa reflexão, o autor destaca
A os desvios linguísticos cometidos pelos
personagens do texto.
B a importância de certos fenômenos gramaticais para
o conhecimento da língua portuguesa.
C a distinção clara entre a norma culta e as
outras variedades linguísticas.
D o relato fiel de episódios vividos por
Cabeludinho durante as suas férias.
E a valorização da dimensão lúdica e poética
presente nos usos coloquiais da linguagem.
resolução
Ao desenvolver uma reflexão sobre diferentes
possibilidades de uso da língua e sobre os sentidos que esses usos podem
produzir, o autor pretende enfatizar tanto a dimensão lúdica como poética dos
usos coloquiais da linguagem. Logo, a opção E afirma essa intenção do autor, ressaltando, ainda, que esse
aspecto é uma das marcas centrais da poesia de Manoel Barros.
RESPOSTA
CORRETA:
E
a valorização da dimensão lúdica e
poética presente nos usos coloquiais da linguagem.
GABARITO
ENEM / 2012 / SEGUNDO DIA / CADERNO CINZA
QUESTÃO
111
Cabeludinho
Quando a Vó me recebeu nas férias, ela me apresentou
aos amigos: Este é meu neto. Ele foi estudar no Rio e voltou de ateu. Ela disse
que eu voltei de ateu. Aquela preposição deslocada me fantasiava de ateu. Como
quem dissesse no Carnaval: aquele menino está fantasiado de palhaço. Minha avó
entendia de regências verbais. Ela falava de sério. Mas todo-mundo riu. Porque
aquela preposição deslocada podia fazer de uma informação um chiste. E fez. E
mais: eu acho que buscar a beleza nas palavras é uma solenidade de amor. E pode
ser instrumento de rir. De outra feita, no meio da pelada um menino gritou:
Disilimina esse, Cabeludinho. Eu não disiliminei ninguém. Mas aquele verbo novo
trouxe um perfume de poesia à nossa quadra. Aprendi nessas férias a brincar de
palavras mais do que trabalhar com elas. Comecei a não gostar de palavra
engavetada. Aquela que não pode mudar de lugar. Aprendi a gostar mais das
palavras pelo que elas entoam do que pelo que elas informam. Por depois ouvi um
vaqueiro a cantar com saudade: Ai morena, não me escreve / que eu não sei a
ler. Aquele a preposto ao verbo ler, ao meu ouvir, ampliava a solidão do
vaqueiro.
BARROS, M. Memórias inventadas: a infância. São
Paulo: Planeta, 2003.
No
texto, o autor desenvolve uma reflexão sobre diferentes possibilidades de uso
da língua e sobre os sentidos que esses usos podem produzir, a exemplo das
expressões “voltou de ateu”, “disilimina esse” e “eu não sei a ler”. Com essa
reflexão, o autor destaca
os desvios linguísticos cometidos pelos personagens
do texto.
a importância de certos fenômenos gramaticais para o
conhecimento da língua portuguesa.
a distinção clara entre a norma culta e as outras
variedades linguísticas.
o relato fiel de episódios vividos por Cabeludinho
durante as suas férias.
a valorização da dimensão lúdica e poética presente
nos usos coloquiais da linguagem.
Comentário
da questão
O autor ao trazer para o texto expressões que fujam
à norma culta, mas que são carregadas de significado e são compreensíveis
dentro da situação comunicativa, desenvolve uma reflexão sobre o uso da
linguagem, enfatizando sua dimensão lúdica e poética.
Equipe Descomplica
Gabarito
da questão
Opção
E a valorização da dimensão lúdica e poética presente nos usos coloquiais da
linguagem.
O
apanhador de desperdícios (Manoel de Barros)
O
Apanhador de Desperdícios; Uma Homenagem a Manoel de Barros; Poesia; Papillon
Uso a palavra para compor meus silêncios.
Não gosto das palavras
fatigadas de informar.
Dou mais respeito
às que vivem de barriga no chão
tipo água pedra sapo.
Entendo bem o sotaque das águas
Dou respeito às coisas desimportantes
e aos seres desimportantes.
Prezo insetos mais que aviões.
Prezo a velocidade
das tartarugas mais que a dos mísseis.
Tenho em mim um atraso de nascença.
Eu fui aparelhado
para gostar de passarinhos.
Tenho abundância de ser feliz por isso.
Meu quintal é maior do que o mundo.
Sou um apanhador de desperdícios:
Amo os restos
como as boas moscas.
