segunda-feira, 2 de novembro de 2020

Memento mori - lembra-te que és mortal!

 

“ÉS O QUE FOMOS, SERÁS O QUE SOMOS” 1 : O PROCESSO DE RESSIGNIFICAÇÃO DOS ESPAÇOS CEMITERIAIS E DAS PRÁTICAS FUNERÁRIAS.

ÁRIFE AMARAL MELO

 

Tese de Doutorado apresentada para o Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da Faculdade de Filosofia e Ciências da UNESP – Campus de Marília, como requisito para a obtenção do título de Doutor em Ciências Sociais.

Linha de Pesquisa: Pensamento Social, Educação e Políticas Públicas.

Orientador: Professor Dr. Aluisio Almeida Schumacher.

MARÍLIA

2019

1 O título desta tese é uma adaptação de um memento mori presente em um Cemitério da Cidade Catanduva, interior de São Paulo.

 

RESUMO

A presente tese pretende interpretar os espaços cemiteriais e as práticas funerárias a eles relacionados, visando compreender a existência de um processo de ressignificação relacionado a ambos. Esse processo se dá a partir do que pode ser observado na maioria dos cemitérios tradicionais: visualmente, é possível observar que nesses cemitérios existe um contraste estético, no qual os jazigos mais antigos apresentam diversos elementos simbólicos e alegóricos relacionados a valores religiosos, ao passo que em jazigos mais novos esses elementos são cada vez mais raros ou simplesmente inexistem. Coube à pesquisa, através de visitas a alguns cemitérios em cidades do Estado de São Paulo e do Paraná, observar e identificar os elementos que permeiam esse contraste. Observou-se que não somente os espaços cemiteriais, mas também as práticas funerárias vinculadas a eles se encontram em constante mudança. Essas mudanças, impulsionadas pela secularização e pela racionalização, afetaram o significado do espaço cemiterial e das atitudes perante a morte, haja vista que até mesmo a visão que se possuía sobre a morte, antes norteada por valores religiosos, aos poucos é subjugada por uma visão de mundo racionalizada. Nesse sentido, surgem “cemitérios de novo tipo”, cuja configuração, de caráter tecnicista e racional, se estende às práticas funerárias, nas quais seu tecnicismo se aprofundou em detrimento dos aspectos ritualísticos religiosos. Como incremento a esse processo, existe a mercantilização das práticas funerárias, que aprofunda as formas de distinção social já existentes anteriormente, criando constantemente produtos e serviços direcionados aos enlutados, tratando-os como consumidores. Essa mercantilização, que se apropria da racionalidade da execução das práticas funerárias, uma vez comercializadas e terceirizadas, passam a coexistir com a religiosidade no que se refere à atenuação da dor da perda.

Palavras-chave: ressignificação; cemitérios; práticas funerárias; racionalização.

 

INTRODUÇÃO

 

O CEMITÉRIO

 

Pelas ruas de túmulos, fomos calados. Eu olhava vagamente aquela multidão de sepulturas, que trepavam, tocavam-se, lutavam por espaço, na estreiteza da vaga e nas encostas das colinas aos lados. Algumas pareciam se olhar com afeto, roçando-se amigavelmente; em outras, transparecia a repugnância de estarem juntas. Havia solicitações incompreensíveis e também repulsões e antipatias; havia túmulos arrogantes, imponentes, vaidosos e pobres e humildes; e, em todos, ressumava o esforço extraordinário para escapar ao nivelamento da morte, ao apagamento que ela traz às condições e às fortunas. Amontoavam-se esculturas de mármore, vasos, cruzes e inscrições; iam além; erguiam pirâmides de pedra tosca, faziam caramanchéis extravagantes, imaginavam complicações de matos e plantas — coisas brancas e delirantes, de um mau gosto que irritava. As inscrições exuberavam; longas, cheias de nomes, sobrenomes e datas, não nos traziam à lembrança nem um nome ilustre sequer; em vão procurei ler nelas celebridades, notabilidades mortas; não as encontrei. E de tal modo a nossa sociedade nos marca um tão profundo ponto, que até ali, naquele campo de mortos, mudo laboratório de decomposição, tive uma imagem dela, feita inconscientemente de um propósito, firmemente desenhada por aquele acesso de túmulos pobres e ricos, grotescos e nobres, de mármore e pedra, cobrindo vulgaridades iguais umas às outras por força estranha às suas vontades, a lutar...

Fomos indo. A carreta, empunhada pelas mãos profissionais dos empregados, ia dobrando as alamedas, tomando ruas, até que chegou à boca do soturno buraco, por onde se via fugir, para sempre do nosso olhar, a humildade e a tristeza do contínuo da Secretaria dos Cultos.

Antes que lá chegássemos, porém, detive-me um pouco num túmulo de límpidos mármores, ajeitados em capela gótica, com anjos e cruzes que a rematavam pretensiosamente.

Nos cantos da lápide, vasos com flores de biscuit e, debaixo de um vidro, à nívea altura da base da capelinha, em meio corpo, o retrato da morta que o túmulo engolira. Como se estivesse na Rua do Ouvidor, não pude suster um pensamento mau e quase exclamei:

- Bela Mulher!

Estive a ver a fotografia e logo em seguida me veio à mente que aqueles olhos, que aquela boca provocadora de beijos, que aqueles seios túmidos, tentadores de longos contatos carnais, estariam àquela hora reduzidos a uma pasta fedorenta, debaixo de uma porção de terra embebida de gordura.

Que resultados teve a sua beleza na terra? Que coisas eternas criaram os homens que ela inspirou? Nada, ou talvez outros homens, para morrer e sofrer. Não passou disso, tudo mais se perdeu; tudo mais não teve existência, nem mesmo para ela e para os seus amados; foi breve, instantâneo, e fugaz.

Abalei-me! Eu que dizia a todo o mundo que amava a vida, eu que afirmava a minha admiração pelas coisas da sociedade — eu meditar como um cientista profeta hebraico! Era estranho! Remanescente de noções que se me infiltraram e cuja entrada em mim mesmo eu não percebera! Quem pode fugir a elas?

Continuando a andar, adivinhei as mãos da mulher, diáfanas e de dedos longos; compus o seu busto ereto e cheio, a cintura, os quadris, o pescoço, esguio e modelado, as espáduas brancas, o rosto sereno e iluminado por um par de olhos indefinidos de tristeza e desejos...

Já não era mais o retrato da mulher do túmulo; era de uma, viva, que me falava.

Com que surpresa, verifiquei isso.

Pois eu, eu que vivia desde os dezesseis anos, despreocupadamente, passando pelos meus olhos, na Rua do Ouvidor, todos os figurinos dos jornais de modas, eu me impressionar por aquela menina do cemitério! Era curioso.

E, por mais que procurasse explicar, não pude. (BARRETO, 2005, p.80)

Lima Barreto, neste conto, conduz o leitor a uma reflexão sobre diversos aspectos observáveis em um cemitério. Inicialmente, atribui características humanas às sepulturas como se elas reproduzissem a conduta dos vivos num local destinado aos mortos. Impressos nas formas estéticas dos túmulos estão os conflitos sociais, as diferenças de humor, a opulência e a miséria, como uma tentativa efêmera de se ter visibilidade mesmo após a morte. Elementos simbólicos como epitáfios e toda a arte tumular atraem a atenção do observador, que é interrompida por um elemento singelo presente em uma das sepulturas: a fotografia de uma bela mulher que o conduz a devaneios sensuais em sua imaginação, cuja sensação ele mesmo não consegue explicar.

