quinta-feira, 15 de agosto de 2019

Entre Lultaire e Panglocci Premiado




‘O presidente eleito brincou com as especulações e a ansiedade pelo anúncio de seus ministros, dizendo que "dará um prêmio" ao jornalista que acertar mais nomes.’



Brasileiros, nem tudo está perdido

– longe disso.

Em tese, tanto o espiritual Panglocci como o prático Lultaire têm em parte a sua razão.

Talvez tudo vá pelo melhor no melhor dos mundos possíveis.

Mas, entretanto, que cada um cultive o seu jardim.



‘No Supremo não tem Pangloss’ , diz professor da FGV Direito Rio
Frase é da ministra Cármen Lúcia e trata-se de uma dura crítica aos réus do mensalão
Joaquim Falcão, especial para O Globo
31/08/2012 - 22:40 / Atualizado em 31/08/2012 - 23:39

Bem vindo ao Player Audima.

RIO - Quem disse esta frase foi a ministra Cármen Lúcia em seu voto. Pouquíssimos devem ter entendido. Trata-se de dura crítica aos réus do mensalão. Pangloss é personagem do romance “Candide”, de Voltaire, de l759. Ele acreditava que o mundo era perfeito e que o mal é apenas o caminho para um bem maior. O livro critica o otimista que vive no irreal e nega o real. Pangloss achava que tudo estava certo, que tudo tinha que ter sido assim mesmo. No mal, só via o bem. Distorcia a realidade. Fica doente, vira mendigo, perde um olho, uma orelha, é enforcado e dissecado. E continua achando que tudo ocorria para o melhor. Não morre, mas passa parte da vida preso nas galeras. Sempre acreditando que tudo vai da melhor forma possível.
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Na impossibilidade de negar fatos comprovados, a defesa optou por dar-lhes interpretação a mais otimista possível. Não foram crimes. Tudo está no melhor dos mundos democráticos. Assim é o caminho natural da política. Mas não estão conseguindo convencer os ministros.
Peluso não acredita ser um bem o deputado João Paulo receber um publicitário licitante em sua casa para discutir “política” e depois receber dele R$ 50 mil. Não acredita que publicitário presenteie secretárias com viagens por pura generosidade. Joaquim Barbosa não acredita que seja prática normal o indisponível bônus de volume ficar com a agência. Nem que terceirizar 90% do dinheiro público seja o melhor dos mundos.
Ao contrário de Pangloss, Cármen Lúcia acredita que há uma verdade básica nos fatos, que nem o mais otimista ministro, desembargador ou juiz de primeira instância pode desconhecer. Para Marco Aurélio, argumentos não podem contrariar a lei natural das coisas nem escapar do caminho mínimo da vida financeira.
Até agora, os fatos não revelam o mensalão como o melhor dos mundos. Ou seja, há limites para a teoria jurídica, a interpretação dos juízes e a argumentação dos advogados. Não existem Pangloss no Supremo.
Joaquim Falcão é professor da FGV Direito Rio



Política
O que revela a delação de Palocci
O blog Radar mostra que o ex-ministro envolveu 12 políticos e 16 empresas em transações suspeitas que chegam a mais de R$ 330 milhões — boa parte ao PT
Por Da Redação
access_time14 ago 2019, 19h32 - Publicado em 14 ago 2019, 16h16



Segredos - O ex-ministro Antonio Palocci já redigiu mais de quarenta anexos com suas revelações (Wilson Pedrosa/Estadão Conteúdo)

No acordo de delação premiada que firmou com a Polícia Federal, o ex-ministro Antonio Palocci envolveu 12 políticos e 16 empresas em transações supostamente criminosas que chegam a mais de 330 milhões de reais — boa parte pagamento de propinas ao PT e a parlamentares. O blog Radar teve acesso a um documento de oito páginas do Supremo Tribunal Federal que confere contornos mais palpáveis à principal frente da delação de Palocci, que cumpre em casa e com tornozeleira eletrônica sua condenação por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Desde o início, a delação de Palocci causou desconfiança pela falta de comprovações sobre o que era dito. Essa era também a avaliação de procuradores de Lava Jato e do então juiz Sergio Moro, como veio à tona em diálogos vazados do Telegram.
Muitas das revelações presentes no acordo foram antecipadas por VEJA em diferentes reportagens publicadas em 2017. O acordo foi homologado pelo ministro Edson Fachin, relator da operação Lava Jato no Supremo Tribunal Federal. Ele determinou o envio de 22 dos 23 anexos de Palocci a quatro estados: São Paulo, Distrito Federal, Paraná e Rio de Janeiro.
A lista de exemplos envolvendo repasses a campanhas petistas e interesses de empresários é grande, como mostra uma série de publicações do blog Radar nesta quarta-feira, 14. A delação de Palocci não deixa dúvidas: todas as eleições de Lula e Dilma foram financiadas com recursos irregulares de empresas — o que a Lava-Jato já comprovou de diversas formas, é verdade.
Desde que a Justiça homologou a delação de Palocci em três frentes – no Tribunal Regional Federal da 4ª Região, na Justiça Federal de Brasília e no Supremo – os investigadores da Polícia Federal realizam diligências sigilosas e produzem provas para confirmar os relatos do petista, de modo a marcar uma diferença de “qualidade” no trabalho realizado pela PGR em delações anteriores. É por causa disso que, apesar de Fachin delegar aos juízes locais a retirada do sigilo da delação, o conteúdo continua fechado.
Entre os detalhes que o Radar revela, Palocci afirmou que apenas o PT recebeu para suas campanhas eleitorais 270,5 milhões de reais, entre 2002 e 2014. Foram doações, parte declarada e outra não, de grandes grupos e empresas em troca de favores recebidos, afirma o ex-petista. Palocci associa cada doação a um benefício específico que, segundo ele, teria sido alcançado por determinada empresa. Boa parte dessas negociações era realizada por Palocci em sintonia com o ex-tesoureiro do PT João Vaccari.

