Inspirados já nos ensinamentos de Sófocles, aqui, procurar-se-á a conexão, pelo conhecimento, entre o velho e o novo, com seus conflitos. As pistas perseguidas, de modos específicos, continuarão a ser aquelas pavimentadas pelo grego do período clássico (séculos VI e V a.C).
sábado, 27 de janeiro de 2024
COMPREENDAMOS
O mesmo que: entendamos, percebamos, alcancemos, depreendamos, infiramos, saibamos, incluamos, abranjamos.
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_________________________________________________________________________________________________________Exemplo: Vem ao estudo, porque o estudo engrandece.
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Pão nosso — Emmanuel
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Compreendamos
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HISTÓRIA ALEMANHA
1945: Libertação de Auschwitz-Birkenau
Birgit GörtzPublicado 27/01/2017Publicado 27 de janeiro de 2017Última atualização há 6 horasÚltima atualização há 6 horas
Em 27 de janeiro de 1945, o Exército Vermelho libertou Auschwitz, o maior e mais terrível campo de extermínio dos nazistas. No auge do Holocausto, em 1944, eram assassinadas seis mil pessoas por dia no local.
https://www.dw.com/pt-br/1945-liberta%C3%A7%C3%A3o-do-campo-de-concentra%C3%A7%C3%A3o-auschwitz-birkenau/a-1465691
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“Sacrifícios, e ofertas, e holocaustos e oblações pelo pecado não quiseste, nem te agradaram.” — Paulo. (HEBREUS, 10.8)
1 O mundo antigo não compreendia as relações com o Altíssimo, senão através de suntuosas oferendas e pesados holocaustos.
2 Certos povos primitivos atingiram requintada extravagância religiosa, conduzindo sangue humano aos altares.
3 Tais manifestações infelizes vão-se atenuando no cadinho dos séculos; no entanto, ainda hoje se verificam lastimáveis pruridos de excentricidade, nos votos dessa natureza.
4 O Cristianismo operou completa renovação no entendimento das verdades divinas; contudo, ainda em suas fileiras costumam surgir absurdas promessas, que apenas favorecem a intromissão da ignorância e do vício.
5 A mais elevada concepção de Deus que podemos abrigar no santuário do espírito é aquela que Jesus nos apresentou, em no-lo revelando Pai amoroso e justo, à espera dos nossos testemunhos de compreensão e de amor.
6 Na própria Crosta da Terra, qualquer chefe de família, consciencioso e reto, não deseja os filhos em constante movimentação de ofertas inúteis, no propósito de arrefecer-lhe a vigilância afetuosa. Se tais iniciativas não agradam aos progenitores humanos, caprichosos e falíveis, como atribuir semelhante falha ao Todo-Misericordioso, no pressuposto de conquistar a benemerência celeste?
7 É indispensável trabalhar contra o criminoso engano.
8 A felicidade real somente é possível no lar cristão do mundo, quando os seus componentes cumprem as obrigações que lhes competem, ainda mesmo ao preço de heroicas decisões. Com o Nosso Pai Celestial, o programa não é diferente, porque o Senhor Supremo não nos pede sacrifícios e lágrimas e, sim, ânimo sereno para aceitar-lhe a vontade sublime, colocando-a em prática.
Emmanuel
Texto extraído da 1ª edição desse livro.
http://bibliadocaminho.com/ocaminho/txavieriano/livros/Pn/Pn163.htm
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COLLEGIO
ALLANKARDEC
1913
Professores e alunos do Colégio Allan Kardec (sede antiga), em 1913. Os mestres, assentados da esq. para a dir., são: Orcalino de Oliveira, Eurípedes Barsanulfo, Maria Gonçalves e Watersides Willon.
Fonte: Corina. Eurípedes Barsanulfo: o homem e a missão. 8. ed. Araras-SP: IDE, 1987, p. 112
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CURSOS
Segundo depoimentos de numerosos alunos da época, funcionavam três cursos no Colégio Allan Kardec, tendo em Eurípedes e nos auxiliares, que gradativamente formavam-se nos próprios bancos do educandário, orientadores eficientes e categorizados.
Os cursos eram: elementar, médio e superior.
Dentre os colaboradores de Eurípedes, citam-se Watersides Willon, Homilton Wilson, Venceslau Rodrigues Cilan, Zeno Borges, Orcalino de oliveira, Maria Gonçalves, que regiam classes nos cursos elementar e médio.
