Inspirados já nos ensinamentos de Sófocles, aqui, procurar-se-á a conexão, pelo conhecimento, entre o velho e o novo, com seus conflitos. As pistas perseguidas, de modos específicos, continuarão a ser aquelas pavimentadas pelo grego do período clássico (séculos VI e V a.C).
segunda-feira, 19 de agosto de 2024
"RESPIRA-SE PÓ"
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O Dia Ensolarado
"Zonnige dag"
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A Noite Estrelada
De sterrennacht
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Vincent
Ellie Goulding
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O Paço Imperial nos dias atuais
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Cenários Cariocas - Os Canários Saem da Muda em Tempos Eleitorais
Por Machado de Assis, ressuscitado
Respira-se pó na paz, diria eu, observando a atual conjuntura política do Rio de Janeiro. Entre a poeira das promessas eleitorais e os resquícios de velhas práticas, Eduardo Paes e Cláudio Castro encenam um drama digno das melhores tragédias gregas. No Paço Municipal, Paes lança olhares desconfiados em direção ao Palácio das Laranjeiras, onde Castro sente o peso de uma herança carregada de expectativas e desilusões.
Os debates de TV, como menciona Gabeira, tornaram-se apenas matéria-prima. O que realmente importa são os recortes que se espalham pelas redes sociais, transformando discursos complexos em memes simplificados. A política, assim como as artes, adaptou-se a um ritmo frenético e superficial, onde o contexto é frequentemente sacrificado em favor dos fragmentos que viralizam.
Lembro-me dos tempos de transição da Monarquia para a República, quando uma quartelada despachou a família real para a Europa, sem discriminar sequer o jovem neto de Dom Pedro II. Os novos donos do poder, na sua ânsia de inclusão pela exclusão, levaram o país a consequências drásticas. Hoje, a política fluminense nos apresenta um espetáculo semelhante: governadores são rapidamente transportados dos palácios às "salas de estado maior", versões modernas dos antigos calabouços.
A ironia é um recurso indispensável para entender essa sina maldita da política fluminense. A paz que Gilberto Gil canta em sua canção é um ideal que nos escapa, um mar de revolução que invade nosso destino, mas que não traz a serenidade prometida. Em vez disso, vivemos em um constante estado de expectativa e inquietação, respirando a poeira das promessas não cumpridas e dos escândalos políticos.
Paes, no Paço Municipal, murmura: "Com Castro não haverá mais paz". Castro, no Palácio das Laranjeiras, resignado, responde: "Sem Fidel, só restará Cláudio mesmo". Assim, entre desconfianças e disputas, seguimos respirando o pó das velhas práticas políticas. A estrada chegou ao fim, e na beira do cais, contemplamos o fim da tarde lilás, onde o mar arrebenta em nós, trazendo o lamento de tantos "ais".
Os canários saem da muda em tempos eleitorais, cantando melodias que não nos trazem conforto. A política fluminense, com seu jeitinho brasileiro, continua a respeitar o princípio da separação dos poderes, mas nunca sem antes nos brindar com um espetáculo de ironias e desilusões.
Que um dia, a paz invada verdadeiramente nossos corações e nos permita respirar um ar limpo, livre do pó das intrigas e das disputas. Até lá, seguimos observando, ironizando e, quem sabe, esperando por um milagre.
Machado de Assis, ressuscitado, com a licença poética de quem observa o ontem e o hoje, e vê nos dois apenas reflexos de uma mesma tragicomédia.
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A PAZ - Gilberto Gil
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"Havia então três caminhos (bem diferente do que é hoje): ou direito, ou engenharia ou medicina. Nenhum deles me impressionava."
14 de julho de 1960
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14 ANOS - Paulinho da Viola & Elton Medeiros
Kuarup Produtora
30,6 mil inscritos
10 de set. de 2018
Música: 14 Anos
Artistas: Paulinho da Viola & Elton Medeiros
Álbum: Samba na Madrugada
Ano do lançamento: 1968
Kuarup:
http://www.kuarup.com.br/
Música
1 músicas
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14 Anos - PAULINHO DA VIOLA E ELTON MEDEIROS
PAULINHO DA VIOLA E ELTON MEDEIROS
Samba Na Madrugada
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Latas de sopa Campbell (cuyo título original en inglés es Campbell’s Soup Cans), también conocida como 32 latas de sopa Campbell, es una obra de arte producida en 1962 por el artista
estadounidense Andy Warhol.