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O ex-ministro também detalha as negociatas que levaram empresas a destinares recursos a políticos petistas. Nos casos das campanhas presidenciais de Lula e Dilma, são diversos os pedidos dos empresários em troca do apoio financeiro às tentativas de eleições e reeleições da dupla. Para o empresário, o benefício alcançado varia de menor tributação para um setor específico, obtenção de alguma linha de crédito no BNDES para essas empresas a auxílio em fusão de grupos de um mesmo setor a apoio da base governistas a medidas que tramitavam no Congresso.
Há a história bombástica, revelada por VEJA em 2017, de que Lula foi eleito com uma bolada milionária repassada pelo ditador Muamar Kadafi, líder líbio morto em 2011. Segundo o petista, Kadafi deu 1 milhão de dólares, o equivalente a 3,5 milhões de reais à campanha do petista em 2002.
O ex-ministro narra a operação petista, também revelada por VEJA em 2017, para sepultar a Operação Castelo de Areia no Superior Tribunal de Justiça que rendeu 50 milhões de reais em propinas pagas pela Camargo Corrêa na forma de doação eleitoral para Dilma Rousseff em 2010 e políticos petistas, como Gleisi Hoffmann, atual presidente nacional do PT.
Palocci contou que ela recebeu de três empreiteiras 3,8 milhões de reais na campanha de 2010, quando se elegeu senadora pelo Paraná. Como VEJA revelou em 2017, quando o ministro ainda negociava uma possível delação com a força-tarefa da Lava-Jato em Curitiba, a empreiteira Camargo Corrêa repassou 1 milhão de reais a Gleisi como parte de um acordo para sepultar a Operação Castelo de Areia no STJ.
Palocci também contou à Polícia Federal repasses milionários, na forma de doações oficiais e via caixa dois na campanha de 2010, para os petistas Fernando Pimentel e Tião Viana, que governaram Minas Gerais e o Acre, respectivamente, e para o ex-senador Lindbergh Farias.
O ex-ministro ainda detalha como a Odebrecht repassou 50 milhões de reais ao PT em troca de vantagens no Programa de Desenvolvimento de Submarino (Prosub). O episódio já foi narrado por Marcelo Odebrecht na delação da empreiteira. A bolada milionária foi repassada à campanha de Dilma em 2014. O dinheiro era para que as liberações de dinheiro do governo no contrato de construção dos submarinos não parassem.

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O Radar também mostra que Palocci confirma o repasse de recursos pela empresa Qualicorp ao PT, ao Instituto Lula e a Touchdown, de Luis Cláudio Lula da Silva, 30 anos, filho caçula do ex-presidente Lula. Os pagamentos, segundo o ex-ministro, teriam sido feitos em troca de “benefícios concedidos pelo governo” à empresa na Agência Nacional de Saúde Suplementar. No trecho obtido pelo Radar, não há, porém, valores descritos.
Em março, a Polícia Federal indiciou Lula e o filho Luís Cláudio pelos crimes de lavagem de dinheiro e tráfico de influência por pagamentos para relacionados à empresa de marketing esportivo. A Touchdown passou a ser investigada em 2017, com as delações da Odebrecht na Lava Jato. A investigação descobriu que, ao longo dos anos, a empresa, que tinha capital social de 1 mil reais, recebeu mais de 10 milhões de reais de patrocinadores.
Sobre a delação de Palocci, a Qualicorp enviou a seguinte nota ao Radar: “A Qualicorp é uma companhia de capital aberto, com milhares de acionistas nacionais e internacionais, e todos os seus contratos são auditados por empresas renomadas. Sua atividade é exclusivamente privada e depende da contratação voluntária de cada cliente de plano de saúde. A empresa nunca pleiteou ou obteve qualquer tipo de benefício público e jamais transgrediu a lei. A companhia não comentará supostas acusações do ex-ministro, que foram rejeitadas pelo Ministério Público Federal por ausência de base fática.” O Radar tenta contato com o filho de Lula.



12/12/2002 - 17h18
Lula confirma Palocci e Dirceu no ministério; Meirelles vai para BC
PATRÍCIA ZIMMERMANN
da Folha Online, em Brasília

O presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), anunciou nesta tarde o futuro ministro da Casa Civil, José Dirceu, e confirmou o médico Antônio Palocci para a Fazenda.

Lula anunciou também o ex-presidente do BankBoston, Henrique Meirelles, para a presidência do Banco Central. Meirelles é filiado ao PSDB e foi o deputado federal eleito com o maior número de votos em Goiás -183.046.

Ao anunciar o nome do presidente do Banco Central, Lula disse estar "reivindicando" dos eleitores de Goiás o deputado para uma "missão mais importante que o nobre exercício de seu mandato".

Ele também agradeceu ao atual presidente do BC, Armínio Fraga, pelo trabalho conjunto feito com o futuro ministro da Fazenda, Antônio Palocci, reforçando para que os diretores do banco permaneçam em suas funções até que o novo governo complete as indicações da direção.

Acompanhado de sua mulher, Marisa, de Dirceu, de Palocci, de Meirelles, do senador eleito por São Paulo, Aloizio Mercadante, e do porta-voz, André Singer, Lula afirmou que o anúncio de Palocci, feito na terça-feira (10) em Washington, foi um "ato falho".

