Imaginação Material
Segundo FHC e
Bachelard
Página Pautada
"Sou cartesiano com elementos
de candomblé e vodu' FHC
do
enviado especial ao Rio de Janeiro São Paulo, Quarta-feira, 30 de Junho
de 1999 Folha de São Paulo
O presidente Fernando Henrique Cardoso, durante o discurso de encerramento da Cúpula do Rio, se disse, "do ponto de vista do espírito, alguém com uma formação cartesiana, com algum elemento de candomblé e de vodu (culto da América Central)".
"Sem esses elementos não serei propriamente brasileiro e latino-americano", afirmou ele aos líderes latinos e europeus.
Ao se definir como cartesiano, o presidente se referia a René Descartes (1596-1650), filósofo e matemático francês, um dos fundadores do racionalismo e criador do Método da Dúvida, com o qual esperava chegar a uma opinião ou crença que não estivesse sujeita à dúvida e construir o conhecimento a partir desse fundamento.
Em outras oportunidades, FHC já se definiu como um cartesiano com "pitadas" de candomblé. Ontem, quando falava sobre a integração cultural entre América Latina e Europa, ele incorporou o vodu na máxima.
"Aqui (na América Latina), de alguma maneira, nós estamos recriando a Europa, mas com pitadas de África, de Ásia, de Índia, de Japão", disse. "Basta olhar qualquer jardim do Rio de Janeiro. Tem um desenho francês, inglês, mas o trópico domina."
O presidente afirmou que a educação é fundamental para reduzir as diferenças entre os países e citou medidas que o Brasil está tomando na área.
Ele chegou a dizer que, apesar dos problemas, há "fortes assimetrias" na educação do país. "Ao mesmo tempo que lutamos contra o analfabetismo, (...) para nossa surpresa 75% dos que informam (os rendimentos) ao Imposto de Renda utilizam a Internet."
FHC afirmou que a demanda das pessoas carentes em aprender inglês e dominar a Internet mostra que elas percebem e querem participar ativamente da globalização.
Original e cópia
O presidente citou um trabalho que escreveu na Universidade de Cambridge (Inglaterra) -""A Originalidade da Cópia"- para falar de influências culturais.
"Eu me pergunto que cultura não é uma cópia original", disse.
Segundo ele, em regiões asiáticas, "o classicismo helênico se transformou no encontro com o hinduísmo e produziu uma grande cultura". "Quem sabe amanhã, na Europa, os senhores possam encontrar elementos culturais e materiais de algo produzidos por nós", afirmou. "E ao reencontrarem a cópia, vão ficar sem saber: é original ou é cópia?"
No almoço dos chefes de Estado e governo que encerrou a cúpula, FHC, como no jantar de anteontem, voltou a dispensar a leitura do discurso e saudou os convidados em cinco línguas (português, francês, inglês, alemão e espanhol).
O presidente despertou o riso e os aplausos dos colegas, quando deu sua definição para a língua espanhola: "É um português um pouquinho diferente, porque não aprenderam bem, mas meu coração é hispânico".
(AUGUSTO GAZIR)
O presidente Fernando Henrique Cardoso, durante o discurso de encerramento da Cúpula do Rio, se disse, "do ponto de vista do espírito, alguém com uma formação cartesiana, com algum elemento de candomblé e de vodu (culto da América Central)".
"Sem esses elementos não serei propriamente brasileiro e latino-americano", afirmou ele aos líderes latinos e europeus.
Ao se definir como cartesiano, o presidente se referia a René Descartes (1596-1650), filósofo e matemático francês, um dos fundadores do racionalismo e criador do Método da Dúvida, com o qual esperava chegar a uma opinião ou crença que não estivesse sujeita à dúvida e construir o conhecimento a partir desse fundamento.
Em outras oportunidades, FHC já se definiu como um cartesiano com "pitadas" de candomblé. Ontem, quando falava sobre a integração cultural entre América Latina e Europa, ele incorporou o vodu na máxima.
"Aqui (na América Latina), de alguma maneira, nós estamos recriando a Europa, mas com pitadas de África, de Ásia, de Índia, de Japão", disse. "Basta olhar qualquer jardim do Rio de Janeiro. Tem um desenho francês, inglês, mas o trópico domina."
O presidente afirmou que a educação é fundamental para reduzir as diferenças entre os países e citou medidas que o Brasil está tomando na área.
Ele chegou a dizer que, apesar dos problemas, há "fortes assimetrias" na educação do país. "Ao mesmo tempo que lutamos contra o analfabetismo, (...) para nossa surpresa 75% dos que informam (os rendimentos) ao Imposto de Renda utilizam a Internet."
FHC afirmou que a demanda das pessoas carentes em aprender inglês e dominar a Internet mostra que elas percebem e querem participar ativamente da globalização.
Original e cópia
O presidente citou um trabalho que escreveu na Universidade de Cambridge (Inglaterra) -""A Originalidade da Cópia"- para falar de influências culturais.
"Eu me pergunto que cultura não é uma cópia original", disse.
Segundo ele, em regiões asiáticas, "o classicismo helênico se transformou no encontro com o hinduísmo e produziu uma grande cultura". "Quem sabe amanhã, na Europa, os senhores possam encontrar elementos culturais e materiais de algo produzidos por nós", afirmou. "E ao reencontrarem a cópia, vão ficar sem saber: é original ou é cópia?"
