Inspirados já nos ensinamentos de Sófocles, aqui, procurar-se-á a conexão, pelo conhecimento, entre o velho e o novo, com seus conflitos. As pistas perseguidas, de modos específicos, continuarão a ser aquelas pavimentadas pelo grego do período clássico (séculos VI e V a.C).
domingo, 10 de março de 2024
Clementina de Jesus
--------------
Tava Dormindo
Clementina de Jesus
Tava drurmindo
acordei aburicido pensando ai
se meu sonho fosse certo
eu não andava avariado
nem andava fora de hora pelos caminhos
suspirando saudade ai
https://www.letras.mus.br/clementina-de-jesus/1094999/
_________________________________________________________________________________________________________
----------
-----------
"E BELA. E RECATADA. E DO LAR . BONITA MESMO, É COMO QUALQUER MULHER QUE SE LEVANTA. E LUTA!"
------------
-----------
Dia Internacional da Mulher: como surgiu e a história por trás da data
-------------
"1917: Protesto de Operárias na Rússia, que originou o Dia 8 de Março como Dia Internacional das Mulheres, reconhecido pela ONU."
---------
Um grupo diversificado de mulheres de diferentes idades, etnias e origens socioeconômicas, todas reunidas em um espaço acolhedor e iluminado. Elas estão em pé, com expressões determinadas em seus rostos, mostrando força e resiliência. Algumas podem estar segurando filhos nos braços ou de mãos dadas com outras mulheres, simbolizando o papel central que desempenham na vida familiar. No entanto, todas elas irradiam confiança, dignidade e determinação, refletindo a beleza e a força que surgem quando as mulheres se levantam e lutam por seus direitos, sonhos e dignidade.
"Parabéns, MULHER, por mais este dia especial entre todos os seus dias. Que seja um dia tão especial quanto todos os outros, que tornam especial o dia daqueles que compartilham com você esse seu jeito de ser, querer e poder."
_________________________________________________________________________________________________________
-----------
-----------
_________________________________________________________________________________________________________
O autor explora a influência do americanismo na vida brasileira, destacando como o "American way of life" se tornou um espelho para a maioria da população, inclusive para a elite econômica, a classe média e as camadas populares. Ele contextualiza essa relação histórica entre Brasil e Estados Unidos, que oscilou entre momentos de tensão e cooperação, dependendo dos interesses políticos e econômicos de cada época.
Além disso, o autor analisa como o americanismo se consolidou como um modo de vida hegemônico após a crise de 1929 e a Grande Depressão, associado ao taylorismo e ao fordismo. Ele discute como esse modelo se difundiu globalmente, influenciando o consumismo, a padronização social e a crença nos valores democráticos liberais.
No entanto, o autor observa que o americanismo enfrenta desafios no contexto da revolução tecnológica em curso, que desestruturou as classes sociais da sociedade industrial e criou uma sociedade pós-moderna, líquida e volátil. Ele destaca as mudanças na forma de trabalho, como a "uberização" e o empreendedorismo, como novas bases sociais e econômicas do americanismo.
Por fim, o autor adverte contra a ilusão de que o Brasil poderia atrelar seu desenvolvimento ao capitalismo de estado chinês ou abandonar o Ocidente em favor do Oriente. Ele sugere que entender as mudanças no mundo é essencial para compreender a política brasileira, destacando as possíveis consequências catastróficas de uma derrota de Biden para o presidente Lula da Silva.
_________________________________________________________________________________________________________
------------
------------
Luiz Carlos Azedo - Lula e o americanismo na vida brasileira
Correio Braziliense
O American way of life serve de espelho para a maioria da população. Não apenas a elite econômica e a classe média, mas também a grande massa de periferias e favelas
A complexidade das relações do Brasil com os Estados Unidos é determinada historicamente por nossa condição geopolítica na América do Sul, o republicanismo, a vocação agroexportadora e industrial e a influência cultural do modo de vida americano na vida urbana. Antes mesmo da independência do Brasil, quando as relações com os EUA se estabeleceram diplomaticamente, alternamos períodos de tensão por razões comerciais ou políticas, como na Inconfidência, na Confederação do Equador e nos governos Vargas e João Goulart, e momentos de estreita cooperação, maior até do que deveria, como na Primeira República, no governo Dutra e nos primeiros anos do regime militar.
