segunda-feira, 2 de setembro de 2024

MENTECAPTO (m)

INSULTO IMPRESSO
------------ Um indivíduo considerado mentecapto é aquele que é tonto ou pouco inteligente ------------
------------ _________________________________________________________________________________________________________ —A ciência, disse ele a Sua Majestade, é o meu emprego único; Itaguaí é o meu universo. _________________________________________________________________________________________________________ ------------ Apresentação Proibida durante o período colonial, a imprensa brasileira só passou a existir a partir de 1808, com a chegada de d. João VI, e entre 1821 e 1823 transformou-se na arena em que se discutiu o futuro do país. Este livro mostra uma outra visão da Independência, explicando como nobres, anônimos e poderosos usaram as páginas de jornais, muitas vezes de forma não civilizada, para debater suas idéias e interesses. -------------
------------ Luís XIV por Juste d'Egmont, 1654 ----------- L'État, c'est moi ("Eu sou o estado", lit. "o estado, esse sou eu") é um ditado apócrifo atribuído a Luís XIV, Rei da França e Navarra. Alegadamente foi dito em 13 de abril de 1655 perante o Parlamento de Paris.[1] Supõe-se que recorde a primazia da autoridade real num contexto de desafio ao Parlamento, que contesta os decretos reais proferidos em lit de Justice em 20 de março de 1655.[2] A frase simboliza a monarquia absoluta e o absolutismo. No entanto, os historiadores contestam que esta frase, que não consta dos registros do parlamento, tenha sido realmente dita por Luís XIV,[1][3] especialmente porque no seu leito de morte, Luís XIV pronunciou uma frase, atestada, aparentemente contraditória: "Eu morro, mas o estado sempre permanecerá."[4] A origem da frase é atribuída a Pierre-Édouard Lémontey em seu "Essai sur l'établissement monarchique de Louis XIV et sur les altérations qu'il éprouva pendant la vie de ce prince" (1818), que escreve: “O Alcorão da França estava contido em quatro sílabas e Luís XIV as pronunciou um dia: “L'État, c'est moi!”. Como apontam Olivier Chaline e Edmond Dziembowski, “se o falsificador está hoje bem esquecido, a sua invenção não acabou de ser utilizada...".[5] Bibliografia Bély, Lucien (2005). Louis XIV : le plus grand roi du monde. Col: Les classiques Gisserot de l'histoire. [S.l.]: Éditions Jean-paul Gisserot. 279 páginas. ISBN 287747772X. Bely2005 _________________________________________________________________________________________________________ ----------
------------ Elon Musk quer ser o Alexandre de Moraes do mundo Ronaldo Lemos ⋮ ⋮ 01/09/2024 Elon Musk não é um defensor da liberdade de expressão. Ao contrário. Ele é o símbolo do seu antônimo: a concentração das mídias sociais e da infraestrutura sobre a qual elas operam. A promessa da internet era que qualquer pessoa com um computador pudesse se conectar à rede e operar seus próprios serviços: websites, mensagens, hospedagem etc. Tenho amigos que mantinham servidores no banheiro de casa, que se conectavam com o mundo todo. Musk é o inimigo número 1 dessa ideia. Sua ambição é ser o Cidadão Kane da internet. Ele já é dono do principal provedor de internet por satélite, a Starlink. É dono do X (Twitter), uma das mais influentes mídias sociais. É dono da Tesla, cuja missão é criar carros autônomos ("robotáxis") para centralizar e dominar todo o mercado de transporte do planeta. E dono da Neuralink, que literalmente quer entrar na cabeça das pessoas para conectar cérebros. Se Musk realmente quisesse defender a liberdade de expressão, estaria copiando a estrutura dos seus concorrentes, o BlueSky e o Mastodon. Esses concorrentes promovem o oposto da centralização: federações de servidores, protocolos de comunicação autônomos e infraestrutura distribuída. As redes do Mastodon e do BlueSky são desenhadas para dificultar o controle privado ou estatal das suas plataformas. Nem as próprias empresas têm controle sobre o que é postado nessas plataformas. Uma pessoa rodando um servidor no banheiro de casa poderia continuar postando nelas enquanto esse servidor estiver no ar, aconteça o que acontecer. Musk não quer nada parecido com isso. Ele quer ser o dono da plataforma, quer ser seu gatekeeper, seu editor-geral e seu bloqueador-geral. Seu objetivo final é a centralização do poder nas suas próprias mãos —não a descentralização do poder, que é a premissa inerente à ideia de liberdade de expressão. Mutatis mutandis, ele quer ser o Alexandre de Moraes do planeta. Exemplos disso estão em toda parte. Ele paralisou os serviços da Starlink na Guerra da Ucrânia por ordem própria sua. Removeu conteúdos que