segunda-feira, 13 de abril de 2020

Lesa-pátria






..jamais teorizou sobre crimes de lesa-pátria como uma ideologia..




Ruy Castro* - Os bolsonaros da China
- Folha de S. Paulo


Um filme de 1936 antecipa a repressão sofrida pelo médico chinês que alertou para a pandemia


Na França de 1860, um médico vai sair para fazer um parto. Limpa a caspa das lapelas com as mãos, pega os instrumentos e, ao jogá-los na maleta, um deles cai ao chão. O médico o recolhe e o atira na maleta. Sua paciente morrerá ao dar à luz, vítima não da "febre do parto", como se dizia, mas dos germes provocados pela falta de higiene no procedimento. Os médicos da época sequer lavavam as mãos para trabalhar.

Assim começa o filme "A História de Louis Pasteur", de 1936, do subestimado William Dieterle, que rendeu a Paul Muni o Oscar pela interpretação de Pasteur. Embora fosse um filme da Warner, especializada em gângsteres, as armas em cena eram os microscópios, não as metralhadoras. A história mostra Pasteur sofrendo dura oposição dos médicos, para quem sua teoria dos micróbios como causa das doenças era um delírio. Eles fazem o governo proibi-lo de pesquisar e só vão lhe dar razão 20 anos depois, quando a França já estava quase dizimada.

Na vida real, Pasteur não foi assim tão perseguido, nem descobriu sozinho a cura para as infecções. Mas essa história antecipa a vivida 160 anos depois por um médico chinês: o dr. Li Wenliang, o primeiro a alertar, a 30 de dezembro último, sobre a iminência de uma epidemia. Wenliang descobrira sete pacientes com sintomas de um novo coronavírus no hospital onde trabalhava, em Wuhan.

As autoridades policiais e médicas da China o acusaram de "propagar boatos" e "perturbar a ordem social" e o obrigaram a se desmentir. Mas, a 12 de janeiro, o próprio Wenliang caiu infectado. Internou-se e morreu três semanas depois. Se seu alerta tivesse sido ouvido no começo, talvez milhares de vidas ainda pudessem ser poupadas.

Hoje, o dr. Li Wenliang é um herói na China. Já os bolsonaros locais --e eles são os mesmos em toda parte--, que negaram a gravidade da denúncia, serão esquecidos, para lástima dos tribunais da humanidade.
sexta-feira, 10 de abril de 2020

*Ruy Castro, jornalista e escritor, autor das biografias de Carmen Miranda, Garrincha e Nelson Rodrigues.





“Recebe o afeto que se encerra
Em nosso peito varonil
Querido símbolo da terra
Da amada terra do Brasil”
Composição: Francisco Braga / Olavo Bilac.









CÚMPLICE




- Os bolsonaros da China




BILAC VÊ ESTRELAS





“Quando você põe música de sucesso midiático, perde a chance de revelar quão rica é a grande música brasileira, da qual esse universo pop não passa perto”.





lesa-pátria | s. f.

le·sa·-pá·tri·a
(leso + pátria)
substantivo feminino
1. Atentado ou crime contra a pátria.
2. Traição à pátria.
Plural: lesas-pátrias.
Palavras relacionadas: 
lesa-majestadelesa-ortografialesa-naturezalesa-gramática
.

"lesa-pátria", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2020, 
https://dicionario.priberam.org/lesa-p%C3%A1tria [consultado em 11-04-2020].


