Inspirados já nos ensinamentos de Sófocles, aqui, procurar-se-á a conexão, pelo conhecimento, entre o velho e o novo, com seus conflitos. As pistas perseguidas, de modos específicos, continuarão a ser aquelas pavimentadas pelo grego do período clássico (séculos VI e V a.C).
quinta-feira, 25 de abril de 2024
DEMOCRACIA
Lá se vão cinquenta anos...
É...
1964: 60 anos do golpe | com Marcos Napolitano | 220 Fora da Política Não há Salvação ------------- 30 de mar. de 2024
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12 LUSTROS
QUANTOS LUSTROS TERÁ?
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"... mas você tem uma contradição aí que se você perder a dialética, você vai virar uma luta de bandidos contra mocinhos, não vai nessa..." Palavras do entrevistado, Marcos Napolitano, historiador, pesquisador e professor da USP, por volta dos 55 minutos de vídeo no post do link.☝️
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A Dialética Platónica | Texto Filosófico de Fernando Pessoa com narração de Mundo Dos Poemas
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Mundo Dos Poemas
Estreou em 3 de fev. de 2022
Texto filosófico de autor português. Fernando António Nogueira Pessoa (1888 — 1935) foi um poeta, filósofo, dramaturgo, ensaísta, tradutor, publicitário, astrólogo, inventor, empresário, correspondente comercial, crítico literário e comentarista político português. Um dos maiores génios poéticos de toda a nossa Literatura e um dos poucos escritores portugueses mundialmente conhecidos. A sua poesia acabou por ser decisiva na evolução de toda a produção poética portuguesa do século XX. Se nele é ainda notória a herança simbolista, Pessoa foi mais longe, não só quanto à criação (e invenção) de novas tentativas artísticas e literárias, mas também no que respeita ao esforço de teorização e de crítica literária. É um poeta universal, na medida em que nos foi dando, mesmo com contradições, uma visão simultaneamente múltipla e unitária da Vida. É precisamente nesta tentativa de olhar o mundo duma forma múltipla (com um forte substrato de filosofia racionalista e mesmo de influência oriental) que reside uma explicação plausível para ter criado os célebres heterónimos - Alberto Caeiro, Álvaro de Campos e Ricardo Reis, sem contarmos ainda com o semi-heterónimo Bernardo Soares.
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"ABRIL LÁ // Baseando-se no tributo / Abril cá / Tributando na base // Da base para a cumeeira / Da cimeira para a base // De cima para baixo / De baixo para cima // Da unidade ao todo / Do universo ao nada // Cumeeira / Cimeira // Trocando u por i's // Abril para lá / Fechou para cá // "
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Lisboa abre comemorações da Revolução dos Cravos com cerimônia militar
EFE BRASIL
25 de abr. de 2024
Lisboa, 25 abr (EFE).- As comemorações dos 50 anos da Revolução dos Cravos em Portugal, que pôs fim à ditadura, começaram nesta quinta-feira em Lisboa com uma cerimônia militar na Praça do Comércio.
IMAGENS: CARLOTA CIUDAD.
RECURSOS DO DESFILE MILITAR NA PRAÇA DO COMÉRCIO, NO CENTRO DE LISBOA.
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Dança da Solidão (Marisa Monte e Paulinho da Viola)
affeno
2.552.852 visualizações 16 de mai. de 2011
Documentário: Meu Tempo é Hoje.
Solidão é lava
Que cobre tudo
Amargura em minha boca
Sorri seus dentes de chumbo...
Solidão, palavra
Cavada no coração
Resignado e mudo
No compasso da desilusão...
Viu!
Desilusão, desilusão
Danço eu, dança você
Na dança da solidão...(2x)
Camélia ficou viúva,
Joana se apaixonou,
Maria tentou a morte,
Por causa do seu amor...
Meu pai sempre me dizia:
Meu filho tome cuidado,
Quando eu penso no futuro,
Não esqueço o meu passado
Oh!...
Desilusão, desilusão
Danço eu, dança você
Na dança da solidão
Viu!
Desilusão, desilusão
Danço eu, dança você
Na dança da solidão...
Quando vem a madrugada
Meu pensamento vagueia
Corro os dedos na viola
Contemplando a lua cheia...
Apesar de tudo existe
Uma fonte de água pura
Quem beber daquela água
Não terá mais amargura
Oh!...
Desilusão, desilusão
Danço eu, dança você
Na dança da solidão
Viu!
Desilusão, desilusão
Danço eu, dança você
Na dança da solidão...
Danço eu, dança você
Na dança da solidão...(2x)
Desilusão! Oh! Oh! Oh!..
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A revolução em Portugal, celebrada no aniversário de 50 anos do 25 de Abril, marcou a transição do país de uma era de ditadura para uma democracia vibrante e em constante evolução. Os impactos dessa mudança foram profundos e visíveis em vários aspectos da sociedade portuguesa.
Antes da revolução, Portugal era um país marcado pela pobreza, pelo analfabetismo e pela repressão política. A taxa de analfabetismo era alarmante, atingindo um em cada quatro portugueses em 1970. A falta de infraestrutura básica, como água canalizada e instalações sanitárias, era generalizada, e muitas pessoas viviam em condições precárias, como nas favelas de Lisboa.
A revolução trouxe consigo não apenas liberdade política, mas também progresso social e cultural. A queda da ditadura abriu caminho para avanços significativos na educação, na igualdade de gênero e no acesso a serviços básicos. Mulheres que antes eram relegadas ao papel de submissas puderam reivindicar seus direitos e participar ativamente da sociedade. A revolução não foi marcada por banhos de sangue, mas sim por uma transição pacífica do poder para a sociedade civil.
O impacto da revolução pode ser visto em muitos aspectos da vida em Portugal hoje. A taxa de analfabetismo caiu drasticamente, e o país se tornou uma referência em termos de progresso social e democrático. No entanto, há desafios contínuos, como o ressurgimento da ultradireita e a nostalgia pelo passado autoritário. É importante preservar a memória do 25 de Abril e promover uma compreensão mais profunda de seu significado histórico, especialmente entre as gerações mais jovens.
