sexta-feira, 27 de dezembro de 2024

TRIANGULAÇÕES LITERÁRIAS E LIBERTÁRIAS - DANÇA DA SOLIDÃO

animula vagula blandula pequena alma terna flutuante _________________________________________________________________________________________________________ ----------
----------- Animula vagula, blandula, Hospes comesque corporis, Quaenunc abibis in loca Pallidula, rigida, nudula, Nec, ut soles, dabis iocos... P. AElius Hadrianus, Imp. Pequena alma terna flutuante Hóspede e companheira de meu corpo, Vais descer aos lugares pálidos duros nus Onde deverá renunciar aos jogos de outrora... P. Élio Adriano, Imp. ----------
----------- Bíblia >Novo Testamento > 2 Timóteo > 2 Timóteo 3 2 Timóteo 3:1-17 --------- "Quem gosta muito de dinheiro está muito longe de Deus." Entreouvido, aliás, de uma senhora, na fila, à porta de uma Casa Lotérica, na Rua Espírito Santo, Juiz de Fora. ----------- _________________________________________________________________________________________________________ Epígrafe: "40 anos é uma criança na história das tragédias e farsas que a constroem." _________________________________________________________________________________________________________ ----------
---------- Sintomas mórbidos no impasse das emendas Publicado em 26/12/2024 - 07:42 Luiz Carlos Azedo Brasília, Comunicação, Congresso, Eleições, Ética, Governo, Justiça, Lava-Jato, Memória, Militares, Partidos, Política, Política Lula não foi capaz de resgatar o controle do Orçamento da União pelo Executivo, porque o volume de emendas impositivas passou a ser ditado pelo Congresso Desde 2013, por razões conhecidas, entre as quais a crise de liderança moral dos partidos e das instituições políticas do país, há um processo de degeneração das relações entre o Executivo, o Legislativo e o Judiciário, que provocou uma sucessão de crises, até a tentativa fracassada de golpe de Estado de 8 de janeiro de 2023. Esse processo reproduz uma crise de representação política que ocorre em outras democracias do Ocidente, porém, que aqui se manifesta desde os protestos de junho daquele ano. Seu caldo de cultura é uma “malaise” da sociedade pós-moderna, cujo imaginário social é complexo e incorpora grandes expectativas em relação ao Estado, a maioria das quais acaba frustrada pela realidade. Instabilidade, mutabilidade, fragmentação e fugacidade, no tempo e no espaço, geram perplexidade e angústia existencial na sociedade, que encontra muito mais facilidade de expressão nas redes sociais e seus influenciadores do que nas estruturas político-partidárias e meios de comunicação tradicionais. Na política, aqui no Brasil, as principais linhas de força desse processo, no plano institucional, são o enfraquecimento do Executivo, o avanço do Legislativo sobre o Orçamento da União e a judicialização da política, sempre que as regras do jogo são atropeladas, o que acaba por exigir a intervenção do Supremo Tribunal Federal (STF), muitas vezes de forma intempestiva. Como se sabe, na democracia representativa, quem faz as leis não as interpreta. Leia também: Em defesa da democracia, Justiça foi protagonista em 2024 Depois dos protestos espontâneos de 2013, na primeira grande crise entre os poderes, Dilma Rousseff foi apeada do poder, por dois motivos: primeiro, cometeu erros estratégicos que levaram ao colapso a economia; segundo, subestimou o poder de fogo do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (MDB-RJ), em cuja eleição interferiu e perdeu. A narrativa do golpe adotada pelo PT não a exime desses erros, o impeachment foi um processo político. Seu julgamento foi presidido pelo atual ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski. A narrativa do golpe é um discurso político, sob medida para quem não quer fazer autocrítica. O segundo momento desse processo foi resultado da própria a articulação do impeachment. O vice-presidente Michel Teme (MDB), que por três vezes presidira a Câmara, assumiu a Presidência contingenciado pelos aliados que afastaram a presidente Dilma, com os quais compartilhou não somente os cargos da Esplanada, mas também o Orçamento da União. Havia um projeto estratégico por trás disso. Temer é o principal defensor da tese do semipresidencialismo, com base nos modelos francês ou português, não teria razões para se opor ao fortalecimento do