Inspirados já nos ensinamentos de Sófocles, aqui, procurar-se-á a conexão, pelo conhecimento, entre o velho e o novo, com seus conflitos. As pistas perseguidas, de modos específicos, continuarão a ser aquelas pavimentadas pelo grego do período clássico (séculos VI e V a.C).
quarta-feira, 29 de maio de 2024
ENCONTROS NOS DESENCONTROS
Ao sair do supermercado, o idoso, ainda com um sorriso no rosto, refletiu sobre a moral da história: em meio às compras e conversas, há sempre uma lição a aprender, seja sobre nomes, seja sobre a paciência nas filas da vida. E quem sabe, um dia, todos nós possamos encontrar nosso arco-íris, como na velha canção de Judy Garland.
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Amor é fogo que arde sem se ver
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Over The Rainbow (Live)
Sammy Davis Jr. -
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Amor é fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer;
É um não querer mais que bem querer;
É solitário andar por entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É cuidar que se ganha em se perder;
É querer estar preso por vontade;
É servir a quem vence, o vencedor;
É ter com quem nos mata lealdade.
Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade,
Se tão contrário a si é o mesmo Amor?
Luís de Camões
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"E o vendedor de roletes de cana
O de amendoim
que se chamava midubim e não era torrado era cozido
Me lembro de todos os pregões:
Ovos frescos e baratos
Dez ovos por uma pataca
Foi há muito tempo…
Evocação do Recife"
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"Encontro no Supermercado"
Na luz do entardecer,
O mercado em murmúrio,
Sons de vida a correr,
Risos, falas, um murmúrio.
Um idoso, de olhar calmo,
Busca o fresco, não o falho,
Na gôndola encontra o jovem,
Pedro, gentil e trabalho.
"Remova o passado," diz,
"E o novo traga o presente,"
Pedro, atento, sorri,
Fazendo o bem, diligente.
No caixa a fila aguarda,
Idoso, paciente, escolhe,
Conversar, a alma larga,
Com Sam Davis, nome e história.
"De onde vem teu nome?"
Pergunta com leveza,
O jovem sorri, sem fome,
De palavras, com franqueza.
Histórias de pais e tempos,
No riso, a vida ecoa,
Até que a senhora impaciente,
No silêncio, a pressa entoa.
O idoso, sábio, aceita,
A culpa que não é sua,
Entende que a vida é feita,
De momentos, na rua.
Na saída, o pensamento,
Em Judy e o arco-íris,
Onde sonhos são lamento,
E esperanças, os círios.
Entre prateleiras e filas,
Vê-se a humanidade,
Na gentileza que brilha,
No encontro, a verdade.
Em versos simples e claros,
A vida se faz canção,
No mercado, os atos raros,
São da alma, a expressão.
Manuel, em sua métrica,
Daria voz ao comum,
Na crítica poética,
Mostrando o que é nenhum.
A vida, feita de encontros,
De sorrisos e espera,
É no simples que encontramos,
A beleza sincera.
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O Amor Antigo segundo Carlos Drummond de Andrade
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Mais ardente, mas pobre de esperança.
Mais triste? Não. Ele venceu a dor,
e resplandece no seu canto obscuro,
tanto mais velho quanto mais amor.
in Amar se aprende amando, Editora Record, Rio de Janeiro e São Paulo, 1987.
Abre o artigo a imagem do pormenor de uma pintura de Fra Filippo Lippi (1406-1469).
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Encontros nos Desencontros
No mercado, fim de tarde,
A vida se desenrola.
Idoso busca o frescor,
Encontra o jovem na escola.
Pedro, solícito e atento,
Remove o que está vencido.
Mas que poder tem o gesto
Num mundo tão dividido?
Na fila, o idoso espera,
Renunciando ao seu direito.
Sam Davis no caixa sorri,
Mas o tempo é imperfeito.
Histórias de nomes e pais,
Palavras jogadas ao ar,
Mas a pressa da senhora
É a voz que faz calar.
Entre risos e reprimendas,
O encontro se desmancha.
A vida segue indiferente,
E a esperança é tão frágil, tão mancha.
O arco-íris de Judy,
É sonho além do alcance.
Na realidade dura,
O dia-a-dia é disfarce.
A gentileza se perde
No ritmo da rotina,
E o humano se esquece
Na fila que desafina.
O idoso sai com a história,
Mas o que ela realmente diz?
Num mundo de desencontros,
Até o gesto se contradiz.
Bandeira, teus versos suaves,
Revelam beleza na ação.
Mas no cinismo do agora,
Há mais dor do que redenção.
Encontros que são desencontros,
Fragmentos de conexão.
No mercado e na vida,
Só resta a interrogação.