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Em 50 anos de democracia Portugal passou de país atrasado para se tornar referência
Gian Amato especial para O Globo
Pesquisa de banco de dados Pordata mostra que analfabetismo caiu de 25,6%, em 1970, para 3,1% após o movimento que acabou com a ditadura, em 1974; crescimento da ultradireita traz preocupações
Lisboa - Intenso como os cravos sobre as roupas cinzentas de 1974, o vermelho de um sinal fechado salvou Rita da prisão. A então estudante de 21 anos combatia na clandestinidade a ditadura em Portugal e achava que era seguida nas ruas de Lisboa pela temida e violenta Polícia Internacional e de Defesa do Estado (PIDE), adepta da tortura que aniquilou ou quase matou alguns de seus camaradas. Ela conta que teve a sorte de parar em um semáforo, abrir a porta e fugir para o carro ao lado, dirigido por um amigo de infância.
Era, assim, carregado, o clima em Portugal antes do 25 de abril de 1974, data da Revolução dos Cravos, que completa 50 anos na quinta-feira. O fim da ditadura de 48 anos (1926-1974), a mais longa da Europa, trouxe liberdade e comprovou como a democracia melhorou os índices de um país considerado atrasado e pobre, como revelou o banco de dados Pordata, num estudo inédito.
“Em 1970, um em cada quatro portugueses (25,6%) era analfabeto. Em 2021, a taxa de analfabetismo era de 3,1%. Cerca de 68% das casas não tinham chuveiro, 53% não tinham água canalizada e 42% não tinham instalações sanitárias, números que se inverteram quase totalmente”.
Segundo um trecho do livro “A Revolução Gentil”, que será lançado em maio pelo escritor Ricardo Viel, mais de um terço da população vivia sem luz elétrica. Havia cerca de 30 mil presos políticos e entre 7 a 10 mil livros censurados. Só em Lisboa, 90 mil pessoas (mais de 10% da população à época) vivam em cerca de 18,5 mil barracas Eram os “bairros de latas”, ou simplesmente favelas.
Ali viviam milhares de mulheres, relegadas pela ditadura ao papel de submissas ao homem por imposição de um Código Civil do século XIX. Elas e seus filhos foram as primeiras a ocupar casas e só depois permitiam a entrada dos homens. Também ganharam direito ao voto.
— O homem era o chefe e a mulher lhe devia obediência, como mandava o Código. Isso desapareceu com o 25 de Abril. Mulheres que viviam nas favelas foram com seus filhos para casas ocupadas e depois chamaram os maridos. Fábricas com mão de obra feminina aderiram às greves. Houve um pacto universal para mudar a família e a sociedade. Alterar a mentalidade demorou mais. Mas o fato era que, de repente, tínhamos as leis mais avançadas da Europa — lembrou Rita, pseudônimo de Irene Flunser Pimentel, que uma vez livre da opressão, virou escritora e historiadora especialista na ditadura.
Não houve banho de sangue, mas quatro pessoas morreram na revolução. Segundo Pimentel, todas as vítimas foram assassinadas pela PIDE. A tomada do poder foi organizada pelos militares, que planejavam entregar o comando para a sociedade civil, como de fato aconteceu. O 25 de Abril suave pôs cravos nos canos das armas, imagem atraiu o “turismo da Revolução”, levando a Portugal o colombiano Gabriel Garcia Márquez, o francês Jean-Paul Sartre e o alemão Heinrich Böll, três vencedores do Prêmio Nobel de literatura. E também Sebastião Salgado, Simone de Beauvoir e muitos outros renomados escritores, jornalistas, fotógrafos e cineastas.
— Foi a época do ‘turismo vermelho’. Havia voos fretados da Europa em rota contínua. Lembro que passei a atuar como uma guia informal, não formada, porque estudei no Liceu Francês e sabia falar outros idiomas. O que eu fazia como Rita, na clandestinidade, passei a fazer em liberdade, ao ar livre — conta a historiadora.
Hoje, Portugal respira os 50 anos do 25 de Abril, o que traz à tona o debate em torno da criação de uma rota turística oficial sobre a Revolução dos Cravos para preservar e promover locais históricos.
— A revolução é pouco explorada em termos turísticos. Se em 1974 muita gente veio conhecer o país que tinha derrubado uma ditadura com uma revolução pacífica, hoje pouco se fala disso para os milhões de turistas que todo ano visitam Lisboa — lamenta Viel: — As iniciativas do poder público são tímidas e mal-feitas. Desafio qualquer pessoa a ir à Praça do Comércio e achar alguma referência, uma placa ou busto, sobre o que aconteceu lá no dia 25 de Abril de 1974. Visitar o quartel da Pontinha, onde foi o Posto de Comando do Movimento das Forças Armadas, é fazer uma viagem no tempo (e nem todas são boas). Tudo o que está lá parece que foi feito nos anos 80 e nunca mais foi tocado.
Ultradireita em alta
Para a historiadora, uma rota dos Cravos seria também uma maneira de rebater o saudosismo fascista que tem ocupado ruas e redes sociais. Principalmente com grupos organizados para idolatrar a figura do ditador António de Oliveira Salazar, que ingressou no governo em 1928, criou o Estado Novo em 1933 e comandou o país com mão de ferro até morrer, em 1970.
— Mesmo com dados que provam como a democracia só fez bem, há quem defenda que na ditadura de Salazar é que era bom. É reflexo de um processo que começou com as eleições de Donald Trump e Jair Bolsonaro e liberou as pessoas da vergonha que tinham de dizer o que pensavam. Em Portugal culminou no partido Chega — diz Pimentel, que também faz um alerta para o simbolismo de ter 50 deputados da ultradireita do Chega eleitos para o Parlamento justamente nos 50 anos da retomada da democracia: — O Parlamento é a principal instituição da democracia e a vontade deles é destruir a democracia.
Uma pesquisa do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa e do Instituto Universitário de Lisboa para o semanário “Expresso” e para a rede SIC revelou que 35% dos simpatizantes do Chega dizem que Portugal está pior do que na ditadura. Embora a maioria das pessoas ouvidas acredite que a vida esteja melhor, também considera que a criminalidade e a corrupção pioraram. Outro alerta da pesquisa: 34% preferem ter um líder forte e alçado ao poder sem eleições democráticas.
Em um jantar oferecido na segunda-feira em Lisboa a jornalistas estrangeiros, o presidente Marcelo Rebelo de Sousa afirmou que a transição pacífica do 25 de Abril é um orgulho. E ressaltou que a população percebe os benefícios que a democracia trouxe.
