Inspirados já nos ensinamentos de Sófocles, aqui, procurar-se-á a conexão, pelo conhecimento, entre o velho e o novo, com seus conflitos. As pistas perseguidas, de modos específicos, continuarão a ser aquelas pavimentadas pelo grego do período clássico (séculos VI e V a.C).
domingo, 22 de dezembro de 2024
GUERRA E PAZ
-----------
Feliz Natal!
----------
------------
1 - 12 - 25
25 - 12 - 24
-----------
Um feliz duplo 25 twist carpado!
-----------
1 x 2 = 2
2 x 2 = 4
2 = 1 x 2
4 = 2 x 2
2 + 4 = 1 x 2 + 2 x 2 = (1 + 2) x 2 = 3 x 2 = 3 x (1 + 1)
----------
--------------
Música | Mônica Salmaso - Menina, Amanhã de Manhã
---------------
Menina, Amanhã de Manhã
Monica Salmaso
Letra
Significado
Traduções
Menina , amanhã de manhã
Quando a gente acordar quero te dizer
Que a felicidade vai desabar sobre os homens
Vai, desabar sobre os homens
Vai, desabar sobre os homens
Na hora ninguém escapa
De baixo da cama ninguém se esconde
A felicidade vai desabar sobre os homens
Vai, desabar sobre os homens
Vai, desabar sobre os homens
Menina, ela mete medo
Menina, ela fecha a roda
Menina, não tem saída
de cima, de banda ou de lado
Menina, olhe pra frente
menina, todo cuidado
Não queira dormir no ponto
Segure o jogo, atenção de manhã
Menina a felicidade
É cheia de praça, é cheia de traça
É cheia de lata, é cheia de graça
Menina, a felicidade
É cheia de pano, é cheia de peno
É cheia de sino, é cheia de sono
Menina, a felicidade é cheia de ano,
É cheia de eno
É cheia de hino, é cheia de onu
Menina, a felicidade
É cheia de an, é cheia de en
É cheia de in, é cheia de on
Menina, a felicidade é cheia de a,
É cheia de é, é cheia de i, é cheia de ó
É cheia de a, é cheia de é,
É cheia de i, é cheia de ó
Composição: Perna / Tom Zé.
_________________________________________________________________________________________________________
----------
-----------
________________________________________________________________________________________________________
"'Fiscal' sempre pareceu, desde menino, coisa de fingimento, roubo e moleza."
________________________________________________________________________________________________________
---------
domingo, 22 de dezembro de 2024
Turbulência e esperança - Luiz Sérgio Henriques
O Estado de S. Paulo
Vivemos entre a incompletude radical das soluções locais e a precariedade dos instrumentos multilaterais criados a duras penas
Frases e reflexões de Antonio Gramsci, um clássico moderno, costumam correr livremente na barafunda das redes sociais, e não por acaso. Uma delas é particularmente expressiva e trata de transições turbulentas, como a que o sardo viveu há cem anos e como a que agora vivemos nós. É quase certo que já tenhamos lido aqui e ali sua definição de “interregno” – um tempo estranho e incerto, nebuloso até, em que o velho morreu e o novo ainda não nasceu. Um tempo por isso mesmo povoado de monstros e anomalias políticas. Palavras de fogo, certamente, cuja utilidade presente não é preciso ressaltar.
Naturalmente, para ele a novidade histórica, apesar da sua reconhecida fineza analítica, teria o perfil delineado pelos acontecimentos que se desdobravam desde 1917, ou seja, a ruptura com o capitalismo. Seu paradigma era o de algum tipo de revolução, ainda que severamente danificado pelas dificuldades próprias do Ocidente político e pela emergência de uma enorme reação conservadora – o fascismo, do qual, como é bem sabido, se tornaria prisioneiro.
Paradoxalmente, soltos e dispersos na hipermodernidade, estamos em condição relativamente mais desfavorável. Não podemos nos escorar, nem sequer de modo problemático, numa filosofia da História que garanta futuro radioso. Homens e mulheres de esquerda que abraçaram com convicção a democracia constitucional – e assumem a necessidade de incorporar os valores do liberalismo – veem-se às voltas, na nova trincheira, com recuos e derrotas. A unificação do gênero humano, bem como a compreensão da interrelação de crises e desafios globais, são realidades que demoram a se impor e não se pode excluir que jamais se imponham de fato.
Vivemos dramaticamente entre a incompletude radical das soluções locais e a precariedade dos instrumentos multilaterais criados a duras penas. Permanece sem solução razoável a contradição entre a mundialização da economia, apesar de todos os passos para trás, e o âmbito nacional das decisões políticas. A História, retirados ao menos parcialmente seus determinismos, mostra-se novamente como uma tarefa em aberto, o que em princípio seria um convite auspicioso à criatividade. No entanto, no mesmo lance ela acaba por atemorizar a imaginação. É que em geral aparece sob a forma de perigos e ameaças inéditos, como a crise climática ou a ruptura que parece anunciar a inteligência artificial.
A revolução conservadora em curso retoma tópicos essenciais daquela outra já secular. Cada Estado-nação, sem excluir os mais poderosos, procura fechar-se em si mesmo, buscando um tempo heroico e uma identidade perdida – e, no mais das vezes, fictícios. A economia política de agora apregoa abertamente a atualidade de tarifas e barreiras comerciais que, segundo comprovada experiência, em outros momentos foram a antessala das guerras propriamente ditas. Neste quadro mesquinho, se algum simulacro de Welfare acaso se realizar, estará na melhor hipótese circunscrito aos pátrios limites, com exclusão de imigrantes e outros elementos supostamente alheios à pureza étnica ou cultural.
