terça-feira, 12 de março de 2024

TRADUÇÃO

O caminho além da sina, a nova sina. ------------- -------------- Djavan - Sina (Áudio Oficial) -------------- Nas vielas do tempo, se entrelaçam As tramas do destino em sinuoso curso, Onde promessas vãs, em vão, se desfazem, E a verdade se esconde em obscuro discurso. Entre nomes e letras, segredos se enlaçam, Em anagramas que revelam o verso adverso. Na dança das palavras, se descortina O caminho além da sina, a nova sina. Não Tem Tradução Noel Rosa -------------- O cinema falado é o grande culpado da transformação Dessa gente que pensa que um barracão prende mais que o xadrez Lá no morro, se eu fizer uma falseta A Risoleta desiste logo do francês e do Inglês A gíria que o nosso morro criou Bem cedo a cidade aceitou e usou Mais tarde o malandro deixou de sambar, dando pinote Na gafieira dançando o Fox-Trote Essa gente hoje em dia que tem a mania da exibição Não entende que o samba não tem tradução no idioma francês Tudo aquilo que o malandro pronuncia Com voz macia é brasileiro, já passou de português Amor lá no morro é amor pra chuchu A gíria do samba não tem I love you E esse negócio de alô, alô boy e alô Johnny Só pode ser conversa de telefone.. Composição: Noel Rosa. ___________________________________________________________________________________ -------------
-------------- O texto de Paulo Fábio Dantas Neto aborda a complexa relação entre prudência e voluntarismo na política moderna e contemporânea, com foco especial na "questão" militar. Aqui está um resumo do texto e sua análise: Resumo: O autor explora a ambiguidade da prudência na política, destacando como ela pode ser usada para justificar ações politicamente motivadas, mesmo que não sejam moralmente aceitáveis. Ele argumenta que a prudência política verdadeira deriva de um saber prático que busca escolher meios adequados para fins que nunca são absolutos, destacando a importância da preservação de um mundo comum e regras desapegadas dos fins individuais. O texto examina exemplos históricos e contemporâneos de prudência e voluntarismo na política brasileira, incluindo a transição democrática, o governo de Fernando Henrique Cardoso e os desafios enfrentados pelo governo de Lula. O autor destaca a importância de reconhecer e enfrentar os voluntarismos políticos dissimulados que podem minar a prudência política e prejudicar a democracia. Análise: O texto oferece uma análise perspicaz da dinâmica política brasileira, destacando como a prudência política é muitas vezes subestimada ou ignorada em favor do voluntarismo político. Ele destaca a importância de distinguir entre prudência verdadeira e voluntarismo disfarçado, especialmente em momentos de crise política. O autor faz um apelo à reconstrução de um consenso conciliador na política brasileira, alertando contra os perigos do voluntarismo político que podem minar os fundamentos democráticos. Ao examinar a "questão" militar, o texto destaca a necessidade de uma abordagem prudencial para lidar com os desafios enfrentados pelas forças armadas, evitando tanto a excessiva complacência quanto a repressão excessiva. No geral, o texto de Paulo Fábio Dantas Neto oferece uma análise perspicaz e provocativa da política brasileira, destacando a importância da prudência política e os perigos do voluntarismo político em tempos de crise e transição. _________________________________________________________________________________________________________ -----------
------------ Paulo Fábio Dantas Neto* - Prudência, voluntarismos e a “questão” militar Nos contextos da política moderna e contemporânea a noção de prudência assumiu, assume, ou pode assumir significados os mais diversos, até mesmo para disfarçar flertes com a noção oposta de voluntarismo. Geralmente celebrada como habilidade para escolher meios adequados a determinados fins, a prudência, como um bom senso racional, pode ser alegada, inclusive, como atributo de condutas destituídas de boa vontade. É quando a vontade política tenta agir como soberana, politizando tudo. Se a ação quer prevenir o agente e/ou seus supostos beneficiários contra efeitos de ações “dos outros”, pode