“ÉS O QUE FOMOS, SERÁS O QUE SOMOS” 1 : O PROCESSO DE
RESSIGNIFICAÇÃO DOS ESPAÇOS CEMITERIAIS E DAS PRÁTICAS FUNERÁRIAS.
ÁRIFE
AMARAL MELO
Tese de Doutorado apresentada para o Programa de Pós-Graduação em
Ciências Sociais da Faculdade de Filosofia e Ciências da UNESP – Campus de
Marília, como requisito para a obtenção do título de Doutor em Ciências
Sociais.
Linha de
Pesquisa: Pensamento Social, Educação e Políticas Públicas.
Orientador:
Professor Dr. Aluisio Almeida Schumacher.
MARÍLIA
2019
1 O título desta tese é uma adaptação de um memento mori presente em um
Cemitério da Cidade Catanduva, interior de São Paulo.
RESUMO
A presente
tese pretende interpretar os espaços cemiteriais e as práticas funerárias a
eles relacionados, visando compreender a existência de um processo de
ressignificação relacionado a ambos. Esse processo se dá a partir do que pode
ser observado na maioria dos cemitérios tradicionais: visualmente, é possível
observar que nesses cemitérios existe um contraste estético, no qual os jazigos
mais antigos apresentam diversos elementos simbólicos e alegóricos relacionados
a valores religiosos, ao passo que em jazigos mais novos esses elementos são
cada vez mais raros ou simplesmente inexistem. Coube à pesquisa, através de visitas
a alguns cemitérios em cidades do Estado de São Paulo e do Paraná, observar e
identificar os elementos que permeiam esse contraste. Observou-se que não
somente os espaços cemiteriais, mas também as práticas funerárias vinculadas a
eles se encontram em constante mudança. Essas mudanças, impulsionadas pela
secularização e pela racionalização, afetaram o significado do espaço
cemiterial e das atitudes perante a morte, haja vista que até mesmo a visão que
se possuía sobre a morte, antes norteada por valores religiosos, aos poucos é
subjugada por uma visão de mundo racionalizada. Nesse sentido, surgem
“cemitérios de novo tipo”, cuja configuração, de caráter tecnicista e racional,
se estende às práticas funerárias, nas quais seu tecnicismo se aprofundou em detrimento
dos aspectos ritualísticos religiosos. Como incremento a esse processo, existe
a mercantilização das práticas funerárias, que aprofunda as formas de distinção
social já existentes anteriormente, criando constantemente produtos e serviços
direcionados aos enlutados, tratando-os como consumidores. Essa
mercantilização, que se apropria da racionalidade da execução das práticas
funerárias, uma vez comercializadas e terceirizadas, passam a coexistir com a
religiosidade no que se refere à atenuação da dor da perda.
Palavras-chave: ressignificação; cemitérios; práticas funerárias; racionalização.
INTRODUÇÃO
O CEMITÉRIO
Pelas ruas
de túmulos, fomos calados. Eu olhava vagamente aquela multidão de sepulturas,
que trepavam, tocavam-se, lutavam por espaço, na estreiteza da vaga e nas
encostas das colinas aos lados. Algumas pareciam se olhar com afeto, roçando-se
amigavelmente; em outras, transparecia a repugnância de estarem juntas. Havia
solicitações incompreensíveis e também repulsões e antipatias; havia túmulos
arrogantes, imponentes, vaidosos e pobres e humildes; e, em todos, ressumava o
esforço extraordinário para escapar ao nivelamento da morte, ao apagamento que
ela traz às condições e às fortunas. Amontoavam-se esculturas de mármore,
vasos, cruzes e inscrições; iam além; erguiam pirâmides de pedra tosca, faziam
caramanchéis extravagantes, imaginavam complicações de matos e plantas — coisas
brancas e delirantes, de um mau gosto que irritava. As inscrições exuberavam;
longas, cheias de nomes, sobrenomes e datas, não nos traziam à lembrança nem um
nome ilustre sequer; em vão procurei ler nelas celebridades, notabilidades
mortas; não as encontrei. E de tal modo a nossa sociedade nos marca um tão
profundo ponto, que até ali, naquele campo de mortos, mudo laboratório de
decomposição, tive uma imagem dela, feita inconscientemente de um propósito,
firmemente desenhada por aquele acesso de túmulos pobres e ricos, grotescos e
nobres, de mármore e pedra, cobrindo vulgaridades iguais umas às outras por
força estranha às suas vontades, a lutar...
Fomos indo.
A carreta, empunhada pelas mãos profissionais dos empregados, ia dobrando as
alamedas, tomando ruas, até que chegou à boca do soturno buraco, por onde se
via fugir, para sempre do nosso olhar, a humildade e a tristeza do contínuo da
Secretaria dos Cultos.
Antes que
lá chegássemos, porém, detive-me um pouco num túmulo de límpidos mármores,
ajeitados em capela gótica, com anjos e cruzes que a rematavam
pretensiosamente.
Nos cantos
da lápide, vasos com flores de biscuit e, debaixo de um vidro, à nívea altura
da base da capelinha, em meio corpo, o retrato da morta que o túmulo engolira.
Como se estivesse na Rua do Ouvidor, não pude suster um pensamento mau e quase
exclamei:
- Bela
Mulher!
Estive a
ver a fotografia e logo em seguida me veio à mente que aqueles olhos, que
aquela boca provocadora de beijos, que aqueles seios túmidos, tentadores de
longos contatos carnais, estariam àquela hora reduzidos a uma pasta fedorenta,
debaixo de uma porção de terra embebida de gordura.
Que
resultados teve a sua beleza na terra? Que coisas eternas criaram os homens que
ela inspirou? Nada, ou talvez outros homens, para morrer e sofrer. Não passou
disso, tudo mais se perdeu; tudo mais não teve existência, nem mesmo para ela e
para os seus amados; foi breve, instantâneo, e fugaz.
Abalei-me!
Eu que dizia a todo o mundo que amava a vida, eu que afirmava a minha admiração
pelas coisas da sociedade — eu meditar como um cientista profeta hebraico! Era
estranho! Remanescente de noções que se me infiltraram e cuja entrada em mim
mesmo eu não percebera! Quem pode fugir a elas?
Continuando
a andar, adivinhei as mãos da mulher, diáfanas e de dedos longos; compus o seu
busto ereto e cheio, a cintura, os quadris, o pescoço, esguio e modelado, as
espáduas brancas, o rosto sereno e iluminado por um par de olhos indefinidos de
tristeza e desejos...
Já não era
mais o retrato da mulher do túmulo; era de uma, viva, que me falava.
Com que
surpresa, verifiquei isso.
Pois eu, eu
que vivia desde os dezesseis anos, despreocupadamente, passando pelos meus
olhos, na Rua do Ouvidor, todos os figurinos dos jornais de modas, eu me
impressionar por aquela menina do cemitério! Era curioso.
E, por mais
que procurasse explicar, não pude. (BARRETO, 2005, p.80)
Lima
Barreto, neste conto, conduz o leitor a uma reflexão sobre diversos aspectos
observáveis em um cemitério. Inicialmente, atribui características humanas às
sepulturas como se elas reproduzissem a conduta dos vivos num local destinado
aos mortos. Impressos nas formas estéticas dos túmulos estão os conflitos
sociais, as diferenças de humor, a opulência e a miséria, como uma tentativa
efêmera de se ter visibilidade mesmo após a morte. Elementos simbólicos como
epitáfios e toda a arte tumular atraem a atenção do observador, que é
interrompida por um elemento singelo presente em uma das sepulturas: a
fotografia de uma bela mulher que o conduz a devaneios sensuais em sua
imaginação, cuja sensação ele mesmo não consegue explicar.
