Inspirados já nos ensinamentos de Sófocles, aqui, procurar-se-á a conexão, pelo conhecimento, entre o velho e o novo, com seus conflitos. As pistas perseguidas, de modos específicos, continuarão a ser aquelas pavimentadas pelo grego do período clássico (séculos VI e V a.C).
domingo, 25 de fevereiro de 2024
COMPETÊNCIA E RESPONSABILIDADE
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Não se deve generalizar.
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Charge do JCaesar
Por
José Casado
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A guerra oculta
Lula deveria acabar com o sigilo que ameaça a confiança no Mercosul
Por José Casado
Atualizado em 23 fev 2024, 11h47 - Publicado em 23 fev 2024, 06h00
“Coisa jamais vista em qualquer guerra que eu tenha conhecimento”, disse Lula, na semana passada, sobre o massacre de mulheres e crianças na guerra de Israel contra o Hamas. Descontada a eloquência sobre a ignorância, que é parte do truque de sempre cobrar ética aos adversários políticos, a informação está ao alcance dos seus olhos: basta pedir ao Itamaraty os relatórios da Comissão da Verdade e Justiçã sobre a Guerra da tríplice Aliança, do Parlamento do Mercosul, em Montevidéu.
Há três anos, a comissão avança com ajuda de historiadores na coleta de documentos sobre a guerra do Brasil contra Paraguai, apoiada por Argentina e Uruguai. Tenta reconstruir a história do maior conflito da América do Sul (de 1864 a 1870), cujo epílogo completa 154 anos na próxima sexta-feira, 1º de março, data da execução do líder paraguaio Solano López. É feriado pelo "martírio da raça".
O expansionismo brasileiro aconteceu com o extermínio de dois terços da população, com a morte de sete de cada dez homens com mais de 12 anos de idade. Foram tomados 30% do território paraguaio.Liquidou-se a identidade política, econômica e cultural do país, inclusive com decreto de proibição da língua nativa (guarani). Além disso, roubaram-se a documentação sobre a guerra e a existência do Estado vizinho nos 327 anos anteriores.
Lula sabe. Século e meio depois, o governo brasileiro ainda mantém sequestrada parte desses papéis. No primeiro governo, em dezembro de 2004, decidiu manter em sigilo os documentos brasileiros e o papéis sequestrados no arquivo nacional em Assunção. "Pura dinamite", disse em referência aos crimes de guerra comentidos por tropas, comandantes e aristocracia brasileiras.
Lula, como os antecessores, não pode alegar desconhecimento da catástrofe humanitária provocada pelo expansionismo do Brasil, numa invasão militar planejada por D. Pedro II e executada pelo Conde D'Eu, com apoio dos presidentes Bartolomé Mitre, da Argentina, e Venancio Flores, do Uruguai.
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"Lula deveria acabar com o sigilo que ameaça a confiança no Mercosul"
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Eles ensinaram o significado da plavra barbárie a Martin McMahon, que na época servia em Assunção como embaixador dos Estados Unidos: "Existem horrores mais cruéis que a fome e desgraças piores que a morte". A guerra brasileira foi comandada por um psicopata, o Conde d'Eu, genro de Pedro II, Chefe militar da "Tríplice Aliança", ele ordenou a degola de todos os prisioneiros , como testemunhou o Visconde de Taunay, seu secretário particular. Em agosto de 1869, liderou a invasão de Piribebuy, na época a terceira maior cidade paraguaia. Vencida a batalha, as tropas brasileiras "estriparam homens e meninos pálidos e esqueléticos que ainda estavam vivos", registrou em diário o capitão Pedro Werlang.
No fim do dia, o Conde d'Eu recebeu a notícia da morte do general brasileiro Mena Barreto, seu amigo. Em vingança, mandou torturar o chefe da guarição derrotada: açoite em público, seguido de esquartejamento, com braços e mãos atados às rodas de canhões, finalizando com degola diante da família.Depois, os soldados foram reunidos diante do hospital de Pirilibuy. Incendiaram o prédio, imolando centenas de paraguaios feridos. Na sequência, passearam pela cidade executando uma degola coletiva.
A tropa brasileira era "a escória", do tipo "que a sociedade repudia por suas qualidades vis", registrou o marechal Caxias em correspondência ao Ministério da Guerra do Império (setembro de 1868), que agora está no acervo documental parcialmente recuperado no Parlasul. Foi criado numa iniciativa quase solitária do parlamentar e historiador paraguaio Ricardo Canese, responsável por desvendar, nos anos 1990, alguns dos mistérios bilionários da caixa da Usina Binacional de Itaipu. Historiadores de Paraguai, Argentina, Uraguai e Brasil trabalharam dois anos coletando documentos. Produziram um relatório de 600 páginas para justificar a criação da Comissão da Verdade e Justiça sobre a Guerra da Tríplice Alianç. Ela voltou a funcionar no final de 2002, com o objetivo simbólico de reparação histórica.
O governo brasileiro resiste à exposição dos arquivos próprios e dos sequestrados em Assunção que contam a história dessa guerra imperialista, caracterizada pela liberação da bestialidade no campo de batalha. Lula, se quiser, pode acabar cm o sigilo sobres essa documentação de crimes immprescritíveis. "Dinamite pura" é o segredo eterno, ameaça permanente à confiança entre os países do Mercosul.
Publicado em VEJA de 23 de fevereiro de 2024. edição nº 2881
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A expressão “viúvas do quem sabe ou do talvez” seria incorporada ao vocabulário da luta pela anistia.
"O programa do MDB defende a inviolabilidade dos direitos da pessoa humana, evitando a possibilidade de lares em prantos; filhos órfãos de pais vivos — quem sabe? — ou talvez mortos. Órfãos do talvez ou do quem sabe. Também visa evitar esposas que enviuvem com maridos vivos, talvez; ou mortos, quem sabe? Viúvas do quem sabe ou do talvez."
REESCREVER APENAS COMO GENERALIZAÇÃO INDEVIDA
"O programa do MDB defende a inviolabilidade dos direitos da pessoa humana para evitar situações extremas, como lares em prantos com filhos órfãos de pais vivos — quem sabe? — ou talvez mortos. Evita-se também esposas que enviuvem com maridos vivos, talvez; ou mortos, quem sabe? São situações incertas, baseadas no talvez ou no quem sabe."
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A guerra em Gaza tem gerado uma crise diplomática entre Brasil e Israel, com Lula e Netanyahu aumentando a tensão. Isso tem levado a uma onda antissionista na esquerda brasileira, o que pode reavivar o antissemitismo histórico.
No século 19, os judeus enfrentavam perseguições no Leste europeu, mas estavam integrados à sociedade na Europa Ocidental. Mesmo assim, eventos como o Massacre de Lisboa em 1506 mostram que a intolerância persistia. Os sobrenomes judaicos, adotados para escapar da perseguição, agora fazem parte do caldeirão cultural brasileiro.
O caso Dreyfus na França levou Theodore Herzl a fundar o sionismo, argumentando que a assimilação não acabaria com o antissemitismo. O sionismo defende um Estado judeu, uma ideia que se concretizou com a criação de Israel após o Holocausto.
O confronto entre Lula e Netanyahu surgiu após comentários de Lula sobre os eventos em Gaza, levando Israel a reagir fortemente. Isso gerou críticas ao governo israelense, mas também uma onda antissionista na esquerda brasileira, o que pode reacender o antissemitismo arraigado na sociedade brasileira. É importante não generalizar, pois o sionismo abrange uma ampla gama de posições políticas, desde fascistas até socialistas.