Eurípedes tomara a si a incumbência da classe superior,lecinonando as matérias do currículo com rara visão didático-pedagógica.
Antigos alunos conservaram, carinhosamente, importantes apostilas fornecidas por Eurípedes sobre questões de Língua Portuguesa, Astronomia e Fundamentos da Doutrina Espírita.
Damos à pág. 116 pequena mostra dessa importante contribuição, que tornava mais objetivo o estudo das disciplinas acima relacionads.
https://www.histedbr.fe.unicamp.br/pf-histedbr/alessandro_cesar_bigheto_artigo_0.pdf
https://cak.org.br/colegio-allan-kardec
https://repositorio.ufu.br/bitstream/123456789/19859/1/EspiritismoEduca%C3%A7%C3%A3oEur%C3%ADpedes.pdf
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CAPÍTULO III
HÁ MUITAS MORADAS NA CASA DE MEU PAI
Tema. — Diferentes estados da alma na erraticidade. — Diferentes categorias de mundos habitados. — Destinação da Terra. Causas das misérias humanas. — Instruções dos Espíritos: Mundos inferiores e mundos superiores; Mundos de expiações e provas; Mundos Regeneradores; Progressão dos mundos.
1. Não se turbe o vosso coração. — Credes em Deus, crede também em mim. Há muitas moradas na casa de meu Pai; se assim não fosse, já eu vo-lo teria dito, pois me vou para vos preparar o lugar. — Depois que me tenha ido e que vos houver preparado o lugar, voltarei e vos retirarei para mim, a fim de que onde eu estiver, também vós aí estejais. (S. João, 14:1 a 3.)
Diferentes estados da alma na erraticidade.
2. A casa do Pai é o universo. As diferentes moradas são os mundos que circulam no espaço infinito e oferecem, aos Espíritos que neles encarnam, moradas correspondentes ao seu adiantamento.
Independentemente da diversidade dos mundos, essas palavras de Jesus também podem referir-se ao estado venturoso ou desgraçado do Espírito na erraticidade. Conforme se ache este mais ou menos depurado e desprendido dos laços materiais, variarão ao infinito o meio em que ele se encontre, o aspecto das coisas, as sensações que experimente, as percepções que tenha. Enquanto uns não se podem afastar da esfera onde viveram, outros se elevam e percorrem o espaço e os mundos; enquanto alguns Espíritos culpados erram nas trevas, os bem-aventurados gozam de resplandecente claridade e do espetáculo sublime do infinito; finalmente, enquanto o mau, atormentado de remorsos e pesares, muitas vezes insulado, sem consolação, separado dos que constituíam objeto de suas afeições, pena sob o guante dos sofrimentos morais, o justo, em convívio com aqueles a quem ama, frui as delícias de uma felicidade indizível. Também nisso, portanto, há muitas moradas, embora não circunscritas, nem localizadas.
https://kardecpedia.com/roteiro-de-estudos/887/o-evangelho-segundooespiritismo/2056/capitulo-ii-meu-reino-nao-e-deste-mundo
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Aja com sabedoria.
A boa impressão que você
deixa nos outros é força a seu
favor.
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O texto de José de Souza Martins aborda uma série de questões profundas sobre a interpretação da Bíblia, a relação entre religião e política, e a necessidade de contextualização histórica e cultural na compreensão dos textos sagrados. Ele destaca como certas concepções e práticas aceitas nos tempos bíblicos podem ser consideradas condenáveis nos dias atuais, e como a interpretação desses textos pode variar de acordo com o contexto social e cultural.
Martins discute especificamente o caso de um pastor americano cujo convite para uma conferência evangélica no Brasil foi cancelado devido às suas opiniões sobre a escravidão, baseadas em interpretações bíblicas. Ele argumenta que o fundamentalismo religioso, quando não contextualizado adequadamente, pode ser perigoso e contribuir para a perpetuação de ideias retrógradas e opressivas.
Além disso, o autor menciona a importância de se questionar e revisar as interpretações tradicionais dos textos bíblicos à luz da realidade contemporânea, destacando a necessidade de uma abordagem crítica e reflexiva da religião. Ele também critica a falta de resistência a esse tipo de fundamentalismo por parte de certos grupos, especialmente aqueles historicamente marginalizados ou oprimidos.
