Inspirados já nos ensinamentos de Sófocles, aqui, procurar-se-á a conexão, pelo conhecimento, entre o velho e o novo, com seus conflitos. As pistas perseguidas, de modos específicos, continuarão a ser aquelas pavimentadas pelo grego do período clássico (séculos VI e V a.C).
segunda-feira, 1 de abril de 2024
12 LUSTROS
QUANTOS LUSTROS TERÁ?
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"Entre ambos, uma desconfiança mútua que só atrapalha a esperança de que possamos seguir adiante. Sem traumas, medos ou dívidas do passado."
Graúna, um dos personagens mais conhecidos e críticos criados por Henfil - Henfil
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1:55 / 1:18:43
1964: 60 anos do golpe | com Marcos Napolitano | 220
Fora da Política Não há Salvação
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30 de mar. de 2024 #PolíticaBrasileira #Militarismo #Política
O golpe militar de 1964 completa 60 anos neste 31 de março. Ou será no 1º de abril?
É momento oportuno para se refletir sobre o regime castrense, após 4 anos de um novo governo militar, liderado pelo "mau militar", pela "anormalidade" Jair Bolsonaro – nas palavras do ex-presidente da ditadura, general Ernesto Geisel.
Por vezes se denomina como "ditadura civil-militar" aquele período. Seria essa a forma mais adequada de denominar aquele regime autoritário?
Também é comum se apontar como elemento central daquela era uma divisão dos fardados em dois grupos antagônicos. De lado estaria a "linha branda", ou moderada, os castelistas, a Sorbonne. Doutro lado perfilaria a "linha dura", os radicais, a turma do porão. Costuma-se vincular a este segundo grupo a responsabilidade pelas torturas e pelas mortes e desaparecimentos forçados de opositores. Adviria dela também o núcleo duro castrense do governo bolsonarista – com destaque para o general Augusto Heleno, ex-ajudante de ordens do sanguinário general Sílvio Frota.
Mas essa divisão de fato se sustenta nos fatos históricos? Ou é preciso revisitar o período e aprimorar tal discussão?
Outro ponto que permite uma comparação entre aquele longo governo militar e o mais recente é a existência ou não de um projeto político consistente.
Se o governo Bolsonaro era uma balbúrdia destrutiva, as Forças Armadas de antanho claramente tinham um projeto, estruturado antes mesmo do golpe de 1964. Ele se consubstanciou não apenas na tomada e manutenção do poder durante duas décadas, mas em políticas públicas estruturantes e num modelo de Estado, dos quais temos sobrevivências ainda hoje, algumas positivas – como o Plano Nacional de Imunizações, a Embrapa e o sistema de pós-graduação –, outras claramente nefastas, como a violência das polícias militares, a ingerência fardada na politica civil e o atraso na educação fundamental.
Para pesarmos esses e outros temas, este #ForadaPolíticaNãoháSalvação recebe o historiador Marcos Napolitano, professor de História do Brasil Contemporâneo na USP e autor de diversas obras sobre o período, como "1964: a história do regime militar brasileiro" e "Coração Civil. A vida cultural brasileira sob o regime militar: 1964 a 1985. Ensaio Histórico".
As músicas deste episódio são "Khreshchatyk", de Dan Bodan, e "Tangled", de Emmit Fenn.
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Domingo, 31 de março de 2024
Antônio Nascimento* - 60 anos do golpe e ditadura militar
Presidente João Goulart (1961/1964), iniciou sua carreira política nacional, no segundo governo Vargas (1951/1954), como Ministro do Trabalho, afastado pelo Memorial dos Coronéis, em protesto pela correção do salário-mínimo, congelado durante todo o governo anterior. Eleito duas vezes, sucessivamente, Vice-presidente pelo voto direto da população, chegando à Presidência da República em virtude da renúncia do titular, ao desfecho de grave crise político-militar, que mobilizou a Nação em defesa da legalidade constitucional, pela posse do então substituto eleito.