ganhar, levianamente, a qualificação de prudente, ainda que dos conflitos potencializados por essa racionalidade autocentrada advenha a dilaceração do mundo comum, sem o qual toda razão cambaleia. Perde-se aí o sentido original da prudência política como qualidade do agir, derivada de um saber prático capaz de escolher meios adequados a fins que nunca são absolutos, primeiro porque sua validade é sempre discutível em sociedades onde a pluralidade é fato; segundo, porque os movimentos que a mesma pluralidade legitima e estimula pressupõem compromisso das partes com a conservação de um mundo comum, onde valem regras e procedimentos desapegados dos vários fins de cada agir. A confusão não é pouca. Sente-se no ar tanto a escassez gritante desse saber prático, quanto a indiferença para com esse déficit, decorrente da percepção resignada de que um saber virtuoso seria impotente e inócuo no mundo político real. Gradativamente a ideia de prudência política sucumbe e confunde-se com um pragmatismo escravo de vontades de uma realeza que fabrica fatos. Elites políticas são canceladas em favor de mitos-guia e partidos viram times. Alega-se, num “positivismo” tosco, que se trata de nova configuração da política. O que é mesmo novo nessa evidente regressão? Desde que se tornou estado nacional o Brasil é um rico laboratório para estudo dessa universal e secular contenda entre a prudência que racionaliza a vontade e a vontade que desconsidera a prudência. Diferente do que um raciocínio raso pode concluir, não é uma contenda entre amantes da conservação e da mudança, entre direita e esquerda. Como sabemos, há modos prudentes e voluntaristas de defender ou criticar uma ordem política, resultando em diferentes modos de ser direita ou esquerda. Atitudes políticas reacionárias e revolucionárias são exacerbações equivalentes de voluntarismo, simétricos opostos que entram em evidente contraste com qualquer atitude moderada. Contudo, os extremismos não são os únicos filhotes do voluntarismo. Se são os mais imediatamente perigosos quando, apesar de caricatos, adquirem base social (como ocorreu no Brasil com a emergência do bolsonarismo), combatê-los é menos complexo do que localizar voluntarismos políticos dissimulados e alertar contra os riscos de sua imprudência, porque esses não ousam dizer seu nome e até condenam os extremismos. Os disfarces servem-se de crenças arraigadas na cultura política para apresentarem-se como praticantes realistas de um ceticismo distópico que deslegitima toda política prudencial, de vocação estratégica, como um passeio nas nuvens. Entre as crenças sociais manipuladas pela comunicação política da antipolítica estão as de que políticos profissionais são cupins e que não há saída para interesses das pessoas comuns senão confiar sua salvaguarda a um chefe ou corporação que combata essa praga. Apelando a tais crenças constrói-se e constroem-se castas, mitos e heróis. Se todos os políticos são abomináveis, sigamos os mais eficazes, eis a moral que emerge dessa atitude blasé. Já se vê que o déficit de saber prudencial, quando dissimulado, não é próprio apenas do pensamento de "esquerda negativa", aquela que, nos termos de San Tiago Dantas, coloca o seu valor de mudança social como política e moralmente superior a compromissos com a coesão nacional, a manutenção do estado de direito e da democracia política, embora possa falar a favor da última e não confesse abertamente objeção aos dois primeiros. Ele também aparece em voluntarismos de outras cepas ideológicas, entre as quais algumas que habitam o assim chamado - muito a grosso modo - “campo liberal”. A preocupação também não é de hoje. Eis exemplos não remotos de voluntarismos políticos que não pregavam extremismo, mas ainda assim subordinavam a questão dos meios mais adequados à primazia substancial dos seus fins: do campo liberal (ou de alguns de seus recantos) saiu, na década dos 70, a ideia de “extinguir” o antigo MDB ou dele expurgar os adesistas, por se achar moralmente impossível a convivência com eles naquele espaço, mesmo sem descuidar da luta interna. Tratava-se de atitude seletivamente afim com posições de esquerda que, não mais defendendo