“... quer ir para Minas,
Minas não há mais.
José, e agora?”
Minas não há mais.
José, e agora?”
Arthur, e agora?
Leia Drummond
José
Carlos Drummond de Andrade
José
E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
e agora, você?
você que é sem nome,
que zomba dos outros,
você que faz versos,
que ama, protesta?
e agora, José?
Está sem mulher,
está sem discurso,
está sem carinho,
já não pode beber,
já não pode fumar,
cuspir já não pode,
a noite esfriou,
o dia não veio,
o bonde não veio,
o riso não veio,
não veio a utopia
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou,
e agora, José?
E agora, José?
Sua doce palavra,
seu instante de febre,
sua gula e jejum,
sua biblioteca,
sua lavra de ouro,
seu terno de vidro,
sua incoerência,
seu ódio - e agora?
Com a chave na mão
quer abrir a porta,
não existe porta;
quer morrer no mar,
mas o mar secou;
quer ir para Minas,
Minas não há mais.
José, e agora?
Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse
a valsa vienense,
se você dormisse,
se você cansasse,
se você morresse...
Mas você não morre,
você é duro, José!
Sozinho no escuro
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
sem cavalo preto
que fuja a galope,
você marcha, José!
José, para onde?
Composição: Carlos Drummond de Andrade
Elegia
a um tucano morto (Calos Drummond de Andrade)
Pedro Drumond em uma produção do Instituto Moreira
Salles-IMS
Carlos Drummond de Andrade (Itabira, 31 de
outubro de 1902 – Rio de Janeiro, 17 de
agosto de 1987) escreveu seu último poema no dia 31 de janeiro de
1987, “Elegia a um tucano morto”, que conta a história real de um tucano
que Pedro Drummond ganhou da esposa no dia do seu aniversário e que
sofreu alguns “acidentes”.
O ilustre avô escreveu “Elegia a um tucano morto” e
presenteou ao neto num almoço. Veja o poema recitado por Pedro, o neto do
grande poeta, além de contar a história real do tucano:
http://youtu.be/bbYTioVMSoE
O poema, que é triste, pessimista, belo, mostra a
fragilidade da vida:
Elegia a um tucano morto
Ao Pedro
O sacrifício da asa corta o voo
no verdor da floresta. Citadino
serás e mutilado,
caricatura de tucano
para a curiosidade de crianças
e a indiferença de adultos.
Sofrerás a agressão de aves vulgares
e morto quedarás
no chão de formigas e de trapos.
no verdor da floresta. Citadino
serás e mutilado,
caricatura de tucano
para a curiosidade de crianças
e a indiferença de adultos.
Sofrerás a agressão de aves vulgares
e morto quedarás
no chão de formigas e de trapos.
Eu te celebro em vão
como à festa colorida mas truncada
projeto da natureza interrompido
ao azar de peripécias e viagens
do Amazonas ao asfalto
da feira de animais.
Eu te registro, simplesmente,
no caderno de frustrações deste mundo
pois para isto vieste:
para a inutilidade de nascer.
como à festa colorida mas truncada
projeto da natureza interrompido
ao azar de peripécias e viagens
do Amazonas ao asfalto
da feira de animais.
Eu te registro, simplesmente,
no caderno de frustrações deste mundo
pois para isto vieste:
para a inutilidade de nascer.
Andrade, Carlos Drummond de. Farewell (1996).
In: Poesia completa.
Rio de Janeiro: Editora Nova Aguilar, 2002, p.1413
Rio de Janeiro: Editora Nova Aguilar, 2002, p.1413
Biografia de Carlos Drummond de Andrade
Carlos Drummond de Andrade (1902–1987) foi um poeta
brasileiro. "No meio do caminho tinha uma pedra / tinha uma pedra no meio
do caminho". Este é um trecho de uma das poesias de Drummond, que marcou o
2º Tempo do Modernismo no Brasil. Foi um dos maiores poetas brasileiros do
século XX.
Infância e Formação
Carlos Drummond de Andrade (1902-1987) nasceu em
Itabira de Mato Dentro, interior de Minas Gerais, no dia 31 de outubro de 1902.
Filho de Carlos de Paula Andrade e Julieta Augusta Drummond de Andrade,
proprietários rurais. Em 1916, ingressou em um colégio interno em Belo
Horizonte. Doente, regressou para Itabira, onde passou a ter aulas
particulares. Em 1918, foi estudar em Nova Friburgo, no Rio de Janeiro, também
no colégio interno.
