PT x PSDB, Polarização Artificial
Monopólio
do poder
O
que falar e pensar
Quando
se pensa que vai ocorrer o inevitável, acontece o inesperado.
OPOSIÇÃO
x GOVERNO
Presidente convidou petista para conversas até sobre a política econômica
Lula se encontra com FHC e admite discutir propostas
Presidente convidou petista para conversas até sobre a política econômica
Lula se encontra com FHC e admite discutir propostas
ELIANE CANTANHÊDE
Diretora da Sucursal de Brasília
KENNEDY ALENCAR
Editor do Painel
DENISE MADUEÑO
da Sucursal de Brasília
Com dificuldades em sua base de apoio no Congresso, o presidente Fernando Henrique Cardoso convidou Luiz Inácio Lula da Silva para discutir a política econômica e tentar estabelecer uma nova convivência do PT com o governo no segundo mandato.
FHC e Lula conversaram e tomaram uísque por mais de duas horas, anteontem à noite, na parte íntima do Palácio da Alvorada. Foi o primeiro encontro dos dois desde a posse do presidente em janeiro de 1995. O governador Cristovam Buarque (DF) participou.
Ficou acertado um debate formal entre o governo e o PT, possivelmente na segunda quinzena de janeiro. As assessorias econômicas dos dois lados tentarão estabelecer uma pauta comum.
Conforme a Folha apurou, Lula criticou o acordo do Brasil com o FMI (Fundo Monetário Internacional), condenou a falta de investimentos na indústria e previu uma séria crise social em 99. A política econômica, disse, está levando o país a um "beco sem saída".
O presidente respondeu que não tinha alternativa, que acreditava "piamente" que fora correta a ida ao Fundo e que a comunidade internacional entendeu que a crise era mundial e o Brasil não poderia quebrar.
O presidente reclamou da irreverência de sua base aliada, das cobranças dos partidos que a compõem e defendeu enfaticamente a necessidade de uma reforma político-partidária.
Citou a votação da medida provisória das entidades filantrópicas, nesta semana, como exemplo de entendimentos pontuais possíveis entre governo e oposição.
Os dois elogiaram o governador reeleito Mário Covas (SP), que fará uma cirurgia na segunda-feira para retirada da bexiga e foi visitado ontem por FHC. Covas tem sido o principal defensor da aproximação do governo com as esquerdas.
Nessa fase da conversa, FHC agradeceu a Lula por não ter divulgado o "dossiê Caribe", sobre suposta conta que teria como beneficiários o presidente e líderes tucanos no exterior. E ambos condenaram Paulo Maluf, que tentou utilizar a papelada durante a campanha eleitoral.
Ao abrir um canal com o PT, o presidente mostra que pode trilhar um caminho mais independente no segundo mandato, aceitando inclusive discutir a até agora intocável política econômica.
Para Lula, é importante tentar acabar com a imagem de que lidera uma sigla que aposta no "quanto pior melhor" e que faz oposição intransigente, sem propostas.
²
FHC pediu
A iniciativa do encontro partiu de FHC. Ele já havia telefonado para Lula no dia 10 de novembro, para agradecer sua posição no caso do dossiê, e vinha insistindo com Cristovam Buarque para intermediar o encontro.
O telefonema decisivo foi na noite de quinta-feira, para o celular de Lula, que estava num seminário do PT na Câmara. FHC disse que poderia ser um café-da-manhã ou um encontro em São Paulo.
Lula ficou em dúvida. Consultou ali mesmo o presidente do PT, José Dirceu, o deputado José Genoino (SP) e o deputado eleito Aloizio Mercadante (SP). Os três foram reticentes. Mesmo assim, Lula marcou o encontro -que foi até a 1h30 de ontem- para o mesmo dia.
Ontem, ele comunicou sua ida ao Alvorada para a bancada petista, no final do seminário. Disse que havia sido "uma conversa informal, sem agenda", que caberia ao presidente da República divulgar seu teor e que encontros posteriores passariam pelo partido.
