terça-feira, 23 de abril de 2024

CONDÃO DA PROXIMIDADE

' "CONDÃO DA PROXIMIDADE: 'SÓ FAÇO ISSO NA VIDA.'" - Fernando Haddad (25 de janeiro de 1963 (61 anos) São Paulo, SP, Brasil, ministro da Fazenda de Lula. "O QUE ESSE GOVERNO QUER?" - João Santana (São Paulo, 13 de setembro de 1957 (66 anos) é um advogado brasileiro. Foi ministro dos Transportes e das Comunicações no governo Fernando Collor de Mello, de 10 de maio de 1991 a 13 de maio de 1992. "É uma porta para sonhos." - Décio Lima 1 de outubro de 1960 (63 anos) Itajaí, Santa Catarina, presidente do SEBRAE. "Você não vai a lugar nenhum." - João Santana, comentarista do Jornal da Cultura da TV Cultura. -------------
----------- Cortinas abertas: Desvendando o idioma do universo teatral ------------ Aqui vai uma tentativa no estilo jocoso e dramatúrgico de Millôr Fernandes: CONDÃO DA PROXIMIDADE: "SÓ FAÇO ISSO NA VIDA." - Fernando Haddad, o astuto ministro da Fazenda que balança nas cordas da política, ecoando como um grito solitário no vasto teatro da vida pública. "O QUE ESSE GOVERNO QUER?" - Pergunta-se João Santana, o perspicaz advogado que já navegou nos mares turbulentos do poder, buscando desvendar os mistérios intrincados do Palácio do Planalto. "É uma porta para sonhos." - Diz Décio Lima, o visionário presidente do SEBRAE, cujas palavras ressoam como notas musicais em uma sinfonia de oportunidades e empreendedorismo. "Você não vai a lugar nenhum." - Adverte João Santana, o incisivo comentarista do Jornal da Cultura, que, com sua pena afiada, corta as asas das ilusões políticas, deixando os sonhadores de plantão com os pés firmemente plantados no chão da realidade. Espero que essa versão captura um pouco do espírito irreverente e satírico de Millôr Fernandes! _________________________________________________________________________________________________________ ---------------
--------- As Portas do Sonho Capa comum – Ilustrado, 29 maio 2002 Edição Português por Adélia Bezerra de Meneses (Autor), Moema Cavalcanti (Arte de Capa) O sonho é “o mais antigo e complexo dos gêneros literários”: quem sonha é poeta da própria imaginação. Para além da interpretação psicanalítica, a autora vê no mundo onírico um modo de conhecer a cultura de um período histórico. É com essa perspectiva que ela estuda os sonhos na Grécia Antiga, como o de Penélope, na Odisseia, e os de Clitemnestra, nas tragédias de Sófocles e de Ésquilo. As imagens do livro ajudam a compor a análise, revelando aspectos importantes da sociedade grega – e da nossa. _________________________________________________________________________________________________________ --------------- Sonho Meu Dona Ivone Lara Letra Significado Sonho meu, sonho meu Vai buscar quem mora longe, sonho meu Sonho meu, sonho meu Vai buscar quem mora longe, sonho meu Vai mostrar esta saudade, sonho meu Com a tua liberdade, sonho meu No meu céu a estrela guia se perdeu A madrugada fria só me traz melancolia Sonho meu Sinto o canto da noite na boca do vento Fazer a dança das flores no meu pensamento Traz a pureza de um samba Sentido, marcado de mágoas de amor Um samba que mexe o corpo da gente E o vento vadio embalando a flor Traz a pureza de um samba Sentido, marcado de mágoas de amor Um samba que mexe o corpo da gente E o vento vadio embalando a flor Sonho meu Composição: Composição de Délcio Carvalho e Dona Ivone Lara. ------------- O ex-prefeito da cidade de São Paulo Fernando Haddad (PT) foi anunciado como ministro da Fazenda (atualmente chamado de Ministério da Economia) para o próximo mandato do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Haddad, que já era cotado para a pasta desde a vitória do petista nas eleições, foi ministro da Educação durante as gestões de Lula e Dilma Rousseff, entre 2005 e 2012. Ele também disputou a reeleição na prefeitura de SP em 2016, as eleições presidenciais de 2018 e se candidatou para o governo de São Paulo em 2022 – acabou derrotado nas três disputas. "O QUE ESSE GOVERNO QUER?" João Eduardo Cerdeira de Santana GOMM (São Paulo, 13 de setembro de 1957) é um advogado brasileiro. Foi ministro dos Transportes e das Comunicações no governo Fernando Collor de Mello, de 10 de maio de 1991 a 13 de maio de 1992. _________________________________________________________________________________________________________ -----------
----------- PACOTE DE EMPRÉSTIMOS E RENEGOCIAÇÕES DE DÍVIDAS PARA A CLASSE MÉDIA QUE EMPREENDE ------------- ------------ _________________________________________________________________________________________________________ "Queria só dar um pitaco no microcrédito, o juro é muito alto. Ele só é mais baixo que o juro comum mas ele é muito alto. Quero dizer o seguinte: todos os países que realizaram programas grandes de microcrédito, Índia por exemplo, e outros, pra justamente atender essa população que quer empreender, de menor poder aquisitivo, o fizeram descolando esse crédito da questão do juro que acontece no resto da economia. Você ter relação dos juros que o Banco Central define com o mercado e o microcrédito, você não vai a lugar nenhum." João Santana, comentarista do Jornal da Cultura da TV Cultura _________________________________________________________________________________________________________ 1:52 / 48:47 O replay do chat não está disponível para este vídeo. Jornal da Cultura | 22/04/2024 Jornalismo TV Cultura Transmissão ao vivo realizada há 11 horas #JornalDaCultura #JC o Jornal da Cultura desta segunda-feira (22), você vai ver: presidente Lula desabafa sobre dificuldades na relação entre Arthur Lira e Alexandre Padilha; governo federal cria nova linha de crédito e renegociação de dívidas; assembléias legislativas aderem emendas Pix; indígenas pressionam contra marco temporal e pede mais demarcações e tensões no Oriente Médio e na Europa fazem gastos militares dispararem. Para comentar esses assuntos, Karyn Bravo recebe a economista Juliana Inhasz, professora do Insper, e o advogado João Santana. _________________________________________________________________________________________________________ --------------
-------------- ------------ ERRO DE PORTUGUÊS - OSWALD DE ANDRADE CANAL LIVRÃO ------------ _________________________________________________________________________________________________________ "Quando o português chegou / Debaixo duma bruta chuva / Vestiu o índio / Que pena! / Fosse uma manhã de sol / O índio teria despido / O português". (Oswald de Andrade, Erro de português.) _________________________________________________________________________________________________________ ------------
------------ A Porta dos Sonhos Miguel Bakun Óleo sobre tela 54,50 cm x 45,00 cm A Porta dos Sonhos | Enciclopédia Itaú Cultural _________________________________________________________________________________________________________ Psicologia USP versão On-line ISSN 1678-5177 Psicol. USP v.5 n.1-2 São Paulo 1994 ARTIGOS ORIGINAIS As portas do sonho The gates of dreams Adélia Toledo Bezerra de Meneses Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas - USP RESUMO Este ensaio trata da metáfora das "Portas do Sonhos", extremamente importante na Antiguidade clássica. A "teoria" segundo a qual os sonhos passam ou pela porta de chifre (e se realizam) ou pela de marfim (e são falsos) foi e tem a aparente aleatoriedade de suas metáforas "resolvida" por um trocadilho que se estabelece no grego. Isso postula uma reflexão sobre o Witz e sobre as relações entre Linguagem e Mito. Tal topos repontará na Eneida de Virgílio, no Canto VI, a "Descida aos Infernos" — lugar onde se reencontra o passado e se gesta o futuro. É significativo que nas duas epopéias que fazem da viagem seu motivo central (respectivamente, de Ulisses e de Enéias), aponte-se para a existência dessa outra qualidade de viagem, que é aquela rumo ao mundo das profundezas: insinuação de uma passagem do épico ao psicológico? Descritores: Sonho. Mitologia grega. Metáfora. Mitos. ABSTRACT This essay tries to study the "Dream's Gates" metaphor, extremely important in classical Antiquity. The "theory" which states that the dreams either go through the horn gate (and become true) or the ivory gate (and are fakes), was formulated for the first time in Chant XIX of the Odyssey, and has the apparent aleatority of its metaphores solved by a quibble present in the ancient greek original. This brings us to ponder about the Witz and the relations between Language and Myth. Such topos will turn up again in Virgil's Aeneid, Chant VI, the "Descent to Hell" — the place where the past is reencountered and the future is engendered. It is interesting to note that in these two epopees, which have the voyage as their central motif (respectively of Odysseus and Aeneas), another quality of the voyage turns up, that to the underworld: is this a suggestion of a passage from the epic to the psychological? Index terms: Dream. Greek mythology. Metaphor. Myths. O respeito concedido aos sonhos na Antigüidade, contudo, baseia-se num discernimento psicológico correto e é a homenagem prestada às forças incontroladas e indestrutíveis existentes no espírito humano, ao poder demoníaco que produz o desejo onírico e que encontramos em ação no nosso inconsciente. (Freud, Interpretação dos Sonhos). Na versão esquiliana da lenda de Prometeu, o titã doa aos homens não apenas o fogo roubado aos deuses (e, com o fogo, "tesouro sem preço", a civilização e a técnica), mas também as formas da arte divinatória, e os sonhos: "Le premier je distinguai les songes que la veille doit réaliser et leur éclairai les sons charges d'obscurs présages (...)" (Ésquilo, Promethée enchainé, vs.472). É extraordinário que esses dois dons — absolutamente fundamentais para o ser humano — tenham uma proveniência comum: são dádivas do deus civilizador. Mas há uma segunda ilação a ser tirada desse fato: desde sempre, a ligação entre o sonho e a previsão do futuro, entre o sonho e as artes divinatórias, Pois há os sonhos "que a vigília deve realizar" e os sonhos que não se realizam. Essa idéia — que persegue os homens desde sempre — adquire concretude e imensa força plástica na alegoria das portas do sonho. Extremamente cara à Antigüidade Clássica, tal imagem tem seu ponto germinal na Odisséia, no Canto XIX, na boca de Penélope, ao fim do relato que ela faz de um sonho seu a Ulisses, disfarçado em forasteiro, retornando após 20 anos de guerra e aventuras, e ainda incógnito. O que é que Penélope pensa dos sonhos? "Forasteiro", diz ela, os sonhos são deveras embaraçosos, de sentido ambíguo, e nem todos se cumprem no mundo. Os leves sonhos têm duas portas, uma feita de chifre e outra de marfim; dos