a luta armada, denunciavam, porém, o MDB como um dos partidos da ditadura e viriam a criar o PT. Mais tarde, no mesmo campo liberal circularam teses jurídico-politicas como a da "Constituinte exclusiva”, doutrinariamente assentada em que nada de efetivamente democrático poderia sair de um Congresso Constituinte, por ser ele um corpo viciado pelo auto interesse. Posição afim à da esquerda negativa que renunciara ao extremismo, mas não ao voluntarismo. Sem falar em críticas a "imperfeições" da lei da anistia, seja (para alguns políticos e juristas liberais) por anistiar "crimes de sangue" de militantes da luta armada, seja (para outros) por perdoar torturadores, restrição também compartilhada com aquela esquerda. Ulisses Guimarães fez, no atacado (embora fizesse também concessões de varejo), ouvidos moucos a todos esses reclamos saídos da sua cozinha. Por isso, pôde fazer o barco da frente democrática navegar quando, como e por onde foi preciso. Pagou por isso alto preço pessoal, quando precisou de torcida nas eleições de 1989 e até para conseguir sua última reeleição à Câmara. Mas com ele a prudência venceu a batalha da transição, com a construção de um sistema político guiado pela bússola constitucional. Evidência dessa vitória foi o modo como, logo a seguir, o voluntarismo foi expelido do topo do sistema. O país dividido na eleição de Collor, uniu-se, por aquela mesma bússola, para atalhar seu mandato Fernando Henrique Cardoso, com perfil menos épico, foi ainda mais resoluto no tapar de ouvidos ao mal-estar tucano, devido à aliança estratégica com o PFL. Assim conseguiu que o Plano Real não só tivesse êxito político presencial, como adquirisse força de instituição nacional que ainda hoje é uma referência através da qual a obra de uma geração passada ajuda a atual a conduzir pactos que incluem as do futuro também. Mais que pactos de governabilidade imediata (que também foram) era um pacto de gerações, que um conservadorismo de luzes reconhece como o que sustenta uma nação no tempo. FHC é reconhecido por isso, assim como Ulisses o foi pela condução da transição democrática. Assim como Ulisses, nem ele nem seu partido tiveram apoio das torcidas pósteras de cada dia. Mas durante seus governos a prudência venceu o voluntarismo mais difícil de enfrentar, qual seja, aquele que se abriga em grupos moderados e até adota a moderação como bandeira política. Atual século adentro, a contenda continua. Nos anos do PT no poder a prudência seguiu vencendo, a princípio. Começou a inflexionar ainda com Lula, perdeu-se na sua própria trilha e o processo desembocou no voluntarismo forte dos governos Dilma. A ruptura do impeachment sinalizou novo pacto para retomar o fio condutor do plano Real. O governo Temer, tal qual o de Itamar Franco, ergueu uma pinguela, mas dessa vez a ela não sucedeu ponte. Outro voluntarismo, oposto simétrico ao decaído, dinamitou a passagem por onde a prudência supostamente poderia retornar. A Lava-jato guindou o voluntarismo à condição de catarse política e abriu a picada para a eleição de Bolsonaro. Com ela, o acesso ao palácio não mais de um voluntarismo que, a seu modo, assimilara a democracia. Aflorava aquela versão extremista, reacionária, bomba relógio fácil de detectar e perigosa de desativar, o que foi consumado entre outubro de 22 e janeiro de 23. A saga é recente, todos lembramos e não faltam atores e instituições empenhados, dia e noite, em prolongá-la, para não nos deixar esquecer. Nem perdoar. Arenas do embate atual Este é um problema atualíssimo: o que fazer com a derrota do voluntarismo da extrema-direita. A ele sucederá /está sucedendo uma política prudencial, ou seu lugar será/está sendo ocupado por alguma versão de voluntarismo dissimulado por alguma reputação, ou auto qualificação, de “moderado”? O jogo do poder ainda não foi suficientemente jogado, mas já está em pleno curso, no âmbito dos três poderes e das corporações relevantes da República. Boa peleja, até aqui travada como luta interna ao espaçoso governismo lato sensu que periga fazer a política brasileira revisitar sotaques regionais da I República. A oposição é, até aqui, em sua maior parte, inimigo