— Neste momento, apesar de ainda existirem dois milhões na pobreza, das desigualdades e da falta de coesão territorial, os portugueses sentem que estão vivendo um momento sem sobressaltos econômicos. As ajudas do governo acomodaram a situação social e a sensação é de razoável estabilidade política.
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"Resumo sobre democracia
Democracia é a prática que garante aos cidadãos o poder de participação nas decisões políticas de seu país.
Originou-se na Grécia Antiga, no entanto, na época, cidadãos eram um grupo reduzido de pessoas, excluindo-se mulheres e escravizados, por exemplo.
Há três tipos de democracia: direta, representativa e participativa.
A Inglaterra é um exemplo de monarquia democrática, exercendo o tipo representativo, e a Suíça é um exemplo de democracia participativa.
O conceito de democracia foi bastante ampliado desde sua origem, e, mais recentemente, sofreu alterações com base nos ideais do iluminismo e após a Revolução Francesa.
Democracia e ditadura são termos que se opõem e se anulam. Onde uma está, não pode haver a outra. Vários aspectos garantem a distinção desses dois estados, sendo: eleições idôneas, acesso à informação e liberdade de associação política alguns deles.
No Brasil, a democracia sempre esteve oscilando, com vários golpes de Estado praticados ao longo da nossa formação enquanto nação."
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Coutinho foi professor emérito da Escola de Serviço Social da UFRJ.. Foto: Eneraldo Carneiro / Fórum UFRJ.
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A democracia como valor universal
POR CARLOS NELSON COUTINHO
O filósofo, tradutor e um dos principais especialistas na obra de Gramsci, Carlos Nelson Coutinho, nasceu neste dia em 1943. Em sua homenagem, publicamos seu clássico artigo em que explica por que a democracia não é um princípio tático, mas um valor estratégico permanente para a realização de uma nova sociedade socialista.
Aquestão do vínculo entre socialismo e democracia marcou sempre, desde o início, o processo de formação do pensamento marxista; e, direta ou indiretamente, esteve na raiz das inúmeras controvérsias que assinalaram e assinalam a história da evolução desse pensamento. Não se deve esquecer que Marx, antes de empreender a sua monumental crítica da economia política, já havia esboçado em suas obras juvenis os pressupostos de uma crítica da política, de uma crítica da democracia representativa burguesa; e que Engels chegou ao fim da vida preocupado com as novas condições que a conquista do sufrágio universal (da ampliação da democracia) colocava ao movimento operário socialista.
Por outro lado, a questão do valor universal da democracia está na base não apenas das polêmicas entre “revisionistas” e “ortodoxos”, na virada do século, mas reaparece igualmente entre os principais representantes da esquerda marxista na época imediatamente subseqüente à Revolução de Outubro: basta aqui recordar a polêmica entre Rosa Luxemburgo, por um lado, e Lênin e Trotski, por outro, acerca da conservação de certos institutos democráticos sob o governo proletário que surgira daquela Revolução.
E, se hoje se generaliza entre os marxistas ocidentais a rejeição do “modelo soviético” como modelo universal de socialismo, isso resulta em grande parte de uma diversa concepção do vínculo socialismo-democracia por parte desses marxistas. Concepção que Enrico Berlinguer sintetizou expressivamente no discurso que pronunciou em Moscou, em 1977, por ocasião do 60° aniversário da Revolução de Outubro:
“A democracia é hoje não apenas o terreno no qual o adversário de classe é obrigado a retroceder, mas é também o valor historicamente universal sobre o qual fundar uma original sociedade socialista”.
Essa universalidade não deve ser concebida apenas num sentido teórico; o valor da democracia não se limita a áreas geográficas. Pois se há por sua vez algo de universal nas reflexões teóricas na prática política do que é hoje chamado de eurocomunismo, esse algo é precisamente o modo novo — um modo dialeticamente novo, não uma novidade metafisicamente concebida como ruptura absoluta — de conceber essa relação entre socialismo e democracia.
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“Essa visão estreita se baseia, antes de mais nada, numa errada concepção da teoria marxista do Estado, numa falsa e mecânica identificação entre democracia política e dominação burguesa.”
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Uma prova dessa universalidade são as acesas polêmicas que têm hoje lugar entre as forças progressistas brasileiras, envolvendo o significado e o papel da luta pela democracia em nosso país. Pode-se facilmente constatar nesse sentido, a presença de diferentes e até mesmo contraditórias concepções de democracia entre as correntes que se propõem representar os interesses populares e, em particular, os das massas trabalhadoras. Trata-se de um fato normal e saudável, contanto que não se perca de vista a necessidade imperiosa de acentuar — na presente conjuntura — aquilo que une a todos os oposicionistas, ou seja, a luta pela conquista de um regime de liberdades político-formais que ponha definitivamente termo ao regime de exceção que, malgrado a fase de transição que se esboça, ainda domina em nosso país.
Não creio que nenhuma formação popular responsável ponha hoje em dúvida a importância dessa unidade em torno da luta pelas liberdades democráticas tais como essas são definidas. Todavia, há correntes e personalidades que revelam ter da democracia uma visão estreita, instrumental, puramente tática; segundo tal visão, a democracia política — embora útil à luta das massas populares por sua organização e em defesa dos seus interesses econômico-corporativos — não seria mais, em última instância e por sua própria natureza, do que uma nova forma de dominação da burguesia, ou, mais concretamente, no caso brasileiro, dos monopólios nacionais e internacionais.
Essa visão estreita se baseia, antes de mais nada, numa errada concepção da teoria marxista do Estado, numa falsa e mecânica identificação entre democracia política e dominação burguesa. Mas implica, em segundo lugar, ainda que por vezes implicitamente, uma concepção equivocada das tarefas que se colocam atualmente ao conjunto das forças populares brasileiras: essas tarefas não podem ser identificadas com a luta imediata pelo socialismo, mas sim com um combate árduo e provavelmente longo pela criação dos pressupostos políticos, econômicos e ideológicos que tomarão possível o estabelecimento e a consolidação do socialismo em nosso país.
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“Tendo sempre combatido, desde sua juventude, as interpretações redutoras e economicistas do marxismo, Lênin não podia negar a autonomia relativa das superestruturas no seio da totalidade social.”