"Em uma resposta que dei aos jornalistas no Clube de Washington eu confundi o coordenador da equipe de transição com o ministro da Fazenda. Eu agora quero confirmar o Palocci como ministro da Fazenda", afirmou. "E o companheiro Dirceu, quero confirmá-lo para ministro da Casa Civil."

Lula não mencionou a senadora Marina Silva (PT-AC), que também teve seu nome anunciado para o Meio Ambiente na terça, mas seu nome está garantido no cargo, segundo informou Mercadante.

O restante do ministério será anunciado na próxima semana. Lula voltou a elogiar o tratamento recebido nos EUA e considerou a viagem estimulante, tanto que está hoje confirmando parte de seu ministério.

O presidente eleito brincou com as especulações e a ansiedade pelo anúncio de seus ministros, dizendo que "dará um prêmio" ao jornalista que acertar mais nomes.

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GENERAL
Notícias da Broadcast, um serviço da Agência Estado
Publicado: 19/08/2002 00h00Última modificação: 26/05/2015 16h51
Notícias
19/08/2002

Notícias da Broadcast, um serviço da Agência Estado
17:33 FHC: SE FOSSE EU, TAMBÉM MUDARIA ALGUMA COISA EM NOVO MANDATO
Brasília, 19 - O presidente Fernando Henrique Cardoso iniciou há pouco um pronunciamento, em forma de briefing, no Palácio do Planalto, em que afirmou a sua satisfação pelas conversas que teve com os principais candidatos à Presidência da República. Segundo ele, essas conversas foram feitas dentro do espírito público e o ajudaram a transmitir tudo sobre os acordos fechados com o FMI, Bird e Bid. "Pedi que os ministros presentes não poupassem detalhes para mostrar que o governo está preocupado com o bem do Brasil", afirmou o presidente. Segundo ele, os acordos prevêem uma transição tranquila qualquer que seja o próximo governo. "O acordo permite que o próximo presidente encontre condições para percorrer o caminho que escolher. Fosse eu um candidato, também mudaria alguma coisa, porque as circunstâncias mudam", disse. (James Allen)
17:37 FHC: REDUÇÃO DE PISO/RESERVA FOI VOTO DE APOIO ADICIONAL
Brasília, 19 - O presidente Fernando Henrique Cardoso disse em seu pronunciamento que uma prova da manifestação de confiança do FMI no Brasil foi o fato de a maior parte dos desembolsos do novo acordo estarem previstos para o próximo governo. "Não significa que os recursos serão necessários em sua integralidade", disse o presidente. Ele afirmou ainda que a redução do piso de reservas líquidas previsto no acordo é um "apoio adicional" por parte do FMI, que não necessariamente implicará em gasto dessas reservas. "Não que tenhamos que gastar, é como um empréstimo adicional", afirmou o presidente. Fernando Henrique disse também que explicou aos candidatos com quem encontrou-se hoje que o acordo não impõe nenhuma condicionalidade ao Brasil além do que já foi divulgado - o cumprimento da meta de superávit primário de 3,75% do PIB prevista na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO). "Nada a ver com questões comerciais ou com privatização", garantiu. Segundo o presidente, nunca houve esse tipo de condicionalidade. Ele ressaltou que o acordo é puramente "bancário e favorável (ao Brasil)". (José Ramos)
17:41 FHC: FRAGA DEVE VIAJAR PARA CONVERSAR COM BANCOS
Brasília, 19 - O presidente Fernando Henrique Cardoso afirmou há pouco, ao responder sobre as expectativas do mercado a partir do encontro de hoje, que "o mercado evolui" e reafirmou que medidas estão sendo tomadas, como por exemplo, a disponibilização de US$ 2 bilhões pelo Banco Central para o comércio externo, além de recursos do BNDES. "O governo está agindo o tempo todo", disse ele, lembrando que os ministros da Fazenda, Pedro Malan, e o presidente do Banco Central, Armínio Fraga, viajarão para o exterior para conversar com os bancos e tentar reestabelecer as linhas de crédito internacionais. "É claro que os bancos precisam voltar (a emprestar), porque eles também estão perdendo dinheiro", disse. O presidente repeliu a possibilidade de ter sido negociado o resultado da licitação para a compra de aviões pela FAB nas negociações para o fechamento do acordo com o FMI. Segundo o presidente, as negociações com o FMI foram exclusivamente de caráter financeiro e não implicaram em qualquer tipo de concessão, como o da compra de aviões. "É colonialismo pensar que o Brasil vá se submeter a esse tipo de coisa", afirmou o presidente. (James Allen)
17:53 FHC: PROCEDIMENTO NORMAL PARA PETROBRAS É FAZER LICITAÇÃO
Brasília, 19 - O presidente Fernando Henrique Cardoso disse na entrevista à imprensa que a questão da encomenda de plataformas de petróleo citada por Lula no encontro que teve com ele nesta tarde não é uma questão de governo, mas sim da Petrobras. Segundo o presidente, a Petrobras realizou uma licitação e pediu aos vencedores que aumentassem a participação dos fornecedores brasileiros. Lembrou que as plataformas são de alta complexidade, destinadas à exploração de petróleo em águas profundas. Segundo ele, o País tem de decidir o que é melhor para o emprego: importar petróleo ou aumentar a produção interna. Disse também que o governo não tomou ainda nenhuma decisão sobre a compra dos novos caças da Força Aérea Brasileira (FAB) e afirmou que deve ser seguido o resultado do processo licitatório. Esse processo inclui, segundo ele, transferências de tecnologia ao Brasil e efeitos benéficos à economia. "Quem ganhar, ganhou. Não peçam uma decisão política em favor de um ou de outro, pois eu não o farei", afirmou. Lula disse hoje, após o encontro com o presidente, que o governo deveria favorecer empresas brasileiras tanto na licitação de plataformas de petróleo quanto na licitação da FAB. (José Ramos)
