Inspirados já nos ensinamentos de Sófocles, aqui, procurar-se-á a conexão, pelo conhecimento, entre o velho e o novo, com seus conflitos. As pistas perseguidas, de modos específicos, continuarão a ser aquelas pavimentadas pelo grego do período clássico (séculos VI e V a.C).
sexta-feira, 18 de abril de 2025
SINISTRO, VÉI
RECLAME: DO MODERNO AO TRADICIONAL
Crucificando a Justiça - 21/11/2024 - Hélio Schwartsman - Folha
O risco e a invenção - UFRJ
#PraTodosVerem: Charge de Benett publicada na Folha em 15 de abril de 2025 tem o título "BRASIL - DEPOIS DA ANISTIA AOS GOLPISTAS". A ilustração mostra o prédio do STF, de arquitetura moderna com colunas verticais e uma estrutura horizontal superior. O céu está escuro, sombrio. Em primeiro plano, sobre um pedestal retangular, no lugar da famosa estátua da Justiça , há uma escultura da golpista "Fátima de Tubarão", na posição que a tornou célebre no dia 8 de janeiro de 2023.
quarta-feira, 16 de abril de 2025
O batom, a Biblia e a banalidade do mal - Wilson Gomes
Folha de S. Paulo
Déboras se ofereceram, com Bíblia e batom, à engrenagem que faria o golpe parecer legítimo
Nos últimos meses, setores bolsonaristas têm tentado transformar os sediciosos do 8 de Janeiro em mártires da liberdade. O caso mais notório é o da cabeleireira Débora, condenada a 14 anos de prisão por participar da invasão da praça dos Três Poderes. "Ela só escreveu ‘Perdeu, mané’ com um batom", diz o deputado Nikolas Ferreira, que chegou a compará-la a Rosa Parks, a moça do Alabama que se recusou a ceder o lugar no ônibus por dignidade e virou símbolo da luta pelos direitos civis nos EUA.
A comparação, para além do insulto histórico, revela algo mais profundo: uma operação de limpeza moral que tenta apresentar os golpistas como "pessoas comuns" injustamente perseguidas por um Estado tirânico.
É aqui que a filósofa Hannah Arendt oferece uma chave precisa para pensar o mal na modernidade. Quando Adolf Eichmann, funcionário-padrão da burocracia nazista, foi capturado e julgado em Jerusalém, em 1961, Arendt cobriu o julgamento como enviada da The New Yorker e ficou impressionada: ele não parecia um monstro, nem um sádico, nem um fanático. Parecia apenas... um homem comum.
Eichmann era medíocre, burocrático, vaidoso em sua obediência às regras e incapaz de refletir eticamente sobre os próprios atos. Isso levou Arendt a formular a tese da "banalidade do mal" —não no sentido de inofensivo, mas porque pode ser cometido por pessoas comuns, sem intenções malignas, sem ódio e até sem crueldade, apenas por conformismo, carreirismo, covardia moral ou irreflexão.
Arendt afirma que o mal radical não está necessariamente na intenção destrutiva, mas na suspensão do pensamento. Para ela, pensar é julgar, é colocar-se no lugar do outro, é aplicar critérios morais. O homem comum de um sistema ou movimento autoritário abdica de pensar —e, assim, abdica da responsabilidade.
Eichmann é banal porque é fácil ser Eichmann. O mal deixa de ser algo que vem de indivíduos monstruosos e passa a ser uma possibilidade concreta quando se cultiva a obediência cega, o conformismo, o anti-intelectualismo e o desprezo pelo julgamento ético.
Débora não é um monstro. Nem é Bolsonaro, Braga Netto ou Mário Fernandes. Não planejou o golpe, não escreveu seus roteiros. Mas estava lá —e sua presença não foi decorativa. A mulher exaltada como símbolo de injustiça por setores bolsonaristas pode muito bem ser uma pessoa comum: uma mãe de filhos, uma cidadã religiosa, uma trabalhadora. Seu gesto —trivial e "lavável"— fez parte de uma encenação cuidadosamente orquestrada para legitimar uma intervenção militar. A questão aqui não é a dosimetria da pena —talvez 14 anos seja excessivo. Mas trata-se de reconhecer que não se trata de inocência.