No momento, as relações são boas entre o governo Lula e o governo Biden, mas podem se deteriorar em função do cenário político internacional. Ucrânia, Gaza, Venezuela, Nicarágua, são os pontos de maior fricção, mas o que pode complicar ainda mais as relações é uma eventual derrota dos democratas e a volta ao poder de Donald Trump, aliado de primeira hora do ex-presidente Jair Bolsonaro. Entretanto, a influência cultural do americanismo, desde a entrada na II Guerra Mundial (1939-1945), ao lado dos Aliados, independe dessas relações políticas conjunturais.
O American way of life serve de espelho para a maioria da população. Não apenas a elite econômica e a classe média, cujos padrões de consumo emulam os norte-americanos, mas também a grande massa dos subúrbios, periferias e favelas, que hoje consome o que pode para reproduzir o mesmo estilo de vida, haja vista a forte influência do hip hop e do fank entre os jovens, o “identitarismo” de movimentos sócio-políticos” de negros, mulheres e LGBTQIA+ e a forte reação conservadora pentecostal, que esses comportamentos provocam, tanto aqui quanto lá.
É preciso compreender a essência do americanismo, que se consolidou como modo de vida hegemônico após a crise de 1929 e a Grande Depressão. No final do século 19, principalmente depois da I Guerra Mundial (1914-1918), os Estados Unidos lideraram o desenvolvimento industrial e passaram a ser o centro da economia mundial. É um modo de vida que surgiu associado ao taylorismo, como modelo de organização do trabalho, e ao fordismo, um novo padrão de acumulação de capital, que possibilitava o aumento da renda dos trabalhadores, sem as amarras e resquícios do absolutismo e da servidão que caracterizaram os primórdios do capitalismo na Europa e outros países de passado feudal. No nosso caso, essas amarras são heranças do colonialismo e da escravidão.
Modernidade líquida
Ao combinar organização do trabalho e empreendedorismo, o taylor-fordismo foi a base do American way of life, cuja tradução literal é estilo de vida americano, e se consolidou com toda a força após a Segunda Guerra Mundial. O modelo americano se impôs como referência de bem-estar para os países capitalistas ocidentais e asiáticos. Numa sociedade com pleno emprego, todos os sonhos poderiam ser realizados, com base no consumismo, na padronização social e na crença nos valores democráticos liberais. Vendido através dos filmes e do marketing de suas empresas, durante a Guerra Fria também foi uma arma ideológica e cultural contra antiga União Soviética e o comunismo. A exclusão dos afrodescendentes dos direitos civis e a histeria anticomunista promovida pelo macarthismo foram a face mais perversa da moeda.
No plano político e ideológico, se o americanismo foi uma resposta capitalista bem-sucedida à esquerda revolucionária e ao modelo do “socialismo real”, hoje as suas bases objetivas, a grande indústria mecanizada e o fordismo, acabaram ultrapassadas pelos novos sistemas de produção flexíveis, a automação, a robotização e outros elementos da revolução tecnológica em curso no mundo. Isso desestruturou as classes sociais da sociedade industrial e criou uma sociedade pós-moderna, líquida e volátil, como destacou o filósofo Zygmunt Bauman (1925-2017) ao definir o mundo globalizado.
Assim como o capitalismo nos seus primórdios, essas mudanças desorganizaram todas as esferas da vida social, do amor ao trabalho, pois o sujeito sociológico moderno, com forte identidade de classe, é um ser em extinção. Os indivíduos passaram a ser moldados e a moldar o mundo de acordo com a sua personalidade. O estilo de vida, aquilo e o modo como consome, o deslocamento fácil e rápido, e a mudança na forma de trabalho, com redução de salários e insegurança no emprego, a “uberização” e o empreendedorismo, são as novas bases sociais e econômicas do americanismo.