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Nosso objetivo, no presente artigo, é esboçar sumariamente — muito mais levantando questões do que propondo respostas sistemáticas — os tópicos essenciais dessas duas ordens de questões. Em primeiro lugar, tentaremos indicar como o vínculo socialismo-democracia é parte integrante do patrimônio categorial do marxismo; e, em segundo, mostraremos como a renovação democrática do conjunto da vida nacional — enquanto elemento indispensável para a criação dos pressupostos do socialismo — não pode ser encarada apenas como objetivo tático imediato, mas aparece como o conteúdo estratégico da etapa atual da revolução brasileira.
https://jacobin.com.br/2023/06/a-democracia-como-valor-universal/
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A invenção da democracia como valor universal, de Marco Mondaini
"No centenário de Enrico Berlinguer, este livro analisa a contribuição do líder do Partido Comunista Italiano (PCI) ao debate político contemporâneo. Ao tratar do comunismo democrático italiano nos anos 1970 e 1980, Marco Mondaini toca em temas da maior atualidade. Por exemplo, como organizar a luta pelo comunismo de modo indissociável da busca de democracia? Como incorporar à pauta socialista as lutas sociais que não se reduzem às reivindicações de classe? Como evitar retrocessos como o ocorrido no Chile após a queda de Allende?"
Marcelo Ridenti
Unicamp
https://www.alamedaeditorial.com.br/democracia-como-valor-universal-de-marco-mondaini
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Democracia como Valor Universal: Rumo a uma Prática Política Futurista no Brasil
No horizonte da evolução política do Brasil, vislumbra-se um ideal onde a democracia não é apenas um sistema de governo, mas sim um valor universal, enraizado nas mentes e corações de todos os cidadãos. A democracia transcende a mera participação nas decisões políticas; ela se torna um princípio orientador, uma filosofia de vida que permeia todas as esferas da sociedade.
Originária na Grécia Antiga, a democracia evoluiu ao longo dos séculos, alargando-se para além das fronteiras inicialmente delineadas. No entanto, mesmo em sua forma mais pura, a democracia sempre enfrentou desafios. Na Grécia antiga, por exemplo, a participação política estava reservada a uma elite, excluindo mulheres, escravizados e outros grupos. Hoje, à luz dos ideais do iluminismo e da Revolução Francesa, entendemos que a verdadeira democracia deve ser inclusiva e abrangente, garantindo a participação de todos os membros da sociedade, sem discriminação.
No Brasil, essa visão democrática enfrentou obstáculos ao longo de sua história, com oscilações entre períodos democráticos e autoritários. No entanto, é possível projetar um futuro onde a democracia se consolida como um valor universal, arraigado na consciência coletiva do país. Para alcançar esse ideal, é essencial superar os desafios e fortalecer os pilares fundamentais da democracia.
Um desses pilares é a realização de eleições idôneas, livres de manipulação e influência indevida. O Brasil deve garantir a transparência e integridade do processo eleitoral, assegurando que a vontade popular seja verdadeiramente expressa nas urnas. Além disso, é fundamental promover o acesso à informação e a liberdade de expressão, garantindo que os cidadãos tenham os recursos necessários para tomar decisões políticas informadas.
Outro aspecto crucial é a promoção da participação ativa da sociedade na tomada de decisões. A democracia participativa, exemplificada por países como a Suíça, deve ser um modelo a ser seguido. Nesse sistema, os cidadãos têm a oportunidade de se envolver diretamente no processo político, seja através de plebiscitos, referendos ou outras formas de consulta popular. No Brasil do futuro, a voz do povo deve ser ouvida e respeitada em todos os níveis de governo.
No entanto, para que a democracia se torne um valor universal no Brasil, é necessário um compromisso contínuo com a justiça social e a igualdade. Devemos combater todas as formas de discriminação e garantir que todos os cidadãos tenham igualdade de oportunidades e acesso aos recursos necessários para prosperar.
Em última análise, a democracia como valor universal no Brasil não é apenas um sonho utópico, mas sim um objetivo alcançável. Com determinação e compromisso, podemos moldar um futuro onde a democracia não é apenas um sistema político, mas sim o alicerce sobre o qual nossa sociedade é construída. É hora de olhar para frente e trabalhar juntos para tornar esse ideal uma realidade palpável.
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Luiz Carlos Azedo - Lula manda Casa Civil se entender com Lira
Correio Braziliense
Mas o governo se dispõe a manter apenas R$ 2 bilhões dos R$ 5,6 bilhões de emendas de comissão, que substituíram o chamado orçamento secreto
Na tarde desta terça-feira, o ministro da Casa Civil, Rui Costa, deixou o Palácio do Planalto para conversar com o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), no seu gabinete no Congresso. Chegou pela chapelaria, pegou o elevador privativo dos deputados, cruzou o cafezinho, circundou o plenário e entrou direto no gabinete, pela porta que dá acesso direto ao plenário, a mesma que outrora foi do comitê de imprensa. Não falou com ninguém pelo caminho. A conversa durou meia hora e não chegou a lugar nenhum.
Costa levou 479 dias para descer do pedestal de homem forte do Palácio do Planalto e atravessar a Praça dos Três Poderes para fazer política na Câmara, tarefa que cabe, principalmente, ao ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, com quem o santo de Lira nunca bateu. Costa segue a orientação do presidente Lula, que cobrou de seus ministros, inclusive do vice-presidente Geraldo Alckmin e do titular da Fazenda, Fernando Haddad, mais empenho nas conversas com deputados e senadores.
Depois da trombada entre Lira e Padilha, o governo perdeu a interlocução eficaz com quem manda na pauta da Câmara. Lula tenta restabelecer essas relações, minimiza o conflito e manda seus ministros conversarem com suas respectivas bancadas. Partidos como PP, União Brasil, Republicanos e PSD têm ministros no governo, mas a maioria de seus deputados segue a orientação do presidente da Câmara, e não de seus correligionários na Esplanada.
Costa ocupa o posto político mais importante da equipe ministerial, com a experiência de quem foi governador da Bahia por dois mandatos e elegeu o seu sucessor. Lida, porém, com uma realidade muito mais complexa, ocupa o vértice do sistema de alianças do governo, logo abaixo de Lula, mas não consegue coordenar os ministros politicamente. Além disso, sua relação com Padilha não é de sintonia fina.
Somente 1% das emendas parlamentares previstas para 2024 haviam sido liberadas pela Casa Civil, o equivalente a R$ 439 milhões, até 12 de abril deste ano. O jogo duro feito por Rui Costa na liberação dessas emendas, além de tirar o tapete de Padilha, foi um tiro pela culatra. Na semana passada, Costa endureceu ainda mais o jogo e liberou R$ 2,4 bilhões em emendas, mas privilegiou PT, MDB e PSD, que receberam mais da metade do valor empenhado: R$ 1,3 bilhão.
