Inspirados já nos ensinamentos de Sófocles, aqui, procurar-se-á a conexão, pelo conhecimento, entre o velho e o novo, com seus conflitos. As pistas perseguidas, de modos específicos, continuarão a ser aquelas pavimentadas pelo grego do período clássico (séculos VI e V a.C).
domingo, 12 de março de 2023
O GRANDE TUDO
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O Maior Rio Da Europa Finalmente Secou E Algo Terrível Está Acontecendo!
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FutureUnity PT
6 de mar. de 2023
https://www.youtube.com/watch?v=lQdjZ53kyRw
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Nas entrelinhas: O Brasil entre dois polos não é para amadores
Publicado em 12/03/2023 - 08:16 Luiz Carlos Azedo
Biden, Bolivia, Brasília, China, Cuba, Economia, EUA, Exportações, França, Governo, Inglaterra, Itamaraty, Memória, Militares, Partidos, Política, Política, Putin, Rússia, Tecnologia, Venezuela, Violência, Xi Jinping, Zilensky
A disputa entre os EUA e a China abre possibilidades para o Brasil se inserir de forma mais competitiva nas cadeias globais de valor e recuperar um pouco da complexidade industrial perdida
“O Brasil não é para principiantes” é uma das muitas tiradas do maestro Antônio Carlos Brasileiro de Almeida Jobim, o Tom Jobim, que dispensa maior apresentação. Caiu no gosto popular e os principiantes passaram a ser chamados de amadores. Não é mesmo, ainda mais depois que o eixo do comércio mundial se deslocou do Atlântico para o Pacífico, palco disputa entre os Estados Unidos e a China, que agora emulam a liderança da inovação e da tecnologia de ponta. Essa polarização não está se dando apenas no terreno dos produtos eletrônicos, maquinas e equipamentos, agora também ocorre no diplomático e no plano militar. Os chineses buscam a paridade estratégica na geopolítica global.
É nesse contexto que ocorre a Guerra da Ucrânia, que se tornou o epicentro dos conflitos entre o Ocidente e o Oriente, a partir da brutal invasão da ex-república soviética pela Rússia. O presidente russo Vladimir Putin já está moralmente derrotado, em termos militares, porém, a situação não está definida. Boa parte da bacia carbonífera do Dom foi ocupada pelo exército russo.
A resistência ucraniana se tornou uma “guerra por procuração” da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) com a Rússia, patrocinada pelos Estados Unidos e a Inglaterra, que recuperaram a hegemonia na Europa Ocidental. Alemanha e França, principalmente a primeira, por causa da implosão do seu acordo energético com a Rússia, já nem têm o poder de decidir os rumos da União Europeia. Países como a Suécia, a Noruega e a Polônia ganharam mais protagonismo.
As sanções econômicas contra a Rússia não surtiram o efeito esperado, seja porque o país tem uma economia que já passou por outras situações como essa, seja porque a aliança com a China e o grande jogo político da Ásia estão ensejando a ampliação de um novo sistema internacional de trocas ancorado no yen, isto é, sem o dólar. O acordo entre o Irã xiita e a sunita Arábia Saudita, patrocinado pela China, muda o curso dos acontecimentos no Oriente Médio, com impacto no Iêmen, no Iraque, na Síria e no Líbano.
Liderança
A bipolaridade entre os Estados Unidos e a China parece consolidada, mas o mundo pode ser muito melhor se a guerra acabar e emergir um mundo multipolar, em que Ocidente e Oriente tenham relações pacíficas e estáveis. O Brasil tem um papel de liderança na América Latina, principalmente na América do Sul, mas isso nos leva a concessões políticas quanto aos regimes autoritários do continente, como a Venezuela, Nicarágua e Cuba, e uma identificação com o populismo peronista da Argentina e o nacionalismo étnico da Bolívia.
Também temos problemas demais (crise fiscal e social, ameaça de recessão, desindustrialização, desmatamento e violência contra os índios, extrema direita fortíssima), mas isso não nos impede de ocupar um posicionamento estratégico que nos dê algum protagonismo no chamado Sul Global, ao lado da Índia, da Indonésia e da África do Sul.
