Convívio
1572, 1968, 2013, 2016
1572, 1968, 2013, 2016
Convivências
1968 – Anjos canalhas
Nélson Rodrigues
Entro
na redação e o Marcelo Soares de Moura me chama. Começa: - "Escuta aqui,
Nélson. Explica esse mistério." Como havia um mistério, sentei-me. Ele
começa: - "Você, que não escrevia sobre política, por que é que agora só
escreve sobre política?" Puxo um cigarro, sem pressa de responder.
Insiste: - "Nas suas peças não há uma palavra sobre política. Nos seus
romances, nos seus contos, nas suas crônicas, não há uma palavra sobre política.
E, de repente, você começa suas "confissões". É um violino de uma
corda só. Seu assunto é só política. Explica: - Por quê?"
Antes
de falar, procuro cinzeiro. Não tem. Marcelo foi apanhar um duas mesas adiante.
Agradeço. Calco a brasa do cigarro no fundo do cinzeiro. Digo: - "É uma
longa história." O interessante é que outro amigo, o Francisco Pedro do
Couto, e um outro, Permínio Ásfora, me fizeram a mesma pergunta. E, agora, o
Marcelo me fustigava: - "Por quê?" Quero saber: - "Você tem
tempo ou está com pressa?" Fiz tanto suspense que a curiosidade do Marcelo
já estava insuportável.
Começo
assim a "longa história": - "Eu sou um ex-covarde." O
Marcelo ouvia só e eu não parei mais de falar. Disse-lhe que, hoje, é muito
difícil não ser canalha. Por toda a parte, só vemos pulhas. E nem se diga que
são pobres seres anônimos, obscuros, perdidos na massa. Não. Reitores,
professores, sociólogos, intelectuais de todos os tipos, jovens e velhos,
mocinhas e senhoras. E também os jornais e as revistas, o rádio e a tv. Quase tudo
e quase todos exalam abjeção.
Marcelo
interrompe: - "Somos todos abjetos?" Acendo outro cigarro: -
"Nem todos, claro." Expliquei-lhe o óbvio, isto é, que sempre há uma
meia dúzia que se salve e só Deus sabe como. "Todas as pressões trabalham
para o nosso aviltamento pessoal e coletivo." E por que essa massa de
pulhas invade a vida brasileira? Claro que não é de graça nem por acaso.
O
que existe, por trás de tamanha degradação, é o medo. Por medo, os reitores, os
professores, os intelectuais são montados, fisicamente montados, pelos jovens.
Diria Marcelo que estou fazendo uma caricatura até grosseira. Nem tanto, nem
tanto. Mas o medo começa nos lares, e dos lares passa para a igreja, e da
igreja passa para as universidades, e destas para as redações, e daí para o
romance, para o teatro, para o cinema. Fomos nós que fabricamos a "Razão
da Idade". Somos autores da impostura e, por medo adquirido, aceitamos a
impostura como a verdade total.
Sim,
os pais têm medo dos filhos, os mestres dos alunos. o medo é tão criminoso que,
outro dia, seis ou sete universitários curraram uma colega. A menina saiu de lá
de maca, quase de rabecão. No hospital, sofreu um tratamento que foi quase
outro estupro. Sobreviveu por milagre. E ninguém disse nada. Nem reitores, nem
professores, nem jornalistas, nem sacerdotes, ninguém exalou um modestíssimo
pio. Caiu sobre o jovem estupro todo o silêncio da nossa pusilanimidade.
Mas
preciso pluralizar. Não há um medo só. São vários medos, alguns pueris,
idiotas. O medo de ser reacionário ou de parecer reacionário. Por medo das
esquerdas, grã-finas e milionários fazem poses socialistas. Hoje, o sujeito
prefere que lhe xinguem a mãe e não o chamem de reacionário. É o medo que faz o
Dr. Alceu renegar os dois mil anos da Igreja e pôr nas nuvens a "Grande
Revolução" russa. Cuba é uma Paquetá. Pois essa Paquetá dá ordens a
milhares de jovens brasileiros. E, de repente, somos ocupados por vietcongs,
cubanos, chineses. Ninguém acusa os jovens e ninguém os julga, por medo.