O personagem ilustra a potencialidade do cemitério como um locus no qual se pode compreender como o fenômeno da morte desencadeia diversas práticas funerárias, e como suas implicações refletem importantes aspectos da vida social, bem como as mudanças que ocorrem nessas práticas podem ser manifestações de uma sociedade que também se encontra em transformação. As peculiaridades encontradas em diversos cemitérios podem servir como ponto de partida para identificar essas mudanças, num contraste entre espaço/tempo plasmado na materialidade de túmulos, mausoléus e demais dependências físicas fúnebres. Se tomarmos como exemplo a entrada da Capela dos Ossos, em Évora, Portugal, encontraremos a inscrição "Nós ossos que aqui estamos pelos vossos esperamos". Um memento mori2 , similar ao de um cemitério deste lado do Atlântico como o de Nossa Senhora do Carmo em Catanduva, interior de São Paulo, que contém os dizeres: “Fomos o que és, serás o que somos”. Ainda em São Paulo, no Cemitério Municipal de Paraibuna, no Vale do Paraíba, os dizeres “Nós que aqui estamos por vós esperamos”, que assim como o de Évora, serviu de título para o filme de Marcelo Masagão de 1999. Essas frases, como uma macabra recepção, se apresentando aos visitantes como se os mortos pudessem dizer a eles qual a sua futura condição, são na verdade construções orais dos vivos para os vivos, simbolizando a efemeridade da vida diante da certeza da morte. (...)

2 Expressão latina designada aos visitantes para que os mesmos tenham consciência de sua condição de criaturas mortais. A tradução dessa expressão seria “Lembre-se da morte”. Fonte: Dicionário online Glosbe, em: https://pt.glosbe.com/en/pt/memento%20mori acesso em 29/1/2018.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Memento mori

''A população, como árbitro supremo da atividade política, será obrigada a demarcar um rio Rubicão cuja ilegal transposição por um governante piromaníaco será rigorosamente punida pela sociedade''

 

OS

 

OTÁVIO SANTANA DO RÊGO BARROS

postado em 27/10/2020 06:00 / atualizado em 27/10/2020 08:47



https://midias.correiobraziliense.com.br/_midias/jpg/2020/10/26/412x283/1_wpri_2710_opiniao-6365149.jpg

 

 

 

 

(crédito: Editoria de arte)

(crédito: Editoria de arte)

Legiões acampadas. Entusiasmo nas centúrias extasiadas pela vitória. Estandartes tomados aos inimigos são alçados ao vento, troféus das épicas conquistas. O general romano atravessa o lendário rio Rubicão. Aproxima-se calmamente das portas da Cidade Eterna. Vai ao encontro dos aplausos da plebe rude e ignara, e do reconhecimento dos nobres no Senado. Faz-se acompanhar apenas de uma pequena guarda e de escravos cuja missão é sussurrar incessantemente aos seus ouvidos vitoriosos: “Memento Mori!” — lembra-te que és mortal!

O escravo que se coloca ao lado do galardoado chefe, o faz recordar-se de sua natureza humana. A ovação de autoridades, de gente crédula e de muitos aduladores, poderá toldar-lhe o senso de realidade. Infelizmente, nos deparamos hoje com posturas que ofendem àqueles costumes romanos. Os líderes atuais, após alcançarem suas vitórias nos coliseus eleitorais, são tragados pelos comentários babosos dos que o cercam ou pelas demonstrações alucinadas de seguidores de ocasião.

É doloroso perceber que os projetos apresentados nas campanhas eleitorais, com vistas a convencer-nos a depositar nosso voto nas urnas eletrônicas, são meras peças publicitárias, talhadas para aquele momento. Valem tanto quanto uma nota de sete reais.

Tão logo o mandato se inicia, aqueles planos são paulatinamente esquecidos diante das dificuldades políticas por implementá-los ou mesmo por outros mesquinhos interesses. Os assessores leais — escravos modernos — que sussurram os conselhos de humildade e bom senso aos eleitos chegam a ficar roucos.

Alguns deixam de ser respeitados. Outros, abandonados ao longo do caminho, feridos pelas intrigas palacianas. O restante, por sobrevivência, assume uma confortável mudez. São esses, seguidores subservientes que não praticam, por interesses pessoais, a discordância leal.

Entendam a discordância leal, um conceito vigente em forças armadas profissionais, como a ação verbal bem pensada e bem-intencionada, às vezes contrária aos pensamentos em voga, para ajudar um líder a cumprir sua missão com sucesso.

A autoridade muito rapidamente incorpora a crença de ter sido alçada ao olimpo por decisão divina, razão pela qual não precisa e não quer escutar as vaias. Não aceita ser contradita. Basta-se a si mesmo. Sua audição seletiva acolhe apenas as palmas. A soberba lhe cai como veste. Vê-se sempre como o vencedor na batalha de Zama, nunca como o derrotado na batalha de Canas.

Infelizmente, o poder inebria, corrompe e destrói! E se não há mais escravos discordantes leais a cochichar: “Lembra-te que és mortal”, a estabilidade política do império está sob risco.

As demais instituições dessa república — parte da tríade do poder — precisarão, então, blindar-se contra os atos indecorosos, desalinhados dos interesses da sociedade, que advirão como decisões do “imperador imortal”. Deverão ser firmes, não recuar diante de pressões. A imprensa, sempre ela, deverá fortalecer-se na ética para o cumprimento de seu papel de informar, esclarecendo à população os pontos de fragilidade e os de potencialidade nos atos do César.

A população, como árbitro supremo da atividade política, será obrigada a demarcar um rio Rubicão cuja ilegal transposição por um governante piromaníaco será rigorosamente punida pela sociedade. Por fim, assumindo o papel de escravo romano, ela deverá sussurrar aos ouvidos dos políticos que lhes mereceram seu voto: — “Lembra-te da próxima eleição!”

Paz e bem!

 

 

* General de Divisão do Exército Brasileiro. Doutor em ciências militares, foi o porta-voz da Presidência da República, nomeado pelo governo Jair Bolsonaro 

https://www.correiobraziliense.com.br/opiniao/2020/10/4884811-memento-mori.html

 

Questão 25

Examine a pintura do artista holandês Pieter Claesz (1597-1661) e a tradução da expressão latina Memento mori.




 

https://anglo.plurall.net/sites/default/files/imagens/compartilhadas/questoes/unesp/2019/b210_325455_3379675_.png

Memento mori: Lembra-te de que morrerás.

(Renzo Tosi (org.). Dicionário de sentenças latinas e gregas, 2010.)

a) Além da caveira, que outro elemento retratado na pintura de Pieter Claesz alude à expressão Memento mori? Justifique sua resposta.

b) Tendo em vista o contexto de sua produção, a temática explorada pela pintura remete mais diretamente a qual escola literária? Justifique sua resposta.

Resolução

a) A pintura do holandês Pieter Claez propõe uma reflexão a respeito da brevidade da vida, presente na expressão latina “memento mori”, além da caveira, nitidamente relacionada a essa temática, a flor sobre a mesa e a vela acesa também remetem à efemeridade, uma vez que são elementos que têm sua duração reduzida. As flores murcham e a parafina de que é feita a vela derrete pela ação do fogo.

