CHARLES & MARY LAMB (1775-1834 |
Inglaterra) (1764-1847| Inglaterra)
11.
Estes
irmãos britânicos que fizeram sua fama com um livro só, Contos de Shakespeare,
sempre "na cola", ou a partir da obra do maior dramaturgo do mundo (a
ideia original era apresentar as peças do Bardo para a juventude), já marcaram
presença na antologia anterior, Os Cem Melhores Contos de Humor... Voltam agora
recontando uma das peças, digamos assim, mais sanguinárias da dramaturgia
shakespeariana (e que já foi um filme igualmente sanguinário, de Roman
Polanski).
Quando Duncan, o Bom, reinava na Escócia, vivia ali
um poderoso barão, chamado Macbeth. Parente próximo do rei, Macbeth gozava de
grande estima na corte por seu valor e atuação nas guerras, nas quais dera um
recente exemplo de coragem, ao derrotar um exército rebelde que se aliara a
numerosas tropas da Noruega.
No regresso dessa grande batalha, os dois generais
escoceses, Macbeth e Banquo, passaram por uma charneca mal-assombrada, onde
foram detidos pela aparição de três vultos. Os três assemelhavam-se a mulheres,
exceto pela barba que lhes cobria o rosto. Tinham peles ressequidas, e suas
estranhas indumentárias lhes tiravam qualquer parecença com outros seres deste
mundo. Foi Macbeth quem lhes falou primeiro. Mas as três figuras, como que
ofendidas, levaram cada uma o dedo esquelético aos lábios murchos, impondo-lhe
silêncio. A primeira saudou Macbeth pelo seu título de barão de Glamis. Não
pouco espantado ficou o general de ser conhecido por tais criaturas. Mas ainda
mais se assombrou quando a segunda delas continuou a saudação, dando-lhe o
título de barão de Cawdor, honra a que ele jamais aspirara. E a terceira
cumprimentou-o, dizendo:
- Salve, Macbeth, que serás rei um dia!
Esta profética saudação deixou-o ainda mais pasmado,
pois sabia que, enquanto vivessem os filhos do rei, não havia esperanças de ele
subir ao trono.
Depois, voltando-se para Banquo, elas lhe disseram,
em termos enigmáticos, que ele seria "menos que Macbeth e mais do que ele;
não tão feliz, mas muito mais feliz". E profetizaram que, embora ele nunca
reinasse, seus filhos, após sua morte, seriam reis da Escócia.
Dito isso, desvaneceram-se no ar. E os generais
perceberam que se tratava de bruxas. Enquanto consideravam a estranheza daquela
aventura, chegaram os mensageiros do rei, encarregados de investir Macbeth do
título de barão de Cawdor. O acontecimento, tão miraculosamente de acordo com
as predições das feiticeiras, deixou Macbeth mudo de pasmo, incapaz de
responder o que fosse aos mensageiros. Nesse meio tempo, brotou em seu coração
a esperança de que a profecia da terceira bruxa também se cumprisse, tornando-o
um dia rei da Escócia. Voltando-se para Banquo, disse:
- Não tens esperanças de que teus filhos sejam reis,
depois de ver tão maravilhosamente realizado o que as bruxas me prometeram?
- Esperanças como essas - replicou o general - podem
levar-te a aspirar ao trono. Lembre: muitas vezes, esses ministros das trevas
revelam pequenas verdades apenas para nos induzirem a atos de maiores consequências.
As malignas insinuações das bruxas, porém, tinham
calado profundamente no espírito de Macbeth, impedindo-o de levar em conta as
sensatas ponderações de Banquo. Desde esse tempo, todos os seus pensamentos se
fixaram no trono da Escócia.
Macbeth tinha uma esposa, a quem comunicou a
estranha predição e seu parcial cumprimento. Era uma mulher perversa e
ambiciosa, para a qual, desde que o marido e ela própria alcançassem grandezas,
pouco importavam os meios. Instigou, assim, os indecisos desígnios de Macbeth,
a quem repugnava a ideia de sangue, e não cessava de lhe apresentar o
assassinato do rei como um passo absolutamente necessário para a realização da
tentadora profecia.
Sucedeu então que o rei (o qual, por magnânima
condescendência, costumava visitar amigavelmente os principais representantes
da nobreza) foi hospedar-se na casa de Macbeth, com seus dois filhos, Malcolm e
Donalbain, além de um numeroso séquito de barões e cortesãos. Tencionava,
assim, honrar Macbeth por seus triunfos na guerra.