sonhos, uns passam pela de marfim serrado; esses enganam, trazendo promessas que não se cumprem; outros saem pela porta de chifre polido, e, quando alguém os tem, convertem-se em realidade. Receio, porém, que não tenha saído por esta o meu sonho temeroso (Homero, Odisséia, canto XIX, vs.560-9). Uma primeira e inarredável idéia que surge é a de que os sonhos vêm de outro lugar, vêm de alhures — de uma outra realidade, separada do mundo quotidiano (diurno) por portas. O sonho passa através dessas portas, faz a mediação entre dois mundos. É inevitável não se lembrar da fantasista mas engenhosa etimologia (uma delas, aliás) que Artemidoro de Daldis (o Autor da Oneirocrítica, do séc. II D. C, o monumental Tratado de Interpretação dos Sonhos) dá da palavra sonho, em grego oneiros: aí estaria embutido o nome de Iro, o mendigo de Ítaca que, na Odisséia, levava e trazia as mensagens a ele confiadas (Artémidore, La clef des songes). Tais mensagens — cujo estatuto importaria ainda precisar — passam através de portas — de marfim e de chifre, diz Penélope. A impressão inicial, mais do que impressão, uma intuição, de que essas "portas do sonho" escondem algo por detrás dessa metáfora altamente poética, me levou a perseguir um pouco essas imagens. Que os sonhos enganosos passem por uma porta, e aqueles que se realizam passem por outra, tudo bem. Mas por que porta de marfim e porta de chifre, respectivamente? Essas imagens, no entanto, parecem ter impressionado os Antigos. Na esteira da Odisséia, ela comparece em Platão, no diálogo Charmides, ou da Sabedoria: "Escuta então este meu sonho," diz Sócrates, "tenha ele tomado seu vôo pela porta de chifre, ou pela porta de marfim" (Platão, Charmides, p.290). E em Horácio, na ode do Livro III: Suis-je éveillé, pleurant un acte honteux? ou bien, sans reproche, suis-je le jouet d'une image dont le vol trompeur, par Ia porte d'ivoire m 'amène un songe? (Horácio, Odes et épodes). Mas é sobretudo em outro poema épico, a saber, na Eneida que, calcada na Odisséia, a alegoria das portas do sonho é utilizada por Virgilio, ao fim do famoso Canto VI: Há duas portas do sonho: uma é de chifre, diz-se, por onde as sombras reais facilmente saem; a outra, refulgente, é de marfim brilhante; mas por esta porta os manes enviam ao mundo celeste os fantasmas ilusórios. (Virgílio, Eneida, vs.893). O recurso ao original será indispensável: Sunt geminae Somni portae, quarum altera fertur cornea, qua veris facilis datur exitur umbris, altera candenti perfecta mitens elephanto, sed falsa ad caelum mittunt isomnia manes. O interessante é que, em latim, onde o termo "de chifre" é cornea e "de marfim" é elephanto, uma associação se configura: essas imagens poderiam referir-se, dizem os comentadores antigos (os Escoliastes, Eustathius) a duas das "portas de comunicação" do corpo humano, a saber: a porta cornea, de chifre, diria respeito aos olhos (cornea ocular) e a porta de marfim diz respeito às presas, e, portanto aos dentes, e conseqüentemente, à boca. Victor Bérard, na sua alentada Introduction à l Odyssée, assim situa o problema: D'un commentaire antique, copié ou résumé par Eustathe et les Scholies, il faut détacher quelques phrases qui nous feront mieux comprendre la traduction de ces verspar Virgile: "Porquoi les songes de corne sont-ils véridiques et les songes d'ivoire, trompeurs? C'est que la come étant le symbole de l'oeil et l'ivoire, celui de la dent, les choses vues sont toujoursplus certames que les choses dites". Autre raison: "Le Poète a connu deux sortes de songes, ceux qui viennent de Zeus, du ciel, et ceux qui viennent d'en has, des Enfers; or les cornes se dressent vers le ciel, et les défenses de l'elephant pendent vers la terre (Comentário de Eustathius, 1877, Apud Bérard, p. 139). Mas, e no grego? Muito se esclarece, quando se consulta o original. Pois se perdem, na tradução, dois trocadilhos do texto grego: de um lado, entre as palavras que significam chifre (Keras) e realizar-se (Krainein); e de outro lado, entre marfim (elephantínon) e enganar {elephairomai). E a aparente aleatoriedade dessas duas metáforas acha-se "resolvida" por um trocadilho, com todas as suas características de condensação, economia de dispêndio psíquico, humor etc., etc. E o curioso é que os comentadores helenistas eruditos, quando tratam desses versos, sempre apõem uma nota, em que invariavelmente se aponta para a "puerilidade desses jogos de palavras, que os gregos tanto admiravam...". Mas os gregos, e, na esteira dos gregos, Freud (O Chiste e suas Relações com o Inconsciente, essa obra capital da Psicanálise, da Estética e da Literatura), estão aí para provar que jogo de palavras é um ponto fulcral, em que a Linguagem e o Inconsciente se travejam (Bérard, Introduction à l'Odyssée).1 O que resta a ressaltar, e que acho extramamente significativo, é que, no mesmo texto em que relata seu sonho, Penélope, na seqüência, aciona um trocadilho, um Witz — como se quisesse mostrar-nos a relação que existe entre essas duas "formações do Inconsciente". O que se deduzir desse trocadilho? A porta da realização representada por "chifre", e a do engano, pelo "marfim". Ora, chifre e marfim não foram convocados pelo seu significado; keras e elephantínon estão aí pelo significante, remetendo, respectivamente a krainein (realizar-se) e elephairomai (enganar). Assim, marfim e chifre comparecem nesse texto do mesmo modo que o sátiro no sonho de Alexandre: Alexandre, relata Artemiro de Daldis em sua Oneirocrítica, sonhou, quando se preparava para fazer um cerco à cidade de Tiro, que via em seu escudo um sátiro dançando. Aristandros, o intérprete, dividiu a palavra Satyros em sa Tyros (= Tiro é tua) e, assim, fez com que o rei combatesse com tal garra que conquistou efetivamente a cidade. Vemos aqui em ação um processo extremamente utilizado nas formações do inconsciente, presente nos sonhos e nos trocadilhos (no Witz), e que leva a encarar a palavra na sua materialidade, na sua concretude. Assim como o sonho não remetia ao significado de sátiro, não se referia ao leque de significações que ele poderia desencadear (daimon da natureza; integrante do cortejo de Dionísio; mistura de homen e bode, eternamente perseguindo Mênades e Ninfas, etc. etc.), mas ao termo tomado na sua materialidade, assim também krainein e elephairomai não remetem a seus respectivos significados. Como figurar a porta da realização, a porta do realizar-se, porta do kraineinl Através do significante keras, tomado ao pé da letra, tomada na sua materialidade, na sua figurabilidade de chifre. A mais surpreendente representação da Porta de Chifre é Mesopotâmica: trata-se de um cilindro — sinete da época de Sargon (2.500 A.C.). O sol aí aparece entre duas colunas que se misturam com as montanhas. Há uma cabeça humana dominada por chifres recurvos, e desta cabeça partem raios terminando em estrelas; é o sol poente, diz Róheim (Les portes du rêve, p.293), para provar seu argumento de que há uma ligação entre as Portas do Sonho e as Portas do Sol. Percebe-se aqui que o processo de recurso ao significante radica na necessidade de figurabilidade. Gomo dar conta de representar idéias abstratas, como por exemplo a plausibilidade, ou melhor, a possibilidade de realização dos sonhos, a não ser recorrendo à palavra "realizar-se" tomada na sua materialidade, no jogo a que kéras, chifre, se presta, na sua inter-assonância com krainein? Da mesma maneira, como figurar "o que engana", sem apelar para o significante de elephairomai inter-evocado por elephantínon (de marfim)? A palavra é sema e soma, é signo e corpo: é isso que nos ensinam os trocadilhos. A importância do significante nunca poderá ser suficientemente apregoada, nas formações do inconsciente. Essa visada será fundamental, por exemplo, na abordagem das relações da Palavra com o Mito. Sabemos o quanto o mito é importante, também de uma perspectiva psicanalítica, e de seu estatuto, semelhante ao sonho: o mito é uma espécie de equivalente coletivo do sonho. Ou: o sonho é o mito individual de cada um. Um dos pressupostos da consciência elaboradora de mitos é exatamente a idéia de que nome e essência se correspondem, numa relação intimamente necessária, diz Cassirer, endossando Max Müller, que empregava a análise filológica como ponto de partida da sua teoria de uma articulação entre a linguagem e o mito. Segundo Cassirer, em seu Linguagem, Mito e Religião: O mito não é para ele (Max Müller) nem a transformação da história numa lenda fabulosa, nem uma fábula aceita como história; tampouco ele surge diretamente da contemplação das grandes configurações e poderes da natureza. Melhor dizendo, tudo aquilo a que chamamos mito é, segundo o seu parecer, algo condicionado e proporcionado pela atividade da linguagem; é, de fato, o resultado de uma originária deficiência lingüística, duma debilidade inerente à linguagem. Toda a denotação lingüística é essencialmente ambígua... e nesta ambigüidade, nesta paronimia das palavras, está a fonte de todos os mitos (Cassirer, p.9). E o exemplo que Max Müller cita para provar isso é a lenda de Deucalião e Pirra, os quais, depois de terem sido salvos por Zeus do grande dilúvio que exterminou toda a humanidade, se convertem nos progenitores de uma nova raça, mediante o recurso de lançarem pedras sobre os ombros, convertendo-as em seres humanos. Esta origem do homem a partir da pedra é algo completamente absurdo, e parece resistir a qualquer interpretação. Mas, prossegue Max Müller tudo se esclarece ao constatarmos que, em grego, "pedras" e "homens" se designam pelas mesmas palavras, ou "por vozes de sons semelhantes": laós (povo, multidão humana) e lâas (pedra) são interevocadas pela sua assonância. Assim, o mito é explicado pela palavra, tomada em seu significante. Mitologia, no mais elevado sentido da palavra, significa o poder que a linguagem exerce sobre o pensamento, e isso é um fato efetivo, em todas as esferas possíveis da atividade mental (Müller, 1876, Ápud Cassirer, p.11). Voltemos, no entanto, às nossas Portas do Sonho, em que a assonância keras / krainein comandou a utilização de chifre para a figuração do "realizar-se", e a assonância elephantinon / elephairomai regeu a representação do marfim para "enganar". Estamos longe dos ridicules calembours e da "puerilidade desses jogos de palavras, que os gregos tanto admiravam"... A primeira das idéias suscitadas pela imagem de portas, através das quais devem passar os sonhos, sejam eles enganosos ou verdadeiros, é a idéia de que os sonhos vêm de uma outra realidade, de um outro espaço, separado do mundo quotidiano (ou da vigília) por algum obstáculo, ou melhor, por alguma divisória. Pois bem, esse mundo