quinta-feira, 14 de março de 2024

EQUILÍBRIO DO MEDO

----------- Um Inimigo do Povo ---------- "Tem gente que nasce para mandar. Tem gente que nasce para obedecer. Eu vou fugir daqui." - disse Ivani Ribeiro em "Mulheres de Areia". "Você é esperto, Donato." - Trecho de "Mulheres de Areia", de Ivani Ribeiro. "A arte de vencer um debate sem ter razão." - Schopenhauer. "O Inimigo do Povo", de Henrik Ibsen. -------------
O que o autor quis dizer com a expressão equilíbrio do medo? O equilíbrio do terror foi a expressão designada para se referir ao momento em que União Soviética e Estados Unidos passavam por uma corrida armamentista de forma tão acirrada que nenhum dos dois poderia vencer o conflito. ---------- -------------- Análise: A constante ameaça de Putin sobre um conflito nuclear | WW CNN Brasil 13 de mar. de 2024 #CNNBrasil Às vésperas das eleições que vão reconduzí-lo a um quinto mandato, o presidente russo Vladimir Putin disse que o arsenal nuclear do país está pronto para ser usado. A declaração foi dada no mesmo dia em que o exército ucraniano intensificou os ataques em território russo. O analista de Internacional Lourival Sant’Anna e o professor de relações internacionais Carlos Gustavo Poggio comentam sobre a ameaça de um conflito nuclear. https://www.youtube.com/watch?v=EvlNShbktxs ____________________________________________________________________________________ ------------
------------ O fascismo é uma besta com capacidade de renascer e se ------------ 'Os direitos das palavras: fascista Abusos de um expediente retórico Por Jorge Almeida Fernandes 19 de fevereiro de 2021 « (...) Umas vezes, abusamos das palavras através de um preguiçoso expediente retórico para exprimir sentimentos fortes, fazer crescer a indignação e empolar acontecimentos.(...)  »   Publiquei há anos uma crónica sobre Os direitos das palavras, prevenindo contra os abusos. «Se com as palavras pensamos e por elas nos entendemos, necessário é reconhecer-lhes alguns direitos, designadamente o de não serem objecto de abuso, de forma substantiva ou adjectiva. E reconhecer mesmo, a algumas delas, o direito à sua particular identidade: são únicas por designarem coisas únicas» (Público, 25/9/1996). Umas vezes, abusamos das palavras através de um preguiçoso expediente retórico para exprimir sentimentos fortes, fazer crescer a indignação e empolar acontecimentos. Em linguagem jornalística, uma matança facilmente se torna num massacre (matar selvaticamente e em massa pessoas indefesas), tal como um massacre rapidamente passa a genocídio (extermínio metódico de um grupo humano). Outras vezes, por ignorância. Outras ainda, no caso da palavra fascista, como mero instrumento para insultar o adversário. Genocídios e Holocausto Referia, em 1996, alguns exemplos. O genocídio dos tutsis pelos hutus, em 1994, não deixa dúvidas. Houve o desígnio de exterminar toda uma comunidade ou etnia. No entanto, a aplicação da mesma palavra – genocídio – aos posteriores massacres de hutus por tutsis era abusiva, não pela exponencial diferença dos números, mas pela distinta natureza das coisas: não havia da parte das milícias tutsis o desígnio de eliminação da etnia hutu, mas vingança. A legítima vontade de exprimir o horror não justifica a falta de rigor nas palavras, sob pena de falsificação dos factos. O abuso das palavras não é apenas uma falta contra a verdade. Tem o efeito político de banalizar. Prosseguia a crónica registando outros abusos. Na celebração dos 500 anos do édito de 1496 de D. Manuel I – da expulsão ou da conversão forçada dos judeus – um alto dignitário do Estado de Israel qualificou, em Lisboa, a expulsão dos judeus como um «primeiro Holocausto». A derrapagem obedecia a um objectivo político. Mas constituía também um acto de absoluta irresponsabilidade perante a memória histórica, a judaica e a da Humanidade. Nem os pogroms antijudaicos – da Idade Média aos