Ao longo do texto, Martins sugere que o fundamentalismo religioso pode servir como uma base para um conservadorismo retrógrado que está desconectado da verdadeira tradição conservadora, que historicamente incluiu valores críticos e revolucionários. Essa análise oferece uma visão complexa das interações entre religião, política e sociedade, destacando a importância de abordagens mais nuanceadas e contextualizadas para questões religiosas e éticas.
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José de Souza Martins* - A escravidão no púlpito
Valor Econômico
À luz da Bíblia, muitas concepções e atitudes que, do ponto de vista de nossos dias, são condenáveis, nos tempos bíblicos não o eram
Uma conferência evangélica sobre teologia, marcada para acontecer durante o Carnaval, na Paraíba, teria como orador destacado o pastor fundamentalista americano Douglas Wilson. Ele já não virá ao Brasil. O convite foi cancelado e ele próprio abriu mão da visita. É o que explica Anna Virginia Balloussier, na “Folha de S. Paulo”, em detalhado artigo.
O assunto é da maior importância no tenso cenário brasileiro de controvérsias ideológicas e sociais envolvendo religião e política. O nome do pastor foi impugnado especialmente por ser ele autor de obras sobre a justificativa bíblica da escravidão. Mas não o foi porque alguém estivesse em desacordo com ele. E sim por temor da nossa reação a essa concepção reacionária da condição humana. Seu discurso poderia ser interpretado como justificador da escravidão daqui.
À luz da Bíblia, muitas concepções e atitudes que, do ponto de vista de nossos dias, são condenáveis, nos tempos bíblicos não o eram. Caso da própria escravidão. Como no menor livro da Bíblia, a Carta de Paulo ao seu discípulo Filemom, no apelo a que acolha de volta Onésimo, seu escravo fugido: “Não já como servo, antes, mais do que servo, como irmão amado, particularmente de mim, e quanto mais de ti, assim na carne como no Senhor?”.
Não era uma defesa da liberdade, mas da fraternidade paternal entre o senhor e o escravo, em nome de Cristo. Em face dessa nova e diferente concepção das relações sociais, a do cristianismo, a escravidão era secundária. Uma desigualdade superada sem ser abolida, preservada em nome de uma reinterpretação cristã do elo de sujeição entre o dono e o cativo, o elo de um fratura entre o real e o imaginário.
Daí a necessidade, acenada por teólogos competentes, de rever e atualizar, na interpretação, as referências históricas da Bíblia para trazê-la para a historicidade do nosso tempo. Não se trata de mudar a Bíblia, mas de situá-la na temporalidade singular de sua leitura.
Foi justamente em decorrência de uma erudita série de conferências teológicas sobre as Cartas de Paulo, e especificamente em relação à Carta a Filemom, que o pastor e teólogo Ed René Kivitz, da Igreja Batista da Água Branca, em São Paulo, ao sublinhar esse aspecto do texto bíblico preconizou essa atualização de perspectiva que lhe custou injustiças e dissabores.
Também o concubinado é um item do texto bíblico. Figuras referenciais da realidade bíblica, como Davi e Salomão, tinham concubinas. Os cantares de Salomão e mesmo os salmos de David não raro são belos poemas eróticos, que um religioso de hoje não ousaria ler em voz alta do púlpito e menos ainda interpretá-los. Por isso mesmo, no cristianismo, a leitura e a interpretação dos textos sagrados não deve ser feita por amadores.
Infelizmente, em muitos lugares, também aqui no Brasil, as extensas desigualdades têm sido terreno fértil para o fundamentalismo religioso e, também, para o fundamentalismo político, como vimos na combinação de ambos nas manifestações de barbárie de 8 de janeiro de 2023. E vimos na constituição do próprio governo do período de 2019-2022.
Toda uma casta de achólogos com facilidade inventou e difundiu “doutrinas” que tinham como objetivo justificar e legitimar o poder pessoal e as ambições de gente tosca e despreparada, que nunca teria chegado ao poder em outras circunstâncias.