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Luiz Carlos Azedo - A guerra de Gaza pode despertar o velho antissemitismo
Correio Braziliense
Lula e Netanyahu escalaram a crise diplomática entre Brasil e Israel. Na esquerda brasileira, isso provocou uma onda antissionista, seu disco é despertar o nosso velho antissemitismo
No final do século 19, os judeus eram pobres e sofriam constantes perseguições no Leste europeu, mas tinham uma vida bastante integrada à sociedade na Europa Ocidental, de cuja elite econômica e intelectual faziam parte. Muitos já haviam se tornado cristão novos, os “anusin”, convertidos à força ao cristianismo, como foram os “moçarabes” ao islamismo, na Península Ibérica, para fugir às perseguições. A origem da alheira, embutido português em formato de ferradura e cilíndrico, parecido com a linguiça de porco, foi a necessidade de os judeus dissimularem os seus hábitos alimentares no período da Inquisição.
Judeus que se instalaram no interior de Portugal depois de terem sido expulsos da Espanha fingiam consumir carne de porco (animal proibido na religião judaica) e, por isso, criariam um tipo de chouriço com vitela, coelho, peru, pato e massa de pão, que penduravam em janelas e quintais. Os cristãos gostaram da alheira e passaram a incluir a carne de porco.
A mais famosa é a de Mirandela, que leva cebola, frango, cabeça de porco, músculo bovino, paio, linguiça de pernil misturados com massa de pão italiano, com pimenta do reino, sal e canela. Pode ser grelhada ou assada, acompanhada de legumes, batata frita e ovos. Nos bares, é servida como aperitivo. Bacalhau desfiado com recheio de alheira e espinafre é prato popular.
Mas as alheiras não impediram que, na Páscoa de 1506, uma revolta do povo liderada por monges beneditinos levasse à morte 4 mil cristãos novos, no chamado Massacre de Lisboa. Acusados de provocar a seca e a peste, a matança começou numa missa no Convento de São Domingos. Muito menos a nova identidade impediu o pogrom: para protegê-los, a Coroa portuguesa havia autorizado que certos sobrenomes utilizados pela nobreza fossem também adotados por cristãos-novos, como Noronha, Meneses, Albuquerque, Almeira, Cunha, Pacheco, Vasconcelos, Melo, Silveira e Lima.
Marranos originários do Norte da África optaram por sobrenomes simbólicos na tradição portuguesa como Leão, Carneiro, Lobo, Raposo, Coelho, Pinheiro, Carvalho, Pereira e Oliveira. Outros preferiram os acidentes geográficos, como Serra, Monte, Rios e Valle, e cidades portuguesas: Miranda, Chaves, Bragança, Oliveira, Santarém e Castelo Branco. Ou mesmo aparência física: Moreno, Negro, Branco. Nos registros da Inquisição no Brasil, durante o período colonial, os sobrenomes mais citados atribuídos a judeus no país eram Rodrigues, Nunes, Henriques, Mendes, Correia, Lopes, Costa, Cardoso, Silva, Fonseca, Paredes, Álvares, Miranda, Fernandes, Azeredo, Valle, Barros, Ximenes e Furtado.
São sobrenomes que integram caldeirão étnico-cultural brasileiro, adotados por descendentes de índios e negros assimilados, e associado aos de imigrantes italianos, espanhóis, árabes e japoneses, entre outros, que conseguiram se traduzir e preservar plenamente sua identidade cultural, ao se integrar à sociedade brasileira. Entre os judeus, porém, há uma peculiaridade: são considerados apenas os filhos de mães judias, não importa a etnia do pai, embora possa haver “góis” convertidos ao judaísmo. Após longa preparação, a cerimônia de conversão é marcada pela aceitação de todos os mandamentos da Torá e das leis rabínicas, um banho ritual e a circuncisão.
Estado de Israel
Na Europa Ocidental, no século 19, principalmente na Alemanha e na França, os judeus gozavam de condições sociais mais elevadas e julgavam-se mais seguros e integrados. Até o advogado e jornalista húngaro Theodore Herzl, que era cristão novo, ser convidado para ser correspondente do jornal Neue Freie Press em Paris e cobrir o julgamento de Alfred Dreyfus, oficial judeu do Exército francês acusado de traição, injustamente condenado à prisão perpétua (1894), que provocou uma onda de antissemitismo. A farsa do julgamento provocara forte reação do escritor Émile Zola, numa carta aberta intitulada J’Accuse…!
Ao acompanhar o caso, Herzl constatou que a assimilação não resolvia o problema do antissemitismo. Em 1895, lançou sua obra “Der Judenstaat – Versuch Einer Modernen Lösung der Judenfrage” (“O Estado judeu – Uma solução moderna para a questão judaica”), que deu origem ao sionismo, em bases étnico-religiosas. Ao preconizar a reconstrução da soberania nacional dos judeus em um Estado próprio, o que só viria a ocorrer após o Holocausto, em 1948, discorreu sobre imigração, compra de terras, edificações, leis, idioma e inspirou a legislação de Israel.
O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu escalou o mal-estar diplomático causado pela entrevista do presidente Luiz Inácio Lula da Silva na Etiópia, na qual acusou o governo de Israel de genocídio e fez uma citação infeliz do Holocausto. Considerado “persona non grata” pelo governo de Israel, Lula pode ser criticado duramente pela associação que fez, mas sua condenação a Netanyahu, verdade seja dita, decorre da morte de milhares de mulheres e crianças em Gaza, ou seja, dos crimes de guerra cometidos por Israel.
Na esquerda brasileira, essa escalada verbal provocou uma perigosa onda antissionista. Seu risco é despertar o nosso velho antissemitismo enrustido na nossa sociedade, desde o período da Inquisição católica. Sionista é quem defende a existência de Israel, de fascistas a socialistas. Não se deve generalizar.
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Dora Kramer destaca a tendência do PT em exigir retratações dos outros, mas falhar em se retratar quando necessário. Ela aponta exemplos como o mensalão, no qual o partido não admitiu o crime, apenas reconheceu "erros", e a gestão econômica de Dilma Rousseff, que resultou em um desastre. Mesmo assim, Lula tenta reescrever a história ao nomear aliados para cargos de destaque, como o comando do banco do Brics para ele mesmo e a defesa de figuras envolvidas em escândalos como Guido Mantega.
Kramer critica a postura de Lula em relação à Operação Lava Jato, onde houve desvios de procedimentos e escândalos com a colaboração de partidos aliados. Em vez de se retratar, Lula exige reverência e retaliatórias. Ela ressalta que certos recuos demonstram grandeza, mas Lula prefere manter sua postura arrogante, especialmente agora, sem conselheiros sensatos como Márcio Thomaz Bastos.
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Dora Kramer - A marca da empáfia
Folha de S. Paulo
O PT é bom em exigir desculpas do alheio, mas não sabe se retratar quando é preciso
O PT é muito bom em exigir desculpas do alheio. Cobra retratações com a maior facilidade, mas tem muita dificuldade em se retratar quando a necessidade se impõe.
Fez o que fez com a cumplicidade de partidos aliados no mensalão e, no máximo, reconheceu a existência de "erros" sem nunca ter admitido o crime, a despeito das condenações impostas a petistas de alto escalão.
A presidente Dilma Rousseff fez o que fez com a economia do país e o que faz o presidente Luiz Inácio da Silva? Tenta reescrever a história ao lhe dar de presente um posto de relevância no setor, o comando do banco do Brics. Executor da desastrosa "nova matriz", Guido Mantega só não foi recompensado com a gestão da Vale porque há gestores responsáveis na companhia.
Sobre o que se viu na Operação Lava Jato, então, nem se fala. Houve o que houve, desvios de procedimentos levaram a anulações judiciais sem declaração de inocência aos envolvidos, mas a roubalheira, de novo com a parceria de partidos aliados, ficou demonstrada. Lula, no entanto, se sente no direito de retaliar e exigir que joelhos prestem reverência ao milho.