O PP, partido de Lira, ficou em 10º lugar entre os que mais tiveram emendas liberadas, apesar de ser a quarta maior bancada na Câmara e a sexta maior no Senado. Deu ruim, porque Lira resolver pôr na pauta da Câmara os projetos de interesse da oposição e passou a fazer corpo mole para aprovar a regulamentação da reforma tributária. Pisou nos calos inflamados do governo.
Derrubada de vetos
O mais dolorido é a ameaça de derrubada dos 35 vetos de Lula às emendas ao Orçamento, que serão apreciados hoje pelo Congresso, no valor total de R$ 17 bilhões. Costa disse a Lira que o governo se dispõe a manter apenas R$ 2 bilhões dos R$ 5,6 bilhões de emendas de comissão, que substituíram o chamado orçamento secreto. Lira pleiteia R$ 3,6 bilhões de emendas de comissão e mais R$ 1,7 bilhão das emendas parlamentares da Câmara. Não houve acordo, mas a negociação continua.
Outra dor de cabeça para o Palácio do Planalto é a PEC do novo benefício salarial para juízes, magistrados, promotores e defensores a cada cinco anos de serviço público. Estudo da consultoria do Senado estima um impacto de quase R$ 82 bilhões aos cofres públicos entre 2024 e 2026, caso seja aprovada pelo Congresso da maneira como passou na CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) do Senado, porque atinge todo o sistema judiciário, inclusive nos estados.
O governo tenta mitigar o projeto, em negociações com o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), que tem boa relação com o Planalto, mas também tem uma agenda conservadora, muito influenciada pelo senador Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), seu principal aliado, que preside a CCJ e pretende voltar ao comando do Senado.
Aparentemente, para Lula, caiu a ficha de que o Congresso atual não tem nada a ver com o parlamento dos dois primeiros mandatos. É mais parecido com o Congresso que se relacionou com a ex-presidente Dilma Rousseff, que sofreu um processo de impeachment no segundo mandato. No café da manhã com jornalistas, nesta terça-feira, Lula reconheceu a nova realidade:
“Não é o presidente do Senado que precisa de mim. Não é o presidente da Câmara que precisa de mim. Quem precisa deles é o presidente da República, é o Poder Executivo. Cada um tem uma função. Nós temos a nossa função. E quem aprova o Orçamento da União são eles. Quem aprova os projetos de lei são eles. Então, é o governo que precisa ter o cuidado de manter a relação mais civilizada possível, tanto com a Câmara quanto com o Senado.”
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O governo brasileiro está enfrentando dificuldades políticas, com destaque para a falta de diálogo eficaz entre a Casa Civil e o presidente da Câmara, Arthur Lira. O ex-presidente Lula está intervindo para restabelecer as relações e instruiu seus ministros a se aproximarem dos parlamentares.
O ministro da Casa Civil, Rui Costa, recentemente começou a se envolver mais ativamente na política da Câmara, seguindo as ordens de Lula. No entanto, a relação entre Costa e o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, não é harmoniosa.
As emendas parlamentares têm sido uma questão de disputa, com o governo liberando apenas uma parte delas e privilegiando certos partidos, o que desagradou Arthur Lira e o PP. Além disso, o Congresso ameaça derrubar os vetos de Lula às emendas ao Orçamento, o que poderia gerar mais conflitos.
Outro ponto de tensão é a PEC que propõe um novo benefício salarial para juízes, magistrados, promotores e defensores. O governo tenta negociar com o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, para mitigar os impactos financeiros da proposta.
Lula reconhece a importância de manter uma relação civilizada com o Congresso, pois é lá que são aprovados o Orçamento e os projetos de lei. Ele enfatiza que o governo precisa da colaboração dos parlamentares para avançar com sua agenda.
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Do empírico ao concreto no interior do materialis...
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No contexto do Brasil contemporâneo, onde a democracia é tanto um ideal quanto um desafio em constante evolução, os eventos políticos descritos por Luiz Carlos Azedo no artigo "Lula manda Casa Civil se entender com Lira" lançam luz sobre as complexidades e nuances da prática política. Enquanto o texto anterior reflete sobre a democracia como um valor universal e um objetivo a ser alcançado, as interações entre os atores políticos na vida cotidiana do país fornecem um retrato empírico e concreto dos desafios enfrentados nesse caminho.
A narrativa de Azedo destaca a dinâmica entre o governo, representado pelo ministro da Casa Civil Rui Costa, e o Congresso, personificado pelo presidente da Câmara, Arthur Lira. Essa interação ilustra como a democracia não é apenas um conceito abstrato, mas uma realidade vivida por indivíduos e instituições com interesses diversos e, por vezes, conflitantes.
Ao descrever a jornada de Rui Costa do Palácio do Planalto até o gabinete de Arthur Lira, o texto nos coloca no centro da ação, revelando os detalhes da negociação política e os obstáculos enfrentados no processo de tomada de decisões. Da mesma forma, a análise das disputas em torno das emendas parlamentares e da PEC do benefício salarial para profissionais do judiciário fornece uma compreensão mais profunda das forças em jogo na arena política brasileira.
A conexão entre os dois textos nos permite entender a democracia não apenas como um ideal a ser perseguido, mas como um processo contínuo de negociação, compromisso e luta pelo poder e pela representação. Enquanto o primeiro texto nos convida a sonhar com um futuro onde a democracia é verdadeiramente universal, o segundo nos lembra das realidades e desafios da política cotidiana, onde esses ideais são testados e moldados pelas circunstâncias do momento presente.
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Vieses do primeiro texto ("Democracia como Valor Universal: Rumo a uma Prática Política Futurista no Brasil"):
Idealismo: O texto retrata a democracia como um valor universal a ser alcançado, enfatizando sua importância como um ideal aspiracional para a sociedade brasileira.
Abstração: Foca principalmente nos conceitos e princípios da democracia, sem mergulhar profundamente nas complexidades da política concreta e das interações entre os atores políticos.
Vieses do segundo texto (Artigo de Luiz Carlos Azedo):
Realismo político: O texto oferece uma visão concreta e pragmática da política brasileira, destacando os eventos e interações entre os atores políticos no cenário nacional.