Congresso. Esse era o eixo de seu projeto de reeleição, que não ganhou, porém, a tração eleitoral necessária para isso. O vácuo político-eleitoral deixado pelo PT, pelo PSDB e pelo MDB, com a condenação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o declínio tucano e o desgaste de Temer, respectivamente, devido à Operação Lava-Jato, possibilitou o tsunami eleitoral de 2018. A eleição de Jair Bolsonaro foi reflexo desse apagão político, que abriu espaço para a emergência de uma extrema-direita de massas e a volta dos militares ao poder. Bolsonaro tentou mudar o eixo de negociação política com o Congresso dos partidos para as bancadas temáticas, como a dos evangélicos e a da bala, e as principais frentes parlamentares (da Saúde, da Agricultura e do Meio Ambiente, entre outras). Fracassou. Orçamento secreto Ameaçado de impeachment, por causa de ligações com as milícias flminenses e do “escândalo das rachadinhas” na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, envolvendo o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), seu filho, à época deputado estadual, Bolsonaro jogou a toalha para o Centrão. Entregou a gestão dos investimentos do Orçamento da União ao senador Ciro Nogueira (PI), presidente do PP, na Casa Civil, e aos presidentes da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e do Senado, Davi Alcolumbre (União-AC). E passou a tecer, com os militares de seu entorno, um projeto golpista. Foi então que o chamado “orçamento secreto” se tornou um instrumento de controle do Congresso sobre o Executivo, ampliado e consolidando o poder Centrão, como uma blindagem para reprodução dos mandatos parlamentares. Essa é uma das razões para que a maioria dos políticos não apoiasse a tentativa de golpe de Bolsonaro, pois perderiam esse controle. A outra foi a experiência de 1964, quando os políticos que apoiaram o golpe que destituiu João Goulart também foram escanteados do poder pelos militares, por 20 anos. Eleito presidente da República, Lula não foi capaz de resgatar o controle do orçamento da União pelo Executivo, porque a ampliação do volume de emendas impositivas passou a ser ditada pelo próprio Congresso. Como o PL tem a maior bancada da Câmara e o PT, tendo a segunda, não opera uma aliança como Centrão, pelo contrário, considera o governo “em disputa”, Lula não tem força para submeter essas emendas impositivas aos projetos prioritários do governo. A alternativa é negociar com o Centrão. O problema é que o “orçamento secreto” viola as diretrizes constitucionais de elaboração do Orçamento, que exigem transparência e rastreabilidade, e se tornou um instrumento de superfaturamento de obras e serviços e de desvio de recursos públicos para formação de patrimônio pessoal e/ou caixa dois eleitoral, com grande impacto na reprodução de mandatos. Diante de casos comprovados de que isso vem ocorrendo, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Flávio Dino decidiu exigir mais transparência na execução de emendas no valor de R$ 4,2 bilhões, com indicação de seus proponentes e dos projetos aos quais foram destinados. O Congresso considera isso uma intromissão e promete reduzir o poder monocrático dos ministros do Supremo. Mais uma crise contratada, num jogo de perde-perde para a democracia e a sociedade. Leia ainda: PF abre inquérito para investigar R$ 4,2 bi em emendas parlamentares Nas entrelinhas: todas as colunas no Blog do Azedo Compartilhe: _________________________________________________________________________________________________________ -------------
------------ _________________________________________________________________________________________________________ "As tentativas de interrupção da abertura democrática entre 1984 e 1985 evidenciam as tensões internas no Brasil durante a transição. A resistência da "linha-dura" e a manipulação do processo político demonstram que a redemocratização não foi um caminho linear, mas sim um processo complexo, marcado por negociações e pressões de diversos setores da sociedade. Apesar dos obstáculos, a mobilização popular e a articulação política conseguiram superar as tentativas de interrupção, consolidando a democracia brasileira nos anos subsequentes." _________________________________________________________________________________________________________ ----------- _________________________________________________________________________________________________________ Epígrafe ou Aforismo: "Quem tomará a iniciativa de acionar Maduro ou o Embaixador de seu país em Brasília, neste delicado cabo de guerra diplomático?" _________________________________________________________________________________________________________ --------- Lira semeou vento e pode colher tempestade Publicado em 27/12/2024 - 06:18 Luiz Carlos Azedo Brasília, Comunicação, Congresso, Economia, Eleições, Ética, Governo, Justiça, Memória, Partidos, Política, Política A primeira reação de Lira e dos líderes à decisão de Flávio Dino de sustar o pagamento de R$ 4,2 bilhões em emendas foi promover uma rebelião na Câmara contra o Supremo “Corro atrás do tempo/ Vim de não sei onde/ Devagar é que não se vai longe/ Eu semeio o vento/ Na minha cidade/ Vou pra rua e bebo a tempestade”, diz o final de “Bom Conselho” de Chico Buarque, lançada em 1970, que se destaca pela ironia e a crítica ao senso comum, puro voluntarismo. Quando foi lançada, o contexto era o regime militar e a rebordosa do Ato Institucional nº 5, que alimentou a frustração dos políticos tradicionais e a radicalização dos jovens que aderiram à luta armada. O contexto é outro, mas tem gente na política que semeia vento e pode colher tempestade. É o caso do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), com a história das “emendas de comissão” que foram transformadas em “emendas de líderes” numa canetada, às vésperas do recesso. A manobra pretendia exumar o “orçamento secreto”, mas foi uma grande trapalhada jurídica, que somente serviu para lançar mais luz sobre o desvio de verbas do Orçamento da União por meio de licitações fraudulentas, superfaturamento de obras e serviços e uma derrama de dinheiro de caixa dois nas eleições, a ponto de ter flagrante de vereador jogando dinheiro pela janela. Ontem, Arthur Lira tentou mobilizar uma reunião presencial dos 17 líderes que o apoiaram na mágica feita para viabilizar a liberação de R$ 4,2 bilhões em emendas, às vésperas do recesso, sem atender as exigências constitucionais de transparência e rastreabilidade. O objetivo era pressionar o ministro Flávio Dino, do Supremo Tribunal Federal (STF), que sustou a liberação das emendas e ainda determinou que a Polícia Federal instaurasse um inquérito sobre a portaria do governo que havia liberado os recursos. A reunião foi um fracasso, a maioria dos líderes não veio a Brasília. Caiu a ficha de que foram protagonistas de uma trapaça institucional. Leia também: Lira aguarda resposta de Dino sobre emendas após fim do recesso de Natal A soberba dos envolvidos na manobra pôs tudo a perder. O deputado Rubens Pereira Junior (PT-MA) convenceu Arthur Lira de que Flávio Dino, seu aliado na política maranhense, aceitaria o engodo; nas negociações, deu a entender o tempo todo que estaria em sintonia com o ministro do Supremo, o que não era verdade. O líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE), foi outro artífice da confusão: convenceu o ministro-chefe da Casa Civil, Rui Costa, que uma simples portaria atenderia a solicitação dos líderes e o dinheiro seria liberado. Seguiu a receita do ex-deputado Arnaldo Faria de Sá (Progressistas), falecido em 2022, que se notabilizou na defesa dos aposentados. Sua especialidade era fazer lobby para resolver suas demandas por meio de portarias. Dizia que era muito mais eficiente do que lutar pela aprovação de projetos de lei. Deu errado Rui Costa foi outro que deu um drible a mais. Ao assumir as funções que caberiam ao vice-presidente Geraldo Alckmin, interinamente, durante o período em que o presidente Lula esteve fora de combate, por causa da cirurgia no crânio, e apostou na solução simples para um problema muito complexo. Ao promover a assinatura da portaria, ainda envolveu os ministros Fernando Haddad (Fazenda), Simone Tebet (Planejamento), Esther Dweck (Gestão) e Alexandre Padilha (Relações Institucionais) na trapalhada. Nas negociações de bastidor para aprovação do ajuste fiscal, Rui Costa teria prometido ao presidente da Câmara liberar R$ 10 milhões em emendas para cada deputado que votasse a favor do projeto. A primeira reação de Lira e dos líderes à decisão de Flávio Dino de sustar o pagamento de R$ 4,2 bilhões em emendas foi