A ideia de ser um dos mediadores do conflito da Rússia com a Ucrânia para ocupar um novo papel não depende apenas da boa vontade de Putin e do apoio de Xi Jinping, que acaba de ser reeleito. Depende da relação de confiança com o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden. No seu segundo mandato, Lula negociou um acordo nuclear com o Irã e a Turquia que parecia ter sinal verde do então presidente dos Estrados Unidos, Barack Obama, mas a vice-presidente Hilary Clinton o detonou. O então presidente francês Nicolas Sarkozy, com quem Lula também contava, seguiu o alinhamento histórico da França com a Otan.
É um cenário muito difícil, mas abre algumas possibilidades de o Brasil se inserir na cena internacional, adquirir mais complexidade nas cadeias globais de valor e recuperar um pouco da densidade industrial perdida. Na medida em que os Estados Unidos procuram se desvincular das cadeias de produção da China, podemos buscar uma opção semelhante às da Índia, Indonésia, Vietnã, Polônia e México, que atraíram investidores, inclusive chineses e norte-americanos, para a fabricação de produtos em cujas cadeias globais pudessem se inserir. Nesse sentido, o vice-presidente, Geraldo Alckmin, ministro do Desenvolvimento Econômico e Comércio Exterior, e a ministra do Planejamento, Simone Tebet, têm um importantes papel a cumprir.
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Ruy Castro - A muamba de Bolsonaro
Folha de S. Paulo
Almirantes, generais, um tenente-coronel e outros fardados no imbróglio do segredo das jóias
O caso das joias presenteadas a Bolsonaro pela Arábia Saudita, trazidas na moita para o Brasil, está recheado de estrelas —nas fardas que seus protagonistas usam ou usavam até havia pouco.
O regalo milionário foi entregue ao então ministro das Minas e Energia de Bolsonaro, Bento Albuquerque, ex-almirante de esquadra. Almirante de esquadra é o segundo posto mais alto da Marinha, com quatro estrelas e uma poderosa âncora na insígnia. As joias viajaram de Riad a Guarulhos na mochila do guarda-marinha Marcos André Soeiro. Guarda-marinha é um aluno da Escola Naval prestes a se tornar segundo tenente.
Apreendida a muamba pela Receita Federal, apressou-se liberá-la o contra-almirante José Roberto Bueno Junior. Um contra-almirante tem duas estrelas e, idem, uma âncora na insígnia, mas isso não comoveu a Receita. Entrou em ação o tenente-coronel Mauro Cid, ajudante de ordens de Bolsonaro. Um tenente-coronel está a dois passos do generalato, e Cid ainda tem o privilégio de usar Glostora no cabelo e farda com gravata-borboleta. Pois voltou de mãos abanando. Outro encarregado de peitar a Receita foi Jairo Moreira da Silva, primeiro-sargento da Marinha. Debalde.
Dois elementos da própria Receita instruídos por Bolsonaro para resolver o problema também se frustraram. Mas ganharam cargos fictícios nas embaixadas de Paris e Dubai, em atos assinados pelo ex-general e vice-presidente Hamilton Mourão na ausência de Bolsonaro, que fugira para a Flórida a dois dias do fim do mandato. Dia este em que um jato da FAB, com gasolina paga por você, foi de Brasília a Guarulhos com o fim exclusivo de desbloquear a batota —igualmente em vão. E Michelle Bolsonaro, cujos colo, orelhas, pescoço e braços ostentariam as joias, vem sendo municiada sobre o que dizer pelo ex-general Braga Netto.
Está certo. Pelo artigo 142, as Forças Armadas se destinam à defesa da Pátria.
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Recuperação Judicial e Falência: Casos Americanas e Livraria Cultura
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TV Damásio
1 aguardando Programado para 15 de mar. de 2023
Entenda o caso da recuperação judicial e falência dos grandes grupos como Americanas e Livraria Cultura e como eles afetam a sociedade.