tem a ver com o universo das sombras, o mundo dos mortos, o mundo subterrâneo. É sobretudo na Eneida que encontraremos figurada essa vinculação: no Canto VI, que é o da descida de Enéias ao Hades, encontraremos as "Portas do Sonho", e os sonhos. Também na Odisséia, na "Segunda descida aos infernos", do Canto XXIV, encontraremos uma referência ao país dos sonhos e à Porta do Sol. (A isso voltarei mais adiante). O Canto VI é absolutamente central na Eneida — e não só por sua localização, a saber, na metade da epopéia. Enéias, após a comemoração de um ano dos funerais de Anquises, decide-se a ir encontrar o pai no reino dos Mortos, onde sofre uma verdadeira iniciação, e onde lhe são revelados os segredos do mundo a vir. Les pouvoirs primitifs de médiation entre le sacré rt le profane se lient à une expérience mystique, centre et sommet de l 'épopée, coeur d'une ascèse dont le voyage vers la terre promise projette les étapes sur un espace symbolique (Madelénat, L 'epopée). Inicialmente, Enéias, guiado pela Sibila, põe-se à procura do ramo de ouro, do viscum, que deverá ter em mãos para empreender a travessia. Há necessidade de uma preparação cuidadosa: a coisa é séria. Depois de proceder aos sacrifícios recomendados, um tremor de terra os adverte, a ele e à Sibila, que o abismo hiante começa a se abrir, a caverna como que começa a mugir, a terra se fende. "É o momento, Enéias, de ter coragem e um coração firme", diz a Sibila. "Tu, adiante, a espada fora da bainha". Momento de penetrar nas entranhas da terra, de realizar o gesto fálico por excelência, que o original latino transmitirá de uma maneira inequívoca: "tuque invade viam vaginaque eripe ferrum" (Virgílio, Canto VI, Eneida, vs.260). Nunca uma metáfora fálica foi tão evidente — talvez porque aos nossos ouvidos de falantes de português o termo em latim para bainha provoca as mais concretas associações. Estamos nos inícios do Descensus Averno, da descida aos infernos — em que vários comentadores viram uma viagem iniciática, rumo ao mundo subterrâneo. E nesse momento a voz épica também sente a possibilidade de fraquejar em sua narração, e, confessando que é apenas o transmissor desses mistérios, o poeta demanda ajuda divina: Deuses, que tendes o império das almas, Sombras silenciosas, Caos e Flegetonte, mudas regiões que vos estendeis pela noite, que me seja permitido dizer o que ouvi, e, com vosso assentimento, desvelar as coisas enterradas nas profundezas tenebrosas da terra! (Virgílio, Eneida, vs.264-7). Assim, no meio da epopéia, irrompe a voz narrativa, num premente apelo aos deuses. E depois da invocação, retoma-se a narrativa, em terceira pessoa: "Eles iam, obscuros, através da noite solitária, através da sombra e através das moradas vazias de Plutão e seu reino de simulacros (...)" (Virgílio, Eneida, vs.268-9). A beleza dos versos originais mereceria ser preservada: Ibant obscuri sola sub nocte per umbram perque domos Ditis vacuas et inania regna. E, logo em seguida, segue-se a descrição da morada subterrânea e de seus habitantes: No próprio vestíbulo, à entrada das gargantas do Orco, o Luto e os Remorsos vingadores puseram seus leitos; lá habitam as pálidas Doenças, e a triste Velhice, e o Temor, e a Fome, má conselheira, e a espantosa Pobreza, formas terríveis de se ver, e a Morte, e o Sofrimento; depois, o Sono, irmão da Morte, e as Alegrias perversas do espírito, e, no vestíbulo fronteiro, a Guerra mortífera, e os férreos tálamos das Eumênides, e a Discórdia insensata, com sua cabeleira de víboras atadas com fitas sangrentas. No meio do vestíbulo, um olmeiro opaco, enorme, estende seus ramos e seus galhos seculares, morada, diz-se, que freqüentam comumente os Sonhos vãos, fixados sob todas as suas folhas. Além disso, mil fantasmas monstruosos de animais selvagens e variados aí se encontram: os Centauros, que têm seus estábulos nas portas, e as Cilas biformes, e Briareu hecatonquiro, e o monstro de Lerna, assobiando horrivelmente, e a Quimera armada de chamas, e as órgonas, e as Harpias, e a forma da Sombra de tríplice corpo (Virgílio, Eneida, vs.273-89).2 Há muito a se analisar aqui, concernente ao problema que nos ocupa. Entre as "coisas sepultadas nas profundezas da terra", estão os fantasmas horríveis, monstros, figuras alegóricas de todas as dores da natureza humana: o Luto, os Remorsos, Doenças, Velhice, Medo, Fome, Pobreza, Morte, Sofrimento... e o Sono, irmão da morte (consanguineus Leti Sopor). Efetivamente, é essa a genealogia que do sono dá Hesíodo, na Teogonia: Noite pariu hediondo Lote, sorte negra e Morte, pariu Sono e pariu a grei de Sonhos. A Seguir Escárnio e Miséria cheia de dor. Com nenhum conúbio divina pariu-os Noite trevosa. ... Pariu ainda Nemesis ruína dos perecíveis mortais a Noite funérea. Depois pariu Engano e Amor e Velhice funesta e pariu Éris de ânimo cruel. É preciso registrar isto: o Sono e os Sonhos, irmãos da Morte, filhos da Noite. Mas voltemos ao texto da Eneida, à descrição da árvore plantada no meio do vestíbulo, à entrada das gargantas do Orco, essa estranhíssima "árvore de sonhos", ou melhor, árvore que abriga, fixados às suas folhas, os sonhos vãos: In medio ramos annosaque bracchia pandit ulmus opaca, ingens, quam sedem Somnia volgo vana tenere ferunt, foliinque sub omnibus haerent (Virgílio, Eneida, vs.282-4). Mas, "além disso, mil fantasmas monstruosos de animais selvagens e variados aí se encontram". Ao lado dos sonhos vãos, estão os monstros concebidos pela mente humana: Centauros, Cila, Hidra de Lerna, Quimera, Gorgonas, Harpias. Dito de outro modo, na grande árvore à entrada do Hades, estão os sonhos, e os seres engendrados pelos sonhos. Examinemos mais de perto esses seres: Centauros (seres compósitos, tronco de homem e corpo de cavalo), Briareu (monstro de cem braços), Quimera (monstro com cabeça de leão, corpo de cabra e cauda de dragão), Hidra de Lerna (serpente com sete cabeças), Harpias (monstros com cara de mulher, corpo de abutre), Cila (corpo de mulher, contendo, na parte inferior, seis cabeças de cães devoradores), Gorgona (mulher com cabeça de serpentes, e presas de javali). A grande constante é o caráter híbrido, compósito, "ilógico", irreal... surrealista, eu me veria impelida a dizer, desses seres. O início da Arte Poética de Horácio, como observou Géza Róheim, não diz outra coisa: Suponham que um pintor tenha a idéia de ajustar a uma cabeça de homem um pescoço de cavalo e recobrir em seguida com plumas multicolores o resto do corpo, composto de elementos heterogêneos; assim, um belo busto de mulher se terminaria em uma feia cauda de peixe. Diante deste espetáculo, poderíeis,meus amigos, conter o riso? Creiam-me, caros Pisões, um tal quadro daria exatamente a imagem de um livro no qual seriam representados, semelhantes aos sonhos de doente, figuras sem realidade, em que os pés não estão de acordo com a cabeça e não haveria unidade. Mas, diríeis, pintores e poetas têm o direito de tudo ousar (Horácio, Art poétiqué). Uma dupla associação se impõe, com esse texto de Horácio, e é inevitável: de um lado, com as figuras compósitas da árvore dos sonhos; de outro, com o Surrealismo: cabeça de homem + pescoço de cavalo; busto de mulher + cauda de peixe. Mas... "pintores e poetas têm o direito de tudo ousar". Eu parodiaria: pintores, poetas e sonhadores têm o direito de tudo ousar. Não estão submetidos às rígidas leis da lógica, da congruência, do princípio de identidade: estamos nos domínios do inconsciente. Mas será necessário prosseguir, acompanhando Enéias (guiado, por sua vez, pela Sibila), na sua viagem pelo Hades, pela regiões ínferas. Depois da descrição da árvore em que estão pendurados os sonhos, e em que habitam os seres engedrados pelos sonhos, o Poeta nos mostra o imenso susto da personagem: Tremendo com súbito espanto, Enéias desembainha sua espada e apresenta a ponta acerada aos monstros que avançam; e se a sua douta companheira não o advertisse de que se tratava de tênues almas sem corpo, que volitavam sob um envoltório sem consistência, ter-se-ia precipitado sobre elas e em vão feriria as sombras com o ferro (Virgílio, Eneida, vs.290-4). O passo seguinte é a travessia do Aqueronte. Ao encontrar Caronte, o barqueiro inicialmente obsta a passagem a Enéias: "Este é o lugar das Sombras, do Sono e da Noite Soporífera; não é permitido transportar na barca estígia corpos vivos" (vs. 390: Umbrarum hic locus est, somni noctisque soporae). Com efeito, volta aqui a idéia das frágeis fronteiras que existem entre o sono e a morte (já encontrada na Teogonia, e mesmo no nosso texto, na antecâmara dos infernos: o "sono irmão da morte". O que subjaz a isso é a idéia de que a alma deixava o corpo (temporariamente) durante o sono, como na morte. Diz Géza Róheim que a Antiguidade sempre considerou o sonho como uma viagem ao outro mundo, e o despertar como uma volta à vida. E cita Knight (Cf. Róheim, Les portes du rêve, p.300), autor para quem o Descensus Averno, a descida aos Infernos, é o momento em que o próprio Virgílio desce ao mundo dos sonhos, ao mundo do inconsciente, mundo subterrâneo. Domínio da Noite, onde não entra o Sol, figuração da razão. Mundo do inconsciente. Enéias deverá ainda passar pelo terrível Cérbero de três goelas, o pescoço eriçado de serpentes, a quem a Sibila lança um bolo soporífero: "Enéias apressa-se a transpor a entrada, enquanto o guardião está sepulto no sono, e se afasta rapidamente da margem de onda irremeáveí." Não deixa de dar o que pensar o fato de este monstro infernal, também ele, ser vencido pelo sono... E depois de perambular pelas várias regiões do Hades, encontrando várias personagens conhecidas, Enéias atinge seu objetivo: encontra a sombra de Anquises: É a tua imagem, meu pai, é a tua triste imagem, que, oferecendo-se a mim frequentemente, me força a transpor o limiar destes lugares". Tua me, genitor, tua tristis imago / saepius occurens haec limina tendere adegit (Virgílio, Eneida, vs.695-6). Anquises irá predizer a Enéias a sorte de sua prole a vir, e o destino da futura Roma. Dizem os comentaristas que se debruçaram sobre a Eneida, de uma maneira quase que geral (André Bellessort, Daniel Madelénat), que a descida aos infernos é não apenas o episódio central da Eneida — e central em todos os sentidos, como já referi — mas o marco fundamental da evolução do herói: "Sa descente aux Enfer", diz Bellesort, a tous les caractères d'une merveilleuse initiation. Désormais il ne sera plus le troyen fugitif, balloté par les vents, les flots, la nostalgie et les passions, le conducteur d'une petite troupe d'émigrés: il sera celui qui vit dans I'avenir, celui pour qui le présent n'a d'intérêt qu'en tant qu'il prépare les jours