Durante dez anos.
“UMA EMPREITEIRA MUITO PRÓXIMA DO PODER
No
curso das investigações, a Operação Lava-Jato colheu provas de como eram
umbilicais as relações entre as grandes empreiteiras e os inquilinos do poder.
Os empresários recebiam favores de governantes e parlamentares e, em troca,
repassavam a eles quantias milionárias, em dinheiro vivo ou na forma de doação
eleitoral. O esquema – clássico, antigo e azeitado – funcionava de tal forma
que corruptos e corruptores passaram a tratar pessoalmente de suas respectivas
demandas. Emílio e Marcelo Odebrecht tinham por hábito defender seus projetos
em animadas conversas com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva – ou com o
ex-ministro Antonio Palocci, seu fiel escudeiro.
Com
a Camargo Corrêa, não era diferente. A empreiteira, uma das maiores do Brasil,
mantinha contatos estreitos com o governo. Comandada na prática pelos maridos
das herdeiras de Sebastião Camargo, seu fundador, a companhia dispunha, até
recentemente, de diversos canais de aproximação com o poder. Os genros do
patriarca tinham, cada um a seu modo, suas ligações com Brasília. E, como a
Lava-Jato começou a revelar, costumavam recorrer a esses contatos poderosos
sempre que precisavam solucionar algum problema da empresa – fosse pelas vias
normais, fosse por vias tortas. E-mails obtidos por VEJA mostram uma dessas
situações, ocorrida em 2010, ao tempo em que se consumava a primeira eleição de
Dilma Rousseff. É um flagrante dos bastidores, sempre discretos, da relação entre
uma empresa e um governo.
A
Camargo queria vender sua participação na holding do Banco Itaú. Procurava um
comprador desde 2009, sem sucesso. Diante do impasse, recorreu aos amigos do
governo para que convencessem um dos fundos de pensão estatais – qualquer um –
a fazer o negócio. Pelo menos dois dos genros foram atrás de seus canais em
Brasília. Em uma das mensagens, um deles, Fernando Botelho, que morreria em um
acidente aéreo mais tarde, desabafa. Diz que o impasse na negociação estava
causando desgaste na companhia e na família, mas o problema estava prestes a
ser superado. Motivo: a ascendência que outro “genro”, Luiz Nascimento,
afirmava ter sobre Palocci, chamado de “médico”. “Acontece que o Luiz se coloca
como interlocutor junto ao palácio e também junto à candidata. Neste sentido,
ele alega ter total controle sobre o médico, que por sua vez se coloca como o
poderoso e cheio de moral com a candidata.”
Naquela
altura, Dilma despontava como favorita à sucessão de Lula. Palocci, por sua
vez, era barbada para chefiar a Casa Civil. A Camargo decidira apostar na
eleição de Dilma. “O Luiz tem que provar que valeu a pena termos embarcado
nessa aventura que foi apoiar (a candidata petista)”, emendou Botelho. O
negócio acabou saindo como se esperava: a Petros, fundo de pensão dos
funcionários da Petrobras, comprou as ações por 3 bilhões de reais. Naquele
ano, a Camargo despejou 8,5 milhões de reais na campanha de Dilma. Nada como
ter bons amigos.”
Veja,
18 de janeiro de 2017, p.47.
História Imortal
“A vida como ela é...”
“é um tratado de traídos. Todo mundo adora história de homem traído por mulher.
Durante
dez anos, dia após dia, o leitor tomava conhecimento do adultério do dia.
A
única coisa que realmente não morre como história é o adultério, seja até um
adultério de galinheiro, de galinhas etc., faz um sucesso incrível. Daqui a
dois milhões de anos, o traído fará o mesmo sucesso.”
Nelson
Rodrigues por ele mesmo / organização Sonia Rodrigues. 1.ed. – Rio de Janeiro:
Nova Fronteira, 2012.
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