..jamais teorizou sobre crimes de lesa-pátria como uma ideologia..
Em nogueirajr.blogspot.com

"lesa-pátria", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2020, 
https://dicionario.priberam.org/lesa-p%C3%A1tria [consultado em 11-04-2020].










lesa-pátria
le.sa-pá.tri.a
lɛzɐˈpɐtrjɐ
elemento da expressão
crime de lesa-pátria
crime contra o poder soberano de um Estado
ANAGRAMAS
pastelariasapateiral











34. CÚMPLICE

ALGERNON BLACKWOOD (1869-1951 | Inglaterra)




No começo do século XX ele foi quase tão famoso quanto Conan Doyle, Chesterton e Wells. Depois ficou décadas esquecido. Ressurgiu ainda em vida. Novamente esquecido. Relançado depois de morto. No Brasil, foi Heloisa Seixas quem se encarregou de relançá-lo, com A Casa do Passado (Ed. Record). Qual o mistério desta constante volta? Porque o horror ou o terror está sempre presente na história da literatura? Seixas tem uma boa explicação para isso: "Porque não há avanço tecnológico ou incremento do cinismo que nos impeça de sentir calafrios diante do que não pode ser 'explicado'." Talvez porque sejamos todos "cúmplices"- no medo e no crime.




No entroncamento de caminhos, em meio à charneca, Martin examinou as placas durante vários minutos, meio confuso. Os nomes nas quatro placas não eram o que ele esperava e não havia informação sobre distâncias. Impaciente, acabou concluindo que o mapa que levava devia estar desatualizado. Abriu-o de encontro ao poste, inclinando-se para examiná-lo melhor. O vento batia nas pontas, que chicoteavam seu rosto. As letras pequenas eram quase indecifráveis na luz que morria. Mas parecia - pelo pouco que podia ver - que, uns três quilômetros antes, ele havia tomado o caminho errado.
Lembrava-se daquela bifurcação. A trilha parecia convidativa. Martin hesitara por um instante, depois enveredara por ela, sucumbindo à conhecida tentação dos andarilhos de que "por ali cortaria caminho". A ilusão de cortar caminho é uma armadilha tão antiga quanto a natureza humana. Por algum tempo, Martin continuou ali, examinando o mapa e as placas da estrada, alternadamente. A tarde caía e ele sentia a mochila cada vez mais pesada. Mas nada entre o mapa e a placa, o que o deixava cada vez mais inquieto. Sentia-se estranhamente confuso e frustrado. Não conseguia raciocinar direito. Era difícil tomar uma decisão. "Estou meio tonto", pensou. "Devo estar muito cansado." E acabou escolhendo o caminho que achou mais provável. "Mais cedo ou mais tarde, vou dar em alguma estalagem, mesmo que não seja a que procuro." Aceitou o jogo do acaso e partiu, com ímpeto. A placa escolhida trazia "Litacy Hill" escrito em letras miúdas, bem-feitas, que pareceram dançar e estremecer quando olhou para elas. Não tinha achado o nome no mapa. Mas era convidativo, como a idéia de "cortar caminho". Fora com um impulso semelhante que ele fizera a escolha. Só que, dessa vez, o impulso lhe parecera ainda mais urgente, como um chamado.
Só então Martin se deu conta da enorme solidão que o cercava. A estrada se estendia numa reta por centenas e centenas de metros e desaparecia numa curva, como um rio branco que se perdesse no espaço. O azul esverdeado das urzes ladeava a trilha, desaparecendo na penumbra. Um ou outro pinheiro se alteava, solitário e inexplicável. O estranho adjetivo, ao surgir em sua mente, assombrou Martin. Tantas coisas que naquela tarde pareciam também - inexplicáveis. A trilha para cortar caminho, o mapa confuso, os nomes nas placas, seus próprios impulsos erráticos e o curioso torpor que tomava conta de sua mente. Toda a paisagem ali parecia precisar de uma explicação, embora talvez a palavra mais adequada fosse "interpretação". E foram os pinheiros solitários que o fizeram ver isso. Por que motivo se perdera com tanta facilidade? Por que sentira estranhas influências que pareciam direcionar suas decisões? Por que estava ali - exatamente ali? E por que caminhava rumo a Litacy Hill?