Queria que a minha voz tivesse um formato
de canto.
Porque eu não sou da informática:
eu sou da invencionática.
Só uso a palavra para compor meus silêncios.
Não gosto das palavras
fatigadas de informar.
Dou mais respeito
às que vivem de barriga no chão
tipo água pedra sapo.
Entendo bem o sotaque das águas
Dou respeito às coisas desimportantes
e aos seres desimportantes.
Prezo insetos mais que aviões.
Prezo a velocidade
das tartarugas mais que a dos mísseis.
Tenho em mim um atraso de nascença.
Eu fui aparelhado
para gostar de passarinhos.
Tenho abundância de ser feliz por isso.
Meu quintal é maior do que o mundo.
Sou um apanhador de desperdícios:
Amo os restos
como as boas moscas.
Queria que a minha voz tivesse um formato
de canto.
Porque eu não sou da informática:
eu sou da invencionática.
Só uso a palavra para compor meus silêncios.
O
apanhador de desperdícios
Uso a palavra para compor meus silêncios.
Não gosto das palavras
fatigadas de informar.
Dou mais respeito
às que vivem de barriga no chão
tipo água pedra sapo.
Entendo bem o sotaque das águas
Dou respeito às coisas desimportantes
e aos seres desimportantes.
Prezo insetos mais que aviões.
Prezo a velocidade
das tartarugas mais que a dos mísseis.
Tenho em mim um atraso de nascença.
Eu fui aparelhado
para gostar de passarinhos.
Tenho abundância de ser feliz por isso.
Meu quintal é maior do que o mundo.
Sou um apanhador de desperdícios:
Amo os restos
como as boas moscas.
Queria que a minha voz tivesse um formato
de canto.
Porque eu não sou da informática:
eu sou da invencionática.
Só uso a palavra para compor meus silêncios.
Não gosto das palavras
fatigadas de informar.
Dou mais respeito
às que vivem de barriga no chão
tipo água pedra sapo.
Entendo bem o sotaque das águas
Dou respeito às coisas desimportantes
e aos seres desimportantes.
Prezo insetos mais que aviões.
Prezo a velocidade
das tartarugas mais que a dos mísseis.
Tenho em mim um atraso de nascença.
Eu fui aparelhado
para gostar de passarinhos.
Tenho abundância de ser feliz por isso.
Meu quintal é maior do que o mundo.
Sou um apanhador de desperdícios:
Amo os restos
como as boas moscas.
Queria que a minha voz tivesse um formato
de canto.
Porque eu não sou da informática:
eu sou da invencionática.
Só uso a palavra para compor meus silêncios.
Manoel de Barros
ESTÉTICA DOS VESTÍGIOS
Chaves
para ler as Memórias inventadas, de Manoel de Barros
Keys
memories in Memórias inventadas, by Manoel de Barros
Raquel R. Souza
Doutora em letras. Professora associada de
literatura brasileira no Instituto de Letras e Artes e no Programa de
Pós-Graduação em Letras da Universidade Federal do Rio Grande (FURG), Rio
Grande, Brasil. E-mail: raquelrolandos@hotmail.com
RESUMO
Elegendo o livro Memórias inventadas: a
infância, do poeta goiano Manoel de Barros, o artigo pretende se deter na
memória e observar os mecanismos por meio dos quais ela atua. A partir do
pressuposto básico de que a memória é imaginação, busca-se o apoio teórico da
fenomenologia de Gaston Bachelard, relevantemente em um de seus últimos textos
no qual se dedica ao exame do devaneio e do devaneio sobre a infância. Ao mesmo
tempo, ressaltar-se-á a face referencial da metapoesia como foco irradiador
dessas memórias.
Palavras-chave: vestígios memoriais, memória e
imaginário, devaneio e memória, memória da poesia, Manoel de Barros.
ABSTRACT
Electing the
book Memórias inventadas: a infância, by Brazilian poet Manoel de
Barros, from the state of Goiás, the article intends to observe memory and
assess the mechanisms through which it operates. From the basic assumption that
memory is imagination, we search the theoretical support of the Phenomenology
studies of Gaston Bachelard, relevantly in one of his last texts, which is
dedicated to the examination of daydreaming and daydreaming about childhood. At
the same time, we highlight the face of referential metapoetry as a focus of
radiaton of those memories.
Keywords: memory
traces, memory and imaginary, daydreaming and memory, memory of poetry, Manoel
de Barros.