O
personagem ilustra a potencialidade do cemitério como um locus no qual se pode
compreender como o fenômeno da morte desencadeia diversas práticas funerárias,
e como suas implicações refletem importantes aspectos da vida social, bem como
as mudanças que ocorrem nessas práticas podem ser manifestações de uma
sociedade que também se encontra em transformação. As peculiaridades
encontradas em diversos cemitérios podem servir como ponto de partida para
identificar essas mudanças, num contraste entre espaço/tempo plasmado na
materialidade de túmulos, mausoléus e demais dependências físicas fúnebres. Se
tomarmos como exemplo a entrada da Capela dos Ossos, em Évora, Portugal,
encontraremos a inscrição "Nós ossos que aqui estamos pelos vossos
esperamos". Um memento mori2 , similar ao de
um cemitério deste lado do Atlântico como o de Nossa Senhora do Carmo em
Catanduva, interior de São Paulo, que contém os dizeres: “Fomos o que és, serás
o que somos”. Ainda em São Paulo, no Cemitério Municipal de Paraibuna, no Vale
do Paraíba, os dizeres “Nós que aqui estamos por vós esperamos”, que assim como
o de Évora, serviu de título para o filme de Marcelo Masagão de 1999. Essas
frases, como uma macabra recepção, se apresentando aos visitantes como se os
mortos pudessem dizer a eles qual a sua futura condição, são na verdade
construções orais dos vivos para os vivos, simbolizando a efemeridade da vida
diante da certeza da morte. (...)
2 Expressão latina designada aos visitantes para que os mesmos tenham
consciência de sua condição de criaturas mortais. A tradução dessa expressão
seria “Lembre-se da morte”. Fonte: Dicionário online Glosbe, em:
https://pt.glosbe.com/en/pt/memento%20mori acesso em 29/1/2018.
Memento mori
''A população, como árbitro supremo da atividade política, será
obrigada a demarcar um rio Rubicão cuja ilegal transposição por um governante
piromaníaco será rigorosamente punida pela sociedade''
OS
OTÁVIO SANTANA DO RÊGO BARROS
postado em
27/10/2020 06:00 / atualizado em 27/10/2020 08:47
https://midias.correiobraziliense.com.br/_midias/jpg/2020/10/26/412x283/1_wpri_2710_opiniao-6365149.jpg
(crédito:
Editoria de arte)
Legiões
acampadas. Entusiasmo nas centúrias extasiadas pela vitória. Estandartes
tomados aos inimigos são alçados ao vento, troféus das épicas conquistas. O
general romano atravessa o lendário rio Rubicão. Aproxima-se calmamente das
portas da Cidade Eterna. Vai ao encontro dos aplausos da plebe rude e ignara, e
do reconhecimento dos nobres no Senado. Faz-se acompanhar apenas de uma pequena
guarda e de escravos cuja missão é sussurrar incessantemente aos seus ouvidos
vitoriosos: “Memento Mori!” — lembra-te que és mortal!
O escravo
que se coloca ao lado do galardoado chefe, o faz recordar-se de sua natureza
humana. A ovação de autoridades, de gente crédula e de muitos aduladores,
poderá toldar-lhe o senso de realidade. Infelizmente, nos deparamos hoje com
posturas que ofendem àqueles costumes romanos. Os líderes atuais, após
alcançarem suas vitórias nos coliseus eleitorais, são tragados pelos
comentários babosos dos que o cercam ou pelas demonstrações alucinadas de
seguidores de ocasião.
É doloroso
perceber que os projetos apresentados nas campanhas eleitorais, com vistas a
convencer-nos a depositar nosso voto nas urnas eletrônicas, são meras peças
publicitárias, talhadas para aquele momento. Valem tanto quanto uma nota de
sete reais.
Tão logo o
mandato se inicia, aqueles planos são paulatinamente esquecidos diante das
dificuldades políticas por implementá-los ou mesmo por outros mesquinhos
interesses. Os assessores leais — escravos modernos — que sussurram os
conselhos de humildade e bom senso aos eleitos chegam a ficar roucos.
Alguns
deixam de ser respeitados. Outros, abandonados ao longo do caminho, feridos
pelas intrigas palacianas. O restante, por sobrevivência, assume uma
confortável mudez. São esses, seguidores subservientes que não praticam, por
interesses pessoais, a discordância leal.
Entendam a
discordância leal, um conceito vigente em forças armadas profissionais, como a
ação verbal bem pensada e bem-intencionada, às vezes contrária aos pensamentos
em voga, para ajudar um líder a cumprir sua missão com sucesso.
A autoridade
muito rapidamente incorpora a crença de ter sido alçada ao olimpo por decisão
divina, razão pela qual não precisa e não quer escutar as vaias. Não aceita ser
contradita. Basta-se a si mesmo. Sua audição seletiva acolhe apenas as palmas.
A soberba lhe cai como veste. Vê-se sempre como o vencedor na batalha de Zama,
nunca como o derrotado na batalha de Canas.
Infelizmente,
o poder inebria, corrompe e destrói! E se não há mais escravos discordantes
leais a cochichar: “Lembra-te que és mortal”, a estabilidade política do
império está sob risco.
As demais
instituições dessa república — parte da tríade do poder — precisarão, então,
blindar-se contra os atos indecorosos, desalinhados dos interesses da
sociedade, que advirão como decisões do “imperador imortal”. Deverão ser
firmes, não recuar diante de pressões. A imprensa, sempre ela, deverá
fortalecer-se na ética para o cumprimento de seu papel de informar,
esclarecendo à população os pontos de fragilidade e os de potencialidade nos
atos do César.
A população,
como árbitro supremo da atividade política, será obrigada a demarcar um rio
Rubicão cuja ilegal transposição por um governante piromaníaco será
rigorosamente punida pela sociedade. Por fim, assumindo o papel de escravo
romano, ela deverá sussurrar aos ouvidos dos políticos que lhes mereceram seu
voto: — “Lembra-te da próxima eleição!”
Paz e bem!
* General de Divisão do Exército Brasileiro. Doutor em ciências
militares, foi o porta-voz da Presidência da República, nomeado pelo governo
Jair Bolsonaro
https://www.correiobraziliense.com.br/opiniao/2020/10/4884811-memento-mori.html
Examine a pintura do artista holandês Pieter Claesz (1597-1661) e a
tradução da expressão latina Memento mori.
https://anglo.plurall.net/sites/default/files/imagens/compartilhadas/questoes/unesp/2019/b210_325455_3379675_.png
Memento mori: Lembra-te de que morrerás.
(Renzo Tosi (org.). Dicionário de sentenças latinas e gregas,
2010.)
a) Além da
caveira, que outro elemento retratado na pintura de Pieter Claesz alude à
expressão Memento mori? Justifique sua resposta.
b) Tendo em
vista o contexto de sua produção, a temática explorada pela pintura remete mais
diretamente a qual escola literária? Justifique sua resposta.
a) A pintura do holandês Pieter Claez propõe uma reflexão a respeito da
brevidade da vida, presente na expressão latina “memento mori”, além da
caveira, nitidamente relacionada a essa temática, a flor sobre a mesa e a vela
acesa também remetem à efemeridade, uma vez que são elementos que têm sua
duração reduzida. As flores murcham e a parafina de que é feita a vela derrete
pela ação do fogo.
b) A temática da efemeridade na tela é típica da estética barroca, o que
pode ser corroborado pela data da produção da obra, 1625, período de difusão do
barroco na maior parte do Ocidente. A tela convida o espectador a refletir
sobre seu tempo de vida e pode funcionar, de certa forma, como uma ameaça
àqueles seres que não nortearem sua vida na mesma direção dos dogmas propostos
pela religiosidade cristã.
http://angloresolve.plurall.net/press/question/3379675
UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA CAMPUS DE
MARÍLIA FACULDADE DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS ÁRIFE AMARAL MELO “ÉS O QUE FOMOS,
SERÁS O QUE SOMOS”: O PROCESSO DE RESSIGNIFICAÇÃO DOS ESPAÇOS CEMITERIAIS E DAS
PRÁTICAS FUNERÁRIAS. MARÍLIA 2019
https://repositorio.unesp.br/bitstream/handle/11449/181552/melo_aa_dr_mar.pdf?sequence=3&isAllowed=y
Português
Gabarito UNESP 2020 – Português – Prova Resolvida
Data16/11/2019
Postado porProf. Celina Gil
CategoriasPortuguês
Olá, pessoal… Tudo bem? Sou a profª. Celina Gil, do Estratégia
Vestibulares, e com a ajuda dos professores Fernando Andrade e Luana
Signorelli, escrevo este artigo para comentar as questões da prova da UNESP e
indicar o Gabarito da disciplina de Português.
