Luiz Carlos Azedo
- Nas entrelinhas / Correio
Braziliense
“No Brasil, onde não existe
regulamentação do lobby, todos os políticos defendem o “bem comum”, ninguém
assume a política como negócio, com exceção, talvez, da bancada ruralista”
“A política como vocação”, clássico da
ciência política, é o texto de uma conferência realizada por Max Weber em 1918,
e publicado em 1919 na Alemanha. O sábio economista e jurista alemão trata a
política como “o conjunto de esforços feitos visando à participação do poder ou
a influenciar a decisão do poder, seja entre Estados, seja no interior de um
único Estado”. Segundo ele, quem se mete com a política quer poder, seja para
fins ideais, por interesses econômico-financeiros ou em busca de prestígio.
Para que o poder exista, porém, é preciso que a sociedade aceite a dominação do
Estado.
Há três formas de dominação no Estado
moderno: a tradicional, que se fundamenta e se legitima no passado, pela
tradição; o domínio exercido pelo carisma e se fundamenta em dons pessoais e
intransferíveis do líder; e a exercida pela legalidade, com base em regras
racionalmente criadas e fundamentado na competência. Nas democracias do
Ocidente, essas formas de dominação aparecem simultaneamente, mas o carisma é o
fator decisivo para a chegada ao poder. O líder carismático, porém, necessita
de meios materiais e conhecimento administrativo para exercer seu domínio.
É nesse contexto que surge o “político
profissional”, que Weber classifica entre os que “vivem para a política” e
aqueles que “vivem da política”. Todo cidadão pode e deve participar da vida
política, mas nem todos têm tempo disponível e recursos para isso. Por isso,
“todo homem sério, que vive para uma causa, vive também dela”, mas isso não
impede a diferenciação entre os que têm a política como “bem comum” e os que a
veem como negócio.
Paralelamente à existência dos
políticos, existe uma burocracia formada por funcionários e técnicos
encarregados de operar a máquina do Estado. Por essa razão, além dos objetivos
programáticos, se estabelece entre os políticos uma disputa pela ocupação de
cargos e a distribuição de recursos do governo. Nessa dinâmica, surge ainda uma
camada de dirigentes partidários formada a partir de critérios plutocráticos e
que vão ocupar posições no governo ou na máquina partidária. Para Weber, essas
são as bases potenciais de “uma tendência que leva à criação de uma casta de
filisteus corruptos”.
No Brasil, onde não existe
regulamentação do lobby, como nos Estados Unidos e alguns países da Europa,
todos os políticos defendem o “bem comum”, ninguém assume a política como
negócio, com exceção, talvez, da bancada ruralista, embora o patrimonialismo, o
cartorialismo e o fisiologismo sejam marcas registradas da nossa cultura
ibérica. Mesmo assim, no Estado brasileiro, foi possível constituir uma
burocracia formada por “trabalhadores especializados, altamente qualificados e
que se preparam, durante muito tempo, para o desempenho de sua tarefa
profissional, sendo animados por um sentimento muito desenvolvido de honra
corporativa, em que se realça o sentimento da integridade”.
Lava-Jato
A Operação lava-Jato é um tremendo
choque entre os políticos profissionais e essa burocracia, que desnudou o lado
escuro da nossa política como negócios. Disso resultou a crise ética dos
grandes partidos e o tsunami eleitoral de 2018. Em parte, a eleição do
presidente Jair Bolsonaro é resultado desse fenômeno. Entretanto, não existe
democracia sem partidos nem políticos, o país não pode ser paralisado pela
crise ética. Além disso, a política é a economia concentrada, ou seja, não
existe sem o mundo dos negócios. Há que se reinventar a nossa política, sem
jogar a criança fora com a água da bacia, mas está difícil porque predomina a antipolítica
como sentimento popular.
É aí que entra a discussão sobre a
ética das convicções e a ética da responsabilidade proposta por Weber, ao
examinar a relação entre o protestantismo e o capitalismo. A ética utilizada
para culpar o passado pelos próprios fracassos é vulgar e limitada, como a do
homem que justifica o abandono da esposa porque ela não era digna do seu amor.
A relação entre política e religião é apartada: “O cristão cumpre seu dever
segundo os mandamentos bíblicos e, “quanto aos resultados, confia em Deus”.