Foi então que, num trecho verde do campo que brilhava como um pedaço de dia em meio à penumbra da charneca, viu uma pessoa deitada na grama. Era apenas uma mancha no chão, um amontoado de tiras sujas, embora com um certo toque incomum e horrível. Na mente de Martin - embora seu conhecimento de alemão fosse de nível escolar - as palavras que surgiram não foram em inglês, mas em alemão. Lump e Lumpen foram as expressões que lhe vieram à cabeça. Pareceram-lhe naquele momento as palavras certas e tão expressivas, como se fossem onomatopéias, se era possível encará-las assim. Não lhe ocorreram palavras como "trapos" ou "vagabundo". A descrição adequada era em alemão.
Ali estava uma pista, dada pela parte irracional de sua mente. Mas parece que Martin não prestou atenção. E, no minuto seguinte, o mendigo levantou-se e perguntou-lhe as horas. Fez a pergunta em alemão. E Martin, sem hesitar nem por um segundo, respondeu, também em alemão: Halb sieben - seis e meia. Falara instintivamente, sem olhar. Mas estava certo. Espiou o relógio em seguida e viu que acertara.
Ouviu então o homem dizer, com a insolência disfarçada dos mendigos:
- 'Brigado. 'Brigado mesmo.
Martin não o deixara ver seu relógio, outra atitude inconsciente.
Apressou o passo pela estrada solitária, enquanto uma mistura singular de sentimentos e sensações se apossava dele. De certa forma, adivinhara a pergunta. E adivinhara também que viria em alemão. Mas aquilo o aturdira e amedrontara. Outra coisa também o aturdia e amedrontava: ele esperara por aquilo, da forma igualmente estranha. E estava certo. E quando aquela coisa escura e rasgada se erguera para fazer a pergunta, parte dele ficara deitada na grama - outra coisa escura e rasgada. É que havia dois mendigos. Martin vira seus rostos com clareza. Por trás das barbas descuidadas, por baixo dos chapéus derribados, percebera o olhar desagradável, os rostos espertos que o observavam enquanto passava. Os olhos o seguiram. Por um segundo, olhou direto dentro daqueles olhos, para poder depois reconhecê-los. E compreendeu, com horror, que os dois rostos eram por demais polidos, por demais finos e astutos para pertencer a mendigos comuns. Aqueles homens não eram mendigos coisa nenhuma. Estavam usando um disfarce.
"Eles me olharam de forma dissimulada", pensou, enquanto apressava o passo na estrada escura, num frêmito, agora perfeitamente consciente de toda a desolação e solidão da terra à sua volta.
Inquieto e angustiado, apertou ainda mais o passo. E, enquanto notava o barulho excessivo que as traves de suas botas faziam no chão duro e branco da estrada, sentiu-se invadir pela presença de todas as coisas que ali o assombravam, por "inexplicáveis". Elas lhe transmitiram uma única e definitiva mensagem: tudo o que estava acontecendo não era dirigido para ele, daí sua perplexidade e confusão. Ele invadira um cenário que pertencia a outra pessoa, trespassando o limite e penetrando num mapa de vida que não era o seu. Ao escolher, por engano, um caminho subjetivo, imiscuíra-se num campo de energias estranhas, que operavam no pequeno mundo de um outro ser. Inconscientemente, em algum ponto, trespassara o umbral e agora estava dentro - como um intruso, um invasor, um voyeur. Ouvia, perscrutava. Escutava coisas que não tinha o direito de saber, porque eram para outra pessoa. Como um navio em alto-mar, captava mensagens telegráficas que não podia interpretar ao certo, porque seu receptor não estava de fato sintonizado para recebê-las. E, o que era pior - as mensagens eram de advertência.
O medo caiu sobre ele como a noite. Tinha sido apanhado em uma delicada rede de forças, mas forças profundas, que não podia dominar, e sem que conhecesse sua origem ou propósito. Penetrara numa gigantesca armadilha psicológica, uma isca bem planejada, embora preparada para outra pessoa que não ele. Alguma coisa o atraíra, algo na paisagem, a hora do dia, ou mesmo seu estado de espírito. Cedendo a uma fraqueza que ele próprio desconhecia, deixara-se agarrar. E seu medo transformou-se em terror.