Débora, a velhinha da Bíblia e outras mães de família que deixaram seus filhos para acampar diante de quartéis não foram vítimas ingênuas. Foram peças fundamentais de um projeto autoritário: sem a "pessoa comum" para dar rosto humano ao levante, não haveria narrativa de povo oprimido nem ilusão de resistência patriótica.
Não estavam no topo da hierarquia golpista, mas justificavam simbolicamente todo o sangue que se derramaria caso o golpe triunfasse. São responsáveis —não porque pensaram o golpe, mas porque se ofereceram à engrenagem que o faria parecer legítimo. Débora não precisava saber de todos os detalhes do plano —bastava estar ali, no lugar certo, na hora certa, fazendo o que se esperava dela.
Arendt ajuda a entender isso. Mas o bolsonarismo produziu dois tipos ainda mais específicos.
O "inocente útil" —figura consagrada desde a Guerra Fria— é aquele que, mesmo sem plena consciência, empresta sua presença a um projeto que não compreende. Já o "idiota motivado" —conceito que venho usando desde 2013— está um degrau acima: não apenas coopera mas se converte. Sua ignorância é mobilizada por causas simplificadas, narrativas morais e senso de missão. Sente-se parte de algo maior —e por isso atua com entusiasmo, sem se dar conta de que é apenas massa emocional de um projeto golpista.
Essas figuras, supostamente inofensivas, oferecem densidade humana a causas autoritárias. Se o plano golpista tivesse funcionado, haveria assassinatos, perseguições, cassações, prisões —como acontece em toda ruptura autoritária. Déboras não precisariam apertar gatilhos nem assinar decretos. Teriam feito sua parte: legitimar, com sua presença e seu gesto, a encenação do "povo contra as instituições".
Como ensinou Arendt, o mal nem sempre se veste de ódio. Às vezes, basta uma bandeira, uma oração —e uma convicção sem pensamento.
Resumo Convolado – “Fábula sobre a prudência e riscos que rondam o governo” com "O Risco e a Invenção" e Samba-Enredo da Vila Isabel (1968)
Ao estilo das fábulas de Esopo, Luiz Carlos Azedo recorre à metáfora da cigarra e das formigas para criticar a postura do governo Lula diante da crise fiscal iminente e da instabilidade global. Como no cartaz da UFRJ, que evoca o “risco e a invenção”, o autor sugere que o Brasil caminha perigosamente no fio entre criatividade política e imprudência orçamentária.
Assim como no enredo da Vila Isabel de 1968, que celebra a diversidade cultural brasileira — “Negros, brancos, índios / Eis a miscigenação / Ditando moda, fixando os costumes” — Azedo reconhece as oportunidades que o país tem diante da crise internacional, como as novas aberturas comerciais com China, Japão e União Europeia. Porém, critica que, ao invés de agir como as formigas previdentes, o governo prefere cantar como a cigarra, deixando de explicar de onde virão os R$ 118 bilhões necessários para equilibrar as contas públicas em 2026.
O samba da Vila retrata um país plural e inventivo — do candomblé baiano à dança do sul —, mas Azedo alerta que sem prudência fiscal, essa rica tapeçaria cultural corre o risco de ser solapada por um cenário de colapso. Ele traça ainda um paralelo entre a distopia de A Revolução dos Bichos, de Orwell, e o retorno de Donald Trump ao poder, comparando seu autoritarismo ao de Napoleão, o porco ditador. Nesse ambiente global de tensão e retrocessos, o Brasil deveria aproveitar a maré para navegar como o saveiro descrito no samba, e não para afundar por imprevidência.
Conclusão: Entre a festa da “menina-moça na tribo dos Carajás” e a rigidez dos números fiscais, o texto de Azedo é um convite a equilibrar tradição, criatividade e responsabilidade. Pois, como lembra a fábula, quem canta no verão pode acabar dançando no inverno.
