Regras do jogo
01 de outubro de 2018
A democracia é o único sistema político possível
numa civilização respeitável. [...] Nosso voto é um instrumento indispensável
para impedir a substituição desse diálogo crítico pela vontade do mais
poderoso.
O
voto da semana
Cacá Diegues
O Globo
A democracia é o único sistema possível numa
civilização respeitável. E ela não é a imposição do modo de vida da maioria
Estamos a uma semana da eleição mais tensa e
histérica do Brasil moderno. Não é que as outras tenham sido sempre saudáveis.
Mas essa pode se tornar o clímax de todos os erros que cometemos antes, desde o
Império, quando o imperador isento e bonachão deixava que os dois partidos, o
Liberal e o Conservador, ficassem dando golpes um no outro.
Nasci sob o Estado Novo ditatorial de Getúlio
Vargas. Só já maduro fui descobrir que, na primeira eleição depois de sua
queda, o Brasil havia eleito, como presidente da redemocratização, o Ministro
da Guerra do ditador. Depois, na eleição seguinte, foi o próprio ex-ditador,
responsável por crimes hediondos, que voltou ao poder, por votação democrática.
Embora, devido à idade, ainda não votasse, em 1955 me engajei com entusiasmo
adolescente na campanha de Juscelino Kubistchek, o rei da simpatia.
A primeira eleição em que tive idade para votar de
fato foi a de 1960. Fui um dos poucos de minha turma politizada que votou no
marechal Lott e não em Jânio Quadros, como quase todo mundo. Diziam que até o
presidente da UNE, líder e responsável pela frente popular mais vasta na
história do movimento estudantil, havia se encantado com o demagogo farsante
que, com sua inexplicável renúncia, atirou o Brasil numa crise que gerou o golpe
militar de 1964.
A ditadura militar durou 21 anos. Quando veio a nova
redemocratização, a sequência política ficou parecida com a de Vargas: o
presidente da redemocratização tinha sido presidente do partido da ditadura. Na
primeira eleição direta e democrática que tivemos a seguir, elegemos outra vez
um aventureiro, que outra vez deixou o governo antes de completar o mandato
legal. Só que, agora, a Justiça é que o tirava do trono que não merecia ocupar.
E então, numa graça inesperada, vieram dezoito anos
de euforia pública, durante Itamar, FHC e Lula. O Brasil se tornava uma nave de
esperança, flutuando na direção que sempre pretendemos para nós – um país menos
desigual, com mais oportunidades para todos, acabando com a inflação endêmica,
tratando melhor a habitação, a educação e a saúde de seu povo, fiel a um
sistema democrático que nunca tentou violar, se dando ao respeito universal.
Não importam os partidos que fizeram esse tempo, nem
as queixas que cada oposição a cada governo fazia de seu adversário. O que
importava mesmo era a alegria de viver num país onde, mesmo merecendo essa ou
aquela correção de rumo, havia um horizonte de luz à nossa espera, em cuja
direção valia à pena navegar. Nós todos acreditávamos nesse horizonte e
podíamos viver desse orgulho.
Mas o sonho acabou e o Brasil virou o que é agora –
um país sem caráter, de desigualdades e desemprego, de pobres desassistidos, de
economia em recessão, sem expectativa de recuperação num prazo humano. Um país
violento, desorientado e caótico, de líderes egoístas à beira de uma catástrofe
bárbara. Agora não se trata mais de escolher entre políticos e partidos, nem
mesmo de escolher entre a direita e a esquerda, como muitos simplificam
tentando nos convencer. O que está em jogo hoje é a disputa entre civilização e
barbárie, duas formas distintas e distantes de viver e conviver.
O desgaste do gosto pela civilização está
contaminando o mundo inteiro, não podemos deixar que esse mal chegue ao Brasil.
Civilização significa sabedoria e conhecimento, regras e leis que servem a
todos, respeito ao outro, amor universal.
A democracia é o único sistema político possível
numa civilização respeitável. E ela não é a imposição do modo de vida da
maioria, mas o regime em que as minorias têm garantido seu direito à diferença.
O contrário disso é o fim do diálogo que sempre faz a humanidade crescer na
crise, o estado humano por excelência. Nosso voto é um instrumento
indispensável para impedir a substituição desse diálogo crítico pela vontade do
mais poderoso.
A
marcha do golpismo
Luiz Carlos Azedo
Correio Braziliense
“Até agora, a radicalização política no Brasil foi
contida por um movimento pendular da sociedade e da elite política, mas nunca houve
uma situação de tanta fragilidade do Congresso e da Suprema Corte”
O cenário eleitoral protagonizado pelos dois líderes
nas pesquisas de opinião, Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT), um pouco
pela soberba de ambos, muito pela ideologia, às vésperas do pleito, ganha
características cada vez mais disruptivas, que questionam a ordem democrática
do país. Na sexta-feira, em entrevista ao apresentador José Luiz Datena,
Bolsonaro disse que não aceita um resultado no qual não seja o vencedor,
afirmou que o Plano B do PT é fraudar o resultado das eleições; em Goiânia, com
sinal trocado, Haddad disse que, tão logo seja eleito, convocará uma
Constituinte exclusiva para redigir uma nova Constituição. São duas propostas
golpistas.
