O Guarda 64...
- Se fosse
preciso prender todos os bêbados que dizem o que não se diz, haveria muito que
fazer. .. E de que adiantaria?
... o guarda 64 é uma parcela do Príncipe. O Príncipe reside em cada um de
seus oficiais....
...Matra é
vítima da moléstia da obsessão e, se o termo não for por demais forte, do
delírio da perseguição.
Não se pode negar que o método histórico é inteiramente inadequado a lhe
trazer as certezas das quais necessita. Basta lembrar a aventura de Walter
Raleigh.
Refletindo
então sobre a dificuldade de conhecer a verdade a respeito de acontecimentos
longínquos, quando tinha podido se enganar quanto ao que se passava sob seus
olhos, atirou ao fogo o manuscrito de sua história.
CRAINQUEBILLE
ANATOLE FRANCE (1844-1924 | França)
ANATOLE FRANCE (1844-1924 | França)
44.Alguns deles queriam prendê-lo, mas
ninguém lhe lançou as mãos.
45.Voltaram os guardas para junto dos
príncipes dos sacerdotes e fariseus, que lhes perguntaram: “Por que não o
trouxestes?”. 46.Os guardas responderam: “Jamais homem algum falou como este
homem!...”
João, 7
O abuso de autoridade, em termos gerais, existe há décadas. Por
que, então, aprovar a lei com tão pouca gente e discussão?
O único tema que alguns governistas
problematizaram foi o uso de algemas. Isso é importante no trato do crime
comum, mas insignificante em termos de luta contra a corrupção. Eles não costumam
fugir, muito menos reagir violentamente à prisão.
Há mais presidentes envolvidos nisso, com
destaque para o do STF, que proibiu o uso dos dados do Coaf.
O desmonte em família
Fernando Gabeira (1941 | Brasil)
Crainquebille by
Théophile Alexandre Steinlen on artnet
Artist:
Théophile Alexandre Steinlen
(French/Swiss, 1859–1923)
Title:
Crainquebille
Medium:
oil on canvas
Size:
73 x 60 cm. (28.7 x 23.6 in.)
ANATOLE FRANCE (1844-1924 | França)
Houve época não muito distante que o mundo inteiro lia romances como A Ilha dos Pingüins, Le Crime de Silvester Bonnard, A Revolta dos Anjos e Os Deuses Têm Sede. Seu autor, o francês Jacques Anatole François Thibault, reconhecido pelo padrão estético de seu estilo e por sua ironia dita anatoliana, chegou a ganhar o Prêmio Nobel, em 1921. Hoje ele não é mais reeditado como antes. Mas seu conto Crainquebille merece ser lembrado, aqui em nova tradução: seu personagem popular é filho direto daquele famoso Jean Valjean, de Os Miseráveis, de Victor Hugo, e o conto é um libelo contra a formalidade e a burocratização da justiça dos homens. (Dizem que Anatole o escreveu sob impacto do rumoroso "Caso Dreyfus".)
A
Alexandre Steinlein e Lucien Guitry, que souberam dar, um numa seqüência de
admiráveis desenhos, o outro por uma bela criação de seu gênio dramático, um
caráter de grandeza trágica à humilde figura de meu pobre vendedor de frutas e
legumes.
A.F.
I
DA MAJESTADE DAS LEIS
A majestade da justiça reside toda ela em cada sentença proferida pelo
juiz em nome do povo soberano. Jérôme Crainquebille, vendedor ambulante, soube
como a lei é augusta quando precisou comparecer diante da polícia correcional
por ultraje a um guarda da força pública. Tendo ocupado seu lugar, na sala
magnífica e sombria, no banco dos réus, ele viu os juízes, os escrivães, os
advogados de toga, o meirinho carregando a corrente, os guardas e, atrás de uma
divisória, as cabeças nuas dos espectadores silenciosos. E viu a si mesmo,
sentado numa cadeira elevada, como se, por aparecer diante dos magistrados, o
próprio acusado recebesse uma funesta honraria. No fundo da sala, entre os
dois assessores, o Senhor Presidente Bourriche ostentava no peito as palmas de
oficial da Academia. Um busto da República e um Cristo na cruz encimavam o
pretório, de modo que todas as leis divinas e humanas estavam suspensas sobre a
cabeça de Crainquebille. Isto gerou nele um justo terror. Não tendo
absolutamente o espírito filosófico, ele não se perguntou o que queriam dizer
aquele busto e aquele crucifixo e não pesquisou se Jesus e Marianne, no Falais,
concordavam entre si. Esta é, contudo, matéria para reflexão, pois enfim a
doutrina pontificai e o direito canônico são opostos, em muitos pontos, na
Constituição da República e no Código Civil. As Decretais, que se saiba, não
foram abolidas. A Igreja do Cristo ensina como outrora que só são legítimos os
poderes aos quais ela deu a investidura. Ora, a República francesa pretende
ainda não depender do poder pontificai. Crainquebille poderia dizer com alguma
razão:
"Senhores juízes, não sendo o presidente Loubet ungido, este
Cristo, suspenso sobre vossas cabeças, vos rejeita pela voz dos concílios e dos
papas. Ou ele está aqui para vos lembrar os direitos da Igreja, que contestam
os vossos, ou sua presença não tem qualquer significado razoável."
Ao que o presidente Bourriche teria talvez respondido:
"Acusado Crainquebille, os reis de França sempre estiveram
enredados com o papa. Guilherme de Nogaret foi excomungado e não se demitiu de
seus encargos por tão pouco. O Cristo do pretório não é o Cristo de Gregório
VII e de Bonifácio VIII. É, se quiser, o Cristo do Evangelho, que não sabia uma
palavra de direito canônico e jamais tinha ouvido falar das benditas
Decretais."
Teria então Crainquebille podido responder:
"O Cristo do Evangelho era um democrata. Ademais, sofreu uma
condenação que, há mil e novecentos anos, todos os povos cristãos consideram
grave erro judiciário. Eu o desafio, Sr. Presidente, a me condenar, em seu
nome, a somente quarenta e oito horas de prisão."
Mas Crainquebille não se entregava a qualquer consideração histórica,
política ou social. Permanecia no assombro. O sistema pelo qual estava rodeado
fazia com que concebesse uma alta idéia da justiça. Impregnado de respeito,
submerso de espanto, estava pronto para falar aos juízes a respeito de sua
própria culpabilidade. Em sua consciência, não se considerava criminoso, mas
sentia o quanto é pouco a consciência de um vendedor de legumes diante dos
símbolos da lei e dos ministros da vindicta social. Já seu advogado o havia
semipersuadido de que ele não era inocente.
Uma instrução sumária e rápida relacionara as acusações que pesavam
contra ele.
II
A AVENTURA DE CRAINQUEBILLE
Jérôme Crainquebille, vendedor de frutas e legumes, ia pela cidade,
empurrando seu carrinho e gritando: Repolhos, nabos, cenouras! E, quando tinha
alho-poró, gritava: Molhos de aspargos!, porque os alhos-porós são os aspargos
do pobre. Ora, em 20 de outubro, na hora do meio-dia, quando ele descia a rua
Montmartre, a Sra. Bayard, da sapataria LAnge Gardien, saiu de sua loja e se
aproximou da carrocinha de verduras e, pegando desdenhosamente um molho de
alhos-porós, disse:
- Os seus alhos-porós não estão com boa cara. Quanto o molho?
- Quinze tostões, dona. Não tem melhor.
- Quinze tostões, três talinhos murchos?
E ela jogou o molho de volta na carrocinha, com um gesto de nojo. Foi
então que o guarda 64 apareceu e disse a Crainquebille:
- Circulando!