A reação do Palácio do Planalto veio do porta-voz Sérgio Amaral: "Quem ganha é o país", disse, no "briefing" diário.
“Se houver entendimentos entre as diferentes correntes, nós poderemos avançar mais rápido. Sobretudo quando se trata de superar uma crise", disse Amaral, acrescentando que o presidente "por sua própria natureza e por convicção política sempre buscou diálogo nas mais diferentes forças políticas do país".
Lula também falou rapidamente sobre o encontro: "Conversamos amenidades. Àquela hora da noite, não dava para chegar a um acordo. Achei melhor falar sobre o Corinthians, porque a gente ganharia mais", declarou.
Ele tentou justificar o apoio de FHC ao manifesto dos presidentes de países do Mercosul contra a extradição do ex-ditador chileno Augusto Pinochet. "Como chefe de Estado, (FHC) tem muito menos liberdade do que eu, que sou da oposição, para se manifestar", afirmou o petista.
Para José Dirceu, "a bola agora está com o presidente, que decidirá se vai ficar conversando apenas com sua base aliada fisiológica ou se quer conversar com o PT, com os partidos de oposição e com a sociedade".
Genoino disse que "a crise é tão grave que é até uma responsabilidade abrir o diálogo". Mercadante considerou o encontro "positivo".
O intermediador Cristovam Buarque comemorou: "Estamos abrindo uma nova etapa no país. Dialogar não é aderir".
Diretora da Sucursal de Brasília
KENNEDY ALENCAR
Editor do Painel
DENISE MADUEÑO
da Sucursal de Brasília
Com dificuldades em sua base de apoio no Congresso, o presidente Fernando Henrique Cardoso convidou Luiz Inácio Lula da Silva para discutir a política econômica e tentar estabelecer uma nova convivência do PT com o governo no segundo mandato.
FHC e Lula conversaram e tomaram uísque por mais de duas horas, anteontem à noite, na parte íntima do Palácio da Alvorada. Foi o primeiro encontro dos dois desde a posse do presidente em janeiro de 1995. O governador Cristovam Buarque (DF) participou.
Ficou acertado um debate formal entre o governo e o PT, possivelmente na segunda quinzena de janeiro. As assessorias econômicas dos dois lados tentarão estabelecer uma pauta comum.
Conforme a Folha apurou, Lula criticou o acordo do Brasil com o FMI (Fundo Monetário Internacional), condenou a falta de investimentos na indústria e previu uma séria crise social em 99. A política econômica, disse, está levando o país a um "beco sem saída".
O presidente respondeu que não tinha alternativa, que acreditava "piamente" que fora correta a ida ao Fundo e que a comunidade internacional entendeu que a crise era mundial e o Brasil não poderia quebrar.
O presidente reclamou da irreverência de sua base aliada, das cobranças dos partidos que a compõem e defendeu enfaticamente a necessidade de uma reforma político-partidária.
Citou a votação da medida provisória das entidades filantrópicas, nesta semana, como exemplo de entendimentos pontuais possíveis entre governo e oposição.
Os dois elogiaram o governador reeleito Mário Covas (SP), que fará uma cirurgia na segunda-feira para retirada da bexiga e foi visitado ontem por FHC. Covas tem sido o principal defensor da aproximação do governo com as esquerdas.
Nessa fase da conversa, FHC agradeceu a Lula por não ter divulgado o "dossiê Caribe", sobre suposta conta que teria como beneficiários o presidente e líderes tucanos no exterior. E ambos condenaram Paulo Maluf, que tentou utilizar a papelada durante a campanha eleitoral.
Ao abrir um canal com o PT, o presidente mostra que pode trilhar um caminho mais independente no segundo mandato, aceitando inclusive discutir a até agora intocável política econômica.
Para Lula, é importante tentar acabar com a imagem de que lidera uma sigla que aposta no "quanto pior melhor" e que faz oposição intransigente, sem propostas.