O que aconteceu em seguida foi tão rápido que não pareceu durar mais do que um momento. Foi imediato e avassalador. E de certa forma inevitável. Surgiu na estrada branca um homem, vindo em sua direção e adernando de um lado para outro, como se estivesse bêbado, mas claramente fingindo - um mendigo. E enquanto Martin se afastava para deixá-lo passar, o homem deu uma guinada e atacou-o, atracando-se com ele. Foi uma pancada repentina e terrível. Mas no exato segundo em que caía, Martin teve consciência de que, atrás de si, estava um segundo homem, que lhe agarrava as pernas, atirando-o com toda força no chão. Foram vários golpes, então. Viu qualquer coisa brilhar. Uma náusea imensa deixou-o subitamente fraco. Era impossível resistir. Algo queimava em sua garganta e de sua boca escorria qualquer coisa viscosa e doce que o chocou. E o mundo mergulhou na escuridão. Mas, através de todo o horror e tormento, dois pensamentos surgiram com clareza em sua mente: concluiu que o primeiro mendigo tinha corrido furtivamente através do campo, num rápido estratagema, para vir ter com ele. E que alguma coisa pesada soltava-se das presilhas junto a seu corpo, sob as roupas, colada à pele. ..
Mas de repente a escuridão desvaneceu-se, desapareceu. E Martin se viu novamente observando o mapa, de encontro ao poste com as placas. O vento balançava as pontas do papel contra seu rosto e ele agora enxergava os nomes muito bem. Acima, nas placas presas à estaca, estavam os nomes dos lugares que ele esperava encontrar, e que casavam perfeitamente com o que aparecia no mapa. Tudo estava claro outra vez, como devia ser. Martin leu o nome da cidade para onde pretendia ir - plenamente visível na penumbra. Ficava a cerca de três quilômetros dali. Confuso, chocado, sem conseguir raciocinar direito, enfiou o mapa no bolso sem dobrá-lo direito e saiu correndo, como se tivesse acabado de acordar de um horrível pesadelo, como se sentisse, condensados em apenas um segundo, todos os detalhes horrendos de uma prolongada e opressiva agonia.
Logo, caminhava numa marcha acelerada, que acabaria se transformando em desabalada corrida. Suava por todos os poros. Suas pernas estavam fracas, a respiração entrecortada. Tinha consciência apenas do desejo irrefreável de sair logo dali, daquela encruzilhada onde tivera a visão horrível. Porque Martin, que adorava caminhadas, jamais havia sequer pensado no sobrenatural. Tudo aquilo era para ele uma tortura. Pior do que receber um livro de contabilidade fraudado, resultado de uma conspiração de diretores e escriturários interessados em acusá-lo. Corria como se o próprio campo o perseguisse. E, enquanto corria, trazia ainda consigo a curiosa convicção de que nada daquilo era para acontecer com ele. Apenas escutara os segredos de outra pessoa. Recebera a advertência que era para essa pessoa, desviando seu rumo. Com isso, impedira-a de captar a mensagem. Tudo aquilo o deixava tão chocado que mal podia falar. O mecanismo de sua alma, justo e preciso, tinha sido abalado. A advertência era para outra pessoa, que agora não poderia - e não iria - recebê-la.
Mas, à medida que avançava, o exercício físico lhe trouxe uma sensação mais confortável, e ele acabou se acalmando. Já tendo avistado as luzes da cidade, diminuiu a marcha e, quando chegou ao lugar, caminhava num passo normal. Foi até a estalagem, inspecionou o quarto, ficou com ele e, afinal, pediu o jantar, o que o reconfortou. Além disso, matou a sede que sentia, recuperando completamente o equilíbrio. As sensações estranhas tinham desaparecido, assim como a idéia incomum de que alguma coisa em seu mundinho simples e completo pudesse ser inexplicável. E, sentindo ainda uma vaga inquietação, embora já sem qualquer medo, foi até o bar fumar cachimbo e conversar um pouco com o pessoal do lugar, que era seu maior prazer nesses passeios. Foi quando viu dois homens debruçados sobre um dos cantos do balcão, de costas para ele. No mesmo instante, viu seus rostos refletidos no espelho - e o cachimbo quase lhe caiu de entre os dentes. Bem barbeados, a esperteza transparecendo nos rostos limpos, eles conversavam e -pelas palavras que Martin pôde entreouvir - conversavam em alemão. Estavam ambos bem-vestidos, sem que nada neles chamasse atenção. Com seus casacos de lã xadrez e suas botas, podiam muito bem ser confundidos com qualquer turista, como o próprio Martin. Após algum tempo, pagaram a bebida e foram embora. Martin nunca os tinha visto antes. Mas sentiu o suor porejar de sua pele, ondas sucessivas de frio e calor percorrendo seu corpo, num arrepio. Sem sombra de dúvida, ele havia reconhecido os dois mendigos, que agora não usavam os disfarces. Ainda não.