17:56 FHC: CANDIDATOS DISSERAM QUE VÃO HONRAR COMPROMISSOS
Brasília, 19 - O presidente Fernando Henrique Cardoso disse há pouco durante entrevista coletiva que os quatro candidatos com quem encontrou-se hoje disseram que vão honrar os compromissos assumidos pelo País. Ele discordou de interpretações que apontem para falta de apoio explicito nas manifestações dos candidatos e desabafou: "Quem tem que dar apoio explícito (ao acordo) sou eu, pois quem vai assinar sou eu", afirmou. FHC comentou especificamente a nota do ex-governador Anthony Garotinho com críticas ao acordo, dizendo: "Como estamos em campanha, vocês conhecem os hábitos nacionais". O presidente não considerou relevante a observação da nota divulgada pelo candidato do PT, segundo a qual o acordo deve passar pelo Senado. "O Malan estão acostumado ir ao Senado", disse o presidente, informando ainda que vai enviar o memorando de entendimento com o Fundo a todos os candidatos. FHC afirmou ainda que nenhum candidato se opôs a um compromisso de superávit primário de 3,75% nem ao compromisso com a estabilidade e de honrar contratos. "Não vamos ler precaução correta como restrição, que não é", afirmou. Ele disse ainda que os encontros dele com os candidatos "só poderia ter prejudicado quem fosse contra o País". (José Ramos)
17:57 FHC NÃO CONFIRMA, MAS NÃO NEGA EDIÇÃO MP S/CUMULATIVIDADE PIS
Brasília, 19 - O presidente Fernando Henrique Cardoso evitou confirmar a possibilidade de editar uma Medida Provisória para extinguir a cumulatividade do PIS, mas também não negou que irá fazê-lo. "Estou na expectativa do Congresso Nacional. O governo está disposto a conversar com o presidente eleito sobre as condições fiscais do próximo governo e, desde já, o presidente da Câmara, Aécio Neves, afirmou que vai insistir (na aprovação do projeto). Se houver condições (de aprovar), melhor. Se não, veremos depois o que fazer", afirmou. O presidente evitou fazer considerações sobre o mercado financeiro. Segundo ele, o mercado não é uma só pessoa e deverá compreender "que é melhor investir no Brasil", afirmou o presidente. Segundo ele, o País tem condições, tem recursos, e vai utiliza-los para melhor as condições da economia. E, com essa declaração, o presidente concluiu seu briefing no Palácio Planalto. (James Allen)
17:59 FHC: GAROTINHO TAMBÉM CONCORDOU COM SUPERÁVIT DE 3,75%
Brasília, 19 - O presidente Fernando Henrique Cardoso disse que seu encontro com o candidato da Frente Trabalhista, Ciro Gomes, não foi diferente do que manteve com o candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva. Segundo ele, Ciro reiterou o compromisso com a austeridade fiscal e a estabilidade da moeda e o respeito aos contratos. O presidente disse que Ciro reafirmou estes compromissos. Em relação ao candidato do PSDB-PMDB, José Serra, o presidente Fernando Henrique disse que Serra também reiterou o apoio às condições do acordo com o FMI. Em relação ao candidato do PSB, Antony Garotinho, o presidente disse que Garotinho entregou ao ministro da Fazenda, Pedro Malan, um envelope fechado, e que, na audiência, Garotinho teria dito que não haveria problema em preservar o superávit de 3,75% do PIB. (Adriana Fernandes)
18:01 FHC: ESTOU CONTENTE POR TER REALIZADO ENCONTRO DE ALTO NÍVEL
Brasília, 19 - O encontro de hoje com os candidatos à sua sucessão presidencial foi uma prova de maturidade política, afirmou hoje o presidente Fernando Henrique Cardoso em entrevista há pouco no Palácio do Planalto. "O encontro com os candidatos foi uma prova de maturidade política. Não há cartas escondidas na manga, mas vontade em ajudar o Brasil", disse o presidente ao afirmar estar contente por ter realizado um encontro de alto nível. (Adriana Fernandes)
18:03 FHC: REAÇÃO DE CANDIDATOS A ACORDO FOI DE COMPREENSÃO
Brasília, 19 - O presidente Fernando Henrique Cardoso disse há pouco que a reação dos candidatos ao acordo com o FMI foi de compreensão. Ele disse que o candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, reiterou o que já havia dito. O presidente Fernando Henrique leu declarações anteriores de Lula em que afirmara que manteria o superávit o quanto for necessário para preservar a relação dívida líquida/PIB.
Também se referiu as declarações de Lula, em que o candidato do PT admitia a manutenção do superávit primário para impedir que as condições da dívida destruam a confiança do País em honrar seus compromissos. O presidente informou seu compromisso de entregar aos candidatos os termos do memorando técnico de entendimentos junto ao FMI. Fernando Henrique disse, ainda, que o texto do candidato do PT reafirma os compromissos e apresenta outras considerações que não estão ligadas ao tema da reunião de hoje, que era o acordo com o FMI.(Adriana Fernandes)
18:11 MALAN DIZ CONCORDAR COM AVALIAÇÃO DE FHC SOBRE REUNIÕES DE HOJE
Brasília, 19 - O ministro da Fazenda, Pedro Malan, disse há pouco que concorda "em gênero, número e grau" com a avaliação feita pelo presidente Fernando Henrique Cardoso a respeito da reunião com os quatro principais candidatos à presidência da República. Ele chegou há poucos minutos ao Ministério da Fazenda, acompanhado do presidente do Banco Central, Armínio Fraga, e do secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Amaury Bier. (Lu Aiko Otta)