A Constituição de 1988, com todos os seus defeitos,
é um pacto político construído para que houvesse uma transição pacífica do
regime militar à democracia. Foi obra de muitas mãos, entre as quais as de
Ulysses Guimarães. Resultou do esforço de políticos que sobreviveram ao
autoritarismo e lideraram o MDB na luta contra o fascismo e a tentativa de “mexicanização”
do país por meio da antiga Arena. Essa história é bem conhecida, dispensa
maiores comentários. O que importa é registrar que as forças que teceram essa
transição se exauriram pela morte da maioria de seus líderes, pelo desgaste e
fricção da luta política e em razão do desmantelo revelado pela Operação
Lava-Jato.
Hoje, o protagonismo está com quem se opôs ao pacto
celebrado na Constituição de 1988. De um lado, o PT, cujos fundadores gostariam
que a queda da ditadura se confundisse com a tomada do poder, quiçá uma
revolução socialista; de outro, as forças que pretendiam institucionalizar o
regime autoritário, com a eleição de um presidente civil no colégio eleitoral,
no caso, o então deputado Paulo Maluf. Graças à Constituição de 1988, em nenhum
momento essas forças conseguiram impor seus desejos às instituições
democráticas. As tentativas nessa direção foram frustradas pelo Congresso. A
primeira foi com Collor de Mello, que renunciou ao mandato para evitar o
impeachment; a segunda, com Dilma Rousseff, que também foi apeada do poder.
Até agora, a radicalização política no Brasil foi
contida por um movimento pendular da sociedade e da elite política, mas nunca
houve uma situação de tanta fragilidade do Congresso e da Suprema Corte do país
desde a redemocratização. As causas são as mais diversas, da crise da
democracia representativa e seus partidos à desmoralização de suas principais
lideranças em razão dos escândalos nos quais estão envolvidos. Acrescente-se a
isso as mudanças em curso no mundo e a sociedade líquida que emerge com as
novas tecnologias, as redes sociais e a substituição da verdade pelas falsas
narrativas fake news. É nesse contexto que devemos examinar e nos precaver em
relação ao que dizem os candidatos que possam afrontar a democracia.
Regras do jogo
Bolsonaro joga suas fichas numa decisão de primeiro
turno, mas já anuncia que, para ele, a eleição somente terá validade se for o
vencedor no segundo turno. Se isso não ocorrer, não aceitará o resultado. Alega
que havia uma decisão do Congresso para que o voto fosse impresso, como a
segunda via de um cartão de crédito, e que o Supremo Tribunal Federal (STF) não
aceitou a medida. Deduz daí que haverá fraude nas urnas eletrônicas, fato sem
precedentes, porque é impossível uma operação dessa envergadura: as urnas são
auditáveis, e os votos, computados em cada seção eleitoral, o que exigiria uma
rede de cumplicidade gigantesca. A totalização dos votos pode ser checada urna
por urna. É impossível rackear todas, simultaneamente, porque funcionam de
forma estanque. Esse discurso só tem uma lógica: legitimar uma intervenção
militar, a ser comandada pelos generais que compõem seu estado-maior de
campanha, o que seria uma quartelada. A proposta de nova Constituição redigida
por notáveis, sugerida pelo general Mourão, imposta goela abaixo no Legislativo
e no Judiciário, tem tudo a ver com essa visão golpista.
A proposta de Haddad joga lenha na fogueira. Por que
convocar uma Constituinte exclusiva quando estamos elegendo os 513 deputados
que compõem a Câmara e 54 dos 81 senadores, todos com poder de emendar a
Constituição? Eis a razão: o PT não terá maioria no Congresso, cuja renovação
não foi maior por causa da contrarreforma aprovadas pelos grandes partidos,
tendo um petista como relator. Não pode mudar as regras de composição dos
tribunais superiores, cuja maioria dos membros, diga-se de passagem, foi
indicada pelos presidentes petistas. Não terá maioria para estabelecer o controle
dos meios de comunicação, interferir nas promoções dos oficiais de alta patente
das Forças Armadas, restabelecer o monopólio nacional do petróleo, reverter a
reforma trabalhista e mudar as regras das eleições. O golpismo da Constituinte
exclusiva está na dualidade de poderes com o Congresso, parecida com a que
existe hoje na Venezuela, onde o regime autoritário de Nicolás Maduro convocou
uma Constituinte popular porque perdeu as eleições para a Assembleia Nacional.
[...]”
Villa
Lobos - Bachianas Brasileiras n? 5 Filarmônica de Berlim
Festival de Waldbuhne 2008 - Berlim - Orquestra
Filarmônica de Berlim. Regência Gustavo Dudanel, Soprano Ana Maria Martínez.
Bachianas Brasileiras nº5 de Heitor Villa Lobos.
Heitor
Villa-Lobos "Suite Popular Brasileña" (Completa) Pablo De Giusto
Pablo De Giusto
Publicado em 25 de jul de 2013
Pablo De Giusto interpreta la Suite Popular
Brasileña de Heitor Villa-Lobos. Extraído del disco "Música de cámara
latinoamericana" (DRA22- 1996) 1) Mazurka-Choro 00:00 2) Schottish-Choro 03:30
3) Valsa-Choro 07:20 4) Gavotta-Choro 12:08 5) Chorinho 17:50
Referência
http://gilvanmelo.blogspot.com/2018/10/caca-diegues-o-voto-da-semana.html#more
http://gilvanmelo.blogspot.com/2018/09/luiz-carlos-azedo-marcha-do-golpismo.html#more
https://youtu.be/maQ8t8mJkTM
Villa
Lobos - Bachianas Brasileiras n? 5 Filarmônica de Berlim
https://www.youtube.com/watch?v=maQ8t8mJkTM
https://youtu.be/Z2_LDC-WQQ0
https://www.youtube.com/watch?v=Z2_LDC-WQQ0
Nenhum comentário:
Postar um comentário