desagradavam ao governo da Índia, como barganha para obter vantagens no país. Removeu conteúdos a pedido do governo da Turquia, e assim por diante. Neutralidade não é o seu forte. Se Musk quer tanto proteger a liberdade de expressão, por que então nunca cogitou mudar a arquitetura do X para um modelo descentralizado e neutro, parecido com o dos seus concorrentes? A razão é que, se fizer isso, ele também perderá o controle total da sua plataforma. E esse controle total, para ele, é precioso. Ele é a razão de Musk ter pago US$ 44 bilhões pelo Twitter, muito mais do que a empresa valia. Essa é também a razão pela qual ele lança um foguete a cada três dias para colocar em órbita satélites de provimento de conexão à internet no mundo todo. Musk não quer conectar o mundo. Ele quer controlar as redes que conectam o mundo. 2/2 READER Já era – Achar que a concentração na internet é algo natural Já é – Lembrar que quem defende liberdade de expressão promove a descentralização da rede e da sua infraestrutura Já vem – Ficar claro que "liberdade de expressão" é só cortina de fumaça para Musk _________________________________________________________________________________________________________ ----------- ------------- Isabel Lustosa: História do Brasil, Dom Pedro I, José Bonifácio e outros personagens | Diálogos Meio Estreou em 25 de ago. de 2024 #Meio #DomPedroI #JoséBonifácio "Isabel Lustosa é a melhor contadora, a melhor cronista que temos sobre a História do Brasil". Essa frase, dita por Christian Lynch, apresenta a convidada desta semana do Diálogos com a Inteligência. O bate-papo entre a historiadora e o cientista político aborda a literatura que ilustra os principais fatos do Brasil, as correspondências diplomáticas, os personagens históricos fundamentais – como José Bonifácio e Dom Pedro I –, e a relação entre o Estado e ideologias políticas como autoritarismo político, progressismo e desenvolvimentismo. -------------
------------ Edição 101 Assembleia Constituinte de 1823 –a consolidação do mapa do Brasil tal como queria José Bonifácio  14 minutos de leitura Compartilhe: Isabel Lustosa, Historiadora e cientista política Foram artigos publicados em dois jornais e a reação provocada por eles que levaram d. Pedro I a dissolver a primeira Assembleia Constituinte e Legislativa do Brasil. Inaugurada em 3 de maio de 1823, aquela assembleia abriu espaço para vozes que tinham sido silenciadas pela prepotência do “paulistério”, como o vulgo chamava o ministério dirigido por José Bonifácio e que tinha seu irmão Martim Francisco como ministro da Fazenda. No entanto, ao contrário do que possa se pensar, não foram os radicais os responsáveis pela publicação dos jornais Tamoio e Sentinela da liberdade na guarita da Praia Grande. O primeiro era claramente obra dos Andradas e seus seguidores que, um mês depois de deixarem o governo, passaram a fazer-lhe oposição serrada nas páginas do Tamoio e na tribuna da Assembleia. O segundo era publicado por um italiano da Sardenha, suspeito de carbonário que, com o objetivo de combater a possível volta do absolutismo, se aliara oportunisticamente aos conservadores irmãos paulistas. E essa circunstância tão peculiar resume um pouco a personalidade do trio, especialmente do mais velho dos irmãos, José Bonifácio de Andrada e Silva. Ao lado de suas notáveis e sempre reconhecidas qualidades, um dos defeitos que caracterizava o grande santista era a prepotência. Creio que entre os estudiosos do período, não há dúvida que seus projetos para o Brasil eram os que mais teriam favorecido o desenvolvimento do país de forma mais bem-sucedida do que as políticas que se impuseram depois de sua queda. Mas a intransigência e a arrogância no trato com as elites do Brasil granjearam enorme antipatia a José Bonifácio. Antipatia que também tinha a ver com a natureza progressista, digamos assim, daqueles projetos que afrontavam interesses enraizados na antiga colônia em suas conexões com Portugal. Entre esses projetos constavam: abolir o tráfico negreiro o mais cedo possível; libertar os escravizados e integrá-los, como também aos indígenas, à sociedade; estimular a mestiçagem e promover uma reforma agrária que confiscasse os latifúndios improdutivos cedendo-os a esses novos brasileiros integrados à cidadania. Se nos dias de hoje essas ideias ainda enfurecem parte das elites nacionais, naquele momento inaugural da nossa história, em um mundo revolucionado, parecer-lhes-iam ainda mais ameaçadoras. O papel decisivo do Andrada no sentido de levar d. Pedro a não obedecer às ordens de Lisboa, bem como as medidas que adotou contra os portugueses – donos ainda de grande parte