Assista
a uma leitura de O Apanhador de Desperdícios, de Manoel de Barros
Criado em 13/11/14 09h46 e atualizado
em 28/01/15 11h47
Por Interprogramas Fonte:TV Brasil
Por Interprogramas Fonte:TV Brasil
Ricardo Gentil homenageia o escritor, morto dia 13
de novembro
Creative Commons
- CC BY 3.0 –
MANOEL
DE BARROS
Nasceu a 19 Dezembro 1916
(Cuiabá, Mato Grosso, Brasil)
(Cuiabá, Mato Grosso, Brasil)
Morreu em 2014
Manoel Wenceslau Leite de Barros é um poeta
brasileiro do século XX, pertencente, cronologicamente à Geração de 45, mas
formalmente ao Modernismo brasileiro, se situando mais próximo das vanguardas
...
CABELUDINHO
1.
Sob o canto do bate-num-quara nasceu Cabeludinho
bem diferente de Iracema
desandando pouquíssima poesia
o que desculpa a insuficiência do canto
mas explica a sua vida
que juro ser o essencial
— Vai desremelar esse olho, menino!
— Vai cortar esse cabelão, menino!
Eram os gritos de Nhanhá.
(...)
5.
No recreio havia um menino que não brincava
com outros meninos
O padre teve um brilho de descobrimento nos olhos
— Poeta!
O padre foi até ele:
— Pequeno, por que não brinca com os seus colegas?
— É que estou com uma baita dor de barriga
desse feijão bichado.
6.
Carta acróstica:
"Vovó aqui é tristão
Ou fujo do colégio
Viro poeta
Ou mando os padres..."
Nota: Se resolver pela segunda, mande dinheiro
para comprar um dicionário de rimas e um tratado
de versificação de Olavo Bilac e Guima, o do lenço.
7.
Êta mundão
moça bonita
cavalo bão
este quarto de pensão
a dona da pensão
e a filha da dona da pensão
sem contar a paisagem da janela que é de se entrar de soneto
e o problema sexual que, me disseram, sem roupa
alinhada não se resolve.
(...)
10.
Pela rua deserta atravessa um bêbado comprido
e oscilante
como bambu
assobiando...
Ao longo das calçadas algumas famílias
ainda conversam
velhas passam fumo nos dentes mexericando...
Nhanhá está aborrecida com o neto que foi estudar
no Rio
e voltou de ateu
— Se é pra disaprender, não precisa mais estudar
Pasta um cavalo solto no fim escuro da rua
O rio calmo lá embaixo pisca luzes de lanchas
acordadas
Nhanhá choraminga:
— Tá perdido, diz que negro é igual com branco!
(...)
Imagem - 00780001
Publicado no livro Poemas Concebidos sem Pecado (1937).
In: BARROS, Manoel de. Gramática expositiva do chão: poesia quase toda. Introd. Berta Waldman. Il. Poty. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 199
Sob o canto do bate-num-quara nasceu Cabeludinho
bem diferente de Iracema
desandando pouquíssima poesia
o que desculpa a insuficiência do canto
mas explica a sua vida
que juro ser o essencial
— Vai desremelar esse olho, menino!
— Vai cortar esse cabelão, menino!
Eram os gritos de Nhanhá.
(...)
5.
No recreio havia um menino que não brincava
com outros meninos
O padre teve um brilho de descobrimento nos olhos
— Poeta!
O padre foi até ele:
— Pequeno, por que não brinca com os seus colegas?
— É que estou com uma baita dor de barriga
desse feijão bichado.
6.
Carta acróstica:
"Vovó aqui é tristão
Ou fujo do colégio
Viro poeta
Ou mando os padres..."
Nota: Se resolver pela segunda, mande dinheiro
para comprar um dicionário de rimas e um tratado
de versificação de Olavo Bilac e Guima, o do lenço.
7.
Êta mundão
moça bonita
cavalo bão
este quarto de pensão
a dona da pensão
e a filha da dona da pensão
sem contar a paisagem da janela que é de se entrar de soneto
e o problema sexual que, me disseram, sem roupa
alinhada não se resolve.
(...)
10.
Pela rua deserta atravessa um bêbado comprido
e oscilante
como bambu
assobiando...
Ao longo das calçadas algumas famílias
ainda conversam
velhas passam fumo nos dentes mexericando...
Nhanhá está aborrecida com o neto que foi estudar
no Rio
e voltou de ateu
— Se é pra disaprender, não precisa mais estudar
Pasta um cavalo solto no fim escuro da rua
O rio calmo lá embaixo pisca luzes de lanchas
acordadas
Nhanhá choraminga:
— Tá perdido, diz que negro é igual com branco!