No almoço dos chefes de Estado e governo que encerrou a cúpula, FHC, como no jantar de anteontem, voltou a dispensar a leitura do discurso e saudou os convidados em cinco línguas (português, francês, inglês, alemão e espanhol).
O presidente despertou o riso e os aplausos dos colegas, quando deu sua definição para a língua espanhola: "É um português um pouquinho diferente, porque não aprenderam bem, mas meu coração é hispânico".
(AUGUSTO GAZIR)
Duda metódica
El
objetivo de Descartes es
encontrar verdades contundentes, tangibles y fácticas sobre las cuales no sea
posible dudar en absoluto, verdades evidentes que permitan fundamentar la
edificación del conocimiento con absoluta garantía. El primer problema
planteado es cómo encontrarlas y, para resolverlo, expone el método.1
En
este método la cuestión es por dónde empezar la búsqueda. La respuesta y el
primer momento de este proceso de búsqueda del conocimiento verdadero es la
llamada duda metódica. La duda metódica consiste en considerar como falso a
cualquier supuesto del que se pueda dudar. Si esta existe, este supuesto se
puede considerar verdadero o falso. Pero la duda funciona como falsedad porque
se percibe falso y se elimina la verdad. Es decir, que si Descartes encontraba
alguna duda en la raíz de un supuesto, lo podía considerar como falso.1
Antecedentes
en el método y en los argumentos de Descartes[editar]
Lo
que plantea Descartes al exponer la duda metódica y demás argumentos
fundamentales del Discurso del Método, había ya sido formulado de modo muy
semejante por filósofos menos conocidos de su tiempo. Francisco
Sánchez el Escéptico,2 ya dibuja el método cartesiano de la
duda metódica en 1576.
«...
Daba vueltas a los dichos de los antiguos, tanteaba el sentir de los presentes:
respondían lo mismo; mas, que me diera satisfacción, absolutamente nada...
... En consecuencia, retorné a mí mismo, y poniendo todo en duda como si
nadie hubiera dicho nada jamás, comencé a examinar las cosas mismas, que es el
verdadero saber. Analizaba hasta alcanzar los principios últimos. Haciendo de
ello el inicio de la contemplación, cuanto más pienso más dudo ...»
Además
la idea expresada en «cogito ergo sum», ("pienso, luego existo"), que
se atribuye a Descartes, ya fue expresada poco tiempo antes y de forma casi
exacta por Gómez Pereira en
1554:3
«Conozco
que yo conozco algo. Todo lo que conoce es; luego yo soy, (Nosco me aliquid
noscere: at quidquid noscit, est: ergo ego sum)»
Con
antecedentes en Agustín de Hipona,4
«Ac
proinde haec cognitio, ego cogito, ergo sum, est omnium prima & certissima,
quae cuilibet ordine philosophanti occurrat.»
El
argumento de «cogito ergo sum» puede considerarse también un desarrollo
ulterior del argumento del Hombre Volante de Avicena.5
...
«Si te imaginas que tu mismo ser ha sido creado desde el comienzo con un
intelecto y una disposición sanos, y si se supone que, en resumidas cuentas,
forma parte de tal posición y disposición que sus partes no sean vistas ni sus
miembros se toquen, sino que, al contrario, estén separados y suspendidos
durante un cierto instante en el aire libre, tu lo encontrarías no dándote
cuenta de nada excepto de la certeza de su ser» ...
Descartes
fue acusado de plagio, especialmente por la coincidencia con el texto de Gómez
Pereira y el planteamiento del discurso del método que ya aparece en Francisco
Sánchez, véase por ejemplo la crítica de Pierre Daniel Huet6
Referencias
Roger
Scruton. Modern Philosophy: An Introduction and Survey. London: Penguin Books,
1994.
Volver arriba↑ VéaseFrancisco Sánchez,
"Quod nihil Scitur", (Que nada se sabe):
Volver arriba↑ Véase Gómez
Pereira 'De Inmortalitate Animae', año 1554, pag. 277 de la edición
matritense de su obra en 1749
Volver arriba↑ Véase Agustín de
Hipona: Principios de filosofía 1, §7 y De Civitate Dei (libros
XI, 26)
Volver arriba↑ Véase Avicena,
Libro de las orientaciones y de las advertencias, (vol-II pags. 343-346), Ed.
S. DUNYA, EI Cairo, 4 vols., 1960-1968.
Volver arriba↑ Pierre Daniel Huet,
Censura filosófica cartesiana, Paris: D. Horthemels, 1689.
https://es.wikipedia.org/wiki/Duda_met%C3%B3dica
Cartesian doubt
From Wikipedia, the free
encyclopedia
Part
of a series on
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Certainty
|
Approximation
Belief
Certainty
Doubt
Determinism
Fallibilism
Fatalism
Hypothesis
Justification
Nihilism
Proof
Scientific theory
Skepticism
Solipsism
Theory
Truth
Uncertainty
|
Related
concepts and fundamentals:
Agnosticism
Epistemology
Presupposition
Probability
|
v
t
e
|
|
Part
of a series on
|
René Descartes
|
Cartesianism · Rationalism
Foundationalism Doubt and certainty Dream argument Cogito ergo sum Trademark argument Causal adequacy principle Mind–body dichotomy Analytic geometry Coordinate system Cartesian circle · Folium Rule of signs · Cartesian diver Balloonist theory Wax argument Res cogitans · Res extensa |
Works
|
The World
Discourse on the Method La Géométrie Meditations on First Philosophy Principles of Philosophy Passions of the Soul |
People
|
Christina,
Queen of Sweden
Baruch Spinoza Gottfried Wilhelm Leibniz Francine Descartes |
v
t
e
|
Cartesian
doubt is a form of methodological skepticism or scepticism associated with
the writings and methodology of René Descartes (1596-1650).[1][2] Cartesian doubt is also known as Cartesian
skepticism, methodic doubt, methodological skepticism, Universal
Doubt, or hyperbolic doubt.