Há mais exemplos nesse histórico, incluindo gafes homéricas, que de algum modo explicam a razão pela qual Lula se recusa a consertar a barbaridade cometida na comparação da ação israelense em Gaza à operação genocida de Hitler na Segunda Guerra Mundial.
Nem precisaria pedir desculpas no molde exigido por Israel em sua oportunista reação à qual o presidente deu margem. Há grandeza em certos recuos e pequenez em determinadas ocasiões.
Lula poderia modular a declaração, teria evitado que Binyamin Netanyahu se aproveitasse da situação, mas prefere se aferrar à empáfia agora potencializada pela ausência de conselheiros influentes e, sobretudo, sensatos.
Gente do calibre do falecido Márcio Thomaz Bastos. Como ministro da Justiça, salvou o chefe de várias enrascadas e faz uma falta danada.
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Kid cavaquinho
Canção de João Bosco
Letras
Óia que foi só pegar no cavaquinho
Pra nego bater
Mas se eu contar o que é que pode um cavaquinho
Os home não vai crer
Quando ele se fere fere firme
E dói que nem punhal
Quando ele invoca até parece
Um pega na geral
Quando ele se fere fere firme
E dói que nem punhal
Quando ele invoca até parece
Um pega na geral
Óia que foi só pegar no cavaquinho
Pra nego bater
Mas se eu contar o que é que pode um cavaquinho
Os home não vai crer
Quando ele se fere fere firme
E dói que nem punhal
Quando ele invoca até parece
Um pega na geral
Quando ele se fere fere firme
E dói que nem punhal
Quando ele invoca até parece
Um pega na geral
Genésio a mulher do vizinho
Sustenta aquele vagabundo
Veneno é com o meu cavaquinho
Pois se eu 'to com ele encaro todo mundo
Se alguém pisa no meu calo
Puxo o cavaquinho pra cantar de galo
Óia que foi só pegar no cavaquinho
Pra nego bater
Mas se eu contar o que é que pode um cavaquinho
Os home não vai crer
Quando ele se fere fere firme
E dói que nem punhal
Quando ele invoca até parece
Um pega na geral
Quando ele se fere fere firme
E dói que nem punhal
Quando ele invoca até parece
Um pega na geral
Genésio a mulher do vizinho
Sustenta aquele vagabundo
Veneno é com meu cavaquinho
Pois se eu 'to com ele encaro todo mundo
Se alguém pisa no meu calo
Puxo o cavaquinho pra cantar de galo
Óia que foi só pegar no cavaquinho
Pra nego bater
Mas se eu contar o que é que pode um cavaquinho
Os home não vai crer
Quando ele se fere fere firme
E dói que nem punhal
Quando ele invoca até parece
Um pega na geral
Quando ele se fere fere firme
E dói que nem, dói que nem punhal
Quando ele invoca até parece
Um pega na, pega na geral
Quando ele se fere fere firme
E dói que nem, dói que nem punhal
Quando ele invoca até parece
Um pega na, pega na geral
Quando ele se fere fere firme
E dói que nem, dói que nem punhal
Quando ele invoca até parece
Um pega na
Fonte: LyricFind
Compositores: Aldir Blanc Mendes / Joao Bosco De Freitas Mucci
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"Avaliação Probatória de Políticos: Garantindo Competência e Responsabilidade na Governança"
Resumo refinado do modelo de projeto de Emenda Constitucional (EC):
Proposta: Instituir a obrigatoriedade de avaliação probatória para políticos eleitos em todos os níveis do executivo e parlamento, nos três níveis da República Federativa do Brasil, seis meses após assumirem seus mandatos. A avaliação inicial consistirá apenas em direito constitucional como módulo 1 da avaliação global, em caráter eliminatório, para passar à próxima etapa do processo avaliativo.
Detalhes:
Módulo 1: Avaliação em direito constitucional, em caráter eliminatório.
Definição das formas de avaliação e critérios para aprovação nos demais módulos.
Caso o político não seja aprovado no módulo 1, seu primeiro suplente assume automaticamente, sujeitando-se ao mesmo exame.
Seguir as normas constitucionais de 1988, as leis vigentes e os regimentos das instituições para as quais os candidatos foram eleitos.
Trâmite processual necessário para submissão e aprovação:
Apresentação na Câmara dos Deputados:
Submissão à Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) para análise de admissibilidade.
Aprovada na CCJ, encaminhamento para criação de comissão especial para debater o conteúdo.
Discussão e votação em dois turnos no plenário da Câmara, com aprovação por três quintos dos deputados (308 votos).
Encaminhamento ao Senado Federal:
Se aprovada na Câmara, é enviada ao Senado para análise.
Na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ) do Senado, é analisada a admissibilidade.
Se admitida, encaminhamento para comissão especial para debate.
Votação em dois turnos no plenário do Senado, com aprovação por três quintos dos senadores (49 votos).
Promulgação:
Se aprovada em ambas as casas, é promulgada pelo Presidente do Senado e entra em vigor como Emenda Constitucional.
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Eduardo Affonso - A ficha de Lula
O Globo
É possível repudiar a brutalidade da resposta aos ataques de 7 de outubro sem apelar para a relativização do Holocausto
Há quem atravesse a rua para escorregar na casca de banana do outro lado. Lula, não. Ele cruzou um oceano e um continente para contratar uma crise diplomática — e, de quebra, abrir as comportas de um insuspeitado antissemitismo entre nós. A troco do quê, só ele sabe. Não estava num palanque, onde os ânimos se exaltam e as hipérboles fazem a festa. E não parecia embriagado — a não ser de si mesmo.
Lendo o que sua assessoria escreve, Lula pode eventualmente posar de estadista. O problema é quando fala de improviso — e diz o que pensa.
Lula é alegórico e — vai aqui um eufemismo — não tem nenhum compromisso com a verdade. Não vê diferença entre ato juridicamente perfeito e golpe, entre mil e milhão. Manipula números e palavras como se fossem militantes do seu partido. Em sua mitomania, triplica a quantidade de pobres que diz precisar alimentar, se propõe a construir 186 milhões de casas (mais que o dobro de domicílios do país) e ainda acha tempo para acompanhar pela TV os jogos do campeonato chinês.
É o tipo de democrata que não pode ver um ditador que corre para o abraço. A lista de parças é longa: começa com Fidel (e daí a Raúl Castro e Díaz-Canel), passa por Ortega, Nguema, Ahmadinejad, Kadafi, se desdobra de Chávez a Maduro, chega a Putin. A simpatia pelo terrorismo vai das Farc ao Hamas, sem esquecer Cesare Battisti.
Sob sua égide, a esquerda brasileira importou o racismo à moda americana (o do branco é branco, preto é preto, e a mulata não é a tal). Contrabandeia agora um ódio antissemita com selo de garantia que confere ao usuário a sensação de estar do lado do bem, das vítimas, da paz e da justiça.
É possível repudiar Netanyahu e a brutalidade com que conduz sua resposta aos ataques de 7 de outubro sem apelar para a relativização do Holocausto — evento cujos horrores foram tais que levaram a uma tomada de posição, planetária, quanto à necessidade de estabelecer uma norma universal de defesa dos direitos humanos. Foi a partir daquela monstruosidade, única, que se decidiu fazer do genocídio um crime internacional. Equiparar as violações em Gaza ao Holocausto não as torna mais hediondas; rebaixa a maior violência jamais perpetrada contra a Humanidade a barbaridades cometidas no campo de batalha.
A indignação de Lula quanto à dor dos palestinos soa ainda mais hipócrita e oportunista após sua recusa em defender o povo ucraniano quando da invasão russa (“Por que vou me preocupar com a briga dos outros?”) e da sua omissão em relação à crise humanitária na Venezuela (“A gente precisa respeitar a autodeterminação dos povos”). Vidas que não interessam a seu delírio de “líder do Sul Global” (o Terceiro Mundo reloaded) não importam.
