- O anspeçada primeiro não
queria acordar o comandante. Eram ordens. Leônidas insistiu firme e
o comandante teve de pular da cama.
- Bom dia Carcereiro!
Bom dia Comandante!
Paulo Preto transforma prisão em academia e
via Eduardo Cunha como rival
Preso pela Lava Jato, ex-diretor da
Dersa se aproximou de ex-governador do PSDB
04/06/2019 - 17h27min
FOLHAPRESS
Wálter Nunes
CURITIBA, PR (FOLHAPRESS) - Logo no
início da manhã, assim que as celas são abertas, o detento Paulo
Vieira de Souza veste roupas para ginástica e segue até o portão, no
início do corredor. Enche os pulmões e dispara em direção ao
fundo da ala. Quando chega à parede ao final da galeria, gira o
corpo e, com rapidez, volta no mesmo trote.
Conhecido como Paulo Preto, o
engenheiro repete a série dezenas de vezes durante boa parte da manhã, no
Complexo Médico Penal de Pinhais, no Paraná. Depois faz
musculação, suspendendo com os braços garrafas pets cheias de água, usadas
no presídio como pesos de academia.
Acusado de ser operador de caixa dois
de campanhas do PSDB, o ex-diretor da Dersa, estatal paulista que cuida de
obras viárias, vangloria-se do porte atlético, surpreendente para um senhor de
70 anos.
Sou "iron man" (homem de
ferro), repete para os colegas de presídio, em referência ao fato de ser
praticante de triátlon, modalidade que combina pedaladas, corrida e natação em
grandes distâncias.
Paulo Preto foi preso três vezes na
Lava Jato. Duas delas em um processo que corre em São Paulo no qual é acusado
pela Procuradoria de beneficiar quatro empregadas com apartamentos e
auxílios-mudança que deveriam ir para os reassentados pela obra viária do
Rodoanel. Nenhuma delas morava no traçado.
Ele saiu da cadeia nas duas ocasiões
graças a um habeas corpus do ministro Gilmar Mendes (STF). Ainda assim, acabou
condenado em primeira instância a 145 anos de prisão.
Ex-diretor da Dersa Paulo Vieira de Souza,
conhecido como Paulo Preto – TV Globo Reprodução
A terceira prisão, em fevereiro, veio
pela Lava Jato de Curitiba. Os procuradores acusaram o engenheiro de
operar dinheiro ilícito com o setor de propinas da Odebrecht.
A juíza Gabriela Hardt, que até abril
substituiu Sergio Moro à frente da Lava Jato, foi quem determinou a prisão.
Segundo um preso que convive com
ele no Complexo Médico Penal, o engenheiro diz que não ficará muito
tempo atrás das grades. Repete pelos corredores que seu
"goleiro" o tiraria dali. Mas o ex-diretor da Dersa nunca
revelou o nome verdadeiro do dono desse apelido.
Durante pouco mais de duas semanas,
entre o final de março e o início de abril, Paulo Preto conviveu na prisão com
o ex-governador do Paraná Beto Richa (PSDB). O político tucano foi preso sob
suspeita de desvios de verbas da educação do estado.
Richa ocupou uma cela especial antes
do portão da entrada da sexta galeria, onde ficavam os presos da Lava Jato. O
espaço antes era um lugar de descanso para os carcereiros.
Após a prisão do ex-presidente Lula, o
quarto foi reformado para abrigar o petista, caso a Justiça decidisse
transferi-lo para um presídio estadual --desde abril do ano passado Lula cumpre
em uma sala da Superintendência da Polícia Federal em Curitiba.
Paulo Preto, assim que terminava seus
exercícios matinais, seguia para a cela de Richa, onde ficava por horas. Os
dois ficaram conhecidos na galeria como a turma do 45, referência ao número de
campanha do PSDB.
Richa saiu da cadeia em 4 de
abril. Paulo Preto buscou então novas alianças.
Em uma disputa velada contra o
ex-deputado Eduardo Cunha (MDB) pela liderança da ala, o engenheiro passou a
conversar mais com outros presos.
Após a libertação de um
advogado capturado em uma operação de combate à corrupção, Paulo Preto
pediu para ficar com os pertences que o colega deixaria para trás. Não
porque precisasse de algo. Mas porque doaria esse material para um novo
detento, na tentativa de angariar sua simpatia.