 

b) A temática da efemeridade na tela é típica da estética barroca, o que pode ser corroborado pela data da produção da obra, 1625, período de difusão do barroco na maior parte do Ocidente. A tela convida o espectador a refletir sobre seu tempo de vida e pode funcionar, de certa forma, como uma ameaça àqueles seres que não nortearem sua vida na mesma direção dos dogmas propostos pela religiosidade cristã.

http://angloresolve.plurall.net/press/question/3379675

 

UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA CAMPUS DE MARÍLIA FACULDADE DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS ÁRIFE AMARAL MELO “ÉS O QUE FOMOS, SERÁS O QUE SOMOS”: O PROCESSO DE RESSIGNIFICAÇÃO DOS ESPAÇOS CEMITERIAIS E DAS PRÁTICAS FUNERÁRIAS. MARÍLIA 2019

https://repositorio.unesp.br/bitstream/handle/11449/181552/melo_aa_dr_mar.pdf?sequence=3&isAllowed=y

 

 

 

 

Português

Gabarito UNESP 2020 – Português – Prova Resolvida

Data16/11/2019

Postado porProf. Celina Gil

CategoriasPortuguês

Olá, pessoal… Tudo bem? Sou a profª. Celina Gil, do Estratégia Vestibulares, e com a ajuda dos professores Fernando Andrade e Luana Signorelli, escrevo este artigo para comentar as questões da prova da UNESP e indicar o Gabarito da disciplina de Português.

Nesta página, você vai conferir todas as questões resolvidas e comentadas. Você pode, inclusive, baixar os nossos comentários sobre a prova em um PDF gratuito.

Prova UNESP 2020 – PortuguêsBaixar

Prova UNESP 2020

Questão 01

Examine o cartum de Steinberg, publicado em seu Instagram em 06.04.2019.




 

https://s3.amazonaws.com/sitevestibulares/wp-content/uploads/2019/11/15235235/image55.png

Para o cartunista, a diferença entre estar ou não estar de dieta limita-se a um sentimento de

(A) culpa.

(B) euforia.

(C) tristeza.

(D) vazio.

(E) satisfação.

Resolução Comentada

  • A alternativa A está correta, pois a personagem não deixa de comer, apenas fica pensando sobre como não deveria estar comendo. Ao pensar que não deveria fazer uma ação, mas executá-la mesmo assim, a personagem sente culpa.
  • A alternativa B está incorreta, pois euforia significa “muita alegria”, e a personagem não esboça mudança de expressão indicando maior alegria.
  • A alternativa C está incorreta, pois, assim como em B, a personagem não esboça mudança de expressão para tristeza.
  • A alternativa D está incorreta, pois “vazio” denotaria certa melancolia, o que não ocorre na fala da personagem. Ela é bem taxativa ao dizer que não deveria fazer aquilo, mas não o diz denotando melancolia, e sim certeza.
  • A alternativa E está incorreta, pois a personagem não está feliz com suas atitudes.

Gabarito: A

Para responder às questões de 02 a 06, leia o trecho de uma carta enviada por Antônio Vieira ao rei D. João IV em 4 de abril de 1654.

No fim da carta de que V. M. me fez mercê me manda V. M. diga meu parecer sobre a conveniência de haver neste estado ou dois capitães-mores ou um só governador.

Eu, Senhor, razões políticas nunca as soube, e hoje as sei muito menos; mas por obedecer direi toscamente o que me parece.

Digo que menos mal será um ladrão que dois; e que mais dificultoso serão de achar dois homens de bem que um. Sendo propostos a Catão dois cidadãos romanos para o provimento de duas praças, respondeu que ambos lhe descontentavam: um porque nada tinha, outro porque nada lhe bastava. Tais são os dois capitães-mores em que se repartiu este governo: Baltasar de Sousa não tem nada, Inácio do Rego não lhe basta nada; e eu não sei qual é maior tentação, se a 1, se a 2. Tudo quanto há na capitania do Pará, tirando as terras, não vale 10 mil cruzados, como é notório, e desta terra há-de tirar Inácio do Rego mais de 100 mil cruzados em três anos, segundo se lhe vão logrando bem as indústrias.

Tudo isto sai do sangue e do suor dos tristes índios, aos quais trata como tão escravos seus, que nenhum tem liberdade nem para deixar de servir a ele nem para poder servir a outrem; o que, além da injustiça que se faz aos índios, é ocasião de padecerem muitas necessidades os portugueses e de perecerem os pobres. Em uma capitania destas confessei uma pobre mulher, das que vieram das Ilhas, a qual me disse com muitas lágrimas que, dos nove filhos que tivera, lhe morreram em três meses cinco filhos, de pura fome e desamparo; e, consolando-a eu pela morte de tantos filhos, respondeu-me: “Padre, não são esses os por que eu choro, senão pelos quatro que tenho vivos sem ter com que os sustentar, e peço a Deus todos os dias que me os leve também.”

São lastimosas as misérias que passa esta pobre gente das Ilhas, porque, como não têm com que agradecer, se algum índio se reparte não lhe chega a eles, senão aos poderosos; e é este um desamparo a que V. M. por piedade deverá mandar acudir.

Tornando aos índios do Pará, dos quais, como dizia, se serve quem ali governa como se foram seus escravos, e os traz quase todos ocupados em seus interesses, principalmente no dos tabacos, obriga-me a consciência a manifestar a V. M. os grandes pecados que por ocasião deste serviço se cometem.

(Sérgio Rodrigues (org.). Cartas brasileiras, 2017. Adaptado.)

1V. M.: Vossa Majestade.

Questão 02

À questão colocada por D. João IV, Antônio Vieira

(A) responde de maneira categórica.

(B) opta por não emitir uma opinião.

(C) finge não tê-la compreendido.

(D) admite a incapacidade de respondê-la.

(E) responde de forma enigmática.

Resolução Comentada

  • A alternativa A está correta, pois ao ser perguntado sobre o que era mais conveniente, “dois capitães-mores ou um só governador”, Vieira responde sem hesitar: “Digo que menos mal será um ladrão que dois; e que mais dificultoso serão de achar dois homens de bem que um”. Assim, pode-se dizer que sua resposta é  “categórica”.
  • A alternativa B está incorreta, pois apesar de dizer que não estava capacitado para tal, Vieira opina mesmo assim.
  • A alternativa C está incorreta, pois ele nunca diz que não entendeu a pergunta, ele apenas afirma que não se sente capacitado – ainda que opine mesmo assim.
  • A alternativa D está incorreta, pois, assim como em B, apesar de dizer que não estava capacitado para tal, Vieira opina mesmo assim.
  • A alternativa E está incorreta, pois ainda que responda através de uma alegoria, Vieira não deixa margem para dúvidas. Ele afirma categoricamente que “Digo que menos mal será um ladrão que dois; e que mais dificultoso serão de achar dois homens de bem que um”.

Gabarito: A

Questão 03

Considerando o contexto, as lacunas numeradas no terceiro parágrafo do texto devem ser preenchidas, respectivamente, por

(A) humildade e vaidade.

(B) necessidade e cobiça.

(C) miséria e inveja.

(D) preguiça e ganância.

(E) avareza e luxúria

Resolução Comentada

  • O trecho a que a questão se refere é “e eu não sei qual é maior tentação, se a 1 , se a 2”. As pessoas de quem o trecho fala são, respectivamente “um porque nada tinha, outro porque nada lhe bastava
  • A alternativa A está incorreta, pois ainda que se pudesse associar “humildade” a não possuir nada – entendendo humilde como um eufemismo para “pobre” – , “vaidade” tem a ver com imodéstia, presunção, não com querer sempre mais.
  • A alternativa B está correta, pois “nada ter” pode ser um sinônimo de “necessidade”, que significa carência, insuficiência; e “nada lhe bastava” pode ser um sinônimo de “cobiça”, que significa ambição, ganância.
  • A alternativa C está incorreta, pois ainda que se pudesse associar “miséria” a não possuir nada – entendendo miserável como alguém que não possui nada –, “inveja” tem a ver com ciúme, não com ambição. 
  • A alternativa D está incorreta, pois preguiça não é associada a não ter nada. Não se pode afirmar que alguém não possui nada por preguiça. Ganância, porém, poderia ser um possível sinônimo para “nada lhe bastava”.
  • A alternativa E está incorreta, pois avareza remete à ideia de mesquinharia, pão-durismo, ou seja, não se relaciona com ter nada; e luxúria apesar de luxúria poder ser entendido como “desejo excessivo”, há um aspecto mais ligado à sexualidade do que a bens materiais como parece ser o caso no texto.