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anais da micro-história
“Respira-se pó”
O tumulto e a esperança com o nascimento de Brasília nas cartas de um de seus primeiros habitantes
José Augusto Guerra (1926-82) | Edição 215, Agosto 2024
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O tumulto e a esperança com o nascimento de Brasília nas cartas de um de seus primeiros habitantes
JOSÉ AUGUSTO GUERRA
Foi de um apartamento ainda empoeirado de obra no segundo andar do então recém-construído Bloco K, na Superquadra 106 da Asa Sul, que José Augusto Guerra escreveu as cartas a seguir. Nascido em Maceió em 1926, ele exerceu diversas profissões ao longo da vida – entre elas jornalista, crítico e professor universitário. No início de 1960, atuava como funcionário da Câmara dos Deputados no Rio de Janeiro. Brasília nem havia completado dois meses e meio de sua inauguração quando, em meados daquele ano, ele e outras centenas de funcionários públicos federais foram transferidos à nova capital numa realocação coletiva apelidada de Operação Mudança, organizada pelo deputado maranhense Neiva Moreira.
A destinatária das cartas era Rildacy, esposa de José Augusto. Enquanto esperava Brasília se tornar habitável, ela se mudou temporariamente para o Recife com os dois filhos pequenos – Euclides Augusto (apelidado de Kido), na época com 1 ano, e Ana, com 3. De lá, recebia informações do marido sobre o funcionamento e evolução de estruturas básicas da nova capital. Numa mistura de esperança pelo futuro de Brasília e exasperação ocasional com as dificuldades práticas de viver numa cidade que mal nasceu, Guerra discorria sobre supermercados, escolas, calçadas, mas também sobre o momento político do país e sobre a vida conjugal dos dois, em apaixonadas...
https://piaui.folha.uol.com.br/materia/o-nascimento-de-brasilia-nas-cartas-de-um-de-seus-primeiros-habitantes/
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Narrativas
A Brasília “de Poeira e de Esperança”: Cartas de uma Capital em Construção
Por Anita Rivera Guerra
em 27/09/2023
https://arquivosabertoscidades.la/a-brasilia-de-poeira-e-de-esperanca-cartas-de-uma-capital-em-construcao/
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Palácio das Laranjeiras
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Cenários Cariocas - Os Canários Saem da Muda em Tempos Eleitorais
Por Machado de Assis, ressuscitado
No Paço Municipal, um ventinho inquieto sopra entre os corredores, onde Eduardo Paes lança olhares desconfiados para o Palácio das Laranjeiras. No trono estadual, Cláudio Castro espreita, com a sensação de que, sem Fidel, apenas o nome permanece relevante. Ah, a política fluminense! Um espetáculo tragicômico que rivaliza com as melhores obras de nosso teatro nacional.
A paz, tão efêmera quanto uma canção de Gilberto Gil, invade nossos corações e, de repente, evapora como uma promessa eleitoral. O vento de um tufão arranca nossos pés do chão, mas, ao contrário de Gil, não nos deixa em paz. Ao invés disso, nos deixa na expectativa, na angústia de saber se nossos líderes serão os próximos a trocar o Palácio pelo calabouço pós-moderno.
Em tempos de transição, como a passagem da Monarquia para a República, assistimos a uma quartelada que defenestrou para a Europa a família real, sem discriminar sequer o neto do Imperador Pedro II. Os novos donos do poder, em sua ânsia de inclusão pela exclusão, levaram o país a consequências drásticas. Agora, observamos um cenário similar, onde os governadores fluminenses mal saem do Palácio antes de serem conduzidos às "salas de estado maior", uma versão moderna dos calabouços de outrora.
A ironia, meu fiel companheiro, é o tempero essencial para entender essa sina maldita da política fluminense. A paz que Gil canta é a mesma que nos é negada, um mar de revolução que invade nosso destino, mas não traz a serenidade prometida. Ao contrário, traz o tumulto de uma grande explosão, uma bomba que, ao invés de criar um Japão da paz, gera um Rio de Janeiro da incerteza.