Mais de quatro décadas separam o Lula analógico que fundou o PT, em 1980, do Lula analógico de agora, com seu antiamericanismo recauchutado — sai a URSS como farol dos povos, entram China, Irã, Etiópia, Arábia Saudita, África do Sul. Ele está para 2026 como Getúlio Vargas para as Diretas Já; como Vicente Celestino para João Gilberto; como o telefone de 3 ou 4 dígitos — preto, amarrado à parede — para o celular.
Faltam 953 dias para as próximas eleições. Há tempo de sobra para surgirem opções à esquerda lulista e à direita bolsonarista. Insistir nessas duas visões ultrapassadas é continuar fazendo fila no orelhão em tempos de 5G. Essa ficha ainda não caiu.
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De onde Lula tira dados e números que cita em seus discursos?
Sinal Amarelo
8 de dez. de 2017
Dos principais institutos de pesquisas? De relatórios conceituados? De importantes universidades?... Veja de onde Lula tira os dados e números que ele cita em seus discursos.
25 MILHÕES!!! Esse era o número de crianças de rua que Lula, antes de ser eleito dizia que o Brasil tinha!
Em 2011, por exemplo, o Brasil não tinha mais que 23 MIL crianças de rua! (Fonte: Gazeta do Povo, 21/03/2011)
trecho de entrevista coletiva
Instituto Lula, 08/04/2014
“Como eu fui oposição muito tempo, eu cansei de viajar o mundo falando mal do Brasil, gente! Era bonito a gente viajar o mundo e falar: “No Brasil tem 30 milhões de crianças de rua. No Brasil tem...”, a gente nem sabia... “Tem nem sei quantos milhões de abortos.” Era tudo clandestino, mas a gente ia citando números, sabe. Se um cara perguntasse a fonte, a gente não tinha, mas tinha que dizer números. Eu não esqueço nunca. Um dia eu tava debatendo eu, o Roberto Marinho e o Jaime Lerner em Paris. Aí eu tava lá falando, eu tinha uns números, nem sei direito de que entidade que era, também não vou dizer aqui, porque eu já tenho 68 anos, não vou... Mas eu tava dizendo: “Porque no Brasil tem 25 milhões de crianças de rua”. Eu era aplaudido calorosamente pelos franceses. Quando eu terminei de falar, o Jaime Lerner falou assim pra mim: “Ô Lula, não pode ter 25 milhões de crianças de rua, Lula, porque senão a gente não conseguiria andar nas ruas, Lula. É muita gente.” (e Lula ri, com seus ouvintes).
Lula
dados falsos
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Forças Armadas vão engolir punição a generais e insistem que golpismo não é da instituição | Análise
UOL
24 de fev. de 2024 ANÁLISE DA NOTÍCIA
No Análise da Notícia, José Roberto de Toledo e Kennedy Alencar recebem o professor Francisco Carlos de Teixeira para falar sobre as eventuais punições a generais que participaram do governo Bolsonaro.
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"TODA PORCA NESTA CAIXA É DA COR PRATA." REESCREVER FRASE ESTRESSANDO A GENERALIZAÇÃO.
"CADA ÚNICA PORCA NESTA CAIXA É DA COR PRATA."
REESCREVER APENAS COMO GENERALIZAÇÃO INDEVIDA
"TODO PORCO NESTA CAIXA É DA COR PRATA."
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"QUANDO O ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO NÃO É RESPEITADO A MINORIA FABRICA ÓRFÃOS DE PAIS VIVO." REESCREVER FRASE ESTRESSANDO A GENERALIZAÇÃO.
"QUANDO O ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO NÃO É RESPEITADO, TODA A MINORIA SE TORNA ÓRFÃ DE PAIS VIVOS."
REESCREVER APENAS COMO GENERALIZAÇÃO INDEVIDA
"QUANDO O ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO NÃO É RESPEITADO, TODA A MINORIA É ROTULADA COMO ÓRFÃ DE PAIS VIVOS."
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Ouvi dizer que não devo generalizar. Mas o que é “generalizar”?
O que é “generalizar”?
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De acordo com Nelson Rodrigues (1912-1980), reconhecido jornalista e dramaturgo brasileiro, "toda unanimidade é burra". Essa afirmação ressalta a ideia de que concordar de forma unânime pode ser prejudicial, sugerindo uma falta de reflexão crítica. De fato, a unanimidade muitas vezes surge da generalização, onde se aceita facilmente o que é ditado pelo senso comum, negligenciando a oportunidade de desenvolver argumentos originais.
É importante ressaltar que no contexto da redação do Enem, fazer generalizações pode indicar preconceito, o que, por sua vez, viola os Direitos Humanos.
Além disso, é necessário enfatizar que expressões grosseiras ou ofensivas não são aceitáveis. Nesse ponto, é possível fazer uma generalização válida.
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“O programa do MDB defende a inviolabilidade dos direitos da pessoa humana para que não haja lares em prantos; filhos órfãos de pais vivos — quem sabe — mortos, talvez. Órfãos do talvez ou do quem sabe. Para que não haja esposas que enviuvem com maridos vivos, talvez; ou mortos, quem sabe? Viúvas do quem sabe ou do talvez.” REESCREVER FRASE ESTRESSANDO A GENERALIZAÇÃO.
1977 30 DE JULHO
GENERAL CASSA LÍDER DO MDB NA CÂMARA
Alencar Furtado fala na TV de 'viúvas do talvez', em alusão a desaparecidos
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O general presidente Ernesto Geisel usa mais uma vez o Ato Institucional n° 5 (AI-5) para cassar um mandato parlamentar, dessa vez o do líder do MDB na Câmara, Alencar Furtado (PR). O deputado era do grupo “autêntico” do partido e havia participado três dias antes de um programa do MDB na TV, junto com o presidente Ulysses Guimarães e dois outros dirigentes, o líder no Senado, Franco Montoro (SP), e o presidente do Instituto Pedroso Horta, deputado Alceu Colares (RS). Os quatro criticaram o AI-5, o alto custo de vida e o arrocho salarial, mas Furtado destacou-se por ter denunciado em linguagem metafórica o “desaparecimento” de oposicionistas sabidamente mortos por agentes da repressão.
“O programa do MDB defende a inviolabilidade dos direitos da pessoa humana para que não haja lares em prantos; filhos órfãos de pais vivos — quem sabe — mortos, talvez. Órfãos do talvez ou do quem sabe. Para que não haja esposas que enviuvem com maridos vivos, talvez; ou mortos, quem sabe? Viúvas do quem sabe ou do talvez.” A expressão “viúvas do quem sabe ou do talvez” seria incorporada ao vocabulário da luta pela anistia.
Além de cassar o líder da oposição, Geisel determinou a abertura de processo contra Ulysses com base na Lei de Segurança Nacional — o presidente do MDB acabaria sendo absolvido pelo Supremo Tribunal Federal (STF). O programa partidário em rede nacional, previsto na legislação eleitoral da época, só foi ao ar por decisão judicial, pois a ditadura queria impedir sua exibição.
A cassação de Alencar Furtado expôs ainda mais os limites do projeto de “distensão lenta, gradativa e segura”. O governo não tolerava a denúncia do aparelho de repressão. Furtado foi o oitavo parlamentar cassado pelo AI-5 em plena “abertura política”.
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O Estado de S. Paulo: Ato Institucional número 5 completa 50 anos
Cinquenta anos depois, o AI-5 ainda divide opiniões no País – se os juristas e a imprensa são unânimes no repúdio ao arbítrio, muitos militares ainda consideram que o contexto da época justificava a sua imposição. O decreto do Ato Institucional que contou com a assinatura de 16 ministros e do presidente, o general Costa e Silva, marcaria profundamente a Nação.