Ninguém quer fazer a "Revolução Brasileira". Não se trata de Brasil.
Numa das passeatas, propunha-se que se fizesse do Brasil o Vietnã. Por que não
fazer do Brasil o próprio Brasil? Ah, o Brasil não é uma pátria, não é uma
nação, não é um povo, mas uma paisagem. Há também os que o negam até como valor
plástico.
Eu
falava e o Marcelo não dizia nada. Súbito, ele interrompe: - "E você? Por
que, de repente, você mergulhou na política?" Eu já fumara, nesse
meio-tempo, quatro cigarros. Apanhei mais um: - "Eu fui, por muito tempo,
um pusilânime como os reitores, os professores, os intelectuais, os grã-finos
etc, etc. Na guerra, ouvi um comunista dizer, antes da invasão da Rússia: -
"Hitler é muito mais revolucionário do que a Inglaterra." E eu, por
covardia, não disse nada. Sempre achei que a história da "Grande
Revolução", que o Dr. Alceu chama de "o maior acontecimento do século
XX", sempre achei que essa história era um gigantesco mural de sangue e
excremento. Em vida de Stalin, jamais ousei um suspiro contra ele. Por medo,
aceitei o pacto germano-soviético. Eu sabia que a Rússia era a antipessoa, o
anti-homem. Achava que o Capitalismo, com todos os seus crimes, ainda é melhor
do que o Socialismo e sublinho: - do que a experiência concreta do Socialismo.
Tive
medo, ou vários medos, e já não os tenho. Sofri muito na carne e na alma.
Primeiro, foi em 1929, no dia seguinte ao Natal. Às duas horas da tarde, ou
menos um pouco, vi meu irmão Roberto ser assassinado. Era um pintor de gênio,
espécie de Rimbaud plástico, e de uma qualidade humana sem igual. Morreu errado
ou, por outra, morreu porque era "filho de Mário Rodrigues". E, no
velório, sempre que alguém vinha abraçar meu pai, meu pai soluçava: -
"Essa bala era para mim." Um mês depois, meu pai morria de pura
paixão. Mais alguns anos e meu irmão Joffre morre. Éramos unidos como dois
gêmeos. Durante 15 dias, no Sanatório de Correias, ouvi a sua dispnéia. E minha
irmã Dorinha. Sua agonia foi leve como a euforia de um anjo. E, depois, foi meu
irmão Mário Filho. Eu dizia sempre: - "Ninguém no Brasil escreve como meu
irmão Mário." Teve um enfarte fulminante. Bem sei que, hoje, o morto
começa a ser esquecido no velório. Por desgraça minha, não sou assim. E, por
fim, houve o desabamento de Laranjeiras. Morreu meu irmão Paulinho e, com ele,
sua esposa Maria Natália, seus dois filhos, Ana Maria e Paulo Roberto, a sua
sogra, D. Marina. Todos morreram, todos, até o último vestígio.
Falei
do meu pai, dos meus irmãos e vou falar também de mim. Aos 51 anos, tive uma
filhinha que, por vontade materna, chama-se Daniela. Nasceu linda. Dois meses
depois, a avó teve uma intuição. Chamou o Dr. Sílvio Abreu Fialho. Este veio,
fez todos os exames. Depois, desceu comigo. Conversamos na calçada do meu
edifício. Ele foi muito delicado, teve muito tato. Mas disse tudo. Minha filha
era cega.
Eis
o que eu queria explicar a Marcelo: - depois de tudo que contei, o meu medo
deixou de ter sentido. Posso subir numa mesa e anunciar de fronte alta: -
"Sou um ex-covarde." É maravilhoso dizer tudo. Para mim, é de um
ridículo abjeto ter medo das Esquerdas, ou do Poder Jovem, ou do Poder Velho ou
de Mao Tsé-tung, ou de Guevara. Não trapaceio comigo, nem com os outros. Para
ter coragem, precisei sofrer muito. Mas a tenho. E se há rapazes que, nas
passeatas, carregam cartazes com a palavra "Muerte", já traindo a
própria língua; e se outros seguem as instruções de Cuba; e se outros mais
querem odiar, matar ou morrer em espanhol - posso chamá-los, sem nenhum medo,
de "jovens canalhas".