Gabarito: B

Questão 04

Em sua carta, Antônio Vieira relata os padecimentos

(A) dos nativos e dos capitães-mores.

(B) dos negros e dos colonos pobres.

(C) dos nativos e dos colonos pobres.

(D) dos negros e dos capitães-mores.

(E) dos nativos e dos negros.

Resolução Comentada

  • A resposta para essa alternativa está no 4º parágrafo, nos trechos “Tudo isto sai do sangue e do suor dos tristes índios” e “além da injustiça que se faz aos índios, é ocasião de padecerem muitas necessidades os portugueses e de perecerem os pobres”.
  • A alternativa A está incorreta, pois não há referência a capitães-mores – pessoas que auxiliavam o Governador Geral com a segurança do litoral da colônia – no texto.
  • A alternativa B está incorreta, pois não se fala em “negros” no texto, apenas em índios e portugueses.
  • A alternativa C está correta, pois no quarto parágrafo são citados dois grupos como prejudicados: índios e portugueses pobres. Uma vez que os nativos eram os indígenas e os portugueses que aqui estavam eram os colonos, a alternativa correta era nativos e colonos pobres
  • A alternativa D está incorreta, pois, assim como falado anteriormente, não se fala nem de negros e nem de capitães-mores no texto.
  • A alternativa E está incorreta, pois o texto não fala de negros em nenhum momento.

Gabarito: C

Questão 05

Em um estudo publicado em 2005, o historiador Gustavo Acioli Lopes vale-se, no quadro da economia colonial, da expressão “primo pobre” para se referir ao produto derivado das lavouras mencionadas por Antônio Vieira em sua carta. No contexto histórico em que foi escrita a carta, o “primo rico” seria

(A) o açúcar.

(B) o pau-brasil. (extrativismo)

(C) o café. (XIX)

(D) o ouro. (XVIII)

(E) o algodão. (XIX)

Resolução Comentada

Atençãoquestão interdisciplinar com a História.

  • A alternativa A está correta, pois a economia no Brasil colônia estava fortemente apoiada na plantação de açúcar, sendo assim, o “primo rico”. O tabaco, citado no último parágrafo do texto, não era tão responsável pelos lucros e, por isso, era chamado de “primo pobre”.
  • A alternativa B está incorreta, pois apesar do pau-brasil ser fonte de renda na economia colonial, era ligado ao extrativismo, ou seja, não havia plantações de pau-brasil. Ele era extraído e exportado.
  • A alternativa C está incorreta, pois a plantação de café só passa a ter expressividade no Brasil no século XIX.
  • A alternativa D está incorreta, pois a exploração de minério do ouro é expressiva na região de Minas Gerais, no século XVIII.
  • A alternativa E está incorreta, pois a plantação de algodão só passa a ter expressividade no Brasil no século XIX.

Gabarito: A

Questão 06

Sempre que haja necessidade expressiva de reforço, de ênfase, pode o objeto direto vir repetido. Essa reiteração recebe o nome de objeto direto pleonástico. (Adriano da Gama Kury. Novas lições de análise sintática, 1997. Adaptado.) Antônio Vieira recorre a esse recurso expressivo em:

(A) “Sendo propostos a Catão dois cidadãos romanos para o provimento de duas praças, respondeu que ambos lhe descontentavam” (3o parágrafo)

(B) “e, consolando-a eu pela morte de tantos filhos, respondeu-me” (4o parágrafo)

(C) “e desta terra há-de tirar Inácio do Rego mais de 100 mil cruzados em três anos, segundo se lhe vão logrando bem as indústrias” (3o parágrafo)

(D) “São lastimosas as misérias que passa esta pobre gente das Ilhas” (5o parágrafo)

(E) “Eu, Senhor, razões políticas nunca as soube, e hoje as sei muito menos” (2o parágrafo)

Resolução Comentada

AtençãoOs Sermões de Padre Antônio Vieira são uma obra que compõe o repertório obrigatório de leituras da UNICAMP 2020.

DICA DA PROF

O objeto direto pleonástico geralmente vem em forma de pronome oblíquo; logo, a #dicadaprofa de antemão era justamente começar procurando por essa classificação de pronome.

  • Alternativa “a”: incorreta. “Respondeu que ambos lhe descontentavam”: descontentavam a eles (cidadãos romanos), está correto o uso do verbo transitivo indireto.
  • Alternativa “b”: incorreta. “Consolando-a eu pela morte de tantos filhos”: na ordem direta: eu consolo ela (quem consola, consola alguém); “pela morte de tantos filhos”: adjunto adverbial. No caso, o objeto direto está expresso correta e explicitamente pelo pronome oblíquo.
  • Alternativa “c”: incorreta. “Segundo se lhe vão logrando”: atenção, em língua portuguesa está correto o uso duplo de pronome: no caso, “se” é reflexivo e “lhe” é objeto indireto de logrando. Não há objeto direto nesse caso.
  • Alternativa “d”: incorreta. Cuidado: sequer tem pronome oblíquo nesse trecho. “São lastimosas as misérias”: no caso, este “as” é artigo definido feminino, e não pronome oblíquo.
  • Alternativa “e”: correta – gabarito. Padre Antônio Vieira é um autor do movimento literário do Barroco, cheio de rebuscamento na forma e na linguagem. Nesse trecho, há inversão da ordem direta (SVO) do português. No caso, vamos fazer análise sintática desse trecho:

“razões políticas nunca as soube”

*Sujeito: “eu” (1ª pessoa do singular, o que sabemos por meio da desinência – terminação – do verbo);

*Verbo: soube;

*Objeto direto [explícito]: razões políticas;

*As: pronome oblíquo que se refere ao termo “razões políticas”, porém, desnecessário (pleonástico, redundante), uma vez que o objeto direto já aparece explícito na oração.

Gabarito: E

Questão 07




 

https://s3.amazonaws.com/sitevestibulares/wp-content/uploads/2019/11/16000013/image56.png

Na tira, a morte é caracterizada como

(A) frívola.

(B) compassiva.

(C) solitária.

(D) incorruptível.

(E) materialista

Resolução Comentada

  • A alternativa A está incorreta. “Frívola” refere-se a uma pessoa que não se preocupa com questões importantes, ora a morte deve trabalhar no Iraque ceifando vidas, algo que não pode ser considerado fútil.
  • A alternativa B está incorreta. “Compassiva” pode aplicada a  uma pessoa que tem empatia em relação ao outro; é verdade que a morte diz que está com pena, mas, percebe-se que ela está sendo irônica.
  • A alternativa C está incorreta.  A morte não está incomodada por ser sozinha.
  • A alternativa D está correta.  O moribundo tenta subornar a morte oferecendo-lhe um emprego, e ela não aceita.
  • A alternativa E está incorreta. Se a morte se preocupasse com bens materiais, ela aceitaria a oferta do moribundo.

Gabarito: D

Questão 08

Constituem exemplos de linguagem formal e de linguagem coloquial, respectivamente, as seguintes falas:

(A) “Ah, estou morrendo de pena…” e “Ainda vou trabalhar a noite inteira no Iraque, meu rapaz.”

(B) “Me adianta essa, vai…” e “É cedo para mim.”

(C) “O importante é trabalhar com o que a gente gosta.” E “Posso lhe dar um emprego bem melhor…”

(D) “É cedo para mim.” e “Posso lhe dar um emprego bem melhor…”

(E) “Posso lhe dar um emprego bem melhor…” e “Me adianta essa, vai…”

Resolução Comentada

É preciso tomar cuidado com a palavra “respectivamente”, significa que a primeira frase deve ser formal e a segunda deve ser coloquial.