09/12/2018
Foto: Arquivo/Estadão Conteúdo
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Por Marcelo Godoy, de O Estado de S. Paulo
Cinquenta anos depois, o AI-5 ainda divide opiniões no País – se os juristas e a imprensa são unânimes no repúdio ao arbítrio, muitos militares ainda consideram que o contexto da época justificava a sua imposição. O decreto do Ato Institucional que contou com a assinatura de 16 ministros e do presidente, o general Costa e Silva, marcaria profundamente a Nação. Não apenas em razão das cassações de mandatos de parlamentares, pela censura de 500 filmes, 950 peças de teatro, 200 livros, 500 letras de música, mas pela suspensão de garantias fundamentais, como o habeas corpus para crimes contra a Segurança Nacional e a Ordem Econômica e Social. Uma década depois, quando foi suspenso, a repressão do regime militar já havia feito mais de 400 mortos, provocado o exílio de cerca de 7 mil brasileiros e submetidos outros 20 mil a sevícias e maus-tratos nas cadeias e porões da ditadura.
Desde que as eleições foram suspensas, os jornais do grupo Estado fizeram oposição ao regime. A consequência foi perseguição, prisões de jornalistas e a censura de suas páginas. Neste especial, o Estado mostra como enfrentou a ditadura e defendeu a liberdade. Revela ainda que uma armadilha feita por integrantes de um órgão de informação do regime esteve por trás da cassação do emedebista Marcos Tito (MG), abrindo a crise que resultaria ainda na cassação do também deputado Alencar Furtado, líder do MDB na Câmara, em 1977. Seria o último expurgo no Parlamento feito com base no AI-5.
Leia aqui ainda a íntegra do editorial Instituições em Frangalhos, que levou à instituição da censura prévia ao jornal e veja abaixo a galeria “50 anos de AI-5 em 50 fotos”, uma seleção do nosso acervo com cenas sobre a crise política que culminou na decretação do Ato Institucional.
Reação ao AI-5 leva à democracia e à Constituição
Ato institucional suspendeu garantias legais e fechou Congresso; oposição lutou contra autoritarismo
Especial
Marcelo Godoy e Pablo Pereira, O Estado de S.Paulo
Os brasileiros tomaram conhecimento do Ato Institucional de número 5 pelo anúncio do ministro da Justiça, Luis Antônio da Gama e Silva. Era noite de sexta-feira, 13 de dezembro de 1968. Fora Gama e Silva que redigira o documento, suspendendo garantias constitucionais e fechando o Congresso por tempo indeterminado. Ele assim permaneceria até outubro do ano seguinte, quando reabriria – expurgado pela cassação de 98 deputados e 5 senadores – para referendar uma nova Constituição com mudanças, como a adoção da pena de morte.
Um dia antes, a Câmara dos Deputados negara por 216 votos a 141 a licença para o governo processar o deputado Márcio Moreira Alves, do MDB, por seus discursos, considerados ofensivos às Forças Armadas. Vindo da casa da namorada, na Água Branca, na zona oeste, o professor de Direito Constitucional da USP José Afonso da Silva dirigia seu Fusca com o rádio ligado quando um locutor começou a ler o texto. “Fiquei tão horrorizado com aquilo, porque é o instrumento mais violento que o País já teve, de certo modo, mais violento do que a Constituição do Getúlio Vargas. Dava um poder tão grande para o presidente fazer o que queria. E eles fizeram o que queriam, usaram e abusaram do Ato largamente, praticando os mais absurdos atos de autoritarismo.” Horas antes, o prédio do Estado, no centro, fora invadido por policiais que aprenderam sua edição em razão da recusa de Julio de Mesquita Filho de se submeter à ordem de trocar o editorial Instituições em Frangalhos. Começava a censura ao jornal.
Vinte anos depois, José Afonso estaria entre os assessores do senador Mário Covas, líder do PMDB, que ajudaram a sistematizar e redigir a Constituição de 1988. Para ele, a atual Carta é um “espelho invertido” do AI-5. A visão de que o arbítrio da ditadura militar engendrou a luta que se concluiu na promulgação da nova Constituição é compartilhada por outros juristas que lutaram pela redemocratização do País.
“Ela é o grande reverso do arbítrio. Garantiu direitos e valorizou como nenhuma outra no mundo os operadores do direito”, diz o ex-ministro do Supremo Tribunal Federal(STF) Francisco Rezek. Estudante de Direito, ele estava no meio do Atlântico, no navio Augusta, voltando ao Brasil após a primeira fase do doutorado na Sorbonne, em Paris, quando o comandante anunciou aos brasileiros a novidade. Eram quatro homens e três mulheres. “Alguns pensaram em não desembarcar.” Rezek seguiu para Minas. “O AI-5 desvelou por completo a face do regime, inaugurando uma ditadura escancarada.”
O que tornava o AI-5 diferente dos Atos anteriores não era a licença para cassar mandatos e direitos políticos ou para aposentar compulsoriamente magistrados, professores, militares, mas a suspensão de garantias, como a do habeas corpus, para acusados de delitos políticos e econômicos, além de retirar da Justiça a possibilidade de apreciar quaisquer atos do governo baseados no AI-5. Dezesseis ministros assinaram o documento, além do presidente Costa e Silva. Era a reação de um governo acuado por protestos estudantis, greves operárias e críticas da imprensa.
Ao aumento da oposição, o governo reagia com prisões, como a dos 720 estudantes no congresso da União Nacional dos Estudantes (UNE), em Ibiúna, no interior paulista. Alunos do Mackenzie vinculados ao Comando de Caça aos Comunistas enfrentavam estudantes de esquerda da Faculdade de Filosofia da USP, na Rua Maria Antonia, no centro. A batalha começou em 2 de outubro e acabou no dia seguinte, com o incêndio da prédio da Filosofia, atacado por coquetéis molotov lançados do Mackenzie. Dias depois, homens da Ação Libertadora Nacional (ALN) e da Vanguarda Popular Revolucionária (VPR) executaram o capitão americano Charles Chandler, em São Paulo. Parte da esquerda pegava em armas contra o regime.
No Rio, a agitação estudantil crescera após o assassinato do estudante Edson Luis, quando a polícia invadiu um restaurante estudantil. No dia seguinte, 50 mil marcharam contra o regime. Em 21 de junho, nova manifestação terminaria com 4 mortos – um era policial. Cinco dias após, 100 mil sairiam às ruas em protesto. “Nossos alunos têm razão”, dizia uma das faixas. No mesmo dia, em São Paulo, a VPR lançou um carro-bomba contra o quartel do 2.º Exército, matando o soldado Mário Kozel Filho.
Belisário dos Santos Junior era um jovem estudante de direito quando ouviu com amigos a decretação do AI-5. Estava em um bar na Rua Iguatemi, no Itaim Bibi, na zona oeste, tomando um sorvete. O Ato fez dele um defensor de presos políticos. Ele mesmo acabaria detido pelo Destacamento de Operações de Informações (DOI), do 2.º Exército, por causa de um documento que denunciava torturas impostas aos criminosos comuns do Presídio Tiradentes. Os interrogadores não lhe perguntaram nada sobre a petição assinada com outros sete advogados e enviada à Justiça Militar. “Só queriam saber quem nos pagava para fazer aquilo.”