Diferentemente, na ética de responsabilidade, “sempre devemos responder pelas
consequências previsíveis de nossos atos”. A “política se faz usando a cabeça”,
não pode estar desconectada da correlação de forças e das probabilidades.
Weber escreveu, às vésperas da
derrocada da República de Weimar, que levou a Alemanha à hiperinflação e
Hitler, ao poder. Isso não impediu que o baixo astral com a derrota na I Guerra
Mundial e o colapso econômico fomentasse o surgimento de autores “teoconservadores”,
que influenciaram o nazifascismo e agora estão sendo relidos nos Estados Unidos
e na Europa, por católicos conservadores, protestantes evangélicos e judeus
ortodoxos. Com base em valores religiosos anti-iluministas, querem mudar o
curso da história com os olhos virados para trás, em busca do “Éden” perdido
pela democracia liberal, com a globalização e o multilateralismo.
Max Weber entre duas vocações
Duas conferências manifestam a concepção
weberiana, marcada pelas agitadas circunstâncias de época, das potencialidades
efetivas da ciência e da política
Gláucia Villas Bôas
Se ainda hoje pairam dúvidas sobre as
datas em que Max Weber pronunciou as conferências “Ciência como vocação” e
“Política como vocação” – questionando-se se foram proferidas em 1918 ou
consecutivamente em 1917 e 1918 – estudiosos de Weber concordam que as duas
conferências foram dirigidas aos jovens estudantes alemães da Associação dos
Estudantes Livres da Baviera, que convidou o mestre e promoveu os dois eventos
na Universidade de Munique. Há também concordância quanto ao fato de que
“Ciência como vocação” não deveria integrar os estudos metodológicos de Max
Weber, nem “Política como vocação” sua obra política. Pelo conteúdo muito
próximo das circunstâncias em que foram proferidas, as conferências seriam
textos sobre questões da cultura moderna: a ciência e a política.
Ao comentar “Ciência como vocação” em
palestra realizada na Universidade de Heidelberg em 1994, Friedrich
Tenbruck afirma que a conferência “não foi escrita para
especialistas e trata menos de ciência do que da situação espiritual das
pessoas em uma civilização fundada na ciência. A conferência diz respeito à
compreensão do homem moderno que deseja ganhar clareza sobre si e seu
tempo”. Talvez por isso a linguagem viva que distingue o texto prenda
tanto a atenção do leitor e o recompense, diz Tennbruck.
A linguagem viva de que fala Tenbruck
era bem diferente daquela que Weber usava em seus artigos e livros acadêmicos
e, também, em palestras e conferências dirigidas ao público acadêmico e
político. Wolfgang Schluchter aventa a hipótese de que as conferências “são
textos filosóficos que pretenderam levar os ouvintes e, logo, os
leitores a reconhecer fatos e encorajar a auto-reflexão, a fim de ganhá-los
para esforços responsáveis dirigidos para uma causa realista”. A questão
estaria definitivamente associada às circunstâncias históricas e à posição de
Weber quanto à construção da nação alemã, que propugnava por um estado nacional
moderno dependente da prontidão dos indivíduos de se engajar em tarefas que
exigiam auto-renúncia e distanciamento.
Fatos históricos relevantes haviam
modificado o destino político e geopolítico da Europa naqueles anos. O Segundo
Império alemão sofrera uma grave uma derrota militar, enquanto a Revolução de
Outubro fora vitoriosa na Rússia; desfizeram-se as monarquias e os impérios austro-húngaro,
germano e turco-otomano. Pode-se imaginar o impacto desses acontecimentos,
especialmente entre os estudantes profundamente envolvidos com a guerra, com
suas carreiras e projetos de vida. Karl Löwith, que era um deles, e ouviu
Weber, escreve, em suas memórias, que as formulações do sociólogo expressavam
uma vida dedicada ao conhecimento e à experiência, parecendo por isso que
vinham diretamente de dentro, enquanto a autoridade da personalidade de Weber
lhes atribuía uma poderosa urgência. A maneira arguta de formular as questões
combinava-se com a recusa a soluções fáceis. E embora Weber não deixasse sequer
um fio de esperança, “qualquer um que o ouvisse sentia que no coração daquela
razão clara repousava uma profunda e sincera humanidade”. Nem todos certamente
concordam com a generosidade de Löwith.