No Paço Municipal, Paes olha para Castro e murmura: "Com Castro, não haverá mais paz". No Palácio das Laranjeiras, Castro responde: "Sem Fidel, só restará Cláudio mesmo". Dois americanos intranquilos, um no coração da cidade, o outro onde sopram os coqueirais, ambos jogados no tabuleiro de um jogo que não parece ter fim.
A estrada chegou ao fim e, na beira do cais, contemplamos o fim da tarde lilás. O mar arrebenta em nós, trazendo o lamento de tantos "ais". A paz nos invade, apenas para ser arrancada de nossos corações novamente. Pensamos em nós, choramos por nós, numa contradição onde só a guerra faz nosso amor em paz.
E assim seguimos, num ciclo eterno de promessas e desilusões, onde os canários saem da muda em tempos eleitorais, cantando as mesmas melodias de sempre. A política fluminense, com seu jeitinho brasileiro, respeita constitucionalmente o princípio da separação dos poderes e das forças, mas nunca sem antes nos brindar com um espetáculo digno dos melhores cronistas.
A paz, ah, a paz! Que um dia invada verdadeiramente nossos corações e nos deixe, finalmente, em paz.
Machado de Assis, ressuscitado, com a licença poética de quem observa o ontem e o hoje, e vê nos dois apenas reflexos de uma mesma tragicomédia.
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segunda-feira, 19 de agosto de 2024
Jan-Werner Mueller* - O verão perdido do populismo
Valor Econômico
Os populistas de extrema direita que dizem falar pela maioria silenciosa, na verdade, representam uma minoria ruidosa
Volte um pouco no tempo, para o fim de junho e início de julho. Na França, a extrema direita era favorita para ganhar uma eleição parlamentar antecipada. Nos Estados Unidos, juízes trumpistas vinham resolvendo convenientemente os problemas jurídicos do ex-presidente, que parecia planar rumo à vitória após o desempenho desastroso do presidente do país, Joe Biden, no debate eleitoral. E, no Reino Unido, embora os trabalhistas estivessem chegando ao governo, um novo partido contra a imigração comandado por Nigel Farage, o chefe da turma do Brexit, havia obtido avanços sem precedentes. Diante de tudo isso, especialistas advertiam que uma onda de raiva populista contrária aos políticos no poder estava varrendo as democracias do mundo.
Desde então, novas fontes de esperança política devem ter atenuado a perspectiva sombria dos comentaristas. Não só há poucas evidências de uma “onda populista” - uma metáfora que evoca imagens de partidos de extrema direita inevitavelmente chegando ao poder em muitos países -, mas a experiência recente indica que existem estratégias viáveis para combater essas forças.
Uma lição dos últimos meses pode soar como um truísmo: todos os partidos que valorizam a democracia precisam se unir para enfrentar ameaças antidemocráticas. Foi o que ocorreu na França, para surpresa de muitos especialistas. Partidos de esquerda formaram a Nova Frente Popular, evocando memórias da luta contra o fascismo nos anos 1930, quando o líder socialista Léon Blum liderou uma coalizão de comunistas, socialistas e liberais para defender a república.
Após a surpreendente decisão do presidente Emmanuel Macron de dissolver a Assembleia Nacional, a esquerda foi criativa, enquanto o Reunião Nacional, de extrema direita, liderado por Marine Le Pen, foi pego de surpresa. Ainda mais importante, porém, foi o fato de a Nova Frente Popular não ter feito apenas um apelo a valores democráticos abstratos; também chamou repetidamente a atenção para os planos pró-empresas da extrema direita, deixando claro que o Reunião Nacional não é o partido pró-trabalhador que reivindica ser.
Uma segunda lição vem dos Estados Unidos, onde poucos previram o entusiasmo e a efusão de alegria que saudariam a nova chapa democrata. A vice-presidente Kamala Harris, um nome do atual governo, se apresentou de forma magistral como uma representante da mudança, em contraste tanto com o ex-presidente Donald Trump quanto com o atual presidente, Biden. Sua escolha para vice-presidente, o governador de Minnesota, Tim Walz, deliciou muita gente ao caracterizar o par republicano e, particularmente, o vice de Trump, J. D. Vance, como “esquisito”. Parece que, enfim, os democratas estão jogando com tipo de retórica agressiva que a direita sempre usou.