A denúncia contra os advogados partira do juiz auditor Nelson Machado Guimarães, que recebera a petição. O grupo compareceu diante do Superior Tribunal Militar (STM), ainda no Rio, defendido pelo advogado Heleno Fragoso. “Senhores, em São Paulo, terrorista é a Justiça Militar”, disse Fragoso aos ministros do STM, que confirmaram a libertação de todos. Belisário se juntaria à luta pela anistia e pela Constituinte. “A Constituição é o momento de afirmação dos direitos e garantias. Antes, estavam no artigo 153. Com a nova carta passaram a ocupar o artigo 5.º, o que mostra a prioridade que receberam.”
Outro advogado que conheceu a prisão após o AI-5 foi Eros Grau. Era 1970 quando ele foi preso pela segunda vez – a primeira fora pouco após o golpe de 1964. Durou três dias. Grau era suspeito de ligações com o Partido Comunista Brasileiro, crime previsto na Lei de Segurança Nacional (LSN), que podia ser punido com até 2 anos de cadeia.
O empresário Dilson Funaro, então secretário de Planejamento do governador Abreu Sodré (Arena) pediu ao chefe a libertação do amigo. “Ele disse que ‘ou me soltavam ou se demitiria.’” Eros foi solto. “Perdi a chance de viver na França…” O então advogado da classe teatral se tornaria ministro do STF. “A Constituinte de 1988 rasgou tudo o que existia antes. Como no poema de Álvaro Moreyra: ‘A vida está toda errada/Vamos passá-la a limpos?’ Ela passou a limpo o passado. Virou aquela página. Ela significa o nascimento do novo.”
Vencidas as organizações que se opunham pelas armas, o regime iniciou a abertura. O AI-5 acabaria revogado em 1978 pelo presidente Ernesto Geisel. O último presidente do ciclo militar, João Figueiredo, assumiu prometendo “prender e arrebentar” quem fosse contra a redemocratização. Não fez uma coisa nem outra. Governaria até entregar o poder aos civis. “A Constituição (de 1969) estava comprometida com o autoritarismo. Um remendo não daria a ela a visão que se tinha de adotar para a democratização do País. A eleição do Tancredo Neves, com seu discurso de Maceió, da Nova República, era a proposta para liquidar com os tais entulhos autoritários”, diz José Afonso. Com a morte de Tancredo, caberia ao vice, José Sarney convocar a Constituinte. Quatro anos depois, em 1988, estaria pronta a nova Constituição.
Generais eleitos pelo PSL afirmam que AI-5 ‘foi necessário’ para o país
Roberto Sebastião Peternelli Junior e Eliéser Girão Monteiro Filho foram eleitos para a Câmara dos Deputados pelo partido do presidente eleito, Jair Bolsonaro
Os dois generais eleitos em outubro pelo PSL para a Câmara dos Deputados – Roberto Sebastião Peternelli Junior e Eliéser Girão Monteiro Filho – afirmaram que a adoção do Ato Institucional-5 (AI-5) foi necessária diante da conjuntura da época. “A conjuntura, infelizmente, com os movimentos revolucionários armados, fez com que Brasil precisasse do AI-5 para manter a democracia e se contrapor ao comunismo. Vivemos hoje um momento diferente, não há mais o risco de implantação de um regime comunista”, diz Girão.
Peternelli também culpa as ações armadas contra o regime. “Para aquele contexto, talvez, tenha sido uma medida necessária. O governo não tinha opção.” Ele afirma que o Exército “ao longo da história sempre defendeu a defesa da democracia”. “O compromisso com a democracia nos levou à Câmara pelo voto.” Cinquenta anos atrás, o Congresso também tinha dois oficiais generais quando foi fechado pelo AI-5: os marechais Amaury Kruel (MDB-GB) e Mendes de Moraes (Arena-GB).
O general Girão, no entanto, disse concordar com a crítica feita nos anos 1970 pelo general Peri Constant Bevilacqua, para quem o AI-5 “comprometeu os ideais de 31 de Março”. Ministro do Superior Tribunal Militar, Bevilacqua foi cassado pela ditadura, em 1968. “A terapêutica revolucionária agrava os males do doente – a democracia – quando não o mata”, afirmara.
“A prática da República é que vai aperfeiçoá-la. Para isso acontecer, os Poderes devem agir de forma independente. Infelizmente, a Nova República foi sepultada – com a causa mortis corrupção –, por partidos políticos formados por derrotados pela revolução de 1964, quando da tentativa de se implantar um regime comunista”, disse Girão.
Amordaçado pela ditadura, jornal luta pela liberdade
Editorial faz general apreender edição; regime impõe censura prévia ao ‘Estado’
Por José Maria Mayrink, O Estado de S.Paulo
A edição do Ato Institucional-5 (AI-5) marcou, em 13 de dezembro de 1968, o início da censura sistemática à imprensa, que só acabaria dez anos depois. Houve pressão, ameaças e atentados contra O Estado de São Paulo desde o golpe militar de 31 de março de 1964, mas os censores não frequentavam a Redação nesse período. A repressão chegou para valer quando a Câmara negou a licença para o governo processar o deputado Márcio Moreira Alves.A censura no Estado começou, aliás, em 12 de dezembro, véspera do anúncio do AI-5. O chefe da Polícia Federal em São Paulo, general Sílvio Correia de Andrade, telefonou para a Redação para saber qual seria a manchete do dia seguinte. “Câmara nega; prontidão”, informou o editor-chefe Oliveiros S. Ferreira. O general deu-se por satisfeito, mas o jornal foi apreendido ao chegar às bancas, na madrugada seguinte. O general liberou o noticiário, mas não gostou do editorial Instituições em Frangalhos, no qual o diretor do jornal, Julio de Mesquita Filho, o Doutor Julinho, criticava o presidente Costa e Silva. “Era um texto duro e corajoso, que refletia a tradicional independência do jornal em relação aos governantes”, diz o jornalista Miguel Jorge, na época repórter do Jornal da Tarde, vespertino da empresa.Foi o último editorial do Doutor Julinho. Ele deixou de escrever na seção Notas e Informações, na página 3, em protesto contra a censura. Revoltado com a apreensão do jornal, mandou seu filho Julio de Mesquita Neto dizer ao governador Roberto de Abreu Sodré e ao general Correia de Andrade que não faria autocensura. Se o governo quisesse proibir alguma notícia, pusesse censores na Redação. Sua resistência custou caro. “O preço que pagamos foi, em primeiro lugar, a vida de meu pai”, disse o jornalista Ruy Mesquita em março de 2004, referindo-se à morte de Julio de Mesquita Filho. Ele caiu doente quando parou de escrever o editorial e morreu em julho de 1969, sete meses após a edição do AI-5.Os censores se instalaram na Redação na noite de 13 de dezembro, ao lado dos jornalistas atônitos que se agrupavam em frente da TV para assistir ao anúncio do AI-5. O locutor oficial Alberto Curi leu o texto do ato, ao lado do ministro da Justiça, Luís Antônio da Gama e Silva, ex-reitor da USP.Recusa. Os jornais da família Mesquita não faziam autocensura. “Façam as reportagens e escrevam, os censores que cortem”, era essa a orientação. Os censores permaneceram no prédio da Rua Major Quedinho, sede do Estadono centro da cidade, até o dia 6 de janeiro de 1969. Depois se retiraram e só voltaram em agosto de 1972. Nesse intervalo, a censura prévia era feita por telefonemas da Polícia, bilhetes e listas de assuntos proibidos. Como não se permitia deixar espaços em branco, recorria-se a textos aleatórios para mostrar aos leitores o que estava ocorrendo. Cartas inventadas pelos redatores, despachos judiciais, orientações de cultivo de flores interrompiam com destaque o noticiário nas páginas nobres, para cobrir o vazio de editoriais e reportagens que o lápis vermelho do censor havia riscado.