Samba Enredo 1968 - Quatro Séculos de Modas e Costumes
G.R.E.S Unidos de Vila Isabel (RJ)
A Vila desce colorida
Para mostrar o carnaval
Quatro séculos de modas e costumes
O moderno e o tradicional
Negros, brancos, índios
Eis a miscigenação
Ditando moda, fixando os costumes
Os rituais e a tradição
E surgem tipos brasileiros
Saveiros e bateador
O carioca e o gaúcho
Jangadeiro e cantador
Lá vem o negro
Vejam as mucamas
Também vem com o branco
Elegantes damas
Desfilam modas do Rio
Costumes do Norte e a dança do Sul
Capoeiras, desafios
Frevos e maracatu
Laiaraiá, ô, laiaraiá
Festa de menina-moça
Na tribo dos Carajás
Candomblé lá da Bahia
Onde baixam os orixás
Composição: Martinho da Vila.
Resumo da análise de Luiz Carlos Azedo – "Fábula sobre a prudência e riscos que rondam o governo":
O jornalista Luiz Carlos Azedo faz uma crítica à condução fiscal do governo Lula, usando referências a fábulas de Esopo e ao livro A Revolução dos Bichos, de George Orwell, para ilustrar a falta de prudência do governo diante de um cenário econômico mundial instável, agravado pela volta de Donald Trump ao poder nos EUA.
Azedo compara o governo Lula à cigarra da fábula de Esopo, que não se preparou para o inverno, criticando o Projeto de Diretrizes Orçamentárias para 2026, que sinaliza frouxidão fiscal. O texto alerta para o risco de desequilíbrio nas contas públicas e projeta um possível colapso em 2027, devido à incerteza sobre como o governo obterá R$ 118 bilhões em receitas extras.
Enquanto isso, apesar de oportunidades comerciais com países como China, UE e Japão, o Brasil não estaria agindo com a responsabilidade das formigas da fábula. Azedo também aponta o risco de autoritarismo no cenário internacional, especialmente com a política protecionista de Trump, comparando sua postura à distopia descrita por Orwell.
Conclusão: O artigo é uma advertência sobre os riscos fiscais do governo brasileiro e os perigos geopolíticos globais, recomendando prudência diante das incertezas.
Análise: Fábula sobre a prudência e riscos que rondam o governo
"Projeto de Diretrizes Orçamentárias para 2026 sinaliza frouxidão com as contas públicas e alimenta análises pessimistas em relação à inflação e ao equilíbrio fiscal após as eleições", observa o jornalista
Brazil's President Luiz Inacio Lula da Silva (R) drinks from a bottle next to Army Commander General Tomas Paiva during the Army Day celebration at the Army Headquarters in Brasilia on April 16, 2025. (Photo by Sergio Lima / AFP) - (crédito: AFP)
Por Luiz Carlos Azedo
postado em 18/04/2025 03:55
Esopo nasceu provavelmente na Frígia (atual Turquia) entre o final do século VII a.C. e o início do século VI a.C. Pouco se sabe sobre sua vida, exceto que era um escravo que recorria às fábulas para traduzir sua sabedoria, muitas vezes com ironia, sem se expor em demasia aos senhores.
Sua obra chegou aos nossos dias porque foi exaltada pelos grandes filósofos gregos, entre os quais Heródoto, Platão e Aristóteles. Geralmente, Esopo recorria às características dos animais para traçar um paralelo com os bons e maus comportamentos humanos.
Os romanos Fedro (século I d.C.) e Bábrio (século II d.C.) traduziram Esopo para o latim, a partir do qual as narrativas foram retraduzidas e chegaram aos nossos dias. Ainda hoje suas fábulas são usadas na educação das crianças. A primeira edição impressa das Fábulas é de 1484, ou seja, quase 30 anos após a impressão da Bíblia de Gutemberg, de 1455.
Esta edição contava com 97 fábulas. Entretanto, os pesquisadores atribuem a Esopo a autoria de cerca de 584 fábulas. George Orwell utilizou a linguagem esópica no seu livro mais famoso, A Revolução dos Bichos (Animal Farm), de 1945, que ainda hoje serve de roteiro para peças teatrais infantis.