Com a participação dos professores, Elisabete Vido e Suhel Sarhan, a live vai te deixar por dentro dos temas mais discutidos e comentados do Direito Empresarial.
https://www.youtube.com/watch?v=ajwLbs3qjww
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Tweet
Damásio
@cursodamasio
Ficou evidente que os impactos das falências e pedidos de recuperação judiciais de empresa na sociedade são enormes.
Ative o lembrete aqui: https://mla.bs/6fd7b5a9
#falência #recuperaçãojudicial #empresas #negócios #damásio
7:35 PM · 12 de mar de 2023
https://twitter.com/cursodamasio/status/1635046886066524163?s=48&t=gKyEEumLB0aAdrne2uBPCw
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Startups temem efeito cascata após colapso de banco nos EUA
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Band Jornalismo
11 de mar. de 2023 #JornaldaBand
Cerca de cem startups de tecnologia correm risco com a quebra de um banco no Vale do Silício, nos EUA. A falência é a maior de uma instituição financeira no país desde a crise de 2008.
Silicon Valley Bank se torna maior banco americano a quebrar desde crise de 2008
Banco se notabilizou pelo foco em start-ups do Vale do Silício, que enfrentam dificuldades relativas ao encarecimento do crédito, diante do avanço dos juros
Último banco sob supervisão da FDIC a quebrar foi o Almena State Bank, em outubro de 2020
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domingo, 12 de março de 2023
Vinicius Torres Freire - O banco quebrado nos EUA e o Brasil
Folha de S. Paulo
Quebra ocorreu à moda antiga, o que pode afetar menos o restante da economia, lá e aqui
A quebra do Banco do Vale do Silício (SVB) foi má notícia também para o Brasil, que começava a discutir baixas nas taxas de juros. O impacto, até agora muito pequeno, vai passar logo?
Pode ser uma espuma azeda que se dissipe em dias. Outras quebras de bancos médios podem azedar o caldo. Mesmo que não sobrevenham mais falências, pode haver impacto na confiança econômica e efeitos negativos extras na rentabilidade dos bancos americanos. Para uma economia que raspa no risco de recessão, não é boa coisa. Mas era esperado. Altas de juros costumam provocar acidentes.
Até agora, analistas razoáveis não acreditam em crise relevante. Podem estar errados, o que não é raro. No entanto, o modo pelo qual o SVB foi à breca sugere que o problema pode ser limitado, ainda que muito banco esteja perdendo dinheiro pelos mesmos motivos do colega da Califórnia.
O SVB quebrou à moda antiga. Não afundou por causa de engenharias financeiras complicadas, malucas ou fraudulentas, em rede, incentivadas pela cumplicidade do sistema de regulação, supervisão e avaliação de riscos, público e privado, como em 2008.
Os depositantes do SVB eram startups e firmas ("venture capital") que investem no desenvolvimento dessas empresas inovadoras, talvez um futuro Google, como eles gostam de dizer.
Durante a segunda onda de juros baixíssimos deste século, na epidemia, startups levantaram muito capital, que depositavam no SVB, banco tradicional do setor. Desde fins de 2022, com o refluxo da mania "tech" e juros em alta, empresas passaram a sacar do SVB ou a exigir rendimento maior para seus depósitos.
Não precisa ser um drama. Mas a base de clientes do SVB era pouco variada: afetados pelo mesmo problema, ao mesmo tempo. Para piorar, o SVB mantinha mais de metade de seus haveres, ativos, investidos em títulos do governo (ou em títulos que rendem pagamentos de financiamento imobiliário, hipotecas, garantidas pelo governo), de longo prazo. Muito banco americano tem ativos desse tipo. Mas não colocou tantos ovos na mesma cesta, tem rendimentos de outras fontes, base de clientes diversa etc. O SVB era um exagero em várias frentes.
O banco comprara os títulos quando os juros eram muito baixos (o que significa exatamente dizer que seus preços estavam altos). Com a alta das taxas, esses títulos perderam valor. Se não precisasse vendê-los, não haveria prejuízo na prática (embora o valor de mercado desses títulos fosse sinal de problema no balanço).