Foco na prática: Enfatiza a importância das negociações políticas, das disputas de poder e dos interesses divergentes dos diferentes atores políticos, em contraste com uma abordagem mais idealizada da democracia.
Vieses do terceiro texto (Elaborado a partir do cotejamento dos dois textos citados):
Síntese entre idealismo e realismo: Combina os ideais democráticos universais do primeiro texto com as realidades políticas concretas descritas no segundo texto, reconhecendo tanto os objetivos aspiracionais quanto os desafios pragmáticos da democracia no Brasil.
Conexão entre teoria e prática: Destaca a importância de compreender tanto os princípios abstratos quanto as dinâmicas políticas reais na busca por uma democracia mais eficaz e inclusiva.
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O termo "vieses" refere-se a tendências, inclinações ou direcionamentos que influenciam a forma como uma informação é percebida, interpretada ou apresentada. Esses vieses podem ser conscientes ou inconscientes e geralmente refletem as crenças, valores, experiências e perspectivas individuais ou coletivas de quem os possui.
No contexto aqui apresentado, os vieses foram empregados para descrever as diferentes abordagens ou perspectivas adotadas nos textos analisados. Cada texto apresenta uma maneira particular de abordar o tema da democracia, com ênfase em aspectos ideais, concretos ou uma combinação de ambos. Identificar os vieses nos textos ajuda a entender como diferentes autores enxergam e comunicam uma determinada questão, fornecendo insights sobre suas motivações, valores e objetivos.
O estudo sobre a democracia abordado por meio de dois textos distintos nos oferece uma visão abrangente e multifacetada desse conceito complexo. Enquanto o primeiro texto reflete sobre a democracia como um valor universal e um ideal aspiracional, o segundo texto nos apresenta a realidade política concreta, destacando os desafios e nuances da prática democrática no Brasil contemporâneo. Ao cotejar essas perspectivas, podemos compreender melhor tanto os princípios abstratos quanto as dinâmicas políticas reais que moldam a democracia. Neste contexto, surge a necessidade de uma síntese entre idealismo e realismo político, reconhecendo tanto os objetivos aspiracionais quanto os desafios pragmáticos na busca por uma democracia mais eficaz e inclusiva. Este estudo nos convida a refletir não apenas sobre os ideais democráticos, mas também sobre as complexidades da política cotidiana e as interações entre os atores políticos que moldam nosso sistema político.
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Em seu texto, DaMatta reflete sobre sua experiência na Europa, contrastando elementos culturais e sociais entre o Brasil e o continente europeu. Ele destaca a ausência do autoritarismo tão comum no Brasil, representado pela frase "você sabe com quem está falando?", e como isso contrasta com a atmosfera mais igualitária encontrada na Europa.
Ao descrever sua vivência na Europa, DaMatta destaca a riqueza cultural e histórica do continente, bem como sua relação peculiar com a natureza, simbolizada pelos parques e zoológicos. Ele também observa a presença de normas sociais mais igualitárias, onde as particularidades individuais são deixadas de lado em prol de um convívio mais harmonioso.
No entanto, DaMatta também expressa sua surpresa ao encontrar em Dublin uma moda mais casual e esportiva, contrastando com a imagem de elegância associada à Europa. Essa observação o leva a questionar se ainda está no mesmo continente. No entanto, ao chegar em Lisboa, ele se reconecta com uma imagem mais tradicional e familiar da Europa, simbolizada pelo uso de sapatos.
Essa jornada pessoal de DaMatta pela Europa revela as complexidades e contradições de um continente marcado pela diversidade cultural e social, mas também pela persistência de valores tradicionais e arraigados. É um convite à reflexão sobre as diferenças e semelhanças entre culturas e sociedades, bem como sobre as transformações que ocorrem ao longo do tempo e do espaço.
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Roberto DaMatta - Um estranho na Europa
O Globo
O que mais me impactava era a ausência do antipático “você sabe com quem está falando?”, tão autoritário quanto trivial no Brasil
A força da saudade dos descendentes nos leva à Europa. Esse continente matriz de artes, letras, ciências e ideologias. De maneiras de falar, comer, vestir, andar, pensar e — lembro com um lamento — matar racionalmente em larga escala como dever patriótico em guerras. Barbaridades lidas como uma arte, conforme essa Europa realizou ao longo do aprendizado de muitos conflitos e de duas guerras mundiais.
Voltemos, todavia, ao roteiro sentimental, para lembrar que foi no continente europeu que se consolidou a oposição do “ir para a rua” ou “ficar em casa”, pois, nas suas esplendorosas urbes, descobriu-se que os elos sociais se abriam em relações primárias, íntimas e próximas, e secundárias. Nelas, surge um hóspede não convidado: o ser anônimo que, entre outros, Edgar Allan Poe capturou no conto William Wilson, em 1839, por meio de um personagem desconfiado de sua identidade, essa marca da convivência urbana. Esse estar fisicamente próximo, mas social e emocionalmente distante, quando compartilhamos cabines e poltronas de transporte público, cinema e teatro — ou comemos num restaurante, ao lado de ilustres desconhecidos.
Não deve ter sido por acaso que foi nas grandes cidades europeias, especialmente em Paris, que o anonimato aliou-se ao individualismo e, com ele, ao igualitarismo tocado a ideologia e industrialização — essas dimensões essenciais da democracia e da produção em massa de coisas iguais. Sobretudo de cidadãos, moradores de cidades!
Foi numa Paris de 1968 que eu, repetindo a experiência americana, fui viver a realidade dessa Europa. Desse universo de ruínas, castelos, mansões, edifícios e casas, coalhado, porém, de jardins e parques transbordantes de vegetação. Espaços verdes que tipificam esse mundo europeu de interiores atapetados, e também de uma “natureza” claramente simbolizada pelas florestas domesticadas, em que o desbravador-citadino explora com segurança e encantamento essa transformação da natureza em mais um objeto de consumo.
