Inspirados já nos ensinamentos de Sófocles, aqui, procurar-se-á a conexão, pelo conhecimento, entre o velho e o novo, com seus conflitos. As pistas perseguidas, de modos específicos, continuarão a ser aquelas pavimentadas pelo grego do período clássico (séculos VI e V a.C).
domingo, 22 de agosto de 2021
LIRISMO SEM SUSTANÇA
"Palhaços, marcianos, canibais, lírios pirados"
Aldir Blanc / João Bosco.
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- Não quero mais saber do lirismo que não é libertação.
(BANDEIRA, Manuel. "Poesia Completa e Prosa". Rio de Janeiro. Aguilar, 1974)
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Para Ayres Britto, falhas processuais devem impedir pedido de impeachment de Bolsonaro contra Moraes
Ex-presidente do STF explica que questões apontadas como crime de responsabilidade não se enquadram no que diz a lei
Mariana Muniz
20/08/2021 - 21:52 / Atualizado em 20/08/2021 - 22:14
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Ministro Ayres Brito, ex-presidente do Supremo Tribunal Federal Foto: André Coelho/Agência O Globo
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Ministro Ayres Brito, ex-presidente do Supremo Tribunal Federal Foto: André Coelho/Agência O Globo
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BRASÍLIA — Ex-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), o ministro aposentado Carlos Ayres Britto disse ao GLOBO avaliar que o pedido de impeachment apresentado pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) nesta sexta-feira contra o ministro Alexandre de Moraes não terá encaminhamento no Senado por questões processuais.
— A denúncia não será recebida por falta de legitimidade processual do presidente, que não tem, entre suas atribuições sejam constitucionais, sejam legais, essa possibilidade de denunciar ministro do Supremo por crime de responsabilidade —, observou.
Leia mais: Marco Aurélio Mello sobre pedido de impeachment: 'estão esticando a corda'
A ação foi assinada por Bolsonaro enquanto presidente da República, e não como cidadão comum. O documento encaminhado por Bolsonaro foi recebido pelo chefe de gabinete do presidente da Casa, Rodrigo Pacheco (DEM-MG).
— Repetindo: esse tipo de denúncia nem faz parte das atribuições que i artigo 84 da Consitutiçao insere nas atribuições do presidente da República e a própria lei 1079 há várias passagens (principalmente no artigo 55) em que fica bem separada a figura do presidente da República da figura do cidadão comum:"este sim habilitado a fazer a denúncia de que estou a falar —, acrescentou.
Na avaliação de Ayres Britto, também não há a chance de o pedido feito por Bolsonaro ser deferido quanto ao mérito dos crimes de responsabilidade supostamente cometidos por Moraes.
A peça se baseia em dois fundamentos principais: o de que o ministro decidiu em processos nos quais deveria ter se declarado suspeito, ferindo o artigo 39.2 da Lei do impeachment e o de que Moraes "procede de modo incompatível com a honra, dignidade e decoro de suas funções", conduta prevista no artigo 39.5 da mesma lei. Segundo o presidente, o ministro estaria descumprindo o compromisso assumido quando arguido no Senado, ocasião em que manifestou-se pela defesa intransigente de direitos e garantias individuais.
Reação:Presidente do Senado diz que não vê fundamentos para impeachment de ministro do STF
Segundo o ministro aposentado, a petição "não é feliz no tipificar os crimes de responsabilidade de que trata o artigo 39, pois nenhuma das hipóteses está configurada".
— No caso do número 2 porque Moraes não proferiu julgamento. Inquérito não é causa em sentido processual e não houve julgamento até agora, é um inquérito em curso, um inquérito é pré-processual . E, no caso do número 5, para fins de direito o compromisso é feito quando do ato de posse, não quando do ato da arguição pública perante o Senado. O artigo 78 da Constituição bem diz isso a propósito do Presidente da República. É no ato de posse que você declara que aceita o cargo, e que se compromete a exerce-lo com fidedignidade. É no ato de posse, não é quando da sabatina (coloquialmente conhecia como sabatina) —, explica.
A formalização do pedido de impeachment contra Moraes ocorre no dia em que a Polícia Federal cumpriu mandados de busca e apreensão em endereços do cantor Sérgio Reis e do deputado federal bolsonarista Otoni de Paula (PSC-RJ).