O SVB teve de vender, a fim de cobrir saques. O prejuízo, embora relativamente pequeno, e a notícia de que o banco tentaria levantar mais capital (vender ações) enervou depositantes. Uma firma de "venture capital" recomendou que seus sócios, startups, sacassem do SVB. Da quinta para a sexta-feira, o banco perdeu um quarto dos depósitos, dizem relatos da mídia americana. Fim.
Ainda não se sabe o tamanho do calote. Por ora, quem tem mais de US$ 250 mil em depósitos (que não é coberto pelo fundo garantidor, a grande maioria dos depósitos) vai ficar com seus dinheiros congelados. Não têm como pagar empregados e fornecedores. Talvez nunca mais vejam a cor de parte do dinheiro. Startups irão à breca. Uma grande firma de criptomoeda com depósito no SVB (que ironia) vai sofrer.
Talvez o SVB seja vendido para um banco maior, um alívio. Gente do mundo "tech" já pede ajuda do governo. Bidu.
A desconfiança causada pela quebra do SVB pode provocar corridas contra outros bancos pequenos e médios. Juros subiram nos EUA (e aqui, por tabela). Os próprios analistas americanos não conseguem chutar o tamanho do contágio. Aqui e lá fora, vamos ter pelo menos dias de tensão.
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Último banco sob supervisão da FDIC a quebrar foi o Almena State Bank, em outubro de 2020
Ilustração com o logo do SVB (Silicon Valley Bank) 10/03/2023REUTERS/Dado Ruvic
André Marinho*, do Estadão Conteúdo
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10/03/2023 às 16:43
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Com US$ 209 bilhões em ativos e US$ 175,4 bilhões em depósitos, o Silicon Valley Bank (SVB) se tornou o maior banco americano a quebrar desde a crise financeira de 2008 ao ser fechado por reguladores americanos nesta sexta-feira (10).
A Federal Deposit Insurance Corporation (FDIC) assumiu o controle da empresa controlada pela SVB Financial Group, como forma de proteger os clientes. A agência, no entanto, não anunciou um comprador para os ativos do credor, o que costuma ocorrer quando há uma liquidação ordenada de bancos.
O rápido colapso do SVB começou na última quarta-feira, quando a companhia anunciou uma perda de quase US$ 2 bilhões ao tentar levantar capital para lidar com a fuga de depósitos. O banco se notabilizou pelo foco em start-ups do Vale do Silício, que enfrentam dificuldades relativas ao encarecimento do crédito, diante do avanço dos juros.
O último banco sob supervisão da FDIC a quebrar foi o Almena State Bank, em outubro de 2020. Não está claro quantos clientes detinham depósitos acima dos US$ 250 mil cobertos pelo seguro da agência.
Risco para o sistema financeiro?
A secretária do Tesouro dos Estados Unidos, Janet Yellen, disse que monitora a crise do Silicon Valley Bank, bem como os desdobramentos em vários outros bancos. “Há desdobramentos recentes que preocupam alguns bancos que estou monitorando com muito cuidado e quando os bancos sofrem perdas financeiras, é e deve ser motivo de preocupação”, disse Yellen em uma audiência no Congresso dos EUA.
Já o ex-secretário do Tesouro dos Estados Unidos Larry Summers vê poucos riscos de que a crise do SVB se dissemine por todo o sistema bancário norte-americano, desde que todos os depósitos sejam totalmente devolvidos aos clientes.
Em entrevista à Bloomberg TV, Summers explicou que o banco com sede na Califórnia foi duramente afetado pelas dificuldades no setor de venture capital e na liquidez de startups norte-americanas. “Isso é menos relevante que o fato de termos visto grandes oscilações nas ações até mesmo dos grandes bancos do país”, disse.
Summers avaliou que houve exagero na reação do mercado, mas reconheceu que bancos com ativos com vencimento de longo prazo são prejudicados pela escalada dos juros.
Ainda assim, o economista não espera uma situação de contágio para outras empresas. “Não vejo como, se for tratado de forma razoável, e tenho todos os motivos para pensar que será, isso será uma fonte de risco sistêmico”, destacou Summers, que atuou nos governos dos ex-presidentes Barack Obama e Bill Clinton.