Paulo Preto tinha percebido que Cunha
fazia algo parecido, ao fornecer colchões a internos que chegavam na sexta
galeria.
Há duas semanas, Paulo Preto e os
presos da Lava Jato foram transferidos da sexta galeria para um espaço no
Hospital Penitenciário, que fica dentro do Complexo Médico Penal e estava
fechado aguardando reformas.
O Depen (Departamento Penitenciário do
Paraná) justificou a troca de local dizendo que, nos quatro primeiros meses do
ano, houve aumento de 3.635 presos no sistema paranaense e que novas vagas não
foram criadas. Já a sexta galeria tinha espaço ocioso, com 35 presos
e 96 vagas.
Foi criada, então, a sétima galeria,
com celas coletivas para sete pessoas.
O hospital permanecerá fechado e lá
agora estão os presos da Lava Jato e de outras operações policiais que miram
crimes do colarinho branco.
Paulo Preto não terá mais que competir
com Eduardo Cunha pelo protagonismo do lugar. O ex-deputado foi transferido na
última sexta-feira (31) para um presídio do Rio, onde mora sua família.
Bom dia Carcereiro!
Candidatos à PGR criticam eventual escolha de
Dodge fora da lista tríplice
A procuradora-geral da República, Raquel Dodge
Imagem: Fábio Motta - 25.mar.2019/Estadão
Conteúdo
Bernardo Barbosa
Do UOL, em São Paulo
04/06/2019 20h13Atualizada em 04/06/2019
22h33
Candidatos à PGR (Procuradoria-Geral
da República) que participaram hoje de debate em São Paulo criticaram a
possibilidade da recondução ao cargo da atual procuradora-geral, Raquel Dodge,
fora da lista tríplice eleita por procuradores federais. A votação está marcada
para o dia 18.
Ao contrário dos dez procuradores que
participaram do debate hoje, Dodge não se declarou candidata a mais um mandato
de dois anos --o dela termina em setembro. No entanto, recentemente sinalizou
estar disponível a prosseguir no cargo ao dizer que continuaria "a
serviço" da instituição e do país. O procurador-geral ou procuradora-geral
será escolhido(a) pelo presidente Jair Bolsonaro (PSL) --de cuja equipe Dodge
teria recebido um aceno no sentido de que poderia ser novamente indicada ao
cargo.
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Procuradores creem que Bolsonaro,
apesar de falas, seguirá lista para PGR
Sem Dodge, dez procuradores se
candidatam para a sucessão na PGR
Dodge sinaliza estar disponível para
continuar na PGR se Bolsonaro a indicar
Por lei, Bolsonaro não tem a obrigação
de escolher um nome da lista tríplice eleita pelos membros da ANPR (Associação
Nacional dos Procuradores da República) e precisa apenas indicar um integrante
desta carreira. O presidente já deu declarações no sentido de que não ficará
preso à lista --como fez Fernando Henrique Cardoso em 2001. De lá para cá, os
presidentes Lula (PT), Dilma Rousseff (PT) e Michel Temer (MDB) sempre
escolheram um dos três nomes escolhidos pelos procuradores,
Para o subprocurador-geral Mário
Bonsaglia, que figurou nas últimas duas listas tríplices para a PGR, uma
eventual recondução de Dodge causará "surpresa, porque ela participou da
eleição de 2017 e se comprometeu com a lista tríplice”.
"Se queria outro mandato, deveria
ter se inscrito de novo", afirmou.
Candidatos à PGR participam do debate em São
Paulo
Imagem: Divulgação/ANPR
Com a ressalva de que falava em tese,
porque Dodge não disse publicamente que quer continuar na PGR, o procurador
regional José Robalinho Cavalcanti, ex-presidente da ANPR, disse que uma
eventual recondução dela ao cargo seria pior do que a escolha de alguém fora da
lista tríplice.
"Ela tem contas a prestar. Não a
nós apenas, mas à sociedade. Ela exerceu a procuradoria-geral por dois anos e,
em vez de enfrentar um processo dialógico como nós, ela prefere se ocultar de
todo o processo e depois tentar uma indicação para mais dois anos, indo
contrário a tudo o que ela defendeu", disse. "Mas eu realmente não
acredito que isso aconteça”.