Crainquebille, há cinqüenta anos, circulava da manhã à noite. Aquela
ordem pareceu-lhe legítima e de acordo com a natureza das coisas. Totalmente
disposto a obedecer, ele apressou a dona para que pegasse o que quisesse.
- Preciso escolher a mercadoria, respondeu asperamente a sapateira.
E ela apalpou novamente todos os molhos de alhos-porós, depois ficou com
aquele que lhe pareceu mais bonito e segurou-o de encontro ao seio como as
santas, nos quadros das igrejas, apertam contra seu peito a palma triunfal.
- Vou lhe dar quatorze tostões. Está mais do que bom. E ainda tenho que
ir buscá-los na loja, porque não tenho aqui comigo.
E, levando seus alhos-porós abraçados, ela entrou na sapataria onde uma
cliente, carregando uma criança, a havia precedido.
Neste momento, o guarda 64 disse pela segunda vez a Crainquebille:
- Circulando!
- Estou esperando meu dinheiro, respondeu Crainquebille.
- Eu não estou dizendo para esperar seu dinheiro, estou dizendo para
circular, disse o guarda com firmeza.
Entretanto, a sapateira, no interior da loja,
experimentava sapatos azuis numa criança de 18 meses cuja mãe estava apressada.
E as cabeças verdes dos alhos-porós repousavam sobre o balcão.
Depois de meio século empurrando seu carro pelas ruas, Crainquebille
havia aprendido a obedecer aos representantes da lei. Mas encontrava-se,
naquele momento, numa situação especial, entre um dever e um direito. Ele não
tinha o espírito jurídico. Não compreendeu que a satisfação de um direito
individual não o dispensava de cumprir um dever social. Considerou por demais
seu direito que era receber 14 tostões e não se ocupou o suficiente de seu
dever que era o de empurrar seu carrinho e seguir em frente, sempre em frente.
Ficou parado.
Pela terceira vez, o guarda 64, tranqüilo e sem raiva, deu-lhe ordem de
circular. Contrariamente ao hábito do cabo Montauciel, que ameaça sem parar e
nunca pune, o guarda 64 é sóbrio em advertências e ágil em suas notificações.
Tal é o seu caráter. Embora um pouco dissimulado, é um excelente servidor e um
soldado-leão. A coragem de um leão e a doçura de uma criança. Só se importa em
cumprir suas obrigações.
- O senhor não entendeu que eu lhe mandei circular?
Crainquebille tinha para ficar naquele lugar uma razão por demais
importante a seus olhos para que não a acreditasse justificada. Ele a expôs com
simplicidade e sem tato:
- Mas que droga! Se eu já disse que estou esperando meu dinheiro. O
guarda 64 contentou-se em responder:
- Quer que eu lhe sapeque uma multa? Se quiser é só dizer.
Ao ouvir estas palavras, Crainquebille levantou lentamente os ombros e
derramou sobre o guarda um olhar doloroso que a seguir ergueu para o céu. E
este olhar dizia:
"Que Deus me ajude! E eu sou um desrespeitador das leis? Será que
fico rindo dos decretos e das ordens que regem meu estado ambulatório? Às cinco
da manhã eu estava no mercado dos Halles. Desde as sete horas, queimo as mãos
nos cabos do meu carrinho, gritando: Repolhos, nabos, cenourasl Tenho sessenta
anos feitos. Estou cansado. E o senhor me pergunta se ergo a bandeira negra da
revolta. O senhor caçoa e sua zombaria é cruel."
Seja porque a expressão desse olhar lhe tenha escapado, seja porque ele
não encontrou nela uma desculpa para a desobediência, o guarda perguntou numa
voz seca e rude se estava entendido.
Ora, naquele exato momento, a confusão de veículos era enorme na rua
Montmartre. Os fiacres, burros-sem-rabo, carroças, ônibus, caminhões, apertados
uns contra os outros, pareciam indissoluvelmente juntos e unidos. E sobre sua
imobilidade palpitante elevavam-se imprecações e gritos. Os cocheiros de fiacre
trocavam injúrias, de longe e lentamente, com os rapazes açougueiros, e os
motoristas de ônibus, considerando Crainquebille a causa da confusão,
chamavam-no de "pepino sujo".
Entretanto, sobre a calçada, curiosos se espremiam, atentos à
discussão. E o guarda, vendo-se observado, não pensou senão em dar mostras de
sua autoridade.
- Muito bem, disse ele.
E tirou do bolso um bloquinho imundo e um lápis muito curto.
Crainquebille seguia seu pensamento e obedecia a uma força interior.
Aliás, era-lhe impossível agora avançar ou recuar. A roda de seu carrinho
estava infelizmente presa na roda de um carro de leiteiro.
Ele exclamou arrancando os cabelos sob sua boina:
- Mas, se eu estou dizendo que estou esperando o meu dinheiro! Se não é
um infeliz! Droga de azar! Porcaria de miséria!
Por estas palavras, que no entanto exprimiam menos a revolta do que o
desespero, o guarda 64 acreditou-se insultado. E como, para ele, todo insulto
revestia necessariamente a forma tradicional, regular, consagrada e por assim
dizer litúrgica de "Abaixo os tiras!", foi sob esta forma que
espontaneamente ele recolheu e solidificou em seus ouvidos as palavras do delinqüente.
- Ah ! O senhor disse "Abaixo os tiras!" Muito bem. Siga-me.
Crainquebille, no excesso do estupor e da angústia, olhava com seus
grandes olhos queimados de sol o guarda 64 e, com sua voz cansada, que saía ora
de cima de sua cabeça e ora de baixo de seus calcanhares, exclamou, braços
cruzados sobre seu jaleco azul:
- Eu disse "Abaixo os tiras"? Eu?.. . Oh!
Esta prisão foi acolhida pelos risos dos empregados do comércio e dos
garotos. Ela contentava o prazer que todas as multidões sentem pelos espetáculos
ignóbeis e violentos. Mas, tendo forçado uma passagem por entre o círculo de
populares, um velhote muito triste, vestido de preto e com um chapéu alto,
aproximou-se do guarda e lhe disse, com muita suavidade e muita firmeza, em voz
baixa:
- O senhor se enganou. Este homem não o insultou.
- Cuide do que lhe diz respeito, respondeu-lhe o guarda, sem proferir
ameaças, pois falava a um homem de boa aparência.
O velhote insistiu com muita calma e tenacidade. E o guarda deu-lhe
ordem de se explicar com o comissário.
Entretanto, Crainquebille exclamava:
- Tá bom que eu disse "Abaixo os tiras"... Oh!...
Ele pronunciava estas palavras espantadas quando a Sra. Bayard, a
sapateira, veio até ele, 14 tostões na mão. Mas já o guarda 64 o segurava pelo
colarinho e a Sra. Bayard, pensando que nada se deve a um homem levado para a
delegacia, colocou os 14 tostões no bolso de seu avental.
E, vendo de repente seu carrinho no depósito, sua liberdade perdida, o
abismo sob seus pés e o sol apagado, Crainquebille murmurou:
- Mas que coisa!.. .
Diante do comissário, o velhote declarou que, parado em
seu caminho por uma confusão de veículos, havia testemunhado a cena, que
afirmava que o guarda não fora insultado e que se enganara por completo. Ele
deu seu nome e qualificações: doutor David Matthieu, médico-chefe do hospital
Ambroise-Paré, oficial da Legião de Honra. Em outros tempos, um testemunho
destes teria esclarecido suficientemente o comissário. Mas naquele momento, na
França, os intelectuais eram suspeitos.
Crainquebille, cuja detenção foi mantida, passou a noite no xadrez e foi
transferido pela manhã, no camburão, para o Depósito de Presos.