do comércio que se fazia transatlântico desde os primórdios de nossa história – tentando obrigá-los a escolher entre Brasil e Portugal, fizeram-no tão odiado na Europa quanto se tornara na América. José Bonifácio de Andrada era um liberal formado no Antigo Regime. Fizera sua brilhante carreira no contexto do chamado Reformismo Ilustrado. Conceito com que a historiografia portuguesa tenta estabelecer as características do despotismo esclarecido que caracterizou o reinado de d. José I, enquanto o marquês de Pombal esteve à frente do governo. Tratava-se de reformar o governo, a administração, sem alterar a ordem monárquica baseada no poder absoluto do rei. Tratava-se de superar o atraso em que Portugal vivia, apesar de todo o ouro e dos tantos diamantes que foram drenados das Minas Gerais quase que diretamente para financiar a revolução industrial inglesa pela compra das mercadorias e serviços que Portugal não produzia. O Brasil era a principal colônia portuguesa e os cuidados com a conservação desse rico patrimônio envolviam uma vigilância severa que, no reinado de d. José incluiria a cooptação de quadros da elite crioula no sentido de que, como portugueses nascidos na América, também se sentissem comprometidos com o grande projeto de constituição de um império luso-brasileiro. Essa política foi também perseguida por d. João e, sob a direção de seu principal ministro, d. Rodrigo de Sousa Coutinho, promoveram-se expedições de pesquisa pelo interior do Brasil para fazer o levantamento das possibilidades econômicas das culturas nativas ou exógenas que pudessem para cá serem transplantadas, mapeamento das minas, verificação da navegabilidade de rios etc. Nessas missões, brasileiros formados em Coimbra e em outras universidades europeias ombreavam com seus pares portugueses. Destacando-se por seus méritos pessoais, José Bonifácio, filho de rica família de Santos, São Paulo, emendou o curso de leis da Universidade de Coimbra com uma viagem de estudos que se prolongou por dez anos. Ele frequentou aulas dos maiores nomes da ciência nas universidades europeias, especializando-se em mineralogia e, voltando a Portugal, em 1800, tornou-se professor da Universidade de Coimbra. Em 1819, depois de prestigiosa carreira no meio científico português, coroada com sua integração na Real Academia de Ciências de Lisboa, despediu-se de Portugal. Aposentado, foi viver em Santos, tencionando desenvolver estudos mineralógicos na região. Depois da Revolução Constitucionalista iniciada em 20 de agosto de 1820 na cidade do Porto, em Portugal, a assembleia que se formou para dar início aos trabalhos de redação da constituição portuguesa determinou que o governo das províncias fosse feito por meio de juntas compostas de três ou mais membros eleitos. José Bonifácio, personalidade mais importante da elite de São Paulo, assumiu a vice-presidência da junta daquela província. Logo seria convidado a usar sua influência para convencer d. Pedro a desobedecer às ordens da assembleia constituinte reunida em Lisboa que determinava sua volta para Portugal. O documento que José Bonifácio enviou de São Paulo, quase ordenando que d. Pedro não deixasse o Brasil até que ele e outros paulistas viessem ao Rio, teve papel importante na decisão que resultou no Dia do Fico, em 9 de janeiro de 1822. Poucos dias depois, José Bonifácio chegava ao Rio de Janeiro, assumia a liderança do ministério e baixava decreto determinando que nenhuma ordem das cortes de Lisboa seria obedecida sem a sanção de d. Pedro. O tom agressivo que adotou na mensagem enviada de São Paulo contra as cortes reunidas em Lisboa, a que chamou de “pequeno número de desorganizadores”, já indicava que José Bonifácio não tinha muita simpatia pela assembleia constituinte portuguesa. Havia um quê de aristocrático nessa elite intelectual formada no ambiente do reformismo ilustrado à qual o Andrada pertencia. O nascimento em si, para a porção liberal política do Andrada, não qualificava ninguém. Ele era um dos poucos do seu meio que acreditavam que os homens nasciam livres e iguais. Era a educação que fazia a diferença. Não aspiraria nunca a títulos de nobreza. Até esnobaria os que d. Pedro quisesse conceder. No entanto, não acreditava que aquele grupo de portugueses de origem mediana formado por desembargadores, militares, comerciantes, advogados e padres levados por um liberalismo a seu ver exagerado faria um governo melhor para o futuro do Império português do que o que o antecedera. A antipatia dos liberais brasileiros contra José Bonifácio se manifestaria logo diante de sua iniciativa de convocar eleições nas províncias para compor um conselho de