²
FHC pediu
A iniciativa do encontro partiu de FHC. Ele já havia telefonado para Lula no dia 10 de novembro, para agradecer sua posição no caso do dossiê, e vinha insistindo com Cristovam Buarque para intermediar o encontro.
O telefonema decisivo foi na noite de quinta-feira, para o celular de Lula, que estava num seminário do PT na Câmara. FHC disse que poderia ser um café-da-manhã ou um encontro em São Paulo.
Lula ficou em dúvida. Consultou ali mesmo o presidente do PT, José Dirceu, o deputado José Genoino (SP) e o deputado eleito Aloizio Mercadante (SP). Os três foram reticentes. Mesmo assim, Lula marcou o encontro -que foi até a 1h30 de ontem- para o mesmo dia.
Ontem, ele comunicou sua ida ao Alvorada para a bancada petista, no final do seminário. Disse que havia sido "uma conversa informal, sem agenda", que caberia ao presidente da República divulgar seu teor e que encontros posteriores passariam pelo partido.
A reação do Palácio do Planalto veio do porta-voz Sérgio Amaral: "Quem ganha é o país", disse, no "briefing" diário.
“Se houver entendimentos entre as diferentes correntes, nós poderemos avançar mais rápido. Sobretudo quando se trata de superar uma crise", disse Amaral, acrescentando que o presidente "por sua própria natureza e por convicção política sempre buscou diálogo nas mais diferentes forças políticas do país".
Lula também falou rapidamente sobre o encontro: "Conversamos amenidades. Àquela hora da noite, não dava para chegar a um acordo. Achei melhor falar sobre o Corinthians, porque a gente ganharia mais", declarou.
Ele tentou justificar o apoio de FHC ao manifesto dos presidentes de países do Mercosul contra a extradição do ex-ditador chileno Augusto Pinochet. "Como chefe de Estado, (FHC) tem muito menos liberdade do que eu, que sou da oposição, para se manifestar", afirmou o petista.
Para José Dirceu, "a bola agora está com o presidente, que decidirá se vai ficar conversando apenas com sua base aliada fisiológica ou se quer conversar com o PT, com os partidos de oposição e com a sociedade".
Genoino disse que "a crise é tão grave que é até uma responsabilidade abrir o diálogo". Mercadante considerou o encontro "positivo".
O intermediador Cristovam Buarque comemorou: "Estamos abrindo uma nova etapa no país. Dialogar não é aderir".
Colaborou
Renata Giraldi, da Sucursal de Brasília
Renata Giraldi, da Sucursal de Brasília
DIÁRIOS
DA PRESIDÊNCIA
1997-1998
FERNANDO
HENRIQUE CARDOSO
ENCONTRO
COM LULA
12 DE DEZEMBRO DE 1998, SÁBADO
“... com
uma integridade básica, me parece.”
(...) Em Brasília, precisei atrasar o encontro com Lula. A certa hora, o
Cristovam (Buarque) telefonou para
Fátima (Borges), minha secretária,
depois eu é que telefonei para ele, para dizer que estava numa reunião e que
iria me atrasar. Falei com o Lula, o Lula quis marcar no dia seguinte, sexta-feira,
eu disse que não podia, porque iria a São Paulo visitar o Covas, e pedi para
falar com o Lula: “Olha, Lula, se você puder vir hoje, é melhor, eu fico até
tarde da noite aqui. Senão, amanhã tomamos um café da manhã”, Para minha
alegria, ele veio na quinta-feira, chegou ao alvorada lá pelas 10 da noite e
daqui saiu mais ou menos à 1 hora da manhã.
Reatamos um a conversa como se nos tivéssemos visto na véspera. Com
muita facilidade, Lula estava bem-disposto, elegante, mais bonito, com o
pensamento solto. Se Lula tivesse mais contato com os problemas reais do país e
com gente capaz de dizer coisas diferente daquilo que ele ouve (penso que deve
achar a mesma coisa de mim), teria outro desempenho no Brasil. Pena, que Lula
esteja tão bloqueado pelas idéias antigas, sobretudo pelo brizolismo. Aliás,
mencionei isso a ele.