RODRIGUES, Nélson.
In A cabra vadia (novas confissões), Livraria Eldorado Editora S.A., Rio
de Janeiro, s/data, págs. 7-10.
2013 – Anjos ex-covardes
Eppur
si muove, mas ao contrário do movimento da Terra, que não sentimos, na frase
famosa de Joaquim Nabuco, este movimento que aí está não dá para não perceber.
Em cima, em baixo, nas grandes capitais, nas periferias, no coração do Brasil,
lá em Belo Monte, entre os índios, os sem-teto, os sem-terra, nas corporações
profissionais e entre os estudantes, de dentro dessa crosta encardida que, há
anos, a tudo abafava há sinais de vida nova.
LUIZ WERNECK VIANNA *
18
Junho 2013 | 02h10
Os
interesses e as ideias de cada qual são díspares, desencontrados uns dos
outros, como seria de esperar numa sociedade que não mais reflete sobre si, que
destituiu a política da sua dignidade e converteu os partidos políticos em
instrumentos sem vida, máquinas eleitorais especializadas na reprodução
política dos seus quadros.
Os
acontecimentos recentes em São Paulo, no Rio de Janeiro e em outras grandes
cidades - especialmente no caso paulista - somente na aparência podem ser
tomados como um raio em dia de céu azul. Igualmente enganoso seria compreendê-los
como um mero, embora significativo, episódio de políticas públicas de
transporte urbano.
As
reportagens dos meios de comunicação, em particular as da imprensa escrita, têm
trazido à luz a identidade social de algumas lideranças desse movimento de
ocupação popular das ruas, não poucas cursando universidades de elite, para as
quais o aumento irrisório nas tarifas dos transportes não teria como explicar a
reação, à primeira vista desproporcional, aos poucos centavos acrescidos a seu
preço.
A
memória política talvez ajude a pensar o caso em tela: no segundo ano do
governo de Juscelino Kubitschek, em 1956, um movimento de estudantes durante
vários dias tomou as ruas na chamada greve dos bondes, no Rio de Janeiro, então
capital federal, e seu alcance foi de tal natureza que se temeu a iminência de
uma crise institucional. A crise foi contornada politicamente, com o próprio
presidente Kubitschek intercedendo junto ao presidente da União Nacional dos
Estudantes (UNE), a quem recebeu em seu gabinete presidencial.
Nesse
registro, o que vale notar é que aquela movimentação estudantil transcendia a
sua motivação declarada, o aumento do preço das passagens, encobrindo um
malaise - sintoma que não escapou das sensíveis antenas políticas do presidente
- que se arrastava desde o suicídio do presidente Getúlio Vargas e a
subsequente turbulenta sucessão presidencial, em meio a golpes e contragolpes
de Estado.
Não
há exagero em sustentar que a feliz solução daquela crise - exemplar em termos
de sua orientação democrática - vai estar na raiz da afirmação dos movimentos
sociais nos anos subsequentes, os chamados "anos dourados", que viram
nascer formas expressivas do moderno na cultura brasileira, como no Teatro de
Arena, no Cinema Novo e na Bossa Nova, manifestações para as quais a UNE e o
seu Centro Popular de Cultura desempenharam um não pequeno papel.
Foi
assim que, de modo imprevisto e paradoxal, a modernização das estruturas
econômicas do Brasil, desencadeada por decisões discricionárias do Poder
Executivo - os "cinquenta anos em cinco" -, pôde se tornar
compatível, numa sociedade dominada pelo tradicionalismo, com a emergência do
moderno com as postulações que lhes são intrínsecas de autonomia da vida
social.
O
paralelo com a situação atual não é arbitrário: hoje, tal como nos anos 1950,
vive-se um tempo de acelerada modernização promovida por indução da ação
estatal, que vem revolvendo as suas estruturas sociais e ocupacionais e
provocando o realinhamento, em curto espaço de tempo, da posição de classes e
de estratos sociais.
Entre
tantos processos dessa natureza, deve ser notada a nova configuração das
chamadas classes médias, na esteira do processo de desenvolvimento capitalista
do Brasil e da mobilidade social que a acompanha, inteiramente distintas, em
termos de mentalidade e de inscrição no mercado, das que as antecederam.