O castelo de Macbeth era bem situado, numa região de
clima ameno e saudável, como indicavam os ninhos de andorinhas, construídos em
todas as cornijas do edifício -é sabido que tais pássaros se aninham de
preferência nos lugares onde o ar é mais salubre.
O rei muito se agradou do local, e não menos das
atenções e respeito de lady Macbeth, que dominava a arte de encobrir
traiçoeiros desígnios com sorrisos. Parecia ela uma inocente flor, quando era,
na verdade, a serpente que sob esta se oculta.
Cansado da viagem, o rei recolheu-se cedo. Em seu
quarto, como de costume, foram dormir dois dos seus guardas privados. Ficara o
rei encantado com a recepção e distribuíra muitos presentes, entre os quais um
precioso diamante a lady Macbeth, a quem chamou de a melhor das suas hospedeiras.
Era noite alta, quando metade da natureza parece
morta, estranhos sonhos povoam o espírito dos homens adormecidos e apenas o
lobo e o assassino rondam as trevas. Era a hora em que lady Macbeth planejava o
assassinato do rei. Não desejava praticar um ato tão contrário ao seu sexo, mas
receava que o marido, de natureza suavizada pelo leite da bondade humana, não
se atrevesse a cometer o crime. Sabia-o ambicioso, mas ainda cheio de
escrúpulos e pouco preparado para os extremos a que a ambição desordenada costuma
arrastar. Convencera-o da necessidade dessa morte, mas duvidava da firmeza de
ânimo dele. Temia que a brandura da índole dele interferisse nos seus
desígnios.
Assim, muniu-se ela mesma de um punhal e
aproximou-se do leito do rei. Tivera o prévio cuidado de embriagar os guardas,
que jaziam profundamente adormecidos e incapazes de cumprir seus deveres.
Também Duncan dormia pesadamente, após a fadiga da viagem. E, como lady Macbeth
o observasse com atenção, pareceu-lhe ver na face do rei adormecido, alguma
semelhança com as feições de seu pai. Por isso, não teve coragem de matá-lo.
Voltou para conferenciar com o marido, cuja
resolução já começara a vacilar. Considerava ele que havia fortíssimas razões
para se opor àquela morte. Em primeiro lugar, não era apenas um vassalo, mas
parente próximo do rei. Tendo-o recebido em casa, assumira também, pelas leis
da hospitalidade, o dever de fechar a porta aos criminosos e não brandir o
punhal assassino. Depois, precisava considerar que Duncan fora sempre um rei justo
e bom: evitava prejudicar seus vassalos; amava a nobreza e, particularmente, a
ele, Macbeth. Tais reis são uma dádiva do Céu, e seus vassalos duplamente
obrigados a vingar-lhes a morte. Sem falar que, graças aos favores do rei,
Macbeth gozava de excelente reputação perante toda classe de homens - honras
que ficariam manchadas pela triste fama de tão feio crime.
Nessas lutas interiores, viu lady Macbeth que o
marido pendia para o lado melhor, nada disposto a seguir adiante. Mas, como não
era mulher que desistisse facilmente dos seus propósitos, começou a
insuflar-lhe nos ouvidos inúmeras razões para não desistir do que havia
empreendido. Era tão fácil aquilo! Estaria tudo liquidado num instante! E a
ação de uma única e breve noite traria, a todas as suas noites e dias
vindouros, o gozo da soberania e da realeza! Censurou-o por mudar de resolução,
acusando-o de covardia. Disse que bem sabia o quanto uma mulher ama a criança
que amamenta. Seria, porém, capaz, no próprio momento em que a criança lhe
sorrisse, de arrancá-Ia do seio e esmigalhar-lhe a cabeça, se tivesse jurado
fazê-lo, como ele jurara efetuar aquele assassinato. Argumentou ainda o quanto
seria fácil fazer recair a culpa nos guardas embriagados. E criticou com
tamanha veemência a indecisão do marido que este mais uma vez reuniu toda sua
coragem para pôr em prática a sanguinária façanha.