Os traços comuns às duas conferências
não as configuram enquanto uma unidade. “Ciência como vocação” destacou-se e
teve recepção bem diferente da conferência “Política como vocação”. Causou
grande impacto, não só aos ouvintes, como aos leitores, depois de sua
publicação em 1919, provocando uma polêmica apaixonada da qual fizeram parte
Ernst Robert Curtius, Erich von Kahler e Arthur Salz, que eram do círculo de
Stefan George, Ernst Troeltsch, Max Scheler e Heinrich Rickert, cujo tema era o
papel da ciência no mundo moderno. O cerne do debate dizia respeito à
necessidade de reafirmar uma unidade para a ciência e abandonar o relativismo
frouxo de Max Weber, que pregava o politeísmo e a batalha dos deuses.
Participação na vida política
Durante os anos da Primeira Guerra
Mundial, de 1914 a 1918, Weber ressurge na cena pública como orador político e
volta, ao final daquele período, ao professorado na Universidade de Munique.
Tinha 50 anos quando o conflito começou. Aderiu imediatamente à guerra e como
não podia ir para a frente de batalha, apresentou-se para servir nas forças
armadas, tendo recebido o posto de oficial de disciplina da Comissão de
Hospitais Militares do Corpo de Reservas em Heidelberg. Trabalhou alguns meses
na organização dos hospitais e em seguida absorveu-se inteiramente na sua
pesquisa sobre as religiões mundiais. Voltou ao escritório para escrever
sobre a ética econômica das religiões, focalizando o confucionismo, o budismo e
o hinduísmo. Paralelamente começou o esboço do que mais tarde se tornaria o
livro Economia e sociedade (1922).
Contudo, não conseguia mais ficar
apenas na mesa de trabalho. Ao mesmo tempo em que escrevia e buscava material
para suas pesquisas, participava da vida política. A primeira vez que falou em
público depois de suas sucessivas crises depressivas foi em Nuremberg para o
Comitê Alemão Nacional para uma Paz Honrosa. Daí em diante fez várias
conferências, tanto de caráter eminentemente político como também para a sociedade
alemã de sociologia e outras instituições acadêmicas. Finalmente, foi convidado
para ocupar uma cátedra na Universidade de Viena e, poucos meses depois, para a
Universidade de Munique. Acabou aceitando o segundo convite. As conferências
“Ciência como vocação” e “Política como vocação” foram feitas justamente nesse
período entre os convites e sua decisão de ocupar uma cátedra na Universidade
de Munique.
Weber tomou uma posição clara contra o
pacifismo, a anexação de territórios e o pangermanismo. Karl Jaspers o
chamou de nationaler deutscher. Sua adesão a favor da construção de um
estado nacional alemão não impediu que tomasse o partido da Monarquia até a
fuga de Guilherme II. Somente com o fim do Segundo Império e do governo
monárquico é que Weber adere ao regime democrático. Tomou parte ativa na
negociação dos tratados de paz e na reforma parlamentar, reabrindo
paulatinamente seu diálogo com a juventude acadêmica.
Desde o final do século 19, mas,
sobretudo, nos anos de guerra e reorganização da Alemanha após o conflito, uma
associação de estudantes – a Associação Livre dos Estudantes – desempenhou um
lugar de destaque na vida política. Essa associação lutava contra as
tradicionais sociedades de estudantes que se fundavam em códigos de honra e
cujos membros tinham uma posição privilegiada dentro das universidades. A
Associação Livre dos Estudantes levantara a bandeira da democratização do
acesso à universidade e o fim dos privilégios. Considerava a universidade
o locus privilegiado para a educação acadêmica e autoformação. Foram
combatidos e acusados de serem a favor dos judeus, socialistas e comunistas.
Finalmente, a Associação deu origem a vários diferentes grupos de estudantes,
inclusive a Associação dos Estudantes Livres da Baviera, que fez a Weber o
convite para lhes falar sobre ciência como vocação.
Weber era filiado a uma das antigas
sociedades de estudantes chamada Allemania. Passou a fazer parte dela nos meses
em que estudou Direito e Economia Política na Universidade de Heidelberg em
1912. Nos anos de 1917 e 1918, contudo, manifestou-se veementemente contra
essas sociedades, que ainda se baseavam no duelo como forma de resolução de
conflitos. Em sua conferência “Estudantes e política”, esclareceu que o sistema
de exclusividade próprio daquelas sociedades, baseado no direito ao duelo era
do tipo que tornava a democratização da universidade impossível, levando a um
falso entendimento da posição dos estudantes. Considerou as sociedades
incompatíveis com a nova forma de governo republicano, democrático e
parlamentar que estava surgindo na Alemanha. Solicitou o seu desligamento
da Allemania.