promover uma rebelião na Câmara contra o Supremo, com a ameaça de aprovação de uma emenda constitucional que reduzisse a competência dos ministros da Corte para a tomada de decisões monocráticas. A valentia durou até a Polícia federal (PF) abrir o inquérito para investigar as razões da portaria, já tendo grande volume de informações sobre os casos de desvios de verbas federais a partir dessas emendas. Leia ainda: PF abre inquérito para investigar R$ 4,2 bi em emendas parlamentares Sabia-se que mais de 10 deputados estão sendo investigados em sigilo de Justiça, mas ontem, nos bastidores do colégio de líderes, comentava-se que o número pode ultrapassar as três dezenas de parlamentares. Caso isso se confirme, será um escândalo muito maior do que os que o antecederam em matéria de Orçamento. Os mais notórios foram Anões do Orçamento (1993-1994), no qual parlamentares manipulavam emendas para beneficiar entidades fantasmas; Sanguessugas (2006), a compra de ambulâncias superfaturadas em conluio com empresas fornecedoras do Ministério da Saúde; Operação João de Barro (2008), desvios de verbas destinadas a estradas e casas populares; e o próprio Orçamento Secreto (2020-2022), a distribuição de recursos sem transparência. O fantasma que ronda a Câmara é a Operação Overclean, que apura o desvio de R$ 1,4 bilhão de recursos por meio de licitações e contratos fraudulentos. As operações policiais realizadas em Brasília e nas cidades baianas de Salvador, Lauro de Freitas e Vitória da Conquista, às vésperas do Natal, são a ponta de um iceberg, cujas ramificações podem chegar ao Norte do país. Em tempo: a coluna entra em breve recesso, feliz ano-novo. Nas entrelinhas: todas as colunas no Blog do Azedo Compartilhe: _________________________________________________________________________________________________________ -----------
----------- "Finalmente, a leitura do livro é saborosa porque nos lembra que, no dia a dia das disputas que forjaram a democracia, as intenções dos atores com frequência produziram resultados inesperados. Confirma assim a arguta observação do filósofo escocês Adam Ferguson (1732-1816), segundo a qual a história é resultado da ação dos homens e não de seus desígnios." quinta-feira, 26 de dezembro de 2024 Assim se fez a democracia - Maria Hermínia Tavares Folha de S. Paulo Um filme, um show e um livro ajudam a memória coletiva da ditadura e da construção democrática https://gilvanmelo.blogspot.com/2024/12/assim-se-fez-democracia-maria-herminia.html _________________________________________________________________________________________________________
----------- Ideias para Exploração: Comparar a melancolia contemplativa de Adriano, como apresentada por Yourcenar, com a visão de solidão e esperança na música de Paulinho da Viola. Analisar a simbologia da "dança" como movimento cíclico, tanto na solidão quanto no poder. Refletir sobre a relação entre as manifestações artísticas e o diálogo entre o passado e o presente, a partir das referências cruzadas. Se precisar aprofundar um aspecto específico ou deseja uma análise mais detalhada, é só embarcar! 😊 --------- animula vagula blandula P. AElius Hadrianus, Imp. Pequena alma terna flutuante... P.Élio Adriano, Imp. ---------- ------------- Dança da Solidão (Marisa Monte e Paulinho da Viola) ------------- ------------- Dança da Solidão Paulinho da Viola Letra Significado Traduções A Melancolia em Harmonia: 'Dança da Solidão' de Paulinho da Viola A canção 'Dança da Solidão', composta e interpretada pelo sambista Paulinho da Viola, é uma expressão poética da melancolia e do desencanto amoroso. A letra utiliza a solidão como uma metáfora poderosa, descrevendo-a como 'lava que cobre tudo', sugerindo uma sensação avassaladora e destrutiva que consome o indivíduo por dentro. A amargura é personificada, sorri com 'dentes de chumbo', uma imagem que evoca a pesadez e o sabor amargo das experiências de desilusão. O refrão 'Desilusão, desilusão / Danço eu dança você / Na dança da solidão' reforça a universalidade do sentimento de solidão, como se fosse uma dança na qual todos, em algum momento, participam. A música também conta histórias de personagens que sofrem por amor, como Camélia, Joana e Maria, ilustrando diferentes reações ao desamor e à perda. A referência ao conselho do pai do narrador