princípios do século XX – nem o crime da expulsão e da conversão forçada no século XVI foram um Holocausto. A vontade de enfatizar a intolerância acaba, afinal, por banalizar o que não pode ser banalizado. O Holocausto é um genocídio único, em que um Estado moderno procurou eliminar um povo inteiro de forma industrial. Nos dias de hoje, o leitor pode ainda apreciar a referência a terrorismo na acusação a Bruno de Carvalho. Também a Justiça desconhece o peso das palavras. Fascismo Vem isto a propósito do «milagre da multiplicação dos fascistas» nas eleições brasileiras. «Na blogosfera ideológica, fascista virou feijão com arroz», escreveu o analista Fernando Schüller. Não é um fenómeno brasileiro. Observa o historiador francês Frédéric Le Moal: «Nunca houve tantos antifascistas desde que o fascismo desapareceu.» Sempre existiu na Europa a crença num «fascismo eterno». A palavra fascismo deve ser respeitada como “única”, por designar uma das monstruosidades que fabricaram a trágica primeira metade do século XX. Não pretendo discutir aqui as teorias do fascismo. Limito-me a aconselhar a leitura de “clássicos”, como Renzo De Felice ou Emilio Gentile. Tendemos a banalizar o fascismo como ditadura reaccionária. Mas o fascismo nunca se identificou como conservador ou reaccionário, antes denunciava o espírito burguês, cobarde e egoísta, tal como visou substituir o capitalismo liberal por um capitalismo e uma economia submetidos ao Estado. Nascido em contraponto ao comunismo, reivindicava-se como revolucionário e tinha também como meta um «homem novo». Daí a sua virulência. Cito Gentile: «Uma ideologia (...) que se proclama antimaterialista, anti-individualista, antiliberal, antidemocrática, antimarxista, tendencialmente populista e anticapitalista, que se exprime mais estética do que teoricamente, através de um novo estilo político e através de mitos, ritos e símbolos de uma religião laica, instituída em função de um processo de aculturação, de socialização e de integração fideísta das massas para a criação do "homem novo".» Visa realizar, através do Estado totalitário, a «fusão do indivíduo e das massas na unidade orgânica da nação, (...) adoptando medidas de discriminação e perseguição dos que se mantêm fora desta comunidade». Implica «a subordinação absoluta do cidadão ao Estado, (...) o espírito guerreiro». Tal como o comunismo, denunciava as oligarquias e a corrupção parlamentar. Intimidava os inimigos pela força e com milícias paramilitares – o squadrismo. Mussolini mobilizou sindicalistas e socialistas revolucionários, antigos combatentes, muitos jovens. Seduziu milhões de europeus entre as duas guerras. Assim foi o fascismo italiano — deixo de lado o nazismo, «a versão mais patológica do fascismo», ou os regimes reaccionários que se inspiraram em Mussolini. Deixo também de lado os compromissos a que Mussolini foi forçado pela burguesia industrial ou pela Igreja Católica. A nossa época O fascismo é inseparável de uma época. Nasce dos escombros da I Guerra Mundial e da “brutalização” (George Mosse) a que foi submetida a população europeia, do seu cortejo de matanças, do culto da violência e do desprezo pela vida. Nasceu no cataclismo das classes médias depauperadas e na crise da modernidade liberal do fim do século XIX. Este mundo desapareceu em 1945. Os actuais populismos são fenómenos radicalmente distintos do fascismo. O fascismo era uma ideologia estruturada. Os populismos são mais um estilo do que uma ideologia. Hoje ninguém se propõe criar o «homem novo». Comparando os dois fenómenos, escreve o historiador Nicolas Lebourg, especialista na extrema-direita: «O sistema económico da época [do fascismo] é o da idade industrial, com massas proletárias. (...) O nosso sistema presente é o de uma economia planetária e financeira.» Passámos da idade das massas para o tempo das identidades. Persistem, certamente, muitos nostálgicos do