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Itinerário de Pasárgada Capa comum – 1 janeiro 2012
Neste texto autobiográfico, Manuel Bandeira expõe o poeta em comoventes confissões de cunho pessoal e intelectual. Relembrando a infância no Recife e a mocidade no Rio de Janeiro, além de momentos marcantes de sua vida, este Itinerário é um testemunho imprescindível para a compreensão da trajetória deste grande poeta e escritor brasileiro.
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Título: "Entre Risos e Reprimendas no Supermercado"
Caminhava pelo supermercado, como de costume, apreciando o frescor do ar-condicionado e a música ambiente que tentava, sem muito sucesso, animar o final da tarde. Era dia de repor a despensa e, para minha surpresa, encontrei dois velhos amigos: um casal idoso que, com sorrisos no rosto, desfiava uma trama peculiar.
Eles convenceram o jovem repositor, Pedro, a remover das gôndolas os produtos que já estavam passados. Pedro, com sua gentileza natural e talvez com um pouco de medo de contrariar os clientes, prontamente atendeu. Era um rapaz solícito, daqueles que, mesmo sem conhecer profundamente a profissão, já sabia que um sorriso e uma boa ação são os melhores cartões de visita.
Superada a fase inicial de camaradagem, onde Pedro, dois idosos e as gôndolas formavam um curioso triângulo de interação, seguimos para as filas dos caixas. O idoso, que bem poderia estar na fila preferencial, escolheu a comum, talvez por gostar de observar as pessoas, ou talvez por pura teimosia.
Na sua vez, ao ser atendido pelo simpático jovem do caixa 6, uma conversa inusitada começou. O idoso, com a curiosidade típica de quem já viveu muito, perguntou ao jovem sobre a origem de seu nome, "Sam Davis". O rapaz, com um sorriso no rosto, respondeu que poderia ser de um personagem bíblico, Samuel, mas que também poderia ter outras origens saxônicas.
O idoso, não satisfeito, questionou sobre as motivações dos pais do jovem ao escolherem tal nome. Sam, rindo, contou que seu pai costumava usar um pseudônimo, Vagner, nas suas aventuras amorosas, e que esse nome acabou sendo adotado para ele. A conversa seguia leve e engraçada, como um bate-papo entre velhos amigos.
No entanto, a terceira velha senhora na fila não estava para conversas. Impaciente, ela cortou o diálogo com um olhar severo e uma frase curta, que mirava no jovem caixa, mas acertava mesmo era o cliente tagarela. O idoso, percebendo a indireta, aceitou a culpa que lhe cabia e calou-se, para a satisfação da senhora rabugenta.
Mas, em seu silêncio resignado, havia um toque de sabedoria. A vida é mesmo assim, pensou ele, um eterno dançar conforme a música. E, naquele momento, ele se lembrou de Sam, que com sua resposta espirituosa sobre seu nome, trouxe à tona memórias de artistas como Sammy Davis Jr. e Judy Garland, figuras que também aprenderam a dançar e cantar conforme a música que a vida lhes tocava.
Ao sair do supermercado, o idoso, ainda com um sorriso no rosto, refletiu sobre a moral da história: em meio às compras e conversas, há sempre uma lição a aprender, seja sobre nomes, seja sobre a paciência nas filas da vida. E quem sabe, um dia, todos nós possamos encontrar nosso arco-íris, como na velha canção de Judy Garland.
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Over The Rainbow
Judy Garland
Letra
Tradução
Significado
Além do Arco-Íris
Over The Rainbow
Em algum lugar além do arco-íris, bem lá no alto
Somewhere over the rainbow, way up high
Há uma terra da qual eu ouvi falar em uma canção de ninar
There's a land that I heard of once in a lullaby
Em algum lugar além do arco-íris, os céus são azuis
Somewhere over the rainbow, skies are blue
E os sonhos que você se atreve a sonhar
And the dreams that you dare to dream
Realmente se tornam realidade
Really do come true
Um dia, vou fazer um pedido a uma estrela
Someday, I'll wish upon a star
E acordar onde as nuvens estão bem longe
And wake up where the clouds are far behind me
Onde os problemas escorrem como gotas de limão
Where troubles melt like lemon drops
Bem longe, acima do topo das chaminés
Away, above the chimney tops
É onde você vai me encontrar
That's where you'll find me
Em algum lugar além do arco-íris, pássaros azuis voam
Somewhere over the rainbow, blue birds fly
Pássaros voam além do arco-íris
Birds fly over the rainbow
Por que, então, ah, eu não posso voar também?
Why then, oh, why can't I?
Se passarinhos azuis alegres voam além do arco-íris
If happy little blue birds fly beyond the rainbow
Por que, ah, eu não posso voar também?
Why, oh, why can't I?
Composição: E.Y. Harburg / Harold Arlen.
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