Apesar do cerco policial, milhares de exemplares do Estado chegaram às ruas no dia 13. O pessoal da expedição armou uma operação de guerra. “Improvisamos uma canaleta de madeira e escoamos uns 60 mil exemplares em caminhões-caçamba, que saíam de trás de um tapume, enquanto os policiais barravam os caminhões-baú da frota de distribuição”, lembra o arquiteto Hagop Boyadjian, então responsável por obras de reforma no prédio da Rua Major Quedinho, onde funcionava o jornal, no centro.
Também o JT foi proibido de circular e apreendido. Seus diretores se recusaram a trocar textos considerados “mais exaltados”, depois de terem publicado, no dia 12, um editorial sobre a crise política com o título “Mais uma demonstração de inviabilidade do regime”. Repórteres e editores fizeram um esquema semelhante ao do Estado para garantir a distribuição. Enquanto a Polícia vigiava a Rua Major Quedinho, 84.900 exemplares escaparam pela Rua Martins Fontes, do outro lado do prédio.
O general Sílvio Correia de Andrade ficou furioso. Percorreu as bancas do bairro de Higienópolis para recolher o JT pessoalmente. “Esse jornal traiu a Revolução”, gritava sem parar, conforme lembra Fernando Mitre, atual diretor de jornalismo da Rede Bandeirantes.
Reação. O escritor e jornalista Ivan Ângelo, então secretário de Redação do JT, lembra a reação dos jornalistas. “Quando o censor entrou na sala, logo nos primeiros dias, todos nós nos retiramos, em sinal de protesto. O censor perguntou se o pessoal estava saindo por causa dele e eu disse que certamente sim, pois isso nunca havia ocorrido antes.”
Os jornalistas faziam o que podiam para infernizar a vida dos censores. “Contrabandeando informações que seriam censuradas no meio de outras matérias, em linguagem pouco usual – e não apenas isso, mas também esvaziando os quatro pneus do carro de um deles apenas para vê-los, da janela, suando a camisa num trabalho mais digno que aquele a que se haviam habituado ”, disse Carlos Brickmann, repórter político.
Proibido de publicar a notícia da demissão do ministro da Agricultura, Cirne Lima, que havia entrado em choque com o ministro da Fazenda, Delfim Netto, a primeira página do Estado substituiu em 1973 uma foto por uma peça publicitária da Rádio Eldorado, emissora do Grupo Estado. “Agora é samba”, dizia o anúncio, com grande impacto. Repetiu-se a dose no dia seguinte, quando foi publicada, no lugar de outra foto de Cirne Lima, uma ilustração com uma rosa branca. Legenda: “A rosa, louvada por poetas desde tempos imemoriais, continua simbolizando o amor”.
Os editores publicavam também poesias no lugar do material cortado. O primeiro poema, Y – Juca Pirama, de Gonçalves Dias, saiu em destaque na página dos editoriais, em 29 de junho de 1973. Nem todos os leitores entenderam o recado. Muitos telefonaram ou escreveram para cumprimentar o Estado pelo apoio à literatura e ao cultivo de flores. Diante dessa reação, Julio de Mesquita Neto determinou que se publicasse alguma coisa constante e continuada, de modo que o leitor identificasse a censura.
O redator Antônio Carvalho Mendes, responsável por uma coluna sobre cinofilia e pela seção de falecimentos, sugeriu a publicação repetida de versos de Os Lusíadas, de Luís de Camões. O poeta português apareceu 655 vezes no jornal. Segundo a pesquisadora Maria Aparecida Aquino, da USP, foram cortados 1.136 textos no Estado, de 29 de março de 1973 a 3 de janeiro de 1975, quando acabou a censura. No JT, Ruy Mesquita optou pela publicação de bolos e doces, em substituição às matérias cortadas.
Repórteres e correspondentes do Estado foram perseguidos por causa do seu trabalho. O chefe da sucursal de Recife, Carlos Garcia, foi preso e torturado em março de 1974, na véspera da posse do presidente Ernesto Geisel. “O Estadão se posicionou firmemente contra a ditadura e alguns de seus jornalistas foram torturados, como foi o meu caso, por defenderem a liberdade de imprensa”, disse Garcia. Em outubro de 1975, Luiz Paulo Costa, correspondente em São José dos Campos, foi preso e torturado no Destacamento de Operações de Informações (DOI), do 2.º Exército, na mesma semana e local em que o jornalista Vladimir Herzog foi morto sob torturas.
Julio de Mesquita Neto resistia à censura e protestava contra a ditadura. “Meu pai aproveitava suas viagens para denunciar no exterior a falta de liberdade de imprensa no Brasil”, disse Júlio César Mesquita, lembrando discursos e pronunciamentos feitos na Europa e nos Estados Unidos. Pela sua coragem, Julio Neto ganhou o Prêmio Palma de Ouro da Liberdade, concedido pela Federação Internacional dos Editores de Jornais. No JT, o diretor Ruy Mesquita também não deixava de protestar contra a arbitrariedade. Foi memorável, de extraordinária repercussão, um telegrama que mandou a Alfredo Buzaid em 19 de setembro de 1972, quando a PF baixou novas normas de censura à imprensa. Dizia o texto:
“Senhor Ministro, ao tomar conhecimento dessas normas emanadas de V.Sa. o meu sentimento foi de profunda humilhação e vergonha. Senti vergonha, sr. Ministro, pelo Brasil, degradado à condição de uma republiqueta de banana ou de uma Uganda qualquer por um governo que acaba de perder a compostura…Todos os que estão hoje no poder dele baixarão um dia e então, sr. Ministro, como aconteceu na Alemanha de Hitler, na Itália de Mussolini ou na Rússia de Stalin, o Brasil ficará sabendo a verdadeira história deste período em que a Revolução de 64 abandonou os rumos traçados pelo seu maior líder, o marechal Castelo Branco, para enveredar pelos rumos de um caudilhismo militar que já está fora de moda, inclusive nas repúblicas hispano-americanas…”
Os militares ficaram furiosos, recorda Mitre, por terem sido chamados de nazistas e fascistas.
“Meu pai lutou contra a censura e contra todas as barbaridades do regime militar”, disse Ruy Mesquita Filho, o Ruyzito. Ainda adolescente na época, ele se lembra hoje de Ruy Mesquita falando aos berros, pelo telefone, com um general. “Meu pai defendia os jornalistas que eram presos e perseguidos. Os diretores do Estado e do Jornal da Tarde sabiam e denunciavam o que estava acontecendo. O prédio do Estadofoi alvo de três bombas em atentados terroristas, de esquerda e de direita, em represália à sua posição em defesa da democracia”, acrescentou Ruyzito.
Missão. Correspondente em Buenos Aires, onde era exilado político e assinava seus textos com o pseudônimo de Julio Delgado, Flávio Tavares lembra como iludiu a censura, quando os Mesquitas não se dobraram à “inquisição” militar. “Usávamos todos os estratagemas para driblar a censura.” Em 1977, Flávio foi preso e torturado no Uruguai, acusado de espionagem, após ter entrevistado Leonel Brizola no exílio. Foi libertado por pressão do Estado, que enviou Júlio César Mesquita e advogados do escritório de Gerson Mendonça Neto a Montevidéu para resgatá-lo.
A censura só acabou em 3 de janeiro de 1975, véspera da comemoração do centenário do Estado. Era o cumprimento de um compromisso assumido pelo general Ernesto Geisel, ao assumir a Presidência em março de 1974. As dificuldades, porém, continuaram, até o fim do AI-5, em 1978.
O complô para cassar o deputado
Oficiais revelam como armaram a crise que fez Marcos Tito e Alencar Furtado perderem os mandatos
Por Marcelo Godoy, O Estado de S.Paulo
A crise que levou à cassação dos dois últimos mandatos de deputados federais com base no AI-5 em 1977 foi o resultado de uma conspiração montada por integrantes da comunidade de informações da ditadura militar. O objetivo inicial era decapitar um parlamentar do MDB – Marcos Tito. Ele denunciara a ação da extrema-direita, que se alinhara em torno da ideia de impor o general Silvio Frota, então ministro do Exército, como candidato do governo à sucessão do presidente Ernesto Geisel (1974-1979).