Fluidez, movimento e imprevisibilidades agora são as características da vida em sociedade e vem tendo forte impacto na política. No nosso caso, o fato de a China ter tomado o lugar dos Estados Unidos como principal parceiro comercial não deve alimentar ilusões de que podemos atrelar o nosso desenvolvimento ao capitalismo de estado, fora dos marcos da democracia representativa e do americanismo. O resultado dessa equação seria o autoritarismo. Muito menos, trocar o Ocidente pelo Oriente nas relações internacionais, por causa dessa balança de comércio exterior. O que está acontecendo na política brasileira reflete as circunstâncias das mudanças no mundo, que precisam ser mais compreendidas. Até porque, se esse for o novo caminho a trilhar, uma eventual derrota de Biden terá consequências catastróficas para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
_________________________________________________________________________________________________________
------------
-----------
Como determinar o número de diagonais de um polígono convexo de n lados
-------------
"Natural ou artificial, essa inteligência política acha-se capaz de traçar uma diagonal sobre conflitos periféricos às suas prioridades e saltar por cima deles. Aparenta não se submeter ao dilema de atores políticos mortais, em geral acossados por pressões opostas da prudência e da vontade. Parece querer que sempre haja dúvida sobre se aposta nas possibilidades ou na impotência da política. Gosta de repetir que não há saída fora dela. Mas o que significa essa frase na sua gramática? Que tudo é política?"
-----------
_________________________________________________________________________________________________________
Essa passagem parece descrever a habilidade da inteligência política de navegar habilmente pelos conflitos e desafios que surgem em seu caminho, tanto os naturais quanto os artificiais. Vamos interpretar essa passagem em mais detalhes:
Diagonal sobre conflitos periféricos: A metáfora da "diagonal" sugere uma abordagem que transcende ou contorna os conflitos secundários ou menos importantes. Isso implica que a inteligência política se concentra nas questões centrais ou prioritárias, deixando de lado aquelas que são menos relevantes para seus objetivos.
Não se submeter ao dilema: A passagem sugere que a inteligência política parece estar além dos dilemas enfrentados por atores políticos comuns, que muitas vezes estão sob pressões opostas da prudência e da vontade. Isso indica uma capacidade de agir de forma independente das restrições ou limitações que normalmente afetam os tomadores de decisão políticos.
Dúvida sobre aposta nas possibilidades ou na impotência: A inteligência política parece deliberadamente cultivar uma ambiguidade em relação às suas ações e intenções. Ela gosta de manter a incerteza sobre se está aproveitando as oportunidades disponíveis ou reconhecendo a inevitabilidade da política em certas situações. Isso sugere uma estratégia consciente de manter o controle e a flexibilidade em suas ações.
Tudo é política: A frase final, "não há saída fora dela", sugere que a inteligência política vê todos os aspectos da vida e da sociedade como intrinsecamente ligados à política. Isso implica uma visão de mundo onde a política é onipresente e inescapável, e onde todas as interações e decisões são moldadas por considerações políticas.
Em resumo, essa passagem descreve a inteligência política como uma força que opera de maneira astuta e estratégica, capaz de superar obstáculos e conflitos, mantendo uma aura de ambiguidade e incerteza sobre suas intenções. Ela sugere uma visão de mundo onde a política é central e inevitável, e onde a habilidade de navegar nesse ambiente é fundamental para o sucesso e a sobrevivência.
_________________________________________________________________________________________________________
------------
-----------
O texto discute a atitude política em relação aos conflitos e negociações na esfera pública, especialmente no contexto da educação no Brasil. O autor destaca duas atitudes principais: uma que busca exacerbar conflitos para revelar contradições essenciais e outra que visa evitar conflitos e promover o entendimento e a negociação. Ele argumenta que, dentro dessas atitudes, há nuances ideológicas e interesses diversos, e muitas vezes adversários políticos podem se alinhar em determinadas questões.
O autor analisa a recente reunião entre o Ministro da Educação e a Associação Nacional de Dirigentes de Instituições de Ensino Superior (Andifes), destacando a importância política e financeira do compromisso assumido. Ele também explora o contexto sindical e as possíveis repercussões de uma greve nas universidades federais, considerando implicações pedagógicas, políticas e sociais.