A prisão não lhe pareceu nem dolorosa nem humilhante. Pareceu-lhe
necessária. O que o impressionou ao entrar foi a limpeza das paredes e dos
ladrilhos. Ele disse:
- Sem dúvida, este é um lugar limpo. De verdade! A gente pode comer no
chão. Deixado sozinho, quis puxar o banquinho, mas descobriu que estava preso à
parede. Expressou sua surpresa em voz alta:
- Mas que idéia! Taí uma coisa que eu não teria inventado, com certeza.
Sentando-se, girou os polegares e permaneceu em seu espanto. O silêncio
e a solidão o arrasavam. Ele se aborrecia e pensava com inquietação em seu
carrinho posto no depósito ainda todo carregado de repolhos, cenouras, aipo,
erva-cidreira e dentes-de-Ieão. E se perguntava, ansioso:
- Onde será que eles me enfiaram meu carrinho?
No terceiro dia, recebeu a visita de seu advogado, mestre Lemerle, um
dos mais jovens membros do foro de Paris, presidente de uma das seções da
"Liga da Pátria Francesa".
Crainquebille tentou contar-lhe seu caso, o que não lhe era fácil, pois
ele não tinha o hábito da palavra. Talvez, no entanto, ele tivesse conseguido,
com um pouco de ajuda. Mas seu advogado, com ar desconfiado, sacudia a
cabeça para tudo o que ele dizia e, folheando
uns papéis, murmurava:
- Hum! Hum! Não vejo nada disto no dossiê ...
Depois, com um certo cansaço, ele disse, enrolando seu bigode louro:
- No seu interesse, talvez fosse preferível confessar. De minha parte,
estimo que seu sistema de negações absolutas é de uma notável inabilidade.
E desde então Crainquebille teria feito confissões se soubesse o que era
preciso confessar.
III
CRAINQUEBILLE ENFRENTA A JUSTIÇA
III
CRAINQUEBILLE ENFRENTA A JUSTIÇA
O presidente Bourriche consagrou seis minutos inteiros ao interrogatório
de Crainquebille. Tal interrogatório teria trazido maiores esclarecimentos se o
acusado tivesse respondido às perguntas que lhe eram feitas. Mas Crainquebille
não tinha o hábito da discussão e, em tal companhia, o respeito e o terror lhe
fechavam a boca. Então ele mantinha o silêncio e o presidente dava ele mesmo as
respostas. Eram arrasadoras. Ele concluiu:
- Enfim, o senhor reconhece ter dito: "Abaixo os tiras!"
- Eu disse "Abaixo os tiras!" porque o seu guarda disse
"Abaixo os tiras!" Então eu disse "Abaixo os tiras!"
Ele queria fazer entender que, pela imputação mais imprevista, ele
havia, em seu estupor, repetido as palavras estranhas que lhe atribuíam
falsamente e que ele com certeza não havia pronunciado. Ele dissera
"Abaixo os tiras!" como se dissesse: "Eu?! Dizer coisas
ofensivas? O senhor pode acreditar nisso?"
O Sr. Presidente Bourriche não interpretou assim.
- O senhor afirma, disse ele, que o guarda foi o primeiro a proferir
esse grito? Crainquebille renunciou a se explicar. Era difícil demais.
- O senhor não insiste. O senhor faz bem, disse o presidente. E mandou
chamar as testemunhas.
O guarda 64, de nome Bastien Matra, jurou dizer a verdade, somente a
verdade, nada além da verdade. Então, depôs nestes termos:
- Estando de serviço no dia 20 de outubro, no horário de meio-dia,
percebi, na rua Montmartre, um indivíduo que me pareceu ser um vendedor
ambulante e que mantinha sua carrocinha indevidamente parada na altura do
número 328, o que ocasionava um acúmulo de veículos. Eu lhe dei por três vezes
ordem de circular, à qual ele se recusou obedecer. E, quando eu o adverti de
que iria autuá-lo, ele me respondeu gritando: "Abaixo os tiras!", o
que me pareceu ser ofensivo.
Este depoimento, firme e comedido, foi ouvido com evidente parcialidade
pelo Tribunal. A defesa citara a Sra. Bayard, dona da sapataria, e o Sr.
David Matthieu, médico-chefe do hospital Ambroise-Paré, oficial da Legião de
Honra. A Sra. Bayard nada vira nem ouvira. O Dr. Matthieu encontrava-se na
multidão reunida em torno do guarda que intimava o vendedor a circular. Seu
depoimento trouxe um incidente.
- Fui testemunha da cena, disse ele. Percebi que o guarda se havia
enganado: ele não fora insultado. Aproximei-me e lhe fiz esta observação. O
guarda manteve o vendedor em estado de detenção e me convidou a segui-lo até o
comissariado. O que fiz. Reiterei minha declaração perante o comissário.
- O senhor pode sentar-se, disse o presidente. Meirinho, chame novamente
a testemunha Matra.
- Sr. Matra, quando o senhor procedeu à detenção do acusado, o Sr. Dr. Matthieu
não lhe observou que o senhor se havia enganado?
- Quer dizer, senhor presidente, que ele me insultou.
- O que lhe disse ele?
- Ele me disse: "Abaixo os tiras!" Ruídos e risos elevaram-se
do auditório.
- O senhor pode retirar-se, disse o presidente com precipitação.
E advertiu o público que, se tais manifestações indecentes se
reproduzissem, ele mandaria evacuar a sala. Entretanto, a defesa agitava
triunfalmente as mangas de sua toga e pensava-se naquele momento que
Crainquebille seria inocentado.
Tendo sido restabelecida a calma, mestre Lemerle levantou-se. Ele
começou seu arrazoado pelo elogio aos guardas da Prefeitura, "estes
modestos servidores da sociedade que, mediante um salário irrisório, suportam o
cansaço e enfrentam perigos incessantes e que praticam o heroísmo cotidiano.
São antigos soldados, que permanecem soldados. Soldados, esta palavra diz tudo.
.. "
E mestre Lemerle elevou-se, sem esforço, a altíssimas considerações
sobre as virtudes militares. Era o caso daqueles, disse ele, "que não
permitem que se toque no exército, naquele exército nacional ao qual ele tinha
o orgulho de pertencer".
O presidente inclinou a cabeça.
Mestre Lemerle, na verdade, era tenente da reserva. Era também candidato
nacionalista no bairro de Vieilles-Haudriettes. Ele prosseguiu:
- Não, certamente não desconheço os serviços modestos e preciosos que
prestam diariamente os guardiões da paz à valorosa população de Paris. E não
teria consentido em lhes apresentar, senhores, a defesa
de Crainquebille, se tivesse visto nele o insultador de um antigo soldado.
Acusa-se meu cliente de ter dito "Abaixo os tiras!" O sentido desta
frase não é duvidoso. Se os senhores folhearem o Dicionário da língua popular,
ao lado de "tira", lerão ali: "Tirada, grande extensão de
caminho, caminhada. - Caminho, direção, rumo, destino." Abaixo os tiras! é
frase que se diz entre certo tipo de pessoas. Mas toda a questão é esta: Como
Crainquebille a disse? E mesmo, terá ele dito? Permitam-me, senhores, duvidar.
"Não suspeito o guarda Matra de qualquer mau pensamento. Mas ele
realiza, como dissemos, uma tarefa penosa. Às vezes, está cansado, esfalfado,
extenuado. Nestas condições ele pode ter sido vítima de uma espécie de
alucinação auditiva. E, quando ele vem lhes dizer, senhores, que o Dr. David
Matthieu, oficial da Legião de Honra, médico-chefe do hospital Ambroise-Paré,
um príncipe da ciência e um homem do mundo, gritou "Abaixo os tiras!",
somos realmente forçados a reconhecer que Matra é vítima da moléstia da
obsessão e, se o termo não for por demais forte, do delírio da perseguição.