Os efeitos desse fundamentalismo do pastor visitante seriam bem diversos nos EUA e no Brasil. Ninguém poderia antecipá-los. Somos um país culturalmente despreparado para resistir a essas invasões místico-ideológicas, como o provam as grandes mudanças religiosas que aqui ocorrem desde meados dos anos 1950. As de um Deus mandão e autoritário, que muito acima de sua deidade é um deus de um novo poder, não o de uma democracia cidadã, mas o de uma servidão impotente.
Espanto e apreensão deveria causar o fato de que tenha havido aqui quem julgasse natural e normal trazer ao Brasil, para uma fala em púlpito privilegiado, alguém já conhecido pelas ideias que difunde e defende em relação a essa questão.
Mais espanto, porém, que grupos originários das escravidões que tivemos, envolvidos em pleitos e reivindicações reparatórios pelo cativeiro de seus antepassados, não se julguem política e moralmente obrigados a questionar uma visita como essa que se consumaria não fosse o temor dos patronos quanto a reações em relação à subestimação da liberdade como direito e necessidade.
O fundamentalismo religioso é a intolerante e caricata base de sustentação de um conservadorismo retrógrado divorciado da grande tradição do pensamento conservador cujos valores têm sido a decisiva referência do pensamento crítico e revolucionário.
*José de Souza Martins é sociólogo. Professor Emérito da Faculdade de Filosofia da USP. Professor da Cátedra Simón Bolivar, da Universidade de Cambridge, e fellow de Trinity Hall (1993-94). Pesquisador Emérito do CNPq. Membro da Academia Paulista de Letras. É autor de, entre outros livros, “Capitalismo e escravidão na sociedade pós-escravista” (Editora Unesp, São Paulo, 2023).
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O artigo de Marco Aurélio Nogueira traz uma análise perspicaz sobre a atual situação política e democrática do Brasil, destacando a falta de um movimento democrático coeso e influente. Ele começa apontando para a crise que assola o movimento democrático brasileiro desde 2013, quando manifestações de rua eclodiram em todo o país, impulsionadas pelas redes sociais.
Nogueira critica a forma como o sistema democrático brasileiro se fecha em negociações internas entre o governo e os poderes estatais, sem efetiva participação ou representação popular. Essa desconexão entre governantes e governados resulta em uma paralisia relativa, onde as atuais tentativas de formar frentes políticas são vistas como ilusórias.
Ele observa que, embora o atual governo busque se distanciar dos anos Bolsonaro e promova uma imagem de respeito à democracia, ele está limitado pela política miúda do Congresso e pelas disputas internas de seu próprio partido. Além disso, Nogueira destaca a ausência de uma visão clara e propositiva por parte das correntes democráticas, que parecem incapazes de se unir em torno de ideias e ações comuns.
O autor aponta também para a crescente influência do judiciário na política, uma tendência que, segundo ele, traz mais riscos do que benefícios para a democracia, ao mesmo tempo em que enfraquece o apoio popular ao governo.
Nogueira argumenta que os democratas brasileiros precisam defender e promover os princípios da democracia liberal, envolvendo e mobilizando os cidadãos. Ele sugere que a falta de voz dos democratas está ligada à crise dos partidos e à limitação cognitiva em compreender a complexidade da sociedade atual. Sem uma interpretação renovada das circunstâncias concretas e sem oferecer parâmetros de atuação aos diferentes grupos sociais, as correntes democráticas acabam perdendo representatividade.
Por fim, Nogueira destaca a importância de um movimento democrático forte e influente como um desaguadouro para a movimentação social, capaz de promover mudanças reformadoras significativas. No entanto, ele expressa ceticismo sobre a possibilidade de mudanças significativas no curto prazo, questionando se o cenário político de 2024 será capaz de modificar esse quadro.
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Marco Aurélio Nogueira* - Os demônios dos democratas brasileiros
O Estado de S. Paulo
Não há, no Brasil atual, um desaguadouro da movimentação social, que fica assim com baixa potência e pouca incidência reformadora
Agora que o ano político começou, com direito a campanhas eleitorais em gestação e eleições em outubro, é importante pensar nas questões que atormentam o movimento democrático brasileiro desde ao menos 2013, data em que as ruas falaram alto, embaladas pelas redes sociais, que então se disseminavam.