A história se passa numa granja de animais, que discutem e almejam a construção de uma sociedade ideal. Para isso, eles criam um conjunto de regras e começam a pensar numa revolta contra os humanos, sobretudo, seu dono, Sr. Jones, que os explora e os deixa passarem fome. O Major Porco apresenta a ideia de fazer uma revolução e os animais expulsam Jones da granja.
Os porcos são os animais mais inteligentes da granja, foram mais instruídos e sabem ler e escrever. Enquanto o porco Bola-de-neve, um dos líderes da revolução, quer realizar a construção de um moinho, o porco Napoleão é contra a ideia. Rebelde, Bola-de-neve é considerado traidor e acaba expulso da granja. Napoleão acaba por convencer todos os outros animais a se rebelarem contra Major, o líder. Sempre escoltado por cães raivosos, Napoleão sobe ao poder. Seu egoísmo e totalitarismo ditarão a maneira como conduzirá a granja depois de destituir e expulsar seus desafetos.
A Revolução dos Bichos virou um best-seller internacional, porque Orwell fez uma dura crítica ao totalitarismo ao final da Segunda Guerra Mundial. Não era apenas uma crítica ao nazifascismo, que havia sido derrotado pelas forças aliadas, mas, também, uma analogia com a antiga União Soviética. Por isso mesmo, o livro fez mais sucesso entre os liberais.
Hoje, porém, A Revolução dos Bichos tem tudo a ver com o novo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que promove um duro ataque à ordem liberal norte-americana e à economia global. Nem a prestigiada Universidade de Havard está a salvo do seu autoritarismo.
O formigueiro
Trump nos remete à conhecida fábula de Esopo intitulada A cigarra e as formigas. A história é a seguinte: no inverno, as formigas estavam fazendo secar o grão molhado, quando uma cigarra, faminta, lhes pediu algo para comer. As formigas lhe disseram: "Por que, no verão, não reservaste também o teu alimento?". A cigarra respondeu: "Não tinha tempo, pois cantava melodiosamente". Então, as formigas, rindo, disseram: "Pois bem, se cantavas no verão, dança agora no inverno". A moral da história é que, nos tempos de fartura, devemos nos preparar para o futuro.
Há um amplo consenso entre os economistas de que o futuro se tornou mais incerto e perigoso com Trump no poder. À frente da maior potência econômica e militar do planeta, o presidente norte-americano está redefinindo as relações internacionais ao atropelar toda a institucionalidade construída no pós-guerra, à qual se deve o êxito da globalização. É uma distopia em relação à América e uma disruptiva abordagem geopolítica, mundialmente falando.
A forma como Trump confronta o mundo com sua política protecionista, especialmente a China, cria um ambiente de insegurança e incertezas. Entretanto, como os EUA não podem tudo no mundo, nem Trump internamente, é possível que essa conjuntura terrível seja ultrapassada. Até lá, o melhor a fazer é agir como as formigas.
O governo Lula, porém, está agindo como a cigarra de Esopo, diante de um cenário confuso. O Brasil foi contemplado com as menores taxas do tarifaço de Trump e viu as portas da ampliação do comércio bilateral se abrirem no Japão, na União Europeia e, sobretudo, na China, entre outros países, o que é uma oportunidade em meio à crise mundial.
O problema é que o Projeto de Diretrizes Orçamentárias para 2026 sinaliza frouxidão com as contas públicas e alimenta análises pessimistas em relação à inflação e ao equilíbrio fiscal após as eleições. Alguns projetam um cenário de colapso para 2027, porque o governo não sabe explicar como pretende obter R$ 118 bilhões em receitas extras para fechar as contas públicas no próximo ano.
Com uma meta de superavit de 0,25% do Produto Interno Bruto (PIB) — ou seja, com saldo positivo de R$ 34,3 bilhões —, o Orçamento para as chamadas despesas discricionárias parece feito pelas formigas. Projeta R$ 208,3 bilhões, em 2026; R$ 122,2 bilhões, em 2027; R$ 59,5 bilhões, em 2028; e R$ 8,9 bilhões, em 2029, dessas despesas, sendo que deputados e senadores é que decidirão o destino de aproximadamente 25% dessas despesas livres do Orçamento.