comum e, noutra parte, mais invisível, coadjuvante. Na cúpula do Legislativo, Rodrigo Pacheco e Arthur Lira são arquétipos do prudencial e do voluntarista. O barco do Judiciário tem adernado para o segundo polo, por invisibilidade (espera-se momentânea) de manejo prudencial de timões, após a gestão e aposentadoria de Rosa Weber. No governo, o contraste entre ministros é capítulo à parte. Apesar da luta interna, movem-se todos, por ora, ao redor de Lula, como candidatos a gênio da lâmpada de Aladim. O que não impede distinguir os arquétipos. Dentre outros, Fernando Haddad, Camilo Santana e José Mucio estão claramente postados no polo prudencial. Haverá tempo, com o correr das semanas, para justificar, além de outros, cada um desses “enquadramentos”, feitos, a princípio, de modo arbitrário. Mas não se espere que comentários aos embates travados pelos quadros do polo prudencial refiram-se a pelejas binárias. Os voluntarismos que se interpõem às suas ações frequentemente formam coalizões de veto muitas vezes por motivações ad-hoc. Vale lembrar, a esse respeito, a múltipla pressão sofrida pela estratégia do ministro da Fazenda, vindas de interesses da liderança da Câmara, do PT, de setores reticentes do empresariado e de quadros técnicos e acadêmicos desenvolvimentistas, pressões que se fazem diretamente ao ministro, ou por meio de outras pastas e órgãos do governo, ou pelo seu próprio chefe. Na Educação, a resistência do corporativismo do movimento docente do Ensino Médio, simultânea às críticas e pretensões das universidades federais e de setores do empresariado, tudo isso a cobrar do ministro mais e mais “vontade política”, na contramão dos limites prudenciais que adota. Além desses limites, uma onda desestabilizadora vinda de setores ruralistas tornados ou em vias de se tornarem governistas. A questão militar Sem espaço para desdobrar agora cada um desses tópicos, finalizarei comentando desafios oferecidos à estratégia prudencial do ministro da Defesa com vistas à pacificação e distensão do ambiente das forças armadas. Por todos os ângulos que se analise, tem sido uma estratégia claramente exitosa. Desde a operação de desmonte, iniciada antes da posse de Lula, em entendimento com os comandos militares, dos acampamentos de protesto contra os resultados das urnas, os quais estavam significativamente esvaziados quando aconteceram os atos golpistas de 8 de janeiro. Igualmente eficaz nas substituições realizadas nos comandos, as quais geraram um clima de menos tensão e mais confiança e cooperação entre o poder civil e as corporações militares, com subordinação das segundas ao primeiro. A mensagem conciliadora marca um tipo de êxito que incomoda o ânimo de voluntaristas. O afã de punir exemplarmente tanto militares golpistas como supostos prevaricadores - o que atestaria uma cumplicidade das forças armadas com a tentativa de golpe - difunde um tipo de percepção que tende a confundir joio e trigo. A partir de critérios de investigação discutíveis, a Polícia Federal induz a sociedade a pensar que os comandantes militares poderiam ter evitado a conspiração e não o fizeram porque eram cúmplices, ou coniventes, ou simplesmente covardes. Nessa discussão sobre intenções, perde-se o que é objetivamente essencial, isto é, o comando do Exército não evitou a conspiração, mas evitou o golpe. Com eficácia discreta, sem tumultuar a eleição, que era o objetivo da extrema-direita. É plenamente pertinente dizer que é inseguro confiar a proteção da democracia a decisões contingentes de comandantes militares. Eles não devem ter possibilidade de escolha. Devem ser institucionalmente obrigados a obedecer à ordem constitucional e aos poderes constituídos que a regulam, operam e garantem, poderes esses todos de caráter civil, como reza o constitucionalismo liberal. Bem vindas, portanto, as iniciativas de reformas, legislativas ou não, que assegurem essa subordinação. Nada disso, porém, justifica que articulistas de formação liberal embarquem na tese da prevaricação e não reconheçam como positivas condutas de quem agiu corretamente, mesmo sob ambiguidade institucional, instabilidade e avarias na cadeia de