Casa
onde nasceu Drummond, em Itabira
Em 1921, começou a publicar artigos no Diário de
Minas. Em 1922, ganhou um prêmio de 50 mil réis, no Concurso da Novela Mineira,
com o conto "Joaquim do Telhado". Em 1923 matricula-se no curso de
Farmácia da Escola de Odontologia e Farmácia de Belo Horizonte. Em 1925 conclui
o curso. Nesse mesmo ano, funda "A Revista", que se torna um
veículo do Modernismo Mineiro. Drummond leciona português e Geografia em
Itabira, mas a vida no interior não lhe agrada. Volta para Belo Horizonte,
emprega-se como redator no Diário de Minas.
Poeta e Servidor Público
Em 1928 publica "No Meio do Caminho", na
Revista de Antropofagia de São Paulo, provocando um escândalo, com a crítica da
imprensa. Diziam que aquilo não era poesia e sim uma provocação, pela repetição
do poema. Como também pelo uso de "tinha uma pedra" em lugar de
"havia uma pedra". Ainda nesse ano, ingressa no serviço público como
auxiliar de gabinete da Secretaria do Interior.
Em 1930 publica o volume "Alguma Poesia",
abrindo o livro com o "Poema de Sete Faces", que se tornaria um dos
seus poemas mais conhecidos: "Mundo mundo, vasto mundo se eu me chamasse
Raimundo seria uma rima, não seria uma solução". Faz parte do livro
também, o polêmico "No Meio do Caminho", "Cidadezinha
Qualquer" e "Quadrilha". Em 1934 muda-se para o Rio de Janeiro e
assume a chefia de gabinete do Ministério da Educação, do ministro Gustavo
Capanema. Em 1942 publica seu primeiro livro de prosa, "Confissões de
Minas".
Em 1945, publica “A Rosa do Povo”, obra em que
condena a vida mecanizada e desumana de seu tempo, e espelha uma carência de um
mundo certo, pautado na justiça, que venha substituir a falta de solidariedade
de seu mundo. A poesia de caráter social assume nova dimensão, e seus temas
preferidos são: a angústia, o medo, o tédio e a solidão do homem moderno. Entre
os anos de 1945 e 1962, foi funcionário do Serviço Histórico e Artístico
Nacional. Em 1946, foi premiado pela Sociedade Felipe de Oliveira, pelo
conjunto da obra.
Características da Obra de Drummond
Poeta da Segunda Geração Modernista, a maior figura
da “Geração de 30”, embora tenha escrito ótimos contos e crônicas, Drummond se
destacou como poeta, quando produziu uma poesia de questionamento em torno da
existência humana, do sentimento de estar no mundo, da inquietação social,
religiosa, filosófica, amorosa etc. Seu estilo poético é permeado por traços de
ironia, observações do cotidiano, de pessimismo diante da vida e de humor.
Drummond fazia verdadeiros "retratos existenciais" e os
transformava em poemas com incrível maestria. Carlos Drummond de Andrade foi
também tradutor de autores como Balzac, Federico Garcia Lorca e Molière.
Família
Casado com Dolores Dutra de Morais, e pai de Maria
Julieta Drummond de Andrade e de Carlos Flávio Drummond de Andrade, em 1950,
viajou para a Argentina, para o nascimento de seu primeiro neto, filho de Julieta.
Nesse mesmo ano estreia como ficcionista. Em 1962 se aposenta do serviço
público, mas sua produção poética não para. Os anos 60 e 70 são produtivos.
Escreve também crônicas para jornais do Rio de Janeiro. Em 1967, para comemorar
os 40 anos do poema "No Meio do Caminho" Drummond reuniu extenso
material publicado sobre ele, no volume "Uma Pedra no Meio do Caminho -
Biografia de Um Poema".
Carlos Drummond de Andrade faleceu no Rio de
Janeiro, no dia 17 de agosto de 1987, doze dias depois do falecimento de sua
filha, a escritora Maria Julieta Drummond de Andrade.