18:34 FHC: TODOS OS CANDIDATOS DISSERAM QUE VÃO HONRAR ACORDO
Brasília, 19 - O presidente Fernando Henrique Cardoso disse, em entrevista, que o apoio dos candidatos ao acordo que será assinado com o Fundo Monetário Internacional (FMI) foi unânime. "Lula foi explícito, disse: os compromissos que o presidente do Brasil assinar são compromissos do Brasil e eu cumpro". Fernando Henrique disse que o essencial foi garantido pelos candidatos, embora "como estamos em campanha, uns têm uma posição, outros têm outra". Em sua avaliação, um dos pontos principais colocados hoje para os candidatos foi "feito um acordo, vão honrar?" Todos disseram que vão honrar", afirmou o presidente. (José Ramos)


Ministério da Fazenda Esplanada dos Ministérios - Bloco P - 70048-900 - Brasília - DF - Pabx: (61)412-2000/3000 - Fax: (061)226-9084





Lula diz que transição com FHC foi prova de maturidade política ...


5 de jan de 2004 - Lula diz que transição com FHC foi prova de maturidade política. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em seu discurso no Palácio do ...



Bastidor de 2002: a impressionante habilidade de cooperação entre FHC e Lula na transição
"Fiquei impressionado com a habilidade com que Lula e Fernando Henrique conduziram o processo sem transparecer para o grande público que nos bastidores eles estavam cooperando intimamente", destaca Matias Spektor


(Reprodução)


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SÃO PAULO - No final de 2002, aumentavam as expectativas de que o Brasil poderia sofrer mais uma das viradas que já teve em termos políticos e econômicos.
Os temores vinham aumentando, à medida que um nome ganhava forças para ocupar a cadeira presidencial: o de Lula, um ex-metalúrgico que já teve valores bastante extremistas na área econômica.
Porém, os problemas foram amenizados. E muito disso pode ser atribuído ao que aconteceu nos bastidores entre a eleição de Lula em outubro de 2002 e a sua posse no primeiro de 2013. Para contar um pouco como se deu a transição entre os governos Fernando Henrique Cardoso para o de Lula, a Rio Bravo entrevistou Matias Spektor, cientista político e autor do livro "18 dias", publicado pela editora Objetiva, ressaltando como FHC colaborou para conduzir a mudança de mandato para o petista. 
Além de um gabinete criado para a política interna, o então presidente Fernando Henrique Cardoso também interveio no contexto internacional, ajudando a dissipar a desconfiança que existia do governo norte-americano em relação ao Partido dos Trabalhadores e ao presidente Lula.
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O entrevistado também observa como, a partir dessa transição, a política externa brasileira estabeleceu conexão privilegiada com a diplomacia norte-americana, o que contrasta com o atual status da relação Brasil-Estados Unidos. Matias Spektor é professor-adjunto de Relações Internacionais da Fundação Getúlio Vargas, com doutorado pela Universidade de Oxford. É autor do livro "Kissinger e o Brasil". Confira a entrevista abaixo: 
Rio Bravo - Em relação à apuração do livro, como surgiu a proposta dessa obra?
Matias Spektor - Durante a transição de 2002, estava fazendo doutorado e uma das coisas que me chamaram a atenção era o grau de sensibilidade daquela transição. Foi a transição mais delicada da nova República nos últimos anos, porque a nossa economia estava na berlinda, a América do Sul estava desmanchando, a Argentina tinha acabado de dar o maior calote da história, a Colômbia estava perdendo a guerra contras as Farc, havia tido uma tentativa de golpe de Estado contra Hugo Chávez. No sistema internacional, estávamos caminhando em direção para a guerra do Iraque, ou seja, era uma situação muito delicada.
Eu passei a me interessar muito pela costura política, que era a política atrás da política externa do período, pois uma transição presidencial é igual quando se troca a roda de um carro com ele em movimento, tem muitas operações delicadas aparecendo ao mesmo tempo. Fiquei impressionado, na época, com a habilidade com que Lula e Fernando Henrique conduziram o processo sem transparecer para o grande público que nos bastidores eles estavam cooperando intimamente. Na época, não tive tempo de trabalhar nisso porque estava fazendo meu doutorado.
Anos depois comecei a batalhar o acesso aos documentos, entrei com pedido de acesso à informação nos EUA, mobilizei os contatos no Brasil, fiz dezenas de horas de entrevistas com as pessoas envolvidas e, ao longo de um período de quatro anos, pude montar um acervo de documentos que me permitiram voltar aos detalhes da história que aconteceu nesse período tão importante, que tende a passar batido quando nós contamos a história.