Tomando então do punhal, atravessou furtivamente a
escuridão, até o quarto em que dormia Duncan. Enquanto avançava, julgou ver
outro punhal no espaço, com o cabo voltado para ele e a lâmina e a extremidade
tintas de sangue, mas, quando tentou agarrá-lo, só encontrou o ar. Não fora
mais que uma visão, engendrada por seu espírito perturbado pelo ato que ia
praticar.
Vencido o temor, penetrou no quarto do rei,
tirando-lhe a vida de um só golpe. Logo que cometeu o assassinato, um dos
guardas riu durante o sono e o outro gritou: "Assassino!" Ambos
acordaram, mas apenas fizeram uma curta prece. Um deles falou: "Deus nos
abençoe!" O outro respondeu: "Amém." E ambos puseram-se de novo
a dormir. Macbeth, que parara a escutá-los, tentara pronunciar "Amém"
quando o guarda proferia "Deus nos abençoe", mas, por mais que
precisasse de uma bênção, a palavra trancou-se-lhe na garganta.
De repente, ouviu uma voz, que exclamava:
- Não mais dormir! Macbeth matou o sono, o inocente
sono que alimenta a vida. -A voz ecoava por toda a casa. - Não mais dormir!
Glamis matou o sono e, portanto, Cawdor nunca mais dormirá. Macbeth nunca mais
dormirá.
Perseguido por essas horríveis imaginações, voltou
Macbeth para junto da mulher, que começava a pensar que ele falhara no seu
intento. Em tal estado chegou que ela lhe censurou a falta de ânimo.
Ordenou-lhe que fosse lavar as mãos do sangue que as manchava, enquanto lhe
tomava o punhal, com o propósito de enodoar de sangue as faces dos guardas,
para fazer crer terem sido eles os autores da morte do rei.
Veio a manhã e com ela a descoberta do crime. E
embora Macbeth e a esposa fizessem grandes demonstrações de dor e as provas
contra os guardas fossem suficientemente fortes, todas as suspeitas recaíram
sobre Macbeth, cujas razões para tal crime eram muito mais ponderáveis do que
as que poderiam ter os pobres guardas.
Quanto aos dois filhos do rei, Malcolm, o mais
velho, procurou refúgio na corte inglesa; e o mais moço, Donalbain, escapou
para a Irlanda. Tendo assim os dois filhos do rei, que deviam sucedê-lo,
deixado vago o trono, Macbeth, como herdeiro mais próximo, foi coroado. Assim,
literalmente realizou-se a predição das bruxas.
Apesar do apogeu em que se achavam, Macbeth e a
rainha não esqueciam a profecia das feiticeiras de que, embora Macbeth fosse
rei, não os seus descendentes, mas os de Banquo seriam os próximos soberanos. A
preocupação de terem manchado as mãos de sangue e cometido tão grandes crimes,
unicamente para colocar na posteridade Banquo sobre o trono, de tal modo os
atormentava que resolveram matar Banquo e o filho deste, a fim de frustrar as
predições das bruxas - tão notavelmente realizada no seu próprio caso.
Com esse fim, ofereceram um grande banquete, para o
qual convidaram todos os principais barões - entre estes, com mostras de
particular respeito, Banquo e seu filho, Fleance. Na estrada pela qual Banquo
devia passar à noite, a caminho do palácio, ficaram de emboscada uns assassinos
a soldo de Macbeth. Banquo foi assassinado, mas, na confusão da luta, Fleance
conseguiu escapar. Foi dele que se originou a dinastia de monarcas que depois
ocupou o trono da Escócia, findando em Jaime VI da Escócia e I da Inglaterra,
sob o qual foram unidas as duas coroas.
No banquete, a rainha, cujas maneiras eram no mais
alto grau afáveis e principescas, atendeu os hóspedes com uma graça e
delicadeza que cativaram a todos os presentes. Macbeth falou aos barões e
fidalgos, dizendo que tudo o que havia de mais nobre no país se encontraria
reunido sob seu teto, desde que não faltasse seu amigo Banquo, a quem preferia
ralhar por negligência a lamentar por algo de mau que lhe houvesse acontecido.