(...)
Imagem - 00780001
Publicado no livro Poemas Concebidos sem Pecado (1937).
In: BARROS, Manoel de. Gramática expositiva do chão: poesia quase toda. Introd. Berta Waldman. Il. Poty. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 199
Poema
"Difícil fotografar o silêncio", de Manoel de Barros, declamado por
Antônio Abujamra
Poema
"Difícil fotografar o silêncio", de Manoel de Barros, declamado por
Antônio Abujamra
Manoel de Barros: Difícil fotografar o silêncio....
Difícil fotografar o silêncio.
Entretanto tentei. Eu conto:
Madrugada, a minha aldeia estava morta. Não se via ou ouvia um barulho, ninguém passava entre as casas. Eu estava saindo de uma festa,.
Eram quase quatro da manhã. Ia o silêncio pela rua carregando um bêbado. Preparei minha máquina.
O silêncio era um carregador?
Estava carregando o bêbado.
Fotografei esse carregador.
Tive outras visões naquela madrugada. Preparei minha máquina de novo. Tinha um perfume de jasmim no beiral do sobrado. Fotografei o perfume. Vi uma lesma pregada na existência mais do que na pedra.
Fotografei a existência dela.
Vi ainda um azul-perdão no olho de um mendigo. Fotografei o perdão. Olhei uma paisagem velha a desabar sobre uma casa. Fotografei o sobre.
Foi difícil fotografar o sobre. Por fim eu enxerguei a nuvem de calça.
Representou pra mim que ela andava na aldeia de braços com maiakoviski – seu criador. Fotografei a nuvem de calça e o poeta. Ninguém outro poeta no mundo faria uma roupa
Mais justa para cobrir sua noiva.
A foto saiu legal.
Entretanto tentei. Eu conto:
Madrugada, a minha aldeia estava morta. Não se via ou ouvia um barulho, ninguém passava entre as casas. Eu estava saindo de uma festa,.
Eram quase quatro da manhã. Ia o silêncio pela rua carregando um bêbado. Preparei minha máquina.
O silêncio era um carregador?
Estava carregando o bêbado.
Fotografei esse carregador.
Tive outras visões naquela madrugada. Preparei minha máquina de novo. Tinha um perfume de jasmim no beiral do sobrado. Fotografei o perfume. Vi uma lesma pregada na existência mais do que na pedra.
Fotografei a existência dela.
Vi ainda um azul-perdão no olho de um mendigo. Fotografei o perdão. Olhei uma paisagem velha a desabar sobre uma casa. Fotografei o sobre.
Foi difícil fotografar o sobre. Por fim eu enxerguei a nuvem de calça.
Representou pra mim que ela andava na aldeia de braços com maiakoviski – seu criador. Fotografei a nuvem de calça e o poeta. Ninguém outro poeta no mundo faria uma roupa
Mais justa para cobrir sua noiva.
A foto saiu legal.
Manoel de Barros BARROS, M. Ensaios
fotográficos. Rio de Janeiro: Editora Record, 2000.
Manoel
de Barros
Ainda
Murílio Hingel… um preito de gratidão
“A década de 1970 foi o auge de um processo que
revolucionou o ensino em Juiz de Fora, oportunizando uma educação de qualidade
a todos, graças à CNEC e em especial ao grande mestre prof. Murílio de Avellar
Hingel”
Por Luiz Carlos Torres Martins, Professor e
ex-diretor do Colégio Oswaldo Veloso - CNEC
08/04/2018 às 07h00
Antes de chegar ao topo da educação como ministro,
Murílio de Avelar Hingel foi secretário de Estado e secretário Municipal de
Educação nos governos do prefeito, presidente e governador Itamar Franco. A
justa homenagem prestada pelos reitores nos leva a uma retrospectiva da atuação
do prof. Murílio como secretário Municipal de Educação em Juiz de Fora, no
sentido de resgatar a atividade desse educador no seu inigualável trabalho
pró-educação municipal, quando, com afinco e dedicação, se envolveu com a
grande causa da Campanha Nacional de Educandários Gratuitos – CNEG, fazendo,
assim, jus a uma homenagem como um preito de gratidão.