"E mesmo que Crainquebille houvesse gritado 'Abaixo os tiras!',
seria ainda preciso saber se esta expressão tem, em sua boca, o caráter de um
delito. Crainquebille é filho natural de uma vendedora ambulante, arruinada
pelo mau comportamento e pela bebida, ele nasceu alcoólatra. Os senhores o vêem
aqui embrutecido por sessenta anos de miséria. Meus senhores, os senhores dirão
que ele é irresponsável."
Mestre Lemerle sentou-se e o Sr. Presidente Bourriche leu entre seus
dentes uma sentença que condenava Jérôme Crainquebille a quinze dias de prisão
e cinqüenta francos de multa. O tribunal baseara sua convicção no testemunho do
guarda Matra.
Levado pelos longos corredores sombrios do Falais, Crainquebille sentiu
uma extrema necessidade de simpatia. Virou-se para o guarda de Paris que o
conduzia e chamou-o três vezes:
- Guarda! ... Guarda! ... Hein? Guarda! ... E suspirou:
- Há uns quinze dias, se me
tivessem dito que me aconteceria o que está me acontecendo!...
E então fez esta reflexão:
- Eles falam depressa demais, esses senhores. Eles falam bem, mas falam
depressa demais. A gente não consegue se explicar com eles ... Guarda, o senhor
não acha que eles falam depressa demais?
Mas o soldado caminhava sem responder ou virar a cabeça. Crainquebille
perguntou-lhe:
- Por que o senhor não me responde?
E o soldado permaneceu em silêncio. E Crainquebille lhe disse com
amargura:
- A gente fala até com cachorro. Por que o senhor não fala comigo? Não
abre nunca a boca? Tem medo que dela saia mau cheiro?
IV
APOLOGIA PARA O SENHOR PRESIDENTE BOURRICHE
Alguns curiosos e dois ou três advogados deixaram a sala de audiência
depois da leitura da sentença, quando o meirinho já anunciava uma outra causa.
Os que saíam não faziam qualquer reflexão a propósito do caso Crainquebille,
que não os havia absolutamente interessado e no qual não mais pensavam. Apenas
o Sr. Jean Lermite, gravador de água-forte, que viera por acaso ao Falais de
Justice, meditava sobre o que acabava de ver e ouvir.
Passando seu braço no ombro do advogado Joseph Aubarrée, ele disse:
- O que se deve louvar no presidente Bourriche é ter sabido defender-se
das vãs curiosidades do espírito e se resguardar desse orgulho intelectual que
tudo quer conhecer. Opondo um ao outro os depoimentos contraditórios do guarda
Matra e do Dr. David Matthieu, o juiz teria entrado num caminho onde não se
encontra senão a dúvida e a incerteza. O método que consiste em examinar os
fatos segundo as regras da crítica é inconciliável com a boa administração da
justiça. Se o magistrado tivesse a imprudência de seguir este método, seus
julgamentos dependeriam de sua sagacidade pessoal, que é com mais freqüência
pequena, e da enfermidade humana, que é constante. Qual delas seria a
autoridade? Não se pode negar que o método histórico é inteiramente inadequado
a lhe trazer as certezas das quais necessita. Basta lembrar a aventura de
Walter Raleigh.
"No dia em que Walter Raleigh, encerrado na Torre de Londres,
trabalhava, como era de costume, na segunda parte de sua História do Mundo, uma
rixa estourou sob sua janela. Ele foi olhar as pessoas que discutiam lá embaixo
e, quando voltou a trabalhar, pensava tê-Ias observado muito bem. Mas no dia
seguinte, tendo falado sobre o caso com um de seus amigos que lá estivera
presente e que nele havia até mesmo tomado parte, foi contestado por este amigo
em todos os pontos. Refletindo então sobre a dificuldade de conhecer a verdade
a respeito de acontecimentos longínquos, quando tinha podido se enganar quanto
ao que se passava sob seus olhos, atirou ao fogo o manuscrito de sua história.
"Se os juizes tivessem os mesmos escrúpulos que Sir Walter Raleigh,
atirariam ao fogo todas as suas instruções. E eles não têm este direito. Seria
da parte deles uma negação da justiça, um crime. É preciso renunciar a saber, mas não é
preciso renunciar a julgar. Os que desejam que as sentenças dos tribunais sejam
baseadas na pesquisa metódica dos fatos são perigosos sofistas e inimigos
pérfidos da justiça civil e da justiça militar. O presidente Bourriche tem o
espírito demasiado jurídico para fazer depender suas sentenças da razão e da
ciência, cujas conclusões estão sujeitas a eternas disputas. Ele as baseia nos
dogmas e as assenta sobre a tradição, de tal forma que seus julgamentos igualam
em autoridade os mandamentos da Igreja. Suas sentenças são canônicas. Entendo
que ele as tira de um determinado número de cânones sagrados. Veja, por
exemplo, que ele classifica os testemunhos não segundo as características
incertas e enganadoras da verossimilhança e da humana verdade, mas segundo
características intrínsecas, permanentes e manifestas. Ele os pesa ao peso das
armas. Há algo simultaneamente mais simples e mais sábio? Ele considera
irrefutável o depoimento de um guarda da paz concebido metafisicamente enquanto
número de matrícula e segundo as categorias da polícia ideal. Não que Matra
(Bastien), nascido em Cinto-Monte (Córsega), lhe pareça incapaz de erro. Ele
jamais pensou que Bastien Matra fosse dotado de um grande espírito de
observação, nem que aplicasse ao exame dos fatos um método exato e rigoroso.
Para dizer a verdade, ele não considera Bastien Matra, mas o guarda 64. - Um
homem é falível, pensa ele. Pedro e Paulo podem se enganar. Descartes e
Gassendi, Leibnitz e Newton, Bichat e Claude Bernard puderam se enganar. Nós
nos enganamos, todos e a todo instante. Nossas razões de erro são inúmeras. As
percepções dos sentidos e os julgamentos do espírito são fontes de ilusão e
causas de incerteza. Não é possível fiar-se no testemunho de um homem: Testís
unus, testís nullus. Mas pode-se ter fé num número. Bastien Matra, de
Cinto-Monte, é falível. Mas o guarda 64, abstração feita de sua humanidade, não
se engana. É uma entidade. Uma entidade nada tem em si do que há nos homens e
os perturba, os corrompe, os confunde. Ela é pura, inalterável e sem
inquietações. Também o Tribunal não hesitou em desprezar o depoimento do Dr.
David Matthieu, que é apenas um homem, para admitir o do guarda 64, que é uma
idéia pura e como um raio de Deus caído sobre as barras da Justiça.
"Assim procedendo, o presidente Bourriche garante para si mesmo uma
espécie de infalibilidade, a única que um juiz pode afirmar possuir. Quando o
homem que testemunha está armado de um sabre, é o sabre, e não o homem, que
deve ser ouvido. O homem é desprezível e pode estar errado. O sabre
absolutamente não o é e tem sempre razão. O presidente Bourriche penetrou
profundamente no espírito das leis. A sociedade repousa sobre a força e a força
deve ser respeitada como o fundamento augusto das sociedades. A justiça é a
administração da força. O presidente Bourriche sabe que o guarda 64 é uma
parcela do Príncipe. O Príncipe reside em cada um de seus oficiais. Arruinar a
autoridade do guarda 64 é enfraquecer o Estado. Comer uma das folhas da
alcachofra é comer a alcachofra, como diz Bossuet em sua sublime linguagem.
(Folítique Tirée de ÍÉcriture Sante, passim.)
"Todas as espadas de um Estado estão voltadas na mesma direção.
Opondo-as umas às outras, subverte-se a República. Eis porque o acusado
Crainquebille foi justamente condenado a quinze dias de prisão e cinqüenta
francos de multa, conforme o testemunho do guarda 64. Creio ouvir o presidente
Bourriche explicar ele mesmo as razões nobres e belas que inspiraram sua
sentença. Creio ouvi-lo dizer:
"- Julguei esse indivíduo em conformidade com o guarda 64, porque o
guarda 64 é a emanação da força pública. E, para reconhecer minha sabedoria, basta
imaginar que agi inversamente. Os senhores verão de imediato que teria sido
absurdo. Pois se eu julgasse contra a força, meus julgamentos não seriam
executados. Observem, senhores, que os juízes só são obedecidos desde que
tenham a força com eles. Sem os guardas, o juiz seria apenas um pobre sonhador.
Eu me prejudicaria se considerasse errado um guarda. Aliás, o gênio das leis se
opõe a isto. Desarmar os fortes e armar os fracos seria mudar a ordem social
que tenho a missão de conservar. A justiça é a sanção das injustiças
estabelecidas. Foi ela alguma vez vista em oposição aos conquistadores e
contrária aos usurpadores? Quando se eleva um poder ilegítimo, ela só precisa
reconhecê-lo para torná-lo legítimo. Tudo está na forma e nada há, entre o
crime e a inocência, além da espessura de uma folha de papel timbrado. - Era
seu dever, Crainquebille, ser o mais forte. Se, depois de ter gritado 'Abaixo
os tiras!', você tivesse feito declarar imperador, ditador, presidente da
República ou somente conselheiro municipal, garanto-lhe que não o teria
condenado a quinze dias de prisão e cinqüenta francos de multa. Eu o teria
absolvido de qualquer pena. Pode acreditar em mim.
"Assim teria, sem dúvida, falado o presidente Bourriche, pois ele
tem o espírito jurídico e sabe o que deve um magistrado à sociedade. Ele
defende seus princípios com ordem e regularidade. A justiça é social. Apenas os
maus espíritos a querem humana e sensível. Ela é administrada com regras fixas
e não com os tremores da carne e as luzes da inteligência. Sobretudo não lhe
peçam para ser justa, ela não necessita sê-lo uma vez que ela é justiça. E
dir-Ihes-ei mesmo que a idéia de uma justiça justa só pode germinar na cabeça
de um anarquista. O presidente Magnaud profere, é verdade, sentenças
eqüitativas. Mas elas são cassadas, e isto é justiça.
"O verdadeiro juiz pesa os testemunhos ao peso das armas. Isto foi
visto no caso Crainquebille e em tantas outras causas mais célebres."
Assim falou o Sr. Jean Lermite, percorrendo de um extremo a outro a Sala
dos Passos Perdidos.
O advogado Joseph Aubarrée, que conhecia o Palácio, respondeu-lhe
coçando a ponta do nariz:
- Se o senhor quer minha opinião, não creio que o presidente Bourriche
se tenha elevado a tal alta metafísica. No meu ponto de vista, ao admitir o
testemunho do guarda 64 como a expressão da verdade, ele fez simplesmente o que
sempre viu ser feito. É na imitação que se deve buscar a razão da maioria das
ações humanas. Ao se adequar aos costumes, passa-se sempre por um homem honesto.
São chamados de pessoas de bem aqueles que fazem como os outros.
V
DA SUBMISSÃO DE CRAINQUEBILLE ÀS LEIS DA REPÚBLICA
Crainquebille, reconduzido à prisão, sentou-se em seu banquinho
acorrentado, cheio de espanto e admiração. Ele mesmo não sabia bem que os
juízes se haviam enganado. O Tribunal lhe tinha escondido suas fraquezas
íntimas sob a majestade das formas. Ele não podia acreditar que tivesse razão
contra magistrados cujas razões não havia compreendido: era-lhe impossível
conceber que alguma coisa estivesse fora de esquadro em tão bela cerimônia.
Pois, não indo nem à missa nem aos Elíseos, ele jamais em sua vida havia visto
algo tão bonito quanto um julgamento na polícia correcional. Ele sabia bem que
não tinha gritado "Abaixo os tiras!" E que tivesse sido condenado a
quinze dias de prisão por tê-lo gritado era, em seu pensamento, um augusto
mistério, um desses artigos de fé aos quais os crentes aderem sem compreender,
uma revelação obscura, brilhante, adorável e terrível.
Aquele pobre velho reconhecia-se culpado de ter misticamente ofendido o
guarda 64, como o garotinho que vai ao catecismo se reconhece culpado do pecado
de Eva. Tinha lhe sido ensinado, por sua
sentença, que ele havia gritado "Abaixo os tiras!" Então era porque
ele tinha gritado "Abaixo os tiras!" de uma forma misteriosa,
desconhecida dele mesmo. Fora transportado para um mundo sobrenatural. Seu
julgamento era seu apocalipse.
Se não fazia uma idéia clara do delito, não fazia uma idéia mais clara
da pena. Sua condenação lhe havia parecido uma coisa solene, ritual e
superiora, uma coisa fascinante que não se compreende, que não se discute, e da
qual não se tem que se vangloriar nem se lamentar. Naquela hora, ele teria visto
o presidente Bourriche, uma auréola na testa, descer, com asas brancas, pelo
teto entreaberto, e não ficaria surpreso com esta nova manifestação da glória
judiciária. Ele se teria dito: "Taí meu caso continuando!"
No dia seguinte, seu advogado veio vê-lo:
- Então, meu bom homem, não está de todo mal?.. . Coragem! Duas semanas
passam depressa. Não temos muito do que reclamar.
- Ah, é! Pode-se dizer que aqueles senhores foram bem gentis, bem
educados. Nem um palavrão. Eu não imaginava. E o guarda botou luvas brancas. O
senhor não viu?
- Pensando bem, fizemos bem em confessar.
- É possível.
- Crainquebille, tenho uma boa notícia a lhe dar. Uma pessoa caridosa,
que interessei a seu favor, entregou-me a quantia de cinqüenta francos, que
será destinada ao pagamento da multa à qual você foi condenado.
- Então quando o senhor vai me dar os cinqüenta francos?
- Eles serão depositados em cartório. Não se preocupe.
- Dá na mesma. Agradeço assim mesmo a essa pessoa. E Crainquebille,
meditativo, murmurou:
- Não é normal o que está acontecendo comigo.
- Não exagere, Crainquebille. Seu caso não é raro, longe disso.
- O senhor não poderia me dizer onde foi que eles me enfiaram o meu
carrinho?
VI
CRAINQUEBILLE ENFRENTA O PÚBLICO
Crainquebille, tendo saído da prisão, empurrava seu carrinho pela rua Montmartre, gritando:
Repolhos, nabos, cenouras! Não tinha nem orgulho nem vergonha de sua aventura.
Não guardava dela uma recordação dolorosa. Aquilo tinha, em seu espírito, algo
de teatro, de viagem e de sonho. Estava principalmente contente por andar no
barro, sobre o chão da cidade, e de ver sobre sua cabeça o céu cheio d'água e
sujo como a valeta, o bom céu de sua cidade. Parava em todas as esquinas para
tomar um trago, e então, livre e feliz, tendo cuspido nas mãos para
lubrificar-lhes a palma calejada, empunhava os braços de seu carrinho e o
empurrava, enquanto diante dele os pardais, como ele matinais e pobres, que
buscavam a vida nas calçadas, levantavam vôo em grupo com seu grito familiar:
Repolhos, nabos, cenouras! Uma velha dona-de-casa, que tinha se aproximado,
dizia-lhe apalpando os aipos:
- Mas o que aconteceu, senhor Crainquebille? Há três semanas que ninguém
o via. O senhor esteve doente? Está um pouco pálido.
- Vou lhe contar, dona Mailloche, fiquei vivendo de rendas.
Nada mudou em sua vida, a não ser que ele ia à taberna com mais
freqüência do que de costume, porque ficou com a idéia de que é festa e que
conheceu pessoas caridosas. Ele volta um pouco alegre para seu quartinho. Deitado na cama, puxa
sobre si os sacos que lhe emprestou o vendedor de castanhas da esquina e que
lhe servem de cobertor, e pensa: "Na prisão ninguém tem do que se queixar,
a gente tem tudo o que precisa. Mas de qualquer jeito a gente está melhor em
casa."
Sua alegria durou pouco. Ele logo percebeu que as clientes lhe fechavam
a cara.
- Aipos bonitos, dona Cointreau!
- Não preciso de nada.
- Como a senhora não precisa de nada? A senhora afinal não vive de
brisa.
E a dona Cointreau, sem lhe dar resposta, voltara orgulhosamente para
dentro da grande padaria na qual era a patroa. As comerciantes e as porteiras,
antes assíduas ao redor de seu carro verdejante e florido, agora se desviavam
dele. Chegando à sapataria do UAnge Gardien, que é o ponto onde começaram suas
aventuras judiciárias, ele chamou:
- Dona Bayard, dona Bayard, a senhora me deve 15 tostões do outro dia.
Mas a dona Bayard, que estava no balcão, não se dignou a virar a cabeça.
Toda a rua Montmartre sabia que o "pai" Crainquebille saía da
prisão, e toda a rua Montmartre não o conhecia mais. O rumor de sua condenação
tinha chegado até o subúrbio e à tumultuada esquina da rua Richer. Ali, cerca
de meio-dia, ele viu a Sra. Laura, sua boa e fiel cliente, inclinada sobre o
carrinho do garoto Martin. Ela apalpava um grande repolho. E o garoto Martin,
um Zé-mané, um pedaço de asno, lhe jurava, a mão no coração, que não havia
mercadoria mais bonita do que a sua. Diante deste espetáculo, o coração de
Crainquebille se partiu. Ele empurrou sua carroça para cima da do garoto Martin
e disse à Sra. Laura, numa voz chorosa e alquebrada:
- Não é bonito me trair desse jeito.
A Sra. Laura, como ela mesma reconhecia, não era uma duquesa. Não tinha
sido na alta sociedade que ela ficara sabendo a respeito do camburão e do
Depósito. Mas a gente pode ser honesta em todos os estados, não é? Cada um tem
seu amor-próprio e pode-se não gostar de ter que lidar com um indivíduo que
saiu da prisão. E ela então não respondeu a Crainquebille a não ser com um
gesto de nojo. E o velho vendedor ambulante, magoado com a afronta, berrou:
- Vigarista! Vá ... !
A Sra. Laura deixou cair sua couve e exclamou:
- He! Vá você, cavalgadura velha! Isso aí sai da prisão e vem insultar
as pessoas! Crainquebille, se tivesse sangue-frio, nunca
teria censurado à Sra. Laura a sua maneira de ser. Ele sabia bem demais que a
gente não faz o que quer na vida, que a gente não escolhe sua profissão e que
há gente boa em toda parte. Ele tinha o hábito de ignorar sabiamente o que
faziam em casa as clientes e não desprezava quem quer que fosse. Mas estava
fora de si. Chamou por três vezes a Sra. Laura de vigarista, de bisca e de
rameira. Um círculo de curiosos formou-se ao redor da Sra. Laura e de
Crainquebille, que trocaram ainda várias ofensas tão solenes quanto as
primeiras e que teriam desfiado todo o seu rosário se um guarda subitamente
aparecido não os houvesse, por seu silêncio e sua imobilidade, tornado tão
mudos e imóveis quanto ele. Separaram-se. Mas aquela cena acabou de arruinar
Crainquebille no espírito do subúrbio de Montmartre e da rua Richer.
VII
AS CONSEQÜÊNCIAS
E o velho ia resmungando:
- Pois claro que é uma piranha. E não tem mesmo ninguém mais piranha do
que essa mulher aí.
Mas no fundo de seu coração não era disto que ele a censurava. Não a
desprezava por ser o que era. Ele até a estimava, sabendo-a econômica e
organizada. Antigamente, os dois conversavam à vontade. Ela lhe falava de seus
pais que moravam no campo. E formulavam ambos o mesmo desejo de cultivar um
jardinzinho e criar galinhas. Era uma boa freguesa. Ao vê-Ia comprar repolhos
com o garoto Martin, um pedaço de asno, um Zé-mané, ele tinha levado um soco no
estômago. E, quando a viu fazendo cara de desprezo para ele, o sangue subiu à
cabeça e ... Caramba!
O pior é que ela não era a única a tratá-lo como um leproso. Ninguém
mais parecia conhecê-lo. Bem igual à Sra. Laura, a padeira Sra. Cointreau e a
Sra. Bayard do LAnge Gardíen o desprezavam e o desconheciam. Toda a sociedade,
ora.
Então! Porque se tinha sido posto no xadrez por quinze dias, então não
se era bom nem mais para vender alhos-porós! Isso era justo? Fazia sentido
deixar morrer de fome um homem direito porque ele tinha tido problemas com os
tiras? Se ele não podia mais vender seus legumes, só faltava morrer.
Como o vinho maltratado, ele ficava azedo. Depois de ter "trocado
umas palavras" com a Sra. Laura, agora ele as trocava com todo o mundo.
Por um nada, ele dizia umas verdades às freguesas. E sem papas na língua,
acreditem. Se elas apalpassem um pouco demais a mercadoria, ele as chamava
simplesmente de resmungonas e miseráveis. Do mesmo modo na taberna, ele xingava
os camaradas. Seu amigo vendedor de castanhas, que não mais o reconhecia,
declarava que aquele bendito "pai" Crainquebille era um verdadeiro
porco-espinho. Não se pode negar: tornara-se inconveniente, de maus bofes,
grosseirão, mal-humorado. É que, achando a sociedade imperfeita, ele tinha
menos facilidade do que um professor da Escola de Ciências Morais e Políticas
para expressar suas idéias a respeito dos vícios do sistema e das necessárias
reformas, e que seus pensamentos não se desenrolavam em sua cabeça com ordem e
medida.
A infelicidade o tornava injusto. Ele se vingava naqueles que não o
queriam mal e às vezes nos mais fracos que ele. Uma vez, deu uma bofetada em
Alphonse, o menino do vendedor de vinho, que lhe tinha perguntado se o xadrez
era bom. Ele o esbofeteou e disse:
- Garoto nojento! Teu pai é que deveria estar no xadrez em vez de
enriquecer vendendo veneno.
Ato e palavras que não eram dignos dele, pois, como justamente o fez ver
o vendedor de castanhas, não se deve bater numa criança, nem lhe censurar o
pai, que ela não havia escolhido.
Tinha começado a beber. Menos dinheiro ganhava, mais aguardente bebia.
Outrora econômico e sóbrio, ele mesmo se maravilhava com aquela mudança.
- Nunca fui criador de casos, dizia. Dá pra acreditar que a gente fica
menos razoável quando envelhece.
Às vezes, julgava severamente seus excessos e sua preguiça:
- Meu velho Crainquebille, você agora só serve mesmo para conversar com
a garrafa.
Às vezes, enganava a si mesmo e se convencia de que bebia por
necessidade:
- É preciso assim, de tempos em tempos, que eu tome um trago para me dar
forças e para me refrescar. Claro que eu tenho alguma coisa queimada por
dentro. E não tem nada como a bebida para esfriar.
Freqüentemente lhe acontecia perder a chamada matinal do mercado e ele
só conseguia mercadoria avariada, que lhe vendiam a crédito. Um dia, sentindo
as pernas moles e o coração cansado, deixou sua carriola na cocheira e passou
todo o santo dia rondando o balcão da dona Rosa, a tripeira, e todos os bares
dos Halles. À noite, sentado sobre um cesto, pensou e teve consciência de sua
decadência. Lembrou-se de sua força antiga e de seus antigos trabalhos, suas
longas fadigas e seus ganhos felizes, seus dias incontáveis, iguais e
completos; a caminhada, à noite, no mercado dos Halles, esperando
a chamada; os legumes apanhados a braçadas e arrumados com arte no carrinho, o
café preto da mãe Teodora tomado quente num gole só, o pé na estrada, os braços
da carriola solidamente empunhados. Seu grito, vigoroso como o canto do galo,
cortando o ar matinal, sua ida pelas ruas populosas, toda a sua vida inocente e
rude de cavalo humano que, durante meio século, levou, sobre seu balcão
rolante, aos citadinos murchos por vigílias e preocupações, a colheita fresca
dos pomares e hortas. E, sacudindo a cabeça, ele suspirou:
- Não! Não tenho mais a coragem que tinha. Estou acabado. Tantas vezes
vai o cântaro à fonte até que se quebra ... E depois, desde o meu caso na
justiça, eu não tenho mais o mesmo espírito. Não sou mais o mesmo homem, ora!
Enfim, estava desmoralizado. Um homem nesse estado, vale dizer que é um
homem no chão e incapaz de se reerguer. Todas as pessoas que passam pisam
nele.
VIII
AS ÚLTIMAS CONSEQÜÊNCIAS
VIII
AS ÚLTIMAS CONSEQÜÊNCIAS
Veio a miséria, a negra miséria. O velho vendedor ambulante, que trazia
outrora do subúrbio de Montmartre a bolsa cheia de moedas de cem tostões, agora
não tinha mais um níquel. Era inverno. Expulso de seu quartinho, dormia sob as
charretes, numa cocheira. As chuvas tendo caído durante vinte e quatro dias, os
esgotos transbordaram e a cocheira foi inundada.
De cócoras sobre seu carrinho, acima das águas envenenadas, na companhia
das aranhas, dos ratos e dos gatos famintos, ele pensava no escuro. Nada tendo
comido no dia e não tendo mais para se cobrir os sacos do vendedor de castanhas,
ele se lembrou das duas semanas durante as quais o governo lhe dera do que
viver e se cobrir. Invejou a sorte dos prisioneiros, que não
sofrem frio ou fome, e teve uma idéia:
- Se eu conheço o truque, por que não me serviria dele?
Levantou-se e saiu para a rua. Passava pouco das onze horas. Fazia um
tempo desagradável e sombrio. Caía uma bruma, mais fria e mais penetrante do
que a chuva. Raros transeuntes se colavam aos muros.
Crainquebille caminhou ao longo da igreja de Santo Eustáquio e virou na
rua Montmartre. Estava deserta. Um guardião da paz estava plantado sobre a
calçada, defronte a igreja, sob um lampião a gás, e se podia ver, ao redor da
chama, cair uma chuvinha gelada. O guarda a recebia sobre seu capuz, ele tinha
o ar transido, mas seja porque preferia a luz à sombra, seja porque estivesse
cansado de andar, continuava sob seu lampião e talvez fizesse dele um
companheiro, um amigo. Aquela chama trêmula era seu único interlocutor na noite
solitária. Sua imobilidade não parecia muito humana. O reflexo de suas botas na
calçada molhada, que parecia um lago, prolongava-o interiormente e lhe dava, de
longe, o aspecto de um monstro anfíbio, semi-saído das águas. De mais perto,
encapuzado e armado, ele tinha o ar monacal e militar. Os traços duros, ainda
mais endurecidos pela sombra do capuz, eram pacíficos e tristes. Ele tinha um
bigode cerrado, curto e cinzento. Era um velho sargento, um homem de uns
quarenta anos.
Crainquebille aproximou-se devagar dele e, com voz hesitante e fraca, lhe
disse:
- Abaixo os tiras!
E então ele esperou o efeito desta frase consagrada. Mas ela não foi
seguida por efeito algum. O sargento continuou imóvel e mudo, os braços
cruzados sob seu casaco curto. Seus olhos, arregalados e que brilhavam no
escuro, olhavam para Crainquebille com tristeza, vigilância e desprezo.
Crainquebille, espantado, mas mantendo ainda um resto de resolução,
balbuciou:
- "Abaixo os tiras!", foi o que eu lhe disse.
Houve um longo silêncio durante o qual caía a chuva fina e gelada e
reinava a escuridão glacial. Enfim, o sargento falou:
- Isto não se diz... Com certeza, isto não é coisa que se diga. Na sua
idade, deveria saber melhor das coisas. . . Vá em frente.
- Por que o senhor não me prende?, perguntou Crainquebille. O sargento
sacudiu a cabeça sob seu capuz úmido:
- Se fosse preciso prender todos os bêbados que dizem o que não se diz,
haveria muito que fazer. .. E de que adiantaria?
Crainquebille, arrasado por este desdém magnânimo, ficou por muito tempo
idiotizado e mudo, os pés na valeta. Antes de partir, ele tentou se explicar:
- Não foi para o senhor que eu disse "Abaixo os tiras!" Não
foi mais para um do que para o outro que eu disse. Foi para uma idéia.
O sargento respondeu com austera doçura:
- Seja para uma idéia ou para outra coisa, não era para dizer, porque
quando um homem cumpre seu dever e agüenta muito sofrimento, não se deve
insultá-lo com palavras fúteis. Eu torno a lhe pedir que siga o seu caminho.
Crainquebille, cabeça baixa e braços pendentes, mergulhou na escuridão
sob a chuva.
Tradução de Celina Portocarrero
Fernando Gabeira* || O desmonte em família
- O Estado de S.Paulo
Por senti-la ameaçada é que Bolsonaro
decidiu intervir no Coaf, na Receita e na PF
No início do processo de
redemocratização, campanha das diretas, vi num mesmo palanque em Caruaru dois
candidatos que se dispunham a combater a corrupção: Collor, caçador de marajás,
e Lula, que traria ética para a política. Ambos perderam a batalha.
Não posso dizer que Bolsonaro vá pelo
mesmo caminho, pois cada um tem um roteiro próprio para contradizer o seu
discurso. O dele tem um caráter doméstico. Ele decidiu intervir no Coaf, na
Receita Federal e na Polícia Federal (PF) porque sentiu ameaças à sua família.
Ele próprio revelou que o Fisco fez
uma devassa nas finanças de seu irmão, candidato a prefeito em Miracatu, no
Vale do Ribeira. Sua campanha presidencial foi investigada.
Flávio, filho de Bolsonaro, estava
sendo investigado a partir de dados do Coaf. Toffoli suspendeu as
investigações. O presidente aprovou.
E agora quer mudar três nomes da
Receita no Rio e um delegado da PF. A Receita é apenas uma das pernas do
esquema de combate à corrupção que funcionou na Lava Jato. Talvez seja a mais
vulnerável. Tentei explicar isso a um fiscal, que, por sua vez, descrevia os
mecanismos automatizados e anônimos que indicam a necessidade de investigar o
contribuinte.
Não há grande lastro popular no apoio
à Receita. De modo geral, as pessoas a temem, ou talvez a rejeitem
inconscientemente. A Inconfidência Mineira e as lutas contra as taxações
coloniais podem ter contribuído para isso. Nem todos se distanciam para vê-la
em suas funções mais amplas, importantes para toda a sociedade.
A interferência no Porto de Itaguaí, por
exemplo, interrompe um trabalho que dificultava a ação da milícia que domina a
área. Pelo porto saem drogas e entram armas.
Bolsonaro não explicou a razão de sua
interferência em Itaguaí. Mas deveria ser mais cuidadoso num tema que envolve a
milícia diretamente. As investigações em torno do gabinete do então deputado
estadual Flávio Bolsonaro mostram que familiares de milicianos foram empregados
ali. O próprio Fabrício Queiroz parecia ter vínculos com o grupo do Escritório
do Crime, mas jamais apareceram para todos essas inter-relações
gabinete-milícia.
O descaminho de Bolsonaro no trato com
a autonomia dessas instituições se dá num momento singular. Outras famílias
importantes, do Poder ao lado, a mulher do ministro Toffoli e a de Gilmar
Mendes, também estavam incomodadas com os dados do Coaf. O lamentável vazamento
no caso de Gilmar acabou contribuindo para criar uma aliança dentro do STF que
inclui Alexandre de Moraes, com sua decisão de suspender investigações.
No Poder do outro lado, a Câmara aprovou
um projeto de abuso de autoridade, de noite e com baixo quórum. É um tema em
que se pode chegar a um acordo. Mas não deveria ser votado assim. Essa história
de Rodrigo Maia decidir que havia quórum é muito subjetiva.
A Lei de Abuso de Autoridade, apesar
de ainda estar indefinido o papel de Bolsonaro nela – pode vetar ou não –,
também é parte de uma ofensiva que o topo dos três Poderes desenvolve contra o
sistema de combate à corrupção. Ilusório pensar que as coisas voltarão a ser
como antes da Lava Jato. Talvez a cúpula dos três Poderes perceba isso. O que
parece estar em curso é uma espécie de freio de arrumação. O objetivo é apenas
o de facilitar o movimento dos políticos e conter investigadores e juízes. Que
nível de resultado sairá desse esforço ainda é uma incógnita.
Bolsonaro enfraquece Sergio Moro ao
intervir na Polícia Federal. As mensagem vazadas da Lava Jato não tiveram
efeito demolidor, mas foram um elemento de estímulo ao freio de arrumação.
De certa forma, todo esse movimento
era previsível e a tensão, às vezes, se concentrava num só tema, como, por
exemplo, a prisão após julgamento em segunda instância. O que é novidade, não
tanto para mim, que vi outros projetos fracassarem, é o comportamento do
governo que se diz contra a corrupção.
Para começar, o próprio partido de
Bolsonaro, o PSL, aprovou o regime de urgência para a Lei de Abuso. Sinal de
ambiguidade. O abuso de autoridade, em termos gerais, existe há décadas. Por
que, então, aprovar a lei com tão pouca gente e discussão?
Juízes e procuradores sentem-se
intimidados com o nível de abstração em que a lei foi redigida. Por que não
negociar com eles?
O único tema que alguns governistas
problematizaram foi o uso de algemas. Isso é importante no trato do crime
comum, mas insignificante em termos de luta contra a corrupção. Eles não
costumam fugir, muito menos reagir violentamente à prisão.
Os eventuais vetos que Bolsonaro
apresentar à Lei de Abuso não atenuam o peso de sua investida sobre os órgãos
de investigação. Não ficou clara a razão de ele pedir o afastamento do delegado
da PF do Rio. A PF do Rio contribuiu para as investigações sobre a morte de
Marielle Franco. Elas resultaram na prisão de milicianos.
Bolsonaro alegou que a razão da
mudança era a produtividade. Mas a PF do Rio também atua na Lava Jato, cuja
produtividade talvez seja maior no momento do que em Curitiba ou São Paulo.
Como quase todas as intervenções
esbarram em desconforto familiar ou repressão às milícias, elas significam um
retrocesso na maneira como um presidente se comporta diante da autonomia das
instituições. Ironicamente, um governo que se elegeu tendo como bandeira o
combate à corrupção e com os ventos favoráveis da Lava Jato aniquila as
possibilidades de outra operação eficaz no Brasil.
Quebrou uma das suas pernas, a
fiscalização integrada das transações financeiras, enfim, perde o rumo do
dinheiro, bloqueia o caminho real para investigar corrupção. E não é só
Bolsonaro. Há mais presidentes envolvidos nisso, com destaque para o do STF,
que proibiu o uso dos dados do Coaf.
Uma ação entre famílias.
*Jornalista
Palavra do culto de hoje:
João: 7:40-53
40.Ouvindo essas palavras, alguns
daquela multidão diziam: “Este é realmente o profeta”. 41.Outros diziam: “Este
é o Cristo”. Mas outros protestavam: “É acaso da Galileia que há de vir o
Cristo? 42.Não diz a Escritura: O Cristo há de vir da família de Davi, e da
aldeia de Belém, onde vivia Davi?”.* 43.Houve por isso divisão entre o povo por
causa dele. 44.Alguns deles queriam prendê-lo, mas ninguém lhe lançou as mãos.
45.Voltaram os guardas para junto dos príncipes dos sacerdotes e fariseus, que
lhes perguntaram: “Por que não o trouxestes?”. 46.Os guardas responderam:
“Jamais homem algum falou como este homem!...” 47.Replicaram os fariseus:
“Porventura também vós fostes seduzidos? 48.Há, acaso, alguém dentre as
autoridades ou fariseus que acreditou nele? 49.Este poviléu que não conhece a
Lei é amaldiçoado!...”. 50.Replicou-lhes Nicodemos, um deles, o mesmo que de
noite o fora procurar: 51.“Condena acaso a nossa Lei algum homem, antes de o
ouvir e conhecer o que ele faz?”. 52.Responderam-lhe: “Porventura és também tu
galileu? Informa-te bem e verás que da Galileia não saiu profeta”.* 53.E
voltaram, cada um para sua casa.* "
São João, 7 - Bíblia Católica Online
Leia mais em: https://www.bibliacatolica.com.br/biblia-ave-maria/sao-joao/7/
São João, 7 - Bíblia Católica Online
Leia mais em: https://www.bibliacatolica.com.br/biblia-ave-maria/sao-joao/7/
Diletos Mestres!
Crainquebille nos convida à reflexão sobre a temporalidade,
a justiça e a comunicação.
O desmonte em família, pelo abuso de poder, corroboraria o velho no
novo do poder?
Faça não, pode ser a gota d’água...
... pode ser a gota d’água.
“De forma lenta mas segura, a humanidade realiza os sonhos dos
sábios.” Anatole
France, pseudônimo de Jacques François-AnatoleThibaut (1844-1924).
Referências
http://www.artnet.com/WebServices/images/ll00012lldkM5GFgN4qCfDrCWvaHBOc8DBE/th%C3%A9ophile-alexandre-steinlen-crainquebille.jpg
http://www.artnet.com/artists/th%C3%A9ophile-alexandre-steinlen/crainquebille-TPgcIGWDAvHvOC2VzJotw2
http://ensaio.org/os-100-melhores-contos-de-crime-e-mistrio-da-literatura-univer.html?page=24
http://gilvanmelo.blogspot.com/2019/08/fernando-gabeira-o-desmonte-em-familia.html
https://www.bibliacatolica.com.br/biblia-ave-maria/sao-joao/7/
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