RB - Ainda no primeiro semestre daquele ano de 2002, ganharam bastante destaque na cobertura política nacional uma declaração de Robert Zoellick sobre a necessidade do Brasil de se adequar à Alca e a não resposta, em consequência dessa declaração do Zoellick, do então candidato Lula sobre o tema, afirmando que ele não responderia ao "sub do sub do sub". Qual era o grau de desconfiança do governo americano sobre o Brasil daquele momento? E, principalmente, com a reeleição do Lula?
MS - O governo norte-americano tinha profunda desconfiança em relação ao Brasil. Agora, é importante ressaltar que essa desconfiança se aplicava também ao governo do FHC, ou seja, o governo FHC, no quesito da ALCA, adotou uma postura negociadora de empurrar com a barriga. Quando o Zoellick falou a respeito da necessidade do Brasil se adequar ao que viria ser o sistema de regras da Alca, ele tinha em mente o governo FHC.
A reação do Lula, muito representativa da postura do PT, era a de que a Alca deveria ser ativamente resistida. Anos mais tarde o próprio Lula reconheceu que havia cometido um erro. O Zoellick era um dos principais assessores de política externa do presidente Bush e se encarregava de uma agenda bastante complexa. O governo norte-americano, na véspera da eleição brasileira de 2002, temia que a economia brasileira fosse por água abaixo e junto arrastasse boa parte da América do Sul. Esse é o contexto da eleição.

Em termos de discurso, principalmente do PT, os EUA eram considerados os parceiros mais interessantes, ainda assim, segundo o livro "18 dias", houve uma sensação de alívio junto a staff do Lula quando do recebimento da ligação do Bush para parabenizá-lo. Na sua avaliação, uma vez no governo, o PT sempre manteve essa conduta ambivalente em relação aos EUA?
Ninguém na equipe do candidato Lula imaginou que os EUA pudessem se transformar em um parceiro preferencial de um eventual governo Lula, agora, toda a equipe e o próprio candidato tinham certeza de que uma relação negativa com os EUA teria efeitos deletérios sobre o início do governo Lula.
A equipe de Lula, ainda na eleição, percebeu que para poder avançar o programa de reformas que o PT tinha em mente, precisava de uma boa relação com os EUA. Por isso o Lula enviou o José Dirceu a Washington ainda durante a campanha e, combinando o jogo com FHC, enviou-se também o então chefe da Casa Civil, Pedro Parente, que foi à Casa Branca para recomendar ao governo Bush que abrisse a porta para o PT.

Qual foi o papel desempenhado pelo então presidente Fernando Henrique Cardoso para que essas boas relações se estabelecessem?
MS - O presidente Fernando Henrique teve dois papéis fundamentais na transição presidencial de 2002. O primeiro foi interno, em que ele montou uma comissão de transição, criou 50 cargos comissionados para que a equipe do presidente eleito pudesse tomar "pé" do governo, mandou criar um portal na internet com todas as informações sigilosas e o cronograma de atividades legislativas e diplomáticas do Brasil, instruiu todos seus ministros a conversarem ativamente com a equipe que viria a assumir o governo a partir de janeiro de 2003.
Nos bastidores, FHC manteve diálogo constante com José Dirceu, à época o artífice político da chegada do Lula ao poder. Na dimensão externa diplomática, FHC mobilizou tudo o que ele tinha de acesso nos EUA e de prestígio pessoal na Casa Branca para garantir que o partido republicano, muito resistente à ideia do PT no poder, não condenasse Lula antes da hora.

RB - Em relação a esses "18 dias" que estão relatados no livro, qual foi o momento mais tenso dessas conversas?

MS - Foi, sem dúvidas, a delicadíssima operação que o governo FHC e a equipe do presidente eleito Lula precisavam fazer quando da vinda de uma missão do FMI. Pedro Malan, então ministro da Fazenda, e Antonio Palocci, representante de Lula para política econômica, precisavam combinar o jogo um com o outro para equalizar o discurso em relação ao FMI. O que eles não queriam era que o FMI impusesse regras draconianas que prendessem o início do governo Lula, mas, ao mesmo tempo, eles sabiam que precisavam mostrar ao FMI que a transição para um governo de esquerda não acarretaria uma suspensão dos contratos assinados.
Foi uma operação bastante delicada, cheia de simbolismos. No dia em que a missão do FMI pousou no Brasil, Palocci e Malan fizeram questão de ser fotografados juntos, só que é preciso lembrar que, na época, ninguém sabia que o PT honraria a carta ao povo brasileiro. Ninguém sabia que o compromisso do PT com a política econômica do FHC valeria de fato, portanto havia boa dose de desconfiança, entre Palocci e Malan pessoalmente, mas também entre seus grupos políticos. Esse, para mim, foi o contexto mais difícil da transição, tendo em vista que toda transição é muito difícil em uma democracia.

RB - Do seu ponto de vista, mesmo entre os membros do PT havia desconfiança com relação ao cumprimento dos ditames da carta ao povo brasileiro?

MS - Sem dúvida. Basta olhar, por exemplo, as declarações do então senador eleito por São Paulo, com 10 milhões de votos, Aloizio Mercadante, que era do grupo muito próximo ao candidato Lula. Tinha um discurso muito diferente do discurso de Antonio Palocci.
A equipe em volta do Lula precisou ajustar e reescrever cada um dos discursos do candidato Lula, e depois do presidente eleito Lula, porque havia facções dentro do PT que queriam empurrar o barco em uma direção distante. É necessário lembrar que o PT que chegou ao poder em 2002 é uma federação de facções, onde havia uma facção mais poderosa encabeçada pelo próprio Lula e articulada por José Dirceu, mas que de nenhuma maneira era única.