  • A alternativa A está incorreta. A primeira fala tem um termo coloquial “pena”, portanto, não atende ao que foi pedido.
  • A alternativa B está incorreta. “Me adiante essa, vai…” é coloquial, pois  usa-se o pronome átono no começo da oração, algo não recomendado pela gramática normativa.
  • A alternativa C está incorreta.  Na primeira oração, o verbo gostar exige a preposição “de”, para expressar essa informação na linguagem formal, o personagem deveria ter dito “O importante é trabalhar com aquilo de que a gente gosta”.
  • A alternativa D está incorreta. A segunda oração está de acordo com o padrão formal como se observa pelo uso do pronome átono “lhe”, pouco usado na linguagem coloquial.
  • A alternativa E está correta. A primeira oração segue as regras do uso do pronome átono “lhe” como objeto indireto; na segunda oração, observa-se o uso do pronome átono “me” no começo da frase, traço da linguagem coloquial, além disso, observa-se a expressão “me adianta essa” que  é uma espécie de gíria para solicitar que a morte resolva o problema para ele.

Gabarito: E

Leia o soneto “VII”, de Cláudio Manuel da Costa, para responder às questões de 09 a 13.

Onde estou? Este sítio desconheço:
Quem fez tão diferente aquele prado?
Tudo outra natureza tem tomado,
E em contemplá-lo, tímido, esmoreço.

Uma fonte aqui houve; eu não me esqueço
De estar a ela um dia reclinado;
Ali em vale um monte está mudado:
Quanto pode dos anos o progresso!

Árvores aqui vi tão florescentes,
Que faziam perpétua a primavera:
Nem troncos vejo agora decadentes.

Eu me engano: a região esta não era;
Mas que venho a estranhar, se estão presentes
Meus males, com que tudo degenera!

(Cláudio Manuel da Costa. Obras, 2002.)

Questão 09

O tom predominante no soneto é de

(A) ingenuidade.

(B) apatia.

(C) ira.

(D) ironia.

(E) perplexidade.

Resolução Comentada

  • Alternativa “a”: incorreta. Segundo o Houaiss, ingenuidade significa qualidade, caráter de ingênuo; simplicidade, candura, singeleza; ação, palavra de pessoa ingênua. O eu lírico se mostra chocado com o progresso na sua terra.
  • Alternativa “b”: incorreta. Apatia é sinônimo de indiferença e não é isso. Ele se mostra chocado, atordoado com a mudança na sua terra.
  • Alternativa “c”: incorreta. Não é raiva o que ele sente, é uma constatação pasma.
  • Alternativa “d”: incorreta. Ironia é tanto uma figura de linguagem quanto um efeito de texto quando alguém quer dizer o contrário do que foi dito. Não é ironia, mas sim a exposição de sua perplexidade.
  • Alternativa “e”: correta – gabarito. O sentimento do eu lírico pode ser definido como choque, atordoamento, perplexidade.

Gabarito: E

Questão 10

No soneto, o eu lírico expressa um sentimento de inadequação que, a seu turno, se faz presente na seguinte citação:

(A) “A independência, não obstante a forma em que se desenrolou, constituiu a primeira grande revolução social que se operou no Brasil.” (Florestan Fernandes. A revolução burguesa no Brasil.)

(B) “Todo povo tem na sua evolução, vista à distância, um certo ‘sentido’. Este se percebe não nos pormenores de sua história, mas no conjunto dos fatos e acontecimentos essenciais que a constituem num largo período de tempo.” (Caio Prado Júnior. Formação do Brasil contemporâneo.)

(C) “A ocupação econômica das terras americanas constitui um episódio da expansão comercial da Europa. A descoberta das terras americanas é, basicamente, um episódio dessa obra ingente. De início pareceu ser episódio secundário. E na verdade o foi para os portugueses durante todo um meio século.” (Celso Furtado. Formação econômica do Brasil.)

(D) “Trazendo de países distantes nossas formas de convívio, nossas instituições, nossas ideias, e timbrando em manter tudo isso em ambiente muitas vezes desfavorável e hostil, somos ainda hoje uns desterrados em nossa terra.” (Sérgio Buarque de Holanda. Raízes do Brasil.)

(E) “A formação patriarcal do Brasil explica-se, tanto nas suas virtudes como nos seus defeitos, menos em termos de ‘raça’ e de ‘religião’ do que em termos econômicos, de experiência de cultura e de organização da família, que foi aqui a unidade colonizadora.” (Gilberto Freyre. Casa- -grande e senzala.)

Resolução Comentada

  • Alternativa “a”: incorreta. Atenção: o eu lírico demonstra um sentimento mais negativo do que positivo em relação às mudanças que ele observou em sua terra. Isso porque, árcade que ele é, ele valorizava a natureza e agora ela se revela em detrimento do progresso. Logo, o termo “revolução social”, notadamente positivo, não se aplica aqui.
  • Alternativa “b”: incorreta. O poema não menciona diretamente o povo, mas sim o sentimento subjetivo do eu lírico, seu sentimento quanto ao fenômeno do progresso.
  • Alternativa “c”: incorreta. Não é mencionado nada disso: “A ocupação econômica das terras americanas constitui um episódio da expansão comercial da Europa”
  • Alternativa “d”: correta – gabarito. O desajuste, o deslocamento e a inadequação sentido pelo eu lírico pode ser expresso em “somos ainda hoje uns desterrados em nossa terra”.
  • Alternativa “e”: incorreta. Cuidado: o trecho menciona “suas virtudes como nos seus defeitos” e para o eu lírico o progresso seria negativo, haja vista o seu descontentamento com o fenômeno.

Gabarito: D

Questão 11

Considerando o contexto histórico-geográfico de produção do soneto, as transformações na paisagem assinaladas pelo eu lírico relacionam-se à seguinte atividade econômica:

(A) indústria.

(B) extrativismo vegetal.

(C) agricultura.

(D) extrativismo mineral.

(E) pecuária

Resolução Comentada

Atençãoquestão interdisciplinar com a História, cuja resposta levou em consideração a ajuda/consultoria do professor Alê Lopes.

  • Alternativa “a”: incorreta. Não tem como se indústria, pois ela é um processo econômico do começo do século XX, sobretudo, pós-1930.
  • Alternativa “b”: incorreta. Não, porque o extrativismo vegetal é, predominantemente, uma atividade econômica amazônica.
  • Alternativa “c”: incorreta. A agricultura nesta época poder ser considerada uma atividade de subsistência e abastecimento interno. Portanto, ela também sofre que com as transformações advindas da intensificação da atividade mineradora.
  • Alternativa “d”: correta – gabarito. Cláudio Manuel da Costa é mineiro no século XVIII, época na qual predominava em Minas Gerais a extração de minerais, principalmente, a atividade aurífera.
  • Alternativa “e”: incorreta. A pecuária é uma atividade econômica predominante no Sul e Nordeste.

Gabarito: D

Questão 12

O eu lírico recorre ao recurso expressivo conhecido como hipérbole no verso:

(A) “Quem fez tão diferente aquele prado?” (1a estrofe)

(B) “E em contemplá-lo, tímido, esmoreço.” (1a estrofe)

(C) “Quanto pode dos anos o progresso!” (2a estrofe)

(D) “Que faziam perpétua a primavera:” (3a estrofe)

(E) “Árvores aqui vi tão florescentes,” (3a estrofe)

Resolução Comentada

Questão típica sobre figuras de linguagem. A hipérbole é uma figura de linguagem que ocorre quando há o uso de uma expressão exagerada, claramente simbólica.

