quarta-feira, 4 de outubro de 2017

Capitu mandou flores

“Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado de nossa miséria”, diz Brás Cubas ao final do romance machadiano.

“O mesmo não se pode dizer de Machado de Assis, que teve filhos, netos e bisnetos literários, até hoje por aí, a provocar estragos e aumentar o legado do gênio, às vezes com homenagens, nem sempre com glórias.” Paulo Paniago




Capitu mandou flores no centenário da morte de Machado



Capitu mandou flores
Autor / Organizador: Rinaldo de Fernandes
Categoria: Contos

Sinopse:
Nos cem anos da morte de Machado de Assis, 40 escritores brasileiros recriam seus 10 melhores contos – mais trechos e situações do romance DOM CASMURRO – e escrevem sobre a obra do maior escritor brasileiro de todos os tempos. A presente edição publica os 10 contos originais nos quais se basearam estes autores para levar adiante este enorme desafio: recontar, à luz de hoje, histórias que Machado de Assis tornou eternas.

Para que serve um livro como este? Em primeiro lugar, informa a editora, trata-se de um reencontro com a obra de Machado de Assis, nos cem anos de sua morte. Ler – para as novas gerações – ou reler 10 das melhores histórias de Machado é sem dúvida uma experiência literária e humana muito rica. Ler como autores consagrados, emergentes ou promissores recontaram as mesmas histórias é também exercício intelectual mais do que estimulante.




Que Dilma mandou?


30/06/2015


Opinião

DILMA DIZ A VERDADE E É FORTE



por Rinaldo de Fernandes*

De todas as pessoas na política e no jornalismo que estão falando de Dilma, tenho absoluta certeza, a mais honesta é a própria Dilma. Podem falar o que falar da presidenta Dilma, mas ela é honesta e, quando se manifesta, diz a verdade.
Os opositores podem xingá-la, agredi-la verbalmente (como foi agredida num estádio em São Paulo), porém ela não se verga diante dos insultos, das investidas desqualificadoras de quem quer que seja. É olímpica.
A força de Dilma, ressalte-se, vem desde a juventude, quando foi presa e torturada pela ditadura militar. Não é e nunca foi fácil ser torturado. Com Dilma tentaram, com o instrumento da tortura, torná-la delatora – e ela não cedeu, teve dignidade suficiente para não delatar companheiros de ações e utopias.
Dilma ontem deu sinais de que vai começar a reagir aos que (irresponsável e aventureiramente, por não terem a hombridade de saber perder, e sobretudo por grandes interesses financeiros em jogo, interesses certamente antipopulares, de tirar o pouco que o povo adquiriu nos últimos anos) estão tentando impedi-la de governar.
Nos EUA, Dilma foi segura ao afirmar que o empresário Ricardo Pessoa, da UTC, “mente” no que se refere às doações feitas para a campanha dela. E acrescentou: “Eu não tenho rabo preso com ninguém”, mandando ainda um recado direto ao juiz Moro: “eu não respeito delator”.
E não respeita porque, reafirmo, também quiseram fazer dela uma delatora, na ditadura, e ela sabe o que está em jogo, que tipo de pressão psicológica é preparada para se obterem confissões.
E Dilma concluiu, dizendo praticamente tudo o que se passa no país, com uma oposição voraz, que tem o apoio diuturno da grande imprensa e que também tem seu braço na Justiça e na Polícia Federal: “Eu não aceito e jamais aceitarei que insinuem sobre mim ou a minha campanha qualquer irregularidade. Primeiro porque não houve. Segundo, se insinuam, alguns têm interesses políticos”.
Se houve falcatrua na campanha de Dilma, como, de resto, deve ter havido em todas as campanhas e de todos os partidos, creio que não foi com a conivência dela.
Eu critico o governo da Dilma, que, com seu reajuste fiscal, tem retirado conquistas sociais importantes, mas, no que se refere à verdade no campo político, sinceramente, e posso estar cometendo um erro, acredito muito mais nela do que nos que a combatem.


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* Escritor, autor de 14 livros e professor de literatura na UFPB. Doutor em Letras pela Universidade Estadual de Campinas (SP).




Que conto ou romance de Machado de Assis você prefere e por quê?

Rinaldo de Fernandes – Os três romances capitais de Machado são Memórias póstumas de Brás Cubas, Quincas Borba e Dom Casmurro. A história de Capitu e Bentinho (Dom Casmurro) é a minha preferida. Os 10 contos que estão na antologia Capitu mandou flores são extraordinários. Talvez pelo fato de eu os ter lido e relido várias vezes na preparação do livro, terminei os tendo como os meus preferidos também. “Missa do Galo”, “O Espelho”, “O Enfermeiro”, “O Alienista” e “A causa secreta”, para só citar estes cinco (dos cerca de 200 contos escritos por Machado), são peças riquíssimas, que retratam com muita força a natureza humana. Estão, certamente, entre os melhores contos da literatura universal.  E há retrato mais pungente da escravidão do que um relato como “Pai contra mãe”? Penso que não.




Sete microcontos eróticos

Por Rinaldo de Fernandes
Em 14/03/2012

SALIVA
Porque ele mordera a orelha dela, a noite lhe virou saliva.

NO CINEMA
A mão aprendeu logo o que é uma calcinha molhada.

OS MINUTOS
Ouviu os latidos. Foi à janela, correu a cortina – o cachorro empurrando a cadela contra o muro. Então, no sofá, a almofada entre as coxas, ficou mordendo os minutos.