Claro, centristas autoproclamados que pregam um discurso civil não estão tão satisfeitos assim. Eles recordam aos democratas que os comentários de Hillary Clinton sobre os “deploráveis” voltaram para assombrar a campanha dela em 2016. Ainda assim, condenar o rótulo de “esquisito” como um insulto infantil foge da questão principal. Na luta contra o populismo de extrema direita, esse epíteto em particular pode ser especialmente eficaz.
Afinal, ao dizer que falam em nome dos “verdadeiros cidadãos” ou da “maioria silenciosa”, os populistas de extrema direita se apresentam como os representantes da normalidade. Na Alemanha, um dos lemas do partido de extrema direita Alternativa para a Alemanha é: “Deutschland, aber normal” (em alemão, Alemanha, mas normal. A suposta base dos populistas inclui o que sempre é apresentado como “pessoas comuns”, que são ameaçadas por elites nefastas e pelos perigosos “Outros”. É assim que os populistas incitam o medo em relação a minorias já vulneráveis, sejam refugiados ou pessoas transgênero.
Os antipopulistas mais antenados devem concentrar seu fogo retórico nos líderes populistas, e não nos apoiadores deles. Vance é “esquisito” porque está obcecado em controlar o corpo das mulheres e em punir quem não tem filhos, e porque ele parece ter simpatia por monarquistas e outras figuras da chamada “alt-right”, a direita alternativa. O Partido Republicano hoje defende muitas posições que estão totalmente fora de sintonia com as tradições políticas dos EUA; a admiração aberta por autocratas é um exemplo óbvio.
Partidos de extrema direita estão se tornando normalizados porque mais políticos de centro-direita copiam sua retórica ou fazem coalizões com eles. Uma postura de defesa da democracia é necessária, mas não suficiente; é preciso oferecer também uma visão positiva
É possível dar destaque a tudo isso sem sugerir que os eleitores republicanos são esquisitos. A questão é contestar a reivindicação de normalidade por parte de líderes que são tudo menos normais.
Os populistas de extrema direita que dizem falar pela maioria silenciosa, na verdade, representam uma minoria ruidosa. Não há nada de errado nisso por si só; muitos movimentos progressistas começaram da mesma maneira. No entanto, movimentos que fingem falar pela maioria enquanto demonizam todos os demais representam uma ameaça à democracia. Não é por acaso que, quando perdem nas urnas, muitos populistas recorrem a acusações de fraude. Como supostamente representam a maioria silenciosa, uma derrota eleitoral só pode ser atribuída a um jogo sujo, em geral das “elites liberais” que, supostamente, de alguma forma silenciaram a maioria.
Os antipopulistas deveriam reconhecer que as maiorias não apoiam, de fato, as forças populistas de extrema direita. As primeiras semanas do novo governo do Partido Trabalhista no poder no Reino Unido confirmaram essa percepção salutar. O país viveu seus piores distúrbios em mais de dez anos, diante de desinformações que alimentaram a violência racista. Embora tomando o cuidado de não endossar diretamente a violência, Farage tentou fazer parecer como se os manifestantes tivessem reivindicações legítimas, compartilhadas pela maioria silenciosa. As pesquisas de opinião pública, contudo, mostram que apenas um em cada três britânicos apoia os protestos anti-imigração de forma geral, enquanto a oposição aos distúrbios é esmagadora.
Enquanto a extrema direita reivindica falsamente um monopólio sobre a normalidade, a verdade é que os partidos de extrema direita estão se tornando normalizados porque mais políticos de centro-direita copiam sua retórica ou fazem coalizões com eles. Uma postura com foco na defesa da democracia é necessária, mas não suficiente, para enfrentar essa tendência; é preciso oferecer também uma visão positiva. Foi isso que a esquerda francesa e o Partido Trabalhista do Reino Unido fizeram neste verão europeu.