Poderes mitigados pela emenda parlamentarista, votada pelo Congresso Nacional, e restabelecidos pela vontade popular em plebiscito. Durante mandato presidencial, extensão dos direitos da CLT aos trabalhadores rurais, criação do décimo-terceiro salario e amplo programa de reformas estruturais, na dependência da maioria conservadora no Congresso.
Permeado por crises políticas e militares, decretação de estado-de-sítio, revogada por resistência do Congresso e de componentes democráticos do próprio governo. Correlação de forças bastante desfavorável, acentuada pela influência do poder econômico, com financiamento de agências dos EUA, nas eleições gerais de 1962, cujo resultado fortaleceu forças conservadoras no Congresso e nas principais unidades da Federação.
Radicalização política artificial, grevismo do movimento sindical, indisciplina de militares subalternos fomentaram clima de golpe civil-militar e deposição do governo legal.
Súbito deslocamento de forças políticas levaram à implantação da ditadura, que durou 21 anos, ao arrepio das disposições constitucionais e da legalidade vigentes.
No plano externo, aguçamento da guerra fria em face da revolução cubana, que se colocou à margem do concerto de nações latino-americanas, exportou a luta armada, agregou-se imprudentemente ao sistema soviético, permitiu a instalação de mísseis nucleares em seu território, colocando o Mundo à beira de confronto com armas atômicas entre os EUA e a URSS, em 1962.
Política externa independente - da tradição diplomática brasileira - conflitava com hegemonia imperial dos EUA no subcontinente e grande parte do Mundo. Daí, o apoio político e militar à sedição golpista, através da Operação Brother Sam, maior deslocamento de unidades de combate dos EUA no Atlântico Sul, concomitante ao levante dos quartéis que derrubou o governo constitucional do Brasil.
Presidente João Goulart teve sabedoria política e patriotismo de não autorizar confronto militar, que levaria a guerra civil, riscos de internacionalização do conflito e ruptura da unidade nacional, maior conquista do povo brasileiro em quinhentos anos de história pátria, preferindo exilar-se no Uruguai, onde veio a falecer.
*O autor é Administrador, foi Secretário do Trabalho do governo de Pernambuco (1963/1964) e sindicalista.
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Vera Magalhães - Silêncio sobre o 31/3 expõe feridas do 8/1
O Globo
O que mais se ouve de quem participou da deliberação de que não haveria manifestações ‘dos dois lados’ é: ‘Para quê?’
O desconforto na esquerda e na academia com a decisão de Lula de não associar seu governo a atos alusivos aos 60 anos do golpe militar de 1964 é palpável. Embora no entorno do presidente se admita que essa divergência pode causar alguma decepção no eleitorado histórico e mais fiel a ele, a orientação será mantida e é defendida pelos aliados mais próximos. O que mais se ouve de quem participou de alguma forma da deliberação de que não haveria manifestações “dos dois lados” — nem das pastas ligadas aos diretos humanos nem das Forças Armadas — é: “Para quê?”.
Não se trata de minimizar a gravidade de um golpe que mergulhou o país numa ditadura de 21 anos capaz de transformar tortura, desaparecimentos e execuções em porões em política de Estado. Ninguém em sã consciência ou que debata com honestidade intelectual poderia, a partir de uma decisão de governo, achar que Lula ou o PT tergiversem quanto ao repúdio à ditadura militar.
É justamente o muito recente flerte do Brasil com um repeteco canhestro do golpismo de 60 anos atrás que explica e, a meu ver, justifica a decisão de não fazer na efeméride nenhum tipo de evento oficial. Caso houvesse solenidades referentes à data reunindo Lula e seus ministros, como seria possível evitar que, entre os militares, prevalecessem pressões pela defesa do que até hoje muitos fardados insistem em chamar de “revolução”?