Para o procurador regional Vladimir
Aras, Dodge "deveria estar conosco debatendo, se legitimando, como outros
procuradores-gerais fizeram", como Antônio Fernando de Souza, Roberto
Gurgel e Rodrigo Janot.
A subprocuradora-geral Luiza
Frischeisen também lembrou que estes procuradores-gerais disputaram a indicação
para a lista tríplice. "Acho que, se ela [Dodge] pretende ser reconduzida,
deveria ter concorrido", disse. "A lista é muito importante para nós,
que somos mais de 1.100 procuradores”.
O procurador regional Lauro Cardoso
declarou que Dodge, caso pretenda permanecer no cargo, deveria participar da
eleição junto à categoria. Segundo ele, a disputa "constitui, embora não
seja obrigatória a observância da lista, um diálogo respeitoso da carreira com
o presidente da República”.
Tentam "implodir" lista, diz
candidato
Os candidatos também falaram sobre a
possibilidade da indicação, em geral, de um procurador que não integre a lista
tríplice e afirmaram que alguém escolhido desta forma não teria legitimidade
junto à classe para conduzir a PGR. O subprocurador Augusto Aras, por exemplo,
se colocou como candidato "por fora”.
Para Vladimir Aras --que é primo de
Augusto-- "há uma tentativa interna de implosão da lista, mais do que
externa", o que considerou preocupante para a "legitimação da
liderança" do procurador-geral.
Aras, no entanto, não citou nomes que
estariam tentando "implodir" a lista. "Não quero fulanizar a
questão", disse.
Lauro Cardoso também disse que a
votação para a lista faz parte de "um processo de legitimação" para
que o procurador-geral "possa exercer sua função com autonomia,
independência funcional e exerça a liderança em uma instituição que não é
organizada na base da hierarquia”.
Mário Bonsaglia disse confiar que a
escolha do sucessor de Raquel Dodge será feita com base na lista tríplice e que
as candidaturas fora dela "não têm condições de prosperar”.
José Robalinho Cavalcanti, por sua
vez, afirmou que "não há por que acreditar" que Bolsonaro indicará
alguém fora da lista tríplice.
"Ele sempre foi uma pessoa
defensora de um Ministério Público atuante e independente, escolheu como
ministro da Justiça um dos ícones da Lava Jato (Sergio Moro). Ele sabe que a
Lava Jato seria uma sombra do que foi sem a lista tríplice", disse.
Segundo Luiza Frischeisen, os
procuradores ficariam decepcionados caso o presidente não escolha um integrante
da lista tríplice.
"O MPF entende que esse é um
patrimônio institucional, que a gente conseguiu construir", disse.
"Ele pode escolher fora da lista, mas, se ele escolher da lista, nós do
MPF ficaremos mais satisfeitos, com certeza”.
A Constituição impõe a formação de uma
lista tríplice para a escolha dos procuradores-gerais dos Ministérios Públicos
estaduais, o que costuma ser usado como argumento por defensores do uso deste
mecanismo para a escolha do procurador-geral da República.
No entanto, a mesma Constituição não
traz as mesmas condições para a definição do mais alto cargo do MPF. Segundo o
artigo 128, o procurador-geral da República deve ser "nomeado pelo
presidente da República dentre integrantes da carreira, maiores de 35 anos,
após a aprovação de seu nome pela maioria absoluta dos membros do Senado Federal,
para mandato de dois anos, permitida a recondução”.
Além dos entrevistados, concorrem à
lista tríplice os procuradores Antônio Carlos Fonseca, Blal Dalloul, José
Bonifácio de Andrada, Nívio de Freitas e Paulo Bueno. Os candidatos já
estiveram em Belém e Recife. Amanhã, debatem no Rio de Janeiro. Porto Alegre
(dia 11) e Brasília (dia 14) receberão os últimos debates antes da eleição da
lista.