Martin continuou imóvel em seu canto do balcão, tragando com força o cachimbo apagado, irremediavelmente vencido pelo mesmo vil terror que sentira antes. Voltara a envolvê-lo com enorme clareza a sensação de que não era com ele que aqueles homens tinham alguma relação, assim como a certeza de que não tinha o direito de interferir. Faltava-lhe locus standi. Seria imoral, mesmo que tivesse a oportunidade. E a oportunidade viria, ele podia sentir. Estivera ouvindo o que não devia e acabara conhecendo um segredo que não lhe pertencia, que não poderia usar, mesmo que fosse para o bem -mesmo que fosse para salvar uma vida. E em seu canto do balcão ficou, aterrorizado e silente, esperando pelos acontecimentos.
Mas a noite não trouxe qualquer explicação. Nada aconteceu. E Martin dormiu. O único outro hóspede da estalagem era um velho, aparentemente turista, como ele, e que usava óculos de aro de ouro. De manhã, Martin ouviu-o perguntar ao dono da estalagem qual era o caminho para Litacy Hill. Martin sentiu os dentes trincando, uma fraqueza nas pernas.
- Vire à esquerda no entroncamento - disse, antes que o senhorio tivesse tempo de responder. - Você vai ver o poste com as placas a cerca de três quilômetros daqui. Depois, é só seguir por mais uns sete quilômetros. - Como, diabos, sabia aquilo?, pensou. - Eu também estou indo para lá - ouviu-se dizer em seguida. - Vou seguir com você até um determinado trecho, se você não se importar.
As palavras tinham saído num impulso, sem que ele pudesse pensar no que dizia. Como se tivessem vida própria. O caminho de Martin era justamente o oposto. Mas ele não queria que o homem fosse sozinho. Só que o estranho, com toda polidez, recusou sua oferta de companhia. Agradeceu, dizendo que na verdade só sairia um pouco mais tarde. Os três estavam de pé, junto ao local onde se amarravam os cavalos, diante da estalagem. Nesse instante, um mendigo, passando pela estrada, virou-se e perguntou as horas. E foi o homem dos óculos de aro de ouro quem respondeu.
- 'Brigado. 'Brigado mesmo - disse o mendigo, seguindo em frente, com seu passo lento e relaxado, enquanto o dono da estalagem, sujeito falante, tagarelava sem parar sobre a quantidade de alemães vivendo na Inglaterra e sobre como estavam prontos para promover a invasão teutônica que, para ele, era iminente.
Mas Martin já não o ouvia. Pouco depois, quando não tinha caminhado sequer dois quilômetros, acabou penetrando na mata, pois precisava ficar um pouco sozinho. Para fazer um exame de consciência. Sua fraqueza e covardia tinham sido, com certeza, criminosas. A angústia tomava-lhe o peito. Dezenas de vezes pensou em voltar e dezenas de vezes desistiu, imobilizado por uma estranha força que parecia sussurrar-lhe que ele não tinha esse direito. Como poderia agir baseado em algo que entreouvira, um segredo que não era seu? Como envolver-se no assunto particular que pertencia à vida secreta de outra pessoa, apenas porque acontecera de ouvir seus mais obscuros perigos, como numa escuta telefônica? Sentia-se confuso, não conseguia raciocinar direito. O estranho, de qualquer forma, acharia que ele estava louco. Não tinha fatos concretos para lhe apresentar. Lutava, em meio aos mais contraditórios impulsos... até que acabou seguindo em frente em seu caminho, com o coração pesado e trêmulo.
Teve os dois últimos dias do feriado estragados por dúvidas, perguntas, inquietações - tudo depois justificado, quando leu a notícia sobre o assassinato de um turista em Litacy Hill. O homem usava óculos de aro de ouro e carregava, num cinto colado ao corpo, alta soma em dinheiro. Tinham-lhe cortado a garganta. E até então a única pista da polícia era uma misteriosa dupla de mendigos - alemães, ao que parecia.
Tradução de Heloisa Seixas 