fascismo, mas não passam de grupúsculos, como os italianos Forza Nuova ou Casa Pound. Insiste Gentile: «A democracia não está em risco por causa de um fascismo que não existe. Hoje, o perigo é o suicídio da democracia. O que há de novo, em todo o mundo, é um novo poder de direita, nacionalista e xenófobo. (...) Uma política nacionalista democrática iliberal. O fascismo sempre negou a soberania popular, enquanto o nacionalismo populista de hoje reivindica o sucesso eleitoral. Estes políticos de agora dizem-se representantes do povo, pois foram eleitos pela maioria. Coisa que o fascismo nunca fez.» «As ditaduras descaradas – sob forma de fascismo, comunismo ou regime militar – desapareceram de quase todo o mundo. Os golpes militares e outras tomadas violentas do poder são raros. A maioria dos países realiza eleições. As democracias ainda morrem, mas de maneira diferente» (Steven Levitsky e Daniel Ziblatt). O palavrão fascista apenas serve para desviar a atenção do problema de hoje, o risco de degeneração da democracia. Fonte Artigo transcrito d jornal do Público de 17 de novembro de 2018, escrito segundo a norma ortográfica de 1945.' in Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, https://ciberduvidas.iscte-iul.pt/artigos/rubricas/idioma/os-direitos-das-palavras-fascista/4405 [consultado em 14-03-2024] _________________________________________________________________________________________________________________ ------------
--------------- OUTUBRO 4, 2018INSTITUTOASTROJILDOPEREIRA O fascismo é uma besta com capacidade de renascer e se reproduzir. ---------- 'Os direitos das palavras: fascista Abusos de um expediente retórico Por Jorge Almeida Fernandes «Os actuais populismos são fenómenos radicalmente distintos do fascismo. O fascismo era uma ideologia estruturada. Os populismos são mais um estilo do que uma ideologia.» A destrinça é de Jorge Almeida Fernandes, redator principal do jornal Público, acerca da banalização e risco de esvaziamento do termo fascista quando usado fora de contexto. Artigo incluído na edição do Público de 17 de novembro de 2018.' in Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, https://ciberduvidas.iscte-iul.pt/autores/jorge-almeida-fernandes/939/pagina/1 [consultado em 14-03-2024] https://ciberduvidas.iscte-iul.pt/autores/jorge-almeida-fernandes/939/pagina/1 _________________________________________________________________________________________________________ -----------
------------ " - Tem gente que nasce para mandar. Tem gente que nasce para obedecer. Eu vou fugir daqui. - Você é esperto, Donato." Mulheres de Areia, Ivani Ribeiro. 'A arte de vencer um debate sem ter razão.' Schopenhauer. O Inimigo do Povo, Henrik Ibsen. ---------- Essas citações que são interessantes e revelam diferentes aspectos da natureza humana e da dinâmica social. A primeira citação, de "Mulheres de Areia" de Ivani Ribeiro, sugere uma reflexão sobre as diferentes inclinações das pessoas: algumas nascem com uma disposição para liderar, enquanto outras têm uma inclinação mais natural para seguir. A personagem expressa sua vontade de escapar dessa situação, indicando um desejo de liberdade ou de romper com uma dinâmica que não lhe convém. A citação de Schopenhauer sobre "A arte de vencer um debate sem ter razão" é uma observação perspicaz sobre as estratégias retóricas que podem ser usadas para persuadir ou manipular, mesmo quando os argumentos são fracos ou inconsistentes. Isso destaca como a persuasão nem sempre está ligada à verdade ou à lógica, mas muitas vezes à habilidade de manipular emoções e percepções. Por fim, a citação de Henrik Ibsen, retirada de "O Inimigo do Povo", aborda questões de coragem, ética e confronto com a verdade. A peça explora temas como a integridade individual em face da oposição da sociedade e as dificuldades enfrentadas por aqueles que buscam revelar verdades inconvenientes ou impopulares. Cada citação oferece uma perspectiva única sobre aspectos da natureza humana, da interação social e das lutas individuais, demonstrando a profundidade e a diversidade das obras literárias que as originaram. -----------