Efeito da alta dos juros
Os problemas que o SVB atravessa ficaram mais claros na quinta-feira (9). Investidores liquidaram ações da instituição depois de ela ter informado uma perda de US$ 1,8 bilhão. Os ativos e depósitos do banco quase dobraram em 2021, grandes quantias das quais o SVB despejou em títulos do Tesouro dos EUA e outros títulos de dívida patrocinados pelo governo.
Logo depois disso, porém, o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) começou a aumentar juros. Isso afetou as startups de tecnologia e as empresas de capital de risco atendidas pelo Silicon Valley Bank, provocando um declínio mais rápido do que o esperado nos depósitos, um movimento que continuou a ganhar força e acabou levando à quebra do banco.
Na avaliação do banco UBS, a crise do Silicon Valley Bank acende preocupações sobre as perdas no portfólio de títulos dos bancos americanos. A instituição, no entanto, não enxerga sinais de contágio por todo o sistema bancário. “Acreditamos que os ventos contrários ao setor podem ser gerenciados”, avalia.
Nos últimos anos, muitos bancos dos EUA investiram fortemente em títulos de longo prazo do Tesouro americano, cujos valores caíram expressivamente à medida que o Fed subiu juros. A FDIC já havia alertado recentemente que os credores americanos enfrentam US$ 620 bilhões em perdas não realizadas associadas à carteira de títulos.
Segundo o UBS, investidores também estão preocupados quanto à possibilidade de clientes retirarem seus depósitos em favor de papéis de curta duração, que estão dando maior retorno. O banco suíço avalia que o cenário do SVB reforça as perspectivas negativas para o setor financeiro.
A instituição também chama atenção para o risco de que o quadro agrave a cautela nos mercados acionários. No entanto, o UBS lembra que, desde a crise financeira de 2008, os bancos estão sujeitos a exigências mais rígidas de liquidez.
Essas empresas podem até ter grandes perdas se houver uma fuga de depósitos. “Mas essas saídas também podem ser contidas aumentando as taxas de depósito, embora isso reduza os ganhos”, pontua.
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Silicon Valley Bank
https://www.cnnbrasil.com.br/business/silicon-valley-bank-se-torna-maior-banco-americano-a-quebrar-desde-crise-de-2008/
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Michel Laub: As Forças Armadas e a política brasileira | Eu & | Valor Econômico
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Eu & Fim de Semana / Valor Econômico
Como lembra o ótimo “Poder camuflado”, de Fabio Victor, os militares se veem como tutores da sociedade desde a fundação da República
1. Já contei neste espaço que servi no CPOR de Porto Alegre. Foi em 1992, ano do impeachment de Collor, da conferência internacional do clima no Rio de Janeiro e da demarcação das terras Yanomami. No pelotão havia um jornalzinho, eu era um dos editores, e nessas páginas lidas 30 anos depois encontro excertos do pensamento militar médio da época: nós fazíamos entrevistas em que o personagem da edição dava respostas breves, seguras o bastante para não causar problemas com a cúpula do quartel.
Assim, dá para dizer que oficiais da ativa de então - no caso, tenentes e majores que entrevistamos - se sentiam à vontade para falar publicamente de democracia (“é muito boa se funcionar”), ecologia (“importante, mas estão espetacularizando demais”), Amazônia (“eu queria ter o padrinho que os índios têm”). Diante da pergunta “qual o maior problema do Brasil e qual a solução?”, um deles retomou o tema mais sensível nos discursos que passamos o ano ouvindo tristemente, entre faxinas, guardas e sessões de Ordem Unida: “Salário dos militares. Aumento”.
O preâmbulo pessoal não é por acaso. O CPOR é uma espécie de versão resumida das Agulhas Negras, a academia que forma o oficialato brasileiro. No debate sobre a presença fardada excessiva em governos recentes, é na própria mentalidade da caserna - sua autoimagem, seu papel político autoimposto - que está parte dos argumentos. Como lembra o ótimo “Poder camuflado”, do jornalista Fabio Victor (Companhia das Letras, 446 págs.), as Forças Armadas se veem como tutoras da sociedade brasileira desde a fundação da República: às vezes na linha de frente, às vezes nos bastidores, nunca como o que a tradição francesa de tropas profissionais chama de “o grande mudo”.