Nesta página, você vai conferir todas as questões resolvidas e
comentadas. Você pode, inclusive, baixar os nossos comentários sobre a prova em
um PDF gratuito.
Prova UNESP 2020 – PortuguêsBaixar
Prova UNESP 2020
Questão 01
Examine
o cartum de Steinberg, publicado em seu Instagram em 06.04.2019.
https://s3.amazonaws.com/sitevestibulares/wp-content/uploads/2019/11/15235235/image55.png
Para o
cartunista, a diferença entre estar ou não estar de dieta limita-se a um
sentimento de
(A)
culpa.
(B)
euforia.
(C)
tristeza.
(D)
vazio.
(E)
satisfação.
Resolução Comentada
- A
alternativa A está correta, pois a personagem não deixa de comer, apenas
fica pensando sobre como não deveria estar comendo. Ao
pensar que não deveria fazer uma ação, mas executá-la mesmo assim, a
personagem sente culpa.
- A
alternativa B está incorreta, pois euforia significa “muita alegria”, e a
personagem não esboça mudança de expressão indicando maior alegria.
- A
alternativa C está incorreta, pois, assim como em B, a personagem não
esboça mudança de expressão para tristeza.
- A alternativa
D está incorreta, pois “vazio” denotaria certa melancolia, o que não
ocorre na fala da personagem. Ela é bem taxativa ao dizer que não deveria
fazer aquilo, mas não o diz denotando melancolia, e sim certeza.
- A
alternativa E está incorreta, pois a personagem não está feliz com suas
atitudes.
Gabarito: A
Para responder às questões de 02 a 06, leia o
trecho de uma carta enviada por Antônio Vieira ao rei D. João IV em 4 de abril
de 1654.
No fim
da carta de que V. M.1 me fez mercê me manda V. M.
diga meu parecer sobre a conveniência de haver neste estado ou dois
capitães-mores ou um só governador.
Eu,
Senhor, razões políticas nunca as soube, e hoje as sei muito menos; mas por
obedecer direi toscamente o que me parece.
Digo que
menos mal será um ladrão que dois; e que mais dificultoso serão de achar dois
homens de bem que um. Sendo propostos a Catão dois cidadãos romanos para o
provimento de duas praças, respondeu que ambos lhe descontentavam: um porque
nada tinha, outro porque nada lhe bastava. Tais são os dois capitães-mores em
que se repartiu este governo: Baltasar de Sousa não tem nada, Inácio do Rego
não lhe basta nada; e eu não sei qual é maior tentação, se a 1, se a 2. Tudo
quanto há na capitania do Pará, tirando as terras, não vale 10 mil cruzados, como
é notório, e desta terra há-de tirar Inácio do Rego mais de 100 mil cruzados em
três anos, segundo se lhe vão logrando bem as indústrias.
Tudo
isto sai do sangue e do suor dos tristes índios, aos quais trata como tão escravos
seus, que nenhum tem liberdade nem para deixar de servir a ele nem para poder
servir a outrem; o que, além da injustiça que se faz aos índios, é ocasião de
padecerem muitas necessidades os portugueses e de perecerem os pobres. Em uma
capitania destas confessei uma pobre mulher, das que vieram das Ilhas, a qual
me disse com muitas lágrimas que, dos nove filhos que tivera, lhe morreram em
três meses cinco filhos, de pura fome e desamparo; e, consolando-a eu pela
morte de tantos filhos, respondeu-me: “Padre, não são esses os por que eu
choro, senão pelos quatro que tenho vivos sem ter com que os sustentar, e peço
a Deus todos os dias que me os leve também.”
São
lastimosas as misérias que passa esta pobre gente das Ilhas, porque, como não
têm com que agradecer, se algum índio se reparte não lhe chega a eles, senão
aos poderosos; e é este um desamparo a que V. M. por piedade deverá mandar
acudir.
Tornando
aos índios do Pará, dos quais, como dizia, se serve quem ali governa como se
foram seus escravos, e os traz quase todos ocupados em seus interesses,
principalmente no dos tabacos, obriga-me a consciência a manifestar a V. M. os
grandes pecados que por ocasião deste serviço se cometem.
(Sérgio
Rodrigues (org.). Cartas brasileiras, 2017. Adaptado.)
1V. M.: Vossa Majestade.
Questão 02
À questão
colocada por D. João IV, Antônio Vieira
(A)
responde de maneira categórica.
(B) opta
por não emitir uma opinião.
(C)
finge não tê-la compreendido.
(D)
admite a incapacidade de respondê-la.
(E)
responde de forma enigmática.
Resolução Comentada
- A
alternativa A está correta, pois ao ser perguntado sobre o que era mais
conveniente, “dois capitães-mores ou um só governador”, Vieira responde
sem hesitar: “Digo que menos mal será um ladrão que dois; e que mais
dificultoso serão de achar dois homens de bem que um”. Assim, pode-se
dizer que sua resposta é “categórica”.
- A
alternativa B está incorreta, pois apesar de dizer que não estava
capacitado para tal, Vieira opina mesmo assim.
- A
alternativa C está incorreta, pois ele nunca diz que não entendeu a pergunta,
ele apenas afirma que não se sente capacitado – ainda que opine mesmo
assim.
- A
alternativa D está incorreta, pois, assim como em B, apesar de dizer que
não estava capacitado para tal, Vieira opina mesmo assim.
- A
alternativa E está incorreta, pois ainda que responda através de uma
alegoria, Vieira não deixa margem para dúvidas. Ele afirma categoricamente
que “Digo que menos mal será um ladrão que dois; e que mais dificultoso
serão de achar dois homens de bem que um”.
Gabarito: A
Questão 03
Considerando
o contexto, as lacunas numeradas no terceiro parágrafo do texto devem ser
preenchidas, respectivamente, por
(A)
humildade e vaidade.
(B)
necessidade e cobiça.
(C)
miséria e inveja.
(D)
preguiça e ganância.
(E)
avareza e luxúria
Resolução Comentada
- O trecho
a que a questão se refere é “e eu não sei qual é maior tentação, se a 1 ,
se a 2”. As pessoas de quem o trecho fala são, respectivamente “um
porque nada tinha, outro porque nada lhe bastava”
- A
alternativa A está incorreta, pois ainda que se pudesse associar “humildade”
a não possuir nada – entendendo humilde como um eufemismo para “pobre” – ,
“vaidade” tem a ver com imodéstia, presunção, não com querer sempre mais.
- A
alternativa B está correta, pois “nada ter” pode ser um sinônimo de
“necessidade”, que significa carência, insuficiência; e “nada lhe bastava”
pode ser um sinônimo de “cobiça”, que significa ambição, ganância.
- A
alternativa C está incorreta, pois ainda que se pudesse associar “miséria”
a não possuir nada – entendendo miserável como alguém que não possui nada
–, “inveja” tem a ver com ciúme, não com ambição.
- A
alternativa D está incorreta, pois preguiça não é associada a não ter
nada. Não se pode afirmar que alguém não possui nada por preguiça.
Ganância, porém, poderia ser um possível sinônimo para “nada lhe bastava”.
- A
alternativa E está incorreta, pois avareza remete à ideia de mesquinharia,
pão-durismo, ou seja, não se relaciona com ter nada; e luxúria apesar de
luxúria poder ser entendido como “desejo excessivo”, há um aspecto mais
ligado à sexualidade do que a bens materiais como parece ser o caso no
texto.
Gabarito: B
Questão 04
Em sua
carta, Antônio Vieira relata os padecimentos
(A) dos
nativos e dos capitães-mores.