Se há algo que se quer evitar neste momento, é mais convulsão na caserna. O aprofundamento das investigações a respeito do 8 de Janeiro e dos meses que transcorreram pouco antes e depois das eleições de 2022 mostra que o grau de contaminação das Forças Armadas pelo golpismo bolsonarista atingiu mais fortemente o alto escalão do oficialato do que se tinha a percepção enquanto o governo Bolsonaro ainda vigia.
Em português claro: bastaria que o comandante do Exército, general Freire Gomes, ou o da Aeronáutica, tenente-brigadeiro do ar Baptista Jr., tivessem aderido aos muitos planos que lhes foram insistentemente apresentados pelo presidente da República para que a manutenção da democracia brasileira se tornasse no mínimo duvidosa.
Esse grau de erosão do compromisso democrático entre os militares não foi atingido da noite para o dia, nem por geração espontânea. Tratou-se de projeto levado a cabo por Bolsonaro durante muito tempo, conquistando primeiro os generais da reserva e, a partir daí, se espraiando para as demais Forças e diferentes graus de hierarquia.
Não se faz o desmame das ideias golpistas da noite para o dia, e dar munição àqueles que gostam de instilar nos quartéis o sentimento antipetista e a teoria de que vem aí uma perseguição aos fardados não parece uma boa ideia. Como diz um ministro, é preciso fazer uma coisa por vez, e a prioridade incontornável é assistir à punição judicial e administrativa de todos aqueles que conspiraram contra as instituições e a democracia com o ex-presidente.
A apatia e a incredulidade que se abateram sobre as universidades, os historiadores, os partidos e os movimentos sociais diante de algo fácil de compreender à luz dos acontecimentos mostra uma dependência excessiva desses segmentos da condução estatal, algo surpreendente quando se pensa que comandaram a resistência nos anos em que a cultura, a academia e os direitos humanos ficaram à mercê dos ataques bolsonaristas.
Cabe a esses setores, bem como aos partidos de esquerda, lembrar os 60 anos do golpe e rememorar os horrores de um arbítrio que não teve nada de brando e que as novas gerações, à medida que o tempo passa, deixam de perceber em toda a sua gravidade.
Quanto ao governo, se conseguir devolver as Forças Armadas ao cumprimento estrito de seu dever constitucional, será uma grande contribuição para que o flagelo da ditadura com que Bolsonaro, para dizer o mínimo, flertou não se repita. Nunca mais.
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domingo, 31 de março de 2024
Luiz Carlos Azedo - Por quem os sinos dobram neste 31 de março
Correio Braziliense
Há um pacto de silêncio entre Lula e os comandantes militares, que proibiram as comemorações nos quartéis do golpe de 1964, enquanto golpistas prestam contas à Justiça
É preciso fugir ao senso comum e ao passado imaginário para ter um novo olhar sobre o dia 31 de março de 1964. O regime militar que ali se instalou somente se encerrou com a eleição de Tancredo Neves, em 1985, e a bem-sucedida transição à democracia presidida por José Sarney, cujo coroamento foi a promulgação da Constituição de 1988. Desde então, temos uma democracia representativa de massas, de caráter social-liberal. Não é pouca coisa a preservar.
Um velho amigo, o sociólogo Caetano Araújo, consultor do Senado, a propósito da polêmica sobre se o governo Lula deveria comemorar ou não o golpe de 1964, fez uma sensata separação entre a verdade e a Justiça, que não são mesma coisa, embora devam caminhar juntas. É verdade que os órgãos de segurança cometeram crimes hediondos, sobretudo no caso dos desaparecidos, mas a aprovacão da anistia em 1979, que não foi exatamente como os militares queriam, foi o grande pacto entre o governo e a oposição que deu início efetivo à ultrapassagem pacífica do regime autoritário.