procuradores que deveria funcionar como uma espécie de assembleia em torno do príncipe. As províncias do Norte e Nordeste tinham se beneficiado muito com a abertura dos portos, mas tinham queixas dos impostos que pagavam para manter a corte no Rio de Janeiro. Elas foram as primeiras a aderir à revolução constitucionalista pelo que esperavam ganhar em maior autonomia ao poderem eleger a junta governativa, mas também reagiram negativamente ao saberem que o comando das armas seria obediente a Lisboa e não a essa mesma junta. Como a matéria ainda estava em discussão com a participação de seus representantes, estranharam a convocação de um conselho de procuradores que atuariam em paralelo à assembleia portuguesa. Temiam que o governo do Rio de Janeiro assumisse a forma absolutista com d. Pedro reinando sob a tutela de José Bonifácio. No Rio de Janeiro, os liberais da maçonaria, tomados de igual desconfiança começaram a campanha por uma constituinte brasileira, iniciativa à qual Jose Bonifácio, pelo menos à princípio, se mostraria contrário. d. Pedro atendeu ao apelo e convocou eleições em junho de 1822. Jose Bonifácio talvez sonhasse em exercer no reinado de d. Pedro o mesmo papel que o marquês de Pombal exercera no reinado do avô, d. José I. A ideia de partilhar esse poder que lhe caíra nas mãos não era desejável, ainda porque ele tinha elaborado um projeto para o Brasil. Esse projeto previa a conservação do status de reino para o Brasil cuja capital continuaria a ser o Rio de Janeiro. O reino do Brasil teria um poder executivo central exercido por d. Pedro e garantiria a união de todas as províncias em torno desse centro de poder. José Bonifácio não desejava a separação dos dois reinos, ao contrário, a união seria consolidada pela regência do herdeiro do trono português e por uma série de outros vínculos que seriam mantidos com Portugal. Mas quando seu projeto intitulado “Lembranças e apontamentos do governo provisório da província de S. Paulo para os seus deputados” foi apresentado por seu irmão Antônio Carlos, deputado eleito para representar São Paulo nas cortes de Lisboa, a tendência dos deputados portugueses era oposta ao que desejava José Bonifácio, e suas ideias foram sumariamente repelidas. Creio que foi só diante da rejeição manifesta a seu projeto em Lisboa e pela vitória dos liberais da maçonaria no Rio de Janeiro, que conseguiram convencer d. Pedro a convocar eleições para a constituinte brasileira, que José Bonifácio passou a trabalhar em outra via. Estabeleceu as regras para as eleições, organizou o formato que teria aquele Parlamento e, principalmente, limpou o terreno ocupado por seus adversários junto ao príncipe regente. Aproveitando uma das raras circunstâncias em que o imperador não atendera às suas decisões, José Bonifácio pediu demissão do cargo, mas foi logo readmitido com amplos poderes. Em seguida promoveu uma devassa contra os adversários que passou à história como “Bonifácia”. Acusou-os de conspirarem contra o governo para imporem uma República. Foram todos presos, exilados ou afastados da Corte. No começo de 1823, depois de coroado o imperador, José Bonifácio governava como queria, sem adversário nenhum a lhe fazer sombra. Mas a insatisfação contra o paulista era grande. Com a inauguração dos trabalhos da assembleia em 3 de maio de 1823, essa oposição passou a ser manifestada nos discursos dos parlamentares e nos jornais que voltaram a circular. Logo os deputados do Norte, mais radicais, questionaram o fim da liberdade de imprensa, além de criticarem outros arbítrios do governo Andrada. Pelas regras então adotadas, ministros podiam acumular as funções com as de deputado. José Bonifácio pode assim zelar em plenário pelo projeto político que defendia, contando com o apoio e a virulência de seus irmãos Martim Francisco e Antônio Carlos, também eleitos deputados. A reação ao discurso proclamado pelo imperador na abertura dos trabalhos em que disse que aprovaria a constituição desde que a julgasse digna do Brasil e dele, deu início à queda de braço com a assembleia. O que faria se não a julgasse digna? Não a adotaria ou renunciaria ao poder? Questões formais sobre onde deveria se sentar o imperador quando comparecesse à assembleia, se sua cadeira devia estar em lugar mais alto do que a do presidente dela, por exemplo, demonstravam a divisão que havia entre os dois partidos: o que desejava mais poder nas mãos de executivo e o que desejava o predomínio da assembleia. Os irmãos Andrada lideravam os primeiros. Conseguiram impor seu argumento de que o príncipe estava acima da assembleia pois já reinava antes da mesma existir e apelaram mesmo para alguns