----------- Maria Cristina Fernandes - A frase que Lula não quer mais repetir Valor Econômico Conflitos de interesse dentro do governo evitam que presidente seja informado sobre as decisões que toma “Vocês estão querendo f... meu governo”. Foi assim que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva abriu a reunião da última segunda sobre a Petrobras. Queixou-se de que não tinha sido informado de que a retenção dos dividendos extraordinários levaria as ações da Petrobras a despencar no mercado como o fizeram na semana passada. É a segunda vez, em dois meses, que isso acontece. ' _________________________________________________________________________________________________________ -----------
------------ Equilíbrio do Medo: Conquistando a Harmonia entre Razão e Emoção Na interseção entre a psicanálise de Jacques Lacan, a teoria do lapso de Sigmund Freud e a habilidade de Machado de Assis para dissecar a alma humana, encontramos um terreno fértil para explorar a tese de que conquistar o equilíbrio entre razão e emoção é o maior desafio do ser humano. Essa tese reflete a complexidade inerente à condição humana, em que conflitos internos e externos nos confrontam constantemente. Jacques Lacan, ao analisar a linguagem e a estrutura do inconsciente, destaca a importância da linguagem na construção da subjetividade e na regulação dos desejos. Ele argumenta que o ser humano é essencialmente dividido, com o eu consciente e o inconsciente em constante diálogo. Nesse contexto, a razão e a emoção emergem como forças em constante conflito, cada uma buscando dominar o outro. Freud, por sua vez, introduz o conceito de lapso, ou ato falho, como uma manifestação do inconsciente interferindo no consciente. Esses lapsos revelam os desejos reprimidos e os conflitos psíquicos subjacentes. Em nossas interações diárias, nossas ações e palavras muitas vezes traem nossos verdadeiros sentimentos e desejos, mostrando a luta entre a razão e a emoção. Machado de Assis, mestre em explorar os abismos da psique humana, retrata essa luta interior de maneira magistral em suas obras. Personagens como Capitu, Bentinho e Brás Cubas são exemplos vívidos dessa tensão entre a razão e a emoção, onde a mente racional tenta justificar ou suprimir os impulsos emocionais, muitas vezes sem sucesso. Ao conectar esses conceitos à tese proposta, torna-se claro que o equilíbrio entre razão e emoção é um desafio monumental. A razão busca a estabilidade, a lógica e o controle, enquanto a emoção anseia pela expressão, pela paixão e pela autenticidade. Encontrar um ponto de equilíbrio não significa eliminar uma em favor da outra, mas sim integrá-las de maneira saudável e produtiva. No entanto, como evidenciado na citação de Maria Cristina Fernandes sobre Lula, a busca por esse equilíbrio é frequentemente obstruída por forças externas e internas. Os conflitos de interesse, a falta de comunicação e a impulsividade podem desestabilizar nossas decisões e nos afastar do caminho do equilíbrio. Em conclusão, conquistar o equilíbrio entre razão e emoção é, de fato, o maior desafio do ser humano. Requer autoconhecimento, autodisciplina e uma compreensão profunda da complexidade de nossa psique. Somente através desse equilíbrio podemos alcançar uma vida plena e satisfatória, onde a razão e a emoção se complementam em harmonia. A análise do texto de Maria Cristina Fernandes nos leva a refletir sobre como os conflitos internos e externos podem interferir na busca desse equilíbrio. A falta de informação, a falta de transparência e a ausência de comunicação eficaz podem levar a decisões precipitadas e consequências indesejadas. Assim, a história de Lula serve como um lembrete contundente dos desafios enfrentados na jornada em direção ao equilíbrio entre razão e emoção. _________________________________________________________________________________________________________ -----------