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O senador Sergio Moro (União-PR) durante sessão legislativa no Senado (Jefferson Rudy/Agência Senado)
Brasil
Moro compara Nadine Heredia com Cesare Battisti e critica asilo político
Ex-primeira-dama do Peru foi condenada por receber dinheiro da antiga Odebrecht (hoje Novonor); defesa alega que houve motivação política
Por Isabella Alonso Panho
17 abr 2025, 12h14
O ex-juiz federal e senador Sergio Moro (União Brasil-PR) comparou o asilo político que o Brasil concedeu à ex-primeira-dama do Peru Nadine Heredia com o caso de Cesare Battisti, terrorista italiano que integrou grupos comunistas e foi condenado na Justiça de seu país por quatro assassinatos.
“Nadine Heredia, a primeira-dama corrupta da Odebrecht, é o novo Cesare Battisti, o assassino asilado pelo PT. Lula tem uma queda por bandidos e prejudica a imagem do Brasil”, disse o parlamentar nas redes sociais.
Nadine Heredia, a primeira-dama corrupta da Odebrecht, é o novo Cesare Battisti, o assassino asilado pelo PT. Lula tem uma queda por bandidos e prejudica a imagem do Brasil.
Segio Moro X
10:48 AM · 17 de abr de 2025
O governo brasileiro concedeu asilo político a Heredia esta semana e disponibilizou um avião da Força Aérea Brasileira (FAB) para trazê-la do Peru ao território nacional. Ela chegou ao Brasil nesta quarta, 16, após pedir refúgio na embaixada brasileira.
Ela alega ser vítima de uma perseguição política em uma ação em que ela e seu marido, o ex-presidente Ollanta Humala, foram condenados a quinze anos de prisão por supostamente receberam verbas ilícitas da antiga Odebrecht (hoje Novonor) para financiar suas campanhas eleitorais. Outro ponto que foi levado em consideração pelas autoridades brasileiras é estado de saúde de Heredia. Ela está com câncer. O gesto indignou bolsonaristas e militantes à direita.
Asilo político
Battisti já estava condenado pela Justiça italiana quando foi preso em solo brasileiro em 2007. Dias antes de terminar seu segundo mandato presidencial, Lula lhe concedeu asilo político, gesto que ainda pesa contra a sua imagem.
Anos mais tarde, em 2018, o asilo de Battisti havia sido anulado e o ministro Luiz Fux, do Supremo Tribunal Federal (STF), autorizou a sua prisão. O italiano foi capturado na Bolívia, que concedeu sua extradição para a Itália, onde ele cumpre pena atualmente.
LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA
SERGIO MORO
Leia mais em: https://veja.abril.com.br/coluna/maquiavel/moro-compara-nadine-heredia-com-cesare-battisti-e-critica-asilo-politico/
sexta-feira, 18 de abril de 2025
Julgando a Justiça - Hélio Schwartsman
Folha de S. Paulo
Na mesma semana, Brasil dá asilo a condenada por corrupção no Peru e vê Espanha negar extradição de bolsonarista
A culpa é da Constituição. A contradição em potência dorme lá, no artigo 4º, que enumera os princípios pelos quais o Brasil se rege em suas relações internacionais. Os incisos III e IV mencionam a autodeterminação dos povos e a não intervenção, mas o X estampa a concessão de asilo político.
Art. 4º A República Federativa do Brasil rege-se nas suas relações internacionais pelos seguintes princípios:
I - independência nacional;
II - prevalência dos direitos humanos;
III - autodeterminação dos povos;
IV - não-intervenção;
V - igualdade entre os Estados;
VI - defesa da paz;
VII - solução pacífica dos conflitos;
VIII - repúdio ao terrorismo e ao racismo;
IX - cooperação entre os povos para o progresso da humanidade;
X - concessão de asilo político.