comando, provocadas por insídia política continuada. Esse ângulo de argumentação vem sendo amplamente questionado por opiniões de articulistas e especialistas acadêmicos em assuntos militares. As objeções acenam a uma desconstrução dos objetivos da pacificação e da conciliação, como se nelas estivesse embutido o vírus da impunidade (o que é falso). Quanto à esquerda negativa, contrapõe a tese da oportunidade “histórica” de um acerto de contas com o golpismo não apenas “nas”, também “das” forças armadas. Típico argumento voluntarista pelo qual se pretende extirpar uma atitude entranhada na nossa cultura política, como se militares fossem ETs que se impuseram a uma sociedade democrática. Se o golpismo pudesse ter tratamento cirúrgico, o bisturi teria que cortar muito mais embaixo, até onde a metástase corporativa contaminou a própria sociedade. Se não queremos nos automutilar nem descer aos infernos, a prudência sugere o tratamento conservador do ministro Múcio. Oxalá Lula o conserve e proteja de lógicas faxineiras (as liberais e as esquerdistas) que estão na praça num momento em que um espírito lavajatista de sinal ideológico trocado e incitado desde cima volta a emburrecer, politicamente, o país. O polo prudencial tem adquirido voz no debate. Marcelo Godoy, jornalista do Estadão, especializado no assunto, tem escrito artigos instigantes desde o 8 de janeiro de 2023, alguns já citados nesta coluna, como faço agora com o mais recente (“Cúpula bolsonarista tentou dividir Exército para dar golpe, mas fracassou” – Estado São Paulo/coluna Opinião/08.02.24). Tiberio Canuto, também jornalista e coordenador da Roda Democrática, acaba de contribuir com um artigo interpretativo de importância estratégica (“O inimigo do meu inimigo é meu amigo - Reflexões do cabo conscrito Portela, 417” – Facebook / Página “Roda Democrática” - 15.02.2024), que recebeu tratamento detido por Luiz Carlos Azedo na sua coluna “Entrelinhas”, no Correio Braziliense e no Estado de Minas (“Preservar as forças armadas faz bem à democracia” – 16.02.2024). Essas vozes esperam que o presidente Lula continue a não dar ouvidos e torne vãos os reclamos de parte de sua cozinha, a que crê ser a muralha de aço do poder civil que exorcizará os militares da política nacional. Se mantiver sua atual conduta, o exorcismo reclamado terá desfecho similar ao que parte dos "autênticos' do MDB queriam fazer com os "adesistas" ou àquele que o tucanato-raiz, de São Paulo, imaginava fazer com o "atraso patrimonialista" de "coronéis" nordestinos do PFL. Cabe dúvida porque se essa prudência política tiver um preço eleitoral relevante, Lula tende a não pagar porque não aceitará tranquilamente a hipótese de um poente eleitoral. É muito suscetível às urnas, o que, para muitos assuntos, é uma virtude democrática, mas para "resolver" a questão militar, decididamente não. Sem me deter nesse ponto tão subjetivo, digo apenas que é prudente reconstruir o consenso conciliador no Brasil sem depender apenas do tirocínio de Lula. Ao contrário, a reconstrução é, também, para conter, monitorar e governar (ou neutralizar) esse tirocínio. À parte esse detalhe que pode ser posto na conta da minha rabugice, penso que a análise de Tibério Canuto ecoa - como comentou Luiz Sergio Henriques e ele próprio confirmou - uma tradição de esquerda positiva da qual San Tiago Dantas foi o anunciador e o comunista prudencial, Armênio Guedes, a referência política e moral estelar. Mas o espírito da análise revela também, acredito, uma sugestiva aproximação (por afinidade mais do que por estratégia política comum) dessa tradição com outra, de uma certa disposição conservadora de um iluminismo prudencial que preserva os edifícios construídos pela experiência, da hubris reformadora de racionalismos voluntaristas liberais. Esse clássico contencioso político inglês - outrora tão presente entre nossas elites e antropofagicamente metabolizado pelas ambiguidades de Joaquim Nabuco - volta a fazer sentido hoje, quando a sociedade civil namora o identitarismo e entrega-se a outros flertes anti-iluministas como forma de se rebelar contra uma "modernização por cima" da qual, ao fim e ao cabo, ela própria