futurs, celui qui se dévoue de toute son âme aux générations à naître (p.xv). Igualmente, a maior parte dos comentadores eruditos da Eneida são unânimes em observar que a Descida de Enéias aos Infernos tem algo de iniciático, seria uma livre transposição poética da iniciação aos Mistérios de Eleusis, cuja atração fora tão forte sobre todos os grandes personagens de Roma e sobre Augusto. E depois de ter tido a revelação de futuro, pela sombra do pai, depois que Anquises faz a Enéias todas as predições, e "lhe acendeu o ânimo com o amor da fama que há de vir", sem transição, bruscamente, comparecem os versos finais do Canto VI — aqueles de onde partimos: Há duas portas do Sono: uma, diz-se, é de chifre... Talvez seja o caso de transcrever os últimos versos do Canto VI, mais precisamente os 14 últimos versos do Descensus Averno: Depois que Anquises conduziu seu filho a todos os lugares e lhe acendeu o ânimo com o amor da fama que há de vir, fala-lhe então das guerras que terá de sustentar, faz-lhe conhecer os povos laurentes e a cidade de Latino e como poderá evitar ou suportar cada uma das provas. Há duas portas do Sono: uma, diz-se, é de chifre, pela qual as Sombras verdadeiras encontram saída fácil; a outra, brilhante, feita de marfim refulgente de brancura, mas pela qual os manes enviam para o céu os sonhos falsos. Anquises, sempre falando, acompanha seu filho assim como a Sibila, e os faz sair pela porta de marfim. O herói corta o caminho para as suas naves e reúne-se aos companheiros. Depois, bordejando a costa, dirige-se para Caiete. A âncora é lançada do alto da proa; as popas estão na praia (Virgílio, Eneida, vs.888-901). E aqui acaba o Canto VI, o Canto da Descida aos Infernos. É estranhíssimo que Anquises faça Sibila e Enéias saírem pela porta de marfim—a porta dos sonhos falsos. Teria estado Enéias sonhando, ao longo de todo o Canto VI? Seria essa sua descida ao mundo subterrâneo, o encontro com os monstros e fantasmas, e com os mortos conhecidos, as sombras queridas, apenas um sonho? Seria, então, efetivamente, essa sua descida ao mundo subterrâneo um mergulho no inconsciente — país dos sonhos e dos fantasmas? É extremamente significativo que esse lugar — o mundo do Hades — pareça guardar as sementes do que há de vir, o lugar onde se encontra o passado e se gesta o futuro — revelado a alguns, como numa iniciação. Na Odisséia, onde Virgílio (bem como na Ilíada) foi buscar modelo e inspiração, há duas apresentações do país dos mortos: no Canto XI, em que Ulisses desce ao Hades para aconselhar-se com Tirésias, que lhe prediz sua volta, e onde encontra sua mãe, assim como com uma multidão de mulheres, e alguns heróis; e no Canto XXIV, chamado de "Segunda Nekya", ou Segunda Evocação aos Mortos, onde se narra que as almas dos pretendentes, guiados por Hermes, chegam ao país dos Mortos pelas Portas do Sol. Talvez seja interessante registrar aqui que a célebre passagem inaugural das Portas do Sonho, na Odisséia, não integra nenhuma das descidas aos infernos, mas comparece como comentário de Penélope ao sonho que ela tivera (dos gansos trucidados pela águia), e que ela própria interpreta como Ulisses retornado, exterminando os pretendentes (interpretação que é corroborada por aquele a quem ela narra o sonho, o "forasteiro" que é nada mais, nada menos, que Ulisses incógnito, recém-chegado). O que Virgílio faz, no Canto VI da Eneida, é uma grande condensação, em que retoma elementos do Canto IX da Odisséia, em que Ulisses desce ao Hades, para consultar Tirésias, o adivinho; do Canto XIX onde há a narração do sonho de Penélope, e o desenvolvimento de sua "teoria" das Portas do Sonho; e do Canto XXIV, a "Segunda Nekya", em que há a referência às Portas do Sol e ao País do Sonhos. Pois bem, é o caso de nos determos um pouco nessa passagem do Canto XXIV da Odisséia, em que se fazem essas alusões: Como tríssam os morcegos, esvoaçando no interior duma gruta portentosa, quando algum deles despenca do cacho, que formam na rocha agarrados uns aos outros, assim, dando gritos inarticulados, elas acompanhavam a Hermes Benfazejo, que as guiava pelas úmidas veredas abaixo. Transpuseram as correntezas de Oceano e a rocha Lêucade; passaram as Portas do Sol e o País do Sonhos e logo chegaram ao Vergel dos Asfódelos, onde habitam as almas, espectros dos finados (Homero, Odisséia, canto XXIV, vs.7-13). Também aqui, nesse "Rochedo Branco" (ou Rocha Lêucade, segundo a tradução seguida), no "País dos Sonhos" e na "Porta do Sol", os comentaristas clássicos são unânimes em vislumbrar ecos da doutrina órfica. E a ligação entre a Porta (ocidental) do Sol e o país dos mortos é evidente. Em Homero, diz Róheim (p.293) a porta do Sol, situada a Oeste, nos confins do Oceano, era a entrada do além, pela qual passavam as almas dos finados. Explica-se: o por-do-sol, sendo associado ao cair da noite, a noite, ao sono, e o sono, à morte — "Noite... pariu Morte, pariu Sono e pariu a grei de Sonhos", já vimos na Teogonia de Hesíodo —, a porta ocidental do Sol pode ser a Porta do País dos Sonhos. Ou, dito de maneira resumida: a Porta do Sol é a Porta dos Sonhos. Mas nas "descidas aos infernos", tanto da Odisséia quanto da Eneida, uma evidência se impõe: Ulisses e Enéias parece que aí foram buscar (no encontro com Tirésias, com a mãe, com os ex-companheiros, no caso do primeiro; e no encontro com o pai Anquises, com a amante abandonada, Dido, com os guerreiros troianos, no caso do segundo) uma revelação sobre si próprios, sobre seu destino e seu futuro — e sobre o destino daqueles que deles dependiam — no caso de Enéias, a futura Roma, o povo que engendraria. É digno de nota que em ambas as epopéias, nas descidas aos infernos os heróis encontram as figuras parentais e as pessoas que significaram nas suas vidas, sejam elas da família, ou companheiros de combate, ou figurantes do seu mundo afetivo. Mas todos que ambos encontram não passam disso: sombras. Tanto Ulisses quanto Enéias, quando querem abraçar, respectivamente a mãe e o pai, nada conseguem mais que estreitar o próprio peito, dada a imaterialidade dos seres com que conversavam. Assim, na Odisséia, conta Ulisses: Eu, comovido nas entranhas, quis tomar nos braços a alma de minha falecida mãe. Três vezes me arrojei a ela, impelido pelo coração a abraçá-la; três vezes se evolou dentre meus braços como uma sombra ou um sonho, em meu peito a dor se fez mais pungente e, proferindo aladas palavras, lhe disse: — Minha mãe, por que não me esperas quando procuro abraçar-te, para, mesmo na mansão de Hades, envolvendo-nos nos braços um do outro, saciar-nos de arrepiantes gemidos? Ou és apenas um espectro enviado pela venerável Perséfone para que eu lamente em ais mais sentidos ainda? (Homero, Odisséia, canto XI). E na Eneida, diz Enéias a Anquises: Permite, ó Pai, permite que aperte tua mão direita e não te afastes do meu abraço. Assim falando, grossas lágrimas corriam-lhe pelas faces; três vezes tentou lançar os braços em volta do pescoço do pai, três vezes e imagem escapou-se das suas mãos, semelhantes aos ventos ligeiros e semelhantes a um sonho alado (Virgílio, Eneida, canto VI, vs.697-702). Em ambas as passagens, absolutamente patéticas, as sombras de pai e mãe são... como sonhos. Dizem os comentaristas que a personagem Enéias (que é um herói épico que evoluí) sai desse encontro, sai de sua viagem ao Hades, transformado. Após essa descida ao mundo ínfero, mundo subterrâneo, após esse percurso iniciático, ele sai um novo homem: fortalecido no seu ego (diriam os psicanalistas), retemperado pelo encontro com suas próprias sombras (diriam os junquianos). Em todo o caso, é extremamente significativo que em ambas as epopéias clássicas que fazem da viagem seu motivo central — viagem de Ulisses, partindo de ítaca, de volta à sua ilha (endossando o movimento de eterno retorno do mito); viagem de Enéias, partindo de Tróia, rumo ao desconhecido, onde fundaria um novo reino (inaugurando no mundo ocidental o movimento linear e irreversível da História) — haja a presença dessa outra viagem, ou melhor, dessa outra qualidade de viagem, que é aquela ao país do Hades. E se é verdade que o topos da "viagem", presente na épica, repercute a idéia arraigada da VITA — VIA, do Homo Viator (Madelénat, p. 131), é verdade também que se trata aqui de uma passagem do épico ao psicológico. Infernus, termo latino, significa etimologicamente "de baixo", de uma região inferior, das profundezas. Não é para outro lugar que nos conduzem as PORTAS DO SONHO. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ARTÉMIDORE. La clef des songes. Trad. J. Festugière. Paris, J Vrin, 1975. [ Links ] BELLESORT, A. Introduction. In: VIRGÍLIO. Énéide. Trad. André Bellesort. Paris, Les Belles Lettres, 1959. [ Links ] BÉRARD, V. Introduction à l'Odyssée. Paris, Les Belles Lettres, 1933. [ Links ] CASSIRER, E. Linguagem, mito e religião. Trad. Rui Reininho. Porto, Edições Rés, 1976. [ Links ] ÉSQUILO. Promethée enchainé. In: TRAGÉDIES. Trad. Paul Mazon. Paris, Les Belles Letters, 1947. [ Links ] HESÍODO. Teogonia: origem dos deuses. Trad. Jaa Torrano. São Paulo, Roswitha Kemp, 1986. [ Links ] HOMERO. Odisséia. Trad. Jaime Bruna. São Paulo, Cultrix, 1993. [ Links ] HORÁCIO. Art poétique. In: OEUVRES complètes. Trad. F. Richard. Paris, Garnier, 1950. [ Links ] HORÁCIO. Odes et épodes. Trad. Villeneuve' Paris, Les Belles Lettres, 1946. v.41, Livro 3, Ode 27. [ Links ] MADELÉNAT, D. L'epopée. Paris, Press Universitaires de France, 1986. [ Links ] PLATÃO. Charmides, 173a. In: OEUVRES complètes. Paris, Charpentier, 1869. [ Links ] RÓHEIM, G. Les portes du rêve. Trad. M. Manin et Florence Verne. Paris, Payot, 1973. [ Links ] VIRGÍLIO. Eneida. Trad. Tassillo Orpheu Spalding. São Paulo, Cultrix, 1990. v.6. [ Links ] 1 Victor Bérard, a respeito do "calembour" das portas do sonho: "Comment en 562-569 attribuer au Poète la paternité des ridicules calembours sur les deux Portes des Songes, dont l 'une est de corne pour nous corner aux oreilles le bonheur et dont l 'autre es d'ivoire pour semer notre vie d'une ivraie de mensonges? J'essaie de rendre par des équivalents les plaisanterires que le texte actuel met dans la bouche de Pénelope (...). E depois de dizer que toda a antiguidade clássica os conheceu e admirou, diz o helenista que os críticos de Séc. XIX os condenavam. 2 A tradução da Eneida que venho compulsando, para as citações mais longas, é a Tassillo Orpheu Spalding, da Editora Cultrix, S. Paulo, 1990 (evidemente, cotejada com a edição bilíngue da Belles Letters) _________________________________________________________________________________________________________

segunda-feira, 22 de abril de 2024

MAS COMO DÓI!