(B) dos
negros e dos colonos pobres.
(C) dos
nativos e dos colonos pobres.
(D) dos
negros e dos capitães-mores.
(E) dos
nativos e dos negros.
Resolução Comentada
- A
resposta para essa alternativa está no 4º parágrafo, nos trechos “Tudo isto
sai do sangue e do suor dos tristes índios” e “além da injustiça que se
faz aos índios, é ocasião de padecerem muitas necessidades
os portugueses e de perecerem os pobres”.
- A
alternativa A está incorreta, pois não há referência a capitães-mores –
pessoas que auxiliavam o Governador Geral com a segurança do litoral da
colônia – no texto.
- A
alternativa B está incorreta, pois não se fala em “negros” no texto,
apenas em índios e portugueses.
- A
alternativa C está correta, pois no quarto parágrafo são citados dois
grupos como prejudicados: índios e portugueses pobres. Uma vez que os
nativos eram os indígenas e os portugueses que aqui estavam eram os
colonos, a alternativa correta era nativos e colonos pobres
- A
alternativa D está incorreta, pois, assim como falado anteriormente, não
se fala nem de negros e nem de capitães-mores no texto.
- A
alternativa E está incorreta, pois o texto não fala de negros em nenhum
momento.
Gabarito: C
Questão 05
Em um
estudo publicado em 2005, o historiador Gustavo Acioli Lopes vale-se, no quadro
da economia colonial, da expressão “primo pobre” para se referir ao produto
derivado das lavouras mencionadas por Antônio Vieira em sua carta. No contexto
histórico em que foi escrita a carta, o “primo rico” seria
(A) o
açúcar.
(B) o
pau-brasil. (extrativismo)
(C) o
café. (XIX)
(D) o
ouro. (XVIII)
(E) o
algodão. (XIX)
Resolução Comentada
Atenção: questão interdisciplinar com a
História.
- A
alternativa A está correta, pois a economia no Brasil colônia estava fortemente
apoiada na plantação de açúcar, sendo assim, o “primo rico”. O tabaco,
citado no último parágrafo do texto, não era tão responsável pelos lucros
e, por isso, era chamado de “primo pobre”.
- A
alternativa B está incorreta, pois apesar do pau-brasil ser fonte de renda
na economia colonial, era ligado ao extrativismo, ou seja, não havia
plantações de pau-brasil. Ele era extraído e exportado.
- A
alternativa C está incorreta, pois a plantação de café só passa a ter
expressividade no Brasil no século XIX.
- A
alternativa D está incorreta, pois a exploração de minério do ouro é
expressiva na região de Minas Gerais, no século XVIII.
- A
alternativa E está incorreta, pois a plantação de algodão só passa a ter
expressividade no Brasil no século XIX.
Gabarito: A
Questão 06
Sempre
que haja necessidade expressiva de reforço, de ênfase, pode o objeto direto vir
repetido. Essa reiteração recebe o nome de objeto direto pleonástico. (Adriano
da Gama Kury. Novas lições de análise sintática, 1997. Adaptado.) Antônio
Vieira recorre a esse recurso expressivo em:
(A)
“Sendo propostos a Catão dois cidadãos romanos para o provimento de duas
praças, respondeu que ambos lhe descontentavam” (3o parágrafo)
(B) “e,
consolando-a eu pela morte de tantos filhos, respondeu-me” (4o parágrafo)
(C) “e
desta terra há-de tirar Inácio do Rego mais de 100 mil cruzados em três anos,
segundo se lhe vão logrando bem as indústrias” (3o parágrafo)
(D) “São
lastimosas as misérias que passa esta pobre gente das Ilhas” (5o parágrafo)
(E) “Eu,
Senhor, razões políticas nunca as soube, e hoje as sei muito menos” (2o
parágrafo)
Resolução Comentada
Atenção: Os Sermões de Padre Antônio
Vieira são uma obra que compõe o repertório obrigatório de leituras da UNICAMP
2020.
DICA DA PROF
O objeto
direto pleonástico geralmente vem em forma de pronome oblíquo; logo, a
#dicadaprofa de antemão era justamente começar procurando por essa
classificação de pronome.
- Alternativa
“a”: incorreta. “Respondeu que ambos lhe descontentavam”:
descontentavam a eles (cidadãos romanos), está correto o uso do verbo
transitivo indireto.
- Alternativa
“b”: incorreta. “Consolando-a eu pela morte de tantos filhos”:
na ordem direta: eu consolo ela (quem consola, consola alguém); “pela
morte de tantos filhos”: adjunto adverbial. No caso, o objeto direto está
expresso correta e explicitamente pelo pronome oblíquo.
- Alternativa
“c”: incorreta. “Segundo se lhe vão logrando”: atenção, em
língua portuguesa está correto o uso duplo de pronome: no
caso, “se” é reflexivo e “lhe” é objeto indireto de logrando. Não há
objeto direto nesse caso.
- Alternativa
“d”: incorreta. Cuidado: sequer tem pronome oblíquo nesse trecho. “São
lastimosas as misérias”: no caso, este “as” é artigo
definido feminino, e não pronome oblíquo.
- Alternativa
“e”: correta – gabarito. Padre Antônio Vieira é um autor do movimento
literário do Barroco, cheio de rebuscamento na forma e na linguagem. Nesse
trecho, há inversão da ordem direta (SVO) do português. No caso, vamos
fazer análise sintática desse trecho:
“razões políticas nunca as soube”
*Sujeito:
“eu” (1ª pessoa do singular, o que sabemos por meio da desinência – terminação
– do verbo);
*Verbo:
soube;
*Objeto
direto [explícito]: razões políticas;
*As:
pronome oblíquo que se refere ao termo “razões políticas”, porém, desnecessário
(pleonástico, redundante), uma vez que o objeto direto já aparece explícito na
oração.
Gabarito: E
Questão 07
https://s3.amazonaws.com/sitevestibulares/wp-content/uploads/2019/11/16000013/image56.png
Na tira,
a morte é caracterizada como
(A)
frívola.
(B)
compassiva.
(C)
solitária.
(D)
incorruptível.
(E)
materialista
Resolução Comentada
- A
alternativa A está incorreta. “Frívola” refere-se a uma pessoa que não se
preocupa com questões importantes, ora a morte deve trabalhar no Iraque
ceifando vidas, algo que não pode ser considerado fútil.
- A
alternativa B está incorreta. “Compassiva” pode aplicada a uma
pessoa que tem empatia em relação ao outro; é verdade que a morte diz que
está com pena, mas, percebe-se que ela está sendo irônica.
- A
alternativa C está incorreta. A morte não está incomodada por ser
sozinha.
- A
alternativa D está correta. O moribundo tenta subornar a morte
oferecendo-lhe um emprego, e ela não aceita.
- A
alternativa E está incorreta. Se a morte se preocupasse com bens
materiais, ela aceitaria a oferta do moribundo.
Gabarito: D
Questão 08
Constituem
exemplos de linguagem formal e de linguagem coloquial, respectivamente, as
seguintes falas:
(A) “Ah,
estou morrendo de pena…” e “Ainda vou trabalhar a noite inteira no Iraque, meu
rapaz.”
(B) “Me
adianta essa, vai…” e “É cedo para mim.”
(C) “O
importante é trabalhar com o que a gente gosta.” E “Posso lhe dar um emprego
bem melhor…”
(D) “É cedo
para mim.” e “Posso lhe dar um emprego bem melhor…”
(E)
“Posso lhe dar um emprego bem melhor…” e “Me adianta essa, vai…”
Resolução Comentada
É
preciso tomar cuidado com a palavra “respectivamente”, significa que a primeira
frase deve ser formal e a segunda deve ser coloquial.
- A
alternativa A está incorreta. A primeira fala tem um termo coloquial
“pena”, portanto, não atende ao que foi pedido.
- A
alternativa B está incorreta. “Me adiante essa, vai…” é coloquial,
pois usa-se o pronome átono no começo da oração, algo não
recomendado pela gramática normativa.