Parágrafo único. A República Federativa do Brasil buscará a integração econômica, política, social e cultural dos povos da América Latina, visando à formação de uma comunidade latino-americana de nações.
Inconsistências emergem porque a decisão de dar asilo envolve sempre um juízo qualitativo sobre as instituições do outro país, o que pode ser entendido como uma violação à sua soberania e uma interferência em seu sistema político-judicial.
Nos últimos dias, assistimos a dois exemplos dessa tensão. O governo Lula concedeu asilo a Nadine Heredia, ex-primeira-dama do Peru, horas depois de ela ser condenada a 15 anos de prisão. Heredia é mulher do ex-presidente Ollanta Humala, um aliado de Lula que também foi condenado aos mesmos 15 anos por corrupção e já está preso. É um caso ligado à Odebrecht.
Ao conceder o asilo, o recado que o governo Lula, justa ou injustamente, dá a Lima é não consideramos seu Judiciário digno de crédito, de modo que permitiremos que a ré se furte à aplicação da lei.
Como que a dar materialidade ao dito popular segundo o qual pau que bate em Chico também bate em Francisco, o Judiciário espanhol negou a extradição do blogueiro bolsonarista Oswaldo Eustáquio. A extradição fora pedida por Alexandre de Moraes, do STF. Eustáquio é investigado por crimes contra a democracia.
Justa ou injustamente, a Justiça espanhola julgou a brasileira e viu problemas. Para os espanhóis, o caso de Eustáquio tem forte dimensão política e o investigado poderia ter sua situação prejudicada devido a suas opiniões, razão pela qual negaram a extradição.
Não vejo muito como fugir a esse esquema. Na hora de conceder asilo ou mesmo interpretar notícias, é inevitável fazer juízos sobre os sistemas de Justiça. E não dá para pôr em pé de igualdade o Judiciário na Noruega e o de Putin. Mas nosso STF deve ter ficado surpreso ao constatar que não é visto lá fora como gostaria.
Quais foram os crimes de Nadine Heredia
A política peruana, que ganhou asilo político no Brasil, recebia os valores para as campanhas do marido, às vezes até em mochilas esportivas
Duda Teixeira
3 minutos de leitura
16.04.2025 17:02
comentários 1
Lula, Nadine Heredia e Ollanta Humala, em 2013. Foto: Presidência do Peru
A ex-primeira-dama do Peru, Nadine Heredia (foto), chegou ao Brasil nesta quarta, 16, em um avião da Força Aérea Brasileira, FAB, em um voo pago com dinheiro do contribuinte brasileiro.
Nadine pediu e ganhou asilo político no Brasil após ser condenada por lavagem de dinheiro na terça, 15.
Na leitura da sentença feita pelo Terceiro Juizado Penal Colegiado Nacional, a juíza Nayko Coronoado Salazar detalhou os delitos de Nadine.
Dinheiro da Odebrecht
Em 2006, Nadine participou ativamente da coleta de doações na campanha de seu marido, Ollanta Humala. Contudo, cerca de 1,5 milhões de soles (hoje, 2,3 milhões de reais) declarados não foram realizados pelos doadores registrados, o que indica que a origem foi ocultada.
Cinco testemunhas afirmaram à Justiça terem presenciado ou visto o uso de mochilas ou pastas, malas de 10 quilos e mochilas esportivas para transportar dinheiro.
Tanto Nadine Heredia como Ollanta humala foram vistos transportavam o dinheiro foram vistas indo para a Embaixada da Venezuela em Lima ou para a casa do embaixador venezuelano para buscar as doações para a campanha de 2006.
Nadine também recebeu dinheiro da empresa venezuelana Kayzamac. Os valores eram depositados em contas de terceiros (Antonia Alarcón e Rocío Calderón). O dinheiro depois era transferido para sua própria conta. O objetivo era ocultar a origem venezuelana das doações feitas a mando do ditador Hugo Chávez.
Pela lei peruana é proibido receber doações do exterior em campanhas presidenciais.