------------ JUIZ DE FORA, APENAS UM PONTO NO ATLAS DO MUNDO. -----------
---------- Pestana, o juiz-forano, na confidência do desencanto, Nosso sistema político, num triste e incerto pranto. Que cada voz seja ouvida, que cada voto conte, E que a política renasça, da apatia, do monte. -----------
----------- Dinheiro, eleições e poder: As engrenagens do sistema político brasileiro ------------- Dinheiro, eleições e poder: As engrenagens do sistema político brasileiro eBook Kindle por Bruno Carazza (Autor) Formato: eBook Kindle Diante do cenário político e econômico atual, muitos autores têm procurado discutir se nosso presidencialismo de coalizão funciona. Bruno Carazza foi além, avaliando quais são os custos de seu precário funcionamento. Especialista em direito e economia, Bruno Carazza criou uma metodologia original para destrinchar as engrenagens do sistema político brasileiro. Para escrever Dinheiro, eleições e poder, ele compilou e cruzou um volume imenso de dados sobre doações de campanhas eleitorais, tramitação de projetos, votações e atuação parlamentar, que são contextualizados por fragmentos das delações premiadas e dos depoimentos de testemunhas ouvidas nas várias fases da Operação Lava Jato e do julgamento da chapa Dilma-Temer no TSE. O autor mostra como o perfil do financiamento eleitoral no Brasil foi se concentrando em grandes doadores, que seguem uma lógica estritamente empresarial – muito mais que ideológica. Baseado em dados sobre participação em frentes parlamentares, propositura de emendas e posicionamento nas principais votações, Carazza analisa como os eleitos tendem a retribuir as doações recebidas das grandes empresas. Por fim, o autor apresenta alternativas para baratear nossas eleições, combater práticas como o "caixa dois" e diminuir a influência econômica em nossa democracia. "Combinando de modo feliz a análise de dados quantitativos com trechos das delações colhidas pela Lava Jato, Carazza compõe um quadro em que a influência do dinheiro sobre a política é intensa, multiforme e difícil de combater. Trata-se de uma contribuição importante para a discussão de nosso sistema político e de suas possibilidades de aprimoramento." — Celso Rocha de Barros "Bruno Carazza destrincha de maneira soberba a associação predadora entre a elite econômica e uma determinada casta política."— Consuelo Dieguez "Com uma análise precisa, informada e incisiva da intercessão entre dinheiro, corrupção e política, Bruno Carazza apresenta um diagnóstico necessário dos desafios atuais da democracia brasileira." — Marcus Melo _________________________________________________________________________________________________________ ---------- -------------- Confidência do Itabirano Carlos Drummond de Andrade Letra Significado Alguns anos vivi em Itabira. Principalmente nasci em Itabira. Por isso sou triste, orgulhoso: de ferro. Noventa por cento de ferro nas calçadas. Oitenta por cento de ferro nas almas. E esse alheamento do que na vida é porosidade e comunicação. A vontade de amar, que me paralisa o trabalho, vem de Itabira, de suas noites brancas, sem mulheres e sem horizontes. E o hábito de sofrer, que tanto me diverte, é doce herança itabirana. De Itabira trouxe prendas diversas que ora te ofereço: esta pedra de ferro, futuro aço do Brasil, este São Benedito do velho santeiro Alfredo Duval; este couro de anta, estendido no sofá da sala de visitas; este orgulho, esta cabeça baixa... Tive ouro, tive gado, tive fazendas. Hoje sou funcionário público. Itabira é apenas uma fotografia na parede. Mas como dói! Composição: Carlos Drummond de Andrade. _________________________________________________________________________________________________________ ------------- -------------- DINHEIRO, ELEIÇÕES E PODER - BRUNO CARAZZA - 10 LIVROS SOBRE POLÍTICA Professor Tiago Valenciano Especialista em direito e economia, Bruno Carazza criou uma metodologia original para destrinchar as engrenagens do sistema político brasileiro. Para escrever Dinheiro, eleições e poder, ele compilou e cruzou um volume imenso de dados sobre doações de campanhas eleitorais, tramitação de projetos, votações e atuação parlamentar, que são contextualizados por fragmentos das delações premiadas e dos depoimentos de testemunhas ouvidas nas várias fases da Operação Lava Jato e do julgamento da chapa Dilma-Temer no TSE. O autor mostra como o perfil do financiamento eleitoral no Brasil foi se concentrando em grandes doadores, que seguem uma lógica estritamente empresarial – muito mais que ideológica. Baseado em dados sobre participação em frentes parlamentares, propositura de emendas e posicionamento nas principais votações, Carazza analisa como os eleitos tendem a retribuir as doações recebidas das grandes empresas. Por fim, o autor apresenta alternativas para baratear nossas eleições, combater práticas como o “caixa dois” e diminuir a influência econômica em nossa democracia. _________________________________________________________________________________________________________ ------------
----------- Bruno Carazza - Propostas para o sistema político Valor Econômico Livro discute problemas e soluções para tornar políticos mais responsivos aos eleitores Nas eleições de 2010, o economista Marcus Pestana foi eleito deputado federal com 161.892 votos, após longa carreira como professor da Universidade Federal de Juiz de Fora, vereador (1983-1988), deputado estadual (2007-2010) e duas passagens como secretário estadual no governo de Minas Gerais, comandando Planejamento (1995-1998) e Saúde (2003-2010). Transcorrido quase um ano de seu primeiro mandato em Brasília, Pestana resolveu contratar uma pesquisa para analisar seu desempenho parlamentar na cidade natal e principal base eleitoral, Juiz de Fora, onde havia recebido o apoio de 19.937 eleitores. Ao realizar o levantamento, a surpresa veio logo na primeira pergunta. Quando perguntados em quem haviam votado no pleito realizado apenas um ano antes, 74,1% dos entrevistados não conseguiram se recordar da escolha do seu representante para a Câmara dos Deputados. Apesar da pouca memória do eleitor juiz-forano, Marcus Pestana descobriu que não era um total desconhecido do eleitorado local: apenas 17% dos pesquisados afirmaram não ter ideia de quem era o político, enquanto o restante se dividia entre quem já tinha ouvido falar dele (52%) e quem o conhecia pouco (27%) ou muito (4%). Interessado em ter um feedback do seu trabalho no Congresso, Pestana selecionou as três votações mais importantes e polêmicas daquele ano de 2011 (elevação do salário mínimo, o novo Código Florestal e a criação de um novo imposto para o financiamento da saúde, uma de suas especialidades) para saber como o eleitor de sua cidade avaliou o seu posicionamento. O resultado é impressionante: na média, 96% dos cidadãos consultados não tinha a mais remota ideia sobre como o parlamentar mineiro votou. E entre a minoria que afirmava saber o posicionamento do deputado, a metade simplesmente errou a resposta. Esses dados são surpreendentes porque eles estão longe de ser fruto de um caso isolado, numa localidade qualquer. Com uma população de 540.756 habitantes, Juiz de Fora é uma das maiores cidades mineiras, responsável pelo sétimo maior PIB municipal do Estado, além de ser berço de importantes políticos, como o ex-presidente Itamar Franco e o ex-deputado Fernando Gabeira. Tampouco os resultados podem ser atribuídos a uma possível atuação apagada de Pestana. Apesar de novato no Congresso, Pestana tinha uma bagagem intelectual e política que rapidamente o posicionou no alto clero do parlamento brasileiro, sendo indicado logo no primeiro ano de mandato como titular na importante Comissão de Saúde, além da comissão especial de Reforma Política, entre outros trabalhos. Para tirar a prova, Pestana encomendou que os entrevistadores fizessem as mesmas perguntas sobre o comportamento de outro parlamentar, seu conterrâneo Júlio Delgado. Os resultados foram igualmente desapontadores. A história acima é narrada no livro “Desafios do sistema político brasileiro”, coletânea de artigos organizada por Bernardo Sorj e Sergio Fausto e publicada recentemente pela Fundação FHC, para a qual tive a honra de escrever um capítulo. Essa desconexão entre eleitores e políticos, também captada por outras pesquisas, tem raízes estruturais, segundo a análise dos autores convidados. Eleições disputadas em territórios muito grandes e populosos distanciam os deputados de seu eleitorado. Eleições caras, financiadas pela abundância de recursos dos fundos eleitoral e partidário distribuído de forma concentrada pelos dirigentes partidários, elevam a barreira à entrada de novos candidatos. Partidos fracos, lançando centenas ou milhares de candidatos em cada Estado, dificultam a avaliação dos cidadãos e incentivam o personalismo nas campanhas. Para discutir soluções para diminuir a individualização na atuação política, o enfraquecimento dos partidos e a baixa responsabilização dos políticos perante os eleitores, foi realizado na última sexta debate com alguns dos autores do livro e três políticos: a deputada Adriana Ventura, o ex-presidente da Câmara Rodrigo Maia e o próprio Pestana. Entre as propostas, três opções para um novo sistema eleitoral poderiam levar a campanhas mais baratas, fortalecendo os partidos ou aproximando os políticos de seu eleitorado. No modelo de lista fechada, em vez de escolher um candidato, o eleitor votaria no partido, que elaboraria uma lista pré-ordenada de candidatos. No sistema distrital, cada Estado seria dividido em pequenos distritos, cada qual responsável por uma cadeira de deputado, com os partidos indicando um único candidato para a disputa. Um modelo intermediário seria manter o sistema eleitoral vigente, porém dividindo os Estados em regiões menores, cada uma delas responsável pela escolha de oito deputados (número equivalente ao dos menores Estados atualmente). Todas as propostas têm suas vantagens e custos, e qualquer mudança exigiria muito debate. Melhorar a qualidade da nossa política, tornando os representantes mais responsáveis, é tarefa quase impossível - porém, nunca foi tão urgente. _________________________________________________________________________________________________________ ------------