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A petição do impeachment de Moraes, que Bolsonaro assinou, é peça muito fraquinha…
Publicado em 21 de agosto de 2021 por Tribuna da Internet
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Alexandre de Moraes tem pedido de impeachment feito por Bolsonaro
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Jorge Béja
Li as dezoito páginas da petição denominada “queixa-crime”, que Jair Bolsonaro endereçou e protocolou no Senado Federal com o pedido de impeachment do ministro Alexandre de Moraes do Supremo Tribunal Federal. E no final deste breve artigo segue o link da referida petição, para que nossos leitores a conheçam na íntegra.
A peça é assinada apenas por Jair Bolsonaro. Mas se percebe que não foi ele quem a redigiu. Forma, conteúdo e fundamentação partiram de quem é advogado.
Não justifica a expulsão de Moraes do STF com a recepção, processamento, julgamento e acolhimento do impeachment.
https://static.poder360.com.br/2021/08/Impeachment-Alexandre-Moraes-Bolsonaro.pdf
*** *** http://www.tribunadainternet.com.br/a-peticao-de-impeachment-de-moraes-que-bolsonaro-assinou-e-peca-muito-fraquinha/ *** ***
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“Não quero saber do lirismo que não é libertação!” – Manuel Bandeira
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Poética
Estou farto do lirismo comedido
Do lirismo bem comportado
Do lirismo funcionário público com livro de ponto expediente
protocolo e manifestações de apreço ao Sr. diretor.
Estou farto do lirismo que pára e vai averiguar no dicionário
o cunho vernáculo de um vocábulo.
Abaixo os puristas
Todas as palavras sobretudo os barbarismos universais
Todas as construções sobretudo as sintaxes de exceção
Todos os ritmos sobretudo os inumeráveis
Estou farto do lirismo namorador
Político
Raquítico
Sifilítico
De todo lirismo que capitula ao que quer que seja
fora de si mesmo
De resto não é lirismo
Será contabilidade tabela de co-senos secretário do amante
exemplar com cem modelos de cartas e as diferentes
maneiras de agradar às mulheres, etc
Quero antes o lirismo dos loucos
O lirismo dos bêbedos
O lirismo difícil e pungente dos bêbedos
O lirismo dos clowns de Shakespeare
– Não quero mais saber do lirismo que não é libertação.
MANUEL BANDEIRA (1886 – 1968)
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Conteúdo fraco prejudica texto
06/11/2007
adminAprendiz
Do ponto de vista da macroestrutura, o redator consegue criar um texto organizado, com introdução, desenvolvimento e conclusão. Parece, entretanto, ainda um tanto preso a um modelo escolar, que revela mais a preocupação com o julgamento do examinador do que comprometimento com o tema em debate.
Não se pode ignorar que o candidato a um exame vestibular tenha mesmo a preocupação de "acertar". Ocorre, porém, que o peso atribuído à redação nas provas se explica pelo fato de o modo de elaborar um texto atestar o grau de maturidade intelectual do estudante (e nisso se incluem não só a quantidade de informações, mas, sobretudo, a capacidade de formar um juízo autônomo com base nelas).
Por esse motivo, o aluno deve ir além das estratégias de construção de texto que, muitas vezes, aprende nas aulas. Num primeiro momento, elas são importantes, mas é preciso avançar. A forma aparentemente acertada não substitui a falta de conteúdo ou de envolvimento na discussão em pauta.
É fácil observar o modelo seguido pelo redator: introdução por definição (o que é útil dada a natureza do tema -vivissecção é um termo relativamente pouco conhecido), dois argumentos (o favorável e o contrário) e uma conclusão em que busca conciliar os dois lados da questão. Existem, todavia, problemas.
Na segunda frase do texto, o redator procura extrair da própria definição a polêmica que envolve o tema, o que soa muito artificial. Além disso, a afirmação sobre o número de animais sacrificados é ingênua -melhor seria enfatizar o sofrimento desses animais, fato que está na raiz do debate.
No segundo parágrafo, o estudante ensaia uma discussão filosófica. Ganharia mais se usasse esse conteúdo no parágrafo inicial, tornando mais consistente a introdução do texto.