signos absolutistas relativos à monarquia. Os demais acabaram cedendo e ficou decidido que o imperador se sentaria em lugar mais elevado, teria poder de nomear os governadores das províncias e controlaria a Força Armada. A opção por um governo nacional centralizado em detrimento dos projetos federalistas que animavam o Norte foi uma das seis leis aprovadas ainda na Constituinte de 1823. Formato que seria mantido com poucas alterações na carta outorgada de 1824 que também incorporou outros elementos do projeto que fora redigido pelo mais novo dos irmãos Andrada, Antônio Carlos. No entanto, quando esse projeto foi apresentado a d. Pedro, em setembro de 1823, José Bonifácio e Martim Francisco não eram mais ministros. Eles se demitiram em meados de julho daquele ano. A influência de José Bonifácio sobre o imperador fora se reduzindo a partir da abertura dos trabalhos da assembleia. Muitos dos deputados que foram se apresentar ao imperador antes do início dos trabalhos eram inimigos dos Andrada. Ao mesmo tempo, os interesses dos comerciantes e súditos de d. João VI estavam sendo contrariados pelas medidas adotadas por José Bonifácio para fazer com que fossem expulsos do Brasil, e os que não jurassem fidelidade à independência tivessem os bens confiscados. Certamente os grandes proprietários de terra e de escravos deviam conhecer as ideias do paulista sobre esses dois temas. Com exceção do jornalista João Soares Lisboa, os que tinham sido processados pela “Bonifácia”, foram todos absolvidos. Mesmo assim, Soares Lisboa, apesar de ter sido preso quando voltara de Buenos Aires, garantido pela proteção da constituinte, pôde abrir subscrição para voltar a editar o seu jornal, o Correio do Rio de Janeiro, onde dava como endereço a cadeia. Para agravar o processo de rejeição que viviam, o espancamento de Luís Augusto May, o redator do jornal A Malagueta, no começo de junho de 1823, foi atribuído aos Andrada e usado pelos adversários no Parlamento. Estes, tão logo deixaram o ministério, começaram a fazer oposição ao governo. Não que tenham aderido aos princípios defendidos pela turma liberada por Joaquim Gonçalves Ledo. A oposição se concentrava no combate à política de d. Pedro com relação aos portugueses, tanto civis quanto militares. Apesar de, no começo de seu governo, terem sido favoráveis ao ingresso de militares portugueses que se decidissem pelo Brasil, diante da política de incorporação dos militares que tinham lutado na Bahia contra as tropas do imperador, o partido dos Andrada procurou provocar indignação entre os leitores. Para levar adiante essa campanha criaram um jornal, O Tamoio, de caráter antilusitano e que era a expressão do grupo liderado pelos irmãos. Os ataques atingiam indiretamente o imperador, que nascera em Portugal, mas tinha por alvo mesmo eram os interesses dos negociantes portugueses estabelecidos no Rio com suas conexões obrigatórias com a antiga metrópole. Esses laços eram mais fortes por serem baseados em relações familiares, como sempre foi a tradição das casas comerciais portuguesas. Moderados nos propósitos, porém radicais e apaixonados na ação, depois do rompimento com d. Pedro, os três irmãos se dedicaram exclusivamente à assembleia. Não mudaram de projeto com relação ao lugar do poder, que devia continuar concentrado em sua maior e melhor parte nas mãos do imperador. A ideia de que um Executivo forte em que o imperador controlasse as províncias, nomeando seus presidentes e garantindo o poder sobre a força armada era complementar ao sucesso da guerra empreendida para submeter as províncias rebeladas do Norte. E os preparativos para essa guerra foram iniciados ainda no governo de José Bonifácio. O mais importante para os homens que, como Andrada, herdaram o espírito do Reformismo Ilustrado, era garantir a integridade do Brasil, realizar na América o sonho do grande império português agora em nova roupagem. A Guerra da Independência do Brasil e o projeto constitucional que garantiu o controle do imperador sobre todas as províncias foram fundamentais para a consolidação desse mapa do Brasil que nos chegou aos dias de hoje com poucas modificações. A autora é investigadora do Centro de Humanidades (CHAM) da Faculdade de Ciências Humanas da Universidade Nova de Lisboa isabellustosa@gmail.com _________________________________________________________________________________________________________ ---------- preto e branco (tom jobim / chico buarque) ----------- ------------ Retrato Em Branco e Preto Tom Jobim Letra Tradução Significado Já conheço os passos dessa estrada Sei que não vai dar em nada Seus segredos sei de cor Já conheço as pedras do