Agora, repeti a experiência de um estranho na Europa, na Irlanda e em Portugal, onde fomos rever, repito, entes queridos. Revimos como os parques sinalizam um pacto de paz com a floresta, do mesmo modo que o zoológico realiza com os animais, sobretudo os mais ferozes que, enjaulados, podem ser vistos por todos nós. Foi nessa experiência nascida na Europa que aprendemos a conviver com desconhecidos, aproximados a cada um de nós pelos códigos da cidadania. Essas regras que dispensam as particularidades domésticas e físicas que hierarquizam, marcadas por senioridade, gênero, afeto e respeito — a poltrona do papai, o feijão da Maria, o lugar de cada qual na mesa — ,para um espaço aberto de ocupação e pertencimento momentâneo, de acordo com a norma do “quem primeiro chega, primeiro é atendido” — regra modesta da fila e da democracia, não como pomposo regime de governo, mas como estilo de vida que produz bem-estar individual sem esquecer a solidariedade devida ao outro, lido como igual em direito a usar esses mesmos espaços.
Em 1968, tomei um banho de Europa. Participei de um Congresso de Americanistas (gente que estuda, admira e respeita costumes dos indígenas das Américas) na Alemanha, passando por Paris, Londres e Oxford. Vivi esses códigos igualitários que tratam e cuidam do outro no mundo público como alternado, não como superior ou inferior. O que mais me impactava era a ausência exemplar do antipático “você sabe com quem está falando?”, tão autoritário quanto trivial no Brasil.
Em todo lugar, testemunhei gente usando as roupas clássicas que também vestiam meu avô, tios e pai quando virei adulto independente. Roupas europeias que, apesar do calor tropical, definiam elegância e bom gosto. Essa foi a imagem de uma Europa dos anos 70 e 80.
Hoje, porém, eu, em Dublin, me confrontei abismado com bandos de homens e mulheres, bem como tribos de jovens, trajando vestes de academia de ginástica e calçados de tênis enormes. Será que estou no mesmo continente? Sim e não, porque, em Lisboa, viva, vejo gente que calça sapatos!" RESUMIR O TEXTO COMPREENSIVELMENTE
ChatGPT
No texto, Roberto DaMatta explora suas experiências na Europa, começando com uma reflexão sobre a ausência do autoritarismo e do privilégio associados ao Brasil, como o famoso "você sabe com quem está falando?". Ele discute como as grandes cidades europeias, como Paris, promovem o anonimato e o individualismo, mas também a coexistência pacífica entre desconhecidos, baseada em normas de cidadania e igualitarismo.
O autor reflete sobre a transformação da natureza em objetos de consumo e a convivência com desconhecidos em espaços públicos, marcada pela modéstia das filas e pela solidariedade. Ele compara sua experiência europeia dos anos 60 e 70, onde a elegância e o bom gosto eram características marcantes, com a atualidade, onde vê uma mudança nos padrões de vestimenta, especialmente em cidades como Dublin e Lisboa.
Em resumo, DaMatta destaca a evolução da Europa ao longo do tempo, desde suas características culturais e sociais até suas mudanças contemporâneas, proporcionando uma visão comparativa entre passado e presente.
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quinta-feira, 25 de abril de 2024
Luiz Carlos Azedo - "Vocês ainda vão sentir saudades do Sarney"
Correio Braziliense
Seu maior legado é a Constituição de 1988, que assegura as liberdades e os direitos sociais. Vale o registro de que Sarney estava disposto a apoiar o parlamentarismo
Era uma tensa reunião do Comitê Central do antigo Partido Comunista Brasileiro (PCB) para discutir a posição da legenda recém-legalizada, às vésperas das eleições de 1986. Uma ala desejava formar uma frente de esquerda e apoiar candidatos de oposição ao governo, mas prevaleceu a posição da cúpula da legenda, então sob a liderança de Giocondo Dias, um ex-cabo do Exército, que havia liderado a chamada Intentona Comunista em Natal (RN), em 1935, e sucedera o legendário Luiz Carlos Prestes, em 1980.
"Vocês ainda vão sentir saudades do Sarney", vaticinou Giocondo, ao defender a manutenção da política de frente democrática tecida pelos comunistas com os políticos liberais, durante o regime militar, e que levou à eleição de Tancredo Neves (MDB) no colégio eleitoral. Estava-se em meio à longa transição negociada com os militares, que aceitaram, contrariados, a derrota de Paulo Maluf (também não morriam de amores por ele). A alternativa descartada era uma frente com PDT, PT e PSB, leia-se, Leonel Brizola, Luís Inácio Lula da Silva e Miguel Arraes, respectivamente.
O MDB venceu de ponta a ponta as eleições, com exceção de Sergipe, onde o PFL elegeu o governador. Mas o PCB só conseguiu eleger três deputados: Roberto Freire (PE), Fernando Santana (BA) e Augusto Carvalho. Naquela curva da história, perdeu qualquer esperança de recuperar a posição que ocupava em 1964, quando era a força de esquerda do país.
Giocondo sempre foi grato ao ex-presidente Sarney por ter convocado a Constituinte e legalizado os partidos comunistas (PCB e PCdoB), em 10 maio de maio de 1985. Seu primeiro contato com Sarney na Presidência foi "armado" pelo dirigente comunista Regis Fratti, já falecido. Ele havia dito a Giocondo que Sarney queria se encontrar com ele e repetiu o expediente numa conversa com Roseana Sarney. Como os dois gostariam mesmo de conversar, o encontro aconteceu e proporcionou uma interlocução sincera entre ambos, a ponto de Sarney se considerar amigo de Giocondo. Por sua política reformista, o moderado PCB não era nem seria uma ameaça à democracia.
Ontem, José Sarney completou 94 anos, em boas condições de saúde para sua idade e, principalmente, lúcido. Lucidez à qual recorrem os políticos de suas relações nos momentos de confusão política em Brasília. Sua carreira começou em 1955, no ano seguinte ao suicídio de Getúlio Vargas, quando se tornou deputado federal. Foram três mandatos na Câmara. Depois, tornou-se governador do Maranhão, senador e presidente da República. Sua investidura na Presidência, após a morte de Tancredo, fechou um ciclo de 20 anos de ditadura militar. Depois, foi presidente do Senado por quatro vezes, ao longo de 39 anos e seis meses.
Sarney assumiu a Presidência da República sem ter participado da elaboração do programa de governo e da constituição do ministério de Tancredo, além de ter origem no PSD (partido que sucedeu a Arena, do qual foi presidente). Foram os fatores da permanente desconfiança política em relação ao presidente da República por parte da maioria das forças que apoiaram Tancredo. Durante seu mandato, enfrentou a pressão dos militares e, simultaneamente, a tutela de Ulysses Guimarães na Constituinte.