RB - Essas diversas facções em termos de política internacional mudaram com tempo seu ponto de vista?
MS - Sim, houve muita mudança. O grupo que ocupou o palácio do Planalto (ou seja, o presidente Lula, José Dirceu, Antonio Palocci, Marco Aurélio Garcia) desenvolveu uma visão de política externa substancialmente diferente da visão da militância petista. O governo Lula adotou muitas áreas de política externa do FHC, acelerando-as e as aprofundando. Um exemplo é estratégia de lidar com Chávez. A ideia de que a postura do Brasil diante de Hugo Chávez não deveria ser desolar o Chávez, mas de trazê-lo para dentro, era uma ideia desenhada pelo governo FHC que o Lula abraçou com muito vigor.
A ideia da integração sul-americana, de trazer todos os presidentes da América do Sul para Brasília, para que lá fosse montado um projeto de cooperação sul-americana muito calcada em projetos de integração física, com investimento de infra-estrutura financiado pelo BNDES, é uma estratégia do governo FHC de 2000, que o Lula abraçou e saiu "cavalgando" com ela, produzindo anos mais tarde a Unasul. Nesse sentido, é injusto e incorreto dizer que a política externa do governo Lula é uma política externa meramente ideologizada. Claro que é ideologia, tudo no partido do poder tem ideologia, mas há linhas de continuidade entre FHC e Lula na área de política externa que são muito marcadas e que muitas vezes são esquecidas na polarização do debate público atual.

RB - Essa busca por protagonismo internacional nos últimos anos, principalmente depois de 2004, quando o Brasil começa a galgar mais espaços na política mundial, já com a chancela dos Brics e também com a busca por assento no Conselho de Segurança na ONU, também já era uma estratégia que tenha sido desenhada antes?

MS - Isso certamente vem de antes. Na democracia brasileira todo presidente eleito tenta transformar a política externa e seu prestígio pessoal no mundo, como uma alavanca para facilitar e legitimar seu projeto de poder. Tivemos isso com José Sarney, com Fernando Collor, e certamente com Fernando Henrique Cardoso.
A política externa de FHC foi muito de prestígio pessoal do presidente, para consagrar a ideia mundo afora de que o presidente era o fiel das reformas. Lula não foi diferente. Na década de 2000, o Brasil se beneficiou regiamente do aumento dos preços de commodities, nos quais nós somos muito competitivos, de que nossa diversificação do comércio permitiu que a China nos empurrasse para cima e da percepção, depois da guerra do Iraque, de que era necessário repactuar o poder mundial. Lula beneficiou-se da crise gerada pela guerra do Iraque, no sentido de que ficou impossível fazer governança global sem ter países emergentes sentados à mesa. O Brasil se beneficiou desse processo muito típico da década de 2000, que era impensável na década de 90.

RB - A relação do Bush e do Lula foi melhor do que a relação entre Obama e a Dilma?
MS - Sem dúvida alguma, a relação diplomática entre o Brasil e os EUA durante os governos Bush e Lula foi a mais próxima que nós já tivemos em democracia. No sentido de que os dois países abriram áreas de cooperação formal e informal, muita consulta e interlocução para discutir tema de América Latina, cooperação concreta no Caribe e na África pela primeira vez, cooperação em temas comerciais que depois acabou não vingando, mas não deixou de vingar por causa de problemas na relação bilateral, não vingou por outros fatores como o colapso da Rodada Doha. E o nível de diálogo muito mais próximo do que nós vivenciamos no passado, isso que os documentos mostram.
Isso não é como a memória histórica vai sendo construída, porque ninguém no PT gosta de reconhecer hoje em dia que o presidente Lula teve muito acesso à Casa Branca de Bush, e da mesma maneira ninguém no PSDB gosta de reconhecer que o governo Lula teve mais proximidade dos EUA do que teve FHC, em relação à Casa Branca de Clinton.
O fato é que os países se aproximaram muito na década de 2000, mas boa parte dessa aproximação é explicada pela promessa de uma grande negociação comercial e pela empatia dos dois presidentes. Quando o Doha colapsou e quando esses dois homens deixaram a cena, Lula e Bush, não havia instituições nem canais formalizados de comunicação que permitissem manter o ritmo dessa parceria. No início do governo Dilma, ela fez uma sinalização de que haveria reaproximação. Obama visitou Brasília, a Dilma visitou Washington, mas essa relação nunca decolou. Depois, a crise da espionagem naturalmente terminou jogando isso por água abaixo. Depende agora do próximo governo, a partir de janeiro de 2015, para restaurar esse vinculo diplomático.

RB - Ainda sobre essa influência que os EUA exercem no mundo, em que medida essas duas crises, que você citou anteriormente entre Brasil e EUA, afetaram o cenário para além do econômico e comercial, mas o de desenvolvimento político?
MS - A crise provocada pela declaração de Teerã, ou seja, pela tentativa do Brasil e da Turquia de trazerem o Irã para a mesa de negociações a respeito de seu programa nuclear, foi o maior golpe para a relação diplomática entre Brasil e EUA nos últimos 35 anos. Em Washington, o clima ficou muito negativo em relação ao Brasil, porque a narrativa que ficou vingando foi a qual o Brasil estava sendo leniente com o governo iraniano.
No contexto da negociação com o Irã, que foi muito difícil para o presidente Lula e sua equipe, ele tentou preservar a negociação tentando reduzir as críticas daqueles que diziam que era impossível conversar com o Irã. Em um processo de fazer isso, ele terminou chamando o Ahmadinejad de "irmão", referindo-se ao Irã como uma democracia, ou seja, fazendo menos do caráter autoritário do regime iraniano. Essas declarações caíram como bombas nos EUA. Paralelamente a isso, enquanto o Brasil estava negociando com o Irã, a então secretária de Estado, Hillary Clinton, estava negociando no Conselho de Segurança da ONU uma nova rodada de sanções.
Antes de Lula ir para Teerã negociar, a Hillary Clinton esteve no Brasil pedindo para que o Brasil não o fizesse, e o governo reagiu dizendo que o faria. É necessário lembrar que a declaração de Teerã em 2010 era vista pelo Palácio do Planalto como o coroamento da política externa de dois mandatos do presidente Lula e era a contribuição mais precisa que o Brasil poderia dar à construção da ordem internacional.
Então, o governo brasileiro estava muito investido nisso, e quando ficou claro que os EUA estavam operando contra, o governo brasileiro não teve opção a não ser a de tencionar a corda e polarizar o debate. E o resultado, como sabemos, é que a declaração de Teerã acabou não vingando. Já estava chegando ao fim o segundo mandato de Lula, nada se resolveu, e o que ficou foi uma imagem brasileira em Washington muito manchada e vice-versa, e estamos nessa situação que é muito ruim há 4 anos já.
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Palocci premiado - Estadao - Politica - Estadão