Revolução Constitucionalista de 1932
Sem dúvida um dos mais importantes e
dramáticos acontecimentos da história republicana brasileira. Expressão da
insatisfação dos paulistas com a Revolução de 1930, o movimento serviu, antes
de mais nada, para convencer o Governo Provisório de Getúlio Vargas da
necessidade de pôr fim ao caráter discricionário do regime sob o qual vivia o
país. Isto só aconteceria quando a constituição de 1890, tornada sem efeito,
fosse substituída por outra
Mas por quê a decisão de pegar em
armas?
Se o Partido Republicano Paulista
(PRP) congregava as forças conservadoras do estado, por outro lado, o Partido
Democrático de São Paulo desde o início se envolveu com a campanha da Aliança
Liberal e com as articulações da Revolução de 1930. É sabido que o estado de
São Paulo foi a principal base política da chamada República Velha e do sistema
oligárquico por ela instaurado, ou seja, representava exatamente aquilo que o
movimento de 1930 pretendia mudar.
Pode-se compreender, portanto, como
seria difícil estabelecer, após a vitória da revolução, um novo equilíbrio de
forças no estado. Deposto o presidente Washington Luís, e enquanto o país
passava a ser governado por uma junta militar, o governo paulista foi assumido
pelo comandante da 2ª Região Militar, general Hastínfilo de Moura. Nesse
momento, o PD forneceu a maioria do novo secretariado. Mas, logo em seguida,
Getúlio Vargas assumiu a chefia do Governo Provisório e, pressionado pela
liderança tenentista, decidiu nomear um delegado militar para governar São
Paulo, o tenente João Alberto Lins de Barros.
Ficou
clara, então, a divergência entre os projetos políticos dos paulistas e dos
tenentes. João Alberto governou até 13 de julho de 1931, e no período seguinte
houve grande instabilidade: Plínio Barreto (paulista, civil e
constitucionalista, mas fiel ao Governo Provisório e indicado por João Alberto)
foi cogitado para interventor, mas desistiu; Laudo Ferreira de Camargo (também
paulista e civil, apresentado como solução de compromisso, embora sem o apoio
do PD e do PRP), tomou posse mas renunciou em novembro de 1931; finalmente
assumiu Manuel Rabelo, que não contou com o apoio dos constitucionalistas, por
ser militar e ligado aos tenentes.
Em fevereiro de 1932 a situação se
agravou. O PD rompeu com Vargas e seu governo, ao mesmo tempo que se aproximaou
dos antigos adversários do PRP, formando a Frente Única Paulista (FUP), que se
tornou a porta-voz das reivindicações de reconstitucionalização e de autonomia
administrativa para o estado de São Paulo. Mais do que isso, a FUP passou a
articular, junto aos meios militares e a algumas das principais entidades de
classe do patronato paulista, a preparação de um movimento armado contra o
Governo Provisório.
Vargas,
por seu lado, procurando contornar a situação, optou pela nomeação de Pedro de
Toledo para a interventoria paulista, quase ao mesmo tempo em que apresentava o
novo Código Eleitoral (ambas as medidas de fevereiro de 1932) e marcava
eleições para 1933 (em maio). Esse recuo, no entanto, não conseguiu estancar a
exaltação da FUP e dos paulistas em geral, apesar de o PD, a essa altura, já
controlar o secretariado do novo interventor. A morte de estudantes em um
confronto com forças legais acabou introduzindo no cenário político o ingrediente
que faltava: mártires. Suas iniciais – Miragaia, Martins, Dráusio e Camargo –
passaram a designar a sociedade secreta MMDC, interessada em articular a
derrubada de Vargas.
A 9 de julho de 1932 eclodiu na
capital paulista a Revolução Constitucionalista, liderada pelo general Isidoro
Dias Lopes, o mesmo do levante de 1924. Contando com a participação de vários
remanescentes do movimento de 1930, como os militares Bertoldo Klinger e
Euclides Figueiredo, a revolução contou com amplo apoio dos mais diversos
segmentos das camadas médias paulistas.
Nos
poucos meses de conflito, São Paulo viveu um verdadeiro esforço de guerra. Não
apenas as indústrias se mobilizaram para atender às necessidades de armamentos,
mas também a população se uniu na chamada Campanha do Ouro para o Bem de São
Paulo. Pela primeira vez buscavam-se iniciativas não apenas militares para
romper o isolamento a que o estado fora submetido. Faltou, no entanto, a
esperada adesão das forças mineiras e gaúchas. Os governos de Minas Gerais e do
Rio Grande do Sul, embora apoiassem a luta pela constitucionalização, decidiram
manter-se leais ao Governo Provisório.