“Pois é, e eu, que nunca fui varguista...”
“Pois é, você era melhor quando não era varguista.”
Depois falou sobre o Fundo Monetário, perguntou qual é o jogo do Fundo.
Expliquei uma porção de coisas, contei conversa minhas com Clinton, qual é a
situação do Brasil hoje. Eu disse: “Lula, eu não quero nada de você, a não ser
que estejamos abertos para o imprevisível”. Assinalei que o importante era que
não fechássemos as porta, porque em política o imprevisível sempre podia
acontecer. Repeti uma frase que usava antigamente: “Quando se pensa que vai
ocorrer o inevitável, acontece o inesperado”. E que seria bom que pessoas como
nós pudéssemos conversar, se fosse o caso.
Lula mencionou a possibilidade de termos um diálogo a partir de uma
agenda como pontos a ver com o PT. Eu disse que tudo bem, mas que se isso
viesse a público ia dar mau resultado. E expliquei: “A Cho que é possível até
trabalharmos para isso, mas primeiro é melhor pegarmos duas pessoas do seu
lado, duas do meu, e começarmos a discutir mais diretamente alguns pontos, até
que nos enfronhemos um pouco mais sobre as coisas e vermos se é mais pra cá ou
mais pra lá”. Curiosamente Lula tem pouca informação concreta. Em relação, por
exemplo, às políticas sociais, ele propõe o que a Comunidade Solidária está
fazendo. Acho que ele não sabe, não registra, o que o governo faz, côo se não
existisse. Mas, à parte isso, ele continua sendo ma pessoa viva, interessa e
com uma integridade básica, me parece.
Sei que deve ter custado a ele tomar a decisão de vir aqui, porque a
bancada se opôs. Mesmo um homem como Genoíno se opôs. Então, se vê que o
fundamentalismo no PT é muito grande e que a tendência – aliás, apontada pela
própria senadora Marina Silva, como eu li num jornal e até falei com ele sobre isto
– de o PT querer ter monopólio do poder é verdadeira. O PT não aceita outros,
na prática não aceita alianças. Mas o Lula me pareceu aberto. Acho que foi um
passo importante. Veja Editora ABRIL
edição 2478, ano 49 – n.º 20, 18 de maio de 2016
Mino Carta comenta
"confissão" de FHC sobre a Petrobras
Política
Petrobras
Em
livro de memórias, FHC diz ter sido informado por Benjamin Steinbruch de
escândalo na estatal em 1996
FHC preferiu não interferir na Petrobras
Em
entrevista à revista alemã Capital, publicada em agosto deste ano, o
ex-presidente Fernando Henrique Cardoso afirmou
que o escândalo de propinas em contratos da Petrobras
havia começado no governo Lula. Mas Narciso só acha
feio o que não é espelho.
No
livro Diários da Presidência – volume 1, a ser lançado em 29 de outubro,
FHC assume que tinha conhecimento de um esquema de corrupção na estatal em seu
primeiro mandato e nada fez para interrompê-lo.
Em
seu livro de memórias, o ex-presidente revela ter sido alertado em 1996 sobre
um escândalo na Petrobras em um almoço com Benjamin Steinbruch,
dono da Companhia Siderúrgica Nacional e indicado pelo tucano para o Conselho
da estatal.
“Eu
queria ouvi-lo sobre a Petrobras. Ele me disse que a
Petrobras é um escândalo. Quem manobra tudo e manda mesmo é Orlando Galvão
Filho, embora Joel Rennó tenha autoridade sobre Orlando Galvão.”
Em
1996, Rennó era presidente da estatal e Galvão Filho o presidente da BR
Distribuidora. O tucano registrou ainda “que todos os diretores da Petrobras
são os mesmos do conselho de administração” e sugeriu a existência de um jogo
de cartas marcadas nas decisões da empresa. “São sete diretores e sete membros
do conselho. Uma coisa completamente descabida.”