BILAC VÊ ESTRELAS
Ruy Castro





Nesta sua estréia na ficção, Ruy Castro envolve Olavo Bilac num caso hilariante de espionagem industrial. Ao investigar a possível morte de seu amigo José do Patrocínio, Bilac vê-se enredado numa trama que inclui um fabuloso dirigível, um padre ambicioso e uma sedutora espiã portuguesa - tudo sob a atmosfera agitada da Belle Époque carioca.




Apresentação

No começo desta história, que se passa no Rio de Janeiro, no início do século XX, Olavo Bilac está em seu posto de observação na calçada da célebre Confeitaria Colombo. De repente, uma manchete gritada por um jornaleiro interrompe os seus pensamentos: um negro encontrado morto em Paquetá pode ser o jornalista da Abolição José do Patrocínio, grande amigo de Bilac. Por causa disso, ele se mete numa trama envolvendo um fabuloso dirigível, inventado por Patrocínio e objeto da cobiça de dois aeronautas franceses e de uma traiçoeira espiã portuguesa.

O cenário e a época de Bilac vê estrelas são reais: boa parte da história se passa nas ruas do Rio durante a agitada Belle Époque carioca, e os personagens também são de carne e osso. Mas o documentário é só o pano de fundo para a ficção. Em meio aos arranca-rabos desse caso hilariante de espionagem industrial, Ruy Castro faz Bilac ser atacado na cama pela bela e tórrida portuguesa, deixa-o para morrer desacordado num hangar em chamas, obriga os bandidos a fugir numa charrete em disparada pela rua do Ouvidor, e tudo isso durante a vinda de Santos-Dumont ao Brasil.

Bilac vê estrelas é quase uma chanchada, quase uma comédia-pastelão à brasileira. Em sua estréia na literatura, Ruy Castro revela-se um ficcionista que, como seus leitores já sabiam, é um especialista em bom humor.

Título Altamente Recomendável pela Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil - FNLIJ 2000, categoria jovem

Ficha Técnica
Título original: BILAC VE ESTRELAS
Capa: 
João Baptista da Costa Aguiar
Páginas: 152
Formato: 14.00 X 21.00 cm
Peso: 0.223 kg
Acabamento: Brochura
Lançamento: 04/12/2000
ISBN: 9788535900828
Selo: Companhia das Letras



Ruy Castro
Autor
A ONDA QUE SE ERGUEU NO MAR (2001)BILAC VÊ ESTRELAS (2000). +22











DEU NA FOLHA SP: NEI LOPES DEFENDE MUSICAL GENUINAMENTE BRASILEIRO
Publicado em 31/05/2015
ANTI-BROADWAY
Compositor do musical brasileiro ‘Bilac Vê Estrelas’Nei Lopes critica versões de peças americanas e defende criações originais
Nelson de Sá – Folha de São Paulo – Ilustrada – 29/05/15











“Lesa-pátria.”