Justamente a essa altura do discurso, o espectro de Banquo entrou na sala e
sentou-se na cadeira que Macbeth ia ocupar. Embora destemido e capaz de
enfrentar o diabo sem tremer, Macbeth tornou-se lívido de pavor ante aquela
horrível visão e quedou parado no mesmo lugar, o olhar fixo no fantasma. A
rainha e todos os nobres presentes, para os quais o espectro permanecia
invisível, viram Macbeth olhar aterrorizado para a cadeira vazia e tomaram
aquilo por um ataque de loucura. A rainha censurou-o, segredando-lhe que aquilo
não passava de uma fantasia igual à que o fizera ver o punhal no espaço. Mas
Macbeth continuava a ver o fantasma e, sem se importar com o que os outros
pudessem dizer, dirigiu-se a ele em palavras delirantes, mas tão
significativas, que a rainha, temerosa de que o horrível segredo fosse
revelado, despediu apressadamente os hóspedes, atribuindo o estado de Macbeth a
ataques de que ele às vezes sofria.
Tais eram as pavorosas visões a que Macbeth estava
sujeito. A rainha e ele tinham o sono agitado por sonhos terríveis, e o sangue
de Banquo perturbava-os tanto quanto a fuga de Fleance, a quem, agora,
consideravam fundador de uma dinastia de reis que tirariam de seus descendentes
toda possibilidade de ocupar o trono. Com esses pensamentos, era impossível
terem paz. E Macbeth resolveu falar mais uma vez com as bruxas, para que estas
lhe revelassem tudo, por pior que fosse.
Encontrou-as numa caverna da charneca, onde, tendo
adivinhado sua chegada, elas preparavam os tétricos encantamentos pelos quais
conjuravam os espíritos infernais a lhes revelarem o futuro. Seus horrendos
ingredientes eram sapos, morcegos e cobras, o olho de uma salamandra e a língua
de um cão, a perna de um lagarto e uma asa de mocho, a escama de um dragão, o
dente de um lobo, um estômago de tubarão, a múmia de uma bruxa, uma raiz de
cicuta (para não perder o efeito devia ser colhida à noite), um fel de bode, o
fígado de um judeu e o dedo de uma criança morta. Tudo isto era posto para
ferver num caldeirão, que, quando aquecia demasiado, era refrescado com sangue
de macaco. Acrescentavam ainda o sangue de uma porca que devorara os filhos e
aspergiam o fogo com a gordura escorrida de um assassino morto na forca. Com
tal feitiço, obrigavam os espíritos infernais a responderem a suas perguntas.
Indagaram de Macbeth se ele queria suas dúvidas
resolvidas por elas mesmas ou por seus senhores, os espíritos. Nada amedrontado
com as horríveis cerimônias a que assistira, ele respondeu afoitamente:
- Onde estão eles? Quero vê-los.
Elas invocaram os espíritos, que eram três. O
primeiro surgiu sob a forma de uma cabeça armada de capacete, chamou Macbeth
pelo nome e recomendou-lhe que tivesse cuidado com o barão de Fife. Por isso,
ficou-lhe Macbeth muito grato, pois invejava Macduff, o barão de Fife.
O segundo espírito assomou sob a forma de uma
criança ensanguentada, chamou Macbeth pelo nome e recomendou-lhe que não
tivesse medo nenhum, que risse do poder humano, pois nenhum homem nascido de
mulher poderia lhe fazer mal. Aconselhou-lhe que fosse sanguinário, ousado e
resoluto.
- Então vive, Macduff! - exclamou o rei. - Que
necessidade tenho de temê- lo? Mas quero sentir-me duplamente seguro. Tu não
viverás, para que eu possa dizer ao gélido Medo que ele mente e dormir a
despeito do trovão.
Esvaído esse espírito, surgiu um terceiro, sob a
forma de uma criança coroada, com um galho na mão. Chamou Macbeth pelo nome e
animou-o contra as conspirações. Afirmou que ele nunca poderia ser vencido, a
menos que a floresta de Birnam fosse ao seu encontro na montanha de Dunsinane.
- Belos presságios! - exultou Macbeth. - Quem poderá
mover a floresta, arrancando-a das suas raízes profundas? Vejo que viverei o
período comum da vida humana e não serei ceifado por morte violenta. Mas meu
coração palpita de curiosidade. Dize-me, se até aí chega tua arte, se os
descendentes de Banquo reinarão algum dia neste reino. Então, o caldeirão
sumiu-se na terra e ouviu-se um som de música: oito sombras, com o aspecto de
reis, passaram diante de Macbeth. Banquo vinha por último, trazendo na mão um
espelho - todo ensanguentado, sorria para Macbeth e apontava os espectros.