  • Alternativa “a”: incorreta. A palavra “tão” é um qualificador, um advérbio que expressa grau de superlativo, mas não é porque é superlativo que é hiperbólico. Hipérbole é uma questão de gradação e de exagero.
  • Alternativa “b”: incorreta. Esmorecer significa “tornar sem ânimo, sem forças; enfraquecer, afrouxar” (dicionário Houaiss), que não expressa relação hiperbólica em relação ao adjetivo “tímido”.
  • Alternativa “c”: incorreta. A passagem exalta a passagem do tempo, mas sem caráter hiperbólico.
  • Alternativa “d”: correta – gabarito. Hipérbole significa exagero, o que pode ser expresso por meio do adjetivo “perpétua”, que é bem forte, enfático.
  • Alternativa “e”: incorreta. Novamente em relação à letra “a”, hipérbole deve dizer respeito necessariamente ao exagero, ao excessivo.

Gabarito: D

Questão 13

Está reescrito em ordem direta, sem prejuízo de seu sentido original, o seguinte verso:

(A) “Quem fez tão diferente aquele prado?” (1a estrofe) → Quem aquele prado fez tão diferente?

(B) “Uma fonte aqui houve; eu não me esqueço” (2a estrofe) → Uma fonte houve aqui; eu não me esqueço.

(C) “Ali em vale um monte está mudado:” (2a estrofe) → Ali está mudado um monte em vale.

(D) “Tudo outra natureza tem tomado,” (1a estrofe) → Tudo tem tomado outra natureza.

(E) “Nem troncos vejo agora decadentes.” (3a estrofe) → Nem troncos decadentes vejo agora.

Resolução Comentada

Essa questão foi respondida com a ajuda/consultoria do professor Wagner Santos.

  • Alternativa “a”: incorreta. Primeiramente, trata-se de uma pergunta. No caso, o problema seria o “sem prejuízo de seu sentido original”, porque em “Quem fez tão diferente aquele prado?”, o “tão diferente” tem valor adverbial em relação ao verbo diretamente, “fez”, alterando o seu sentido. Por sua vez, em “quem aquele prado fez tão diferente?”, o termo “tão diferente” ainda continua sendo um advérbio intensificador; porém, agora, o seu sentido estaria mais relacionado ao termo “aquele prado”.
  • Alternativa “b”: incorreta. Cuidado: trecho composto por duas orações separadas pela pontuação do ponto e vírgula, sendo que a segunda permanece exatamente igual. No caso da primeira, o verbo “haver” tem uma peculiaridade de apresentar sujeito inexistente, mas ele é transitivo direto. Logo, temos na ordem direta (SVO): houve (V) uma fonte (OD) aqui (adjunto adverbial de lugar), lembrando que a posição original do advérbio é no fim da sentença, porque ele é um termo acessório da oração.
  • Alternativa “c”: incorreta. Ali é um adjunto adverbial e a posição original do advérbio é no fim da sentença, porque ele é um termo acessório da oração. Se ele se mantém no início, logo, a oração não estaria exatamente na sua ordem direta, que no caso seria: um monte em vale (S) está mudado (V – locução verbal) ali (adjunto adverbial de lugar).
  • Alternativa “d”: correta – gabarito. Esta oração é a única que na sua integridade há mudança para a ordem direta: tudo (S) tem tomado (V – locução verbal) outra natureza (OD, porque quem toma, toma alguma coisa).
  • Alternativa “e”: incorreta. Sendo o sujeito oculto, sendo identificado pela desinência (terminação) do verbo vejo (conjugado na 1ª pessoa do singular), se deveria ser SVO, aqui nós deveríamos começar então com o verbo “vejo”, o que não é o caso, porque ela aparece só lá no final. No caso, a ordem direta seria: “nem (negação) vejo (V) troncos decadentes (OD) agora (adjunto adverbial de lugar).

Gabarito: D

Questão 14

Examine os gráficos.




 

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As dinâmicas climáticas representadas nos gráficos 1 e 2 correspondem, respectivamente, aos espaços retratados em

(A) Capitães da Areia, de Jorge Amado, e O cortiço, de Aluísio Azevedo.

(B) Vidas secas, de Graciliano Ramos, e Capitães da Areia, de Jorge Amado.

(C) Vidas secas, de Graciliano Ramos, e Grande sertão: veredas, de Guimarães Rosa.

(D) Memórias póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis, e O cortiço, de Aluísio Azevedo.

(E) Memórias póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis, e Vidas secas, de Graciliano Ramos.

Resolução Comentada

Atençãoquestão interdisciplinar com a Geografia, cuja resposta levou em consideração a ajuda/consultoria do professor Saulo.

  • Alternativa “a”: incorreta. Considerando que O cortiço se passa no Rio de Janeiro, o índice pluviométrico não é tão baixo no meio do ano.
  • Alternativa “b”: incorreta. Devido ao fato de Vidas secas se passar no sertão nordestino, os índices pluviométricos não poderiam ser tão altos.
  • Alternativa “c”: incorreta. Novamente, devido ao fato de Vidas secas se passar no sertão nordestino, os índices pluviométricos não poderiam ser tão altos.
  • Alternativa “d”: incorreta. Mais uma vez, considerando que O cortiço se passa no Rio de Janeiro, o índice pluviométrico não é tão baixo no meio do ano. Alternativa “e”: correta – gabarito. Considerando-se que Memórias póstumas de Brás Cubas se passa no Rio de Janeiro, há uma pequena queda no índice de pluviosidade no meio do ano. Por sua vez, no sertão nordestino de Vidas secas há um baixo índice pluviométrico no meio do ano.

Gabarito: E

Para responder às questões de 15 a 17, leia o trecho de uma fala do personagem Quincas Borba, extraída do romance Quincas Borba, de Machado de Assis, publicado originalmente em 1891.

— […] O encontro de duas expansões, ou a expansão de duas formas, pode determinar a supressão de uma delas; mas, rigorosamente, não há morte, há vida, porque a supressão de uma é condição da sobrevivência da outra, e a destruição não atinge o princípio universal e comum. Daí o caráter conservador e benéfico da guerra. Supõe tu um campo de batatas e duas tribos famintas. As batatas apenas chegam para alimentar uma das tribos, que assim adquire forças para transpor a montanha e ir à outra vertente, onde há batatas em abundância; mas, se as duas tribos dividirem em paz as batatas do campo, não chegam a nutrir-se suficientemente e morrem de inanição. A paz, nesse caso, é a destruição; a guerra é a conservação. Uma das tribos extermina a outra e recolhe os despojos. Daí a alegria da vitória, os hinos, aclamações, recompensas públicas e todos os demais efeitos das ações bélicas. Se a guerra não fosse isso, tais demonstrações não chegariam a dar-se, pelo motivo real de que o homem só comemora e ama o que lhe é aprazível ou vantajoso, e pelo motivo racional de que nenhuma pessoa canoniza uma ação que virtualmente a destrói. Ao vencido, ódio ou compaixão; ao vencedor, as batatas. […] Aparentemente, há nada mais contristador que uma dessas terríveis pestes que devastam um ponto do globo? E, todavia, esse suposto mal é um benefício, não só porque elimina os organismos fracos, incapazes de resistência, como porque dá lugar à observação, à descoberta da droga curativa. A higiene é filha de podridões seculares; devemo-la a milhões de corrompidos e infectos. Nada se perde, tudo é ganho.

(Quincas Borba, 2016.)

Questão 15

Está empregado em sentido figurado o termo sublinhado em:

(A) “nenhuma pessoa canoniza uma ação que virtualmente a destrói”.

(B) “a supressão de uma é condição da sobrevivência da outra”.

(C) “Uma das tribos extermina a outra e recolhe os despojos”.