Tal reflexão é, na verdade, uma exigência. Antes de tudo porque o sistema democrático existente realmente funciona voltado para dentro de si mesmo. Privilegia as negociações entre o governo e os demais Poderes de Estado, que estão manchadas pela desconfiança recíproca, pela reduzida transparência e pelo desinteresse em produzir uma ideia de sociedade, políticas claras e eficientes, uma comunicação inteligente com os cidadãos. Isso tem significado que a distância entre governantes e governados permanece grande demais, impossibilitando a formação de um “bloco histórico” de forças que reformem e direcionem o País. Prolonga-se, assim, uma situação de paralisia relativa, diante da qual as atuais ideias de “frente” são meras ilusões ou manobras retóricas.
O atual governo vem se esforçando para varrer os estragos dos anos Bolsonaro. O que tem sido feito, porém, não parece suficiente para modificar o panorama cinzento que recobre o País, embora deva ser reconhecido. Temos um governo que respeita a Constituição, defende a democracia e procura olhar para as faces mais excluídas e represadas da sociedade. Ele tem pela frente, no entanto, uma condição política que o limita, aprisionando-o à política miúda do Congresso e às disputas internas do próprio partido que o elegeu, o PT. É um governo politicamente minoritário, incapacitado para escapar das imposições congressuais e de se abrir para as correntes democráticas que devem existir no País.
O tempo verbal é este mesmo: devem existir. Porque elas não se fazem ouvir, não agem nem propõem, como se não existissem. Há uma grave crise nesse campo, que é de organização, mas é sobretudo de visão e proposição. O que oferecem as correntes democráticas? Que País cozinham em seus laboratórios? Quem são seus protagonistas, que partidos as abrigam, por onde andam? São perguntas que se esparramam sem obter respostas, entranhando-se nas brigas e nas indefinições partidárias, na extraordinária dificuldade que têm de alcançar um mínimo de unidade de pensamento e ação. Os democratas tornaram-se reféns de seus próprios demônios.
O silêncio deles é ruim em si e é ruim para o governo, que não encontra apoio fora do fisiologismo parlamentar. Para tentar compensar isso, o governo tem buscado se aproximar do Judiciário, turbinando-o a seu favor e incentivando-o a “judicializar a política”. É um caminho que traz mais riscos do que facilidades, e que não favorece a democracia, promovendo um jogo pouco compreensível para a opinião pública.
A democracia liberal – com seus princípios de liberdade individual, direitos civis e separação dos Poderes – precisa ser compreendida como uma vantagem civilizacional. Cabe aos democratas defendê-la, valorizá-la e disseminá-la. O arcabouço institucional, ético e jurídico-político da democracia também precisa chegar ao terreno social, envolver e mobilizar os cidadãos. Quanto mais os democratas fizerem isso, mais a democracia poderá cumprir suas promessas.
A falta de voz dos democratas liga-se à crise dos partidos, mas também retrata uma limitação cognitiva, uma incapacidade teórica de compreender a sociedade atual, cuja complexidade e cujo dinamismo implodiram o que se sabia sobre o modo de vida, o trabalho, o capitalismo, as formas de atuação política, de família, de escola. Tal limitação explica as razões que nos levaram à atual crise de perspectivas. As correntes democráticas progressistas não conseguem interpretar as circunstâncias concretas em que se vive e, com isso, deixam de oferecer aos diferentes grupos sociais parâmetros de atuação, aí incluídas uma cultura com que interpretar o mundo e uma visão renovada da própria democracia. Perdem representatividade.
Analistas de perfil mais institucionalista costumam argumentar que as instituições do Estado estão a funcionar bem, que o jogo jogado passa por elas e consegue ser por elas controlado. Concluem que a democracia brasileira está viva e ativa. O problema é que o vigor institucional, supondo existir de fato, não basta para que uma democracia funcione bem. Ela precisa agregar e orientar cidadãos, movimentos cívicos e redes de formação política, que, se ficarem soltos, acabam por atuar mais como “fiscais” do poder político do que como atores abrangentes. Parte deles se desinteressa, outras partes amarram-se às postulações identitárias.
Não há, em suma, no Brasil atual, um desaguadouro da movimentação social, que fica assim com baixa potência e pouca incidência reformadora. Governantes e governados congelam-se em suas especificidades, somente dialogando, sotto voce, nos momentos eleitorais, vividos de maneira sempre mais passional e salvacionista.
2024 modificará esse quadro?
*Professor titular de Teoria Política da Unesp
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