Assim, Macbeth ficou sabendo que aqueles eram os descendentes de Banquo, que
reinariam na Escócia depois dele. E as feiticeiras, ao som de uma estranha
música, dançaram e saudaram Macbeth, desaparecendo em seguida. Desde esse dia,
os pensamentos de Macbeth foram todos sanguinários e terríveis.
A primeira coisa de que o informaram ao sair da
caverna das feiticeiras foi que Macduff, o barão de Fife, fugira para a
Inglaterra, a fim de se juntar ao exército formado sob o comando de Malcolm, o
filho mais velho do falecido rei, com o propósito de depor Macbeth e restituir
o trono ao legítimo herdeiro.
No auge do furor, Macbeth assaltou o castelo de
Macduff, matando-lhe a esposa e os filhos e estendendo o massacre a todos
quantos tivessem o mínimo grau de parentesco com seu inimigo.
Esses e outros crimes afastaram dele todos os seus
chefes e a nobreza. Os que puderam fugiram, para se juntar a Malcolm e a
Macduff, que agora se aproximavam com o poderoso exército que haviam
organizado. Os demais desejavam secretamente o sucesso das suas armas, embora,
por medo de Macbeth, não tomassem parte ativa na campanha. Os soldados de
Macbeth avançavam sem ânimo. Todos temiam o tirano, ninguém o amava ou
venerava. Não havia quem não suspeitasse dele. E Macbeth começava a invejar
Duncan, que dormia calmamente no seu túmulo, aniquilado pela traição: nem ferro
nem veneno, nem os seus nem os estranhos podiam lhe fazer mal agora.
Enquanto sucediam tais coisas, morreu lady Macbeth,
a única cúmplice de todos os seus crimes e em cujo seio encontrava um repouso
momentâneo dos terríveis pesadelos que o afligiam à noite. Diziam que ela
morrera por suas próprias mãos, por não suportar o remorso e o ódio público.
Assim, Macbeth ficou sozinho, sem uma alma que o amasse ou cuidasse dele, sem
um amigo ou confidente.
Perdeu o amor à vida e suspirou pela morte. Mas a
aproximação do exército de Malcolm despertou nele o que ainda lhe restava de
coragem e ele resolveu morrer lutando. Além disso, as falsas promessas das
feiticeiras o tinham enchido de enganosa confiança. Lembrava-se de que haviam
dito que nenhum homem nascido de mulher poderia lhe fazer mal e que somente
seria vencido quando a floresta de Birnam avançasse até Dunsinane, o que ele
julgava impossível. Assim, fechou-se no castelo, cuja inexpugnabilidade poderia
desafiar um cerco: ali esperou sombriamente a aproximação de Malcolm.
Eis que um dia, finalmente, chega um mensageiro,
pálido e trêmulo, quase sem voz. Conta, afinal, que estando na montanha, olhara
na direção de Birnam e parecera-lhe que a floresta se movia.
- Escravo mentiroso! - gritou Macbeth. - Se
estiveres mentindo, serás pendurado vivo na primeira árvore, até que a fome te
mate. Mas se falaste a verdade, poderás fazer o mesmo comigo.
Começava a fraquejar o ânimo de Macbeth. Não sentia
medo enquanto a floresta de Birnam não fosse até Dunsinane. Mas a floresta
estava a se mover!?
- Quem sabe é verdade? Vamos nos armar e partir.
Daqui não posso fugir. Nem quero ficar. Já estou farto da luz do sol e de minha
vida.
Com essas palavras desesperadas, saiu do castelo e
foi ao encontro dos atacantes, que já haviam fechado o cerco.
Facilmente se explica a escaramuça que dera ao
mensageiro a impressão de que a floresta se movia. Ao atravessar Birnam,
Malcolm, como hábil general que era, ordenara aos soldados que arrancassem
ramos de árvores e marchassem com eles à frente, para ocultar o verdadeiro
número de suas hostes. Fora essa marcha de ramos que, à distância, assustara o
mensageiro. Confirmavam-se, pois, as palavras do espírito, mas num sentido
diferente de como Macbeth as compreendera - e assim se esvaiu grande parte de
sua confiança.