Embora
tenha afirmado que havia necessidade de “intervenção” na Petrobras, FHC
preferiu não interferir. “O problema é que eu não quero mexer antes da
aprovação da lei de regulamentação do petróleo pelo Congresso.”
Esta,
sim, é uma informação que mereceria dos jornalões da mídia nativa uma manchete,
espaço sempre reservado apenas a acusações contra Dilma e Lula. Os petistas só
foram acusados em delações premiadas e não há provas materiais contra eles. Por
outro lado, o diário de FHC deixa claro: ele sabia de tudo.
mai
31, 2016
O
que acontecimentos separados por mais de 40 anos têm a dizer sobre a situação
dos nossos dias.
Vandeck Santiago
(texto)
Nelson Almeida/ AFP (foto)
Nelson Almeida/ AFP (foto)
Os
políticos se parecem nos defeitos. Eles se diferenciam é nas virtudes.
Getulio Vargas nomeou um amigo para um cargo cobiçado. Tinha tanta confiança nele que lhe recomendou diretamente:
- Quando quiserem lhe corromper, me avise.
Algum tempo depois recebeu mensagem do amigo: “Presidente, por favor me demita urgente. Os homens estão chegando no meu preço”.
O caso faz parte do folclore político nacional, e, se aconteceu exatamente assim, aparentemente teve um final feliz. Mas imaginemos que o desfecho fosse diferente – já pensaram o estrago capaz de ser feito por um amigo do presidente, em um cargo estratégico?…
Agora vejamos outro caso, dos dias atuais, e relato histórico. Está no segundo volume do livro de memórias de Fernando Henrique Cardoso (Diários da Presidência – 1997-1998), lançado semana passada. Revela a pressão conjunta de três líderes políticos do PMDB para nomear o diretor não de uma grande estatal, ou de algum ministério político importante: “[Um político próximo ao presidente] foi procurado pelo Michel Temer, pelo Jáder Barbalho e pelo Geddel, que querem mudar o diretor do departamento de presídios do Ministério da Justiça”.
A pressão surpreendeu o presidente, que escreveu: “Me pareceu um tanto estranho que três dos principais líderes do PMDB queiram mudar um posto tão baixo e no qual existem licitações. Não quero me antecipar com maledicências, mas me deu uma ponta de preocupação”. Mais adiante ele cita outro caso semelhante: “O Geddel e o PMDB fizerem uma espécie de imposição: ou se nomeava o diretor do DNER [Departamento Nacional de Estradas de Rodagem] de Minas ou não me dariam os votos. A coisa de sempre”.
Estes acontecimentos são de 17 de junho de 1997. Façamos as contas e atualizemos as biografias: 19 anos depois, os três citados por FHC continuam atuando com destaque na política nacional. Michel Temer é presidente interino da República; Geddel Vieira Lima é ministro do governo dele, e Jáder Barbalho é senador (PA) e um filho dele é ministro do mesmo governo. Não chegaram ao poder neste momento; já estavam lá na administração petista.
Separadas por mais de quatro décadas, as duas histórias são ilustrativas do ambiente na política. Dizem respeito a Getulio e FHC, mas todo presidente (ou governador, ou prefeito) tem histórias semelhantes para contar. Não é que todo político calce 40; mas é inegável como se parecem nos defeitos. Quanto mais defeitos tiverem, mais danos são capazes de causar. Entre si, eles sabem quem é quem – mas todos convivem como personagens da mesma história, ocupando os mesmos espaços, e em um ambiente no qual os defeitos são separados das virtudes por uma pequena ponte. Muitas vezes migram de um lado para outro movidos pelas imposições que a política lhes faz.