serve como um elo entre o passado e o presente, indicando que as advertências sobre as dores do amor são atemporais. Por fim, a música encontra um vislumbre de esperança na 'fonte de água pura', uma metáfora para uma possível cura ou alívio para a amargura da alma. A imagem da água pura contrasta com a lava da solidão, sugerindo que, apesar da dor, existe a possibilidade de renovação e de superação da desilusão. A viola e a lua cheia, elementos típicos do samba e da cultura brasileira, são símbolos de reflexão e de conexão com a natureza e com os sentimentos mais profundos do ser. Metáfora da solidão Universalidade da desilusão Possibilidade de renovação Composição: Paulinho da Viola. _________________________________________________________________________________________________________ ----------
--------- SERVOS E UNGIDOS: SERVIDÃO E UNÇÃO AO PODER ---------
---------- ESTADOS LAICOS ATUANDO COMO ESTADOS TEOCRÁTICOS NO EXERCÍCIO DO PODER COM ATOS LITÚRGICOS SOLENES ----------- https://www.youtube.com/watch?v=w1vWIzW7nXY
----------- Memórias de Adriano Capa dura – 21 janeiro 2019 Edição Português por Marguerite Yourcenar (Autor) Memórias de Adriano é a obra-prima de Marguerite Yourcenar. Publicado pela primeira vez em 1951, após um intenso processo de pesquisa, escrita e reescrita que durou cerca de trinta anos, o livro obteve enorme sucesso e converteu-se imediatamente em um clássico da literatura moderna. Nesta espécie de autobiografia imaginária, a “grande dama da literatura francesa” recria a notável vida do imperador Adriano, com seus triunfos e reveses, e dá forma a um romance histórico, mas também poético e filosófico, que se tornaria uma das mais fascinantes obras de ficção do século XX. Além da tradução de Martha Calderaro e da apresentação de Victor Burton, esta edição especial conta ainda com o prefácio inédito da historiadora Mary Del Priore. MARGUERITE YOURCENAR MEMÓRIAS DE ADRIANO TRADUÇÃO DE MARTHA CALDERARO PDF https://tiinyurl.cc/05a958de ----------- animula vagula blandula pequena alma terna flutuante... - Veja mais em https://vestibular.uol.com.br/resumos-de-livros/trechos-do-livro-memorias-de-adriano.htm?cmpid=copiaecola Trechos do livro Memórias de Adriano - Marguerite Yourcenar Do Banco de Dados da Folha ------------ _________________________________________________________________________________________________________ animula vagula blandula pequena alma terna flutuante _________________________________________________________________________________________________________ ---------- Meu caro Marco, Estive esta manhã com meu médico Hermógenes, recém-chegado à Vila depois de longa viagem através da Ásia. O exame deveria ser feito em jejum; por essa razão havíamos marcado a consulta para as primeiras horas da manhã. Deitei-me sobre um leito depois de me haver despojado do manto e da túnica. Poupo-te detalhes que te seriam tão desagradáveis quanto a mim mesmo, omitindo a descrição do corpo de um homem que avança em idade e prepara-se para morrer de uma hidropisia do coração. Digamos somente que tossi, respirei e retive o fôlego segundo as indicações de Hermógenes, alarmado a contragosto pelos rápidos progressos do meu mal e pronto a lançar no opróbrio o jovem Iolas, que me assistiu em sua ausência. É difícil permanecer imperador na presença do médico e mais difícil permanecer homem. O olho do clínico não via em mim senão um amontoado de humores, triste amálgama de linfa e sangue. Esta manhã, pela primeira vez, ocorreu-me a idéia de que meu corpo, este fiel companheiro, este amigo mais seguro e mais meu conhecido do que minha própria alma, não é senão um monstro sorrateiro que acabará por devorar seu próprio dono. Paz... Amo meu corpo. Ele me serviu muito e de muitas maneiras: não lhe regatearei agora os cuidados necessários. Mas já não creio - como Hermógenes pretende ainda - nas maravilhosas virtudes das plantas, na dosagem exata dos sais minerais que ele foi buscar no Oriente. Esse homem, embora perspicaz, cumulou-me de vagas expressões de conforto, demasiado banais para iludir a quem quer que seja. Ele sabe o quanto odeio esse gênero de impostura, mas não é impunemente que se exerce a medicina durante mais de trinta anos! Perdôo a esse bom servidor a tentativa de ocultar-me minha própria morte. Hermógenes