“Ciência como Vocação” foi, portanto,
proferida aos estudantes em um contexto de mudanças políticas e sociais
profundas, e de rompimento de Weber com seus “aliados” da Allemania.
Como conciliar humanismo e
especialização na universidade
Acuado diante da volta ao mundo
acadêmico ou ao mundo da política, o que deveria Weber dizer aos jovens
estudantes alemães naquela ocasião e o que pode interessar nos dias de hoje?
Qual o sentido da conferência “Ciência como vocação”?
Para Wolfgang Schluchter, “Ciência
como vocação” tem três expressões-chave: dever vocacional, auto-limitação e personalidade.
Max Weber quer mostrar aos estudantes que o trabalho intelectual enquanto profissão
significa uma vida cheia de renúncia e não de reconciliação. O que mais causou
mal-estar entre os estudantes, segundo o autor, teria sido justamente sua
insistência na base ascéticadas ações profissionais. Elas não poderiam
estar mescladas com ideais, sobretudo com ideais de ordem política. Profissão
como autolimitação era a mensagem que Weber queria transmitir aos estudantes.
Com o intuito de provar a base secular das profissões, Weber associa profissão
e renúncia a um terceiro termo – personalidade. Ele havia criticado o
termo personalidade pelo seu caráter romântico e naturalista através
do qual se procurava definir ou buscar o espaço sagrado de uma pessoa de
maneira difusa e indiferenciada nas profundezas vegetativas da vida pessoal.
Não acreditava que as personalidades eram características de gênios, e recusava
a idéia romântica e esteticista de personalidade que a define como a busca de
experiência direta e modelagem de uma vida como se fosse uma obra de
arte. Mas, se era assim, por que diz então que somente os jovens que têm
personalidade poderão sobreviver com dignidade nos meios universitários?
Para Weber, personalidade seria uma
relação constante e intrínseca com certos valores e sentidos da vida que
uma pessoa pode alcançar no desenrolar do seu destino, um processo que é ao
mesmo tempo Bildung (formação). Ascetismo e individualismo humanista
são valores que expressam o mais próximo que se pode dizer desse conceito de
personalidade: 1) a personalidade é ascética porque está voltada para uma
ação contínua e regular necessária para o serviço de uma causa; 2)
humanista porque o encadeamento das ações se dirige para valores últimos; e 3)
individualista porque exige escolha que provoca um conjunto de
decisões. Se essas condições são satisfeitas, a pessoa cria personalidade, pois
descobre qual é seu demônio interior e passa a obedecer a ele satisfazendo as
demandas do dia-a-dia.
Tenbruck, contudo, não compartilha
dessa interpretação. Para ele é importante observar que, em 1917, a
palavra Beruf não tinha ainda o sentido exclusivo de profissão, porém
“significa ainda o preenchimento de uma vida interior e não meramente os meios
externos necessários para viver e ter sucesso”. Na realidade, Weber
acredita que a ciência como vocação exigia uma vocação interna. O
fundamento da conferência, no que diz respeito à ciência como
profissão/vocação, encontra-se em A ética protestante e o “espírito” do
capitalismo(1905). No livro, Weber demonstra como no protestantismo o trabalho
(Arbeit) perde o estigma de obrigação para a sobrevivência e passa a significar
profissão (Beruf), uma vez que Deus chama o crente para servir sua obra no
mundo. Para Tennbruck, contudo, à época de Max Weber, a universidade
alemã estava passando por transformações que concerniam à especialização,
divisão das disciplinas, pesquisas empíricas ligadas ao desenvolvimento e ao
progresso dos meios de vida. Para fazer frente às mudanças, a ciência torna-se
um importante Beruf, uma profissão que o cientista abraça apenas se tiver
sido “chamado” intimamente.
Além disso, Tenbruck chama a atenção
para o fato de que, na virada do século, a crença na ciência estava abalada. Na
França, os escritos de Renan e Bergson davam provas do questionamento da
ciência. Para que futuro leva a ciência? Na Alemanha, diz ele, permanecia o
ideal da Bildung durch Wissenschaft (formação através da ciência),
apesar dos duros golpes que os portadores dessa posição recebiam, sobretudo no
âmbito das ciências do espírito. A crítica à ciência veio com Nietszche, que
combateu o racionalismo e o intelectualismo, porém, diferentemente de seus
contemporâneos franceses, teria proposto uma nova ciência, uma inversão dos
valores e confiava essa missão aos jovens.