2. Muita coisa mudou de 1992 para cá. Óbvio que um tenente ou major daquele tempo não representa um general de hoje, com sua experiência de comando em eventos historicamente decisivos - da missão no Haiti (iniciada no governo Lula) à intervenção na segurança do Rio (governo Temer), da relação com ministros da defesa civis (a partir de FHC) aos embates com a Comissão da Verdade (instituída por Dilma e centrada em crimes da ditadura 1964-1985). Mas não surpreende que no geral, e somando o registro do jornalzinho com as minhas lembranças, os militares sigam ligados a temas e juízos que atravessaram décadas: afinal, não houve reforma curricular nas escolas de Exército, Marinha e Aeronáutica, organizações que vivem num mundo à parte, com seus sistemas autônomos de educação, saúde, previdência, justiça.
Nesse contexto, o problema dos salários não é só um detalhe corporativista. Em 1992, o parlamentar que expressava a insatisfação da tropa a respeito era Jair Bolsonaro. Persona non grata no Exército do qual havia sido expulso, proibido de entrar em quartéis para evitar o contato dos soldados com suas ideias extremistas (o que fazia sentido numa realidade analógica), na prática ele personificava a autoestima elevada de uma casta - a mesma que até hoje considera justos institutos como a pensão vitalícia para filhas de oficiais (as do torturador Carlos Alberto Brilhante Ustra, por exemplo, ganhavam R$ 15,3 mil por mês cada em 2021).
Um dos pontos altos de “Poder camuflado” é a genealogia dessa relação, cujas arestas foram se aparando com o tempo. Contaram aí episódios particulares, como as pazes feitas entre Bolsonaro e o general que tutelou a transição democrática dos anos 1980, Leônidas Pires Gonçalves, mas algo essencial nunca mudou: a par da forma, os pronunciamentos do então deputado do baixo clero vocalizaram anseios profundos de seus ex-colegas de farda. Questões orçamentárias tiveram peso em momentos de crise com as instituições civis, algo recorrente desde o governo Sarney, e o discurso extremista é só uma forma menos articulada, menos eufemística, de expressar o golpismo que em horas decisivas muitos oficiais superiores brasileiros não hesitaram em considerar.
3. A ascensão bolsonarista é uma história de mão dupla em relação aos militares: quem dobrou quem, e a partir de quando? O anticomunismo histórico da corporação, que durante a Guerra Fria alimentou a ditadura e na democracia virou antipetismo (com toques de udenismo antipolítica), é bastante compatível com o discurso conservador de costumes (igualmente udenista) radicalizado pelo ex-capitão na era das redes sociais. As justificativas a respeito dadas pelos entrevistados de Fabio Victor às vezes soam razoáveis, fundadas num cansaço com os escândalos de corrupção dos governos petistas, mas não resistem aos tantos fatos que as desmentem: entre eles os escândalos do governo Bolsonaro, apoiado pela imensa maioria da caserna até o fim.
Algo parecido ocorre com falas aparentemente legalistas, na boca dos mesmos oficiais que agiram contra a democracia antes e depois de 2018 - o Eduardo Villas Bôas do célebre tuíte contra o STF, o Sérgio Etchegoyen que chamou Lula de covarde na esteira do golpe frustrado do 8/1. Comentando a atuação de Celso Amorim como ministro da Defesa (governo Dilma), o mesmo Etchegoyen explica o que vê como incompatibilidade entre um chefe com origem no Itamaraty e seus então subordinados de farda: “São carreiras com linguagens completamente diferentes (...). É como o general Augusto Heleno uma vez disse: ‘Botaram um presidente do Flamengo para cuidar da torcida do Vasco.’”