Aqueles que fazem campanha para Kamala serão questionados sobre o que ela realmente defende, além de ser uma alternativa à esquisitice de Trump e Vance. É um questionamento legítimo, e para o qual os antipopulistas precisam ter uma boa resposta. (Tradução de Sabino Ahumada)
*Jan-Werner Mueller é professor de ciências políticas na Universidade de Princeton. Seu livro mais recente é "Democracy Rules" (regras da democracia, em inglês), pela Farrar, Straus and Giroux, 2021 e pela Allen Lane, 2021.
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segunda-feira, 19 de agosto de 2024
Fernando Gabeira - Um mundo novo para as eleições
O Globo
Os debates de TV são apenas matéria-prima. O que vale são os recortes que os candidatos lançam nas redes sociais
Meu companheiro de viagem apareceu cedo aqui em casa.
— Subimos esta semana para Roraima?
Ele precisa de resposta. Sua tarefa é comprar pilhas, checar o áudio, renovar os cartões do drone. A minha é carregar as baterias das câmeras, limpar lentes, separar tripé, deixar tudo pronto para mais uma jornada.
— Não subimos ainda. Há essa história do Irã. A qualquer momento, podem atacar. E isso vai tomar o programa de domingo.
— Que azar — disse ele.
— Dê graças a Deus. Mataram apenas o líder do Hamas. Alckmin estava lá na posse do novo presidente. Se algo acontecesse com ele, passaríamos semanas falando só disso.
De fato, temos muito o que agradecer. Ainda temos de vez em quando a chance de fazer algo. As revistas fecharam, todos os grandes fotógrafos do mundo perdem espaço, é sombrio o futuro da reportagem.
E quer saber de uma coisa? Os próprios espectadores mudam. Não se tem mais tempo para uma só história. A atenção muda com a rapidez de um raio.
Se você me pergunta qual a saída, digo que não a tenho. Precisaria de tempo e dinheiro para pesquisá-la. Uma experiência do século passado, o documentário “Edvard Munch”, de Peter Watkins, seria o ponto de partida. Ele combina bem fatos com trechos de ficção.
Mas, ainda assim, seria preciso encontrar um ritmo apropriado à nossa época. Está tudo em movimento, e creio que vou tirar férias apenas para pesquisar. O discurso político foi substituído por memes. Eles acabam sendo a mensagem que domina as redes. Os debates de TV são apenas matéria-prima. O que vale são os recortes que os candidatos lançam nas redes sociais. O contexto foi para o espaço, contam apenas os fragmentos.
— Tudo bem — diz o amigo. — Mas vamos subir quando?
— Não sei. Em breve esquecerão a Venezuela. Há a saída em massa. Nosso amigo do botequim de Pacaraima pode nos dar um quadro. Afinal, na rodoviária de Pacaraima se tem uma boa visão do movimento.
— Poderíamos subir pelos ianomâmis, Raposa Serra do Sol, Essequibo, quem sabe?
— Tudo vago. As mortes ianomâmis foram naturalizadas. Raposa Serra do Sol é apenas um nome, sonoro como Uiramutã, mas apenas um nome. E Essequibo, passadas as eleições, talvez saia dos planos de Maduro.
No entanto é preciso filmar. Tenho os gatos, as ruas de Ipanema, mas isso é apenas treino. Quem sabe uma história em Paquetá, aquela da aposta que ameaça a carreira de um craque brasileiro na Inglaterra? Quem sabe, quem sabe? O mundo está mudado. É preciso trocar o pneu com a bicicleta andando. Ideias não faltam, mas sim a metamorfose.
— Na prática, então, vamos esperar o Irã? Subimos em seguida?
Sim, nesta semana vou apenas sonhar que visito com uma câmera bem leve o hospício onde Van Gogh se internou em Saint-Rémy-de-Provence. É um lugar com lindas flores, onde ele pintou “Noite estrelada”. Apenas imagens e a música dedicada a ele: Agora compreendo o que você tentou dizer para mim/Como você sofreu pela sua sanidade/Como tentou libertá-los. As lindas flores ainda são a melhor forma de resistir às mudanças que praticamente varreram tudo: o espaço de trabalho, a forma de comunicar, os veículos, o discurso.