Era a justiça possível, como correu em outras transições complexas da época. O Chile até hoje convive com uma constitucionalidade herdada do governo de Augusto Pinochet. O Uruguai promoveu um plebiscito que anistiou os militares. A Argentina puniu seus ditadores, depois do desastre das Malvinas, mas também motoneros e militantes do ERP envolvidos em crimes de sangue. Na África do Sul, sob liderança de Nelson Mandela, a Comissão da Verdade promoveu uma reflexão para que o passado do apartheid não se repetisse, não teve papel criminal.
Seguiram o rastro da Espanha, profundamente dividida desde a década de 1930. Após a morte de Franco, em meio à crise econômica e social, sem a mínima estrutura democrática, com apoio do rei Juan Carlos I, Adolfo Suarez abriu o diálogo entre esquerda, centro e direita. No Palácio la Moncloa, em 1977, em Madri, todos os partidos assinaram um pacto no qual predominava a preocupação econômica, mas que abarcava previdência, trabalho, liberdade, direito, energia, defesa e educação. A Espanha tornou-se uma democracia sólida, que sobreviveu à tentativa de golpe militar de 1981.
“Por quem os sinos dobram” (Bertrand Brasil), de Ernest Hemingway, que lutou como voluntário nas Brigadas Internacionais, é uma grande história de amor, tendo por referência a experiência pessoal do escritor na Guerra Civil Espanhola. Entretanto, narra a extrema violência das tropas de ambos os lados: os nacionalistas, auxiliados pelo governo italiano e nazista alemão, e os republicanos, apoiados pelas brigadas e a União Soviética. O livro é inspirado no poema “Meditações”, do pastor e poeta John Donne: “Quando morre um homem, morremos todos, pois somos parte da humanidade”. Empresta o título à coluna.
Mortos e desaparecidos
Sim, os sinos hoje dobram por 434 mortos e desaparecidos, vítimas do regime militar, a maioria dos quais na tortura ou executados em confrontos simulados com os órgãos de repressão. Mas também dobram por cerca de 119 mortos pelos grupos armados que se opuseram à ditadura. E quatro militantes de esquerda que foram executados pelos próprios companheiros. Não eram “cachorros”. Qualquer tentativa de ajuste de contas punitivo com esse passado é um equívoco. Isso não significa confinar essa memória ao culto doméstico dos familiares de mortos e desaparecidos.
A radicalização política que antecedeu o golpe de 1964 dividiu profundamente a sociedade, inclusive as classes sociais e as famílias. Nem tudo foi fruto da “guerra fria”. Havia, como há ainda, um ambiente de iniquidade social propício. E também uma visão de ambos os lados de que as coisas se resolveriam pela força bruta do Estado e não pela sociedade, por via democrática.
A esquerda deveria se perguntar: por que Juscelino Kubitscheck e Ulyssses Guimarães apoiaram o golpe? A resposta é simples: foram empurrados para os braços de Carlos Lacerda e Magalhães Pinto, que empunharam a bandeira da democracia contra o radicalismo de esquerda. Os militares deveriam também se perguntar: por que Juscelino e Ulysses passaram à oposição, logo após o golpe de 1964? Outra resposta simples: o regime cancelou as eleições e derivou para uma ditadura sanguinária.
Existe um fio de história que liga os acontecimentos de 1964 aos dias atuais, que passa pelas reformas de base na marra, a luta armada, o voto nulo, o não apoio a Tancredo Neves, a rejeição ao Plano Real e o fracasso do governo Dilma Rousseff: o voluntarismo e a frustração de esquerda porque a queda da ditadura não se confundiu com a revolução.
Outro fio de história liga a frustração dos militares que ingressaram na carreira quando era uma via de ascensão ao poder político, cuja recidiva se deu no governo Bolsonaro, à tentativa de golpe de 8 de janeiro da extrema direita bolsonarista, inspirada no passado imaginário do regime militar: a mentalidade de que às Forças Armadas cabe tutelar a nação, por representar “o povo em armas”.