Legado social e político
Seu governo registrou 12 mil greves, o maior ascenso do movimento sindical da nossa história, a maioria liderada pelo PT. Numa delas, em Volta Redonda, Sarney teve que enfrentar uma crise séria, porque o Exército, ao reprimir os operários da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), matou três operários. Indexada pela correção monetária, o país vivia uma inflação real de 17% e uma ciranda financeira sem precedentes.
Mas todos os indicadores sociais melhoraram em seu governo, que fechou 1989 com uma taxa de desemprego de 2,59%, o que explica o número de greves. Na política externa, deixou como legado a aproximação com a Argentina, inclusive, com uma parceria nuclear, e a criação do Mercosul, com uma política externa independente, que levou ao restabelecimento das relações diplomáticas com Cuba e China.
Entretanto, seu maior legado é a Constituição de 1988, que assegura as liberdades e os direitos sociais. Nesse aspecto, vale o registro de que Sarney estava disposto a aprovar o parlamentarismo, desde que mantivessem os seis anos de seu mandato. O acordo não saiu porque Mario Covas, o grande líder do PSDB, não aceitou. Preferiu reduzir o mandato de Sarney para cinco anos e convocar eleições solteiras para a Presidência em 1989, como de fato ocorreu.
Olhando a história retrospectivamente, a sucessão de Sarney em 1989 surpreendeu a todos os atores políticos que o questionavam, derrotados por Fernando Collor de Mello, cujo governo resultou em mais inflação e na sua própria renúncia, para evitar o impeachment. O fracasso do Plano Cruzado, que havia proporcionado a vitória espantosa do MDB em 1986, foi carimbado como um "estelionato eleitoral" pelo ex-ministro da Fazenda Delfin Neto, o que jogou no chão a imagem do governo.
Essa expressão entraria para o nosso vocabulário político como uma espécie de maldição. Foi usada contra Collor de Mello, após o confisco da poupança, e contra Fernando Henrique Cardoso, após a reeleição, devido à crise cambial. Dilma Rousseff também foi acusada de trair seus eleitores após a reeleição, ao dar um cavalo de pau na "nova matriz econômica".
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Lei Rouanet da ditadura? Como 'Lei Disco É Cultura' ...
UOL
https://www.uol.com.br › splash › colunas › 2022/06/08
8 de jun. de 2022 — Já reparou nessa frase impressa em contracapas de discos de vinil? Era o nome de uma lei da ditadura que permitia gravadoras abater ICM.
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“Disco é Cultura” foi a Lei Rouanet da MPB
André Barcinski
27/04/2018 07h31
O assunto das leis estatais de incentivo cultural voltou à tona nos últimos tempos, devido a casos de mau uso de verbas em eventos culturais patrocinados com dinheiro público.
Outro dia, conversando sobre o assunto com um amigo, ele repetiu uma "verdade" que vejo circulando há um tempão: a de que a indústria do disco brasileira era tão poderosa nos anos 70 que não precisava de leis de incentivo.
A afirmação é equivocada. E a prova está na casa de qualquer um: é só pegar na estante de discos um vinil de qualquer artista brasileiro dos anos 70. Se na contracapa você encontrar a frase "Disco é Cultura", pode ter certeza: esse disco foi beneficiado por uma lei de incentivo estatal.
Criada em 1967, a lei permitia às empresas abater do ICM (Imposto de Circulação de Mercadorias) qualquer gasto com gravações de artistas nacionais. Os discos beneficiados recebiam o selo "Disco é Cultura".
A legislação foi criada, em teoria, para equilibrar a disputa entre gravadoras nacionais e internacionais. As nacionais reclamavam que as rivais gringas levavam vantagens competitivas, já que o custo de lançar discos estrangeiros era bem mais baixo, uma vez que elas não precisavam arcar com despesas de gravação ou de arte para a capa dos lançamentos internacionais, pois tudo vinha pronto do exterior. Apesar de o público brasileiro preferir música nacional (discos de artistas brasileiros representavam 60% a 70% da venda total no país), discos estrangeiros eram mais rentáveis, devido ao uso de matrizes prontas.
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Será que esses discos teriam saído se não fosse a lei do "Disco é Cultura"?
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O resultado da lei, no entanto, foi o oposto: ela acabou beneficiando as gravadoras estrangeiras, que passaram a usar o dinheiro que economizavam do ICM para contratar artistas brasileiros e, assim, aumentar seus elencos nacionais.
Um caso emblemático é o da Philips. Chefiada pelo esperto e competente André Midani, a gravadora tinha dois selos: o Philips, que reunia a nata da MPB – Elis Regina, Chico Buarque, Caetano Veloso, Jair Rodrigues, Maria Bethânia, Gal Costa, Gilberto Gil, Jorge Ben, Raul Seixas, Mutantes e Wilson Simonal, entre outros –, e o Polydor, de artistas mais "populares", como Tim Maia, Evaldo Braga, Odair José e Hyldon.
Apesar de ter em seu elenco quase todos os grandes astros da MPB (a grande exceção era Roberto Carlos, da CBS), a Philips perdia em vendas para suas concorrentes. Entre 1970 e 1972, a gravadora só emplacou um disco no "top 10" de cada ano: os compactos "José", de Rita Lee (oitavo lugar em 1970), "Só quero", de Evaldo Braga (nono lugar em 1971) e "Sua estupidez", de Gal Costa (nono lugar em 1972). Os primeiros lugares das paradas eram dominados pela CBS (Roberto Carlos, Johnny Mathis), RCA (Antonio Marcos, Os Incríveis) e Copacabana (Nelson Ned, Moacyr Franco).
Mesmo não vendendo tanto, a Philips sustentava um elenco caríssimo. E só conseguia isso graças à lei do "Disco é Cultura". O próprio André Midani me disse que a MPB só era "viável" à época por causa da legislação: "Se ela não existisse, a indústria teria sido completamente distinta. Haveria um estreitamento de orçamentos. Com o ICM, eu não tinha medo de investir em meus artistas".
Se o chefe da mais renomada gravadora do país no período diz que a MPB não seria viável sem a lei do " Disco é Cultura",fica a pergunta: como teria sido a cena musical brasileira dos anos 70 em diante, se não houvesse a tal lei?
Um ótimo feriadão a todos. O blog volta quarta, dia 2.... - Veja mais em https://blogdobarcinski.blogosfera.uol.com.br/2018/04/27/disco-e-cultura-foi-a-lei-rouanet-da-mpb/?cmpid=copiaecola
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