Obras de Carlos Drummond de Andrade
No Meio do Caminho, poesia, 1928
Alguma Poesia, poesia, 1930
Poema da Sete Faces, poesia, 1930
Cidadezinha Qualquer e Quadrilha, poesia, 1930
Brejo das Almas, poesia, 1934
Sentimento do Mundo, poesia, 1940
Poesias e José, poesia, 1942
Confissões de Minas, ensaios e crônicas, 1942
A Rosa do Povo, poesia, 1945
Poesia até Agora, poesia, 1948
Claro Enigma, poesia, 1951
Contos de Aprendiz, prosa, 1951
Viola de Bolso, poesia, 1952
Passeios na Ilha, ensaios e crônicas, 1952
Fazendeiro do Ar, poesia, 1953
Ciclo, poesia, 1957
Fala, Amendoeira, prosa, 1957
Poemas, poesia, 1959
A Vida Passada a Limpo, poesia, 1959
Lições de Coisas, poesia, 1962
A Bolsa e a Vida, crônicas e poemas, 1962
Boitempo, poesia, 1968
Cadeira de Balanço, crônicas e poemas, 1970
Menino Antigo, poesia, 1973
As Impurezas do Branco, poesia, 1973
Discurso da Primavera e Outras Sombras, poesia, 1978
O Corpo, poesia, 1984
Amar se Aprende Amando, poesia, 1985
Elegia a Um Tucano Morto, poesia, 1987
Alguma Poesia, poesia, 1930
Poema da Sete Faces, poesia, 1930
Cidadezinha Qualquer e Quadrilha, poesia, 1930
Brejo das Almas, poesia, 1934
Sentimento do Mundo, poesia, 1940
Poesias e José, poesia, 1942
Confissões de Minas, ensaios e crônicas, 1942
A Rosa do Povo, poesia, 1945
Poesia até Agora, poesia, 1948
Claro Enigma, poesia, 1951
Contos de Aprendiz, prosa, 1951
Viola de Bolso, poesia, 1952
Passeios na Ilha, ensaios e crônicas, 1952
Fazendeiro do Ar, poesia, 1953
Ciclo, poesia, 1957
Fala, Amendoeira, prosa, 1957
Poemas, poesia, 1959
A Vida Passada a Limpo, poesia, 1959
Lições de Coisas, poesia, 1962
A Bolsa e a Vida, crônicas e poemas, 1962
Boitempo, poesia, 1968
Cadeira de Balanço, crônicas e poemas, 1970
Menino Antigo, poesia, 1973
As Impurezas do Branco, poesia, 1973
Discurso da Primavera e Outras Sombras, poesia, 1978
O Corpo, poesia, 1984
Amar se Aprende Amando, poesia, 1985
Elegia a Um Tucano Morto, poesia, 1987
Veja também as biografias de:
Vinicius
de Moraes Vinícius de Moraes (1913-1980) foi um poeta e
compositor brasileiro. "Garota...
Castro Alves (1847-1871)
foi um poeta brasileiro. O último grande poeta da Te...
Álvares
de Azevedo (1831-1852) foi um poeta, escritor e contista,
da Segunda...
Olavo Bilac (1865-1918)
foi um poeta, contista e jornalista brasileiro. Escre...
Manuel Bandeira (1886-1968)
foi um poeta brasileiro. "Vou-me Embora pra Pasár...
Gregório
de Matos (1636-1695) foi o maior poeta do barroco
brasileiro. Desenv...
Casimiro
de Abreu (1837-1860) foi um poeta brasileiro, autor da
obra "Meus Oi...
Augusto
dos Anjos (1884-1914) foi um poeta brasileiro. Sua obra
é extremament...
João
Cabral de Melo Neto (1920-1999) foi um poeta e
diplomata brasileiro. Aut...
Alphonsus
de Guimaraens (1870-1921) foi poeta brasileiro.
Um dos principais r...
Última atualização: 28/06/2018
E agora Arthur?
Leia Drummond
E agora Francisco?
Use Dorival Caymmi
Vá de Jackson do Pandeiro
Fume Ari, cheire Vinícius
Beba Nelson Cavaquinho
Paratodos
Chico Buarque
O meu pai era paulista
Meu avô, pernambucano
O meu bisavô, mineiro
Meu tataravô, baiano
Meu maestro soberano
Foi Antonio Brasileiro
Foi Antonio Brasileiro
Quem soprou esta toada
Que cobri de redondilhas
Pra seguir minha jornada
E com a vista enevoada
Ver o inferno e maravilhas
Nessas tortuosas trilhas
A viola me redime
Creia, ilustre cavalheiro
Contra fel, moléstia, crime
Use Dorival Caymmi
Vá de Jackson do Pandeiro
Vi cidades, vi dinheiro
Bandoleiros, vi hospícios
Moças feito passarinho
Avoando de edifícios
Fume Ari, cheire Vinícius
Beba Nelson Cavaquinho
Para um coração mesquinho
Contra a solidão agreste
Luiz Gonzaga é tiro certo
Pixinguinha é inconteste
Tome Noel, Cartola, Orestes
Caetano e João Gilberto
Viva Erasmo, Ben, Roberto
Gil e Hermeto, palmas para
Todos os instrumentistas
Salve Edu, Bituca, Nara
Gal, Bethania, Rita, Clara
Evoé, jovens à vista
O meu pai era paulista
Meu avô, pernambucano
O meu bisavô, mineiro
Meu tataravô, baiano
Vou na estrada há muitos anos
Sou um artista brasileiro
Composição: Chico Buarque
E agora Veloso?