Com a segunda presidência Trump, entre as ilusões perdidas está a de que seu primeiro termo não passou de um parêntese casual. Internamente, não é difícil antever a pressão sistemática e deliberada sobre as instituições, abrindo certamente menos a possibilidade de um regime abertamente fascista do que a de uma destas arriscadas situações híbridas que têm assinalado o declínio relativo das democracias liberais. Externamente, para usar uma dicotomia relevante, Donald Trump equivalerá a um abandono das aspirações propriamente hegemônicas do país na ordem global baseada em regras, em benefício de uma visão puramente corporativa, dominada por ganhos econômicos imediatos.
Em tal horizonte corporativo, as alianças orientadas por valores comuns são postas em plano secundário ou desaparecem completamente. A consigna “primeiro a América” impede que se incorporem, no próprio cálculo, interesses e orientações de aliados tradicionais ou que se imaginem políticas de cooperação como as que aconteceram no pós-guerra, a exemplo do Plano Marshall ou das iniciativas para garantir o comércio e a resolução pacífica de conflitos.
O cosmopolitismo entra em crise, o multilateralismo se arruína e não é irrazoável pensar na multiplicação de pequenos Trumps, como os que rondam regularmente a União Europeia e também nuestra América. Isso sem falar na rede de autocratas em guerra permanente contra os direitos humanos, a universalidade do voto e as instituições responsáveis pelo controle do poder. Numa palavra, a rede mobilizada contra o legado das revoluções modernas, o que exige cada vez mais o firme compromisso histórico entre liberais e socialistas.
Nota: repetindo a fala do carpina para o retirante, no poema de João Cabral, não temos resposta às questões acima. No entanto, para os de boa vontade é tempo de renascimento. É tempo, pois, de celebrar a vida, que nunca deixa que se rompa o fio severino da esperança, “belo como um sim numa sala negativa”.
_________________________________________________________________________________________________________
-----------
------------
________________________________________________________________________________________________________
"Desde a infância, 'Fiscal' trazia o ar de quem encarna o engano, a rapina e a pusilanimidade."
________________________________________________________________________________________________________
-------------
domingo, 22 de dezembro de 2024
O dólar, entre o populismo e o patrimonialismo – Luiz Carlos Azedo
Correio Braziliense
Assistimos um reality show de populismo e patrimonialismo, cujo resultado foi um grande estresse cambial, com a disparada do dólar, que continua acima dos R$ 6
O populismo sustenta-se no tripé liderança carismática, promessas além do exequível e críticas às elites. Não se pode dizer, porém, que o populismo seja o principal responsável pelas nossas desigualdades sociais e que, necessariamente, derive para o autoritarismo. Esse tipo de narrativa, ao contrário, justificou retrocessos políticos como o regime militar implantado a partir da destituição de João Goulart, em 1964.
Nosso populismo surge com Getúlio Vargas, a partir da Revolução de 1930, como resposta à república oligárquica. Sua retórica voltada ao trabalhador foi amparada por direitos sociais que incluíram os trabalhadores assalariados na vida política nacional, como a CLT (Consolidação das Leis do Trabalho) e o reconhecimento dos sindicatos. Ao mesmo tempo, o golpe de 1937, que implantou o Estado Novo, consolidou a tese de que o populismo deriva para o autoritarismo, o que viria a ser desmentido pelo próprio Vargas, após voltar ao poder pelo voto, na crise que o levou ao suicídio, em 1954.
Juscelino Kubitschek e Jânio Quadros também recorreram a narrativas populistas para mobilizar apoio e chegar ao poder, bem como Fernando Collor de Mello, em 1989. Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff também adotaram narrativas populistas, amparadas por programas de inclusão social, como Bolsa Família e Minha Casa, Minha Vida. O primeiro teve êxito ao enfrentar as elites do país; a segunda, fracassou ao adotar uma estratégia nacional-desenvolvimentista anacrônica diante da globalização e perdeu o poder. Nenhum dos quatros confirma a tese de que seu populismo desaguaria no autoritarismo.
Quem tentou esse caminho foi Jair Bolsonaro, que chegou ao poder pedalando o triciclo do carisma, do apelo às massas e do confronto com as elites. Depois de Jânio Quadros, é o maior representante do populismo de direita no Brasil, com retórica antissistema, apelo nacionalista e bandeiras reacionárias. Defendeu a volta do regime militar e os costumes tradicionais, para “salvar” a pátria e a família unicelular patriarcal.
Nosso populismo amálgama o mito “sebastianista” do salvador da pátria. Morto D. Sebastião em Alcácer Quibir, aos 24 anos, e tendo sido anexado pela Espanha em 1580, Portugal perdeu a opulência e a grandiosidade do início daquele século, juntamente com o melhor da sua juventude e do seu Exército. Como o corpo do rei nunca foi encontrado, o mito de que D. Sebastião estava vivo e voltaria um dia alimentou o nacionalismo português e o messianismo no Brasil. Teria aparecido durante a batalha que expulsou os franceses no Rio de Janeiro, em 1565; no reino Encantado da Pedra Bonita (1834-1836), em Pernambuco; e em Canudos (1893-1897), com Antônio Conselheiro.
Patrimonialismo
As promessas de reformas rápidas e profundas, com soluções simples para problemas estruturais complexos, hoje, são narrativas populistas anabolizadas pelas redes sociais. Fomentam a polarização e a desconfiança nas instituições democráticas; a tensão entre Executivo, Legislativo e Judiciário; a divisão profunda da sociedade, a descontinuidade de projetos estruturais e políticas de clientela; e, consequentemente, a instabilidade econômica e volatilidade do mercado.