Cartesian
doubt is a systematic process of being skeptical about (or doubting) the truth
of one's beliefs, which has become a characteristic method in philosophy. This method of doubt was
largely popularized in Western philosophy by René Descartes, who sought to
doubt the truth of all his beliefs in order to determine which beliefs he could
be certain were true.
Methodological
skepticism is distinguished from philosophical
skepticism in that methodological skepticism is an approach
that subjects all knowledge claims to scrutiny with the goal of sorting out
true from false claims, whereas philosophical skepticism is an approach that
questions the possibility of pure knowledge.
Contents
[hide]
1Characteristics
2Technique
3Descartes' method
3.1The dream argument
3.2The Evil Demon
4I think, therefore I am
5See also
6References
7Further reading
8External links
Characteristics[edit]
Cartesian
doubt is methodological. Its purpose is to use doubt as a route to certain
knowledge by finding those things which could not be doubted. The fallibility
of sense data in particular is a subject of Cartesian doubt.
There
are several interpretations as to the objective of Descartes' skepticism.
Prominent among these is a foundationalist account which claims
that Descartes' skepticism is aimed at eliminating all belief which it is
possible to doubt, thus leaving Descartes with only basic beliefs (also known as
foundational beliefs). From these indubitable basic beliefs, Descartes then
attempts to derive further knowledge. It's an archetypal and significant
example that epitomizes the Continental Rational schools of
philosophy.[citation
needed]
Technique[edit]
Descartes'
method of hyperbolic doubt included:
accepting
only information you know to be true
breaking
down these truths into smaller units
solving
the simple problems first
making complete lists
of further problems
Hyperbolic
doubt means having the tendency to doubt, since it is an extreme or exaggerated
form of doubt.[3] (Knowledge in the Cartesian sense
means to know something beyond not merely all reasonable, but all possible,
doubt.) In his Meditations
on First Philosophy (1641), Descartes resolved to
systematically doubt that any of his beliefs were true, in order to build, from
the ground up, a belief system consisting of only certainly true beliefs.
Consider Descartes' opening lines of the Meditations:
Several
years have now elapsed since I first became aware that I had accepted, even
from my youth, many false opinions for true, and that consequently what I
afterward based on such principles was highly doubtful; and from that time I
was convinced of the necessity of undertaking once in my life to rid myself of
all the opinions I had adopted, and of commencing anew the work of building
from the foundation...
— René
Descartes, Meditation I, 1641
Descartes'
method[edit]
René
Descartes, the originator of Cartesian doubt, put all beliefs, ideas, thoughts,
and matter in doubt. He showed that his grounds, or reasoning, for any
knowledge could just as well be false. Sensory experience, the primary mode of
knowledge, is often erroneous and therefore must be doubted. For instance, what
one is seeing may very well be a hallucination. There is nothing that proves it
cannot be. In short, if there is any way a belief can be disproved, then its
grounds are insufficient. From this, Descartes proposed two arguments, the
dream and the demon.[2]
The
dream argument[edit]
See
also: Dream argument
Descartes,
knowing that the context of our dreams, while possibly unbelievable, are often
lifelike, hypothesized that humans can only believe that they are awake. There
are no sufficient grounds by which to distinguish a dream experience from a
waking experience. For instance, Subject A sits at the computer, typing this
article. Just as much evidence exists to indicate that the act of composing
this article is reality, as there is evidence to demonstrate the opposite.
Descartes conceded that we live in a world that can create such ideas as
dreams. However, by the end of The Meditations, he concludes that we can
distinguish dream from reality at least in retrospect.[2]
The
Evil Demon[edit]
Main
article: Evil demon
Descartes
reasoned that our very own experience may very well be controlled by an evil
demon of sorts. This demon is as clever and deceitful as he is powerful.
He could have created a superficial world that we may think we live in.[2]
In Meditation
I, Descartes stated that if one were mad, even briefly, the insanity
might have driven man into believing that what we thought was true could be
merely our minds deceiving us. He also stated that there could be 'some malicious, powerful, cunning demon'
that had deceived us, preventing us from judging correctly.
Descartes
argued that all his senses were lying and since your senses can easily fool
you, his idea of an infinitely powerful being must be true as that idea could
have only been put there by an infinitely powerful being which would have no
reason to be deceitful to him.
I
think, therefore I am[edit]
While
methodic doubt has a nature, one need not hold that knowledge is impossible in
order to apply the method of doubt. Indeed, Descartes' attempt to apply the
method of doubt to the existence of himself spawned the proof of his famous
saying, "Cogito ergo sum"
(I think, therefore I am). That is, Descartes tried to doubt his own existence,
but found that even his doubting showed that he existed, since he could not
doubt if he did not exist.[2]
See
also[edit]
Philosophy portal
Egocentric
predicament
Incontrovertible
evidence
Theory of
justification
References[edit]
Jump up^ "A Philosophical Glossary[permanent dead link]"
edited by Justin Leiber, Philosophy Department, University of Houston, USA.