Ao tratar dos cientistas favoráveis à prática (que são a maioria), afirma que eles consideram o uso da técnica imprescindível ao estudo de "várias espécies".
Poderia ter mencionado a espécie humana, afinal é daí que provém a força desse argumento (a necessidade de salvar vidas, a evolução da ciência no combate às doenças etc.). Igualmente, faltou desenvolver o outro lado, mostrando os outros argumentos.
De modo geral, o redator apresenta baixo comprometimento com o tema. A conclusão, iniciada pela fórmula de coesão "Decorre do que foi exposto a conclusão de que…", também está artificial, sobretudo porque essa expressão (de tom eloqüente) é seguida de uma afirmação inconsistente ("não cabe a uma pessoa, isoladamente, proibir ou permitir a vivissecção"). Ninguém pensa em debater a possibilidade de "alguém" tomar uma decisão isoladamente -o tema está em discussão na sociedade.
Finalmente, a busca de "conciliação entre as partes" remete à terminologia jurídica ("partes" são os atores de um processo judicial), o que é inadequado ao contexto. Pior que isso, entretanto, é o autor não se posicionar diante do tema.
(Folha de S. Paulo)
*** *** https://portal.aprendiz.uol.com.br/content/conteudo-fraco-prejudica-texto ***
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Língua Portuguesa
Significado de Sustança
O que é Sustança:
Sustança é um substantivo feminino da língua portuguesa e significa "algo que dá vigor, força". Pode também servir para descrever algo substancioso, faustoso, pomposo e magnífico. É um termo normalmente relacionado com o mundo da gastronomia, que serve para descrever um prato com forte conteúdo, consistência e com elevado valor nutritivo.
Um prato que contenha arroz, feijão, carne e macarrão, constitui uma refeição com sustança, porque apresenta elevado valor energético: "Depois de tantas horas de caminhada, preciso de uma comida com sustança para recuperar as energias!"
Este termo tem origem no latim, com a palavra substantia, e tem como sinônimos as palavras sustância e substância. No entanto, como a palavra substância tem um significado mais amplo, na maior parte das vezes a palavra substância não é usada no mesmo contexto que sustança.
Data de atualização: 08/01/2013.
*** *** https://www.significados.com.br/sustanca/ *** ***
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Questões de português
Origem: Enem
(Enem2000) "Poética", de Manuel Bandeira, é quase um manifesto do movimento modernista brasileiro de 1922. No poema, o autor elabora críticas e propostas que representam o pensamento estético predominante na época.
Poética
Estou farto do lirismo comedido
Do lirismo bem comportado
Do lirismo funcionário público com livro de ponto
expediente protocolo e
[manifestações de apreço ao Sr. diretor.
Estou farto do lirismo que pára e vai averiguar no dicionário
[o cunho vernáculo de um vocábulo
Abaixo os puristas
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Quero antes o lirismo dos loucos
O lirismo dos bêbedos
O lirismo difícil e pungente dos bêbedos
O lirismo dos clowns de Shakespeare
- Não quero mais saber do lirismo que não é libertação.
(BANDEIRA, Manuel. "Poesia Completa e Prosa". Rio de Janeiro. Aguilar, 1974)
*** *** https://professor.bio.br/lista.php?tabela=portugu%C3%AAs&topico=0&origem=Enem&p=20 *** ***
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Os composoitores João Bosco e Aldir Blanc, em 1982 Foto: Luiz A. Barros / Agência O Globo
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RIO - Em 25 de dezembro de 1977, morria na Suíça o genial comediante e cineasta inglês Charles Chaplin. No Brasil, o cantor, violonista e compositor João Bosco sentiu a necessidade de homenagear o artista e, entre o Natal e o Ano Novo, começou a rascunhar um samba que remetia ao personagem mais famoso de Chaplin, o vagabundo Carlitos. E aí resolveu chamar o seu parceiro de fé, Aldir Blanc, que morreu nesta segunda-feira, vítima de complicações da Covid-19, para pôr letra na sua criação. Só que nas mãos de Aldir, o samba acabou tomando outros rumos, vindo a se tornar “O bêbado e a equilibrista”, um clássico da música popular brasileira e hino informal da Lei da Anistia – a que seria responsável por trazer de volta ao país, em 1979, alguns dos brasileiros exilados pela ditadura militar.