O outro lado dessa moeda é o patrimonialismo, mais vivo do que nunca. Por definição, é um tipo de dominação tradicional na qual o governante utiliza o poder como extensão de sua própria casa. Como o Estado brasileiro antecedeu a nação, a administração pública colonial e imperial foi moldada por um sistema onde cargos públicos e privilégios eram concedidos como favores pessoais. Isso promoveu uma cultura que está em contradição com o regime republicano.
Fenômeno já muito estudado, o patrimonialismo brasileiro nasceu associado à figura do “homem cordial” e destaca o papel das relações pessoais e afetivas na dominação do espaço público, uma herança ibérica avessa à formalidade institucional, que mistura o público e o privado. O poder centralizado e burocrático serve a interesses privados e sustenta uma elite dirigente que controla o Estado em benefício próprio, a partir de uma estrutura patrimonialista herdada de Portugal.
Essa característica também marcaria o desenvolvimento capitalista e a modernização do país, sobretudo o nosso capitalismo de Estado, ou “de laços” visíveis a olho nu. O sociólogo Luiz Werneck Vianna, recentemente falecido, destacava o papel dessas raízes históricas (colonização portuguesa) e culturais (laços familiares e paternalismo) na resistência às relações institucionais impessoais e ao funcionamento do sistema político e administrativo em bases democráticas e modernas.
Nas últimas semanas, assistimos a um reality show de populismo e patrimonialismo, cujo resultado foi um grande estresse cambial, com a disparada do dólar, que continua acima dos R$ 6. A promessa de isenção do imposto de renda para quem ganha até R$ 5 mil, feita pelo governo, e a gana pelo dinheiro das emendas parlamentares, de parte do Congresso, criaram um ambiente de incerteza econômica muito além do que seria razoável diante da realidade econômica do país.
_________________________________________________________________________________________________________
----------
-------------
Nobel Prize-Winning Economist Paul Krugman on Retiring from NYT | Amanpour and Company
----------
_________________________________________________________________________________________________________
- Mas você acha que ele pode querer isso?
- Sei lá, não faz diferença o que ele quer. Faz diferença o que ele vai fazer
_________________________________________________________________________________________________________
-----------
_________________________________________________________________________________________________________
"Tem sido uma referência nestes anos todos."
_________________________________________________________________________________________________________
------------
Amanpour and Company
19 de dez. de 2024 #amanpourpbs
After 25 years of sharp and often indispensable commentary on major issues shaping America and the world, economist and Nobel laureate Paul Krugman joins the show to discuss his final column for The New York Times. Krugman says he sees an erosion of optimism due to a collapse in trust of elites and institutions. The columnist sits down with Michel Martin for a fascinating look back and a discussion of what lies ahead.
Originally aired on December 19, 2024
_________________________________________________________________________________________________________
------------
--------------
Guerra e Paz (War and Peace)
Romance por Liev Tolstói
-------------
How to Read Tolstoy's War and Peace
Benjamin McEvoy
-------------
"
— Gosto desse tal Pyle — disse eu a Phuong.
— Ele é tranqüilo — respondeu ela, e o adjetivo
que ela era a primeira a usar ficou gravado como um
apelido de colégio, até que ouvi o próprio Vigot
empregá-lo, sentado na Sureté com a sua viseira verde,
ao falar-me da morte de Pyle."
---------
"Gosto desse tal Pyle", disse eu a Phuong.
"Ele é tranquilo", respondeu ela, e o adjetivo que ela foi a primeira a usar ficou gravado como um apelido de colégio, até que ouvi o próprio Vigot empregá-lo, sentado na Sureté com sua viseira verde, ao falar-me da morte de Pyle."
-----------
-----------
Fuzileiros navais confrontam marinheiros revoltosos no Sindicato dos Metalúrgicos do Rio de Janeiro
---------
Resumo do Conteúdo:
O trecho, extraído de O Americano Tranquilo de Graham Greene, explora uma interação entre o narrador, Phuong, e a caracterização de Pyle como uma pessoa "tranquila." O adjetivo, inicialmente atribuído casualmente, acaba por se fixar como uma marca identitária, ecoando até mesmo em diálogos relacionados ao trágico destino de Pyle.
_________________________________________________________________________________________________________
-------------
Resumo dos Demais Trechos
A Esquerda das “Soluções Positivas”
Marco Antônio Tavares Coelho, interlocutor do PCB junto a João Goulart, destaca a necessidade de posturas construtivas diante das crises. Na década de 1960, o PCB, apesar de ilegal, contava com representantes eleitos por outros partidos, como o PSD. A crise política, social e econômica impedia avanços, e as divisões dentro da esquerda comprometeram acordos que poderiam evitar o golpe de 1964.
Crise Política, Econômica e Social
Nos anos 1960, o Brasil enfrentava uma grave crise, marcada pela falta de maioria parlamentar do governo e pela oposição da UDN e do PSD. Propostas conciliatórias, como a de San Thiago Dantas, eram barradas por disputas internas. A ausência de consenso alimentou a instabilidade que culminou no golpe.
Eleição Presidencial de 1965
O veto à reeleição de João Goulart e as articulações para candidaturas de JK e Brizola revelavam impasses entre as forças progressistas. A falta de unidade entre PTB, PSD e o apoio limitado à candidatura de JK contribuíram para a vitória da oposição golpista.
Crise Econômica e Golpe de 1964
O agravamento da crise econômica no início dos anos 1960, com alta inflação, baixo crescimento e déficit fiscal, inviabilizou o Plano Trienal de recuperação econômica. O radicalismo de esquerda no PCB e sindicatos impediu apoio ao plano, enfraquecendo o governo e facilitando o golpe militar.