Isolado, o movimento fracassou. Em 1º
de outubro de 1932 foi assinada a rendição que pôs fim à Revolução
Constitucionalista. Enquanto os principais líderes tiveram seus direitos políticos
cassados e foram deportados para Portugal, o general Valdomiro Lima – gaúcho e
tio de Darcy Vargas, mulher de Getúlio – era nomeado interventor militar em São
Paulo, cargo em que permaneceria até 1933.
Das armas ao voto: o saldo da
Revolução de 1932
Se,
do ponto de vista militar, os paulistas saíram derrotados do movimento de 1932,
o mesmo não se pode dizer em relação à política e à economia. São Paulo
continuava a ser o principal fornecedor de divisas do país, num quadro de crise
econômica mundial e de queda do preço do café no mercado internacional. Assim
pressionado, o Governo Provisório manteve a política de valorização do café,
comprando e retendo estoques, além de permitir o reescalonamento das dívidas
dos cafeicultores e aceitar bônus de guerra como moeda legal, entre outras
medidas.
Em termos políticos, o que se
verificou na prática foi o fortalecimento do projeto constitucionalizante, com
Vargas reativando a comissão que elaboraria o anteprojeto de Constituição e com
a criação de novos partidos para concorrer às eleições para a Assembléia
Nacional Constituinte. Estas, realizadas em maio de 1933, deram a vitória à
Chapa Única por São Paulo Unido, composta por membros da FUP que haviam
permanecido no país e amplamente dominada por representantes do PRP. Além
disso, em agosto de 1933, São Paulo finalmente viu chegar um civil e paulista à
chefia do governo do estado, com a indicação de Armando de Sales Oliveira para
substituir o general Valdomiro Lima. Em 1935, Armando Sales foi eleito
governador constitucional de São Paulo pela Assembléia Constituinte Estadual.
Regina da Luz Moreira
Para saber mais:
Dica: na consulta, escolha TODOS
ARQUIVOS, clique no tipo de documento desejado (se quiser ver mais fotos,
escolha AUDIOVISUAL), selecione da lista de assuntos Revolução
Constitucionalista de 1932, Frente Única Paulista, Partido
Democrático de São Paulo, Campanha do Ouro para o Bem de São Paulo, Legião
Revolucionária de São Paulo (1930-1932), ou aos personagens envolvidos e
execute a pesquisa.
Sugerimos a leitura de alguns verbetes
que se encontram disponíveis no Dicionário Histórico-Biográfico Brasileiro,
tais como: O Estado de São Paulo, Revolução de 1932 e Getúlio Vargas.
Muitos outros textos sobre o tema
podem ser consultados no dossiê Navegando na História - A era Vargas (1º
tempo), particularmente os módulos Anos 20 e Anos de Incerteza.
Outros documentos e informações
relacionadas ao assunto estão disponíveis on-line. Basta realizar a consulta em
nossa base de dados Accessus.
Guerra Civil
- O anspeçada primeiro não
queria acordar o comandante. Eram ordens. Leônidasinsistiu firme e
o comandante teve de pular da cama.
Contos Avulsos por
Alcântara Machado
Guerra Civil
Guerra Civil
Em Caguaçu os revolucionários. Em São
Tiago os legalistas. Entre os dois indiferente o rio Jacaré. O delegado
regional de Boniteza mandara recolher as barcas e as margens só podiam mesmo
estreitar relações no infinito. De dia não acontecia nada. Os inimigos caçavam
jararacas esperando ataques que não vinham. Por isso esperavam sossegados.
Inutilmente os urubus no vôo lindo deles se cansavam indo e vindo de bico
esfomeado. Os guerreiros gozavam de perfeita saúde.
De noite tinha o silêncio. Qualquer
barulho assustava. Os soldados de guarda se preparavam para morrer no seu posto
de honra. Mas era estalo de árvores. Ou correria de bicho. A madrugada se
levantava sem novidades. Por isso a luta entre irmãos decorria verdadeiramente
fraternal.