Além disso, o autor discute a relação entre as demandas salariais dos servidores públicos e a política fiscal do governo, enfatizando a necessidade de um equilíbrio entre esses aspectos. Ele destaca a importância da persuasão política e da abordagem estratégica na negociação de pautas sindicais.
Por fim, o autor examina a posição do Presidente Lula em relação às greves no setor público, observando seu tom irônico e sua confiança. Ele conclui que a inteligência política parece capaz de lidar com conflitos de forma estratégica, sem se submeter aos dilemas comuns enfrentados por atores políticos mortais. No entanto, questiona se essa abordagem significa que tudo é política.
_________________________________________________________________________________________________________
-----------
------------
Paulo Fábio Dantas Neto* - Educação e atitude política
Falar de atitude política é falar de uma disposição permanente que condiciona a relação que um sujeito (individual ou grupal) estabelece com um fenômeno político. Duas atitudes polares: uma, a de sempre ver, num fenômeno conflitivo, uma oportunidade para exacerbá-lo a ponto de deixar (ou de provocar) vir à tona uma contradição “essencial” (que, a depender do caso, pode ser econômica, social, cultural, religiosa, racial, de gênero, de valores, etc...), a qual esse sujeito político julga insanável pelos caminhos da política. Atitude oposta é a de sujeitos que, perante um conflito de qualquer das naturezas citadas acima, antepõem-se a responsabilidade de evitá-lo, apelando à integridade da tradição ou a de bem compreendê-lo, reconhecendo a situação conflitiva, mas buscando carreá-la para um certo nível de entendimento e negociação que faça o novo nascer com menos dor. Partos “naturais”, em lugar de “cesarianas”, ou fórceps. Uma aposta em possibilidades da política, não na sua impotência.
No interior de cada uma dessas atitudes políticas polares há gradações várias, assim como há variadas inclinações ideológicas, às vezes díspares entre si. É comum flagrar-se adversários aparentemente difíceis de conviver agindo de modo a jogarem água para um mesmo moinho, seja o da confrontação ou o da conciliação. Reacionários de direita e revolucionários de esquerda podem plantar a mesma semente agonística em seus solos ideológicos distantes, assim como conservadores e reformistas de centro ou de esquerda podem convergir na disposição comum de recusar os extremos. Os dois últimos preocupam-se – para usar jargão conhecido – com a criança que está na bacia, enquanto os primeiros prestam atenção, antes e ao fim de tudo, na água que julgam suja ou benta, conforme suas convicções.
É dessa natureza a distinção que tentei fazer, em artigo anterior nesta coluna (Prudência, voluntarismo e a “questão” militar, de 18.02.2024), para comentar o duelo que prudência e vontade travam para orientar o agir de sujeitos políticos. Hoje o mesmo comentário de fundo será aplicado ao tema da educação, que prudentes de boa-fé tratam com atenção e zelo e voluntaristas idem veem como última tábua de salvação para um país-criança.
O ministro da Educação, Camilo Santana, comprometeu-se, durante reunião com a direção da Andifes (Associação Nacional de Dirigentes de Instituições de Ensino Superior), intermediada pela FPME (Frente Parlamentar Mista da Educação) e realizada no dia 07 de março, com uma complementação de R$ 250 milhões ao orçamento das universidades federais, neste ano. A medida foi posta como um primeiro passo, pequeno - mas cuja justificativa, financeira e política, não se deve desprezar - em direção a uma recomposição de perdas orçamentárias acumuladas, cujo montante a Andifes estima ser dez vezes maior. Certamente segue irresolvida uma extensa e penosa pauta voltada à obtenção, pelas instituições federais do ensino superior, de condições razoáveis de funcionamento e de cumprimento da missão que as autodefine, de promover ensino, pesquisa e extensão de qualidade.