A polêmica sobre a decisão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de não relembrar oficialmente o golpe militar de 31 de março de 1964 é fruto dessas vicissitudes históricas. De fato, há um pacto de silêncio entre Lula e os comandantes militares, que proibiram as comemorações nos quartéis, enquanto generais e outros oficiais golpistas prestam contas à Justiça comum, fato inédito na história.
Entretanto, a sociedade não está proibida de reverenciar seus mortos, como fizeram os professores da Faculdade de Direito de Niterói (UFF), ao propor o título de Doutor Honoris Causa ao seu ex-aluno Fernando Santa Cruz, sequestrado e assassinato em 1974, depois de diplomá-lo bacharel post mortem.
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Besta é Tu
Novos Baianos
Besta é tu! Besta é tu!
Besta é tu! Besta é tu!
Não viver nesse mundo
Besta é tu! Besta é tu!
Besta é tu! Besta é tu!
Se não há outro mundo
Porque não viver?
Não viver esse mundo
Porque não viver?
Se não há outro mundo
Porque não viver?
Não viver outro mundo
Besta é tu! Besta é tu!
Besta é tu! Besta é tu!
Não viver nesse mundo
Besta é tu! Besta é tu!
Besta é tu! Besta é tu!
Se não há outro mundo
Porque não viver?
Não viver esse mundo
Porque não viver?
Se não há outro mundo
Porque não viver?
Não viver outro mundo
E pra ter outro mundo
É preci-necessário
Viver!
Viver contanto
Em qualquer coisa
Olha só, olha o Sol
O maraca domingo
O perigo na rua
O brinquedo, menino
A morena do rio
Pela morena eu passo o ano
Olhando o rio
Eu não posso
Com um simples requebro
Eu me passo, me quebro
Entrego o ouro
Com a exceção
Que ela se derrete toda
Só porque eu sou baiano
Com a exceção
Que ela se derrete toda
Só porque eu sou baiano
Besta é tu! Besta é tu!
Besta é tu! Besta é tu!
Composição: Moraes Moreira / Pepeu Gomes / Luiz Galvão
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Lula, justo ele, não pode pedir que o país não se lembre.
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domingo, 31 de março de 2024
Míriam Leitão - O país que não sabe lembrar
O Globo
Dois golpes rondam o Brasil. Um precisa ser esclarecido, o outro tem que ser lembrado. E há um fio que liga os dois eventos
No dia 24 de maio de 2017, a Corte Interamericana de Direitos Humanos se reuniu em San José, na Costa Rica, para ouvir as partes no caso Vladimir Herzog. De um lado estava Clarice, uma mulher que insistia em lembrar. Do outro, o Estado brasileiro representado por servidores da Advocacia Geral da União (AGU) e um criminalista contratado, Alberto Toron, para defender a tese de que era preciso esquecer. Clarice estava ali para pedir punição ao Estado brasileiro pelo assassinato do seu marido, Vladimir Herzog, no II Exército. Advogadas da AGU interrogaram Clarice tentando fazê-la cair em contradição. Um pouco antes, Toron havia sustentado que “a coisa julgada não pode ser ofendida”, como se fosse caso encerrado. Clarice do plenário gritou: “não é nada disso, está tudo errado”.
O Brasil jamais condenou alguém pelo assassinato do jornalista Vladimir Herzog, nem qualquer responsável pelos outros mortos sob tortura, executados ou desaparecidos, portanto, nunca houve um caso encerrado.
Eunice Paiva também carregou, por todo o tempo que pôde, a bandeira de que era preciso lembrar. Seu marido, Rubens Paiva foi preso por oficiais da Aeronáutica, torturado até a morte na Polícia do Exército e seu corpo nunca apareceu. Crime continuado de ocultação de cadáver. Viúva com cinco filhos, Eunice decidiu enfrentar o regime. Cursou direito e se aliou à luta pela anistia.