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------------ JORNAL DO BRASIL ----------- JORNAL DO BRASIL 27 de julho de 1997 Sarney se queixa, mas SNI Vela pela paz com Ulysses Jorge Bastos Moreno BRASILIA — O ministro-chefe do SNI, general Ivan de Souza Mendes, é um dos mais ciosos defensores das relações entre o presidente Sarney e o deputado Ulysses Guimarães. Mas, utilizando a maneira como Ulysses denomina essas relações, Sarney diz que tem se sentido como o namorado traído, por ser sempre o ultimo a saber das coisas. Por exemplo: Sarney estranhou muito não ter sido procurado no final da convenção do PMDB, até porque o presidente e Ulysses se falaram pelo telefone durante a votação. Sarney queixa-se de ter tomado conhecimento dos resultados através de terceiros e não pelo próprio Ulysses. Já o deputado costuma dizer que no último momento fica sempre ao lado do seu partido. No entanto, o relacionamento entre os dois deve permanecer estável até o fim do governo, e, de acordo com o general Ivan, a transição depende dele. "O PMDB tem vários grupos, mas nos momentos difíceis todos eles correm para debaixo das asas do doutor Ulysses", diz o general. Aos que, dentro do PMDB, insistem em que ele deve romper com Sarney, Ulysses diz que não poderá fazê-lo. Primeiro, por não ter motivos, segundo, porque assinou um compromisso com a nação e se considera "fiador" tanto do que Sarney faz quanto do que deixa de fazer. Em baixa — Essa relação oscilante está em baixa, já que um vive se queixando do outro. "Esse, Ulysses...", diz Sarney, balançando as pernas, sempre que seu parceiro tenta pregar-lhe alguma peça. "Esse Sarney não é sopa", rebate Ulysses. O presidente Sarney admite ter queixas de Ulysses, mas reconhece que ele, apesar de tudo, ajuda muito mais do que "certas pessoas". Um dos seus interlocutores diz que essas "certas pessoas" são os principais líderes do PFL que o indicaram para vice na chapa de Tancredo. "Sarney não está assistindo de camarote à briga dentro da Aliança Democrática: "Eu me preocupo muito porque eles brigam, já que quem paga as faturas sou eu", diz Sarney. O presidente ficou, "chateado" com Ulysses, mas, acima de tudo, ficou "magoado" com o PMDB. Dentro desse partido, ele não quer nem ouvir falar no nome do senador Affonso Camargo (PR), atualmente um dos principais líderes dos progressistas. Seus amigos não escondem que üm dos principais defeitos do presidente é o ressentimento. O senador Fernando Henrique Cardoso (PMDB-SP), por exemplo, amarga até hoje as conseqüências de uma entrevista em que criticou o governo do qual era líder, às vésperas do Plano Cruzado. "É gozado " — Fernando Henrique mandou um recado ao presidente Sarney, negando que então o tivesse comparado a um "touro cansado". "Manda ele desmentir diretamente aos jornais", retrucou o presidente. "Esse Fernando Henrique é gozado. Vem aqui, me trata bem e depois sai falando de mim. Qualquer dia faço com ele o mesmo que o doutor Ulysses fez com o João Cunha." Citava o antológico episódio entre Ulysses e o deputado João Cunha (PMDB-SP). Cunha costumava entrar no gabinete de Ulysses aos gritos de "meu grande estadista". Na saída, chamava os jornalistas para criticar o presidente do PMDB. Deixou de fazê-lo quando recebeu um pedido de Ulysses: "Por favor, eu prefiro que você me xingue aqui dentro e me chame de estadista lá fora." Já do líder Mário Covas, que, no dia sete de agosto, sobe ao palanque em Caruaru (PE) para pedir eleições em 88, Sarney diz reconhecer seu direito de discordar do governo. Chega a declarar que não apenas o respeita, como o admira. Atualmente, o presidente não tem se referido sequer ao senador José