Involuntariamente, a comparação acaba sintetizando a tragédia que vivemos hoje. Porque a linguagem da diplomacia é a que reproduz os fundamentos da política: o entendimento sobre a necessidade da negociação, a leitura conjuntural (interna, externa) feita a partir de debates abertos com a sociedade (sem constrangimentos hierárquicos, sem confundir adversários com inimigos). A ausência de autocrítica em relação ao que aconteceu nos anos 1960/70, um dos combustíveis da radicalização fardada na época da Comissão da Verdade, não deixa de ser decorrência desse abismo cultural: Exército, Marinha e Aeronáutica só teriam a ganhar com o próprio arejamento, em vez de seguir presos a dogmas superados pela historiografia séria, a crimes cometidos por uma geração que em bom número já morreu.
Na pequena escala do CPOR, era comum fazermos piada com a pretensão militar de querer ditar os rumos do país, já que nosso dia a dia numa de suas instituições de ensino superior era um contínuo de obtusidade, de mandonismo baseado em regras cujas justificativas eram elas mesmas. Nunca esse modo de pensar e agir foi tão escancarado como no período Bolsonaro. O resultado, que foi do catastrófico ao patético em casos como o de Eduardo Pazuello à frente da Saúde durante a pandemia, está aí para nos lembrar do que não foi feito - e quem sabe ainda possa sê-lo - para a democracia enfim calar a grande tagarelice.
*Michel Laub, jornalista e autor dos romances "Diário da Queda" (2011) e "Solução de Dois Estados" (2020)
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Como lembra o ótimo “Poder camuflado”, do jornalista Fabio Victor (Companhia das Letras, 446 págs.), as Forças Armadas se veem como tutoras da sociedade brasileira desde a fundação da República: às vezes na linha de frente, às vezes nos bastidores, nunca como o que a tradição francesa de tropas profissionais chama de “o grande mudo”.
https://gilvanmelo.blogspot.com/2023/03/michel-laub-as-forcas-armadas-e.html#more
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domingo, 12 de março de 2023
Hélio Schwartsman – Rumo à utopia?
Folha de S. Paulo
Livro destrincha a história econômica do século 20
Numa coisa Karl Marx e John Maynard Keynes concordavam. Ambos viam o progresso tecnológico como uma solução do problema econômico da humanidade. Um dia as máquinas produziriam sozinhas tudo o que as pessoas precisam, o que nos libertaria para viver a utopia, a verdadeira emancipação do homem. "Slouching Towards Utopia" ("Arrastando-se rumo a Utopia" em tradução não oficial), de Brad DeLong conta essa e várias outras histórias.
Na verdade, "Slouching..." pode ser descrito como uma história econômica do século 20 ampliado. Começa em 1870, com a segunda Revolução Industrial, e vai até 2010, após a crise dos subprimes. DeLong começou a escrever a obra nos anos 1990, mas o livro só foi publicado em 2022, entre outras razões porque o autor não conseguia terminar. As coisas não paravam de acontecer.
A tese central de DeLong é que o progresso tecnológico pós-1870 permitiu que a humanidade escapasse à armadilha malthusiana que a assombrou até então. Os ganhos de produtividade foram tamanhos que possibilitaram o enriquecimento das sociedades e não só o aumento das populações, como era a regra. E, de fato, um indivíduo de classe média de país desenvolvido tem hoje acesso a mais riqueza que os milionários do século 19. Mesmo a pobreza extrema do Terceiro Mundo foi substancialmente reduzida. Mas nem o mais rematado otimista diria que chegamos à utopia.
Para DeLong, foi só em duas janelas, entre 1870 e 1914 e nos 30 anos após a Segunda Guerra, nos quais as sociais-democracias prosperaram, que os países do Norte Global experimentaram um gostinho de milagre. O avanço técnico se somou a outras particularidades históricas, como a globalização, para produzir ciclos de grande otimismo. Nos demais períodos tivemos eventos como duas guerras mundiais e duas grandes recessões que falam por si.
Segundo o autor, os bons tempos não vão voltar. O neoliberalismo, que é a resposta mais recente aos acontecimentos, fracassou. E temos agora a crise climática.
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