Num roteiro tipicamente brasileiro, essa mesma Lei da Anistia, por caminhos tortuosos, virou o pretexto para impor o esquecimento sobre os crimes da ditadura. A interpretação até do STF é de que a lei perdoou também os crimes dos agentes do Estado. A ADPF 320, proposta pelo PSOL, em 2014, questiona essa interpretação, usando os princípios do direito internacional pelos quais crimes contra a humanidade são imprescritíveis. Essa ação está há uma década no STF, na gaveta do ministro Dias Toffoli.
O presidente Lula determinou silêncio oficial sobre o golpe de 64, que agora completa 60 anos. Disse que não se devia ficar remoendo o assunto porque isso faz parte do passado e ele está mais preocupado com o golpe de 8 de janeiro de 2023, e quer “tocar o país para frente”.
Lula confundiu todos os tempos. Dois golpes rondam o Brasil. Um precisa ser esclarecido, o outro tem que ser lembrado. E há um fio que liga os dois eventos. O ex-presidente Jair Bolsonaro defendeu a ditadura militar, mandou os quartéis comemorarem a data, inspirou seus seguidores a pedirem nas ruas um novo AI-5, homenageou torturadores, atraiu lideranças militares para um assalto às instituições. Desta forma foi preparado o atentado de 8 de janeiro com o objetivo de impedir que o presidente Lula assumisse. Lula, justo ele, não pode pedir que o país não se lembre.
No país dos esquecimentos, a ideia de Lula tem sido defendida por muita gente. A tese é de que os militares poderiam ficar melindrados, já que eles não vão comemorar o 31 de março, e caberia ao poder civil não lembrar o que houve. E, que, com a possibilidade de punição dos agentes da intentona recente, melhor esquecer o golpe que durante 21 anos vitimou a democracia brasileira.
É uma estranha distorção da realidade. Exatamente pelo que acabou de acontecer é preciso refletir muito mais sobre a recorrente intervenção dos militares na vida brasileira. Porque houve uma ameaça concreta de repetição da História é essencial fortalecer a democracia lembrando o horror que foram aqueles 21 anos. Os jovens que não viveram precisam saber, os mais velhos precisam lembrar. Nenhum país vira as costas para a própria História, sem o risco de cair no mesmo erro.
Clarice venceu aquele julgamento de 2017 e a Corte Interamericana de Direitos Humanos determinou que o Estado brasileiro julgasse e condenasse os responsáveis pela tortura e morte de Vladimir Herzog.
Naquela tarde, no tribunal, Clarice lembrou a saga de dona Zora, mãe do Vlado. “Eles eram judeus. Ela pegou todas as suas joias e entregou a um homem, um alemão que disse que a ajudaria a fugir da Iugoslávia com seu marido e filho. Mas o homem os deixou num hotelzinho e sumiu. A família teve que atravessar a fronteira a pé, ela com o filho nos braços.” Dona Zora chegou a uma conclusão trágica em outubro de 1975. “Salvei meu filho dos nazistas para ele morrer aqui”. Há no nosso passado histórias muito dolorosas. Lembrar é construir valores para o futuro.
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Eleições 2022
O que dizem as pesquisas eleitorais a um mês das eleições
Todos os candidatos que lideravam as pesquisas Datafolha divulgadas um mês antes de eleições presidenciais foram eleitos
Lula (PT) e Jair Bolsonaro (PL)
Lula (PT) e Jair Bolsonaro (PL)
Arte CNN
Da CNN
02/09/2022 às 17:34 | Atualizado 03/09/2022 às 13:30
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Um levantamento feito por Caio Junqueira e Ludmila Candal, da CNN, mostra que todos os presidenciáveis que lideravam a pesquisa de intenção de voto do Datafolha divulgada a um mês das eleições foram eleitos — desde o primeiro pleito após a redemocratização. No agregador de pesquisas CNN/Locomotiva, atualmente, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) aparece à frente, seguido pelo presidente Jair Bolsonaro (PL).