O resultado da reunião do dia 7 tem também significado político, tanto pelo método de sua construção, como pelo contexto em que se deu. A intermediação de atores do Legislativo condiz com a conduta positiva da Andifes, que empreende gestões por soluções sem as restringir ao Executivo. Essa última é a tradição de relações corporativas herdadas da chamada “Era Vargas”, quando se reconhecia no Executivo poder quase monopólico de decisão política nesta e em muitas outras áreas da administração pública. Com a atuação nas duas frentes, a Andifes sinaliza uma leitura correta da nova realidade institucional do país. Justifica-se uma moderada expectativa de que esse padrão de conduta possa ser adotado ao menos por uma parte das organizações sindicais tensamente envolvidas na discussão do tema, pelas conexões que ele tem com questões salariais e de carreira de docentes e técnicos das IFES.
Nesse ponto ressalta a possibilidade de influência do compromisso assumido pelo MEC na dissuasão, ou ao menos adiamento, de um movimento grevista que vem sendo preparado tanto por entidades docentes como de servidores técnico-administrativos, tendo esses últimos avançado na aprovação de um indicativo de greve a partir da próxima segunda-feira, 11 de março. Essa preparação do sindicalismo das IFES para um embate com o governo articula-se, em vários pontos e momentos, com as das entidades sindicais dos servidores públicos em geral, mas tem, como é da tradição, dinâmica própria. O compromisso do MEC com a Andifes na direção da recomposição orçamentaria começa a dar encaminhamento a um dos pontos que servem de eixo à articulação sindical em curso. Mas além desse e das pautas salariais e de planos de carreira, há uma evidente politização da pauta sindical para abarcar também a reforma do Ensino Médio, cuja votação no Congresso está prevista para os próximos dias.
Isso leva a que uma análise responsável sobre uma eventual greve deva considerar ângulos tão variados como as próprias pautas. Escolho três: implicações pedagógicas e de sociabilidade de uma greve sobre o ar que se respira atualmente em qualquer campus no Brasil; limites de êxito de uma campanha salarial de docentes e técnicos de universidades e institutos de ensino superior nas atuais condições orçamentária e fiscal do governo federal; por fim, prioridades no setor educacional neste momento de retomada de políticas públicas em que a ação do MEC vem sendo alvo de pressões de várias naturezas.
O que se pode chamar de condições ambientais adversas para o trabalho acadêmico de qualidade em qualquer campus federal é de grande relevância nesse momento em que se está longe da cura de sequelas da pandemia e retrocessos que causou, assim como do esvaziamento, deterioração e descontinuidade de políticas públicas e da desestruturação institucional, ocorridos de 2019 a 2022. Uma greve num ambiente assim tende a ter duplo efeito tóxico. Primeiro o da paralização de atividades que sequer chegaram a ser normalizadas plenamente. Isso é nefasto em si, implicando em retomar, no pós-greve, o processo de reconstrução em ponto aquém desse a que se chegou até aqui. Em segundo lugar o efeito de acirramento subjetivo de ânimos de embate num espaço que já vem sendo tragado, fortemente, por importação de lógicas de intolerância e de polarização extrema, emanadas de redes sociais, ao tempo em que a Universidade tem se tornado, ela mesma, na contramão de sua vocação e razão de ser, usina de fabricação ideológica de premissas e condutas alimentadoras desses fenômenos. O oxigênio de que as universidades precisam não virá da ética da “luta”, mas da livre circulação de ideias, da crítica e, de modo muito especial, da autocrítica. Inversamente, uma greve seria/será um fator a cristalizar e potencializar a rarefação do ar que ali se respira.
Além dessa implicação interna, tal movimento padece de ineficácia externa. A sociedade brasileira enxerga com cada vez mais reservas a extensão do pleno direito de greve a servidores públicos. E não se trata de coisa recente. A dificuldade de obter apoio social a paralisações de serviços públicos já se mostrava em longas greves havidas nas universidades na última década do século passado e nas duas primeiras do atual. A insistência do sindicalismo nesse tipo de recurso é sintoma e causa de seu relativo anacronismo. No campo da educação, a ausência de rejeição social ativa não deve ser confundida com apoio tácito. É que, para o bem e para o mal, não há, nesse campo, o sentimento de urgência que há na saúde e segurança pública. Mas a sociedade é cada vez mais cética quanto à legitimidade intrínseca de greves em todos esses setores. O metro da avaliação pública são os calos que lhe doem mais.