 É assim que Nei Lopes, compositor e letrista de “Bilac Vê Estrelas”, descreve os musicais da Broadway que tomaram os palcos brasileiros na última década.


Nei, 73, carioca do Irajá, advogado pela Universidade do Brasil, hoje UFRJ, abandonou a profissão pela música – declarando-se “sambista por natureza e por opção”.
Foi chamado pelo jornalista e escritor Ruy Castro, colunista da Folha, para criar as canções do musical baseado em seu romance “Bilac Vê Estrelas” (Companhia das Letras, 2000), adaptado por Heloisa Seixas e Julia Romeu.

A farsa narra os esforços do poeta Olavo Bilac (1865-1918) e do jornalista José do Patrocínio (1853-1905) para viabilizar um dirigível brasileiro, com apoio de Santos Dumont (1873-1932), projeto que uma espiã tenta furtar para os irmãos Wright, americanos.

Passado na “belle époque” carioca, a fase florescente do Rio entre o fim do século 19 e o começo do século 20, o espetáculo vem de temporada bem-sucedida na cidade, onde foi recebido como marco por se contrapor às fórmulas correntes do gênero.

Criado em conjunto com o compositor, que ajuda a narrar a história, é diferente das franquias da Broadway e biografias de ídolos musicais.

Nei também critica estas últimas: “Quando você põe música de sucesso midiático, perde a chance de revelar quão rica é a grande música brasileira, da qual esse universo pop não passa perto”.

Mas seu problema é a Broadway“O pior é ser incentivada por leis como a Rouanet, que teoricamente servem para apoiar criação brasileira”.

Ruy Castro é mais contido. Avalia que as franquias tiveram o seu papel, “ensinaram muita gente aqui a dançar e cantar”. Foi uma “etapa válida”, como as biografias.

Mas agora “o importante é o Brasil desenvolver linguagem de musical original, em que história e música são brasileiras e interligadas, em que os atores cantem uns para os outros e não para a plateia”.

O diretor João Fonseca, que encenou “Tim Maia: Vale Tudo” em 2011, o mais bem-sucedido dos musicais biográficos, não faz restrições nem mesmo à Broadway“A gente tem que fazer de tudo”.

Mas diz que criar ao lado do compositor “é muito mais gostoso, as coisas nascem juntas”, inclusive a atuação, com canções feitas para cada ator e não com este se adaptando a elas.

Ele já havia trabalhado assim em “Era no Tempo do Rei”, também adaptado de romance de Ruy por Heloisa e Julia, com músicas originais de Carlos Lyra e Aldir Blanc, que permaneceu três meses em cartaz no Rio, em 2007.

Ruy diz que as canções daquele espetáculo chegaram a ser gravadas de forma independente, “mas o CD nunca foi para as lojas”. E lamenta que também “Bilac” esteja sendo desprezado por gravadoras: “Talvez a trilha maravilhosa do Nei continue inédita em disco. Mas terá existido no teatro, e quem ouviu ouviu, quem não ouviu perdeu.”

BILAC VÊ ESTRELAS

DIREÇÃO MUSICAL Luís Filipe de Lima

ELENCO André Dias, Amanda Acosta, Caike Luna e outros

QUANDO sex. e sáb., às 21h, dom., às 18h; de 29/5 a 26/7

ONDE Espaço Promon, av. Pres. Juscelino Kubitschek, 1.830, tel. (11) 3071-4236

QUANTO R$ 60













Heloísa Seixas
Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.