CNEG foi um movimento que teve lugar na década de
1950, como atividade de voluntariado, tendo como objetivo a oferta do ensino
secundário para atender a população carente nas diferentes localidades
brasileiras. A entidade foi originalmente denominada de Campanha do Ginasiano
Pobre. Posteriormente, passou a ser a Campanha dos Educandários Gratuitos –
CEG; depois, Campanha Nacional de Educandários Gratuitos – CNEG, e atualmente é
a Campanha Nacional de Escolas da Comunidade – CNEC.
Durante a administração do então prefeito Itamar
Franco, a CNEC foi implantada em Juiz de Fora com objetivos específicos de
oferecer à comunidade uma educação de qualidade, uma abertura de vagas para
atendimento à grande demanda, e, principalmente, permitir o acesso à educação
de uma grande parcela de jovens impedida de dar continuidade aos seus estudos
devido ao elevado custo do ensino secundário da época (ginasial,
científico/normal/contabilidade).
Tendo em sua equipe o prof. Murílio como secretário
de Educação, o prefeito Itamar Franco abraçou com toda força e uma dedicação
incomum nos homens públicos de hoje a causa da CNEC. Da mesma forma, o então
secretário de Educação se envolveu com todo o empenho, abraçando o projeto
CNEG, hoje CNEC, que, somando o comprometimento dos dois homens públicos –
prefeito e secretário – transformaram Juiz de Fora na capital nacional das
escolas comunitárias, chegando ao expressivo número de 13 estabelecimentos de
ensino gratuito, mantidos pelas comunidades dos bairros onde estavam
implantados com recursos advindos, em grande parte, de bolsas liberadas pela
Secretaria Municipal de Educação de Juiz de Fora e em menor parcela do MEC.
Os 13 bairros que tiveram implantados os Setores da
CNEC (setor era a denominação que se dava à comissão comunitária responsável
pela administração e manutenção das escolas) são: Santa Luzia, Vila Ideal,
Furtado de Menezes, Grajaú, São Benedito, Linhares, São Pedro, Borboleta,
Jóquei Clube, Benfica, Mariano Procópio , Costa Carvalho e Manoel Honório, este
ainda em atividade com o Colégio Monteiro Lobato.
A presença da CNEC em Juiz de Fora com suas 13
escolas tem ainda uma importante marca na educação, não só dos seus milhares de
alunos mas também na formação de professores, já que a CNEC transformou-se num
grande laboratório experimental dos acadêmicos das várias licenciaturas da UFJF
que lecionavam em seus estabelecimentos. Inúmeros professores tiveram na CNEC
de Juiz de Fora o seu alicerce para chegarem aos patamares de hoje.
A década de 1970 foi o auge de um processo que
revolucionou o ensino em Juiz de Fora, oportunizando uma educação de qualidade
a todos, graças à CNEC e em especial ao grande mestre prof. Murílio de Avellar
Hingel, cuja capacidade o tornara referência na educação do Brasil.
Ao mestre nato, pela sua sensibilidade em abrir espaços para aqueles que dificilmente teriam oportunidade de dar sequência aos seus estudos, deixamos em nome de todos eles um preito de gratidão ao prof. Murílio Hingel.
Referências
https://youtu.be/lvA2bAAV074
https://www.youtube.com/watch?v=lvA2bAAV074
http://educacao.globo.com/provas/enem-2012/questoes/110.html
https://www.youtube.com/watch?v=lvA2bAAV074
http://educacao.globo.com/provas/enem-2012/questoes/110.html
https://youtu.be/wUok90JMXWA
https://www.ufrgs.br/enunciarcotidianos/2017/07/18/o-apanhador-de-desperdicios-manoel-de-barros/
https://www.asomadetodosafetos.com/2016/04/o-apanhador-de-desperdicios-manoel-de-barros.html
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2316-40182012000200007
https://youtu.be/2U3RYaCoiOw
http://www.ebc.com.br/cultura/galeria/videos/2014/11/assista-a-uma-leitura-de-o-apanhador-de-desperdicios-poema-manoel-de
https://www.escritas.org/pt/t/12817/cabeludinho
https://youtu.be/vcfNNoSzbj8
https://www.pensador.com/frase/NTI3MTkx/
https://youtu.be/jIA9JX0AMuk
https://www.youtube.com/watch?v=jIA9JX0AMuk
https://tribunademinas.com.br/opiniao/tribuna-livre/08-04-2018/ainda-murilio-hingel-um-preito-de-gratidao.html
https://tribunademinas.com.br/opiniao/tribuna-livre/08-04-2018/ainda-murilio-hingel-um-preito-de-gratidao.html
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