Mas o cerne da conferência estaria
ainda na pergunta “qual o sentido da ciência?”. Weber teria expressado
dramaticamente, segundo Tenbruck, sua dúvida radical com relação ao sentido da
ciência. A ciência exigia o fim das ilusões de sentido, uma vez que estava
intimamente ligada ao progresso e o progresso não tinha fim; renovava-se nele
mesmo. Quem ajuíza que Weber teria simplesmente feito um elogio a uma ciência
livre de valores estava enganado. Ele não havia restringido a ciência a um mero
exercício empírico, fortalecendo seu caráter racional. O que estava em jogo
agora era de fato o sentido da ciência. Para Tenbruck, a ciência, na acepção de
Weber, não oferece sentido nem à vida pessoal, nem ao mundo. A
conferência trazia mais perguntas do que respostas.
Em “Ciência como vocação”, Weber
questiona mais uma vez o surgimento da profissão e da especialização no mundo
da cultura e de uma ciência livre de valores. Como combinar a formação (Bildung)
com os rigores e limites de uma especialização no âmbito das
universidades? Essa questão perpassa o seu pensamento e sua obra. Quanto
à “novidade” do tom dramático com que se refere ao problema, isto sim talvez
possa ser compreendido pela dúvida de Weber em voltar para o mundo
acadêmico para o qual muitas vezes dizia que não era “talhado”, ou dirigir o
sentido de seu dever para a ação política, sabendo de seu insucesso como homem
político, desligado dos partidos e defensor da ética da responsabilidade que
não empolgou os políticos nem tampouco os estudantes que o ouviram na
Universidade de Munique.
Tipo ideal – Contribuição
importante para consolidar a sociologia e o arcabouço teórico da disciplina, os
tipos ideais são ferramentas de análise para compreender a sociedade a partir
de seus elementos constitutivos como religião, economia, burocracia,
capitalismo, e a partir da observação de aspectos concretos e históricos. São
generalizações “puras” que o cientista social, por sua vez, utiliza na sua
pesquisa dos fenômenos sociais. Para Weber, como a total apreensão da realidade
seria impossível, o recurso aos tipos ideais torna-se indispensável.
Gláucia Villas Bôas é professora de
sociologia da UFRJ e autora do livro A recepção da sociologia alemã no
Brasil (Topbooks)
Max Weber
Sociólogo e economista alemão
Por Dilva Frazão
Biografia de Max Weber
Max Weber (1864-1920) foi um
importante sociólogo e destacado economista alemão. Suas grandes obras são, “A
Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo” e "Economia e
Sociedade". Dedicou sua vida ao trabalho acadêmico, escrevendo sobres
assuntos variados como o espírito do capitalismo e as religiões chinesas.
Max Weber nasceu em Erfurt, Turíngia,
Alemanha, no dia 21 de abril de 1864. Filho de um jurista e político do Partido
Liberal Nacional na época de Bismarck. Estudou nas universidades de Heidelberg,
Berlim e Gotinga. Formou-se em Direito e doutorou-se em Economia e acabou
desenvolvendo obras sobre Sociologia. A partir de 1893, lecionou em diversas
universidades da Alemanha, principalmente em Heidelberg. Entre 1898 e 1906,
ficou afastado do magistério em consequência de crises depressivas. Nesse
período, realizou diversas viagens e dedicou-se ao trabalho acadêmico.
Teoria
Max Weber tornou-se conhecido pela
“Teoria dos Tipos Ideais”. Foi um grande renovador das Ciências Sociais em
vários aspectos, inclusive na metodologia: diferente dos precursores da
sociologia, Weber compreendia que o método dessas disciplinas não poderia ser
uma mera imitação dos empregados para as ciências físicas e naturais, uma vez
que nos estudos sociais estão presentes indivíduos com consciência, vontade e
intenções que precisam ser compreendidos.