Heloisa Seixas
Nascimento
26 de julho de 1952 (67 anos)
Rio de Janeiro
 Brasil
Prémios
Três vezes finalista do prêmio Jabuti e duas vezes ganhadora do prêmio FNLIJ
Género literário
Romanceconto
Magnum opus
O Lugar Escuro

Heloisa Seixas (Rio de Janeiro, 26 de julho de 1952) é uma escritora e tradutora brasileira. Formada em jornalismo pela Universidade Federal Fluminense, Heloisa trabalhou como jornalista no Jornal O Globo, na agência de notícias UPI e depois na assessoria de imprensa da ONU. Em 1995 estreou como escritora, ao lançar um livro de contos chamado Pente de Vênus: histórias do amor assombrado. Um ano mais tarde, a Record lançou seu primeiro romanceA porta. Desde então, Heloisa Seixas tem escrito romances, contos e novelas, além da peça O lugar escuro (2013) e dos musicais Era no tempo do rei (2010) e Bilac vê estrelas (2015), ambos em parceria com Julia Romeu. Durante sete anos, escreveu a coluna Contos mínimos no Jornal do Brasil.
Heloisa Seixas é casada com o também escritor Ruy Castro.













BILAC VÊ ESTRELAS




De Heloisa Seixas e Julia Romeu Direção: João Fonseca SESC Ginástico De 09 de janeiro a 22 de fevereiro Sexta a domingo, às 19h


















Bastidores do musical 'Bilac Vê Estrelas'





Cena Musical














Bilac Vê Estrelas










Hino à Bandeira Nacional
Inezita Barroso










Salve, lindo pendão da esperança
Salve, símbolo augusto da paz
Tua nobre presença à lembrança
A grandeza da Pátria nos traz


Recebe o afeto que se encerra
Em nosso peito varonil
Querido símbolo da terra
Da amada terra do Brasil


Em teu seio formoso retratas
Este céu de puríssimo azul
A verdura sem par destas matas
E o esplendor do Cruzeiro do Sul


Recebe o afeto que se encerra
Em nosso peito varonil
Querido símbolo da terra
Da amada terra do Brasil


Contemplando o teu vulto sagrado
Compreendemos o nosso dever
E o Brasil, por seus filhos, amado
Poderoso e feliz há de ser


Recebe o afeto que se encerra
Em nosso peito varonil
Querido símbolo da terra
Da amada terra do Brasil


Sobre a imensa nação brasileira
Nos momentos de festa ou de dor
Paira sempre, sagrada bandeira
Pavilhão da justiça e do amor


Recebe o afeto que se encerra
Em nosso peito varonil
Querido símbolo da terra
Da amada terra do Brasil

Composição: Francisco Braga / Olavo Bilac.










Referências





https://dicionario.priberam.org/lesa-p%C3%A1tria
https://www.infopedia.pt/dicionarios/lingua-portuguesa/lesa-p%C3%A1tria
http://aneste.org/os-100-melhores-contos-de-crime-e-mistrio-da-literatura-univer.html?page=30
https://gilvanmelo.blogspot.com/2020/04/ruy-castro-os-bolsonaros-da-china.html
https://www.companhiadasletras.com.br/detalhe.php?codigo=11340
http://neilopes.com.br/wp-content/uploads/2015/05/bilacfolhailustrada.jpg
http://neilopes.com.br/2015/05/31/deu-na-folha-sp-nei-lopes-defende-musical-genuinamente-brasileiro/
https://pt.wikipedia.org/wiki/Helo%C3%ADsa_Seixas
https://youtu.be/LaA1VWx4x2U
https://www.youtube.com/watch?v=LaA1VWx4x2U
https://youtu.be/QgtLv8Xo7D8
www.cenamusical.com.br
https://www.youtube.com/watch?v=QgtLv8Xo7D8
https://youtu.be/-u6n687euTE
https://www.youtube.com/watch?v=-u6n687euTE
https://youtu.be/DVdEz9oMcso
https://www.letras.mus.br/inezita-barroso/hino-a-bandeira-nacional/

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