------------ Confidência do Juiz-forano – Pestana Nas ruas de Juiz de Fora eu caminhei, Nas mentes dos cidadãos me perdi. Marcus Pestana, o deputado, uma vez eleito, Na memória do povo, seu nome tão desfeito. Longa foi a carreira, os cargos ocupados, Mas na terra natal, seus feitos olvidados. Oitenta por cento do eleitorado, tão distante, Não recorda mais seu voto, num passado recente. O político experiente, o professor renomado, No Congresso, um lugar de destaque lhe foi dado. Mas para os que o elegeram, na cidade do interior, A ausência de sua presença, uma dor sem amor. Pesquisas revelam a desconexão profunda, Entre o eleito e o eleitor, uma ferida tão fecunda. Na mente dos juiz-foranos, o voto se perdeu, E o político, outrora promissor, na bruma se escondeu. Não é só um caso isolado, uma cidade esquecida, Mas um dilema nacional, uma triste despedida. A política distante, os políticos tão abstratos, E o povo, na solidão, com seus anseios tão exatos. Que caminhos podemos trilhar, que soluções buscar, Para aproximar o eleito do que ele deve cuidar? Lista fechada, distrital, ou algo intermediário, Tantas propostas, tantos desafios, nesse cenário adversário. Pestana, o juiz-forano, na confidência do desencanto, Nosso sistema político, num triste e incerto pranto. Que cada voz seja ouvida, que cada voto conte, E que a política renasça, da apatia, do monte. ________________________________________________________________________________________________________

domingo, 21 de abril de 2024

DRAMATIZAR COM SINTONIA

quem foi que inventou o brasil, foi JK? ----------- -------------- História do Brasil (marcha/carnaval) Lamartine Babo Quem foi que inventou o Brasil? Foi seu Cabral! Foi seu Cabral! No dia vinte e um de abril Dois meses depois do carnaval Depois Ceci amou Peri Peri beijou Ceci Ao som... Ao som do Guarani! Do Guarani ao guaraná Surgiu a feijoada E mais tarde o Paraty Depois Ceci virou Iaiá Peri virou Ioiô De lá... Pra cá tudo mudou! Passou-se o tempo da vovó Quem manda é a Severa E o cavalo Mossoró Composição: Lamartine Babo. _________________________________________________________________________________________________________ -------- ------------- Grand Finale hofeshshechterco -----------
------------ Luiz Carlos Azedo - A luz do poeta Joaquim Cardozo na arquitetura de Brasília Correio Braziliense Muitos arquitetos e engenheiros vieram para Brasília com Niemeyer. Deixaram suas marcas na cidade. O próprio Lucio Costa projetou a Torre de TV e a Rodoviária João Cabral de Melo Neto escreveu um lindo poema em homenagem ao também poeta e engenheiro Joaquim Cardozo, parceiro de Oscar Niemeyer e Lucio Costa na construção de Brasília. Inspirou-se em Diego Velázquez, um pintor barroco do século XVII e principal artista da corte do rei Filipe IV da Espanha, que abriu as portas para o realismo e o impressionismo de Édouard Manet, Pablo Picasso e Salvador Dalí. Sua obra-prima é Las Meninas (1656), que se encontra no Museu do Prado, em Madrid. A síntese da obra de Velásquez é o foco de luz num mundo sombrio, com o qual João Cabral homenageia o grande calculista do concreto armado de Brasília. “Escrever de Joaquim Cardozo/ só pode quem conhece/ aquela luz Velásquez/de onde nasceu e de que escreve / A luz que das várzeas da Várzea/ onde nasceu, redonda /vem até o ex-Cais de Santa Rita/ que viveu: luz redoma, / luz espaço, luz que se veste, / leve como uma rede, / e clara, até quando preside/ o cemitério e a sede”. O que seria da luz de Brasília sem seu traçado e o concreto armado, em meio ao Cerrado? Sim, a luz de Cardozo veio do Recife e lembra Velásquez, mas encontrou seu espaço no cálculo dos grandes palácios que encantam o mundo e faz do Plano Piloto uma cidade única e até hoje futurista. São de Joaquim Cardozo os cálculos estruturais da maioria dos prédios icônicos da capital federal, que hoje completa 64 anos. Muito ligado a Manuel Bandeira e ao próprio João Cabral, Cardozo também era um grande poeta, o que o levou à Academia Brasileira de Letras. Nasceu no bairro do Zumbi, no Recife, em 26 de agosto de 1897. Era filho do bibliotecário José Antônio Cardoso e Elvira Moreira Cardoso. Foi no Ginásio Pernambucano do Recife, para onde viajava todo dia de trem, pois morava em Jaboatão, que se aventurou pela literatura, no jornal O Arrabalde. Sua poesia Os mundos paralelos reflete a vida dupla de poeta apaixonado e frio calculista de grandes espaços vazios sob concreto: “Todos os meus atos são atos reflexos/ No projetivo espelho tempo/espaço, no fechado não denso / Correspondência injetiva, deprimente, fria, de interno entorno (…)/ No que aqui é doce, no paralelo é amargo”. Vivia num mundo só dele, como acontece com muitos em Brasília. Um grupo de amigos Muitos arquitetos vieram para Brasília com Niemeyer. Deixaram suas marcas na cidade. O próprio Lucio Costa, responsável pelo conceito urbanístico de cidade-parque, hoje plenamente consolidado, projetou a Torre de TV e a Rodoviária do Plano Piloto, marco zero da capital, que precisa ser revitalizado. É por ela que a vida banal dos moradores do Distrito Federal se conecta com a arquitetura monumental. Brasília é fruto da imaginação diante das pranchetas e dos cálculos de engenheiros projetistas. Marcílio Mendes Ferreira, Hélio Uchôa, Eduardo Negri, Milton Ramos, Stéllio Seabra, Marcelo Graça Couto, Sérgio Rocha e outros arquitetos deixaram suas marcas impressas em concreto, na singularidade das fachadas, nos pilotis, na distribuição interna dos espaços, nas janelas e nos basculantes. Identificar a autoria dos prédios de Brasília, de certa forma, valoriza os imóveis. É o caso da 105 Sul, com dez blocos projetados por Uchôa, que trabalhou no escritório de Lucio Costa, com suas esquadrias e venezianas de madeira. Nauro Esteves, chefe do Departamento de Arquitetura e Urbanismo (DAU) da Novacap, braço direito de Niemeyer, projetou o Conjunto Nacional, o Hotel Nacional, o Palácio do Buriti e a sede da Polícia Militar (no Setor Policial Sul). São dele também o bloco duplo JK, da SQS 112, com a fachada revestida em esmalte azul e pastilhas brancas, as superquadras Sul 403, 406, 407, 410, 411 e 413 e os prédios com apartamentos de três e quatro quartos da SQS 115 e na SQN 102. O mineiro Marcílio Mendes Ferreira, funcionário do Departamento de Engenharia da Caixa Econômica Federal, projetou o Bloco C da 210 Sul, o bloco C da SQS 312 e o K da 203. São apartamentos disputadíssimos, com 221 metros quadrados. João Filgueiras Lima, o Lelé, outro representante do modernismo brasileiro, projetou os blocos pré-fabricados do Minhocão da Universidade de Brasília, um símbolo da UnB, e dos hospitais da Rede Sarah e de Taguatinga. O nome dos bloquinhos vazados de cimento que são uma característica dos prédios clássicos do Plano Piloto, inclusive, na famosa quadra modelo 308 da Asa Sul, são as iniciais dos pernambucanos Amadeu Oliveira Coimbra (co), Ernest August Boeckmann (bo) e Antônio de Góis (go), donos de uma fábrica de tijolos. Hoje, os cobogós são uma marca de Brasília — filtram o sol escaldante e permitem a circulação de ar nos edifícios —, ao lado das icônicas andorinhas dos azulejos de Athos Bulcão. -----------
----------- RESENHA: O texto "A luz do poeta Joaquim Cardozo na arquitetura de Brasília", assinado por Luiz Carlos Azedo e publicado no Correio Braziliense em 21 de abril de 2024, destaca a importância do poeta e engenheiro Joaquim Cardozo na construção da capital brasileira, bem como a contribuição de outros arquitetos e engenheiros para a arquitetura marcante de Brasília. A narrativa começa destacando a presença de diversos profissionais que vieram para Brasília junto com Niemeyer, deixando suas marcas na cidade, como Lucio Costa, responsável pelo conceito urbanístico do Plano Piloto, e também responsável por projetos como a Torre de TV e a Rodoviária. O texto evoca a inspiração do poeta João Cabral de Melo Neto em Diego Velázquez, destacando a homenagem ao calculista de concreto armado Joaquim Cardozo, parceiro de Niemeyer e Lucio Costa. A luz, tanto metafórica quanto literal, é um elemento central na obra, representando tanto a influência artística quanto a contribuição prática de Cardozo para a arquitetura de Brasília. A poesia de Cardozo é mencionada, refletindo sua dualidade entre ser poeta e engenheiro. Além disso, é ressaltada a importância de outros profissionais, como Nauro Esteves, Marcílio Mendes Ferreira e João Filgueiras Lima, na construção da cidade. O texto também destaca a singularidade da arquitetura de Brasília, com referências específicas a alguns edifícios e características marcantes, como os cobogós e os azulejos de Athos Bulcão. A narrativa encerra enfatizando a relevância dos profissionais pernambucanos na fabricação dos elementos arquitetônicos que se tornaram ícones da capital. Em suma, o texto oferece uma análise interessante sobre a relação entre a poesia, a luz e a arquitetura na construção de Brasília, destacando a contribuição de diversos profissionais para a criação de uma cidade tão única e marcante. _________________________________________________________________________________________________________ --------------- ------------- CNN VIAGEM & GASTRONOMIA | Especial Brasília: O melhor da nossa capital - 20/04/2024 CNN Brasil Transmissão ao vivo realizada há 13 horas Assista ao episódio do CNN VIAGEM & GASTRONOMIA exibido neste sábado, 20 de abril de 2024, apresentado por Daniela Filomeno. O tema deste programa é: Especial Brasília: O melhor da nossa capital. -----------
---------- Porque JK construiu o Brasil? Construção de Brasília: como foi e governo JK - Brasil Escola Juscelino idealizou a construção de Brasília para que fosse a síntese perfeita do seu plano de modernização do Brasil. Durante as obras, o presidente não poupou recursos para que a cidade projetada por Oscar Niemeyer e Lúcio Costa fosse erguida. _________________________________________________________________________________________________________ ------------
----------- Antonio Fausto Nascimento* - Roberto Freire (20/4/24) O Brasil e Pernambuco devem a Roberto Freire resistência à ditadura militar, durante maior período repressivo, contributo ao melhor da Constituição de 1988, aperfeiçoamento da Lei de Anistia de 1979, legalidade dos partidos proibidos, em mandato de deputado estadual, seis de deputado federal, um de senador, por Pernambuco e São Paulo, líder do governo Itamar Franco na Câmara Federal, Ministro de Estado no governo do MDB. Poucas personalidades políticas brasileiras com carreira tão extensa e diversificada. Liderança do antigo PCB, que promoveu transição da estreiteza dogmática de caserna ao socialismo com democracia e legalidade, substituindo velha sigla por PPS e atual Partido Cidadania, de grande futuro na sociedade brasileira. Em mais de meio século de atividade política, chega aos 82 anos, lúcido, atuante e combativo. Parabéns, vida longa, saúde e paz ao grande brasileiro, estadista, democrata, patriota, republicano e homem público já incorporado à memória nacional. Visão estratégica ao apoiar, no primeiro turno das eleições de 2022, candidatura presidencial da então senadora Simone Tebet, que possibilitou, no segundo turno, vitória de Lula III. *Antonio Fausto Nascimento, ex-líder bancário, em Pernambuco, foi secretário do Trabalho, governo Miguel Arraes, 1962-1964. _________________________________________________________________________________________________________ ------------