O Brasil de Hoje
Desde 2014, o Brasil vive uma crise fiscal que remete aos anos 1960, com desemprego elevado e recessão. A reflexão sobre as “soluções positivas” de Marco Antônio Tavares Coelho inspira a necessidade de propostas democráticas e eficazes para enfrentar os desafios atuais.
“This is What a Nuclear Strike Would Feel Like” (NYT Opinion Video)
O vídeo retrata os impactos devastadores de um ataque nuclear, com foco em suas consequências humanas e ambientais. A obra alerta para o risco crescente de um conflito nuclear e promove uma conscientização sobre os perigos da guerra moderna.
Solness, o Construtor
Trecho da peça de Henrik Ibsen (1892), que reflete sobre circunstâncias favoráveis e suas implicações para o indivíduo. Uma citação emblemática demonstra o quanto o acaso pode influenciar a vida.
O Americano Tranquilo – Reflexão sobre a Inocência
Em O Americano Tranquilo, Graham Greene analisa a complexidade da inocência, vista como algo perigoso e que exige defesa, ao invés de proteção. A metáfora da inocência como um “leproso mudo” enfatiza sua capacidade de causar dano involuntário.
Guerra e Paz – Leon Tolstói
A obra monumental de Tolstói mistura romance, épico e crônica histórica, narrando o impacto das guerras napoleônicas na Rússia. Com uma mensagem antibélica, Guerra e Paz reflete sobre a alma russa, os horrores da guerra e o amor em meio à destruição.
_________________________________________________________________________________________________________
------------
-----------
A ESQUERDA DAS “SOLUÇÕES POSITIVAS”
O jornalista Marco Antônio Tavares Coelho era o interlocutor do antigo PCB junto ao então presidente João Goulart.
O PCB era na época um partido ilegal, seu registro fora cassado em 1947, no início da Guerra Fria.
Por isso, Marco Antônio Tavares Coelho fora eleito, em 1962, deputado federal pela Guanabara, atual estado do Rio de Janeiro, pelo PSD, partido centrista do ex-presidente Juscelino Kubistchek e dos então deputados Tancredo Neves e Ulysses Guimarães.
Estima-se que a pequena bancada do PCB era de cerca de 10 deputados, todos eleitos por outras legendas.
A CRISE POLÍTICA, ECONÔMICA E SOCIAL
O Brasil vivia nos anos 1960 uma crise política, econômica e social.
O governo era minoritário no Congresso, sustentado apenas pelo PTB, PSB e os 10 deputados do PCB, e, portanto, sem maioria parlamentar para aprovar seus projetos.
O PSD era o maior partido na Câmara, seguido pela UDN, de centro-direita, liderada pelo governador fluminense Carlos Lacerda, que fazia uma dura oposição a João Goulart.
San Thiago Dantas, ministro da Fazenda e deputado pelo PTB, defendia um acordo com o PSD, vetado pela ala liderado pelo deputado Leonel Brizola.
ELEIÇÃO PRESIDENCIAL
Havia, no campo do centro e da esquerda, um impasse sobre a eleição presidencial marcada para 1965.
O principal candidato era JK. Havia articulações em prol de João Goulart, apesar da Constituição vetar a reeleição. Brizola pôs na rua a sua campanha “Cunhado não é parente, Brizola para presidente”. Por seu parentesco com João Goulart, a lei também vetava a candidatura do deputado do PTB.
JK tentava um acordo com o PTB para repetir a dobradinha vitoriosa na eleição presidencial de 1955, quando ele e João Goulart foram eleitos presidente e vice.
Muito tempo depois, Marco Antônio Tavares Coelho, em entrevista ao jornalista Luis Carlos Azedo, no Correio Braziliense, dirá que se as esquerdas tivessem apoiado a candidatura de JK, o golpe de 1964 teria sido evitado.
CRISE ECONÔMICA E GOLPE DE 1964
Em 1962 a inflação havia chegado a 50,1% e o crescimento do PIB havia caído de de 7,7% em 1961 para 3,5%. O déficit nas contas do governo havia chegado a 36%.
Em dezembro de 1962, San Thiago Dantas e
Celso Furtado, ministro do Planejamento, apresentaram o Plano Trienal para tentar resolver a crise.
O plano foi rejeitado pelas esquerdas, pelo movimento sindical e pelo empresariado. A crise se agravou e criou as condições políticas para o golpe que depôs o presidente da República.
O PCB chegou a considerar o apoio ao plano, especialmente seus líderes mais moderados, como Marco Antônio Tavares Coelho, que defendia as “soluções positivas”. O deputado do PCB propunha que o partido saísse da postura de mera contestação e sempre apresentasse soluções para os problemas nacionais.
Tal posição levou a que San Thiago Dantas passasse a chamar o PCB de “a esquerda positiva”. Mas o velho Partidão ficou a reboque do radicalismo de esquerda, reinante na época, e terminou por não apoiar o plano, criticado também por seus líderes sindicais.
O BRASIL DE HOJE
Desde 2014 que as contas públicas do Brasil são deficitárias. A crise fiscal levou o país a uma das maiores recessões de nossa história, entre 2014 e 2016, com queda de cerca de 7% do PIB, 14 milhões de desempregados e jogou muitos brasileiros de volta à miséria.
Sempre me lembro de Marco Antônio Tavares Coelho e sua política “das soluções positivas”. Creio que as forças políticas democráticas e progressistas deveriam se inspirar nele e sempre apresentar soluções democráticas, criativas e socialmente justas para os problemas do país.
Cláudio de Oliveira, jornalista e cartunista.