(D) “Daí o caráter conservador e benéfico da guerra”.

(E) “não chegam a nutrir-se suficientemente e morrem de inanição”.

Resolução Comentada

Questão sobre sentido figurado, sinônimo de sentido conotativo (do coração) ou também metafórico, oposto ao sentido denotativo (do dicionário), literal.

  • Alternativa “a”: correta – gabarito. Segundo o dicionário Houaiss, “canonizar” significa reconhecer e declarar santo (indivíduo falecido), inscrevendo no cânon dos santos, segundo as regras e rituais prescritos pela Igreja. No caso, como tem a ver com santificação, o sentido está deslocado do seu original. Além do mais, aqui se recorre ao típico uso da ironia do narrador machadiano.
  • Alternativa “b”: incorreta. “Sobrevivência” está no sentido literal, pois o segundo o dicionário Houaiss “sobrevivência” pode significar: ato ou efeito de sobreviver, de continuar a viver ou a existir; característica, condição ou virtude daquele ou daquilo que subsiste a um outro; condição ou qualidade de quem ainda vive após a morte de outra pessoa; sequência ininterrupta de algo; o que subsiste de (alguma coisa remota no tempo); continuidade, persistência, duração.
  • Alternativa “c”: incorreta. “Extermina” está no sentido literal, pois o segundo o dicionário Houaiss “exterminar” significa expulsar de algum território, região etc.; banir; destruir de maneira cruenta; eliminar por morte; fazer (algo) chegar ao fim; acabar com; extirpar.
  • Alternativa “d”: incorreta. “Guerra” está no sentido literal, pois o segundo o dicionário Houaiss “guerra” significa luta armada entre nações, ou entre partidos de uma mesma nacionalidade ou de etnias diferentes, com o fim de impor supremacia ou salvaguardar interesses materiais ou ideológicos; qualquer combate com ou sem armas; combate, peleja, conflito; a arte militar; disputa acirrada; hostilidade; luta encarniçada contra qualquer coisa a que se atribua um valor nocivo.
  • Alternativa “e”: incorreta. Cuidado: talvez este termo fosse aquele que pudesse gerar dúvida, pois pode ser que ele não seja conhecido de todos vocês. “Inanição” está no sentido literal, pois o segundo o dicionário Houaiss “inanição” significa estado ou condição de inane; estado de inanido; vacuidade, esp. do estômago; inanição; estado de esgotamento ou de extremo enfraquecimento, por falta de alimentos, ou defeito de assimilação dos mesmos.

Gabarito: A

Questão 16

Considerando o contexto histórico de produção, verifica-se no trecho uma alusão irônica

(A) à teoria darwiniana.

(B) à filosofia idealista.

(C) à ideologia capitalista.

(D) à filosofia iluminista.

(E) à ideologia socialista.

Resolução Comentada

AtençãoQuincas Borba é um romance de Machado de Assis que compõe o repertório obrigatório de leituras da FUVEST 2020.

Questão que poderia ser respondida de maneira interdisciplinar com filosofia e sociologia.

  • Alternativa “a”: correta – gabarito. Distorção e oposto do humanismo e humanitismo – dos quais, pelo menos por causa do nome, parece ter sido derivada –, a filosofia de Humanitas prescreve que a ordem do mundo favorece a hierarquia. Pode ser considerada como uma sátira do darwinismo, sátira porque é como se fosse um darwinismo “que não deu certo”.
  • Alternativa “b”: incorreta. Idealismo significa, de acordo com o dicionário Houaiss (rubrica da Filosofia), no sentido ontológico, doutrina filosófica (p.ex., o platonismo) segundo a qual a realidade apresenta uma natureza essencialmente espiritual, sendo a matéria uma manifestação ilusória, incompleta, ou mera imitação imperfeita de uma matriz original constituída de formas ideais inteligíveis e intangíveis.
  • Alternativa “c”: incorreta. Capitalismo significa, de acordo com o dicionário Houaiss (rubrica da Economia), sistema econômico baseado na legitimidade dos bens privados e na irrestrita liberdade de comércio e indústria, com o principal objetivo de adquirir lucro. Por sua vez, como rubrica da Sociologia: sistema social em que o capital está em mãos de empresas privadas ou indivíduos que contratam mão de obra em troca de salário.
  • Alternativa “d”: incorreta. Iluminismo foi, de acordo com o dicionário Houaiss (rubrica da Filosofia), um movimento intelectual do século XVIII, caracterizado pela centralidade da ciência e da racionalidade crítica no questionamento filosófico, o que implica recusa a todas as formas de dogmatismo, esp. o das doutrinas políticas e religiosas tradicionais; Filosofia das Luzes, Ilustração, Esclarecimento, Século das Luzes
  • Alternativa “e”: incorreta. Socialismo significa, de acordo com o dicionário Houaiss (rubrica da Política), doutrina política e econômica que prega a coletivização dos meios de produção e de distribuição, mediante a supressão da propriedade privada e das classes sociais; na teoria marxista, estágio intermediário entre o fim do capitalismo e a implantação do comunismo.

Gabarito: A

Questão 17

Em “mas, rigorosamente, não há morte, há vida, porque a supressão de uma é condição da sobrevivência da outra” e “As batatas apenas chegam para alimentar uma das tribos”, os termos sublinhados estabelecem relação, respectivamente, de

(A) consequência e conformidade.

(B) causa e conformidade.

(C) conformidade e consequência.

(D) causa e finalidade.

(E) consequência e finalidade

Resolução Comentada

Questão sobre valor semântico do conectivo, portanto, de Gramática Aplicada. O uso da preposição “para” + verbo no infinitivo necessariamente conduz a uma ideia de finalidade, podendo 3 das alternativas ser eliminadas logo de antemão.

  • Alternativa “a”: incorreta. O segundo conectivo deveria ser de finalidade.
  • Alternativa “b”: incorreta. O segundo conectivo deveria ser de finalidade.
  • Alternativa “c”: incorreta. O segundo conectivo deveria ser de finalidade.
  • Alternativa “d”: correta – gabarito. A oração deveria ser classificada como Oração Subordinada Adverbial Causal. São exemplos de conjunções integrantes adverbiais causais: porque, que, como, pois que, porquanto, visto que, uma vez que, já que, desde que. Nesse caso, vale o macete da substituição. Bastava substituir por um desses outros conectivos, para saber se fazia sentido.
  • Alternativa “e”: incorreta. O primeiro conectivo deveria ser de causa.

Gabarito: D

Questão 18

Examine o cartum de Pia Guerra, publicado no Instagram da revista The New Yorker em 13.11.2018.




 

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A mercadoria a que o cartum faz alusão está diretamente relacionada ao seguinte problema ambiental:

(A) desertificação.

(B) extinção de espécies.

(C) desmatamento.

(D) assoreamento.

(E) aquecimento global.

Resolução Comentada

Essa questão é interdisciplinar com química e geografia.

Ao dizer que os dinossauros terão seus corpos vendidos em galões, a tirinha faz referência a combustíveis fósseis, tais como o petróleo.

A alternativa A está incorreta, pois a desertificação é a perda do potencial produtivo do solo, não tendo a ver com petróleo ou combustíveis fósseis.

A alternativa B está incorreta, pois apesar de os dinossauros terem sido extintos, não é a esse problema que o enunciado se refere. O problema está no presente, não no passado.

A alternativa C está incorreta, pois o desmatamento é a derrubada em grande escala de florestas, não tendo a ver com petróleo ou combustíveis fósseis.

A alternativa D está incorreta, pois o assoreamento ocorre quando o volume do rio fica mais raso devido à entrada de sedimentos, não tendo a ver com petróleo ou combustíveis fósseis. 