- A
alternativa C está incorreta. Na primeira oração, o verbo gostar
exige a preposição “de”, para expressar essa informação na linguagem
formal, o personagem deveria ter dito “O importante é trabalhar com
aquilo de que a gente gosta”.
- A
alternativa D está incorreta. A segunda oração está de acordo com o padrão
formal como se observa pelo uso do pronome átono “lhe”, pouco usado na linguagem
coloquial.
- A
alternativa E está correta. A primeira oração segue as regras do uso do
pronome átono “lhe” como objeto indireto; na segunda oração, observa-se o
uso do pronome átono “me” no começo da frase, traço da linguagem
coloquial, além disso, observa-se a expressão “me adianta essa” que
é uma espécie de gíria para solicitar que a morte resolva o problema para
ele.
Gabarito: E
Leia o soneto “VII”, de Cláudio Manuel da Costa,
para responder às questões de 09 a 13.
Onde
estou? Este sítio desconheço:
Quem fez tão diferente aquele prado?
Tudo outra natureza tem tomado,
E em contemplá-lo, tímido, esmoreço.
Uma
fonte aqui houve; eu não me esqueço
De estar a ela um dia reclinado;
Ali em vale um monte está mudado:
Quanto pode dos anos o progresso!
Árvores
aqui vi tão florescentes,
Que faziam perpétua a primavera:
Nem troncos vejo agora decadentes.
Eu me
engano: a região esta não era;
Mas que venho a estranhar, se estão presentes
Meus males, com que tudo degenera!
(Cláudio
Manuel da Costa. Obras, 2002.)
Questão 09
O tom
predominante no soneto é de
(A)
ingenuidade.
(B)
apatia.
(C) ira.
(D)
ironia.
(E)
perplexidade.
Resolução Comentada
- Alternativa
“a”: incorreta. Segundo o Houaiss, ingenuidade significa qualidade,
caráter de ingênuo; simplicidade, candura, singeleza; ação, palavra de
pessoa ingênua. O eu lírico se mostra chocado com o progresso na sua
terra.
- Alternativa
“b”: incorreta. Apatia é sinônimo de indiferença e não é isso. Ele se
mostra chocado, atordoado com a mudança na sua terra.
- Alternativa
“c”: incorreta. Não é raiva o que ele sente, é uma constatação pasma.
- Alternativa
“d”: incorreta. Ironia é tanto uma figura de linguagem quanto um efeito de
texto quando alguém quer dizer o contrário do que foi dito. Não é ironia,
mas sim a exposição de sua perplexidade.
- Alternativa
“e”: correta – gabarito. O sentimento do eu lírico pode ser definido como
choque, atordoamento, perplexidade.
Gabarito: E
Questão 10
No
soneto, o eu lírico expressa um sentimento de inadequação que, a seu turno, se
faz presente na seguinte citação:
(A) “A
independência, não obstante a forma em que se desenrolou, constituiu a primeira
grande revolução social que se operou no Brasil.” (Florestan Fernandes. A
revolução burguesa no Brasil.)
(B)
“Todo povo tem na sua evolução, vista à distância, um certo ‘sentido’. Este se
percebe não nos pormenores de sua história, mas no conjunto dos fatos e
acontecimentos essenciais que a constituem num largo período de tempo.” (Caio
Prado Júnior. Formação do Brasil contemporâneo.)
(C) “A
ocupação econômica das terras americanas constitui um episódio da expansão
comercial da Europa. A descoberta das terras americanas é, basicamente, um
episódio dessa obra ingente. De início pareceu ser episódio secundário. E na
verdade o foi para os portugueses durante todo um meio século.” (Celso Furtado.
Formação econômica do Brasil.)
(D) “Trazendo
de países distantes nossas formas de convívio, nossas instituições, nossas
ideias, e timbrando em manter tudo isso em ambiente muitas vezes desfavorável e
hostil, somos ainda hoje uns desterrados em nossa terra.” (Sérgio Buarque de
Holanda. Raízes do Brasil.)
(E) “A
formação patriarcal do Brasil explica-se, tanto nas suas virtudes como nos seus
defeitos, menos em termos de ‘raça’ e de ‘religião’ do que em termos
econômicos, de experiência de cultura e de organização da família, que foi aqui
a unidade colonizadora.” (Gilberto Freyre. Casa- -grande e senzala.)
Resolução Comentada
- Alternativa
“a”: incorreta. Atenção: o eu lírico demonstra um sentimento
mais negativo do que positivo em relação às mudanças que ele observou em
sua terra. Isso porque, árcade que ele é, ele valorizava a natureza e
agora ela se revela em detrimento do progresso. Logo, o termo “revolução
social”, notadamente positivo, não se aplica aqui.
- Alternativa
“b”: incorreta. O poema não menciona diretamente o povo, mas sim o
sentimento subjetivo do eu lírico, seu sentimento quanto ao fenômeno do
progresso.
- Alternativa
“c”: incorreta. Não é mencionado nada disso: “A ocupação econômica das
terras americanas constitui um episódio da expansão comercial da Europa”
- Alternativa
“d”: correta – gabarito. O desajuste, o deslocamento e a inadequação
sentido pelo eu lírico pode ser expresso em “somos ainda hoje uns
desterrados em nossa terra”.
- Alternativa
“e”: incorreta. Cuidado: o trecho menciona “suas virtudes como
nos seus defeitos” e para o eu lírico o progresso seria negativo, haja
vista o seu descontentamento com o fenômeno.
Gabarito: D
Questão 11
Considerando
o contexto histórico-geográfico de produção do soneto, as transformações na
paisagem assinaladas pelo eu lírico relacionam-se à seguinte atividade
econômica:
(A)
indústria.
(B)
extrativismo vegetal.
(C)
agricultura.
(D)
extrativismo mineral.
(E)
pecuária
Resolução Comentada
Atenção: questão interdisciplinar com a
História, cuja resposta levou em consideração a ajuda/consultoria do professor Alê
Lopes.
- Alternativa
“a”: incorreta. Não tem como se indústria, pois ela é um processo
econômico do começo do século XX, sobretudo, pós-1930.
- Alternativa
“b”: incorreta. Não, porque o extrativismo vegetal é, predominantemente,
uma atividade econômica amazônica.
- Alternativa
“c”: incorreta. A agricultura nesta época poder ser considerada uma
atividade de subsistência e abastecimento interno. Portanto, ela também
sofre que com as transformações advindas da intensificação da atividade
mineradora.
- Alternativa
“d”: correta – gabarito. Cláudio Manuel da Costa é mineiro no século
XVIII, época na qual predominava em Minas Gerais a extração de minerais,
principalmente, a atividade aurífera.
- Alternativa
“e”: incorreta. A pecuária é uma atividade econômica predominante no Sul e
Nordeste.
Gabarito: D
Questão 12
O eu
lírico recorre ao recurso expressivo conhecido como hipérbole no verso:
(A)
“Quem fez tão diferente aquele prado?” (1a estrofe)
(B) “E
em contemplá-lo, tímido, esmoreço.” (1a estrofe)
(C)
“Quanto pode dos anos o progresso!” (2a estrofe)
(D) “Que
faziam perpétua a primavera:” (3a estrofe)
(E)
“Árvores aqui vi tão florescentes,” (3a estrofe)
Resolução Comentada
Questão
típica sobre figuras de linguagem. A hipérbole é uma figura de
linguagem que ocorre quando há o uso de uma expressão exagerada, claramente
simbólica.
- Alternativa
“a”: incorreta. A palavra “tão” é um qualificador, um advérbio que
expressa grau de superlativo, mas não é porque é superlativo que é
hiperbólico. Hipérbole é uma questão de gradação e de exagero.
- Alternativa
“b”: incorreta. Esmorecer significa “tornar sem ânimo, sem forças;
enfraquecer, afrouxar” (dicionário Houaiss), que não expressa relação
hiperbólica em relação ao adjetivo “tímido”.
- Alternativa
“c”: incorreta. A passagem exalta a passagem do tempo, mas sem caráter
hiperbólico.