Max Weber criou então o método dos
“Tipos Ideais”, que descrevem a intencionalidade dos agentes sociais mediante
casos extremos, puros e isentos de ambiguidades, uma vez que tais casos não
estariam condizentes com a realidade. Desse modo, estabeleceu os fundamentos do
método de trabalho da “Sociologia Moderna”, uma base para se construir modelos
teóricos centrados na análise e na discussão sobre conceitos rigorosos.
O primeiro fruto da aplicação desse
método foi sua obra: “A Ética e o Espírito do Capitalismo” (1905). Trabalhando
sobre os tipos ideais da burguesia, a ética protestante e o capitalismo
industrial, Weber estudou a moral estabelecida por algumas seitas calvinistas
dos séculos XVI E XVII, para mostrar que a Reforma Protestante havia criado, em
alguns países ocidentais, uma cultura social mais favorável ao desenvolvimento
econômico capitalista, do que a predominante nos países católicos. Em 1909,
Weber fundou a Associação Sociológica Alemã.
Ideias
Em termos gerais, Max Weber procurou
compreender a inter-relação de todos os fatores que influíam para a construção
de uma estrutura social, e em particular reivindicou a importância dos
elementos culturais e a mentalidade coletiva na evolução histórica, contestando
a exclusiva determinação econômica defendida por Marx e Engels.
Frente à prioridade da luta de classe
como motor da história no pensamento marxista, Weber prestou mais atenção à
racionalização como chave do desenvolvimento da civilização ocidental, um
processo guiado pela racionalidade baseada na burocracia. Todas essas ideias
aparecem na sua obra-prima “Economia e Sociedade” (1922).
Max Weber e a Política
Politicamente, Weber foi um liberal
democrata e reformista, que contribuiu para fundar o Partido Democrata Alemão.
Criticou os objetivos expansionistas de seu país durante a Primeira Guerra
Mundial (1914-1918) e depois da derrota, conquistou importância política como
membro do comitê que representou o governo alemão na Conferência da Paz de
Paris (1918) e como colaborador do jurista e político alemão Hugo Preuss, na
redação da Constituição Republicana de Weimar (1919). Entre seus escritos
políticos destaca-se: “Parlamento e Governo em uma Alemanha Reorganizada”
(1918), uma valiosa defesa do parlamentarismo, escrita nos difíceis tempos de
guerra.
Max Weber faleceu em Munique,
Alemanha, vítima de pneumonia, no dia 14 de junho de 1920.
'A política começou a se transformar antes de
termos redes sociais', diz cientista política
Jeanette Hofmann, professora da
Universidade Livre de Berlim, especializou-se em política da internet
Guilherme Evelin / O Estado de S.Paulo
/ Aliás
O campo de estudos da cientista
política Jeanette Hofmann, professora da Universidade Livre de Berlim, é a
sociologia da tecnologia. Nela, especializou-se em política da internet. No
Instituto Weizenbaum para a Sociedade em Rede, um órgão financiado pelo governo
alemão para estudar as implicações da revolução digital, Hoffman lidera as
pesquisas sobre democracia e digitalização, tema de uma série de conferências
que ela deu no Brasil. Na mesma semana em que Hoffman foi entrevistada pelo
Estado, milhares de manifestantes, convocados pelas redes sociais, saíram às
ruas em defesa do governo Jair Bolsonaro.
A seguir, os principais trechos da
entrevista.
• As redes sociais são uma das causas
da crise das democracias representativas no mundo?
A política começou a se transformar
muito antes de termos as mídias sociais. Ao menos, na Europa, é óbvio que as
democracias representativas começaram a perder seu apelo dos anos 1970 em
diante. Com a guinada dos partidos ao centro, as eleições se tornaram, cada vez
menos, uma questão de que em partido você vota, porque o resultado é sempre o
mesmo, não importa quem ganhe. Ao mesmo tempo, houve uma grande transferência
de poder dos governos para o mercado e do Parlamento para os burocratas do
Poder Executivo, com a agenda neoliberal que privatizou muitos setores da
infraestrutura. Então, os eleitores se perguntam: por que votar? Com isso, os
partidos deixaram de atrair membros e se tornaram muito instáveis. Hoje, eles
crescem, implodem e desaparecem. As redes sociais não são a causa da mudança,
mas um meio para tentar alternativas.
• Líderes populistas ou autoritários
usam melhor as redes sociais do que lideranças democráticas?