Porém uma manhã chegou a Boniteza a
notícia de que do lado de Caguaçu qualquer coisa de muito grave se preparava.
Tropas marchavam na direção do rio trazendo canhões, carros de combate, grande
provisão de gases asfixiantes comprada na Argentina, aeroplanos, bombas de
dinamite, granadas de mão e dinheiro, todos esses elementos de vitória. Um
engenheiro russo construiria em dois tempos uma ponte sobre o Jacaré e o resto
seria uma corrida fácil até a capital do país. Desta vez a cousa iria mesmo.
Boniteza se surpreendeu mas não se
acovardou. Com rapidez e entusiasmo começou a preparar tudo para a defesa. Ao
longo do rio se abriu uma trincheira inexpugnável. Caminhões descarregaram
tropas em todos os pontos. As metralhadoras foram ajustadas, os fuzis
engraxados, os caixotes de munições abertos. Costureiras solícitas pregaram
botões nas fardas das praças mais relaxadas. Nas barbearias os vidros de loção
estrangeira se esvaziaram na cabeça dos sargentos. Era de guerra o ar que se
respirava.
A noite encontrou os combatentes a
postos. Na trincheira eles velavam apoiados nos fuzis. Sentinelas foram
destacadas para vigiar a margem inimiga. Entre elas o sorteado Leônidas
Cacundeiro.
Era infeliz porque sofria de dor de
dentes crônica, piscava sem parar e gaguejava. Foi para o seu posto de
observação, deitou-se de barriga num cobertor velho. Só o busto meio erguido,
ficou olhando na frente dele de fuzil na mão. Tinha ordens severas: vulto que
aparecesse era mandar tiro nele. Sem discutir.
Leônidas Cacundeiro deu de pensar.
Pensava uma cousa, o ventinho frio jogava o pensamento fora, pensava outra.
Tudo quieto. Ainda bem que havia luar. Do alto da ribanceira ele examinava as
águas do Jacaré. Ou então erguia o olhar e descobria nas nuvens a cabeleira de
um maestro, um cachorro sem rabo, duas velhinhas, pessoas conhecidas.
Agora o frio era o frio da madrugada.
O Doutor Adelino costumava dizer: Quando vocês sentirem frio pensem no Pólo
Norte e sentirão logo calor. Pensou no Pólo Norte. Lembranças vagas de uma fita
vista há muito tempo. Gelo e gelo e mais gelo. No meio do gelo um naviozinho
encalhado. Homens barbudos, jogando fumaça pela boca, encapotados e enluvados,
com cachorros felpudos. Duas barracas à esquerda. E aquela branquidão. Forçou
bem o olhar. Um urso pardo com duas bandeirinhas. Um urso em pé com uma
bandeirinha na pata direita, outra bandeirinha na pata esquerda. Nenhuma arma.
Deu um berro: - Alto!
Ficou em posição de tiro. O soldado
não podia mesmo dar um passo à frente senão caía no rio. Começou a mexer com os
braços. Levantava uma bandeirinha, abaixava outra, levantava as duas.
Leônidas pensou: - Que negócio será
aquele?
Foi chamar o sargento. O sargento
veio, olhou muito, disse: - Que negócio será aquele? Vá chamar o tenente!
Leônidas foi chamar o tenente, veio
correndo com ele. O tenente limpou os óculos com o lenço de seda, verificou se
o revólver estava armado, olhou muito, falou coçando a nuca: - Que negócio será
aquele? Vá chamar o major!
Leônidas partiu em busca do major. No
acampamento não estava. Foi até Boniteza. Encontrou um cabo. O cabo mandou
Leônidas bater na casa da viúva Dona Birigüi ao lado do Correio. O major
apareceu na janela com má vontade. Resmungou: - Já vou. Leônidas comboiou o
major até o rio, o major teve uma conferência com o tenente, subiu num pé de
pitanga, falou lá de cima: - Que negócio será aquele? Vá chamar o comandante!
O anspeçada primeiro não queria
acordar o comandante. Eram ordens. Leônidas insistiu firme e o comandante teve
de pular da cama. Leônidas fazendo continência explicou o caso. O coronel
disse:
- Às seis estou lá.