FONTE:
O GLOBO
Aldir Blanc: conheça a história de 'O bêbado e a equilibrista', hino da Anistia e um clássico da música brasileira
NONE MAY 04, 2020
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O Rancho da Goiabada
João Bosco
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Ouvir "O Rancho da Goiaba…"
Os boias-frias quando tomam umas biritas
Espantando a tristeza
Sonham com bife à cavalo, batata frita
E a sobremesa
É goiabada cascão, com muito queijo, depois café
Cigarro e o beijo de uma mulata chamada
Leonor, ou Dagmar
Amar, um rádio de pilha um fogão jacaré a marmita
O domingo no bar, onde tantos iguais se reúnem
Contando mentiras pra poder suportar ai
São pais de santos, paus de arara, são passistas
São flagelados, são pingentes, balconistas
Palhaços, marcianos, canibais, lírios pirados
Dançando, dormindo de olhos abertos
À sombra da alegoria
Dos faraós embalsamados
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O Rancho da Goiabada
Elis Regina
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Composição: Aldir Blanc / João Bosco.
*** *** https://www.letras.mus.br/joao-bosco/46529/ *** ***
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Entrevista
MIGUEL REALE JÚNIOR, JURISTA
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Com Bolsonaro estamos sempre sob ameaça de golpe
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20/08/2021 nº 2692Edições anteriores
Entrevista
MIGUEL REALE JÚNIOR, JURISTA
Com Bolsonaro estamos sempre sob ameaça de golpe
Julia Moraes / AG. ISTOE
Felipe Machado
Edição 20/08/2021 - nº 2692
Aos 77 anos, Miguel Reale Júnior não se cansa de lutar pela democracia. O autor do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff defende que os crimes de responsabilidade cometidos por Jair Bolsonaro já o qualificam a seguir o mesmo caminho. Afirma, no entanto, que o presidente conseguiu “um escudo contra o afastamento” quando nomeou Ciro Nogueira para a Casa Civil e “entregou o governo ao PP”. Mestre das palavras e argumentos, Reale Júnior tem como arma o conhecimento sobre um livro bastante vilipendiado nos últimos tempos: a Constituição. Jurista, professor de Direito Penal da Universidade de São Paulo e criminalista respeitado, teve seus dias de político ao comandar, por um curto período, o Ministério da Justiça do governo Fernando Henrique Cardoso (PSDB). Sua relação com os tucanos, porém, chegou ao fim definitivamente em 2017, quando se desfiliou do partido. Com lucidez e didatismo, traça um panorama jurídico e político do Brasil de hoje – um País em que a democracia está cada vez mais frágil.
Como o senhor viu a ameaça do presidente Jair Bolsonaro ao anunciar que pediria o impeachment dos ministros do STF, Alexandre de Moares e Luis Roberto Barroso?
O presidente precisa de um inimigo para mobilizar suas tropas, e ele já sinalizou que esse inimigo é o Judiciário. Ao acentuar o confronto, ele coloca o Executivo, Legislativo e Judiciário em um mesmo caldeirão. É muito grave. Bolsonaro cria uma crise artificial, porque o que importa para ele é a crise. Isso repercute na economia, pois já vivemos um processo inflacionário grave, que atinge os mais pobres. Falta comando na economia, o que pode levar a uma recessão ainda maior.
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Há uma pressão do Ministério Público Federal para que o Procurador-Geral da República, Augusto Aras, deixe de ter uma posição partidária no exercício do cargo
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O general Augusto Heleno defendeu um golpe de estado, dizendo que o artigo 142 da Constituição garante as Forças Armadas como “poder moderador”.
Participei proximamente da concepção desse artigo na época da Constituinte. É preciso ler o que ele diz: que as Forças Armadas podem ser convocadas para solucionar impasses por qualquer um dos poderes constituídos, Executivo, Legislativo ou Judiciário. O conceito da lei está sendo distorcido.
O Senado revogou a Lei de Segurança Nacional, um “entulho autoritário”, e aprovou uma nova proposta baseada no projeto apresentado pelo senhor em 2002, quando era ministro da Justiça do presidente FHC. Demoramos muito para revogar a LSN?