Chego ao segundo ângulo, o do poder de persuasão (mais do que de pressão) que pode advir de uma exequibilidade que torne suficientemente realista uma efetiva pauta salarial. Logicamente, durante um processo de negociação, ela terá que ser mais modesta e precisa do que a reivindicação de recompor as perdas. Se essa recomposição, vista de per si e isolada do contexto é, em tese, defensável, pela defasagem salarial realmente existente, deixa de sê-lo se considerada na perspectiva do lugar negativo que os gastos com a manutenção do serviço público ocupam na equação socialmente aceita do necessário equilíbrio fiscal. Nunca é demais alertar que o governo assimilou politicamente a premissa da contenção. Essa aceitação é evidente na manutenção da meta do déficit zero, por mais que Lula, vez por outra, cuide de pô-la em dúvida para não perder sintonia com faixas do eleitorado que lhe são fiéis. O autocontrole fiscal é um dos parâmetros principais da política da área econômica, liderada pelo ministro Fernando Haddad. Um dar-de-ombros da representação sindical em relação a essa realidade objetiva tende a lhe sair politicamente caro, por haver potencial capacidade do governo de justificar, caso queira, o não atendimento da reivindicação com argumentos assimiláveis pela opinião pública.
Claro que sempre se poderá alegar, também com boas chances de convencimento externo, que as categorias que trabalham nas IFES – a docente e mais ainda a dos técnicos – estão muito distantes dos grupos que podem ser apontados como altamente privilegiados, a exemplo dos servidores do Judiciário e da burocracia do Banco Central. O próprio governo atual tem consciência disso e é sensato supor sua simpatia e boa vontade, se se considera os contingentes tradicionais do tipo de base social que o apoia. Porém, enveredar por tais comparações seria erro. Se a coisa adquirir feição de luta entre corporações do Estado pelo escasso fundo público, as universitárias dificilmente jogarão a série A. Melhor é o jogo aberto, nos dois poderes, rente à política econômica, buscando, através da persuasão e da exploração de afinidades de discurso público, brechas que não a comprometam no todo. Poder de pressão, na base da queda de braço, é ilusão. Ameaçar com ele, bravata. Até porque não há sinais de que o ministro Camilo Santana, apesar de petista, tenha caído nas graças do palácio. Muito ao contrário é o que parece.
Chego ao terceiro ângulo. Foi de Lula, ainda em 2022, a afirmação de que a educação básica teria prioridade em seu terceiro mandato. Considerava que nos anteriores já promovera uma revolução na educação superior e que o novo foco se relacionava aos estragos da pandemia sobre a vida escolar de crianças e adolescentes. Por isso foi considerada bastante razoável a reserva da pasta da educação ao PT cearense, que ampliara e dirigira, a nível estadual, uma exitosa política educacional originada nas gestões municipais do Crato, o berço político dos Ferreira Gomes. Os números e os relatos qualitativos daquele sucesso são impressionantes e justificaram plenamente essa escolha política para uma pasta de inegável peso social, uma das desejadas por Simone Tebet, a mais notória e relevante aliada de Lula naquele momento. Todos os indícios são de que um movimento grevista nas universidades e institutos federais teria que enfrentar uma parede maciça cuja argamassa é uma mistura de argumentos da política fiscal com os de uma consistente política educacional progressista, de inegável relevância social.
Nesse contexto, o saber prático da prudência política teria, a princípio, boas chances de persuadir ao menos alguns dirigentes mais moderados dos movimentos das IFES. Mas outros aspectos da complexa esgrima política palaciana que atualmente se processa no Brasil talvez possam estar animando o proverbial voluntarismo de boa parte de tais lideranças sindicais. Pode acontecer um enésimo caso de afinidades eletivas entre diferentes voluntarismos, o do petismo de aparelho dissimulando seu governismo e o dos coletivos ativistas onde a esquerda mais radical nada melhor, de braços dados com movimentos identitários. Com uma mão lavando a outra podemos ter greves institucionalmente amparadas no campus, gastando nessa coalizão a água que pudesse vir a apagar um incêndio ameaçador da política educacional, da equipe do ministério ou da estabilidade do próprio ministro.