As eleições eram indiretas e o presidente, eleito pelo Colégio Eleitoral em 1978. Quarenta e um anos depois, um ex-integrante do Centro de Informações da Aeronáutica (Cisa) revelou a trama ao Estado. A entrevista, feita no Clube da Aeronáutica, no Rio, durou cinco horas e foi gravada. O coronel pediu anonimato. A história foi confirmada por outro oficial, que trabalhou 28 anos no Cisa.
“Realizamos algumas operações fundamentalmente de contrainteligência muito produtivas. Nenhuma com violência, mas foram operações que você faz para expor o inimigo a uma situação ridícula, que ele não contribuiu para aquilo, para desmoralizá-lo e acabar com ele”, diz o coronel. Entre essas operações, estava a que levou à cassação de Tito. “Ele estava assumindo uma posição que estava nos incomodando muito.”
Integrante da contrainteligência do Cisa, ele estava no setor desde sua criação como Núcleo do Serviço de Informações de Segurança da Aeronáutica, chefiado pelo então coronel João Paulo Moreira Burnier. Era julho de 1968. Permaneceu ali até 1979 como o agente Paulo Mário.
Na época, o emedebista havia discursado na Câmara afirmando: “Há evidentes sinais de que a extrema-direita articula-se para promover as condições necessárias a um novo surto de violência política”. Tito era vinculado ao grupo mais incisivo do MDB, conhecido como “autêntico”. Desde 1964, 171 mandatos de parlamentares haviam sido cassados pelos governos militares, dos quais 104 foram com base no Ato Institucional-5. Para retirar do caminho o parlamentar de Minas – eleito em 1974 com 61.386 votos –, a Aeronáutica montou uma armadilha. Os oficiais da inteligência da Força apanharam a edição especial do jornal Voz Operária, de abril de 1977. Órgão oficial do Partido Comunista Brasileiro (PCB), então na ilegalidade, ele era impresso na Europa e despachado por correio para o Brasil.
A edição trazia uma decisão do partido e um editorial sobre o Pacote de Abril, por meio do qual Geisel fechou o Congresso e aprovou reformas, como a ampliação do Senado com a nomeação de senadores – os biônicos –, garantindo maioria no Colégio Eleitoral. Também continha o Manifesto à Nação.
O texto afirmava: “No momento em que o Brasil atravessa uma crise cujas consequências e alcance são reconhecidos por todas as correntes políticas nacionais, os comunistas dirigem-se à nação com o objetivo de, ao lado de todos aqueles interessados na conquista da democracia, propor uma alternativa para a situação político-institucional em que o regime resultante do golpe de 1964 colocou o País”. Reescrito pelos militares, o texto perderia a palavra “comunistas” e teria “golpe” substituída por “movimento”. Dos 24 parágrafos, cinco foram suprimidos. As alterações, porém, ainda deixavam clara a origem do texto sem, no entanto, alertar o alvo da armadilha: Tito.
O próximo passo foi entregar o texto ao gabinete do parlamentar, que mantinha relações com estudantes e sindicalistas. “Levamos como se fosse coisa de estudante inconformado, pedindo para ele ler no plenário da Câmara. E ele caiu e leu.” O papel foi recebido por um assessor, que o repassou ao deputado. Em 24 de maio, o parlamentar subiu à tribuna e leu o discurso sem saber que era quase cópia da Voz Operária. Acusava o regime de ter como métodos o “medo e o arbítrio”. Sua fala atraiu a resposta do deputado Cantídio Sampaio (Arena-SP), que o chamou de “atrevido”.
Tudo parecia se encerrar ali. Dois dias após o discurso, os militares fizeram chegar ao deputado Silval Boaventura (Arena-MG) a informação de que Tito lera da tribuna o manifesto do PCB. Sinval denunciou o colega. Estava aberta a crise. “E acabou levando uma ferroada, acabou cassado e posto na rua”, conta o coronel. De fato, 21 dias depois, Geisel anunciou a cassação de Tito. “Na época, não havia desconfiança de que o texto tivesse sido plantado. Pareceu o plágio de um assessor. As forças mais radicais do regime criaram uma crise artificial”, diz o deputado Miro Teixeira (Rede-RJ), então no MDB.
Necessário. A ação da comunidade de informações atendia ainda a outro motivo: provar que a infiltração comunista aumentava com a abertura e, assim, reforçar a “necessidade” de Frota ser o candidato do regime à sucessão de Geisel. “Queriam mostrar que tudo aquilo (o aparato do regime) era necessário”, disse o Doutor Pirilo, do Cisa. Entrevistado em julho de 2017, Pirilo morreu neste ano.
Treze dias depois, em 27 de junho de 1977, o MDB teria seu programa de TV. O presidente do partido, Ulysses Guimarães, foi duro com o governo e o líder da legenda na Câmara, Alencar Furtado (PR), protestou contra a cassação de Tito e outras e denunciou a chaga dos desaparecidos. “Para que não haja esposas que enviúvem com maridos vivos, talvez; ou mortos, quem sabe? Viúvas do quem sabe ou do talvez”, disse.
O desafio ao regime foi punido por Geisel. Em 30 de junho, Geisel anunciaria a decisão de processar Ulysses. “Ulysses não foi cassado porque sua figura tinha mais respaldo, por seu histórico. Vinha do PSD, presidia a legenda e tinha uma postura mais moderada. Alencar era mais duro, incisivo e acusador. Geisel usou as cassações porque precisava enfrentar os radicais entre os militares e mostrar que não era mole”, diz Alberto Goldman, então líder do MDB na Assembleia Legislativa. Furtado se tornaria o 173.º – e último – parlamentar cassado no País com base no AI-5.
PERGUNTAS PARA: Marcos Tito
1. Oficiais do Cisa disseram que fizeram uma armadilha para que o sr. fosse cassado, plantando em seu gabinete o discurso com trechos da Voz Operária…
Eu fazia uma oposição muito dura à ditadura. Denunciava torturas e mortes. Eu recebia muitas solicitações de pronunciamentos, discursos e manifestações. Fiz vários. E fazia parte do grupo autêntico do MDB, com o Lysâneas Maciel, o Nadyr Rossetti, o Amaury Müller. Fui acusado pelo Geisel de ter sido apoiado pelo partido comunista. Os comunistas não iam apoiar a Arena, não é mesmo? Eles apoiavam quem? Apoiavam quem lutava contra a ditadura. Eles (os militares) usaram esse pretexto para me cassar. Não me arrependo nada do que fiz. Podem vasculhar minha vida; não tem nenhum ato de desonra.
2. O senhor tinha ideia de que foi vítima de uma armação?
Não tinha conhecimento, não. Eu supus que isso pudesse ser, sim, porque era uma forma de me caracterizar como representante do partido comunista.
3. De que forma a cassação afetou a sua vida?
Eu era jovem. Tinha 37 anos, um mandato e um cargo no Estado. Fui aposentado com 10% do salário – eu era fiscal de rendas – e tive de ir morar na casa da minha mãe, pois estava sem condição de sobreviver. Voltei à advocacia, mas as pessoas tinham medo de procurar meu escritório, porque naquela época o medo intimidava as pessoas. Morei dois anos com minha mãe para reorganizar minha vida.
especial, ai-5, 50 anos do AI-5, O Estado de S. Paulo9
https://www.fundacaoastrojildo.org.br/o-estado-de-s-paulo-ato-institucional-numero-5-completa-50-anos/
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