a notícia ruim é bênção
“Muita sabedoria unida a uma santidade moderada é preferível a muita santidade com pouca sabedoria”.
Estava
em Maceió para os festejos dos 106 anos do Teatro Deodoro, quando li a notícia
da prisão do ex-governador Sérgio Cabral, do Rio de Janeiro. Estremeci. No dia
seguinte, vi as fotos de Cabral de cabeça raspada em Bangu e com a camisa de
prisioneiro, como um detento qualquer, bandido pé-rapado. Naquele momento, o
Brasil inteiro estava vendo o noticiário. Meu mal-estar piorou. Porque me veio
à mente a figura do Sérgio Cabral, que os amigos passaram a chamar de o velho,
amigo, homem honrado, jornalista e escritor. Pensei, como a imensa maioria dos
amigos do velho Cabral: ele estará vendo tudo isso neste momento? E sente o
quê?
Ignácio
de Loyola Brandão
25
Novembro 2016 | 02h00
O
velho Cabral (temos um ano apenas de diferença de idade) fez jornalismo
político na UH carioca, foi repórter geral, escreveu a história das escolas de
samba cariocas, as biografias de Nara Leão, Elizeth Cardoso, Pixinguinha,
Almirante, Ary Barroso, Tom Jobim, Grande Otelo, Ataulfo Alves, compôs algumas
músicas, produziu shows, foi vereador. Cabral pai, íntegro, bem-humorado,
irônico, fundador do Pasquim ao lado de Jaguar, Tarso de Castro e Ziraldo. Uma
vez, indaguei dele por que não conseguia encaixar nenhum texto meu no Pasquim.
“Me disseram que por ser paulista, verdade?” perguntei. Ele riu, nem confirmou
nem negou, apenas respondeu: “Deixe de bobagem, esqueça”. Tinha razão, eu não
possuía o estilo Pasquim, não tinha humor, era duro.
Ali
em Maceió, imaginei o choque de um pai testemunhando o filho em tal situação,
escândalo nacional, num momento sombrio para o Rio de Janeiro. Do aeroporto
mesmo, enviei pelo fone, um e-mail para Antônio Torres, indagando se ele tinha
notícias do estado de espírito de Cabral pai. E o que poderíamos fazer para
abraçá-lo. Mal cheguei ao hotel, recebi resposta: “Coincidência: a Nélida Piñon
fez perguntas parecidas ontem, na Academia Brasileira de Letras. Todos que o
conhecemos ficamos com preocupações iguais às suas. Cabral, o pai, é o que
antigamente chamávamos de boa-praça. Alguém informou que o velho Cabral está
doente, um tanto quanto fora do ar”.
Fiquei
matutando: quanto fora do ar? Quanto ele está vendo, sabendo e sofrendo? Como
receber informação segura? Lembrei-me de Ruy Castro, escritor ligado à música
brasileira. Igualmente, a resposta veio rápida, deixando transparecer que a
preocupação era geral, um buscava no outro algo que nos tranquilizasse ou
entristecesse mais. Ruy respondeu: “Nos últimos três anos, Sérgio pai tem
passado por um processo galopante de Alzheimer ou alguma outra forma de
demência - você não sabia? Sempre fomos amigos. Estive com ele há seis meses.
Me reconheceu e rimos muito, mas só parecia fazer sentido quando falávamos do
passado. Estamos todos torcendo para que ele já não perceba o que se passa ao
seu redor”.
De
Maceió fui direto a Pirenópolis, Goiás, para a segunda parte da Flipiri, festa
literária que já pertence ao calendário cultural brasileiro. A primeira parte
foi no início deste ano. Quando lá cheguei, a pergunta era a mesma: o que
Cabral pai estará pensando e sofrendo com este show de horror com que o filho
brindou o Brasil?
A
última vez que o vi foi no final dos anos 1990. Flanava por Paris, quando
alguém segurou meu braço, forte: “O que um araraquarense faz nesta cidade
olhando para a Opera. Não tem disso na sua cidade, não é?”. Era Sérgio Cabral,
o pai, jovial, afetuoso.