O projeto ficou paralisado 20 anos no Congresso Nacional porque os crimes contra a segurança nacional eram raros. No governo FHC, a lei nunca foi aplicada. Durante as gestões de Lula e Dilma, foi usada apenas em casos de greves de policiais. A questão ressurgiu agora, quando o pretendido futuro ministro do STF, André Mendonça, passou a usar a LSN contra opositores do governo, inclusive intelectuais e jornalistas. A data de aprovação do novo projeto foi significativa: no dia em que vimos os tanques fazendo fumaça e gastando óleo diesel com seus motores desregulados.
A nova lei regulamenta crimes contra o Estado Democrático de Direito e as instituições democráticas, muitos deles cometidos pelo presidente Jair Bolsonaro. Qual é o risco de ele desfigurar a lei por meio de vetos?
Há um capítulo que fala sobre crimes de caráter eleitoral, um deles relacionado as fake news. Esse pode ser um dos vetos do presidente. Pela votação significativa que tivemos no Senado, porém, eventuais vetos podem ser derrubados.
Como o senhor analisa o episódio do desfile de tanques ocorrido no dia da votação do voto impresso?
A cerimônia em si foi absolutamente inaudita, fantasiada, um pouco ridícula. Gastar dinheiro público para fazer desfile de tanques mal regulados para levar um convite? Foi absolutamente inusitado. A pergunta é: para que fazer isso? Foi uma demonstração de força, para dizer que as Forças Armadas estão em apoio ao presidente. O recado deu com os burros n’água, porque, ao contrário, a ação foi objeto de críticas e as Forças Armadas saíram desmoralizdas. Deu tudo errado, parecia uma festa programada pelos Trapalhões.
O presidente do STF, Luiz Fux, rompeu o diálogo com o presidente, o TSE encaminhou ao STF notícia-crime contra ele. O que é possível fazer no âmbito legal para conter os arroubos autoritários de Bolsonaro?
O STF e o TSE já fizeram o que poderiam fazer. Existe ainda a ação de apuração das responsabilidades na CPI da Covid. Há uma pressão do Ministério Público Federal para que o Procurador-Geral da República, Augusto Aras, deixe de ter uma posição partidária no exercício do cargo. Há ainda a manifestação da sociedade civil, por meio do manifesto assinado por empresários, intelectuais, economistas, jornalistas. Ao perder no voto impresso, o presidente diz que as eleições de 2022 não serão confiáveis. Ele não quer o voto impresso, quer o argumento de que não teremos o voto impresso com a finalidade de melar as eleições. Sabe que terá dificuldades de chegar ao segundo turno e não tem outro argumento para enfrentar a derrota a não ser negar a legitimidade do pleito.
O Procurador-Geral da República pode tomar decisões individuais que não são passíveis de recurso. No caso de Augusto Aras, a situação é ainda mais delicada porque ele não foi escolhido por lista tríplice. A sociedade civil é refém do PGR? Como sair dessa armadilha?
Conheço bem o assunto porque também fiquei refém de Geraldo Brindeiro quando era Ministro da Justiça. A questão do PGR é um problema da estrutura política. É um cargo importantíssimo e é necessário que exista uma regulamentação diversa para que o PGR não seja um imperador a impor seu tempero e o seu humor em decisões graves.
O senhor foi autor do impeachment contra a presidente Dilma Rousseff. Há elementos para afastar Bolsonaro?
São situações diferentes. Ele conseguiu um escudo contra o afastamento ao nomear Ciro Nogueira para a Casa Civil e entregar o governo ao PP. Com Arthur Lira na presidência da Câmara e Ciro nas manobras, o processo não será instalado. Bolsonaro acumula crimes de responsabilidade, da falta de decoro às acusações mentirosas. Há ainda a participação em atos contra a democracia e o comportamento na pandemia. Nesse caso, não foi incompetência: havia o plano da imunização de rebanho. É um mantra, assim como o tratamento precoce. Ele tentou impedir os governadores e prefeitos de impor medidas de precaução previstas na lei sancionada pelo próprio presidente. Conspirou contra o isolamento, promoveu aglomerações, desprezou as vacinas. Isso revela de forma espantosa o desprezo pela vida e pela saúde. Não podemos nos iludir: não foi negligência. Foi planejado.