Às vezes, quando encaro um debate político, como o de São Paulo, lembro-me de um amigo de Minas que costumava dizer diante de situações complexas: vai nascer uma iguana. Quantas iguanas não nascerão desse novo paradigma?
Cedo ou tarde, vamos subir e encontrar na fronteira os que fogem do horror. Mas como remover as montanhas da indiferença? Uma nova língua é o desafio, apesar do pouco tempo do mundo para inventá-la.
Quando jovem, Alberto Dines me designou editor dos Cadernos de Jornalismo, uma apanhado teórico para orientar mudanças. Querido, peço licença para retomar o trabalho, em outros e estranhos tempos.
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Vincent
Don McLean
Letra
Tradução
Significado
Vincent
Vincent
Estrelada, noite estrelada
Starry, starry night
Pinte sua paleta de azul e cinza
Paint your palette blue and grey
Olhe os dias de verão lá fora
Look out on a summer's day
Com olhos que conhecem a escuridão da minha alma
With eyes that know the darkness in my soul
Sombras nas colinas
Shadows on the hills
Desenhe as árvores e narcisos
Sketch the trees and the daffodils
Sinta a brisa e os arrepios do inverno
Catch the breeze and the winter chills
Nas cores da terra coberta pela neve
In colors on the snowy linen land
Agora eu entendo
Now I understand
O que você tentou me dizer
What you tried to say to me
E como você sofreu por sua sanidade
And how you suffered for your sanity
E como você tentou libertá-los
And how you tried to set them free
Eles não te ouviam, eles não sabiam como
They would not listen, they did not know how
Talvez agora eles te ouçam
Perhaps they'll listen now
Estrelada, noite estrelada
Starry, starry night
Flores flamejantes que brilham em chamas
Flaming flowers that brightly blaze
Nuvens girando na neblina roxa
Swirling clouds in a violet haze
Refletem nos olhos azuis de Vincent
Reflect in vincent's eyes of china blue
Cores mudando de tom
Colors changing hue
O amanhecer nos campos de grãos âmbar
Morning fields of amber grain
Rostos cansados e marcados pela dor
Weathered faces lined in pain
São suavizados pelas mãos carinhosas do artista
Are soothed beneath the artist's loving hand
Agora eu entendo
Now I understand
O que você tentou me dizer
What you tried to say to me
E como você sofreu por sua sanidade
And how you suffered for your sanity
E como você tentou libertá-los
And how you tried to set them free
Eles não te ouviam, eles não sabiam como
They would not listen, they did not know how
Talvez agora eles te ouçam
Perhaps they'll listen now
Pois eles não conseguiam te amar
For they could not love you
Mas mesmo assim seu amor era verdadeiro
But still your love was true
E quando não parecia haver esperança
And when no hope was left in sight
Naquela noite estrelada
On that starry, starry night
Você tirou sua vida, como os amantes costumam fazer
You took your life, as lovers often do
Mas eu poderia ter dito à você, Vincent
But I could've told you, vincent
Esse mundo não foi feito para alguém maravilhoso como você
This world was never meant for one as beautiful as you
Estrelada, noite estrelada
Starry, starry night
Retratos pendurados em salas vazias
Portraits hung in empty halls
Cabeças sem porta-retratos em paredes sem nomes
Frameless heads on nameless walls
Com olhos que observam o mundo e não se esquecem
With eyes that watch the world and can't forget
Como os estranhos que você conheceu
Like the strangers that you've met
Os homens arrasados com roupas esfarrapadas
The ragged men in ragged clothes
O espinho prateado de uma rosa sangrenta
The silver thorn on the bloody rose
Esmagado e quebrado na neve virgem
Lie crushed and broken on the virgin snow
Agora eu acho que entendo
Now I think I know
O que você tentou me dizer
What you tried to say to me
E como você sofreu por sua sanidade
And how you suffered for your sanity
E como você tentou libertá-los
And how you tried to set them free
Eles não te ouviam, e ainda não te ouvem
They would not listen, they're not listening still
Talvez nunca ouçam
Perhaps they never will
Composição: Don McLean.
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