Cristina Kichner
Nessa época, Hugo Chávez estava distribuindo petrodólares pela América Latina com o objetivo de comprar apoio político e favorecer seus candidatos nas eleições regionais.
Em 2007, foram apreendidos 800 mil dólares em um avião de um empresário venezuelano em um aeroporto de Buenos Aires.
Os valores eram para ajudar na campanha da peronista Cristina Kirchner.
Lavagem de dinheiro
Em 2011, quando Humala venceu o pleito presidencial, Nadine foi quem ficou encarregada de receber os 3 milhões de dólares da empreiteira Odebrecht. O dinheiro saía do Departamento de Operações Estruturadas da empresa.
Nadine realizou contratos fictítios ou simulados para dar legitimidade a dinheiro de origem ilícita. Sua empresa Apoyo Total recebia valores alegando a prestação de serviços, que nunca foram realizados.
Ela também colocou seu irmão Ilán Heredia para depositar valores em suas contas bancárias.
Ilán enviava pessoas para depositar dinheiro em nome de sua irmã, falando que se tratava de pagamento de outras empresas, como Daily Journal e Operadora Canal de Notícias.
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Duda Teixeira
Descoberta que pode ter sido feita por um texugo ocorreu no norte da Espanha
10 janeiro 2022
Pesquisadores dizem que um texugo em busca de comida pode ter desenterrado a maior coleção de moedas romanas já encontrada no norte da Espanha.
As 209 peças foram descobertas por dois arqueólogos em uma visita à caverna de La Cuesta, no município de Grado (Astúrias), ao lado de um morador local. O tesouro foi visto perto da toca de um animal, que os pesquisadores acreditam ser um texugo.
De acordo com um relatório publicado recentemente em um periódico científico especializado em arqueologia, o mustelídeo provavelmente encontrou a coleção de moedas enquanto procurava desesperadamente por comida no inverno passado.
O texugo teria inserido suas pernas em uma pequena fenda próxima ao seu refúgio em busca de minhocas e outros invertebrados.
🐾 A Fábula da Coruja e da Camaleoa
Era uma vez, em uma floresta chamada América Latina, uma Coruja muito sábia que vivia no alto das árvores do Cerrado. Ela era respeitada por todos os animais como juíza dos justos e injustos. Sua palavra era lei. Ou, pelo menos, assim ela achava.
Certo dia, surgiu voando de longe uma Camaleoa elegante, de cores vibrantes e muitas histórias nas costas. Ela fora expulsa de sua clareira natal, acusada de ter trocado folhas por pedras e de ter guardado frutos que não eram seus. Condenada pelos Macacos Magistrados de sua terra, a Camaleoa foi procurar abrigo sob as asas da Coruja.
— Por favor, dona Coruja, conceda-me asilo! Fui injustamente julgada! — pediu a Camaleoa, mudando de cor comoventemente.
A Coruja, que era amiga do Leão Vermelho, antigo aliado da Camaleoa, balançou a cabeça e disse:
— Fique, minha cara. Por aqui, protegemos quem canta nossa canção.
E assim, a Camaleoa foi acolhida.
Dias depois, chegou um Tamanduá Falastrão, que vivia provocando alvoroço nas clareiras, acusando os bichos da floresta de conspirações, e dizendo que a Coruja era cega de um olho. O Pavão Supremo, outro juiz famoso, pediu a extradição do Tamanduá, que havia fugido para uma floresta chamada Ibéria.
Mas os Texugos Espanhóis, que por lá julgavam, disseram:
— Ora, essa floresta tem uma justiça que muda com o vento! Como saber se o julgamento do Pavão não é pessoal?
E negaram a extradição.
A Coruja, então, se pôs a refletir, enquanto todos os bichos cochichavam em volta dela:
— Se acolho uma Camaleoa e sou negada por causa de um Tamanduá… quem, afinal, confia em mim?
Moral da história:
Quem julga os outros, também será julgado. E quem concede abrigo a um, pode ser negado por outro.
Na floresta da política, até a justiça muda de cor como camaleão.
Charge do JCaesar: 17 de abril
Por
José Casado
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