Richa (PR), que já convidou para ser seu chefe do Gabinete Civil. Quando ele não fala no nome, é porque está profundamente ressentido, observa um auxiliar, que, no entanto, desconhece os motivos de Sarney, embora assegure: "Ele gosta tanto do Richa que daqui a uns dias esquece tudo." Reforma — Dos ministros do PMDB, ao contrário do que se diz, Sarney não quer as cabeças dos mais ligados a Ulysses. Ele diz que até gosta de Raphael de Almeida Magalhães (Previdência) e de Renato Archer (Ciência e Tecnologia), seu conterrâneo do Maranhão. Sarney admite porém que, com a promulgação da nova Constituição, terá que fazer um novo ajuste em sua equipe de governo, e não será porque tenha antipatias com ministros do PMDB ou PFL. Será a terceira e, talvez, última reforma ministerial de seu governo. E aí o critério de saída e de entrada será determinado pelo que tiver recebido na Constituinte. Dos governadores, os namoros mais recentes de Sarney são com Álvaro Dias (PR) e Henrique Santillo (GO), com quem inclusive almoçou na sexta-feira, quebrando um recorde da semana: o almoço demorou quase três horas e o presidente chegou atrasado ao palácio, bom humor, numa semana em que havia sido dominado pelos aborrecimentos da convenção do PMDB. Sarney está, a contragosto, se distanciado de Miguel Arraes (PE), cuja relação tende a se agravar, dependendo dos desdobramentos do affair Joaquim Francisco (ministro do Interior) e Dorany Sampaio (superintendente da Sudene). Antipatias — Esse é um dos maiores complicadores do momento, pois Ulysses já se definiu: nessa briga, fica com Arraes. O presidente do PMDB e o ministro Ronaldo Costa Couto estão evitando o agravamento da crise. Sarney gosta de Waldir Pires, que foi um dos seus melhores ministros, só que o acha "um pouco brizolista". O presidente, que no início do governo não gostava de seu ministro de Agricultura, Pedro Simon, hoje tem idéia diferente: acha que o governador do Rio Grande do Sul é uma peça chave no esquema de Ulysses, até porque é um dos políticos de mais bom senso dentro do PMDB. O encontro de uma hora e meia, no sábado, serviu para quebrar o gelo entre Sarney e Ulysses. Para cicatrizar mais rápido as feridas, evitaram assuntos desagradáveis, como a decisão da convenção e os votos secretos dos ministros. Eles fizeram as pazes por causa de um amigo comum: o ex-ministro Dilson Funaro. Ulysses, na verdade, foi ao Pericumã mais para interceder em favor de Funaro, envolvido no noticiário sobre o inquérito que apura irregularidades na importação de alimentos. Sarney se queixa, mas SNI vela pela paz com Ulysses Jorge Bastos Moreno JORNAL DO BRASIL 27 DE JUL DE 1987 https://www2.senado.leg.br/bdsf/handle/id/441529 _________________________________________________________________________________________________________ ----------
----------- Nas entrelinhas: Mentes naufragadas no passado e no presente Publicado em 14/03/2024 - 08:48 Luiz Carlos Azedo Brasília, China, Comunicação, Congresso, Economia, EUA, Europa, Governo, Guerra, Memória, Militares, Partidos, Política, Política, Ucrânia, Violência As forças liberais não são capazes de dar respostas imediatas às demandas da sociedade, e a tendência da esquerda é retroalimentar a polarização, sem oferecer soluções novas O espírito reacionário difere muito do conservador. Segundo o cientista político norte-americano Mark Lilla, no livro A mente Naufragada (Record), trata-se de invocar o passado para nele viver sem transformações, o que é muito diferente da atitude do conservador, que tem o passado e suas tradições como referência para agir no presente e construir o futuro. Foi o que aconteceu entre 1918-1939, em razão da enorme frustração gerada pela carnificina da Primeira Guerra Mundial e o fracasso da ordem democrática em bases iluministas (penso, logo existo) e aristocráticas. A ordem liberal tecida na virada do século estava em contradição com o