Travou-se terrível batalha, na qual Macbeth - embora
fracamente auxiliado pelos que se diziam seus amigos, mas que o odiavam e na
verdade pendiam para o partido de Malcolm e Macduff - se bateu com ímpeto e
coragem. Estraçalhou todos com que se defrontou, até chegar ao local onde
Macduff lutava. Ao avistá- lo, lembrou a recomendação da feiticeira, de que
evitasse Macduff acima de todos os homens, e quis retroceder. Mas foi detido
pelo barão, que já o procurara por todo o campo de batalha. Seguiu-se então uma
violenta contenda, na qual Macduff acusou-o do assassinato de sua mulher e
filhos. Macbeth, cuja alma já estava demasiadamente carregada com o sangue
daquela família, ainda quis declinar do combate. Mas Macduff provocou-o à luta,
chamando-o de tirano, assassino, monstro e vilão.
Então, lembrou-se Macbeth das palavras do espírito,
de que nenhum homem nascido de mulher poderia lhe fazer mal. E, sorrindo
confiadamente, disse a Macduff.
- Desperdiças teus esforços, Macduff. Tão fácil
seria imprimires no ar os golpes de tua espada quanto me tornares vulnerável a
eles. Tenho uma vida encantada, que nenhum homem nascido de mulher pode arrancar.
- Está quebrado teu encantamento - replicou Macduff.
- Que o mentiroso espírito que te serve te ensine: Macduff não nasceu de mulher
da maneira vulgar que os homens nascem, pois foi prematuramente arrancado, por
operação, das entranhas maternas.
- Maldita a língua que me diz tal coisa! - gemeu o
trêmulo Macbeth, sentindo esvair-se a derradeira certeza. - Que nenhum homem,
no futuro, acredite nas imposturas de feiticeiras e espíritos, que nos enganam
com palavras de duplo sentido e que, cumprindo literalmente suas promessas,
frustram nossas esperanças com um significado diferente.
- Pois vive! - exclamou desdenhosamente Macduff. -
Nós haveremos de exibir-te, como os monstros nas feiras, com um cartaz pintado
em que estará escrito: "Vinde ver o tirano!"
- Nunca! - replicou Macbeth, cuja coragem voltava
com o desespero. - Não viverei para beijar a terra diante dos pés do jovem
Malcolm e ser insultado com as pragas do populacho. Embora a floresta de Birnam
tenha vindo a Dunsinane e tu, meu adversário, não hajas nascido de mulher,
ainda assim quero arriscar a última cartada.
Com essas palavras desesperadas, arremessou-se
contra Macduff, que, após violenta luta, conseguiu prostrá-lo. E, cortando-lhe
a cabeça, deu-a de presente ao jovem Malcolm, o rei legítimo. Este tomou as
rédeas do governo, do qual fora por tanto tempo privado, e ascendeu ao trono de
Duncan, o Bom, por entre as aclamações dos nobres e do povo.
Tradução
de Mário Quintana
Macbeth
- Trailer Oficial - Legendado - HD
Na tragédia de Shakespeare, Macbeth (Michael
Fassbender) é um general do exército escocês que influenciado pela profecia de
três bruxas e por influência da esposa, Lady Macbeth (Marion Cotillard),
assassina o rei Duncan e desencadeia tragédias e reviravoltas na corte.
Macbeth
(Polanski, 1971) - HD Trailer
Macbeth,
de William Shakespeare - Produção Sorocabana 1992
MACBETH
1978 | Ian McKellen | Judi Dench
Macbeth
By William Shakespeare BBC TV DRAMA Full Movie
Macbeth.
Compare and Contrast: Opening scenes from five adaptations.
http://www.ebooksbrasil.org/adobeebook/macbethr.pdf
Macbeth
- William-Shakespeare - PDF
Macbeth/William
Shakespeare - Resumo
Macbeth, é um duque escocês que ouve três bruxas
dizerem durante uma batalha que ele um dia será rei da Escócia. Consumido pela
ambição em alcançar o futuro que lhe foi profetizado, Macbeth inicia uma sangrenta
disputa pelo trono com o apoio de sua esposa, Lady Macbeth. Impulsionado por
ela, Macbeth mata o rei Duncan e toma o posto para si.
Referência
file:///D:/Usu%C3%A1rio/Downloads/Os%20100%20Melhores%20Contos%20de%20Crime%20e%20Mist%C3%A9rio%20da%20Literatura%20Universal%20-%20Fl%C3%A1vio%20Moreira%20Da%20Costa.pdf
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