- Alternativa
“d”: correta – gabarito. Hipérbole significa exagero, o que pode ser
expresso por meio do adjetivo “perpétua”, que é bem forte, enfático.
- Alternativa
“e”: incorreta. Novamente em relação à letra “a”, hipérbole deve dizer
respeito necessariamente ao exagero, ao excessivo.
Gabarito: D
Questão 13
Está
reescrito em ordem direta, sem prejuízo de seu sentido original, o seguinte
verso:
(A)
“Quem fez tão diferente aquele prado?” (1a estrofe) → Quem aquele prado fez tão
diferente?
(B) “Uma
fonte aqui houve; eu não me esqueço” (2a estrofe) → Uma fonte houve aqui; eu
não me esqueço.
(C) “Ali
em vale um monte está mudado:” (2a estrofe) → Ali está mudado um monte em vale.
(D)
“Tudo outra natureza tem tomado,” (1a estrofe) → Tudo tem tomado outra
natureza.
(E) “Nem
troncos vejo agora decadentes.” (3a estrofe) → Nem troncos decadentes vejo
agora.
Resolução Comentada
Essa
questão foi respondida com a ajuda/consultoria do professor Wagner Santos.
- Alternativa
“a”: incorreta. Primeiramente, trata-se de uma pergunta. No caso, o
problema seria o “sem prejuízo de seu sentido original”, porque em
“Quem fez tão diferente aquele prado?”, o “tão diferente”
tem valor adverbial em relação ao verbo diretamente, “fez”, alterando o
seu sentido. Por sua vez, em “quem aquele prado fez tão
diferente?”, o termo “tão diferente” ainda continua sendo um advérbio
intensificador; porém, agora, o seu sentido estaria mais relacionado ao
termo “aquele prado”.
- Alternativa
“b”: incorreta. Cuidado: trecho composto por duas orações
separadas pela pontuação do ponto e vírgula, sendo que a segunda permanece
exatamente igual. No caso da primeira, o verbo “haver” tem uma
peculiaridade de apresentar sujeito inexistente, mas ele é transitivo
direto. Logo, temos na ordem direta (SVO): houve (V) uma fonte (OD) aqui
(adjunto adverbial de lugar), lembrando que a posição original do advérbio
é no fim da sentença, porque ele é um termo acessório da oração.
- Alternativa
“c”: incorreta. Ali é um adjunto adverbial e a posição original do
advérbio é no fim da sentença, porque ele é um termo acessório da oração.
Se ele se mantém no início, logo, a oração não estaria exatamente na sua
ordem direta, que no caso seria: um monte em vale (S) está mudado (V –
locução verbal) ali (adjunto adverbial de lugar).
- Alternativa
“d”: correta – gabarito. Esta oração é a única que na sua integridade há
mudança para a ordem direta: tudo (S) tem tomado (V – locução verbal)
outra natureza (OD, porque quem toma, toma alguma coisa).
- Alternativa
“e”: incorreta. Sendo o sujeito oculto, sendo identificado pela desinência
(terminação) do verbo vejo (conjugado na 1ª pessoa do singular), se
deveria ser SVO, aqui nós deveríamos começar então com o verbo “vejo”, o
que não é o caso, porque ela aparece só lá no final. No caso, a ordem
direta seria: “nem (negação) vejo (V) troncos decadentes (OD) agora
(adjunto adverbial de lugar).
Gabarito: D
Questão 14
Examine
os gráficos.
https://s3.amazonaws.com/sitevestibulares/wp-content/uploads/2019/11/16000728/image57.png
As
dinâmicas climáticas representadas nos gráficos 1 e 2 correspondem,
respectivamente, aos espaços retratados em
(A)
Capitães da Areia, de Jorge Amado, e O cortiço, de Aluísio Azevedo.
(B)
Vidas secas, de Graciliano Ramos, e Capitães da Areia, de Jorge Amado.
(C)
Vidas secas, de Graciliano Ramos, e Grande sertão: veredas, de Guimarães Rosa.
(D)
Memórias póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis, e O cortiço, de Aluísio
Azevedo.
(E)
Memórias póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis, e Vidas secas, de
Graciliano Ramos.
Resolução Comentada
Atenção: questão interdisciplinar com a
Geografia, cuja resposta levou em consideração a ajuda/consultoria do professor
Saulo.
- Alternativa
“a”: incorreta. Considerando que O cortiço se passa no Rio de Janeiro, o
índice pluviométrico não é tão baixo no meio do ano.
- Alternativa
“b”: incorreta. Devido ao fato de Vidas secas se passar no sertão
nordestino, os índices pluviométricos não poderiam ser tão altos.
- Alternativa
“c”: incorreta. Novamente, devido ao fato de Vidas secas se passar no
sertão nordestino, os índices pluviométricos não poderiam ser tão altos.
- Alternativa
“d”: incorreta. Mais uma vez, considerando que O cortiço se passa no Rio
de Janeiro, o índice pluviométrico não é tão baixo no meio do ano.
Alternativa “e”: correta – gabarito. Considerando-se que Memórias póstumas
de Brás Cubas se passa no Rio de Janeiro, há uma pequena queda no índice
de pluviosidade no meio do ano. Por sua vez, no sertão nordestino de Vidas
secas há um baixo índice pluviométrico no meio do ano.
Gabarito: E
Para
responder às questões de 15 a 17, leia o trecho de uma fala do personagem
Quincas Borba, extraída do romance Quincas Borba, de Machado de Assis,
publicado originalmente em 1891.
— […] O
encontro de duas expansões, ou a expansão de duas formas, pode determinar a
supressão de uma delas; mas, rigorosamente, não há morte, há vida, porque a
supressão de uma é condição da sobrevivência da outra, e a destruição não
atinge o princípio universal e comum. Daí o caráter conservador e benéfico da
guerra. Supõe tu um campo de batatas e duas tribos famintas. As batatas apenas
chegam para alimentar uma das tribos, que assim adquire forças para transpor a
montanha e ir à outra vertente, onde há batatas em abundância; mas, se as duas
tribos dividirem em paz as batatas do campo, não chegam a nutrir-se
suficientemente e morrem de inanição. A paz, nesse caso, é a destruição; a
guerra é a conservação. Uma das tribos extermina a outra e recolhe os despojos.
Daí a alegria da vitória, os hinos, aclamações, recompensas públicas e todos os
demais efeitos das ações bélicas. Se a guerra não fosse isso, tais
demonstrações não chegariam a dar-se, pelo motivo real de que o homem só
comemora e ama o que lhe é aprazível ou vantajoso, e pelo motivo racional de
que nenhuma pessoa canoniza uma ação que virtualmente a destrói. Ao vencido,
ódio ou compaixão; ao vencedor, as batatas. […] Aparentemente, há nada mais
contristador que uma dessas terríveis pestes que devastam um ponto do globo? E,
todavia, esse suposto mal é um benefício, não só porque elimina os organismos fracos,
incapazes de resistência, como porque dá lugar à observação, à descoberta da
droga curativa. A higiene é filha de podridões seculares; devemo-la a milhões
de corrompidos e infectos. Nada se perde, tudo é ganho.
(Quincas
Borba, 2016.)
Questão 15
Está
empregado em sentido figurado o termo sublinhado em:
(A)
“nenhuma pessoa canoniza uma ação que virtualmente a destrói”.
(B) “a
supressão de uma é condição da sobrevivência da outra”.
(C) “Uma
das tribos extermina a outra e recolhe os despojos”.
(D) “Daí
o caráter conservador e benéfico da guerra”.
(E) “não
chegam a nutrir-se suficientemente e morrem de inanição”.
Resolução Comentada
Questão
sobre sentido figurado, sinônimo de sentido conotativo
(do coração) ou também metafórico, oposto ao sentido denotativo
(do dicionário), literal.