^ Jump up to:a b c d e Roger Scruton. Modern Philosophy: An
Introduction and Survey. London: Penguin Books, 1994.
Jump up^ Skirry (2006).
Transformações na esfera da crítica*
Sônia Salzstein
Crítica
de arte e professora do Departamento de Artes Plásticas da Escola de
Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo
1.
A crítica na tradição moderna
Antes
de se tratar das perspectivas da crítica de arte contemporânea, seria preciso
fazer a pergunta óbvia e mais geral, isto é, se a noção de crítica com que
lidamos hoje é ainda aquela que estamos acostumados a identificar à tradição do
pensamento moderno - aquela que tem suas raízes na dúvida metódica de
Descartes, que encontra momentos culminantes em Kant, em Hegel e que em Adorno
emancipa-se como um gênero especializado da reflexão filosófica, doravante
passando a interrogar sistematicamente o destino problemático da arte e da
cultura na sociedade moderna. Não é preciso dizer que, sob esse foco
abrangente, a noção de crítica pressupõe um sujeito auto-reflexivo, uma vontade
cognitiva e uma jurisdição mais ou menos autônoma da atividade reflexiva, a
partir da qual o pensamento seria sempre capaz de resistir a coerções externas.
Trata-se, então, de interrogar as condições atuais de vigência de uma noção de
crítica com essas características - portadora de um empenho cognitivo e dotada
de uma capacidade de apreensão do geral, de totalização de seu objeto.
No
campo específico da arte, seria o caso saber se na situação atual o que se faz
como crítica tem algo da invenção moderna de Baudelaire: a crítica como experiência,
isto é, pontualmente comprometida no processo de constituição do
trabalho de arte, percebendo-o através de uma espessura histórica, propugnando,
enfim, critérios próprios, autônomos. A julgar pelo atual estado de coisas, a resposta
a estas questões tende a ser negativa: a profissionalização e conseqüente
atomização cada vez maiores da atuação do crítico, e também a ascendência
crescente das grandes instituições e do mercado no agenciamento do espaço
público da arte certamente terão reduzido (ou no mínimo deslocado) o campo de
intervenção da crítica. Estou partindo, como se vê, de uma idéia genérica de
crítica, como conquista incessante de um espaço público de negociação de
conflitos, para transportá-la à esfera da arte; nessa instância, a crítica de
arte surgiria como atividade capaz de fixar critérios e hierarquias - é tal
atividade, ao que tudo indica, que vai aos poucos ruindo, tanto quanto vai
ruindo o prestígio da noção de política, e mais longe, a própria idéia de República.
Cumpriria
também perguntar a quantas anda a idéia de racionalidade, que aponta para o
horizonte material, operativo de uma noção de crítica posta nesses termos -,
vale dizer, nos termos de uma práxis. Como ensina a história da filosofia, o
modo de operar auto-reflexivo é um exercício crítico estirado a um ponto
extremo, cujo proceder obedeceria sempre a um princípio superior de
racionalidade. A utopia moderna era a de que esse exercício crítico, motivado
pelo fim supremo da racionalidade, seria sempre capaz de retificar os desvios
irracionalistas de uma natureza resistente à cultura, de firmar-se como um
instrumento metódico pelo qual o sujeito moderno poderia alcançar a
universalidade, ou a uma Razão que realizaria os fins da condição humana, para
além do entrechoque cego dos interesses particulares.
Reponho
em questão junto à noção de crítica a idéia de racionalidade porque não se pode
evitar de pensar na imagem ultra-profissionalizada do curador contemporâneo -
tal como emana, por exemplo, do mundo da arte norte-americano - como a
realização suprema de uma idéia de racionalidade, já que é nele, ou melhor é na
perfeita assimilação do trabalho desse curador à dinâmica das instituições, que
a atuação da crítica se cumpriria de modo absolutamente imanente à instituição.
Ou seja, compreendida dessa maneira, a figura do curador teria finalmente
realizado a totalidade projetada pela Razão moderna, consumado uma
racionalidade imanente, uma vez que sua prática se alojaria agora no interior
da própria produção artística, desenvolvendo-se no mesmo tempo e espaço que
ela, e doravante avocando a si a tarefa total do teórico, do historiador, do
crítico, do "animador cultural" e do artista.
Pode-se
argumentar que o projeto histórico do Iluminismo já vinha dilacerado por
contradições de origem, que a Razão sempre portou a possibilidade de
desenvolver-se como uma ideologia de racionalidade obediente apenas a seus
próprios fins, que estas contradições, enfim, são as mesmas que se ligam à
emergência da sociedade industrial moderna, e que de resto são elas que
historicamente asseguraram a produtividade dialética da idéia. Mas mesmo que a
noção de crítica vislumbrada por Baudelaire já carregasse em seu núcleo mais
interno as ambigüidades que a Razão moderna carrearia no curso de seu
desenvolvimento histórico, isto não impedia que essa crítica preservasse um
sentido normativo ou que fosse motivada por um empenho cognitivo. Considero a
prova maior desse empenho cognitivo o apreço de Baudelaire pela noção de experiência.