Os dados foram apresentados durante o quadro Arena Eleições na quinta-feira (1º).
Pesquisa Folha/Globo/Datafolha divulgada na quinta-feira (1º) mostra o ex-presidente Lula na liderança, com 45% das intenções de voto na corrida pelo Palácio do Planalto. Bolsonaro tem 32%, Ciro Gomes (PDT), 9%, e Simone Tebet, 5%. O primeiro turno das eleições acontece em 2 de outubro.
/ Arte CNN
A Datafolha divulgada a um mês do primeiro pleito, em 18 de outubro de 1989, apontava Fernando Collor (então do PRN) com 26% das intenções de voto. Leonel Brizola (PDT) e Lula apareciam com 15%.
/ Arte CNN
No primeiro turno, que aconteceu em 15 de novembro daquele ano, Collor (30%) e Lula (17%) foram escolhidos pelas urnas para disputar o segundo turno. Mais tarde, o candidato do PRN seria eleito, com 53% dos votos válidos.
Lula encontra “povos da floresta”, e Bolsonaro vai a feira agropecuária
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Ciro Gomes afirma que pretende auditar dívida pública se eleito presidente
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Ministro do TSE manda remover postagem que associava Tebet à morte de indígenas
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Em 29 de agosto de 1994 era divulgada uma pesquisa Datafolha para o pleito daquele ano. Fernando Henrique Cardoso (PSDB), alavancado pelo sucesso do Plano Real, aparecia com 44%; Lula, com 23%. O tucano seria eleito em primeiro turno, no dia 3 de outubro, com 54%.
/ Arte CNN
Quatro anos mais tarde, a Datafolha de 2 de setembro de 1998 mostrava FHC com 46% e Lula com 27%. Nas eleições, em 4 de outubro, FHC foi reeleito (53%). Caio Junqueira afirma que o pleito de 1998 — assim como o de 2006 e o de 2014 — é comparável ao de 2022, por ter um presidente em busca de recondução, com a máquina pública a seu favor.
/ Arte CNN
A Datafolha de 9 de setembro de 2002 mostrava Lula com 40%, e José Serra (PSDB) com 21%. Ambos foram para o segundo turno, com 46 e 23%, respectivamente. No confronto direto, o petista se elegeu com 61% dos votos válidos.
/ Arte CNN
Um mês antes do pleito de 2006, em 05 de setembro, Lula tinha 51% — alavancado pelo impacto do Bolsa Família —, e Geraldo Alckmin (PSDB), 27%. O petista (48%) e o tucano (41%) seriam escolhidos em 1º de outubro. Lula venceu o segundo turno, com 61%.
/ Arte CNN
Em 03 de setembro de 2010, a pesquisa mostrou Dilma Rousseff (PT) com 50% e José Serra com 20%.Eles receberam 46% e 32% dos votos, respectivamente, e foram ao segundo turno. A petista seria então eleita com 56%.
/ Arte CNN
Quatro anos depois, a Datafolha de 03 de setembro de 2014 mostrava Dilma com 35% e Marina Silva (PSB) com 34%. A popularidade da pessebista foi impulsionada pela morte de Eduardo Campos (1965-2014), então presidenciável de sua sigla. Ela, porém, sequer chegaria ao segundo turno. A petista (41%) e o tucano (33%) foram os escolhidos em 5 de outubro. Com 51%, Dilma foi reeleita no confronto direto.
/ Arte CNN
A um mês das eleições de 2018, em 7 de outubro, Jair Bolsonaro (na época, do PSL) tinha 24%. Fernando Haddad (PT) — que substituia Lula, na época preso—, aparecia com 9%. Ambos iriam ao segundo turno, com 46% e 29%, respectivamente, nas eleições de 7 de outubro. O atual presidente foi eleito com 55%.