é um sábio e é também bastante judicioso. Sua probidade é superior à de qualquer outro médico da corte. Tenho a fortuna de ser o mais bem tratado dos doentes. Mas nada pode ultrapassar os limites estabelecidos; minhas pernas intumescidas já não me podem sustentar durante as longas cerimônias romanas. Sufoco! Tenho sessenta anos! Numa coisa não te iludas porém; não estou ainda bastante enfraquecido para ceder às alucinações do medo, quase tão absurdas quanto as da esperança, e naturalmente muito mais incômodas. Fosse-me necessário exceder-me e preferiria fazê-lo no sentido de confiar: nada teria a perder e sofreria menos. Esse fim tão próximo não é necessariamente imediato: deito-me ainda, cada noite, com a esperança de acordar pela manhã. Dentro dos limites intransponíveis de que falava ainda há pouco, conto defender minha posição passo a passo e até mesmo reconquistar algumas polegadas do terreno perdido. Ainda não atingi a idade em que a vida para cada homem é uma derrota consumada. Dizer que meus dias estão contados nada significa! Assim foi sempre. E assim sempre será para todos nós. Mas a incerteza do lugar, da ocasião e do modo, incerteza que nos impede de ver distintamente esse fim para o qual avançamos inexoravelmente, diminui para mim à medida que progride minha mortal enfermidade. Qualquer um de nós pode morrer a qualquer instante, mas um enfermo sabe, por exemplo, que não mais estará vivo dentro de dez anos. Minha margem de hesitação já não abrange anos, apenas alguns meses. Minhas probabilidades de morrer de uma punhalada no coração ou de uma queda de cavalo são mínimas; a peste parece improvável; a lepra ou o câncer estão definitivamente afastados. Já não corro o risco de tombar nas fronteiras atingido por um machado caledônio, ou trespassado por uma flecha parta. As tempestades não souberam aproveitar-se das ocasiões oferecidas e o feiticeiro que me predisse morte por afogamento parece não ter tido razão. Morrerei no máximo em Tíbur, em Roma, ou em Nápoles, e uma crise de sufocação se encarregará da tarefa. Serei abatido pela décima ou pela centésima crise? Aí está toda a questão. Como o viajante que navega entre as ilhas do Arquipélago vê a bruma luminosa levantar-se à tarde, descobrindo, pouco a pouco, a linha do litoral, começo a discernir o perfil de minha morte. Alguns aspectos de minha vida já se assemelham às salas desguarnecidas de um vasto palácio que o proprietário empobrecido desiste de ocupar por inteiro. Já não caço: se não houvesse senão eu para perturbá-los nas suas ruminações e nos seus folguedos, os cabritos monteses das colinas da Etrúria poderiam ficar completamente tranqüilos. Sempre entretive com a Diana das Florestas as múltiplas e apaixonadas relações de um homem com o objeto amado. Adolescente, a caça ao javali proporcionou-me os primeiros contactos com o comando e com o perigo. Entregava-me a esse desporto com paroxismo e meus excessos levaram Trajano a admoestar-me. A distribuição aos cães, numa clareira da Espanha, das entranhas dos animais abatidos é minha mais antiga experiência da morte, da coragem, da piedade pelas criaturas e do prazer trágico de vê-las sofrer. Homem feito, a caça aliviava-me o espírito de tantas lutas secretas com adversários ora muito sagazes, ora muito obtusos, ora demasiado fracos, ora fortes demais para mim. A luta equilibrada entre a inteligência humana e a astúcia dos animais selvagens parecia-me extraordinariamente adequada à comparação com os embustes dos homens. Imperador, minhas caçadas na Toscana serviram-me para avaliar a coragem e os recursos dos altos funcionários; nessas ocasiões, escolhi ou eliminei mais de um homem de Estado. Mais tarde, na Bitínia e na Capadócia, fiz das grandes batidas um pretexto para festas, um triunfo outonal nos bosques da Ásia. Morreu jovem, porém, o companheiro de minhas caçadas e, depois de sua partida, meu gosto pelos prazeres violentos diminuiu bastante. Entretanto, mesmo aqui em Tíbur, o resfolegar súbito de um cervo sob a folhagem é suficiente para despertar em mim o mais antigo dos instintos, por obra e graça do qual me sinto tanto leopardo quanto imperador. Quem sabe? É possível que eu seja assim avesso ao derramamento de sangue humano por tê-lo derramado tanto quando se tratava de animais ferozes. E dizer que, não raro e