A forma como a política está estruturada hoje favorece pressões e atos como aqueles testemunhados por Getulio e FHC. Vai do micro (como a mobilização de caciques para colocar em cargos aparentemente inexpressivos pessoas de sua confiança) até o macro. É impossível, hoje, qualquer governo ter apoio majoritário no Congresso sem brindar aliados com obras públicas e cargos, diz um especialista no assunto, o norte-americano Barry Ames, professor de Ciência Política da Universidade de Pittsburgh (EUA) e pesquisador das nossas instituições desde o período da ditadura militar.
Da forma como está montado, o sistema político do Brasil depende da corrupção para funcionar, diz ele, que é autor de Os entraves da democracia no Brasil (FGV, 2003). É um engano também pensar que a corrupção hoje é menor do que antes, afirma o cientista político. “Acho que a escala da corrupção envolvendo a Petrobras é certamente maior do que era em 2000. Mas minha aposta é que a quantidade roubada no período militar era ainda maior que a roubada hoje”, diz ele, em entrevista à BBC. “A grande diferença é que, numa democracia, os jornais e outros tipos de mídia estão muito engajados em expor a corrupção”. Na opinião de Barry Ames, pelo menos três medidas são necessárias para tentar solucionar o problema: acabar com o oligopólio na área da construção civil (“que facilita conluios entre governo e empreiteiras”, conforme a matéria da BBC); reduzir o número de partidos no Legislativo (que dificultam as coalizões) e criar um sistema com menos distritos eleitorais (assim os eleitores poderiam fiscalizar melhor os eleitos).
O fato é que, se não aproveitarmos o momento para modificações profundas no sistema, os políticos semelhantes nos defeitos estarão sempre batendo à porta dos presidentes, e entrando, e na maioria das vezes conseguindo o que querem.
Getulio Vargas nomeou um amigo para um cargo cobiçado. Tinha tanta confiança nele que lhe recomendou diretamente:
- Quando quiserem lhe corromper, me avise.
Algum tempo depois recebeu mensagem do amigo: “Presidente, por favor me demita urgente. Os homens estão chegando no meu preço”.
O caso faz parte do folclore político nacional, e, se aconteceu exatamente assim, aparentemente teve um final feliz. Mas imaginemos que o desfecho fosse diferente – já pensaram o estrago capaz de ser feito por um amigo do presidente, em um cargo estratégico?…
Agora vejamos outro caso, dos dias atuais, e relato histórico. Está no segundo volume do livro de memórias de Fernando Henrique Cardoso (Diários da Presidência – 1997-1998), lançado semana passada. Revela a pressão conjunta de três líderes políticos do PMDB para nomear o diretor não de uma grande estatal, ou de algum ministério político importante: “[Um político próximo ao presidente] foi procurado pelo Michel Temer, pelo Jáder Barbalho e pelo Geddel, que querem mudar o diretor do departamento de presídios do Ministério da Justiça”.
A pressão surpreendeu o presidente, que escreveu: “Me pareceu um tanto estranho que três dos principais líderes do PMDB queiram mudar um posto tão baixo e no qual existem licitações. Não quero me antecipar com maledicências, mas me deu uma ponta de preocupação”. Mais adiante ele cita outro caso semelhante: “O Geddel e o PMDB fizerem uma espécie de imposição: ou se nomeava o diretor do DNER [Departamento Nacional de Estradas de Rodagem] de Minas ou não me dariam os votos. A coisa de sempre”.
Estes acontecimentos são de 17 de junho de 1997. Façamos as contas e atualizemos as biografias: 19 anos depois, os três citados por FHC continuam atuando com destaque na política nacional. Michel Temer é presidente interino da República; Geddel Vieira Lima é ministro do governo dele, e Jáder Barbalho é senador (PA) e um filho dele é ministro do mesmo governo. Não chegaram ao poder neste momento; já estavam lá na administração petista.