Dilma deixou o poder após o impeachent. Se fosse afastado, Bolsonaro aceitaria sair de forma pacífica?
Com Bolsonaro estamos sempre sob ameaça de golpe. Não se pode dizer que ele é incoerente. Isso vem desde o tempo de tenente frustrado e das entrevistas que dava como deputado.
Bolsonaro é protegido pela imunidade do cargo. Quais sanções podem atingi-lo após deixar a presidência?
São várias. Contra a saúde pública, em decorrência da pandemia, artigos 267 e 268. Contra o perigo de vida, artigo 132 do Código Penal. Ainda estimulou a população a descumprir as normas de precaução e a praticar o crime previsto no artigo 268, ao incitar a invasão de hospitais. Além dos crimes contra as instituições democráticas. Ele sabe que, não sendo presidente, cairá na vala comum e na primeira instância do MP. Deixará de ficar na mão do procurador amigo.
O TRF-3 determinou o trancamento da última ação penal contra o ex-presidente Lula que tramitava em São Paulo. Como o senhor vê uma nova candidatura de Lula?
Os erros do juiz Sérgio Moro e dos procuradores da Lava Jato não transformam Lula em um inocente. O lamentável é que o PT nunca fez sua meaculpa. Chegaram a criar uma fantasia de que toda a corrupção foi criação dos EUA junto com os militares para enfraquecer a engenharia brasileira. Essa ficção cientifica depõe contra o PT, é ridícula. Tive acesso aos processos. Havia uma tríade formada por empresários, diretores de estatais e cúpulas partidárias. A começar pelo PP, que criou a corrupção sistêmica com o PT e PMDB. Os partidos indicavam diretores na Petrobras e, junto com empresários, promoviam sobrepreços e propinas, depois revertidas aos partidos. Fingir que não houve nada, passar uma esponja e dizer que houve criminalização da política? Será um grande retrocesso ético e moral se cairmos nesse lenga-lenga. Houve, sim, a prática de delitos por parte da classe política, de vários partidos, inclusive os que não estavam no poder.
A postura do STF de mudar seu entendimento em relação ao foro da Lava-Jato não criou instabilidade jurídica? Não dá a impressão de que tentaram corrigir a decisão?
Sim, houve erros graves. O STF diz que tomou a decisão sem usar as gravações publicadas no caso da Vaza-Jato, mas é evidente que, sem elas, as alegações de suspeição seriam muito frágeis. A ligação espúria do MP com a magistratura, combinando o jogo, é inadmissível.
Os erros do juiz Sérgio Moro e dos procuradores da Lava-Jato não transformam o ex-presidente Lula em inocente. O lamentável é que o PT nunca fez sua meaculpa
O professor de Política da Universidade de Nova York (NYU), Adam Przeworski, define democracia como “um regime em que os governantes deixam o poder quando perdem as eleições”. É possível que o presidente Bolsonaro tente se manter no poder mesmo se perder?
Há esse risco. Não vejo as Forças Armadas embarcando nessa aventura, mas tenho medo de um movimento sedicioso com tropas bolsonaristas fanáticas, com milícias e polícias militares, especialmente dos corpos inferiores das PMs. É bom lembrar que todos os movimentos sediciosos ocorridos no Brasil tiveram participação das PMs. As Forças Armadas têm poucos membros profissionalizados, mas as PMs do RJ e SP são imensas. Meu receio é que Bolsonaro crie uma desconfiança com a democracia. Imagine um movimento à la Trump, com milícias e PMs invadindo o Congresso? Haveria risco de muitas mortes.
As instituições estão funcionando?
Sim, mas espero que as lideranças políticas abram mão de suas ambições pessoais para construir uma terceira via. Que os presidenciáveis escolham aquele que tenha uma capacidade maior de reunião, como foi com Tancredo Neves. É o momento de pensar em um governo de coalizão, de conciliação, de salvação. Aí sim, esses políticos vão mostrar que amam mais o País do que a si mesmos.
*** *** https://istoe.com.br/com-bolsonaro-estamos-sempre-sob-ameaca-de-golpe/ *** ***
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