Esse é um paradoxo. Enquanto a
imprensa funcionava como uma espécie de guardião do que você via ou era
informado sobre o mundo, as redes de extrema-direita eram completamente
excluídas da esfera pública. Com a internet, esses movimentos tiveram a chance
de organizar a própria visibilidade – e eles foram muito rápidos e astutos em usar
as redes sociais para seus propósitos, muito melhor do que os partidos
tradicionais que permaneceram numa zona de conforto, acreditando que existiriam
para sempre. Esses partidos são muito bons em compensar o relativo pouco apoio
com que contam na sociedade. Na Europa, em muitos países, o apoio a eles está
em torno de 10, 15% da população, mas eles se tornaram mais visíveis graças à
propaganda. E é muito interessante apontar que a imprensa tradicional, em
muitos casos, os ajuda. Eles fazem campanhas da forma mais ultrajante possível
para chamar a atenção da imprensa, que acaba lhes dando visibilidade.
• Como as redes sociais podem ser
usadas para fortalecer a democracia?
As mídias sociais são um recurso para
a experimentação. A democracia tradicionalmente foca no direito ao voto. Mas
isso não convence mais as pessoas. Nossas constituições não descrevem mais a
democracia como a praticamos no dia de hoje. Votar é um dos modos de exercemos
nossos direitos, mas não é a coisa mais importante nas democracias
contemporâneas. As gerações mais jovens usam as mídias sociais para
experimentar novas formas de se organizar, formar redes, protestar, chamar a
atenção. Essas novas formas são muito voláteis. Alguns movimentos sociais podem
durar um verão ou um ano. E desaparecem. Não têm meios de se estabilizar em
suas organizações, mas, ainda assim, são politicamente ativos – e é importante
que a próxima geração não seja apolítica.
• As sociedades vão ter de acostumar à
volatilidade como a nova realidade das democracias?
Há sempre alternativas no uso das
tecnologias. Nós temos que ter consciência das opções e descrevê-las de forma
que as pessoas possam tomar decisões e não delegar essas decisões ao mercado ou
para engenheiros. A democracia também não é uma coisa estática. Nossa
interpretação de democracia hoje é completamente diferente da concepção dos
anos 1960 e 70, em que nós a associávamos à ideia de autodeterminação coletiva.
Hoje nós interpretamos democracia muito mais como o direito à liberdade
individual de uma pessoa decidir o que quer fazer com a sua vida. A democracia,
portanto, está mudando, e nós temos de ter consciência de que ela pode ser
diferente. Acredito que nós vamos passar por um longo período de mudanças
institucionais. Elas não matarão a democracia, mas ela vai mudar. Nós teremos
que passar por esse processo de volatilidade e instabilidade, que se vê hoje na
Europa, nos Estados Unidos, no Brasil. Não há como fazer regulações para evitar
ou paralisar isso.
• Há alguma forma de controlar a
difusão de “fake news” nas redes sociais?
Acho perigosa a ideia de regulação. O
termo “fake news” sugere que esse seja um fenômeno novo. Mas claro que ele não
é. Na Europa, existem tabloides especializados em produzir “fake news” sobre a
aristocracia e seus bebês e divórcios – e essa cultura longamente estabelecida
é considerada tolerável. Mas, agora com a internet e o crescimento dos partidos
de direita, nós começamos a ficar com medo. Mas meu medo maior é o que os
partidos democráticos se unam aos partidos de extrema-direita para ficar a
favor de restrições à nossa liberdade de expressão. Quem estará na posição de
dizer o que está certo e o que está errado? Nós queremos realmente que uma
organização fique responsável por decidir isso?
• É melhor deixar tudo livre como
está?
Não diria dessa forma. Há umas poucas
áreas em que a regulação seria bem-vinda. Com a internet, como se mostrou no
referendo pelo Brexit, no Reino Unido, há muitas formas de fazer uma campanha
política de modo que ninguém a veja – por meio dos “dark ads” (anúncios
invisíveis nas redes sociais, dirigidos a públicos ultrasegmentados). Nós
precisamos de uma discussão pública e maior transparência no financiamento dos
partidos e movimentos políticos
Referências
http://gilvanmelo.blogspot.com/2019/06/luiz-carlos-azedo-etica-na-politica.html#more
https://revistacult.uol.com.br/home/max-weber-entre-duas-vocacoes/
https://www.ebiografia.com/max_weber/
http://gilvanmelo.blogspot.com/2019/06/a-politica-comecou-se-transformar-antes.html
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