Como antecedente, temos que o PT não só reivindicou legitimamente a pasta. Pretendeu que lhe fosse dada partidariamente, de porteira fechada e não para ampliar para o país uma política pública testada. A tentativa de instrumentalização foi abortada não só porque o trabalho do grupo da transição para a educação apresentou resultados consistentes que respaldaram a entrega do comando do ministério a pessoas artífices da experiência cearense. Também porque, diante do veto petista, aceito por Lula, ao nome de Isolda Cela – plena encarnação de tal política, mas não detentora de trajetória partidária – teria entrado em campo Fernando Haddad. Consta que, usando seu prestígio de ex-ministro perante quadros correligionários da área, ajudou o futuro ministro Camilo a ser, de fato, solução política positiva. Para tranquilizar o partido, não precisou desmontar a equipe com a qual tivera tanto êxito em seu Estado. Cela tornou-se secretária executiva do ministério e a coisa ficou, a princípio, em paz.
Mas como o princípio não leva automaticamente ao meio e ao fim, até agora o fio da meada da política educacional eleita como prioritária não assumiu o centro da cena. Fricções não tardaram e o ministro enfrenta dificuldades em algumas frentes, obrigando-se a dispersar energias, o que nubla a mensagem central. Afora uma escaramuça lateral, em torno de uma prova do ENEM, que levou, meses atrás, parte da bancada ruralista a encenar o script de “pedir sua cabeça”, há problemas mais sérios, como controvérsias, no meio empresarial, em torno de uma ambiciosa política de inclusão digital de populações longínquas da Amazônia para ensino à distância (parte importante do compromisso prioritário com a Educação básica) e com a regulamentação e implementação da reforma do Ensino Médio, iniciativa do governo Temer, contestada por movimentos de docentes e discentes num grau de enfrentamento politizado que levou à interrupção do processo, já em curso quando o governo começou.
De um lado, interesses empresariais afetados e ao que parece não devidamente e tempestivamente inseridos na articulação da política de educação à distância; de outro, resistências ideológicas e corporativas à reforma do Ensino Médio, potencializadas por um ânimo de retaliação política ao passado recente por parte da militância de esquerda e, também, por problemas concretos de implementação da reforma em vários estados durante o desastre federativo do governo Bolsonaro.
Os dois vetores de pressão desaguam no Congresso Nacional, onde não se percebe uma articulação política governamental efetiva e assertiva em favor das posições do MEC. Com um manto de suspeição empresarial sobre um dos seus mais acalentados projetos e com a iminente votação da reforma em clima adverso, sob fogo cruzado de adversários e amigos, o ministro Camilo Santana está sendo testado em sua habilidade política. O desafio diante de si parece ser desmontar uma virtual coalizão de veto a aspectos importantes da política educacional. É a esse cenário de risco que pode se somar uma eventual greve nas instituições de ensino superior, uma greve que pode começar sem prazo algum para acabar.
O presidente Lula não parece preocupado com agruras do seu ministro. Esbanjou autoconfiança, humor de blague e ironia quando discursou numa reunião do Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia sobre inteligência artificial, na mesma quinta-feira, 07.03, em que Camilo Santana se reunia com a direção da Andifes e parlamentares da FPME. Disse ele, a respeito de cogitações de greve em institutos federais: “Só o fato de os caras quererem fazer greve já é bom, porque no governo passado ninguém se metia a fazer greve. Então só o fato do cara falar (...) O Lula está no governo então posso fazer uma grevezinha’ é ótimo! Que bom que ele está exercitando o direito de reclamar, o direito de reivindicar e a gente pode exercitar o direito de dar ou o de não dar (...) quando a gente não pode dar a gente sempre joga a culpa na Fazenda”. (https://valor.globo.com/google/amp/brasil/noticia/2024/03/07/lula-defende-greve-de-servidores-e-brinca-que-nao-pode-mais-culpar-o-fmi.ghtml).
