Hoje,
dos meu cadáveres eu sou
O
mais desnudo, o que não tem mais nada.
Mário Quintana
Juiz
de Fora! Juiz de Fora!
Viva
a princesa de Minas
Declaração
de Amor
Juiz de Fora! Juiz de Fora!
Guardo entre as minhas recordações
Mais amoráveis, mais repousantes
Tuas manhãs!
Um fundo de chácara na Rua Direita
Coberto de trapuerabas.
Uma velha jabuticabeira cansada de doçura.
Tuas três horas da tarde...
Tuas noites de cineminha namorisqueiro...
Teu lindo parque senhorial mais segundo reinado
[do que a própria Quinta da Boa Vista...
Teus bondes sem pressa dando voltas vadias...
Juiz de Fora! Juiz de Fora!
Tu tão de dentro deste Brasil!
Tão docemente provinciana...
Primeiro sorriso de Minas Gerais!
História
de Juiz de Fora. Vale
a pena ler. Affonso Romano de Sant'Ana
"Dizem que Juiz de Fora é a cidade carioca mais
perto de Minas. Quando passa por lá um ônibus que vai do Rio para Belo
Horizonte, o juiz-forano pergunta, puxando o xis: “Vai para Minasx?”.
Mais ainda: quando a estrada União Indústria foi
corrigida, e, em vez de cinco horas, o Rio ficou a duas horas de viagem, o
pessoal de Juiz de Fora começou a reclamar da maresia… E criaram a linha Parque
Halfeld-Leblon.
Vou me lembrando dessas coisas amenas ao ler o que
Jorge Sanglard (perpétuo secretário de Cultura daquela cidade) me envia sobre a
violência crescente e a quantidade de mortes na Manchester Mineira.
Quando vivi lá, no Grupo Escolar Fernando Lobo e no
Granbery cantávamos o hino da cidade: “Viva a Princesa de Minas, viva bela Juiz
de Fora/ que caminha na vanguarda/ do progresso estrada afora”. Rachel Jardim
cantava esse hino. Fernando Gabeira cantava esse hino. Querem mais? José Rubem
Fonseca, Pedro Nava, Murilo Mendes e, claro, os Arcuris, responsáveis pelos
prédios preciosos da cidade, o poeta Belmiro Braga, o historiador Dormevelly
Nóbrega e as abastadas famílias Hargreaves e Penido cantavam assim.
Até minha mãe, que em Juiz de Fora nasceu, cantava
orgulhosamente essa letra. Ela, seus irmãos e meu avô Affonso Romano, que veio
da Itália no final do século 19. Morava lá na Tapera, mas cantava o mesmo hino.
As fábricas de Juiz de Fora eram famosas. Minha mãe e suas irmãs trabalharam
como operárias na Bernardo Mascarenhas. Os colégios religiosos de Juiz de Fora
eram famosos, acolhiam jovens de todo o país. O Granbery teria sido a primeira
universidade brasileira, não fossem as querelas religiosas.
Diante da notícia de que só este ano mais de 100
pessoas foram assassinadas ali, torna-se difícil cantar “Demos palmas, demos
flores/ Aos encantos da princesa!/ Ela é rica de primores/ Da poesia e da
beleza”. Não sei se o pintor Carlos Bracher e sua família ainda cantam assim.
Os diretores do Pró-Música – a família Sousa Santos faz anualmente aquele inigualável
festival de música colonial – entoam essa música. Não garanto que Itamar Franco
(que tirou este país do buraco inflacionário) poderia cantar isso no outro
mundo.
Quando de Juiz de Fora saí, em 1957, a cidade tinha
algo em torno de 150 mil habitantes. Havia árvores e bondes na Avenida Rio
Branco. Queria ser baleiro do Cine Central, tentava arrebatar as almas do
“lamaçal do pecado” para o reino dos céus, pregando na Cachoeirinha e na
Serrinha. Morria-se quase nada naquele tempo. As notícias policiais que o José
Carlos Lery Guimarães apregoava no seu Ronda policial eram muito ingênuas perto
do que se ouve hoje. Não acontecia muita coisa. Os mais ousados iam ao Rio
assistir às comédias eróticas de Walter Pinto. Eu queria ser locutor da PRB-3.
Com cinco colegas criamos um grupo de poesia que foi notícia até no Rio:
Pentágono 56. A coisa era tão pacífica que um desses poetas era investigador de
polícia. Imaginem poesia e criminalidade juntas. Foi então que comecei a
trabalhar na Gazeta Comercial e no Diário Mercantil. Frequentávamos o lindo
Museu Mariano Procópio, remávamos em seu lago e comíamos jabuticaba na árvore.
A cidade tem hoje uma bela universidade, oferece
misses para concursos de beleza e seus moradores ainda se sentem felizes de
morar sob o Morro do Imperador. Mas queriam que houvesse menos mortes, menos
violência.
Lembro-me da emoção provinciana no dia em que
descobri que Manuel Bandeira havia escrito uns versos citando Juiz de Fora.
Chama-se “Declaração de amor?”. Diz assim o poema: “Juiz de Fora! Juiz de
Fora!/ Guardo entre as minhas recordações/ Mais amoráveis, mais repousantes/
Tuas manhãs! Um fundo de chácara na Rua Direita/ Coberto de trapoerabas./ Uma
velha jabuticabeira cansada de doçura./ Tuas três horas da tarde.../ Tuas
noites de cineminha namorisqueiro.../ Teu lindo parque senhorial mais Segundo
Reinado/ do que a própria Quinta da Boa Vista.../ Teus bondes sem pressa dando
voltas. vadias... / Juiz de Fora! Juiz
de Fora! / Tu tão de dentro deste Brasil!/ Tão docemente provinciana.../ Primeiro
sorriso de Minas Gerais!”.
Nelson
Angelo, Moda pro Cacaso (Márcio Hallack & Luiz Sérgio Henriques)
Juiz
de Fora - Minas Gerais – Brazil
hino
de juiz de fora
Referências
https://www.pensador.com/frase/NjYwMTA/
http://poemasdebandeira.blogspot.com.br/2009/08/declaracao-de-amor.html
https://youtu.be/XJhAPZ4ou3E
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