------------ RESENHA: O texto presta uma homenagem a Roberto Freire, figura política de destaque no Brasil e em Pernambuco, reconhecendo sua contribuição significativa para a resistência à ditadura militar, a consolidação da democracia e o aprimoramento das instituições políticas brasileiras. Inicia-se destacando a atuação de Freire durante o período mais repressivo da ditadura militar, ressaltando seu papel na defesa dos direitos humanos e na luta pela democracia. Sua participação na elaboração da Constituição de 1988 e no aperfeiçoamento da Lei de Anistia de 1979 são mencionadas como exemplos de seu compromisso com o Estado de Direito. A trajetória política de Freire é descrita como extensa e diversificada, abrangendo cargos de deputado estadual, federal e senador por Pernambuco e São Paulo, além de sua atuação como Ministro de Estado no governo do MDB. Sua liderança no antigo PCB e a posterior transição para o PPS e, posteriormente, o Partido Cidadania, são ressaltadas como reflexo de sua visão política e estratégica, voltada para a democracia e a legalidade. Aos 82 anos, Freire é descrito como uma figura lúcida, atuante e combativa, cujo legado político já está incorporado à memória nacional. Sua decisão estratégica de apoiar a candidatura presidencial de Simone Tebet no primeiro turno das eleições de 2022, que contribuiu para a vitória de Lula III no segundo turno, é mencionada como um exemplo de sua influência e relevância política contínua. O autor, Antonio Fausto Nascimento, ex-líder bancário em Pernambuco e ex-secretário do Trabalho no governo Miguel Arraes, conclui a homenagem desejando vida longa, saúde e paz a Roberto Freire, reconhecendo-o como um grande brasileiro, estadista, democrata, patriota, republicano e homem público exemplar. _________________________________________________________________________________________________________
---------- O que significa se Maomé não vai até a montanha? Assim, o ditado original está corretíssimo, se a Montanha não vai a Maomé, Maomé vai até a montanha, pois se Maomé não for até a Montanha, ela com certeza não irá até ele. Portanto, não espere que os outros façam por você, faça você mesmo. ----------
------------- Maria Cristina Fernandes: Barradas no baile da política --------- No baile da política, um xadrez se fez, Lula vai à Lira, Moraes vai à Lula, tudo se refaz. Wagner vai a Pacheco, um jogo de interesses, Pacheco, com seu talento, nos destinos se entrelaça. Lula e Milaneza, dançam num mesmo compasso, Wagner, o predileto, tem a aura de um Führer. Alexandre, o grande, desata o nó górdio, Nessa dança política, o poder se insinua. Lula e Lira, beija-flores em pleno voo, Moraes e Lula, corintianos da mesma paixão. Wagner e Pacheco, em seus próprios destinos, Na quadrilha da política, movimentos de sedução. E assim se desenrola o espetáculo do poder, Onde os protagonistas desfilam seus jogos de interesse. Na dança dos políticos, cada passo é um poder, E a roda da história continua a tecer seu tecido denso. _________________________________________________________________________________________________________ ------------
------------- Independência e harmonia entre os Poderes Charge do Nani (nanihumor.com) ----------- No Brasil, a briga entre os três Poderes é só para dramatizar o creme chantilly Publicado em 20 de abril de 2024 por Tribuna da Internet FacebookTwitterWhatsAppEmail Mario Sabino Metrópoles A imprensa está excitadíssima com o que chama de briga entre os três poderes. Eu chamo a briga de acerto entre os poderes. Entendo os meus colegas: é preciso cobrir a política brasileira, não tem jeito, e os atores da peça às vezes se ameaçam mutuamente quando alguém resolve emperrar o esquema que vinha funcionando perfeitamente. É só quando a realidade concreta entra em jogo, apenas para servir de objeto de escambo. Alguém resolve emperrar não pelo bem do país — que país? –, mas para ver se consegue aumentar o próprio cacife no toma lá, dá cá habitual. Aumentar o próprio cacife significa diminuir o do outro, mudando o que a esquerda gosta de chamar de correlação de forças. COM CHANTILLY – Briga entre poderes me lembra uma cena que presenciei em uma famosa e movimentada sorveteria de Roma. Ao ser atendido por um dos atendentes que servia os sorvetes, o cliente pediu um de chocolate, café e creme. O atendente perguntou, como de hábito na Itália, se o sorvete era com ou sem cobertura de chantilly. O cliente respondeu que era com chantilly. — Entendi: chocolate, café, creme, sem chantilly. — Não, não, eu pedi com chantilly! — Eu sei, senhor, foi só para dramatizar… É preciso dramatizar, portanto, tanto da parte dos políticos, como da imprensa. Como nesse enfrentamento de Arthur Lira com Lula e com o PT, no qual o STF entrou de cambulhada por ser alvo da direita, que não suporta mais os transbordamentos de certos ministros do Supremo. ABUSO DE AUTORIDADE – Até as tampas com o governo do PT, que tirou o emprego de um primo seu no Incra a pedido do MST e não quer que o próximo presidente da Câmara seja aliado seu, Lira ameaçou abrir investigação sobre abuso de autoridade das excelências do STF, como quer a direita, para mandar recado a Lula, que tem no tribunal o seu maior aliado político. Os ministros ficaram apreensivos e recorreram ao presidente para ver o que podia ser feito, e um deles foi até o parlamento para um olho no olho com Rodrigo Pacheco, presidente do Senado, e com o presidente da Câmara rebelde. Lira conta também com outros itens no seu pacote de maldades, expressão usada em Brasília que costuma me causar bocejos. Ameaça, assim, dificultar a vida do governo Lula — como se o governo Lula já não se dificultasse por si só. PARA DRAMATIZAR – É um repetição, perceba você, da mesma história de sempre. A única novidade, e reconheço que não de pouca monta, é que agora a briga inclui o Judiciário, que virou poder político. Mas são todos brasileiros, graças a Deus, e tudo deverá se resolver como sempre, pelo menos neste momento em que o caos econômico ainda está em seus primeiros anúncios. O esquema só sofre abalo real quando o dinheiro começa a faltar para todo mundo. Aí, então, é preciso mudar para que tudo volte a ser como sempre foi, tal como ocorreu no caso do impeachment de Dilma Rousseff, para usar exemplo recente. Se não houver fator novo, o que seria muito surpreendente, essa briga entre poderes vai acabar em sorvete com chantilly. O sorvete sem chantilly foi só para dramatizar, senhor. --------------
---------- CONFUSÃO DO POEMA COM O ARTIGO EM UM ESTILO QUE MESCLE A POESIA E A PROSA CRITICAMENTE, MAS COM HUMOR E ELEGÂNCIA. ----------- No baile da política, onde o xadrez se faz, Lula e Lira dançam num compasso voraz. Moraes e Lula, corintianos na paixão, Enquanto Wagner e Pacheco tecem sua união. No tabuleiro dos interesses, cada peça se move, Como num jogo de xadrez, onde o poder se prova. Lula e Milaneza, unidos pelo destino, Enquanto Wagner, o predileto, brilha com seu tino. Mas eis que surge a briga entre os poderes três, Excitando a imprensa, como sorvete com chantilly. A dramatização se instaura, como na sorveteria romana, Onde o pedido com chantilly se torna mera artimanha. A política brasileira, um espetáculo de acordos, Onde a realidade serve apenas para escambo de bordos. Lira e Lula, Lira e PT, Lira e STF, Enquanto o país observa, meio perplexo e sem fôlego. A ameaça de investigação paira sobre o ar, Abuso de autoridade, uma carta para jogar. Lira, Pacheco, e o STF no embate se encontram, Enquanto o Brasil assiste, entre risos e espantos. É o eterno retorno da mesma narrativa, Onde os poderes se digladiam numa luta criativa. Mas no final das contas, o sorvete será com chantilly, Pois o drama é só para colorir a vida cotidiana, brilhantemente. ------------ ------------- CONCLUSÃO NUM GRAND FINALE NO TOM DA LETRA DE SINTONIA, Canção de Moraes Moreira ---------- Escute essa canção Que é pra tocar no rádio No rádio do seu coração Você me sintoniza E a gente então se liga Nessa estação Aumenta o seu volume que o ciúme Não tem remédio Não tem remédio Não tem remédio não Aumenta o seu volume que o ciúme Não tem remédio Não tem remédio Não tem remédio não E agora assim aqui pra nós Pelo meu nome não me chama Você é quem conhece mais A voz do homem Que te ama Deixa eu penetrar na tua onda Deixa eu me deitar na tua praia Que é nesse vai e vem Nesse vai e vem Que a gente se dá bem Que a gente se atrapalha Deixa eu penetrar na tua onda Deixa eu me deitar na tua praia Que é nesse vai e vem Nesse vai e vem Que a gente se dá bem Que a gente se atrapalha Aumenta o seu volume que o ciúme Não tem remédio Não tem remédio Não tem remédio não Aumenta o seu volume que o ciúme Não tem remédio Não tem remédio Não tem remédio não E agora assim aqui pra nós Pelo meu nome não me chama Você é quem conhece mais A voz do homem que te ama Deixa eu penetrar na tua onda Deixa eu me deitar na tua praia Que é nesse vai e vem Nesse vai e vem Que a gente se dá bem Que a gente se atrapalha Deixa eu penetrar na tua onda Deixa eu me deitar na tua praia Que é nesse vai e vem Nesse vai e vem Que a gente se dá bem Que a gente se atrapalha Escute essa canção Que é pra tocar no rádio No rádio do seu coração Você me sintoniza E a gente então se liga Nessa estação" ----------- ------------ SEGUE O FLUXO - CONTROLANDO - GUETTHO É GUETTO | FitDance (Coreografia) | Dance Video --------- E assim, ao som dessa sintonia, O Brasil segue sua dança, sua sinfonia. No rádio do coração, a política ressoa, E nós nos conectamos, como numa boa. Aumentemos o volume, que o ciúme não tem vez, Nesse vai e vem de interesses, a vida se fez. Deixa-nos penetrar na onda da mudança, Deitar na praia da esperança, com confiança. Que a briga entre poderes seja só um espetáculo, Onde o drama é necessário, mas não é o baralho. No final das contas, somos nós quem temos o controle, Da estação onde sintonizamos, do nosso farol. Escutemos essa canção, no rádio do coração, Onde nos ligamos, numa só vibração. Que a política seja melodia, não dissonância, E que nessa sintonia encontremos nossa esperança. _________________________________________________________________________________________________________ ------------ A Bunda, que engraçada Carlos Drummond de Andrade ----------- A bunda, que engraçada. Está sempre sorrindo, nunca é trágica. Não lhe importa o que vai pela frente do corpo. A bunda basta-se. Existe algo mais? Talvez os seios. Ora — murmura a bunda — esses garotos ainda lhes falta muito que estudar. A bunda são duas luas gêmeas em rotundo meneio. Anda por si na cadência mimosa, no milagre de ser duas em uma, plenamente. A bunda se diverte por conta própria. E ama. Na cama agita-se. Montanhas avolumam-se, descem. Ondas batendo numa praia infinita. Lá vai sorrindo a bunda. Vai feliz na carícia de ser e balançar. Esferas harmoniosas sobre o caos. A bunda é a bunda, redunda.