28 de nov de 2018 - Palocci premiado. José ... José Nêumanne ... A intimidade dos velhos tempos entre Lula e Palocci virou inimizade com delação premiada.



Entre Voltaire e Pangloss
João Almeida Moreira
06.05.2015 / 09:34

O primeiro e talvez único grande romance da literatura em que o otimismo é protagonista foi escrito pelo primeiro escritor pessimista da história.


Cândido ou o Otimismo (1759), a obra prima de Voltaire, conta a história do jovem Cândido e do seu tutor, o Professor Pangloss, um otimista cujo mantra é “tudo vai pelo melhor no melhor dos mundos possíveis”.

Como ao longo da obra, Cândido e Pangloss são alvo de um um conjunto interminável de desastres, o primeiro vai progressivamente duvidando das ideias do segundo, colocando em causa a teoria do mestre na enigmática última frase do texto – “devemos é cultivar o nosso jardim” – que valeu dezenas de interpretações diferentes ao longo dos tempos.

Voltaire ao satirizar, via Pangloss, a corrente filosófica conhecida como “otimismo”, defendida pelo alemão Gottfried Leibniz, foi então o primeiro escritor a ser cunhado de “pessimista”, à época um neologismo, na publicação Révue de Trévoux, por padres jesuítas que tendiam a concordar com o pensamento leibniziano.

O pessimismo nasceu então do otimismo e o otimismo popularizou-se graças a um pessimista. São os dois, de facto, faces da mesma moeda.

Um cronista que acompanhe o Brasil de Dilma Rousseff desde a sua origem compreende-o melhor que ninguém. De 2011 a 2013, o tom desse acompanhamento era necessariamente otimista.

Na economia, a classe média, engordada por 50 milhões de novos passageiros, voava nas maravilhas do consumo, catapultava a economia brasileira para patamares (sétima do mundo) nunca antes vistos, ao mesmo tempo que tornava menos desigual uma sociedade até então um símbolo de desigualdade no mundo.

Na política, a nova presidente, imune por natureza ao vírus da corrupção e da ganância, tão encrostado no país de cima a baixo, varria do seu ministério quem não prestasse.

E a meras centenas de metros do seu gabinete, outro poder, o judicial, iniciava pela primeira vez na história o julgamento e consequente condenação de corruptos – ainda para mais ligados, quase todos, ao governo no poder, no famoso julgamento do Mensalão.

Era o Brasil do Professor Pangloss.

Subitamente, porém, Voltaire, o criador de Pangloss, tomou as canetas dos cronistas.

O consumo, em si mesmo, não é fórmula que sustente o crescimento para sempre, como também não foi eterna a voragem do dragão chinês pelas commodities brasileiras – e o dedo dilmista na economia em vez de corrigir, só piorou.

A corrupção e a ganância, que alastram como cólera disseminadas pela sociedade de cima a baixo e com epicentro no influente Congresso Nacional, revelou-se mais forte do que qualquer imunidade presidencial à doença.

E à mesma hora que o poder judicial investigava e condenava no Mensalão, florescia o Petrolão, equivalente financeiro a centenas de mensalões.

Tanto Cândido como o Professor Pangloss a páginas tantas foram vítimas dos terríveis terramoto e tsunami de 1755 em Lisboa, cujo impacto em Voltaire e noutros pensadores da época foi brutal – ao ponto de, desiludidos com Deus, ridicularizarem o otimismo de Leibniz e fundarem o pessimismo. O Petrolão e as outras catástrofes estão para o Brasil de hoje como aquele tsunami para a Europa setecentista.

No entanto, brasileiros, nem tudo está perdido – longe disso. Em tese, tanto o espiritual Pangloss como o prático Voltaire têm em parte a sua razão. Talvez tudo vá pelo melhor no melhor dos mundos possíveis. Mas, entretanto, que cada um cultive o seu jardim.



Referências

https://oglobo.globo.com/brasil/no-supremo-nao-tem-pangloss-diz-professor-da-fgv-direito-rio-5972925
https://abrilveja.files.wordpress.com/2017/09/antonio-palocci-2011-901.jpg?quality=70&strip=info&resize=680,453
https://veja.abril.com.br/politica/o-que-revela-a-delacao-de-palocci/
https://www1.folha.uol.com.br/folha/brasil/ult96u43468.shtml
http://www.fazenda.gov.br/noticias/2002/r020819
https://politica.estadao.com.br/.../geral,lula-diz-que-transicao-com-fhc-foi-...
https://images.immedia.com.br//13/13380_2_EL.JPG?c=201409101559
https://www.infomoney.com.br/mercados/noticia/3562954/bastidor-2002-impressionante-habilidade-cooperacao-entre-fhc-lula-transicao
https://politica.estadao.com.br/blogs/neumanne/palocci-premiado/
https://www.dinheirovivo.pt/opiniao/entre-voltaire-e-pangloss/

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