resulta. Modernização por cima, nacional e estatal, que setores de esquerda (mas não só), alguns instalados no governo com visível conforto, querem reeditar. A luta interna travada no âmbito do governismo lato sensu transborda para a sociedade por osmose política, como uma "briga de branco" (sem trocadilho além da ironia). Dois voluntarismos conspiram, em paralelo, para interditar o caminho de uma nova sinergia entre estado e sociedade. República platônica e democracia de mitos, quando incursionam pelo campo da ação e interação políticas podem produzir justiça de catões e política de aventureiros miúdos. A questão militar pode cair nessa cilada involuntária de infortúnios voluntaristas. Tratados como virtuais criminosos pela PF, como réus confessos pela Justiça e como espantalhos por políticos de parca visão, os militares não terão terceiro caminho além da rendição sem honra ou do entrincheiramento ressentido na corporação. Dois riscos de infortúnio grave para a República, que o saber prático latente em análises prudenciais pode ajudar a evitar. É preciso sim, difundir e aprofundar essa visão, até ser possível servir o resultado final em compotas, para ser consumido pela elite política que aí está. *Cientista político e professor da UFBa. https://gilvanmelo.blogspot.com/2024/02/paulo-fabio-dantas-neto-prudencia.html _______________________________________________________________________________________________________________ ----------- ---------------- TRÊS DEPOIMENTOS DECISIVOS DÃO NOVOS CONTORNOS AO GOLPISMO NO GOVERNO BOLSONARO MyNews Transmissão iniciada há 47 minutos #segundachamada #MyNews #segundachamada No Segunda Chamada desta terça-feira, 12 de março de 2024, o que disse Mauro Cid em depoimento à Polícia Federal. Nessa segunda-feira(11), o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro prestou depoimento à PF por mais de oito horas. A oitiva de Cid ganhou ainda mais relevância após dois outros ex-comandantes confirmares reuniões para tratar da minuta golpista. Afonso Marangoni e o comentarista João Bosco Rabello, recebem o jornalista Genésio Araújo, do Portal Política Real e o advogado e ex-deputado, Maurício Rands para repercutir o caso. _________________________________________________________________________________________________________ ---------- "Pai e mãe Ouro de mina Coração Desejo e sina Tudo mais Pura rotina Jazz..." Letra de "Sina" (Djavan) _________________________________________________________________________________________________________ ----------- 'Estrofe 1 As armas e os Barões assinalados Que, da Ocidental praia Lusitana, Por mares nunca dantes navegados, Passaram ainda além da Taprobana, Em perigos e guerras esforçados, Mais do que prometia a força humana E entre gente remota edificaram Novo Reino, que tanto sublimaram;' Estrofe 2 Desvende-se o enigma, além do véu, Onde palavras ecoam a verdade, No tecer de anagramas, o fiel, Em mistérios que a mente invade. No enlace das letras, o papel Da negação e do jogo, na idade, De versos entrelaçados se forjam Novos mundos, que a mente alarga. Estrofe 3 Nas vielas do tempo, se entrelaçam As tramas do destino em sinuoso curso, Onde promessas vãs, em vão, se desfazem, E a verdade se esconde em obscuro discurso. Entre nomes e letras, segredos se enlaçam, Em anagramas que revelam o verso adverso. Na dança das palavras, se descortina O caminho além da sina, a nova sina. _________________________________________________________________________________________________________ ----------- ---------------- Jornal da Cultura | 12/03/2024 Jornalismo TV Cultura Transmissão iniciada há 36 minutos #JornaldaCultura #JC No Jornal da Cultura desta terça-feira (12), você vai ver: O que está por trás do conflito entre a atual e antiga cúpula do União Brasil; Manobra dos governistas adia votação de pautas conservadoras na CCJ da Câmara; Crise dos dividendos da Petrobras faz governo anunciar rodízio no conselho das estatais; Homem se entrega após fazer 17 reféns dentro de ônibus no Rio de Janeiro. Para comentar essas e outras notícias, Karyn Bravo recebe a jornalista Bianca Santana, doutora em ciência da informação, e o cientista político Sergio Fausto, diretor-executivo da Fundação FHC. _________________________________________________________________________________________________________