secretamente, eu os preferia aos homens! De qualquer modo, porém, a lembrança das feras é-me tão familiar ainda, que me custa não prosseguir narrando intermináveis histórias de caça que poriam à prova a paciência dos meus convidados da noite. Sem dúvida, a reminiscência do dia da minha adoção é deliciosa, mas a recordação dos leões abatidos na Mauritânia não o é menos. A renúncia à equitação é sacrifício mais penoso ainda; uma fera não era senão um adversário; o cavalo era um amigo. Se me fosse dado optar por minha condição neste mundo, teria escolhido a de Centauro. Entre mim e Borístenes o entendimento era de uma precisão matemática: o cavalo obedecia-me como a seu próprio cérebro e não como a seu dono. Terei algum dia conseguido tanto de um homem? Uma autoridade tão absoluta comporta, como qualquer outra, riscos de erro por parte do homem que a exerce, mas o prazer de tentar o impossível em matéria de saltos de obstáculos era intenso demais para que eu lamentasse um ombro deslocado ou uma costela partida. Meu cavalo substituía as mil noções em torno do título, da posição e do nome, que complicam as relações humanas, pelo simples conhecimento do meu peso. Partilhando meus entusiasmos, ele sabia exatamente - e melhor do que eu mesmo talvez - o ponto onde minha vontade se divorciava de minha força. Ao sucessor de Borístenes já não inflijo o fardo de um corpo doente, de músculos amolecidos, e fraco demais para içar-se por si mesmo à sela. Meu ajudante de campo, Céler, exercita-o neste momento na estrada de Preneste. Minhas antigas experiências com a velocidade dos galopes permitem-me agora partilhar o prazer de cavalo e cavaleiro lançados a toda velocidade sob o sol e o vento. Quando Céler salta do cavalo, com ele retomo contacto com o solo. Outro tanto passa-se com a natação: a ela renunciei, mas continuo participando do prazer do nadador acariciado pela água. Correr, mesmo no mais curto percurso, ser-me-ia hoje tão impossível quanto para a pesada estátua de um César de pedra. Posso, entretanto, lembrar-me de minhas carreiras de criança pelas colinas secas da Espanha, do brinquedo brincado comigo mesmo, no qual ia até os limites do fôlego, seguro de que o coração perfeito e os pulmões intactos restabeleceriam o equilíbrio. Tenho, com o mais insignificante dos atletas que treina sua corrida ao longo do estádio, um entendimento tão perfeito que inteligência por si só não me poderia proporcionar nunca. Assim, de cada arte praticada, retiro hoje um conhecimento que me compensa em parte dos prazeres perdidos. Acreditei, e nos meus bons momentos ainda acredito, que seria possível partilhar da existência de todos os homens e que essa simpatia seria uma das formas irrevogáveis da imortalidade. Momentos houve em que essa compreensão tentou ultrapassar o humano, indo do nadador à própria vaga. Mas ali nada de positivo me foi explicado porque entrara no domínio das metamorfoses do sonho. Comer em excesso é hábito romano. Eu, porém, fui sóbrio por volúpia. Hermógenes nada teve que modificar em meu regime a não ser talvez a impaciência que me obrigava a devorar, não importa onde fosse e a qualquer hora, a primeira iguaria servida para saciar de uma só vez as exigências da minha fome. Não seria próprio do homem rico, que não conheceu jamais senão uma privação voluntária e disso não fez mais do que uma experiência a título provisório, como um dos incidentes mais ou menos excitantes da guerra e da viagem, vangloriar-se de não se exceder à mesa. Embriagar-se em certos dias de festa foi sempre a ambição, a alegria e o orgulho dos pobres. Agradava-me o odor das carnes assadas e o ruído das marmitas raspadas nas festas do exército, e que os banquetes do acampamento (ou que num acampamento se pode chamar de banquete) fossem o que deveriam ser sempre: um alegre e grosseiro contrapeso às privações dos dias de trabalho. Tolerava bastante bem o odor das frituras nas praças públicas no tempo das Saturnais. Entretanto, os festins romanos causavam-me tanta repugnância e tanto tédio que, acreditando às vezes morrer no curso de uma exploração ou de uma expedição, dizia a mim mesmo para reconfortar-me: pelo menos nunca mais jantarei! Não me faças a injustiça de tomar-me por um vulgar renunciador: uma operação que tem lugar duas ou três vezes por dia, e cuja finalidade