O
que encanta nessa crítica é, precisamente, sua percepção contraditória da vida
moderna; pensemos, por exemplo, no sentimento dúbio que o poeta nutria pelos
"burgueses"1, vistos alternadamente como vetor de
transformação social ou protagonistas vitoriosos de um malsinado processo
histórico, que levara à ruína do gosto e que subordinara as exigências mais
elevadas do espírito à faina vulgar da busca do lucro. Fica claro, então, que
essa percepção sensível às contradições da vida moderna apenas confirma a
disposição de Baudelaire para acolher o presente instável e processual da experiência.
Ora,
parece cada vez mais difícil, na situação contemporânea, a vigência dessa
dimensão da experiência, ao menos nos termos aos quais até aqui estivemos
acostumados (mesmo que se considere que ela é portadora de uma fratura de
origem, dada a possibilidade permanente de sua subordinação a uma racionalidade
extrínseca e alienante). Talvez um exemplo desse dilema que aflige a
sensibilidade contemporânea possa ser encontrado na pintura de Anselm Kieffer,
cuja materialidade acabrunhante oscila entre o auto-cumprimento pela eficiência
da cenografia e a experiência melancólica de um adeus à espessura da história.
É
neste ponto que a questão inicial volta a se impor, agora em outros termos: a
crítica que fazemos hoje ainda é portadora de algum teor de experiência (ao
menos no sentido de não ser meramente mimética em face do sistema da arte, de
revelar alguma possibilidade cognitiva), de algum sentido normativo? Não se
encontra ela o tempo todo coagida por uma racionalidade institucional que se
manifesta como realização perfeita mas invertida da Razão moderna?2 E por sua vez tal racionalidade -
mais que nunca protagonista central nos discursos de administradores, políticos
e empresários do mundo contemporâneo - não tende a se apresentar hoje
absolutamente descolada dos critérios normativos que a crítica sempre lhe
fornecera?
2.
A presença da crítica na constituição de um espaço público da arte
É
verdade que o trabalho de Baudelaire surgia no momento em que a modernidade do
século XIX delineava um mundo da cultura com suas leis e modos próprios de
funcionamento, um mundo que pela primeira vez projetavase no espaço público,
que se recortava de maneira relativamente autônoma no interior da vida social.
Foi nesse contexto que a atividade da crítica firmou-se com um estatuto
cultural todo próprio, aí se cristalizou como gênero, sistematizou-se,
franqueou-se ao domínio dos iniciados e principiou a atrair e influenciar um
universo anônimo de leitores.
Mais
do que isso, nessa época a atividade crítica se disseminou como força decisiva
de transformação, irradiando uma idéia de militância cultural para além do
nicho especializado da crítica de ofício, estimulando manifestos, plataformas e
reflexões de artistas e poetas, contribuindo enfim para a precipitação daquilo
a que já me referi como o espaço público da arte. O fato é que a modernidade do
século XIX, além de ter sido de ponta a ponta insuflada por um generalizado
espírito crítico, terá criado o sujeito e o objeto da crítica entendida como
atividade autônoma e aberta ao escrutínio público. Desse modo, ao mesmo tempo
em que a crítica se tornava mais e mais apta a deslindar a linguagem e o modo
específico de desenvolvimento da esfera da arte, ia assumindo a tarefa de
confrontar os trabalhos permanentemente àquele espaço público, e assim de
elaborar os critérios de inserção social desses trabalhos.
Neste
ponto lembro o óbvio: o surgimento da arte moderna está indissociavelmente
ligado ao vicejamento desse pulso crítico. Não por acaso, a tábula rasa da
tradição constituiu um procedimento-chave dos movimentos de renovação artística
pelo menos desde o impressionismo, e foi graças ao dadaísmo e ao surrealismo que
pudemos atinar para o sentido político emancipatório que a prática da crítica
poderia ter quando experimentada num grau extremo, isto é, como negação. Foi a
partir desses dois movimentos, diga-se de passagem (e é claro, das novas
condições culturais precipitadas pela modernidade), que nos tornamos aptos a
perceber criticamente toda a história da arte precedente como uma
"instituição", que pudemos exercer a crítica da própria
instituição-arte, e que aprendemos, afinal, o procedimento da crítica permanente
da própria crítica, implicando esta a afirmação de um sujeito reflexivo
emancipado mas que não cessaria de submergir na esmagadora processualidade do
mundo, de se colocar em xeque e auto-desmistificar. Com esses gestos
contundentes a arte moderna despedia-se do gênio romântico e firmava sua verve
realista.
Dessa
maneira, a possibilidade da cultura de interrogar permanentemente seus fins,
possibilidade inscrita na idéia da crítica permanente de uma instituição-arte,
mantém-se como a grande invenção da vanguarda moderna. É preciso admitir que
tal invenção, como se disse, constituiria o cerne de todos os impasses da
modernidade, já que ao mesmo tempo em que se radicalizava a premissa da
autonomia da arte (como único reduto, na cultura industrial moderna, que convidava
à experiência de uma subjetividade inconformista), engendravase continuamente a
institucionalização precoce de cada gesto de insubordinação, conforme, de
resto, a nova racionalidade que passava a envolver todos os setores da vida
social..