Separadas por mais de quatro décadas, as duas histórias são ilustrativas do ambiente na política. Dizem respeito a Getulio e FHC, mas todo presidente (ou governador, ou prefeito) tem histórias semelhantes para contar. Não é que todo político calce 40; mas é inegável como se parecem nos defeitos. Quanto mais defeitos tiverem, mais danos são capazes de causar. Entre si, eles sabem quem é quem – mas todos convivem como personagens da mesma história, ocupando os mesmos espaços, e em um ambiente no qual os defeitos são separados das virtudes por uma pequena ponte. Muitas vezes migram de um lado para outro movidos pelas imposições que a política lhes faz.
A forma como a política está estruturada hoje favorece pressões e atos como aqueles testemunhados por Getulio e FHC. Vai do micro (como a mobilização de caciques para colocar em cargos aparentemente inexpressivos pessoas de sua confiança) até o macro. É impossível, hoje, qualquer governo ter apoio majoritário no Congresso sem brindar aliados com obras públicas e cargos, diz um especialista no assunto, o norte-americano Barry Ames, professor de Ciência Política da Universidade de Pittsburgh (EUA) e pesquisador das nossas instituições desde o período da ditadura militar.
Da forma como está montado, o sistema político do Brasil depende da corrupção para funcionar, diz ele, que é autor de Os entraves da democracia no Brasil (FGV, 2003). É um engano também pensar que a corrupção hoje é menor do que antes, afirma o cientista político. “Acho que a escala da corrupção envolvendo a Petrobras é certamente maior do que era em 2000. Mas minha aposta é que a quantidade roubada no período militar era ainda maior que a roubada hoje”, diz ele, em entrevista à BBC. “A grande diferença é que, numa democracia, os jornais e outros tipos de mídia estão muito engajados em expor a corrupção”. Na opinião de Barry Ames, pelo menos três medidas são necessárias para tentar solucionar o problema: acabar com o oligopólio na área da construção civil (“que facilita conluios entre governo e empreiteiras”, conforme a matéria da BBC); reduzir o número de partidos no Legislativo (que dificultam as coalizões) e criar um sistema com menos distritos eleitorais (assim os eleitores poderiam fiscalizar melhor os eleitos).
O fato é que, se não aproveitarmos o momento para modificações profundas no sistema, os políticos semelhantes nos defeitos estarão sempre batendo à porta dos presidentes, e entrando, e na maioria das vezes conseguindo o que querem.
Sobre
o autor
Paulo Goethe,
no Diario de 1990 a 1997 e desde 2001
Mino Carta no Roda Viva (trecho)
Mino Carta um expoente do
pensamento Politico Social.
Mino Carta - 04/12/2000
Cátia C. Costa
Helenice Andrade
Junho
de 2003
SUMÁRIO
I
- A CONSTITUIÇÃO DO GOVERNO DE TRANSIÇÃO FHC-LULA. 5
II
- RESUMO DAS REGRAS DO GOVERNO DE TRANSIÇÃO 8
3.1.
COMPOSIÇÃO DAS EQUIPES DO GRUPO DE TRANSIÇÃO: 11
IV
- RESULTADOS OBTIDOS PELA EQUIPE DE TRANSIÇÃO: 17
4.1
- A RELAÇÃO DAS EQUIPES DE TRANSIÇÃO FHC-LULA: 17
4.2
- PRAZO PARA A ANÁLISE E ENTREGA DOS RELATÓRIOS PRODUZIDOS PELA EQUIPE DE
TRANSIÇÃO: 18
4.3
- OS PRINCIPAIS PROBLEMAS IDENTIFICADOS PELA EQUIPE DE TRANSIÇÃO E AS SOLUÇÕES
SUGERIDAS POR SETOR ANALISADO: 18
V
- A QUESTÃO DAS AGÊNCIAS REGULADORAS: 25
VI
- METODOLOGIA E BASE DE DADOS: 30
SOBRE (O)S AUTOR(ES) 31
SOBRE (O)S AUTOR(ES) 31
DOCUMENTOS
DE TRABALHO DO OBSERVATÓRIO UNIVERSITÁRIO 32
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