----------
-----------
This is What a Nuclear Strike Would Feel Like | NYT Opinion
----------
The New York Times
21 de dez. de 2024
A flash. A roar. A ball of fire. In this Opinion Video, we show you what would happen if even just one tactical nuclear bomb was used today. Drawing on extensive interviews with scientists and military officials, this scenario is a precise imagining of what it would mean to experience a nuclear explosion. The risk of nuclear conflict is higher now than any time since the Cold War, and a single warhead could leave thousands dead, exponentially more wounded and ecosystems scarred for years.
Over the past year, NYT Opinion has been reporting on threat of nuclear war through our series At the Brink.
Read more here: nytimes.com/thebrink
------------
"
Veja o senhor...As circunstâncias me favoreceram."
Solness, o construtor
Peça em três atos, 1892
------------
"
Foi o meu primeiro impulso instintivo no sentido de
protegê-lo. Jamais me ocorrera que havia necessidade
ainda maior de proteger-me. A inocência, mesmo sem
falar, sempre solicita nossa proteção, quando seria muito
mais sensato que nos defendêssemos contra ela. A
inocência é como um leproso mudo que perdeu sua
campainha, e que anda pelo mundo sem intenção de fazer
o mal."
Graham Greene
----------
------------
Guerra e paz
Edição Português por Leon Tolstói (Autor)
----------
'Segundo Leon Tolstói, Guerra e paz ?não é um romance, muito menos um poema, e menos ainda uma crônica histórica?, talvez justamente por ser um pouco de tudo isso. Guerra e paz é um romance monumental ao narrar a trajetória de uma ampla gama de personagens fictícios durante um período conturbado da História, um poema de caráter épico ao exaltar o espírito de luta do povo russo, e uma crônica histórica de proporções colossais ao reconstituir minuciosamente as campanhas militares napoleônicas do início do século XIX.Ora descrevendo os horrores do campo de batalha, ora relatando como a aristocracia russa era atingida pela destruição da guerra, ora mergulhando fundo na alma de seu povo para tentar descobrir o que o define, Tolstói imprimiu em Guerra e paz a marca de que só os grandes escritores são capazes: transformou seu texto em um manifesto antibélico e produziu uma das mais pujantes histórias de amor da literatura.'
Capa dura – 6 agosto 2012
_________________________________________________________________________________________________________
------------
DUELO: DESAFIO
----------
------------
Putin desafia EUA a "duelo" em Kiev entre mísseis hipersônicos russos e defesa ocidental
----------
EFE BRASIL
19 de dez. de 2024
Moscou, 19 dez (EFE).- O presidente russo, Vladimir Putin, propôs aos Estados Unidos nesta quinta-feira um "duelo" entre o novo armamento hipersônico da Rússia e os sistemas de defesa antimísseis ocidentais, cujo cenário seria a capital da Ucrânia, Kiev.
IMAGENS: YURI KOCHETKOV / CEDIDAS.
Edição e locução: Paulo Iannone.
--------------
LINHAS CRUZADAS | É POSSÍVEL O MUNDO SEM GUERRA? | 19/12/2024
---------
Jornalismo TV Cultura
Estreou há 21 horas #TVCultura #LuizFelipePondé #AndresaBoni
No Linhas Cruzadas desta semana, Andresa Boni e Luiz Felipe Pondé vão discutir sobre a possibilidade de vivermos em um mundo sem guerras.
Eles vão apresentar quais foram os primeiros conflitos já registrados na história da humanidade e vão mostrar as piores consequências para quem vivenciou de perto uma guerra.
A discussão passa a apresentar o perfil dos humanos que comandam uma grande guerra e a pergunta que paira no ar é: Será que é possível um mundo sem guerra?
Não perca esta conversa no Linhas Cruzadas, todas as quintas às 22h.
_________________________________________________________________________________________________________
-------------
Mauro Vieira: 'Lula e Trump se entenderão bem, porque são nacionalistas' | Poder em Pauta
-------------
CartaCapital
20 de dez. de 2024
Em 2024, o Brasil foi presidente rotativo e a sede da reunião de cúpula do G20, as vinte maiores economias do mundo. Em 2025, terá o mesmo papel nos Brics, grupo fundado por Brasil, Rússia, China e Índia, e ainda será o anfitrião da conferência anual das Organizações das Nações Unidas (ONU) sobre o clima. Os Estados Unidos participarão da COP30 em Belém? Mandarão uma delegação de alto nível ou apenas representantes de segunda escalão? Em janeiro, Donald Trump volta à Casa Branca e, na primeira passagem por lá, havia tirado os EUA do Acordo de Paris, gesto eloquente sobre a importância que ele dá ao debate sobre aquecimento global. O futuro presidente americano sinalizou nos últimos dias a intenção de cobrar mais tarifas de produtos brasileiros. Como será a relação entre Brasil e EUA, entre Lula e Trump? Qual o saldo da política externa em 2024? O que esperar dela em 2025? Sobre esses assuntos, o repórter André Barrocal entrevista o embaixador Mauro Vieira, ministro das Relações Exteriores.
_________________________________________________________________________________________________________
-----------
Here’s a summary and potential highlights:
1. Book Feature: Guerra e Paz by Leon Tolstói
Details: A monumental work blending historical narrative, poetic themes, and deep philosophical insights.
Publication Info: Hardcover, August 6, 2012.
Themes: Anti-war manifesto, Napoleonic wars, Russian aristocracy, and human resilience.
Key Takeaway: This classic remains one of the most significant contributions to world literature, emphasizing love and the futility of war.
2. Video Highlights
Putin's "Duel" Proposal
Summary: Russian President Vladimir Putin suggests a "duel" between Russian hypersonic missiles and Western missile defense systems, proposing Kyiv as the battleground.
Video: Watch on YouTube
Source: EFE Brasil.
Is a World Without War Possible?
Program: Linhas Cruzadas on TV Cultura.