Como
inevitável, tais transformações vêm repercutindo no sentido de enriquecer as agendas
de demandas sociais, como se verifica com o tema da mobilidade urbana que
somente agora chega à ribalta. Contudo, esse ângulo tópico é apenas a ponta
mais sensível das atuais manifestações - muitas delas mal escondendo a carga de
fúria de que são portadoras - que irrompem por toda parte em diferentes
cenários, não apenas urbanos.
Porém,
sem dúvida, estamos longe das Praças Tahir, do Egito, e Taksim, da Turquia. Os
movimentos sociais que emergem diante de nós não estão confrontados com um
regime autoritário - vive-se na plenitude das liberdades civis e públicas.
Há,
no entanto, um componente novo nessa movimentação social a requerer precisa
identificação, a que o repertório de interpretação corrente nos últimos anos
não concede acesso. A chave somente se fará disponível quando se compreender
que se está diante de uma insurgência democrática em favor do reconhecimento de
novas identidades sociais e de direitos de participação na vida pública,
especialmente das novas gerações.
A
hora da política está chegando e, com ela, a da remoção das instituições e
práticas nefastas que a têm degradado, tal como nesta forma bastarda de
presidencialismo de coalizão sob a qual se vive, engessando a moderna sociedade
brasileira no passado e no anacronismo destes novos coronéis da vida
republicana.
Há
riscos na hora presente, e um dos maiores deles é o de não agir no sentido de
evitar que a juventude se distancie dos valores da democracia, o que pode vir a
ocorrer por intervenções desastradas dos atuais governantes. O desfecho de 2013
não pode repetir o de 1968.
*
LUIZ WERNECK VIANNA É PROFESSOR PESQUISADOR DA PONTIFÍCIA
2016- Anjos caídos
- O Estado de S. Paulo
Entre
nós, o principal partido de esquerda parece não ter percebido, mesmo no plano
retórico, as características estruturais da sociedade brasileira, que traz em
si, 'morfologicamente', a pluralidade de classes e grupos sociais e suas
respectivas representações políticas
LUIZ SÉRGIO HENRIQUES*
17
Julho 2016 | 03h00
Não
se tem muita noção, por ora, do que restará do sistema partidário após o
fulminante conjunto de ações que se originaram em Curitiba há pouco mais de
dois anos e lançaram luz inédita sobre o financiamento da atividade política,
tema crucial para as relações entre governantes e governados e para a própria
qualidade da democracia. Constatamos, assustados, que tal sistema andava
funcionando em bases praticamente autorreferenciais. Entre outras coisas, pouco
se conhecia sobre financiadores, lobbies, interesses legítimos ou escusos que
contribuíam para dar forma à representação.
Como
ninguém é ingênuo, sabia-se que os controles estavam falhando. Impossível
ignorar o caráter espetacular das campanhas ou os abusos de marketing, com seus
magos capazes de explorar cinicamente medos irracionais e suscitar expectativas
ainda menos razoáveis. Agora, no entanto, a exposição dos males tem sido
impiedosa e parece não poupar nenhuma força ou personalidade relevante. O
celebrado artigo do juiz Sergio Moro sobre a Operação Mãos Limpas, convém
lembrar, foi publicado em 2004, no começo da era petista, quando a percepção de
haver algo podre no reino da Dinamarca ainda não havia sido imensamente
ampliada com os fatos que levaram à Ação Penal 470 e às investigações atuais
sobre a ocupação da Petrobrás e outras empresas públicas, com fins de reprodução
de mandatos e manutenção de máquinas partidárias – para não falar das situações
de enriquecimento pessoal que daí derivam por gravidade.
O
impacto de investigações dessa natureza não pode ser subestimado. Na Itália, de
um modo ou de outro, foi simplesmente a pique a sensação de imobilidade que
rodeava um “sistema de poder” congelado durante décadas. Em tal contexto
“eterno”, seria quase absurdo prever o fim da Democracia Cristã, um partido que
não era simplesmente “de direita”, para usar o jargão de que hoje se abusa, mas
também canalizava para a vida pública os tradicionais valores solidaristas do
mundo católico; e também difícil acreditar que o centenário Partido Socialista,
de um “animal político” voraz como Bettino Craxi, morto no exílio, iria ser tragado
no turbilhão.