/ Arte CNN
Caio Junqueira pontua que as eleições de 2018 foram “disruptivas”, visto a vitória de Bolsonaro, com apenas seis segundos de horário eleitoral gratuito e a proporção de sua sigla. “Se o Bolsonaro ganhar nesse ano, sob esse aspecto [das pesquisas], seria também uma eleição disruptiva”, completa.
Debate
As emissoras CNN e SBT, o jornal O Estado de S. Paulo, a revista Veja, o portal Terra e a rádio NovaBrasilFM formaram um pool para realizar o debate entre os candidatos à Presidência da República, que acontecerá no dia 24 de setembro.
O debate será transmitido ao vivo pela CNN na TV e por nossas plataformas digitais.
Publicado por Danilo Moliterno, com informações de Caio Junqueira e Ludmila Candal.
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https://www.cnnbrasil.com.br/politica/o-que-dizem-as-pesquisas-eleitorais-a-um-mes-das-eleicoes/
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"DETERMINAR QUANTOS DIAS HÁ ENTRE OS DIAS 31 DE MARÇO DE 1964 E 31 DE MARÇO DE 2024. QUANTOS LUSTROS TERÁ?"
ChatGPT
Para determinar o número de dias entre 31 de março de 1964 e 31 de março de 2024, podemos calcular a diferença entre as duas datas.
Primeiro, vamos calcular o número de anos entre as duas datas:
2024
−
1964
=
60
2024−1964=60
Em seguida, consideramos os anos bissextos que ocorreram nesse intervalo. Vamos contar os anos bissextos:
1964 foi um ano bissexto.
1968, 1972, 1976, 1980, 1984, 1988, 1992, 1996, 2000, 2004, 2008, 2012, 2016 e 2020 foram anos bissextos.
Isso nos dá um total de 15 anos bissextos.
Agora, calculamos o total de dias:
60
×
365
+
15
=
21900
60×365+15=21900
Portanto, há 21.900 dias entre 31 de março de 1964 e 31 de março de 2024.
Agora, para determinar quantos lustros se passaram, dividimos o número total de anos (60) pelo período de 5 anos (1 lustro):
60
÷
5
=
12
60÷5=12
Portanto, entre 31 de março de 1964 e 31 de março de 2024, passaram-se 12 lustros.
User
"PORTANTO, ALÉM DE 60 ANOS E 21900 DIAS, HÁ 12 LUSTROS PARA SEREM LEMBRADOS NA DATA DE 31 DE MARÇO DE 2024." O TERMO LUSTRO FOI UMA CARA PALAVAVINHA: 'Nelson Werneck Sodré (1912-1999), general do Exército brasileiro, foi um dos mais profundos estudiosos da sociedade brasileira. Influenciou gerações com seus livros e centros de análise, como o Instituto Superior de Estudos Brasileiros (ISEB). Perseguido pelo golpe de 1964, dedicou-se aos livros. Marxista, escreveu mais de 50 obras, entre elas História Militar do Brasil, agora reeditado pela Expressão Popular. O livro apresenta uma ideia nítida do longo caminho percorrido pela evolução das Forças Armadas brasileiras, e das alterações que sofreram ao percorrê-lo, pelo simples confronto do que constituía a sua missão, no passado, e do que constitui essa missão no presente.'
ChatGPT
Entendo, obrigado pela explicação adicional sobre o termo "lustro". De fato, é uma palavra menos comum em uso cotidiano, mas ainda é utilizada em contextos mais formais, como em textos acadêmicos, literários ou históricos.
Portanto, além dos 60 anos e 21.900 dias, há também 12 lustros para serem lembrados na data de 31 de março de 2024. A menção ao termo "lustro" remete à sua importância histórica e cultural, pois é uma unidade de tempo que pode ser relevante em contextos específicos, como este.
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Lustre x Lustro
Pota Concurseiro
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