é alimentar a vida, merece certamente todas as nossas atenções. Comer um fruto é fazer entrar em si mesmo um belo objeto vivo, estranho e nutrido como nós pela terra. É consumar um sacrifício no qual nós nos preferimos ao objeto. Jamais mastiguei a crosta do pão das casernas sem maravilhar-me de que essa massa pesada e grosseira pudesse transformar-se em sangue, calor e, talvez, em coragem. Ah! por que o meu espírito, nos seus melhores momentos, não possui senão uma pequena parte dos poderes assimiladores do meu corpo? Foi em Roma, durante os longos banquetes oficiais, que me aconteceu meditar nas origens relativamente recentes do nosso luxo e naquela raça de agricultores parcimoniosos e de soldados frugais, acostumados a nutrir-se de alho e cevada, subitamente deslumbrados pela conquista, devorando as iguarias complicadas da cozinha asiática com a rusticidade de camponeses esfomeados. Nossos Romanos empanturram-se agora de aves delicadas, afogam-se em molhos e envenenam-se com especiarias. Um gastrônomo, um discípulo de Apácio, orgulha-se da sucessão dos serviços, da série de pratos doces ou picantes, leves ou pesados que compõem a magnífica seqüência dos seus banquetes. Seria mais desejável que cada iguaria fosse servida separadamente, assimilada em jejum, sabiamente degustada por um apreciador de papilas intactas. Apresentadas confusamente, numa profusão banal e cotidiana, elas formam no paladar e no estômago uma mistura detestável, na qual o odor, o gosto e a própria substância essencial perdem seu valor peculiar e sua deliciosa identidade. O pobre Lúcio comprazia-se outrora em preparar-me pratos raros; suas tortas de faisão, com a sábia dosagem de presunto e especiarias, revelavam uma arte tão consumada como a do músico ou do pintor. Entretanto, eu deplorava secretamente a carne pura da linda ave. A Grécia era bastante superior nesse sentido: ... - Veja mais em https://vestibular.uol.com.br/resumos-de-livros/trechos-do-livro-memorias-de-adriano.htm?cmpid=copiaecola _________________________________________________________________________________________________________ ----------
---------- O texto apresenta uma interessante miscelânea literária e cultural, entrelaçando temas clássicos e contemporâneos. A partir do poema "Animula Vagula Blandula" atribuído ao imperador romano Adriano e reinterpretado por Marguerite Yourcenar em "Memórias de Adriano", até reflexões melancólicas sobre a solidão na música brasileira representada por "Dança da Solidão" de Paulinho da Viola, cria-se uma narrativa que oscila entre a profundidade histórica e os sentimentos universais. Estrutura do Texto: Elementos Clássicos: O poema latino atribuído ao imperador Adriano abre a reflexão com tom introspectivo e universal sobre a alma humana e a transitoriedade da vida. A referência ao livro Memórias de Adriano aprofunda este tema ao abordar a biografia ficcionalizada de Adriano, um líder reflexivo e filosófico que pondera sobre poder, amor e mortalidade. Referências Musicais: A inclusão de "Dança da Solidão" destaca a universalidade do tema da solidão. A análise da letra é rica em metáforas e imagens que ecoam os sentimentos de desilusão e esperança. Conexões Filosóficas e Literárias: A coexistência de referências clássicas e modernas — de Marguerite Yourcenar a Paulinho da Viola — sugere a perenidade de temas humanos como o amor, a dor, e a busca por significado. Elementos Visuais e Multimídia: Links de vídeos musicais e imagens contribuem para a atmosfera imersiva, enquanto a menção às plataformas digitais enriquece o aspecto intertextual. Reflexões Sobre o Poder: O excerto “Servos e Ungidos” sugere uma crítica ao poder político e religioso que, mesmo em Estados laicos, pode se revestir de solenidade litúrgica. Ideias para Exploração: Comparar a melancolia contemplativa de Adriano, como apresentada por Yourcenar, com a visão de solidão e esperança na música de Paulinho da Viola. Analisar a simbologia da "dança" como movimento cíclico, tanto na solidão quanto no poder. Refletir sobre a relação entre as manifestações artísticas e o diálogo entre o passado e o presente, a partir das referências cruzadas. Se precisar aprofundar um aspecto específico ou deseja uma análise mais detalhada, é só avisar! 😊

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