Todavia,
a despeito de ter conduzido a impasses e a contradições que ainda repercutem no
presente, não se pode deixar de reconhecer que tal procedimento constituiu um
instrumento privilegiado de auto-compreensão (tanto do trabalho de arte como da
crítica de arte) que todo um período construiu para si, e que a meu ver
permanece ainda válido para a produção artística e intelectual. Afinal, graças
ao gesto insubordinado da dúvida sistemática e aguerrida, da ruptura ou da
negação, que são poderosas operações críticas, cada trabalho de arte, cada
empreendimento crítico teve, doravante (e num mundo progressivamente mais
institucionalizado), a possibilidade de subitamente reverter um jogo de cartas
marcadas e burlar a dinâmica insidiosa da institucionalização, mesmo mantendo-se
sob os efeitos desta. Para citar um exemplo bastante conhecido dos mecanismos
dessa meta-crítica no terreno da arte, tome-se a trajetória de Picasso. Não são
os aparentes "recuos" e "auto-recuperações" que permeiam a
obra do pintor, e afinal a sem-cerimônia com que ele sistematicamente
"revisitou" sua própria pintura e a história da arte, uma estratégia
de auto-compreensão do trabalho, ardilosa e corrosiva, pela qual Picasso, ao
mesmo tempo que criticava o fetiche do mercado, preservava sua autonomia, uma
reserva de desfrute subjetivo, libidinal, que dispensava pudor e elegância
formal ao ostentar a linguagem objetiva do mercado e da instituição-arte?
Desdobra-se
assim a noção de crítica para a de auto-compreensão3 e neste ponto é preciso defini-la
melhor, examinar sua contribuição à atividade crítica. De saída, parece-me que
por meio da noção de crítica como auto-compreensão é possível vislumbrar uma
crítica não apenas capaz de denunciar os múltiplos enquadramentos ideológicos
que se cravam sobre a produção cultural contemporânea, mas de lidar com eles e
de discernir e redirecionar continuamente o próprio modo de funcionamento no
interior deles.
Trata-se
de discutir como e em que condições seria possível recuperar a eficácia dessa
extraordinária invenção moderna, dessa vontade de auto-compreensão, por meio da
qual a produção artística e intelectual metabolizaria e ultrapassaria, digamos
assim, a lógica do mercado. Cabe decerto perguntar: como afinal isto poderia se
dar - isto é, como a crítica poderia resistir aos imperativos da instituição,
ao mesmo tempo estando "dentro" dela, isto é, reconhecendo nela, a
despeito de tudo - e até segunda ordem - uma via possível para o debate público
da arte, para o agenciamento social do trabalho de arte? Que é possível exercer
tal crítica "de dentro" da instituição não há dúvida, porque de outro
modo não estaríamos aqui, tampouco pressupondo certos elementos de consenso
entre nós, elementos que nos levam a julgar que, enquanto instância coletiva,
conhecemos razoavelmente bem uma situação e que podemos mudá-la conforme
forjemos os instrumentos adequados para tanto - tal é a premissa deste debate.
A questão é saber flagrar o momento em que o "estar dentro" pode
subitamente suscitar um gesto de auto-compreensão, de modo que este permita
absorver e ressemantizar as demandas da instituição. De qualquer maneira, a
condição primeira de possibilidade para que o exercício crítico aspire a alguma
eficácia demonstra-se, de fato, esse "estar dentro".
3.
A crítica na situação contemporânea
Voltando
então à questão: o que se mantém e o que se inviabiliza daquele sentido de
crítica na situação contemporânea? Qual a possibilidade de intervenção da
crítica no cerrado sistema institucional da produção contemporânea, sistema ao
qual ela própria não deixa de pagar seus tributos? Parece evidente que uma
noção de crítica nos termos mencionados encontra cada vez mais dificuldade para
se realizar na atualidade. É bem sabido que a década de 1980 assinala o início
de um processo de transformação profunda no sentido geral da atividade crítica.
Tal transformação dar-se-ia, de resto, na esteira de todas as mudanças
econômicas, sociais e políticas desde então em curso: a distensão das
polaridades ideológicas do mundo ocidental (resultando na projeção dos EUA como
potência hegemônica), a paulatina desmobilização institucional dos grandes
discursos de oposição política (de partidos, movimentos sindicais, movimentos
feministas, movimentos reivindicatórios de jovens - todos, bem ou mal, voltados
ao projeto de uma vida pública), a emergência de movimentos pontuais e
violentos de descompressão social, dos quais até agora não se sabe se são um
fenômeno de mudança ou, inversamente, de confirmação soturna do status quo,
indicando a decomposição de toda possibilidade de pacto social, e sobretudo a
presença crescente do mercado como novo paradigma de bem-estar social.
Paralelamente
ao desprestígio crescente da política, a palavra de ordem mais ouvida das
décadas de 1980 e 90 passou a ser adaptação; aos poucos e por toda parte foi se
desacreditando o potencial transformador com que se costumava em outros tempos
creditar a angústia e a negação, e se incentivando o advento de uma
subjetividade voltada ao cultivo da auto-estima a qualquer preço e à busca da
aceitação social, com o que prosperaram psicologias direcionadas à adaptação,
bem como sentimentos corporativos, anti-republicanos. O malestar, a ruptura e o
protesto implicados na prática política doravante levantavam suspeita de
fraqueza e ressentimento, ou de incapacidade para sobreviver às exigências
seletivas de uma ordem nova e mais perfeita, nas aparências essencialmente
voltada ao indivíduo.