Interessa-nos
pouco aqui saber se o PT e o ex-aliado subalterno, o PMDB, com toda a marca que
já deixaram na vida brasileira, o primeiro por mostrar ser plenamente plausível
a “via pacífica” ao governo, o segundo por encarnar a resistência democrática
ao autoritarismo, vão seguir o caminho do redimensionamento ou o da dissolução
no rastro das investigações. Nesta altura, pouca gente pode prever quem serão
os mortos e os sobreviventes, bem como o tamanho da tarefa de reconstrução do
sistema partidário antes que se dissemine o vírus letal da antipolítica ou se
agrave a sensação de que “ninguém nos representa” e “o voto não conta, todos
são iguais”.
Exercícios
inúteis de futurologia à parte, mais concreto já deveria estar sendo o trabalho
autocrítico por parte da esquerda, dentro ou fora dos partidos. Diferentemente
da situação italiana, e talvez para surpresa de muitos hoje seduzidos por um
anticomunismo primário, o que nos faz falta são grupos políticos capazes de se
reorientar à maneira do antigo PCI, que antes mesmo das Mãos Limpas, e não por
motivos judiciais, mas culturais e políticos, havia tomado o caminho do
reformismo, requalificando-se como “partido democrático” e acolhendo outras
vertentes reformistas, inclusive de inspiração católica, para começar uma
história diversa.
Entre
nós, o principal partido de esquerda parece não ter percebido, mesmo no plano
retórico, as características estruturais da sociedade brasileira, que traz em
si, “morfologicamente”, a pluralidade de classes e grupos sociais e suas
respectivas representações políticas. Para dar-se conta desse dado teria sido
necessário preparar-se culturalmente para uma visão institucional sofisticada,
cujo horizonte não se deixasse contaminar por um diagnóstico catastrófico da crise
– grave – do nosso tempo e, por isso, não reiterasse contraposições caducas,
como, para dar um exemplo que vale por todos, aquela que renitentemente opõe
avanços “substantivos” e mecanismos “formais” do voto, dos partidos, das
instituições.
Numa
palavra, mais uma vez o aparato conceitual de tantos políticos e intelectuais
“altermundistas”, brasileiros ou não, opôs democracia social e democracia
política, como se a segunda fosse um obstáculo à primeira – e obstáculo a ser
removido por mecanismos plebiscitários, apelos à mitologia de “assembleias
constituintes originárias” e a concepções de “contra-hegemonia” alheias ao
Estado Democrático de Direito, horizonte ineliminável de nossa época.
A
nosso ver, por se inserir de modo acrítico em tal rede conceitual e virar as
costas para a complexidade do País é que o petismo no poder se moveu tão
desastradamente no plano institucional e no social. Se defino o Parlamento como
assembleia de “picaretas”, disponho-me, ato contínuo, a cooptá-los, dispensando
os processos de persuasão e aliança e tornando-me assim agente de degradação
ainda mais acentuada. E se me autodefino, autoritariamente, como a irrupção dos
pobres na vida social e na história do Estado, divido grosseiramente a
sociedade em casa grande e senzala, pobres e ricos, amigos e inimigos –
simulacro de luta de classes que, no entanto, mal arranha a desigualdade,
afasta a esquerda de qualquer possibilidade dirigente e termina por preparar
seu estatuto minoritário por muitas décadas.
Nas
instituições e na sociedade, o resultado só podia ser desastroso. Ter feito
esse tipo de aposta terá sido o pior dos males causados pelo petismo à esquerda
e, sobretudo, ao País. Seja qual for o destino do partido e de seu máximo – e
solitário – chefe, resta começar de novo: uma outra esquerda há de ser
possível. E dela, certamente, o Brasil não pode abrir mão.
A primeira tragédia de Nelson
Rodrigues
Clip 2 A 1ª tragedia de Nelson
Legião Urbana - 1º de julho (VERSÃO ORIGINAL)
Legião Urbana - 1º de julho (VERSÃO ORIGINAL)
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