sujeito moderno da sociedade industrial, sociológico, estruturado em classes bem definidas. A rica experiência da Social-Democracia Alemã, um partido operário de orientação marxista, sucumbiu ao nacionalismo. A emergência dos partidos comunistas, após a Revolução Russa de 1917, não foi capaz de barrar a ascensão do fascismo na Itália, na Alemanha e outros países europeus. Três pensadores do século XX destacam-se nesse período como protagonistas do pensamento reacionário: Franz Rosenzweig, Eric Voegelin e Leo Strauss. Lilla conclui que olhavam para os destroços de um passado que lhes parece ameaçado, quando já ultrapassado, e lutavam para salvá-lo, por não conseguirem se adaptar às mudanças. Por uma ironia da História, é isso que hoje faz do reacionarismo um fenômeno “moderno” e resiliente no mundo, inclusive nas grandes democracias do Ocidente. O ex-presidente Jair Bolsonaro e as forças que o apoiam, principalmente os “patriotas” e evangélicos, defendem, respectivamente, a volta do regime militar e uma regressão nos costumes (criminalização do aborto, do casamento gay e da maconha). São parte de um fenômeno que surge do agravamento das desigualdades, das mudanças nas estruturas de produção, da crise de representação política dos partidos, da velocidade, desregulamentação e horizontalidade das redes sociais, sem grandes reflexões. Tanto liberais como a esquerda têm dificuldades para enfrentar essas questões. O avanço das novas tecnologias não pede licença. Transforma a forma como vivemos, trabalhamos e nos relacionamos. Em sua escala, alcance e complexidade, já é diferente de qualquer coisa que o ser humano tenha experimentado antes. Diante de sua imprevisibilidade, a reação mais natural é se agarrar ao que já existe, ou seja, a tomada de atitudes conservadoras. É aí que está o nó da conjuntura política. Reformas aprovadas pelo Congresso para atender os agentes econômicos não equacionam os problemas políticos e sociais do país. Há um divórcio entre as forças políticas que protagonizam essas mudanças e a maioria da sociedade, que não compreende direito o que está acontecendo e repudia as práticas políticas dominantes. E o custo social dessa mudança, objetivamente, não pode ser revertido a curto prazo, o que alimenta a insatisfação social e as soluções populistas. Modelo ultrapassado Nesse ambiente, as forças liberais não são capazes de dar respostas imediatas às demandas da sociedade, e a tendência da esquerda é retroalimentar a polarização, sem oferecer soluções novas. Tece o seu fracasso ao buscar no próprio passado alternativas derrotadas em razão da correlação de forças políticas desfavorável, mas que hoje, mesmo que fosse favorável, levariam ao fracasso, porque suas propostas já são ultrapassadas. Com sinal trocado, também são mentes naufragadas. O slogan do governo Lula, União e reconstrução, subliminarmente reproduz o ambiente de radicalização e sugere uma volta ao passado. Que passado é esse? O dos nosso capitalismo de laços, que já produziu a política de “campeões nacionais” e a chamada “nova matriz econômica? Esgotaram-se os efeitos do boom das commodities e do bônus demográfico (a redução do número de dependentes em relação à população economicamente ativa), que alimentaram as altas taxas de crescimento no segundo mandato de Lula. A realidade é outra. A redução de ritmo de crescimento da China e a nova guerra fria, que virou guerra quente na Ucrânia e em Gaza, encerraram a grande onda de expansão da economia global e provocaram uma crise nas cadeias de valor do comércio mundial, que estão sendo reestruturadas. Essa foi uma variável do fracasso da política de capitalismo de Estado do governo Dilma Rousseff, que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ensaia retomar. A tentativa de adensamento da cadeia produtiva nacional, em vez de sua transnacionalização, serviu muito mais à formação de cartórios e à corrupção