Natural ou artificial, essa inteligência política acha-se capaz de traçar uma diagonal sobre conflitos periféricos às suas prioridades e saltar por cima deles. Aparenta não se submeter ao dilema de atores políticos mortais, em geral acossados por pressões opostas da prudência e da vontade. Parece querer que sempre haja dúvida sobre se aposta nas possibilidades ou na impotência da política. Gosta de repetir que não há saída fora dela. Mas o que significa essa frase na sua gramática? Que tudo é política?
*Cientista político e professor da UFBa" RESUMIR O TEXTO DE FORMA CRÍTICA, OBJETIVA, COMPREENSIVA, FLUENTE E CONSCISA.
ChatGPT
________________________________________________________________________________________________________
-------------
-------------
JOE BIDEN - DISCURSO DO ESTADO DA UNIÃO | 07/03/2024
CNN Brasil
Transmitido ao vivo em 7 de mar. de 2024 #CNNBrasil
Assista na íntegra ao discurso do Estado da União, proferido pelo presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, nesta quinta-feira, 07 de março de 2024. #CNNBrasil
https://www.youtube.com/watch?v=MMVqT2tuyqI
_________________________________________________________________________________________________________
------------
---------------
-------------
------------
ELEIÇÃO HOJE EM PORTUGAL
"Li essa sondagem ontem no jornal O Público. A AD, de centro-direita, aparece em 1. lugar com 27% e o PS, de centro-esquerda, em 2., com 22%. O Chega, de extrema-direita, está em terceiro, com 13%. Chamou-me atenção o alto número de indecisos, 16%. Portanto, o resultado parece-me bastante incerto. Aguardemos o veredito das urnas!"
_________________________________________________________________________________________________________
-----------
------------
-------------
_________________________________________________________________________________________________________
"olhando para o futuro, uma prova de engenhosidade humana." ANNE HIDALGO, PREFEITA DE PARIS NAS PÁGINAS AMARELAS DA VEJA
"esperando o futuro, uma indolência de inércia humana." FULANO DE TAL, PREFEITO DE SIRAP NAS PÁGINAS SALMÃO DA NÃO VEJA
"I see a future." JOE BIDEN, DISCURSO DO ESTADO DA UNIÃO | 07/03/2024 NAS PÁGINAS BRANCAS DA REVEJA
_________________________________________________________________________________________________________
-------------
Essas citações contrastantes oferecem diferentes perspectivas sobre a visão para o futuro e o papel da humanidade nele. Vamos analisar cada uma delas:
--------------
Anne Hidalgo, Prefeita de Paris: Sua declaração, "olhando para o futuro, uma prova de engenhosidade humana", transmite uma visão otimista e esperançosa. Ela destaca a capacidade da humanidade de enfrentar desafios futuros com criatividade e habilidade. Essa perspectiva enfatiza a confiança no potencial humano para superar obstáculos e criar um futuro melhor.
Fulano de Tal, Prefeito de Sirap: Por outro lado, a citação de Fulano de Tal expressa uma visão mais cética e desanimada. Ao descrever o futuro como "esperando o futuro, uma indolência de inércia humana", ele sugere uma falta de ação e iniciativa por parte da humanidade. Essa perspectiva enfatiza a apatia e a complacência diante dos desafios futuros, implicando uma falta de vontade ou capacidade de enfrentá-los.
JOE BIDEN - DISCURSO DO ESTADO DA UNIÃO | 07/03/2024: A declaração "I see a future" de Joe Biden é mais neutra em termos de otimismo ou pessimismo. Ela simplesmente afirma a existência de um futuro, sem fazer juízos de valor sobre suas qualidades ou os esforços necessários para alcançá-lo. No contexto de um discurso político, essa declaração pode ser interpretada como uma afirmação de compromisso com a continuidade e a progressão.
Essas citações ilustram diferentes atitudes e perspectivas em relação ao futuro e ao papel da humanidade nele. Enquanto algumas pessoas estão otimistas quanto à capacidade da humanidade de superar desafios e prosperar, outras expressam preocupação com a inércia ou falta de ação diante das adversidades. Essas diferentes visões podem influenciar a forma como as pessoas abordam questões futuras e buscam soluções para elas.
_________________________________________________________________________________________________________
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário