O que significa esse mito insensato?
Roda da Vida
Cartola de Noel
Se o teu viver se tornou um fardo
pesado assim
Se percebe que o teu sofrimento, está
longe de chegar ao fim.
Ponha a cabeça no lugar, afaste o mal
pensamento e creia que tudo isso vai mudar.
Só quem sofre sabe como dói o maltrato
da vida
Machuca a alma e leva pra longe a
vontade de lutar.
Não esmoreça, levante a cabeça, vá em
frente e prossiga
Pois a roda da vida não pode parar de
girar.
Eu já rodei pra mais de um mundo,
voltei ao mesmo lugar
Nessa ciranda eu me confundo, mas não
paro de cantar.
Composição: Leandro Ribeiro / Mussa
O eterno retorno é uma ideia misteriosa e, com
ela, Nietzsche pôs muitos filósofos em dificuldade: pensar que um dia tudo vai
se repetir como foi vivido e que tal repetição ainda vai se repetir
indefinidamente! O que significa esse mito insensato?
MILAN KUDERA
"Eram pessoas de bom coração e isso era o
mais importante."
As crianças de Chernobyl em Cuba:
atingidos, eles foram tratados na ilha Beatriz Díez (@bbc_diez) BBC News Mundo
15/06/2019 17h33
"Não era como estar em um hospital. Até
mesmo as crianças mais doentes se divertiam". O ucraniano Roman Gerus tem
boas lembranças de uma experiência oriunda de uma catástrofe.
“Há mais mistérios entre o céu e a terra do
que a vã filosofia dos homens possa imaginar.” William
Shakespeare
né
domingo, 16 de junho de 2019
*Luiz
Sérgio Henriques
- O Estado de S.Paulo
Esquerda e direita voltam a se
contrapor de modo desabrido, gritado e caótico
Em tempos de interdependência, nos
quais até mesmo antiglobalistas convictos se reúnem em redes globais, nada
demais recorrer a uma anedota húngara, muito embora de uma Hungria ainda
“vermelha”, já distante no tempo. Um grande filósofo, um dos poucos de firme adesão
comunista que permaneceu relevante, conta ter ido certa vez até um burocrata
partidário, intrigado que estava com bruscas e inexplicáveis mudanças de
orientação. O cinzento funcionário assegurou a Lukács, o personagem desta breve
história, que o partido incorrera em sucessivos desvios da “linha justa”, ora
de “direita”, ora de “esquerda”, numa sequência velocíssima que nada explicava
e deixava o filósofo ainda mais confuso do que antes.
É que “esquerda” e “direita”, naquele
contexto, já não significavam muita coisa. O uso convencional só atestava que a
linguagem – qualquer linguagem, inclusive a do marxismo supostamente científico
– podia degenerar em jargão e quaisquer conceitos, inclusive alguns firmemente
estabelecidos, podiam se transformar em casca vazia, ainda que brandidos em
meio a muito som e a muita fúria. E isso com os efeitos nocivos que se podem
adivinhar – afinal, costumamos nos odiar e matar por palavras banais e
bandeiras sem sentido.
É bem provável que hoje, num mundo em
que usuários das redes sociais se engalfinham e “politizam” rigorosamente tudo,
ameaçando o tecido minimamente unitário que deve sustentar as sociedades,
aquela degeneração de nomes e de linguagem esteja novamente dando seus frutos
envenenados. Esquerda e direita voltam a se contrapor de modo desabrido,
gritado e caótico, produzindo e reforçando o “colapso do centro” que se
registra em muitos lugares e já não poupa nosso país.
Centro, aqui, não pretende valer por
um termo médio inexpressivo, socialmente desabitado e politicamente
irrelevante. No auge da social-democracia, as boas sociedades conseguiram
encurtar distâncias e redistribuir renda: eram as sociedades ditas dos dois
terços, uma vez que, grosso modo, só um terço delas estava mais ou menos fora
dos benefícios do progresso, enquanto uma substancial maioria convergia nas
faixas centrais. No Brasil, território por excelência da desigualdade, não
poucos historiadores de esquerda chamaram a atenção para o persistente papel
das camadas médias em transformações decisivas. E na primeira década deste
século, quando se celebrou até com exagero o sucesso do petismo, a emergência
de novas classes médias terá sido o aspecto mais destacado, como a certificar o
êxito dos programas implementados.