- Alternativa
“a”: correta – gabarito. Segundo o dicionário Houaiss, “canonizar”
significa reconhecer e declarar santo (indivíduo falecido), inscrevendo no
cânon dos santos, segundo as regras e rituais prescritos pela Igreja. No
caso, como tem a ver com santificação, o sentido está deslocado do seu
original. Além do mais, aqui se recorre ao típico uso da ironia do
narrador machadiano.
- Alternativa
“b”: incorreta. “Sobrevivência” está no sentido literal, pois o segundo o
dicionário Houaiss “sobrevivência” pode significar: ato ou efeito de
sobreviver, de continuar a viver ou a existir; característica, condição ou
virtude daquele ou daquilo que subsiste a um outro; condição ou qualidade
de quem ainda vive após a morte de outra pessoa; sequência ininterrupta de
algo; o que subsiste de (alguma coisa remota no tempo); continuidade,
persistência, duração.
- Alternativa
“c”: incorreta. “Extermina” está no sentido literal, pois o segundo o
dicionário Houaiss “exterminar” significa expulsar de algum território,
região etc.; banir; destruir de maneira cruenta; eliminar por morte; fazer
(algo) chegar ao fim; acabar com; extirpar.
- Alternativa
“d”: incorreta. “Guerra” está no sentido literal, pois o segundo o
dicionário Houaiss “guerra” significa luta armada entre nações, ou entre
partidos de uma mesma nacionalidade ou de etnias diferentes, com o fim de
impor supremacia ou salvaguardar interesses materiais ou ideológicos;
qualquer combate com ou sem armas; combate, peleja, conflito; a arte
militar; disputa acirrada; hostilidade; luta encarniçada contra qualquer
coisa a que se atribua um valor nocivo.
- Alternativa
“e”: incorreta. Cuidado: talvez este termo fosse aquele que
pudesse gerar dúvida, pois pode ser que ele não seja conhecido de todos
vocês. “Inanição” está no sentido literal, pois o segundo o dicionário
Houaiss “inanição” significa estado ou condição de inane; estado de
inanido; vacuidade, esp. do estômago; inanição; estado de esgotamento ou
de extremo enfraquecimento, por falta de alimentos, ou defeito de assimilação
dos mesmos.
Gabarito: A
Questão 16
Considerando
o contexto histórico de produção, verifica-se no trecho uma alusão irônica
(A) à
teoria darwiniana.
(B) à
filosofia idealista.
(C) à
ideologia capitalista.
(D) à
filosofia iluminista.
(E) à
ideologia socialista.
Resolução Comentada
Atenção: Quincas Borba é um romance de
Machado de Assis que compõe o repertório obrigatório de leituras da FUVEST
2020.
Questão
que poderia ser respondida de maneira interdisciplinar com filosofia e sociologia.
- Alternativa
“a”: correta – gabarito. Distorção e oposto do humanismo e humanitismo –
dos quais, pelo menos por causa do nome, parece ter sido derivada –, a
filosofia de Humanitas prescreve que a ordem do mundo favorece a
hierarquia. Pode ser considerada como uma sátira do darwinismo, sátira
porque é como se fosse um darwinismo “que não deu certo”.
- Alternativa
“b”: incorreta. Idealismo significa, de acordo com o dicionário Houaiss
(rubrica da Filosofia), no sentido ontológico, doutrina filosófica (p.ex.,
o platonismo) segundo a qual a realidade apresenta uma natureza
essencialmente espiritual, sendo a matéria uma manifestação ilusória,
incompleta, ou mera imitação imperfeita de uma matriz original constituída
de formas ideais inteligíveis e intangíveis.
- Alternativa
“c”: incorreta. Capitalismo significa, de acordo com o dicionário Houaiss
(rubrica da Economia), sistema econômico baseado na legitimidade dos bens
privados e na irrestrita liberdade de comércio e indústria, com o
principal objetivo de adquirir lucro. Por sua vez, como rubrica da
Sociologia: sistema social em que o capital está em mãos de empresas
privadas ou indivíduos que contratam mão de obra em troca de salário.
- Alternativa
“d”: incorreta. Iluminismo foi, de acordo com o dicionário Houaiss (rubrica
da Filosofia), um movimento intelectual do século XVIII, caracterizado
pela centralidade da ciência e da racionalidade crítica no questionamento
filosófico, o que implica recusa a todas as formas de dogmatismo, esp. o
das doutrinas políticas e religiosas tradicionais; Filosofia das Luzes,
Ilustração, Esclarecimento, Século das Luzes
- Alternativa
“e”: incorreta. Socialismo significa, de acordo com o dicionário Houaiss
(rubrica da Política), doutrina política e econômica que prega a
coletivização dos meios de produção e de distribuição, mediante a
supressão da propriedade privada e das classes sociais; na teoria
marxista, estágio intermediário entre o fim do capitalismo e a implantação
do comunismo.
Gabarito: A
Questão 17
Em “mas,
rigorosamente, não há morte, há vida, porque a supressão de uma é condição da
sobrevivência da outra” e “As batatas apenas chegam para alimentar uma das
tribos”, os termos sublinhados estabelecem relação, respectivamente, de
(A)
consequência e conformidade.
(B)
causa e conformidade.
(C)
conformidade e consequência.
(D)
causa e finalidade.
(E)
consequência e finalidade
Resolução Comentada
Questão
sobre valor semântico do conectivo, portanto, de Gramática
Aplicada. O uso da preposição “para” + verbo no infinitivo necessariamente
conduz a uma ideia de finalidade, podendo 3 das alternativas ser eliminadas
logo de antemão.
- Alternativa
“a”: incorreta. O segundo conectivo deveria ser de finalidade.
- Alternativa
“b”: incorreta. O segundo conectivo deveria ser de finalidade.
- Alternativa
“c”: incorreta. O segundo conectivo deveria ser de finalidade.
- Alternativa
“d”: correta – gabarito. A oração deveria ser classificada como Oração
Subordinada Adverbial Causal. São exemplos de conjunções integrantes
adverbiais causais: porque, que, como, pois que, porquanto, visto que, uma
vez que, já que, desde que. Nesse caso, vale o macete da substituição.
Bastava substituir por um desses outros conectivos, para saber se fazia
sentido.
- Alternativa
“e”: incorreta. O primeiro conectivo deveria ser de causa.
Gabarito: D
Questão 18
Examine
o cartum de Pia Guerra, publicado no Instagram da revista The New Yorker em
13.11.2018.
https://s3.amazonaws.com/sitevestibulares/wp-content/uploads/2019/11/16001245/image58.png
A
mercadoria a que o cartum faz alusão está diretamente relacionada ao seguinte
problema ambiental:
(A)
desertificação.
(B)
extinção de espécies.
(C)
desmatamento.
(D)
assoreamento.
(E)
aquecimento global.
Resolução Comentada
Essa
questão é interdisciplinar com química e geografia.
Ao dizer
que os dinossauros terão seus corpos vendidos em galões, a tirinha faz
referência a combustíveis fósseis, tais como o petróleo.
A
alternativa A está incorreta, pois a desertificação é a perda do potencial
produtivo do solo, não tendo a ver com petróleo ou combustíveis fósseis.
A
alternativa B está incorreta, pois apesar de os dinossauros terem sido
extintos, não é a esse problema que o enunciado se refere. O problema está no
presente, não no passado.
A
alternativa C está incorreta, pois o desmatamento é a derrubada em grande
escala de florestas, não tendo a ver com petróleo ou combustíveis fósseis.
A
alternativa D está incorreta, pois o assoreamento ocorre quando o volume do rio
fica mais raso devido à entrada de sedimentos, não tendo a ver com petróleo ou
combustíveis fósseis.
A
alternativa E está correta, pois O acúmulo de dióxido de carbono na atmosfera é
atribuído à queima de combustíveis não renováveis, tais como o petróleo.