Do
ponto de vista da arte, tudo indica que vimos experimentando, desde então, uma
modificação profunda no lugar da crítica, que emancipou-se do horizonte
(bem ou mal) público e universalista da produção acadêmica e da produção
intelectual em geral, para vincular-se mais imediatamente às demandas
profissionais, setorizadas e corporativas, do universo das instituições
contemporâneas de arte. Ao que parece, o contexto contemporâneo deixou morrer
de inanição o programa moderno de um espaço público da arte, substituído pelas
demandas cada vez mais tópicas tanto da produção artística como da crítica. É
notável, por exemplo, que grande parte dos ensaios produzidos sobre arte
contemporânea no meio internacional nas duas últimas décadas tenha surgido em
catálogos de exposições, subordinados portanto ao calendário das instituições,
com seus interesses corporativos, mercadológicos, empresariais, e não ligados a
iniciativas acadêmicas ou estritamente editoriais.
É
inquietante que a maior parte desses textos demonstre cada vez menos interesse
não só pelo passado remoto da arte moderna, mas também pelo passado recente
desta, que não se interesse em confrontar trabalhos contemporâneos com certas
referências históricas da modernidade, de modo a revelar uma capacidade
interpretativa mais generosa e algum esforço de síntese. Fatos como estes
sinalizam que terá se obliterado para a crítica contemporânea a perspectiva de
operar segundo projetos de longo prazo, isto é, projetos capazes de se
desenvolver de modo mais independente em face do calendário de grandes museus,
centros culturais e galerias, em face da racionalidade administrativa e
econômica com que essas instituições devem operar, o que certamente impõe
rapidez e ecletismo intelectual ao trabalho do
crítico-curador-teórico-historiador da arte (eventualmente, também artista).
Nesse
sentido, a tendência da crítica é ir se confundindo cada vez mais com a
produção artística, assimilando, como seus, interesses e motivações que eram só
da produção, buscando apresentar-se como uma modalidade da própria arte,
reclamando um domínio morfológico e estilístico análogo ao dos trabalhos,
desenvolvendo-se mesmo paralelamente a eles - embora devendo sempre recorrer ao
procedimento da colagem, à citação desenvolta de uma heterogeneidade de
saberes, ao comentário inevitavelmente tardio e epidérmico da reflexão que se
processa no núcleo interno de outras disciplinas, historicamente consolidadas.
Assim, vão se apagando as fronteiras que separavam o processo de constituição
do trabalho de arte do processo de constituição do trabalho da crítica, e
refluindo a idéia de que a reflexão crítica pressupõe necessariamente a
possibilidade do passo dado para trás, da reflexividade, a possibilidade da
negação, do momento provisório de dúvida.
O
curioso é que com essa quase justaposição entre a esfera da crítica e a da
arte, assistimos a uma aparente ultrapolitização tanto do trabalho de arte como
da crítica. Pois de ambos os lados ganha prestígio a idéia de uma imersão
imediata no território da cultura (uma imersão positiva, sem reflexividade, é
preciso dizer, quase uma adesão), sem a mediação da forma, miseravelmente
rebaixada, aliás, à condição de instrumento ideológico do totalitarismo
modernista. Freqüentemente o que se vê, entretanto, é que a renúncia à busca de
uma nova compreensão da forma, ou de novas possibilidades de formalização, tem
empurrado o trabalho de arte e a crítica a um atoleiro de historicismos, sem
que se possa dizer que em alguma medida estejam operando a partir de uma
perspectiva materialista da história, ao menos no sentido legado pela tradição
marxista do século XX. Ao contrário, a percepção dos problemas da cultura vai
sendo desmaterializada, colonizada em categorias e essencialismos diversos.
Penso,
a esse respeito, numa frase de Godard que li em algum lugar há tempos atrás, e
que dizia mais ou menos o seguinte: a cultura é a norma, a arte, a exceção.
Pois bem, o que tem ocorrido é, precisamente, que só vemos "norma"
por toda a parte, que presenciamos o preenchimento ruidoso daquele momento de
suspensão, daquele momento auto-reflexivo que imunizava, por assim dizer, o
trabalho artístico e intelectual contra o tipo de racionalidade instrumental
que permeia o mundo da cultura. A meu ver, trata-se de resgatar a possibilidade
desse momento auto-reflexivo, que é a condição para o exercício da
auto-compreensão, única via pela qual parece possível manter uma posição relativamente emancipada
no interior do sistema da arte contemporâneo.
* Este texto foi apresentado em 28 de
maio de 1999 no seminário internacional "De Baudelaire à crítica
contemporânea", organizado por Ileana Pradilla e Paulo Reis para a Funarte
(Fundação Nacional das Artes), no Rio de Janeiro.
1. CHARLES BAUDELAIRE. "Aos burgueses". In Poesia e prosa. Rio de Janeiro, Editora Nova Aguilar, 1995, p. 671. [ Links ]
2. Nos termos formulados por OTÍLIA B. FIORI ARANTES em "Arquitetura nova antigamente: O que fazer?". In Urbanismo em fim de linha. São Paulo, Editora da Universidade de São Paulo, 1998, p. 87. [ Links ]
3. Remeto ao texto de PETER BÜRGER. The theory of the avantgarde. Minneapolis, The University of Minnesota Press, 1984, especialmente à segunda parte do capítulo II, intitulada "The avantgarde as the self-criticism of art in bourgeois society", p. 20-34.