Focus: Hosts explore the feasibility of a war-free world, delving into humanity's historical conflicts and their lasting impact.
Video: Watch on YouTube
Lula-Trump Relations
Insights by Mauro Vieira: Discussion on the interplay between nationalist leaders Lula and Trump amidst Brazil’s pivotal role in global summits.
Video: Watch on YouTube
Source: CartaCapital.
3. Geopolitical Insights
Brazil's Leadership in 2024: Hosting key international events, including G20 and BRICS, setting the stage for significant global diplomatic relations.
Outlook for 2025: Complex relations anticipated with Trump's return to office, including trade dynamics and climate policy debates.
Would you like help expanding on any of these topics, summarizing them differently, or creating a tailored discussion from this content?
"Segue um resumo e os possíveis destaques:"
1. Destaque do Livro: Guerra e Paz de Leon Tolstói
Detalhes: Uma obra monumental que combina narrativa histórica, temas poéticos e profundas reflexões filosóficas.
Informações de Publicação: Capa dura, 6 de agosto de 2012.
Temas: Manifesto anti-guerra, guerras napoleônicas, aristocracia russa e a resiliência humana.
Mensagem Principal: Este clássico permanece como uma das mais significativas contribuições à literatura mundial, enfatizando o amor e a futilidade da guerra.
2. Destaques dos Vídeos
Proposta de "Duelo" de Putin
Resumo: O presidente russo Vladimir Putin sugere um "duelo" entre os mísseis hipersônicos russos e os sistemas de defesa ocidentais, propondo Kyiv como o palco.
Vídeo: Assista no YouTube
Fonte: EFE Brasil.
É Possível um Mundo Sem Guerra?
Programa: Linhas Cruzadas na TV Cultura.
Foco: Os apresentadores exploram a viabilidade de um mundo sem guerra, analisando os conflitos históricos da humanidade e seus impactos duradouros.
Vídeo: Assista no YouTube
Relação Entre Lula e Trump
Insights de Mauro Vieira: Discussão sobre a interação entre os líderes nacionalistas Lula e Trump, no contexto do papel crucial do Brasil em cúpulas globais.
Vídeo: Assista no YouTube
Fonte: CartaCapital.
3. Perspectivas Geopolíticas
Liderança do Brasil em 2024: Sediando eventos internacionais importantes, como G20 e BRICS, estabelecendo o cenário para relações diplomáticas globais.
Perspectiva para 2025: Relações complexas são esperadas com o retorno de Trump à presidência, incluindo dinâmicas comerciais e debates sobre políticas climáticas.
_________________________________________________________________________________________________________
-----------
-------------
Os erros que cometemos e o que aprendemos com eles
Marco Antônio Coelho - Março 2004
O golpe de Estado de 1964 ficará em nossa História como um acontecimento de singular relevância. Os que colheram os louros da vitória, como os que carregam o fardo da derrota entendem que há 40 anos houve uma profunda mudança de rumos na vida nacional. Daí a importância de um exame mais acurado dos fatos que culminaram com a deposição de João Goulart em 1964. Como participei ativamente naqueles episódios, vejo-me obrigado a examinar a seguinte questão: quais os principais erros das forças derrotadas em 1964?
Creio que eles resultaram de uma análise incorreta da correlação de forças. Erro gravíssimo que nos levou a não traçarmos, como um elemento básico de nossa estratégia, a defesa da democracia. Que elementos caracterizam a falsidade daquela apreciação que deu origem a tão graves equívocos?
Para fundamentar minha tese, basta recapitular a evolução dos acontecimentos a partir de setembro de 1961. A derrota dos generais que tentaram impedir a posse de Goulart foi interpretada por nós como uma mudança profunda, de qualidade, na situação política do Brasil. E aquela análise foi calamitosa porque envolveu um juízo a respeito do papel das forças armadas na vida brasileira. Isto é, nos levou a considerar que elas não mais poderiam intervir na cena política, para defender um status quo injusto e antipopular, que secularmente beneficia um reduzido grupo de privilegiados.
Esse entendimento incorreto era reforçado por dois argumentos. Primeiro, que existia nas forças armadas um forte "esquema de oficiais nacionalistas" e, segundo, que o movimento dos sargentos era um obstáculo ao desencadeamento de um golpe. Ademais, exageravam-se os avanços da organização sindical e de sua capacidade de paralisar o país na eventualidade de um golpe militar. Não é verdade que essa foi a análise que proclamamos aos quatro ventos?
Além de lançarmos essa apreciação sobre o quadro militar, que tão só estava alicerçada em nossos desejos e sonhos, incorremos também no erro de não reconhecer que a vitória sobre a cúpula militar fora alcançada, em 1961, porque então defendíamos a exigência do respeito às normas constitucionais, porque naquela oportunidade desfraldamos com firmeza a bandeira da democracia. Não acentuamos também que o fracasso dos golpistas, naquele episódio, basicamente decorreu da divisão dentro das forças armadas, mas que esta ruptura na cadeia de comando militar se devia à pressão da opinião pública em favor da legalidade.
Com a posse de Goulart no Palácio do Planalto, passamos a viver uma situação inédita no Brasil, pois assumiu a presidência da República uma personalidade ligada às correntes populares e aos meios sindicais, e que dialogava abertamente com os comunistas. Panorama que resultava, em grande medida, de um fato inesperado, o gesto tresloucado da renúncia de Jânio, mas que era determinado também pela ascensão vigorosa das lutas populares e um impressionante processo de organização dos trabalhadores, como, até então, nunca sucedera em nosso país.
Em sendo assim, como não podia deixar de ser, esse cenário inédito turvou nossos juízos. De certa forma, houve uma embriaguez causada pelo capitoso vinho da vitória.