Gabarito: E
Questão 19
Tal
movimento distingue-se pela atenuação do sentimentalismo e da melancolia, a
ausência quase completa de interesse político no contexto da obra (embora não
na conduta) e (como os modelos franceses) pelo cuidado da escrita, aspirando a
uma expressão de tipo plástico. O mito da pureza da língua, do casticismo
vernacular abonado pela autoridade dos autores clássicos, empolgou toda essa
fase da cultura brasileira e foi um critério de excelência. É possível mesmo
perguntar se a visão luxuosa dos autores desse movimento não representava para
as classes dominantes uma espécie de correlativo da prosperidade material e,
para o comum dos leitores, uma miragem compensadora que dava conforto.
(Antonio
Candido. Iniciação à literatura brasileira, 2010. Adaptado.)
O texto
refere-se ao movimento denominado
(A)
Romantismo.
(B)
Barroco.
(C)
Parnasianismo.
(D)
Arcadismo.
(E)
Realismo.
Resolução Comentada
- A
alternativa A está incorreta. O Romantismo prima pelo sentimentalismo e
pela melancolia e, no texto, afirma-se que, no movimento comentado, há
atenuação desses dois traços.
- A
alternativa B está incorreta. No Barroco, não havia defesa do
“casticismo vernacular”, aliás, os poetas barrocos transitavam entre o
português e o espanhol.
- A
alternativa C está correta. No Parnasianismo, exalta-se o ideal da “arte
pela arte”, ou seja, a poesia se torna mais objetiva, menos sentimental e
o poeta deve ser cuidadoso no uso da linguagem. Na época, o poeta
parnasiano representava o bom gosto das elites no Brasil.
- A
alternativa D está incorreta. No Arcadismo difunde-se o mito da Arcádia;
não o mito da pureza da língua.
- A alternativa
E está incorreta. No Realismo, procura-se registrar a realidade sem enfeites,
a linguagem deve ser mais objetiva, algo distante da aspiração “a uma
expressão de tipo plástico”.
Gabarito: C
Questão 20
Perspectiva.
Técnica de representação, numa superfície plana, do espaço tridimensional,
baseado no uso de certos fenômenos ópticos, como a diminuição aparente no
tamanho dos objetos e a convergência das linhas paralelas à medida que se
distanciam do observador.
(Ian
Chilvers (org.). Dicionário Oxford de arte, 2007.) Verificam-se distorções e
ambiguidades em relação à técnica da perspectiva na seguinte obra:
https://s3.amazonaws.com/sitevestibulares/wp-content/uploads/2019/11/16001420/image59.png
https://s3.amazonaws.com/sitevestibulares/wp-content/uploads/2019/11/16001433/image61.png
https://s3.amazonaws.com/sitevestibulares/wp-content/uploads/2019/11/16001426/image60.png
https://s3.amazonaws.com/sitevestibulares/wp-content/uploads/2019/11/16001443/image62.png
https://s3.amazonaws.com/sitevestibulares/wp-content/uploads/2019/11/16001449/image63.png
Resolução Comentada
- A
alternativa A está incorreta, pois a obra “A clarividência” não faz
nenhuma subversão da perspectiva; pelo contrário, ela é marcada por
figurativismo.
- A
alternativa B está correta, pois percebe-se que não há mudança no tamanho
dos elementos a depender da distância em que se encontram. As pessoas do
quadro também são do mesmo tamanho, independentemente de onde estão. Outro
modo de responder à questão seria identificar que o pintor é Escher,
artista que tem como uma de suas principais características a subversão da
perspectiva.
- A
alternativa C está incorreta, pois há um uso da perspectiva como descrito
no verbete que compõe o enunciado, principalmente na diminuição dos
tamanhos.
- A
alternativa D está incorreta, pois vê-se diferença de tamanho nas
personagens, indicando que há uso da perspectiva.
- A
alternativa E está incorreta, pois há um aprofundamento da paisagem, que
por estar mais distante se encontra menor.
Gabarito: B
Questão 47
A ideia
de pátria se vinculava estreitamente à de natureza e em parte extraía dela a
sua justificativa. Ambas conduziam a uma literatura que compensava o atraso
material e a debilidade das instituições por meio da supervalorização dos
aspectos regionais, fazendo do exotismo razão de otimismo social. A partir de
1930 houve uma mudança de orientação, sobretudo na ficção regionalista,
percebendo-se o que havia de mascaramento no encanto pitoresco com que antes se
abordava o homem rústico. Evidenciou-se a realidade dos solos pobres, das
técnicas arcaicas, da miséria pasmosa das populações, da sua incultura
paralisante. A visão que resulta dessa perspectiva é pessimista quanto ao
presente e problemática quanto ao futuro.
(Antonio
Candido. A educação pela noite e outros ensaios, 1989. Adaptado.)
O
excerto assinala uma reorientação nos rumos da literatura brasileira, na medida
em que os escritores
(A)
deparam-se com a instituição de uma regionalização oficial pelo IBGE.
(B)
passam a mostrar os aspectos do Brasil como país subdesenvolvido.
(C)
reconhecem o estabelecimento de alianças democráticas no Brasil.
(D)
percebem a assimilação do american way of life pelo povo brasileiro.
(E) optam
pelo emprego de uma visão eurocêntrica em sua produção literária.
Resolução Comentada
Esta
questão é interdisciplinar com Geografia e História,
respondida junto ao professor Saulo e professor Marco.
- A
alternativa A está incorreta, pois a primeira regionalização oficial pelo
IBGE acontece em 1940, portanto 10 anos após o movimento descrito.
- A
alternativa B está correta, pois um dos aspectos da literatura modernista
de 30 é o olhar para as diferentes regiões do Brasil, principalmente
através da produção do romance regionalista, em que se denunciam os
problemas das regiões afastadas dos grandes centros urbanos da época,
principalmente do Sertão brasil.
- A
alternativa C está incorreta, pois os processos revolucionários dos anos
1930 são majoritariamente ligados a golpes de Estado, ou seja, não são
tentativas democráticas.
- A alternativa
D está incorreta, pois a ideia do american way of life remete aos anos
1950, não 1930
- A
alternativa E está incorreta, pois o Modernismo de 30, movimento literário
descrito no texto, busca afastar-se de referências eurocêntricas, voltando
seu olhar para as diferentes regiões do Brasil.
Gabarito: B
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Prof.
Celina Gil
Professora
formada em Letras-Português pela Universidade de São Paulo, USP. Mestre e
Doutoranda em História do Teatro pela mesma instituição.
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As cartas do padre Antônio Vieira no Maranhão: apontamentos sobre a
teologia-política das missões na retórica epistolar
Fernando Munhós
RESUMO: O presente ensaio tem por objetivo apresentar algumas
particularidades da retórica das cartas escritas pelo padre Antônio Vieira
entre 1653 e 1661, período em que atuou como missionário no Estado do Maranhão
e Grão-Pará. Pretende, assim, apontar como os procedimentos e técnicas da
representação nos textos são determinantes para a viabilidade das ações do
jesuíta na conversão dos índios e na administração dos aldeamentos, ao
articular para destinatários interessados os conceitos centrais da política
católica do Estado português do século xvii. Com isso, almeja-se propor uma
perspectiva histórica sobre a relação de Vieira com a presença, na região, do
trabalho cativo dos índios.
PALAVRAS-CHAVE: Companhia de Jesus; Antônio Vieira; retórica; escravidão; saberes.
ABSTRACT: This paper aims to present some of the rhetoric particularities of
letters written by Father Antônio Vieira between 1653 and 1661, period during
which he served as a missionary in the State of Maranhão and Grão-Pará. Thus it
seeks to point out how the procedures and techniques of representation are
crucial to the viability of Jesuit actions for Indians’ conversion and
administration of the settlements by the coordination with the interested
consignees of the main concepts concerned to the Catholic policy of the
Portuguese State in the 17th century. Thus, the text aims to offer a historical
perspective on Vieira’s relationship with the presence of the bonded labor of
the Indians in the region.
KEYWORDS: Society of Jesus; Antônio Vieira; rhetoric; slavery; knowledge.
10.11606/issn.2447-8997.teresa.2018.146135
file:///C:/Users/User/Downloads/146135-Texto%20do%20artigo-324752-1-10-20181213.pdf
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