------------ Carlos Drummond de Andrade Carlos Drummond de Andrade foi um poeta, contista e cronista brasileiro, considerado por muitos o mais influente poeta brasileiro do século XX. Jabuti Nasceu a 31 Outubro 1902 (Itabira do Mato Dentro, Minas Gerais, Brasil) Morreu em 17 Agosto 1987 (Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil) _________________________________________________________________________________________________________ =============
------------ 'Bundas': conheça a revista criada por Ziraldo em 1999 Ziraldo deixou seu legado em diversas outras áreas além da literatura. Em 1999, ele criou uma revista chamada "Bundas" com críticas e sátiras 11:27 | 08/04/2024 Autor Évila Silveira Évila Silveira Autor Ver perfil do autor Tipo Notícia Leia mais em: https://www.opovo.com.br/noticias/curiosidades/2024/04/08/bundas-conheca-a-revista-criada-por-ziraldo-em-1999.html _________________________________________________________________________________________________________ ---------- ------------ Os Três Patetas 1945 - Os Três Tenores. Dublado. Tv Classe A ----------- _________________________________________________________________________________________________________ "Se um Marinho desafiava três tolos por seus comunistas, Três Marinho desafiarão um tolo por seus petistas?" _________________________________________________________________________________________________________
------------ Tancredo Neves morreu sem ter sido empossado na Presidência da República Foto: Arquivo / Agência O Globo ------------ POLÍTICA Ulysses Guimarães, o ‘jurila’ e os ‘Três Patetas’ A História de Mora conta os bastidores da sucessão de Tancredo Neves Jorge Bastos Moreno 20/11/2011 - 10:03 / Atualizado em 12/12/2011 - 16:19 Coube ao jornalista Carlos Chagas, logo no início do governo Sarney, desvendar o grande mistério que até hoje provoca discussões jurídicas no país: por que Sarney, e não meu marido, assumiu a Presidência da República, com o impedimento de Tancredo Neves? Foi num almoço na casa do nosso amigo Afrânio Nabuco, em Brasília, ao qual Sarney chegou atrasado, vindo de uma inauguração em Goiás, que o jornalista, puxando Ulysses para um canto, perguntou baixinho, suavemente, quase sussurrando: — Agora que tudo já passou — e veja a cara do Sarney, todo feliz ali ao lado dos ministros militares —, diga aqui para nós, doutor Ulysses, por que o senhor não assumiu a Presidência? Ulysses olha para os lados, como se estivesse preocupado de alguém ouvir aquela conversa, e responde quase que no mesmo tom da pergunta: — Porque o meu Pontes de Miranda me cutucava com a sua espada, dizendo: "Não é você, é o Sarney! É o Sarney! É o Sarney!". A sorte de Ulysses é que o general Leônidas Pires Gonçalves, ministro do Exército escolhido por Tancredo, até hoje interpreta a frase do meu marido como elogio. A única pessoa que, até então, sabia da conversa "constitucional" entre o pobre advogado formado nas Arcadas do Largo São Francisco e o general-jurista era eu. Naquela fatídica noite da internação do Tancredo, meu marido, que era o presidente da Câmara, o então presidente do Senado, Humberto Lucena, o senador Fernando Henrique Cardoso e o próprio general Leônidas deixaram o hospital escondidos e foram bater à porta da casa do então ministro-chefe da Casa Civil da Presidência da República, Leitão de Abreu. Naquela conversa, já explorada e contada em prosas e versos, selou-se o destino de Sarney e, consequentemente, o de meu marido. Claro que não dormi naquela noite. Ulysses chegou com muita fome e perguntou o que tínhamos para o jantar. Não tínhamos nada, absolutamente nada. Estávamos em dias de gala: jantares e almoços formais, com a chegada de chefes de Estado para a posse. Lembrei-me que havia um bacalhau na geladeira. Numa das raras vezes vi Ulysses recusar comida: — Bacalhau, não, Mora. A última vez que eu comi, eu consegui dormir, mas o bacalhau, não. Optou por uma xícara de chá. Acho que estava ainda sugestionado pela internação do amigo, que nem diagnóstico tinha. — Mora, o Laviola, mordomo de Tancredo, me contou que ele come até três mangas à noite. E só consegue dormir depois de tomar um copo de leite quente! Para quem come feijoada na madrugada, era o roto falando do esfarrapado. Meu marido, enquanto tomava o chá, foi me contando tudo o que acontecera aquela noite, principalmente sua conversa com o "Pontes de Miranda". E eu perguntei: — E a conversa com Leitão? Ulysses me conta que o chefe da Casa Civil de Figueiredo também achava que era ele e não Sarney que deveria assumir. Mas, em algum momento da conversa, percebia algo estranho no olhar do ministro, o que o assustava muito. — Mora, o Leitão me olhava de um jeito esquisito. O seu discurso me era favorável, mas seus olhos, não! (Como já disse aqui, de olhar meu marido entende). Ah, se eu soubesse que a minha resposta iria fazer com que Ulysses deixasse a xícara de chá cair sobre o tapete que ganhei da minha amiga Maria da Glória Archer, juro que eu não teria dito o que disse: — Você se lembra daquele jantar na casa da Vera Brant, quando você disse que Pedro Aleixo só chamava o Leitão de Abreu de "jurila", por ter ele assessorado a Junta Militar? Tentando me ajudar a limpar o tapete apenas com um gesto de intenção, Ulysses, finalmente, vê a ficha cair: — Eu contei uma piada. Nunca neguei a competência do Leitão. Sempre o respeitei. Eu, ainda debutante em Brasília, já aprendera os códigos da corte, mais até que meu marido, que ajudou a criá-la: — Ulysses, o poder não tem parede. É como dizem nossos colunistas sociais: aqui, tudo se sabe e se vê, até o que não houve. O Marchezan (Nelson Marchezan) não veio te dizer que o Figueiredo te odeia porque você o chamou de analfabeto? — Será que alguém foi me intrigar com o Leitão? Claro que falaram. Na verdade, o problema do Leitão em relação ao meu marido tinha outras motivações: Ulysses sempre se referiu à Junta Militar como "Os Três Patetas". E o chefe da Junta foi o então ministro do Exército, Lyra Tavares, casado com Isolina, irmã do Leitão. O pseudônimo de Lyra Tavares, que o fez entrar para a Academia Brasileira de Letras, era "Adelita". Gente, o antimilitarismo do Ulysses é que sempre atrapalhou sua vida. Meu marido nunca gostou dos militares, no que, aliás, sempre foi muito bem correspondido. Se Figueiredo não queria dar posse a Sarney por motivos domésticos da ditadura, os militares nunca aceitariam meu marido na Presidência da República. Não preciso me estender muito sobre isso. Basta citar os fatos. Numa das comemorações do 31 de Março, Ulysses divulgou nota comparando o general Geisel a Idi Amim Dada, provocando enorme crise política. O MDB, basicamente, era divido entre "moderados" e "autênticos". Ulysses, ligado aos moderados, funcionava como pêndulo entre várias correntes que se abrigavam nas asas do bipartidarismo. Naquele momento, todos os seus colegas da chamada "cúpula pessedista", que comandava o MDB, brigaram com ele. Amaral Peixoto e Tancredo Neves eram os mais exaltados. E foi aí que jogaram meu marido nos braços dos "autênticos", de onde ele nunca mais saiu. Internamente, a ditadura entrou em crise também: cassar ou não cassar Ulysses. Era a velha história que já contei aqui: cassar meu marido seria um escândalo internacional. Os militares tentaram pegar Ulysses mais na frente, quando o processaram lá no "pacote de abril" de 1977. Durante a Constituinte, numa entrevista em São Paulo, Ulysses voltou a se referir à Junta Militar como "aqueles Três Patetas". Acredito até que a entrevista em si poderia ter causado o mal-estar que causou, mas o bicho pegou mesmo foi na chegada a Brasília. Vocês vão me permitir, antes, uma explicação: sem Ulysses, a Constituinte não funcionava. Quando, por um motivo ou outro, ele ficava ausente, ao reassumir a presidência era sempre aplaudido. Isso virou rotina. Só que, na volta da entrevista sobre "Os Três Patetas", Ulysses não foi aplaudido: foi ovacionado, quase carregado pelo plenário. Mas meu marido ainda tinha contas a acertar. Ulysses era tão obsessivo na luta contra a ditadura que, para vocês terem uma ideia, logo após o encerramento da primeira campanha eleitoral de 89 para presidente da República, o "Jornal do Brasil" publicou uma pesquisa sobre o conteúdo dos discursos dos candidatos: Ulysses foi o que mais falou contra ditadura, torturas e mortes. Foi ele que encerrou a campanha eleitoral fazendo uma justa e linda homenagem àquele estudante da UnB, Honestino Guimarães. Lula, Brizola e Covas não sabiam quem tinha sido Honestino Guimarães. Nem eu. Ulysses sabia. Mas foi na promulgação da Constituição que meu marido lavou a alma e provocou um delírio coletivo, ao esconjurar: — Temos ódio à ditadura! Ódio e nojo! E naquela festa de congraçamento nacional, do chamado reencontro do Estado com a Nação, Ulysses grita: — A sociedade foi Rubens Paiva, não os facínoras que o mataram! Ao ouvir isso, um dos chefes militares se retirou da solenidade. Foi um horror! E, por uma dessas ironias do destino, vem agora o ex-senador Jarbas Passarinho, com a autoridade de ex-vice-presidente da Constituinte, revelar que, por um gesto impositivo, totalmente arbitrário e fora da lei, coube ao meu marido determinar o 13 salário dos militares. E a revelação vem com espanto do próprio Passarinho: — É curioso que esse benefício tenha vindo do homem que chamou a Junta Militar de "Os três Patetas" e o presidente Geisel de "Idi Amim". Nem eu sabia que, de "bicho-papão", Ulysses se transformaria em "Papai Noel" dos militares. _________________________________________________________________________________________________________ ----------- VOZES DA PRIMAVERA Raíssa Amaral 19 de set. de 2017 Orquestra Sinfônica de Minas Gerais & Raíssa Amaral (soprano). Maestro: Silvio Viegas. 09/08/2017 - Grande Teatro do Palácio das Artes - Belo Horizonte/MG. "Frühlingsstimmen" ("Vozes da Primavera") é uma valsa orquestrada, com voz soprano solo opcional escrita em 1882 por Johann Strauss II, sua Opus 410. Letra: Richard Genée (1823–1895).