Agora
em Pirenópolis, entre uma palestra e outra, o assunto veio à baila: o velho
Cabral aguentaria aquele tranco? No dia seguinte, fui à pousada onde Ziraldo, o
homenageado da Flipiri, estava hospedado. Era uma calma noite goianense, do
jardim vinha o som de água regando plantas. Não rodeei, fui direto: “Fale-me do
Sérgio pai”. E Ziraldo: “Viu que coisa? Que todos sabiam. O que aconteceu teria
sido uma tragédia com uma figura como o velho Cabral. Mas olhe o que é a vida!
As névoas do Alzheimer se insinuaram, mas provavelmente se acentuaram quando
Sérgio sentiu a realidade. Seria uma forma de negá-la? Hoje, ele já não
distingue o que é e não é, não identifica quem é. Mergulhou no escuro total, a
memória dissolvida”.
Estranha
é a vida. Ficamos os dois em silêncio, sucumbidos. Era uma coisa cruel demais,
surreal. Que tempos estamos vivendo? Quando nos alegramos considerando que uma
catástrofe como o Alzheimer é bem-vinda, é porque o mundo está muito ruim.
Alegramo-nos que uma notícia terrível como o Alzheimer seja saudada como
bem-vinda para aliviar, suavizar o choque e tornar desimportante uma notícia
tenebrosa que pode matar uma pessoa de tristeza.
http://cultura.estadao.com.br/noticias/geral,diante-da-situacao-tenebrosa-a-noticia-ruim-e-bencao,10000090424
A Verdade e a Parábola
Detalhes
Publicado: 23 Junho 2012
A Verdade visitava os homens; sem roupa e sem adornos, tão nua quanto o seu nome.
E todos os que a viam viravam-lhe as costas de vergonha ou de medo e ninguém lhe dava as boas vindas.
Assim a Verdade percorria os confins da Terra, rejeitada e desprezada.
Numa tarde, muito desolada e triste, encontrou a Parábola que passeava alegremente, num traje belo e muito colorido.
— Verdade, porque estás tão abatida? - perguntou a Parábola.
— Porque devo ser muito feia já que os homens me evitam tanto!
— Que disparate - riu a Parábola - não é por isso que os homens te evitam. Toma, veste algumas das minhas roupas e vê o que acontece.
Então a Verdade pôs algumas das lindas vestes da Parábola e, de
repente, por toda a parte onde passava era bem vinda.
Então a Parábola falou:
— A verdade é que os homens não gostam de encarar a Verdade nua; eles a preferem disfarçada!
Autor desconhecido
http://metaforas.com.br/a-verdade-e-a-parabola
“Como se me afigura vil o mundo quando olho para o céu”. Santo Inácio de Loyola – Fundador da Companhia de Jesus (Jesuítas)
A Verdade e a Parábola
Detalhes
Publicado: 23 Junho 2012
A Verdade visitava os homens; sem roupa e sem adornos, tão nua quanto o seu nome.
E todos os que a viam viravam-lhe as costas de vergonha ou de medo e ninguém lhe dava as boas vindas.
Assim a Verdade percorria os confins da Terra, rejeitada e desprezada.
Numa tarde, muito desolada e triste, encontrou a Parábola que passeava alegremente, num traje belo e muito colorido.
— Verdade, porque estás tão abatida? - perguntou a Parábola.
— Porque devo ser muito feia já que os homens me evitam tanto!
— Que disparate - riu a Parábola - não é por isso que os homens te evitam. Toma, veste algumas das minhas roupas e vê o que acontece.
Então a Verdade pôs algumas das lindas vestes da Parábola e, de
repente, por toda a parte onde passava era bem vinda.
Então a Parábola falou:
— A verdade é que os homens não gostam de encarar a Verdade nua; eles a preferem disfarçada!
Autor desconhecido
http://metaforas.com.br/a-verdade-e-a-parabola
“Como se me afigura vil o mundo quando olho para o céu”. Santo Inácio de Loyola – Fundador da Companhia de Jesus (Jesuítas)
Nenhum comentário:
Postar um comentário