1. CHARLES BAUDELAIRE. "Aos burgueses". In Poesia e prosa. Rio de Janeiro, Editora Nova Aguilar, 1995, p. 671. [ Links ]
2. Nos termos formulados por OTÍLIA B. FIORI ARANTES em "Arquitetura nova antigamente: O que fazer?". In Urbanismo em fim de linha. São Paulo, Editora da Universidade de São Paulo, 1998, p. 87. [ Links ]
3. Remeto ao texto de PETER BÜRGER. The theory of the avantgarde. Minneapolis, The University of Minnesota Press, 1984, especialmente à segunda parte do capítulo II, intitulada "The avantgarde as the self-criticism of art in bourgeois society", p. 20-34.
Imaginação Material Segundo Gaston
Bachelard
por
Reinério Luiz Moreira Simões
por
Reinério Luiz Moreira Simões
RESUMO
O
tema central da nossa dissertação é o conceito de imaginação material, proposto
por Gaston Bachelard, filósofo da descoberta científica e da criação
artística. Escolhemos a obra de Bachelard por sua novidade e por suas
críticas que ultrapassam a tradição filosófica, o fundamento ocularista do
conhecimento e a imaginação formal, prisioneira da abstração e do
formalismo. Nossa intenção é demonstrar através do conceito de imaginação
material, a singular contribuição de Gaston Bachelard para os estudos acerca do
imaginário e para a estética filosófica contemporânea.
RÉSUMÉ
Le
thème principal de nôtre dissertation c’est le concept de imagination
matérielle, proposé par Gaston Bachelard, philosophe de la découverte
scientifique e de la création artistique. Nous avons choisi l’oeuvre de
Bachelard pour sa nouveauté et pour sa critiques que dépassent la tradition
philosophique, le fondement oculairiste du connaissance et l’imagination
formelle, captive de l’abstraction e du formalisme. Nôtre intention c’est
démontrer la singulière contribution de Gaston Bachelard pour les études au
sujet d’imaginaire et pour l’esthétique philosophique de nôtre époque.
No
mais profundo do seu ser, a psique é universo.
Carl Gustav Jung
Carl Gustav Jung
L’imagination
invente de l’esprit nouveau.
Gaston Bachelard
Gaston Bachelard
A
Imaginação Material segundo Gaston Bachelard
Índice
Introdução
1º
Capítulo
A Filosofia Ontogenética de Gaston Bachelard
A Filosofia Ontogenética de Gaston Bachelard
2º
Capítulo
Bachelard e a Tradição Filosófica
Bachelard e a Tradição Filosófica
3º
Capítulo
A Crítica de Bachelard ao vício da ocularidade
A Crítica de Bachelard ao vício da ocularidade
4º
Capítulo
A Imaginação Material segundo Bachelard
A Imaginação Material segundo Bachelard
Conclusão
Bibliografia
Introdução
A
tradição filosófica tem configurado dois tipos de imaginação: uma, a faculdade
mental de evocar, sob a forma de imagens, objetos conhecidos por uma sensação
ou experiência anteriores; outra, a faculdade pela qual a mente cria e recria,
ainda que a partir de formas sensíveis e concretas, imagens novas. No primeiro
caso, temos a imaginação reprodutora, meramente evocativa, a depender,
substancialmente, das nossas sensações e da memória. No segundo caso, temos a imaginação
produtora, emancipada do sensível, essencialmente criadora, simbolizante,
poetificante, inventora de novas imagens ou sínteses originais de imagens.
Pretendemos
demonstrar em nosso trabalho, a filiação de Bachelard à concepção de imaginação
produtora e sua contribuição singular com o conceito de Imaginação
Material, ao defender a existência de uma objetividade material e dinâmica do
nosso conhecimento poético do mundo.
Demonstraremos,
nesse ponto, a ruptura bachelardiana com a “tradição ocularista” da filosofia
ocidental, que privilegia a visão como o sentido co-extensivo ao próprio
pensar. O vocabulário básico da filosofia herdou este predomínio de metáforas
visuais aplicadas ao ato do conhecimento: evidência, perspectiva,
ponto-de-vista, enfoque, teoria, visão-de-mundo, visada, etc.
O
pressuposto ocularista e intelectualista faz do homem mero espectador e do
mundo mero espetáculo, idealizando a matéria para reduzi-la às figurações
lógico-matemáticas que se tornam objeto de contemplação. Eis a imaginação
formal, típica das matemáticas.
A
imaginação material, ao contrário, tributária principalmente da mão, é o embate
das forças humanas e as forças naturais, do trabalho operante e criativo do
homem frente às resistências da matéria.
Defenderemos,
conclusivamente, a tese central de nosso trabalho, a saber: a poética de
Bachelard rompe com a tradição filosófica ao tratar da imaginação ao
estabelecer um conceito – a imaginação material – e um sistema de
análise poética – a poética dos quatro elementos – que propiciam
categorias estéticas inteiramente novas para nossa compreensão da arte e da
ontogênese da arte.
Referêncas
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/brasil/fc30069903.htm
https://en.wikipedia.org/wiki/Cartesian_doubt
http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1678-53202003000100008&script=sci_arttext
http://www.consciencia.org/bachelarddisreinerio.shtml
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