sistêmica do que à salvação da indústria nacional. O nacional desenvolvimentismo não morreu nos corações e mentes de uma parcela da população brasileira, assim como o milagre econômico do regime militar. Os dois projetos foram ancorados no capitalismo de Estado e numa economia autárquica. O resultado é que a industria nacional entrou em decadência e ficou fora das cadeias de valor, enquanto a produção de commodities de alimentos e minérios, uma vocação natural do Brasil na divisão internacional do trabalho, deslocou o eixo de nossas relações comerciais dos Estados Unidos para a China. A chave para o Brasil é a integração às novas cadeias de valor, que estão se regionalizando, sob a liderança dos Estados Unidos e da União Europeia, mas isso somente será possível com uma economia aberta e competitiva. Fatos e declarações recentes do presidente Lula e seus ministros sinalizam a direção contrária. Colunas anteriores no Blog do Azedo: https://blogs.correiobraziliense.com.br/azedo/ Compartilhe: _________________________________________________________________________________________________________ ------------ ---------------- Lama Clara Nunes Letra Pelo curto tempo que você sumiu Nota-se aparentemente que você subiu Mas o que eu soube a seu respeito Me entristeceu, ouvi dizer Que pra subir você desceu Você desceu Todo mundo quer subir A concepção da vida admite Ainda mais quando a subida Tem o céu como limite Por isso não adianta estar No mais alto degrau da fama Com a moral toda enterrada na lama Composição: Mauro Duarte. _________________________________________________________________________________________________________ ----------- ---------- Poesia | Extravio, de Ferreira Gullar ----------- EXTRAVIO Ferreira Gullar Onde começo, onde acabo, se o que está fora está dentro como num círculo cuja periferia é o centro? Estou disperso nas coisas, nas pessoas, nas gavetas: de repente encontro ali partes de mim: risos, vértebras. Estou desfeito nas nuvens: vejo do alto a cidade e em cada esquina um menino, que sou eu mesmo, a chamar-me. Extraviei-me no tempo. Onde estarão meus pedaços? Muito se foi com os amigos que já não ouvem nem falam. Estou disperso nos vivos, em seu corpo, em seu olfato, onde durmo feito aroma ou voz que também não fala. Ah, ser somente o presente: esta manhã, esta sala. -------------
----------- O poema “Extravio” mostra uma pessoa fazendo uma reflexão sobre sua vida atual. Na primeira estrofe, o eu lírico faz reflexões, onde ele começa, ele acaba; o que está fora, está dentro; em um círculo cuja periferia é o centro. Na segunda estrofe, diz que está disperso em lugares e coisas e que, de vez em quando, encontra suas partes dispersas. Na terceira, o personagem diz que está disperso nas nuvens e que, de lá, vê várias crianças chamando por ele, só que esses meninos são ele mesmo. Na quarta estrofe, complementa que muitos de seus pedaços se foram com seus amigos que já morreram. Na quinta estrofe, afirma estar presente no corpo dos seres vivos também. Por fim, na sexta estrofe, fala que é melhor somente prestar atenção no presente e esquecer o passado. O poema apresenta quatro estrofes de dois versos e uma de dois. Nos dois versos iniciais, encontramos uma antítese em “começo-acabo” e no terceiro, uma comparação em “como num círculo”. Notamos, ainda, o polissíndeto na gradação “disperso nas coisas, nas pessoas, nas gavetas”. Ferreira Gullar foi um dos poetas mais relevantes para a literatura brasileira, suas obras ficaram conhecidas principalmente pelas questões sociais e políticas. Certamente influenciado por seu contexto, “Extravio” fala do quanto podemos nos perder em situações que são impostas para nós e isso faz do texto um poema muito interessante." _________________________________________________________________________________________________________

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