Impossível considerar a priori tais
classes como “reacionárias” ou inimigas da mudança. Em boa medida, elas
constituem o terreno mais sólido para o exercício da política como consenso e
convencimento, como paixão iluminada por bons argumentos e, assim, estranha à
lógica do poder que não quer se justificar permanentemente nem se pôr à prova
em eleições livres e regulares. A ruína deste fundamento, com o crescimento das
disparidades nas últimas décadas, tem sido a ruína da política democrática, que
aos olhos de muitos perdeu a capacidade de incorporar ativamente as maiorias
sociais e, assim, assegurar a ideia de bem comum.
Nos seus momentos mais criativos, a
esquerda soube interpelar este centro, credenciando-se para dirigir o conjunto
da sociedade, tal como se começou a demonstrar há cerca de cem anos durante a
crise das sociedades liberais, com a ascensão de sindicatos e partidos de
classe e a afirmação de inéditos direitos econômicos e sociais. Ela foi sujeito
ativo, na variedade de suas expressões, de experiências de reforma das sociedades
de mercado, assimilando e enriquecendo as regras do jogo.
As experiências revolucionárias, ao
contrário, não redundaram em sociedades livres e foram, exceção feita a
anacronismos, repudiadas cabalmente a partir de 1989. A esquerda reformista
passou a ser parte ineliminável do patrimônio ocidental, se retirarmos do termo
“ocidental” a conotação puramente geográfica, e só os parvos podem imaginar
cancelá-la nas distintas realidades nacionais. Mas sem dúvida perde prestígio e
capacidade de atração quando, por desgraça extrema, caudilhos como Chávez e
Maduro rotulam sua aventura nefasta como “socialismo do século 21”.
Caso oposto é o da nova direita
populista e nativista, que se diferencia dos conservadores clássicos e até dos
neoliberais dos anos 1990. Seus êxitos eleitorais, inclusive no Brasil, se
dissociam de qualquer verdadeira função dirigente, pois de modo assumido esta
direita se reporta não ao “centro”, que despreza, mas à “maior minoria”, que
pretende defender com radicalismo vizinho à subversão. Tem como traço básico,
delineado a partir da matriz trumpista, um espírito antiliberal que a torna
adversária da democracia representativa, do jogo de freios e contrapesos, da
vida cívica plural, da imprensa independente. Assenta-se na mais falsa entre
todas as notícias falsas, ao se apresentar como portadora de uma mensagem
antissistêmica e revolucionária, quando, ao contrário, sua face real é a do
próprio sistema despido de valores inestimáveis, como os direitos humanos, a
tolerância e o repúdio a toda forma de discriminação.
Descontado o presente surto populista,
em democracias consolidadas direita e esquerda constitucionais se assediam e
travam batalhas duras; no entanto, além de saber que o par conceitual que
encarnam só explica parte das contradições de sociedades complexas, não perdem
de vista a densa realidade do “centro”. Este é o lugar em que, na melhor
hipótese, se tecem equilíbrios cada vez mais avançados e se afirma a ideia de
bem comum. Se nos entregarmos à fantasia dos choques frontais, em vez de tais
equilíbrios teremos a mútua ruína das forças em luta, hipótese catastrófica a
ser evitada segundo a visão do próprio fundador do socialismo moderno.
*Tradutor e ensaísta, é autor de
‘Reformismo de esquerda e democracia política’ (Fundação Astrojildo Pereira,
2018)
Referências
Kundera, Milan
A insustentável leveza do ser / Milan
Kundera; tradução Tereza Bulhões Carvalho da Fonseca. – 1ª ed. – São Paulo:
Companhia de Letras, 2017.
https://youtu.be/5zTstzbJa68
https://www.letras.mus.br/cartola-de-noel/roda-da-vida/
https://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/bbc/2019/06/15/as-criancas-de-chernobyl-em-cuba-atingidos-eles-foram-tratados-na-ilha.htm
http://gilvanmelo.blogspot.com/2019/06/luiz-sergio-henriques-reconstruir-o-bem.html#more
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