Assim chegamos à antevéspera do golpe. No curso de 1963 defrontamos um cenário ambivalente, complexo e contraditório. De um lado, os resultados do plebiscito, para decidir sobre a vigência ou não do parlamentarismo, nos favoreceram, mas eram mais ou menos previstos, porque a opinião majoritária dos brasileiros repudiava aquele remendo ad hoc da Constituição. E, naquela altura, os diversos aspirantes à presidência da República desejavam enterrar rapidamente o parlamentarismo de fancaria.
Então, Goulart assumiu os poderes vigentes no regime presidencialista. Porém, o quadro foi se modificando com rapidez, e o governo começou a perder o apoio de diversas forças políticas e sociais. Recorde-se que, nas eleições de 1962, para alguns governos estaduais, excluindo-se Pernambuco e o Estado do Rio, as correntes mais retrógradas venceram nas principais unidades da Federação. Ademais, naquela época, a viagem de Goulart aos Estados Unidos foi um duplo fracasso, pois não conseguiu amainar nossos conflitos com a mais forte potência do mundo.
Uma agenda foi apresentada por Goulart ao Congresso, formulando como pontos essenciais a realização de várias mudanças substanciais no país, na base de um plano elaborado por Celso Furtado. Mas tudo dependeria da aprovação do Poder Legislativo. E qual era a posição dos partidos no Senado e na Câmara do Deputados?
O PSD, partido com o maior número de votos nas duas casas do Parlamento, afinado com suas bases tradicionais, evoluiu para uma postura de resistência à política do governo. Tal fato ocorreu por duas razões: primeiro, porque não via com bons olhos as propostas radicais do governo, notadamente a reforma agrária; em segundo lugar, porque depreendeu que o governo estava preso numa armadilha e mais cedo ou mais tarde tumultuaria o processo da sucessão presidencial.
A UDN, que dispunha de grande força no Congresso e no cenário nacional, mobilizou-se de forma compacta na campanha contra Goulart, passando a realizar um trabalho de aliciamento de chefes militares para o golpe de Estado.
O PTB e os partidos e grupos de esquerda, em seu conjunto, eram influenciados pelas lutas populares e sindicais e consideravam como essencial acelerar o processo de mudanças fundamentais na vida brasileira. Por isso não firmaram uma posição nítida, unitária e vigorosa para enfrentar as ameaças que pairavam no horizonte. Recorde-se, por exemplo, que, dois meses antes do golpe, a direção do PCB declarou que esse partido situava-se como "oposição ao governo de Goulart", argumentando que este desenvolvia uma política de conciliação com setores políticos não comprometidos com as reformas.
Resumindo, por diversos razões, não havia a menor possibilidade de se obter no Congresso a aprovação das medidas solicitadas por Goulart. Em conseqüência, pairava no ar a suspeita de que o governo acabaria por intentar um golpe de Estado, a fim de impor "na marra", conforme se dizia, as reformas de base e mudanças constitucionais relacionadas com a eleição do futuro presidente da República.
Mas o que selou, em definitivo, a nossa derrocada foi um dado crucial na vida política brasileira - o encaminhamento da sucessão presidencial, que deveria acontecer em 1965. Como as correntes políticas se colocaram nessa questão? O governo Goulart via aproximar-se a hora da sucessão e não estava preparado para enfrentá-la. Não dispunha de candidato capaz de derrotar Carlos Lacerda. As forças populares vetavam o candidato do PSD (Juscelino Kubitschek), por considerar sua eleição como um retrocesso inconcebível. Leonel Brizola era inelegível e muito radical para diversas forças que compunham o governo. O mais grave, porém, foi o entendimento surgido de que a melhor solução seria a tentativa de reeleger João Goulart, o que não era permitido por normas constitucionais.
Assim, a nau da insensatez continuou a marcha para o desastre total. Sucedeu tudo o que poderia acontecer para desgastar e isolar o governo Goulart: em 1963, a inflação se transformou em hiperinflação, e houve um decréscimo do produto nacional per capita; os Estados Unidos começaram a estimular o golpe de Estado; houve também uma despudorada campanha contra o governo constitucional nos meios de comunicação, ofensiva financiada por empresas estrangeiras. Devido a essas atividades, nossos adversários obtiveram o apoio de amplos setores da população, assustados com a violenta pregação anticomunista, acionada por destacadas personalidades católicas. Enfim, todas as correntes reacionárias juntaram suas forças para desmoralizar o governo e com audácia deram pleno respaldo à conspiração nos quartéis.
O governo e as correntes populares reagiram de forma tumultuada e confusa. Erros sucessivos eram cometidos na condução dos assuntos administrativos e políticos. Ao invés de tranqüilizar a nação, o governo subia o tom das ameaças. Ao mesmo tempo, as ações aventureiras, como a revolta dos sargentos e dos marinheiros, isolaram os militares legalistas e o governo, pois justificaram as acusações de que partia do Palácio do Planalto a quebra da hierarquia e da disciplina nas forças armadas.
Na undécima hora, houve uma tentativa de evitar a tragédia: o projeto de San Tiago Dantas de estruturar a "Frente Ampla". Como é sabido, esse plano fracassou, pois foi impossível obter a concordância das forças progressistas e das correntes colocadas no centro do espectro político, como o PSD, em torno de um programa comum de reformas. Contudo, esse não foi o óbice que jogou por terra o projeto da "Frente Ampla". Ele estava previamente condenado ao insucesso por uma razão elementar: tudo dependia, na verdade, de um acerto sobre a sucessão presidencial. Ou seja, uma aglutinação de esforços em favor da candidatura de Kubitschek.