FRIO E QUENTE
Frio é o destino da ponte – os pés sempre na água. Quente é o sonho da moradora do 809 – os seios derretendo-se na boca do porteiro.

PIZZAS
Foi a língua do entregador de pizzas que a acordou para os sábados.

MARIA NA TEMPESTADE
A chuva é a queda dos ventos. E Maria, sozinha, é quem umedece os relâmpagos.

AO VIZINHO CASCA-GROSSA
A estrela lhe contou que os ruídos da cama são os estalos do carinho.

Rinaldo de Fernandes é contista, romancista, ensaísta e antologista. Publicou os livros de contos O perfume de Roberta (Garamond, 2005) e O professor de piano (7Letras, 2010) e o romance Rita no Pomar (7Letras, 2008 – finalista do Prêmio São Paulo de Literatura e do Prêmio Passo Fundo Zaffari & Bourbon). Organizou, entre outras, as antologias Contos cruéis (Geração Editorial, 2006) e Capitu mandou flores (Geração Editorial, 2008). E-mail: rinaldofernandes@uol.com.br



Revista Graphos, vol. 14, n° 1, 2012 | UFPB/PPGL | ISSN 1516-1536

 O CONTO BRASILEIRO DO SÉC. XXI
Rinaldo de Fernandes 1

NOTA:
Para compor o presente ensaio me vali da minha experiência de crítico (em minha coluna no jornal Rascunho, de Curitiba, tenho sempre tratado de contos contemporâneos), de professor de Literatura Brasileira e, sobretudo, de antologista. Como alguns sabem, organizei, já nos anos 00, três antologias: Contos cruéis: as narrativas mais violentas da literatura brasileira contemporânea (São Paulo: Geração Editorial, 2006), Quartas histórias: contos baseados em narrativas de Guimarães Rosa (Rio de Janeiro: Garamond, 2006) e Capitu mandou flores: contos para Machado de Assis nos cem anos de sua morte (São Paulo: Geração Editorial, 2008). Constam dessas antologias 118 contos, que li atentamente. Convivi meses com eles, comentei-os com muitos dos seus autores. Um corpus tão amplo, envolvendo escritores dos mais expressivos de nossa literatura atual, alguns já consagrados (a exemplo de Luiz Vilela, Dalton Trevisan, Moacyr Scliar, Rubem Fonseca, Lygia Fagundes Telles e Nélida Piñon), a maioria emergentes, outros ainda jovens promessas, não poderia, pelo menos em parte, ficar de fora de uma pesquisa séria sobre o conto brasileiro do séc. XXI. Procuro, assim, não exclusivamente, já que utilizo várias outras referências, dialogar com esse corpus, atento em especial à força dos emergentes. No ensaio, comento 28 contos, distribuindo-os em cinco vertentes, que, penso, podem ser úteis como primeira tentativa de classificação do conto brasileiro do séc. XXI. Se às vezes o ensaio beira o depoimento pessoal ou se faz em tom de quase conversa, afastando-se da dicção acadêmica, isto não impede que, no corpo-a-corpo com os contos, o comentário crítico seja criterioso, objetivo, esforçando-se o máximo para interpretar uma primeira e indispensável camada da narrativa, o que poderá auxiliar o leitor comum ou mesmo o pesquisador. E ainda o professor — devidamente equipado com os contos aqui abordados — em sala de aula.


Até tu, Pet, ou Rita no Pomar e a arte de (des)pentear cachorros
Ravel Paz

Resumo

O trabalho consiste em uma leitura do romance de estreia do escritor paraibano Rinaldo de Fernandes, Rita no Pomar. Dialogando com o posfácio de Silviano Santiago para o livro, buscamos compreender o papel exercido, nos sentidos do texto, pelos dois principais registros narrativos que o compõem, sobretudo o mais frequente deles: a narração pela protagonista de suas agruras passadas e presentes ao cachorro Pet. A nosso ver, é nos efeitos sutilmente instaurados por essa estratégia enunciativa que a história de Rita revela sua riqueza formal, psicológica e antropossociológica, ultrapassando e desconstruindo os padrões das narrativas de suspense, às quais muito se assemelha, e colocando em xeque o sistema de culpabilidade jurídico-psicológica que se localiza na base não só dessas narrativas como da sociedade moderna, ou mesmo, quem sabe, da dita sociabilidade humana. Finalmente, no outro extremo dessa operação desconstrutora, que também passa pela indicação do lugar de Rita na semicultura (Adorno) contemporânea, localizamos um sutil sopro libertário, que nos sugere uma aproximação entre os anseios corrompidos da personagem e certa filosofia helenística.

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Referências

http://nalinhadavida.blogspot.com.br/2009/04/capitu-mandou-flores.html
http://geracaoeditorial.com.br/wp-content/uploads/2013/02/capitu_mandou_flores-206x300.jpg
http://geracaoeditorial.com.br/capitu-mandou-flores/
http://entretenimento.r7.com/blogs/blog-da-db/files/2014/03/dilma-ditadura1.png
http://rinaldofernandes.blog.uol.com.br/arch2015-06-28_2015-07-04.html
https://maldemontano.wordpress.com/2008/10/06/capitu-mandou-flores-no-centenario-da-morte-de-machado/
http://www.musarara.com.br/sete-microcontos-eroticos
file:///D:/Usu%C3%A1rio/Downloads/13407-22792-1-PB.pdf
http://revistas.iel.unicamp.br/index.php/remate/article/view/1131
http://revistas.iel.unicamp.br/index.php/remate/article/view/1131/1105

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