-------------- _________________________________________________________________________________________________________ O livro-reportagem "Longa jornada até a democracia — Volume II" de Eumano Silva, lançado pela Fundação Astrojildo Pereira, lança luz sobre a história subterrânea do Partido Comunista Brasileiro (PCB) durante o período de resistência ao regime militar no Brasil, entre 1967 e 1992. O autor revela os bastidores da atuação do PCB, destacando sua estratégia de resistência dentro dos espaços legais disponíveis, como sindicatos, associações de moradores e participação nas eleições em aliança com os liberais do MDB. Diferenciando-se de outras organizações de esquerda que optaram pela luta armada, o PCB adotou uma postura moderada e reformista, buscando promover mudanças dentro do sistema político existente. O livro mergulha nas minúcias dessa jornada, confrontando documentos oficiais, entrevistas e vasto material bibliográfico para reconstruir os eventos e os personagens dessa época conturbada da história brasileira. Entre os aspectos abordados no livro estão a perseguição implacável sofrida pelo PCB, com prisões, torturas, assassinatos e o constante cerco dos órgãos de segurança do regime militar. Além disso, são reveladas relações entre políticos destacados, como Amaral Peixoto, Ulysses Guimarães, Tancredo Neves e José Sarney, e os comunistas, evidenciando a complexidade do cenário político da época. O autor também explora o submundo da ditadura militar, descrevendo a estruturação dos órgãos de repressão, como o DOI-Codi, e os métodos utilizados para perseguir e aniquilar os opositores do regime. Episódios marcantes, como o resgate espetacular de Giocondo Dias e a investigação da gráfica clandestina da Voz Operária, são relatados com riqueza de detalhes, revelando os bastidores da resistência comunista. Ao conectar eventos históricos, testemunhos pessoais e análises políticas, o livro oferece uma visão abrangente e esclarecedora sobre o papel do PCB na luta pela democracia no Brasil. Sua narrativa envolvente e detalhada lança luz sobre um período pouco explorado da história do país, contribuindo para uma compreensão mais profunda dos desafios enfrentados pelos militantes comunistas e sua contribuição para o processo de redemocratização. _________________________________________________________________________________________________________ ----------
------------ Nas entrelinhas: A história subterrânea do PCB na frente democrática Publicado em 12/03/2024 - 08:40 Luiz Carlos Azedo Brasília, Comunicação, Congresso, Eleições, Literatura, Memória, Militares, Partidos, Política, Política, Terrorismo, Violência Personagens destacados da política brasileira, Amaral Peixoto, Ulysses Guimarães, Tancredo Neves e José Sarney também se relacionavam com os comunistas O jornalista Eumano Silva lança nesta terça-feira, a partir das 19h30, no tradicional Bar Beirute, em Brasília — reduto de artistas, estudantes, intelectuais e jornalistas —, o livro-reportagem Longa jornada até a democracia — Volume II, publicado pela Fundação Astrojildo Pereira (FAP), que conta a história do Partido Comunista Brasileiro (PCB) nos subterrâneos da resistência ao regime militar e seu papel na construção da ampla frente democrática que viria a eleger o governador mineiro Tancredo Neves (MDB) à Presidência da República, no colégio eleitoral, em 1985. Ao contrário de outras organizações de esquerda, a maioria formada a partir de suas dissidências, como o PCdoB de João Amazonas, o MR-8 de Carlos Lamarca e a ALN de Carlos Marighella, “rachas” registrados no livro, o então chamado “Partidão” não aderiu à luta armada. Era a maior organização comunista à época, mas defendeu a resistência ao regime militar nos espaços legais nos quais era possível alguma vida política: sindicatos; associações de moradores; cineclubes; diretórios estudantis; instituições, como a Associação Brasileira de Imprensa (ABI) e a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB); e