Eram cinco, Leônidas voltou com o
recado. O major, o tenente, o sargento estavam nervosos. De vez em quando um
deles chegava mais perto da margem e o soldado do outro lado recomeçava a
ginástica: bandeirinha na frente, bandeirinha atrás, bandeirinha apontando o
céu, bandeirinha apontando o chão. Ia repetindo com uma paciência desgraçada.
Então já havia passarinhos cantando,
barulho de vida em Boniteza, só a cara amarrotada dos insones não resplendia na
luz da manhãzinha. Toques de cometa chegavam de longe despedaçados. Na banda de
lá do Jacaré o homem da bandeirinha habitava sozinho a paisagem com uma vontade
louca de tomar café bem quente e bem forte. Era a hora da raiva e todos se
espreguiçavam com o sol que chegava.
O Coronel Jurupari ouviu calado a
narração do estranho caso. Fez em seguida duas ou três perguntas hábeis com o
intuito de esclarecê-lo tanto quanto possível. Chamou de lado o major e o
tenente, os três discutiram muito, emitiram suas opiniões sobre assuntos de
estratégia e balística que pareciam oportunos naquela emergência, fumaram
vários cigarros. Afinal o coronel entre o major e o tenente avançou até a
margem de binóculo em punho. Assim que ele assentou o binóculo, da outra banda
do Jacaré recomeçou a dança das bandeirinhas. O coronel olhando. A sua primeira
observação foi: - É um cabo e não tem má cara. Depois de uns minutos veio a
segunda: - Hoje é dor de cabeça na certa com este noroeste. A terceira
alimentou ainda mais a já angustiosa incerteza dos presentes: - Mas que negócio
será aquele? Daí a uns instantes repetiu: - Mas que diabo de negócio será mesmo
aquele? Porém acrescentou numa ordem para o Leônidas: - Vá chamar o sinaleiro!
O sinaleiro veio chupando o nariz.
Olhou, deu uma risadinha, tirou um papel e um lápis do bolso traseiro da calça,
ajoelhou-se com uma perna só, pôs o papel na coxa da outra, passou a ponta do
lápis na língua, começou a tomar nota. Dava uma espiada, as bandeirinhas se
mexiam, escrevia. O Coronel Jumpari, o major, o tenente, o sargento e o
sorteado Leônidas Cacundeiro esperavam o resultado de armas na mão e ansiedade
nos olhos.
O sinaleiro se levantou, ficou em
posição de sentido e com voz pausada e firme leu a mensagem enviada pelos
revolucionários de Caguaçu: Saúde e Fraternidade.
O coronel mandou responder agradecendo
e retribuindo. Ex-corde.
Contos Avulsos por
Alcântara Machado
Guerra Civil
Guerra Civil
Obras – Antônio de Alcântara Machado
- O anspeçada primeiro não queria acordar
o comandante. Eram ordens. Leônidasinsistiu firme e o comandante teve
de pular da cama.
Referências
https://f.i.uol.com.br/fotografia/2019/03/01/15514843585c79c5c6ed87d_1551484358_3x2_xl.jpg
https://gauchazh.clicrbs.com.br/politica/noticia/2019/06/paulo-preto-transforma-prisao-em-academia-e-via-eduardo-cunha-com-rival-cjwi98yex02hn01lxycwj0mll.html
https://conteudo.imguol.com.br/c/noticias/a5/2019/03/25/a-procuradora-geral-da-republica-raquel-dodge-durante-o-seminario-transparencia-e-combate-a-corrupcao-realizado-na-manha-desta-segunda-feira-25-de-marco-de-3019-no-museu-do-amanha-no-centro-da-1553530289288_v2_900x506.jpg
https://conteudo.imguol.com.br/c/noticias/a3/2019/06/04/4jun2019---candidatos-a-pgr-procuradoria-geral-da-republica-participam-de-debate-na-sede-da-procuradoria-regional-da-republica-da-3-regiao-em-sao-paulo-1559690474150_v2_600x337.jpg
https://noticias.uol.com.br/politica/ultimas-noticias/2019/06/04/candidatos-a-pgr-criticam-eventual-escolha-de-dodge-fora-da-lista-triplice.htm
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https://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/FatosImagens/Revolucao1932
https://pt.wikisource.org/wiki/Guerra_Civil
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