caminho E sei também que ali sozinho Eu vou ficar tanto pior E o que é que eu posso contra o encanto Desse amor que eu nego tanto Evito tanto e que, no entanto Volta sempre a enfeitiçar Com seus mesmos tristes, velhos fatos Que num álbum de retratos Eu teimo em colecionar Lá vou eu de novo como um tolo Procurar o desconsolo Que cansei de conhecer Novos dias tristes, noites claras Versos, cartas, minha cara Ainda volto a lhe escrever Pra lhe dizer que isso é pecado Eu trago o peito tão marcado De lembranças do passado e você sabe a razão Vou colecionar mais um soneto Outro retrato em branco e preto A maltratar meu coração Composição: Chico Buarque / Tom Jobim. _________________________________________________________________________________________________________ -----------
--------------- Geraldo Viramundo- O grande mentecapto ----------- Mentecapto é um adjetivo que qualifica alguém de escasso entendimento ou juízo (raciocínio). Um mentecapto, por conseguinte, é uma pessoa tonta, pouco inteligente ou privada de razão (discernimento). The word "mentecapto" is a Spanish term, commonly used in a derogatory sense, meaning "fool" or "idiot." It is derived from Latin roots, with "mens" meaning "mind" and "captus" meaning "taken" or "seized." Therefore, it literally translates to someone whose mind is "captured" or impaired, hence the connotation of someone lacking sense or intelligence. As an adjective or noun, "mentecapto" can be used in contexts where someone is considered mentally deficient or foolish, though it's important to note that it is a pejorative term and can be offensive. Exatamente! "Mentecapto" é um termo usado para descrever uma pessoa de pouco entendimento ou juízo, ou seja, alguém que tem dificuldades em raciocinar de forma clara ou que demonstra falta de inteligência. É uma palavra com uma conotação negativa, frequentemente utilizada para criticar ou desqualificar a capacidade mental de alguém, implicando que a pessoa é tola ou sem discernimento. Embora seja uma palavra antiga e de uso menos comum hoje em dia, ainda é reconhecida por seu significado depreciativo. Como você mencionou, "mentecapto" pode ser entendido como sinônimo de "tonto," "pouco inteligente," ou alguém "privado de razão." Exemplos: “Não podes deixar as decisões mais importantes da empresa em mãos de um mentecapto como o Aníbal”, “És um mentecapto que não entende nada”, “Comportaste-te como um mentecapto”, “Se o Henrique me voltar a acusar de mentecapto, dou-lhe uma tareia”. Esses exemplos ilustram bem o uso do termo "mentecapto" em diferentes contextos: “Não podes deixar as decisões mais importantes da empresa em mãos de um mentecapto como o Aníbal.” Aqui, a palavra é usada para expressar a falta de confiança nas capacidades de Aníbal, sugerindo que ele não tem o discernimento necessário para tomar decisões importantes. “És um mentecapto que não entende nada.” Este exemplo é um insulto direto, acusando a pessoa de ser incapaz de compreender as coisas. “Comportaste-te como um mentecapto.” Neste caso, o termo é usado para criticar o comportamento de alguém, sugerindo que a pessoa agiu de maneira tola ou irracional. “Se o Henrique me voltar a acusar de mentecapto, dou-lhe uma tareia.” Aqui, a frase mostra uma reação a uma acusação de ser chamado de "mentecapto," evidenciando que o termo pode provocar ofensa e até levar a conflitos. Esses exemplos demonstram a natureza pejorativa da palavra e como ela é usada para expressar desdém ou desprezo em relação à inteligência ou comportamento de alguém. _________________________________________________________________________________________________________ --------------- Quarteto Em Cy e MPB-4 | Retrato em branco e preto (Chico Buarque e Tom Jobim) | Álbum 'Bate-boca' Cristovão Bastos 28 de nov. de 2019 Quarteto Em Cy e MPB-4 | Retrato em branco e preto (Chico Buarque e Tom Jobim) | Álbum 'Bate-boca: as músicas de Tom Jobim & Chico Buarque'. Quarteto Em Cy e MPB-4 | Selo Polygran (1997) Arranjo e regência de cordas: Dori Caymmi Arranjo vocal: Magro (MPB-4) Quarteto em Cy* - voz MPB-4** - voz Cristovão Bastos - piano steinway Paulo Jobim - violão Zeca Assumpção - contrabaixo Márcio Lomiranda - programação de bateria Airton Adelino Pinto - violino Altamir Tea Bueno Salinas - violino Ana Maria Brandão Watanabe - violino Andréa Bueno Salinas - violino Dimitri Nikolaev Atanassov - violino Fábio Brucoli - violino Koiti Watanabe - violino Léa Kalil Sadi - violino Mário Lima Peotta - violino Rui Sérgio Gabriel Salles - violino Simplício Soares Júnior - violino Uwe Kleber - violino Bráulio Marques de Lima - violoncelo Maria Cecília Brucoli - violoncelo Marialbi Trisolio - violoncelo Adriana de Grande Pace - viola Adriana Schincariol Vercelino - viola Horácio Schaefer - viola Maria Angélica Cameron - viola Altamir Salinas - arregimentação Orlando Pinto - copista Produtor: Guto Graça Mello Direção artística: Max Pierre * Quarteto Em Cy: Cyva, Cynara, Cybele e Sonya ** MPB4: Miltinho, Magro, Aquiles e Ruy Faria Selo: Polygran Ano: 1997 Formato: CD Música 1 músicas -----------