Caetano
Veloso- Elegia 1938 (Carlos Drummond de Andrade)
Uma produção do Instituto Moreira Salles
Elegia
1938
Trabalhas sem alegria para um mundo caduco,
onde as formas e as ações não encerram nenhum exemplo.
Praticas laboriosamente os gestos universais,
sentes calor e frio, falta de dinheiro, fome e desejo sexual.
Heróis enchem os parques da cidade em que te arrastas,
e preconizam a virtude, a renúncia, o sangue-frio, a concepção.
À noite, se neblina, abrem guarda-chuvas de bronze
ou se recolhem aos volumes de sinistras bibliotecas.
Amas a noite pelo poder de aniquilamento que encerra
e sabes que, dormindo, os problemas te dispensam de morrer.
Mas o terrível despertar prova a existência da Grande Máquina
e te repõe, pequenino, em face de indecifráveis palmeiras.
Caminhas entre mortos e com eles conversas
sobre coisas do tempo futuro e negócios do espírito.
A literatura estragou tuas melhores horas de amor.
Ao telefone perdeste muito, muitíssimo tempo de semear.
Coração orgulhoso, tens pressa de confessar tua derrota
e adiar para outro século a felicidade coletiva.
Aceitas a chuva, a guerra, o desemprego e a injusta distribuição
porque não podes, sozinho, dinamitar a ilha de Manhattan.
onde as formas e as ações não encerram nenhum exemplo.
Praticas laboriosamente os gestos universais,
sentes calor e frio, falta de dinheiro, fome e desejo sexual.
Heróis enchem os parques da cidade em que te arrastas,
e preconizam a virtude, a renúncia, o sangue-frio, a concepção.
À noite, se neblina, abrem guarda-chuvas de bronze
ou se recolhem aos volumes de sinistras bibliotecas.
Amas a noite pelo poder de aniquilamento que encerra
e sabes que, dormindo, os problemas te dispensam de morrer.
Mas o terrível despertar prova a existência da Grande Máquina
e te repõe, pequenino, em face de indecifráveis palmeiras.
Caminhas entre mortos e com eles conversas
sobre coisas do tempo futuro e negócios do espírito.
A literatura estragou tuas melhores horas de amor.
Ao telefone perdeste muito, muitíssimo tempo de semear.
Coração orgulhoso, tens pressa de confessar tua derrota
e adiar para outro século a felicidade coletiva.
Aceitas a chuva, a guerra, o desemprego e a injusta distribuição
porque não podes, sozinho, dinamitar a ilha de Manhattan.
E agora Arthur?
Roda Viva | José Arthur Giannotti | 29/10/2018
Roda Viva
Publicado em 30 de out de 2018
O Roda Viva promove uma entrevista com o filósofo,
ex-membro do governo Fernando Henrique Cardoso e um dos fundadores do Cebrap,
José Arthur Giannotti. Hoje, aos 88 anos, ele analisa os resultados do segundo
turno das Eleições e os principais desafios que o novo governo irá enfrentar a
partir de 1º de janeiro em relação ao campo político, econômico e social.
Compõem a bancada de entrevistadores Celso Fernandes
Campilongo, vice-diretor da Faculdade de Direito da USP e professor das
Faculdades de Direito da PUC-SP e USP, Pedro Doria, editor do Canalmeio.com.br
e colunista dos jornais O Estado de S.Paulo e O Globo; Daniela Milanese,
editora da Agência Bloomberg; Cláudio Couto, cientista político e professor do
departamento de Gestão Pública da Fundação Getúlio Vargas; e Jaime Spitzcovsky,
colunista da Folha de S.Paulo e integrante do grupo de Análise da Conjuntura
Internacional da USP.
https://www.youtube.com/watch?v=rm45i0SKGaE
Referências
https://youtu.be/7M-Zw7fSFuY
https://www.letras.mus.br/carlos-drummond-de-andrade/353799/
https://youtu.be/bbYTioVMSoE
https://www.youtube.com/watch?v=bbYTioVMSoE&feature=youtu.be
https://ultimaflordolacio.files.wordpress.com/2013/01/carlos-drummond.jpg
https://falandoemliteratura.com/2013/01/31/o-ultimo-poema-de-drummond-de-andrade/
https://s.ebiografia.com/img/ca/sa/casa_carlos_drummond_de_andrade.jpg
https://www.ebiografia.com/carlos_drummond/
https://youtu.be/axdhqnpHkHs
https://www.letras.mus.br/chico-buarque/45158/
https://youtu.be/AqNjbqQwOzE
https://www.youtube.com/watch?v=AqNjbqQwOzEhttps://youtu.be/rm45i0SKGaE
https://www.youtube.com/watch?v=rm45i0SKGaE
http://www.casadobruxo.com.br/poesia/c/elegia.htm