a participação nas eleições em aliança com os liberais, na legenda do MDB (Movimento Democrático Brasileiro). Moderado e reformista, o velho PCB completaria 102 anos no próximo dia 25 de março, não fosse a mudança de seu nome e sigla, sob a liderança do então deputado federal Roberto Freire, o candidato comunista à Presidência em 1989. Proscrito desde 1947, sofreu implacável perseguição dos órgãos de segurança do regime militar. Foram assassinados 12 integrantes de seu Comitê Central, a maioria dos sobreviventes foi forçada ao exílio, centenas de dirigentes foram presos, e milhares de militantes, em todo o país, permanentemente perseguidos ou vigiados. Eumano Silva escreveu um livraço, nos dois sentidos. Suas 843 páginas parecem o roteiro de um filme noir ambientado na Guerra Fria. Misturam-se a complexa trama de relações e ações políticas do PCB na sociedade e a luta pela sobrevivência de seus quadros clandestinos, sob a perseguição sistemática. Não é uma obra de ficção, tudo é verdade. Para recompor a trajetória do PCB entre 1967 e 1992, o livro confronta documentos oficiais inéditos, entrevistas com seus personagens e farto material bibliográfico. O jornalista pesquisa os arquivos dos órgãos de segurança há décadas. Um deles, o do Centro de Informações da Marinha (Cenimar), era especializado em infiltrações no PCB e chegou às mãos do repórter Leonel Rocha, que gentilmente cedeu informações para o livro, o segundo volume de uma trilogia. Longa jornada até a democracia — Volume I foi lançado em 2022. Escrito pelo jornalista Carlos Marchi, autor das biografias de Carlos Castelo Branco e Teotônio Vilela, aborda o período compreendido entre a fundação do PCB, em 1922, e seu VI Congresso, em 1967, quando a legenda assumiu seu compromisso com a democracia e rechaçou a luta armada. Marchi será o autor do volume III, que compreenderá o aggiornamento da legenda, com a mudança de sigla e nome para PPS, sob a liderança de Roberto Freire, que resultou no Cidadania. A Fundação Astrojildo Pereira (FAP) até hoje é mantida pela legenda. Cercar e aniquilar O clima sombrio da Guerra Fria, relatos minuciosos sobre a vida clandestina de dirigentes e militantes, fugas, prisões, torturas, mortes e desaparecimentos de comunistas. Os personagens parecem saídos dos romances policiais, como os espiões e informantes infiltrados pela repressão nas organizações de esquerda. O livro mostra o trabalho silencioso de caseiros, motoristas e distribuidores da Voz Operária e outras publicações clandestinas. A CIA e a KGB aparecem em vários episódios, um deles o do “Agente Carlos”, um assessor do então secretário-geral do PCB, Luiz Carlos Prestes, que trabalhava para o SNI e a CIA. Personagens destacados da política brasileira, Amaral Peixoto, Ulysses Guimarães, Tancredo Neves e José Sarney, entre outros, se relacionavam com os comunistas. O livro percorre também o submundo da ditadura, cuja cúpula decidira “cercar e aniquilar” o PCB. Registra o passo a passo da estruturação dos Departamentos de Operações de Informação — Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-Codi) — e descreve disputas entre o Exército e a Marinha pelo controle desse aparato. A audaciosa transferência dos arquivos de Astrojildo Pereira para a Itália, o espetacular resgate de Giocondo Dias cercado e isolado no Rio de Janeiro, os 10 anos de investigações para se chegar à gráfica clandestina que imprimia a Voz Operária e o misterioso “Ouro de Moscou” são alguns episódios relatados no livro, além da infiltração de um militante do PCB da PM de São Paulo no tenebroso aparelho do DOI-Codi da Rua Totóia, na capital paulista. Em tempo: na quinta-feira, o livro será lançado no Rio de Janeiro, a partir das 17h, na tradicional Taberna da Glória, ao lado da autobiografia do ex-dirigente sindical bancário Roberto Percinoto, Uma vida bem vivida (Aquarius), um dos personagens de destaque do livro. Colunas anteriores no Blog do Azedo: https://blogs.correiobraziliense.com.br/azedo/ ______________________________________________________________________________________________________________

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