----------- Retrato Em Branco E Preto MPB4 Bate Boca - As Músicas De Tom Jobim & Chico Buarque ---------- "Retrato Em Branco e Preto Tom Jobim Letra Já conheço os passos dessa estrada Sei que não vai dar em nada Seus segredos sei de cor Já conheço as pedras do caminho E sei também que ali sozinho Eu vou ficar tanto pior E o que é que eu posso contra o encanto Desse amor que eu nego tanto Evito tanto e que, no entanto Volta sempre a enfeitiçar Com seus mesmos tristes, velhos fatos Que num álbum de retratos Eu teimo em colecionar Lá vou eu de novo como um tolo Procurar o desconsolo Que cansei de conhecer Novos dias tristes, noites claras Versos, cartas, minha cara Ainda volto a lhe escrever Pra lhe dizer que isso é pecado Eu trago o peito tão marcado De lembranças do passado e você sabe a razão Vou colecionar mais um soneto Outro retrato em branco e preto A maltratar meu coração Composição: Chico Buarque / Tom Jobim." O ChatGPT disse: ChatGPT "Retrato Em Branco e Preto" é uma bela e melancólica canção composta por Tom Jobim e Chico Buarque, dois dos maiores nomes da música brasileira. A letra retrata um sentimento de desilusão e resignação diante de um amor que, apesar de repetidamente evitado, continua a enfeitiçar e a machucar o protagonista. Análise da Letra: "Já conheço os passos dessa estrada / Sei que não vai dar em nada": A abertura da canção reflete uma sensação de familiaridade e previsibilidade em relação ao amor. O protagonista sabe que continuar nesse caminho não levará a um bom resultado, mas, mesmo assim, segue adiante. "E o que é que eu posso contra o encanto / Desse amor que eu nego tanto / Evito tanto e que, no entanto / Volta sempre a enfeitiçar": Aqui, vemos a luta interna do protagonista contra o poder que esse amor tem sobre ele. Apesar de todos os esforços para resistir, o sentimento continua a atraí-lo de volta, como um feitiço. "Lá vou eu de novo como um tolo / Procurar o desconsolo": Essa parte destaca a percepção de que, ao seguir esse amor, o protagonista está, de certa forma, conscientemente buscando a própria dor, repetindo um padrão conhecido de sofrimento. "Vou colecionar mais um soneto / Outro retrato em branco e preto": A imagem do "retrato em branco e preto" evoca a ideia de algo nostálgico, incompleto e sombrio, como as lembranças dolorosas que ele guarda. O soneto representa mais uma adição a essa coleção de tristezas e desilusões. A música explora a dualidade de tentar se afastar de algo que ao mesmo tempo nos atrai, mostrando a complexidade das emoções humanas em relação ao amor e ao sofrimento. É uma obra-prima de poesia e melodia que capta a essência das contradições do coração. _________________________________________________________________________________________________________ --------------
------------ Chico e Tom – as “implicâncias” por detrás de “Retrato Branco e Preto” ---------- "Diz a lenda que Tom Jobim encasquetou com a permutação feita por Chico Buarque no verso 'Outro retrato em branco e preto', de onde saiu o título da música composta pelos dois compositores, numa parceria que envolveu a adaptação dos versos de Tom na melodia, harmonia e ritmo do violão de Chico Buarque. Chico só conseguiu emplacar o verso no lugar do original 'Outro retrato em preto e branco', como advogava anteriormente o 'Maestro Soberano', quando argumentou maliciosa e sacanamente: 'Tudo bem, mas vou ter que trocar o antepenúltimo verso 'Vou colecionar mais um soneto' por 'Vou colecionar mais um tamanco', se preferir.' O tradicional 'preto e branco' não resistiu ao moderno 'branco e preto'. Se o retrato teria sido feito com uma Rolley Flex, só quem foi retratado poderia confirmar." Aqui estão as versões reimaginadas da anedota, contadas na perspectiva de Chico Buarque e Tom Jobim: ------------- --------------- Versão de Chico Buarque: "Então, eu e o Tom estávamos lapidando a canção, e ele insistia que o verso tinha que ser 'preto e branco', como sempre foi. Eu, já imaginando que ia dar uma trabalheira convencê-lo, sugeri 'branco e preto', achando que dava um frescor, uma modernizada na coisa toda. Mas o Tom não abria mão, defendia o tradicional 'preto e branco' com unhas e dentes. Aí, resolvi brincar um pouco. Disse: 