A alternativa E está correta, pois O acúmulo de dióxido de carbono na atmosfera é atribuído à queima de combustíveis não renováveis, tais como o petróleo.

Gabarito: E

Questão 19

Tal movimento distingue-se pela atenuação do sentimentalismo e da melancolia, a ausência quase completa de interesse político no contexto da obra (embora não na conduta) e (como os modelos franceses) pelo cuidado da escrita, aspirando a uma expressão de tipo plástico. O mito da pureza da língua, do casticismo vernacular abonado pela autoridade dos autores clássicos, empolgou toda essa fase da cultura brasileira e foi um critério de excelência. É possível mesmo perguntar se a visão luxuosa dos autores desse movimento não representava para as classes dominantes uma espécie de correlativo da prosperidade material e, para o comum dos leitores, uma miragem compensadora que dava conforto.

(Antonio Candido. Iniciação à literatura brasileira, 2010. Adaptado.)

O texto refere-se ao movimento denominado

(A) Romantismo.

(B) Barroco.

(C) Parnasianismo.

(D) Arcadismo.

(E) Realismo.

Resolução Comentada

  • A alternativa A está incorreta. O Romantismo prima pelo sentimentalismo e pela melancolia e, no texto, afirma-se que, no movimento comentado, há atenuação desses dois traços.
  • A alternativa B está incorreta.  No Barroco, não havia defesa do “casticismo vernacular”, aliás, os poetas barrocos transitavam entre o português e o espanhol.
  • A alternativa C está correta. No Parnasianismo, exalta-se o ideal da “arte pela arte”, ou seja, a poesia se torna mais objetiva, menos sentimental e o poeta deve ser cuidadoso no uso da linguagem. Na época,  o poeta parnasiano representava o bom gosto das elites no Brasil.
  • A alternativa D está incorreta. No Arcadismo difunde-se o mito da Arcádia; não o mito da pureza da língua.
  • A alternativa E está incorreta. No Realismo, procura-se registrar a realidade sem enfeites, a linguagem deve ser mais objetiva, algo distante da aspiração “a uma expressão de tipo plástico”.

Gabarito: C

Questão 20

Perspectiva. Técnica de representação, numa superfície plana, do espaço tridimensional, baseado no uso de certos fenômenos ópticos, como a diminuição aparente no tamanho dos objetos e a convergência das linhas paralelas à medida que se distanciam do observador.

(Ian Chilvers (org.). Dicionário Oxford de arte, 2007.) Verificam-se distorções e ambiguidades em relação à técnica da perspectiva na seguinte obra:







 


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Resolução Comentada

  • A alternativa A está incorreta, pois a obra “A clarividência” não faz nenhuma subversão da perspectiva; pelo contrário, ela é marcada por figurativismo.
  • A alternativa B está correta, pois percebe-se que não há mudança no tamanho dos elementos a depender da distância em que se encontram. As pessoas do quadro também são do mesmo tamanho, independentemente de onde estão. Outro modo de responder à questão seria identificar que o pintor é Escher, artista que tem como uma de suas principais características a subversão da perspectiva.
  • A alternativa C está incorreta, pois há um uso da perspectiva como descrito no verbete que compõe o enunciado, principalmente na diminuição dos tamanhos.
  • A alternativa D está incorreta, pois  vê-se diferença de tamanho nas personagens, indicando que há uso da perspectiva.
  • A alternativa E está incorreta, pois há um aprofundamento da paisagem, que por estar mais distante se encontra menor.

Gabarito: B

Questão 47

A ideia de pátria se vinculava estreitamente à de natureza e em parte extraía dela a sua justificativa. Ambas conduziam a uma literatura que compensava o atraso material e a debilidade das instituições por meio da supervalorização dos aspectos regionais, fazendo do exotismo razão de otimismo social. A partir de 1930 houve uma mudança de orientação, sobretudo na ficção regionalista, percebendo-se o que havia de mascaramento no encanto pitoresco com que antes se abordava o homem rústico. Evidenciou-se a realidade dos solos pobres, das técnicas arcaicas, da miséria pasmosa das populações, da sua incultura paralisante. A visão que resulta dessa perspectiva é pessimista quanto ao presente e problemática quanto ao futuro.

(Antonio Candido. A educação pela noite e outros ensaios, 1989. Adaptado.)

O excerto assinala uma reorientação nos rumos da literatura brasileira, na medida em que os escritores

(A) deparam-se com a instituição de uma regionalização oficial pelo IBGE.

(B) passam a mostrar os aspectos do Brasil como país subdesenvolvido.

(C) reconhecem o estabelecimento de alianças democráticas no Brasil.

(D) percebem a assimilação do american way of life pelo povo brasileiro.

(E) optam pelo emprego de uma visão eurocêntrica em sua produção literária.

Resolução Comentada

Esta questão é interdisciplinar com Geografia História, respondida junto ao professor Saulo e professor Marco. 

  • A alternativa A está incorreta, pois a primeira regionalização oficial pelo IBGE acontece em 1940, portanto 10 anos após o movimento descrito.
  • A alternativa B está correta, pois um dos aspectos da literatura modernista de 30 é o olhar para as diferentes regiões do Brasil, principalmente através da produção do romance regionalista, em que se denunciam os problemas das regiões afastadas dos grandes centros urbanos da época, principalmente do Sertão brasil.
  • A alternativa C está incorreta, pois os processos revolucionários dos anos 1930 são majoritariamente ligados a golpes de Estado, ou seja, não são tentativas democráticas.
  • A alternativa D está incorreta, pois a ideia do american way of life remete aos anos 1950, não 1930
  • A alternativa E está incorreta, pois o Modernismo de 30, movimento literário descrito no texto, busca afastar-se de referências eurocêntricas, voltando seu olhar para as diferentes regiões do Brasil.

Gabarito: B

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Prof. Celina Gil

Prof. Celina Gil

Professora formada em Letras-Português pela Universidade de São Paulo, USP. Mestre e Doutoranda em História do Teatro pela mesma instituição.

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As cartas do padre Antônio Vieira no Maranhão: apontamentos sobre a teologia-política das missões na retórica epistolar

 

Fernando Munhós

 

RESUMO: O presente ensaio tem por objetivo apresentar algumas particularidades da retórica das cartas escritas pelo padre Antônio Vieira entre 1653 e 1661, período em que atuou como missionário no Estado do Maranhão e Grão-Pará. Pretende, assim, apontar como os procedimentos e técnicas da representação nos textos são determinantes para a viabilidade das ações do jesuíta na conversão dos índios e na administração dos aldeamentos, ao articular para destinatários interessados os conceitos centrais da política católica do Estado português do século xvii. Com isso, almeja-se propor uma perspectiva histórica sobre a relação de Vieira com a presença, na região, do trabalho cativo dos índios.

 

PALAVRAS-CHAVE: Companhia de Jesus; Antônio Vieira; retórica; escravidão; saberes.

 

ABSTRACT: This paper aims to present some of the rhetoric particularities of letters written by Father Antônio Vieira between 1653 and 1661, period during which he served as a missionary in the State of Maranhão and Grão-Pará. Thus it seeks to point out how the procedures and techniques of representation are crucial to the viability of Jesuit actions for Indians’ conversion and administration of the settlements by the coordination with the interested consignees of the main concepts concerned to the Catholic policy of the Portuguese State in the 17th century. Thus, the text aims to offer a historical perspective on Vieira’s relationship with the presence of the bonded labor of the Indians in the region.

 

KEYWORDS: Society of Jesus; Antônio Vieira; rhetoric; slavery; knowledge.

 

10.11606/issn.2447-8997.teresa.2018.146135

 

file:///C:/Users/User/Downloads/146135-Texto%20do%20artigo-324752-1-10-20181213.pdf

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