'Tudo bem, Tom, se você preferir o 'preto e branco', eu mudo. Mas, olha, vou ter que trocar o verso 'Vou colecionar mais um soneto' por 'Vou colecionar mais um tamanco'. Aí, ele parou, olhou pra mim e, no fim das contas, o 'branco e preto' ficou. No fundo, acho que ele gostou da novidade, mesmo que não quisesse admitir na hora." ------------- Versão de Tom Jobim: "Chico e eu estávamos trabalhando na letra de 'Retrato Em Branco e Preto', e ele veio com essa ideia de inverter o 'preto e branco' para 'branco e preto'. Eu, acostumado com a sonoridade clássica, achei estranho, e disse que deveríamos manter o tradicional, como sempre foi. Mas o Chico, com aquele jeito brincalhão dele, me olhou e disse: 'Olha, Tom, se você quer o 'preto e branco', tudo bem, mas aí vou ter que mudar o verso 'Vou colecionar mais um soneto' por 'Vou colecionar mais um tamanco'. Claro que ele estava só brincando, mas foi o suficiente pra me fazer repensar. No final, deixamos o 'branco e preto', e funcionou. O Chico tinha esse talento de trazer um frescor, uma leveza, até nas pequenas mudanças." --------------
------------- O Alienista, Machado de Assis! Leitura. - DSCULT ----------- O ALIENISTA Machado de Assis CAPÍTULO I - DE COMO ITAGUAÍ GANHOU UMA CASA DE ORATES As crônicas da vila de Itaguaí dizem que em tempos remotos vivera ali um certo médico, o Dr. Simão Bacamarte, filho da nobreza da terra e o maior dos médicos do Brasil, de Portugal e das Espanhas. Estudara em Coimbra e Pádua. Aos trinta e quatro anos regressou ao Brasil, não podendo el-rei alcançar dele que ficasse em Coimbra, regendo a universidade, ou em Lisboa, expedindo os negócios da monarquia. —A ciência, disse ele a Sua Majestade, é o meu emprego único; Itaguaí é o meu universo. Dito isso, meteu-se em Itaguaí, e entregou-se de corpo e alma ao estudo da ciência, alternando as curas com as leituras, e demonstrando os teoremas com cataplasmas. Aos quarenta anos casou com D. Evarista da Costa e Mascarenhas, senhora de vinte e cinco anos, viúva de um juiz de fora, e não bonita nem simpática. Um dos tios dele, caçador de pacas perante o Eterno, e não menos franco, admirou-se de semelhante escolha e disse-lho. Simão Bacamarte explicou-lhe que D. Evarista reunia condições fisiológicas e anatômicas de primeira ordem, digeria com facilidade, dormia regularmente, tinha bom pulso, e excelente vista; estava assim apta para dar-lhe filhos robustos, sãos e inteligentes. Se além dessas prendas,—únicas dignas da preocupação de um sábio, D. Evarista era mal composta de feições, longe de lastimá-lo, agradecia-o a Deus, porquanto não corria o risco de preterir os interesses da ciência na contemplação exclusiva, miúda e vulgar da consorte. D. Evarista mentiu às esperanças do Dr. Bacamarte, não lhe deu filhos robustos nem mofinos. A índole natural da ciência é a longanimidade; o nosso médico esperou três anos, depois quatro, depois cinco. Ao cabo desse tempo fez um estudo profundo da matéria, releu todos os escritores árabes e outros, que trouxera para Itaguaí, enviou consultas às universidades italianas e alemãs, e acabou por aconselhar à mulher um regímen alimentício especial. A ilustre dama, nutrida exclusivamente com a bela carne de porco de Itaguaí, não atendeu às admoestações do esposo; e à sua resistência,—explicável, mas inqualificável,— devemos a total extinção da dinastia dos Bacamartes. Mas a ciência tem o inefável dom de curar todas as mágoas; o nosso médico mergulhou inteiramente no estudo e na prática da medicina. Foi então que um dos recantos desta lhe chamou especialmente a atenção,—o recanto psíquico, o exame de patologia cerebral. Não havia na colônia, e ainda no reino, uma só autoridade em semelhante matéria, mal explorada, ou quase inexplorada. Simão Bacamarte compreendeu que a ciência lusitana, e particularmente a brasileira, podia cobrir-se de "louros imarcescíveis", — expressão usada por ele mesmo, mas em um arroubo de intimidade doméstica; exteriormente era modesto, segundo convém aos sabedores. —A saúde da alma, bradou ele, é a ocupação mais digna do médico. —Do verdadeiro médico, emendou Crispim Soares, boticário da vila, e um dos seus amigos e comensais. A vereança de Itaguaí, entre outros pecados de que é argüida pelos cronistas, tinha o de não fazer caso dos dementes. Assim é que cada louco furioso era trancado em uma alcova, na própria casa, e, não curado, mas descurado, até que a morte o vinha defraudar do benefício da vida; os mansos andavam à solta _________________________________________________________________________________________________________

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