Por termos confundido as nuvens com Juno, o resultado foi inexorável e terrível. A conspiração dos golpistas foi rapidamente vitoriosa, conseguindo imobilizar ou neutralizar os militares que defendiam a legalidade, mesmo porque os generais já haviam conquistado previamente o respaldo de forças majoritárias no cenário político e no plano internacional, graças ao interesse direto dos Estados Unidos em impedir que o Brasil começasse a percorrer um caminho semelhante ao de Cuba.
Para se entender o contraditório quadro que facilitou o sucesso vertiginoso do golpe, não se pode esquecer que uma personalidade democrática, como Ulysses Guimarães, não combateu a deposição de Goulart. Dado que comprova como nós nos isolamos, abrindo os flancos para a ação dos golpistas, interessados vitalmente em impedir o avanço das lutas populares no Brasil.
De início, nos primeiros dias de abril, parecia até que apenas ocorrera a derrubada de um presidente da República, como sucedeu em 1945 (com Vargas) ou em 1955 (com a deposição de Carlos Luz e Café Filho). Logo, porém, ficou claro que as forças vitoriosas estavam empenhadas numa alteração profunda no regime político. A radicalidade do plano dos militares que assaltaram o Poder decorreu do fato de que as correntes reacionárias sentiram-se profundamente ameaçadas diante da iminência de medidas que atingiam seus interesses, face ao crescimento impetuoso das lutas populares e de um processo de organização dos trabalhadores nunca antes visto em nossa pátria. Assim, passo a passo os militares foram eliminando a ordenação constitucional de 1946, implantando uma ditadura militar, que sobreviveu durante mais de duas décadas.
O que aprendemos com o golpe de 64 e com a ditadura militar? Em minha opinião, nos anos de chumbo, vivendo dolorosas experiências, assistindo ao amordaçamento de milhões de brasileiras e brasileiros, vimo-nos forçados a aprender uma duríssima lição: a de que, acima de tudo, o essencial é a conquista de um regime democrático. E que essa é a questão sine qua non, inclusive para traçarmos a caminhada na direção de uma outra sociedade, uma sociedade melhor e mais justa.
Passados 40 anos, esse retrospecto provoca a emergência de sentimentos contraditórios. Há sensação de culpa, pois, nessa travessia dos tempos, inúmeros combatentes, homens e mulheres da melhor qualidade, não sobreviveram. Contraditoriamente, o país cresceu, não ficou paralisado, mas consolidou-se uma sociedade absurdamente injusta. Portanto, muitos anos foram perdidos na marcha pelo desenvolvimento social do Brasil, pela melhoria de imensas camadas de nosso povo, gente sofrida e espoliada.
Resta agora tão só um consolo, o de que muito aprendemos, especialmente, sobre o profundo significado da conquista de um regime democrático nestas terras, democracia ampla, sólida e estável. Esse é o consolo que hoje nos agasalha e que nos cumpre preservar.
----------
Marco Antônio Tavares Coelho é jornalista e editor-executivo de Estudos Avançados, órgão do Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo. Comunista, foi eleito deputado federal em 1962. Seu mandato foi cassado em abril de 1964. Este texto foi preparado para um seminário promovido pelo Centro de Filosofia e Ciências, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, intitulado "64 + 40: Golpe e Campo(u)s de Resistência", no dia 29 de março de 2004.
----------
Uma vida exemplar
Era possível evitar o golpe de 1964
Fonte: Especial para Gramsci e o Brasil.
_________________________________________________________________________________________________________
----------
-----------
Herança De Um Sonho. As Memórias De Um Comunista Capa comum – 12 abril 2000
por Marco Antônio T. Coelho (Autor)
Trinta anos de luta. Uma década na clandestinidade, sem poder ver a mulher ou acompanhar o crescimento dos filhos. Missões secretas no Brasil e no exterior. Cadeia. Tortura. E, ao final, a expulsão do partido ao qual dedicou a vida. Essa história de um grande sonho, algumas vitórias e muitas derrotas, é contada pelo jornalista, ex-deputado e militante comunista Marco Antônio Coelho em Heranças De Um Sonho - As Memórias De Um Comunista, que a Editora Record acaba de lançar. São quatro décadas da história do Brasil vistas do subterrâneo. Um retrato da vida política do país - de Getúlio a Sarney -, mas da forma como ela foi vivida nas sombras, por um clandestino. Marco Antônio relata sua militância estudantil, seu ingresso no Partido Comunista, pelas mãos de Darcy Ribeiro, sua eleição para deputado federal pelo antigo estado da Guanabara (quando concorreu como candidato do PC, abrigado no PSD-PST), o golpe militar, o "exílio" em sua própria terra, a prisão e as torturas.
"O livro é um testemunho sobre episódios que vivi" - diz Marco Antônio - "e me fez recordar pessoas já falecidas que eu muito estimava: amigos, familiares e companheiros de luta. Não lamento as agruras, lamento apenas os erros que eu e outros tantos companheiros cometemos. Fui marcado pela rebeldia contra a injustiça social e a combatia com entusiasmo e paixão". Um entusiasmo que sobreviveu às derrotas e decepções. "Não me arrependo de minhas escolhas. A clandestinidade é uma experiência que não desejo para ninguém. O pior foi arrastar para essa vida dominada pela angústia e incerteza minha mulher e meus filhos, mas essa história precisava ser contada". Marco Antônio também fala de seu retorno à vida pública no longo período de redemocratização, o trabalho como jornalista e em órgãos do governo, e suas atividades no Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo. "Bela e comovedora", como diz o Ministro da Justiça, José Gregori, a história de Marco Antônio Coelho é o relato de uma época em que pessoas como ele não tinham voz. Um relato escrito "com a objetividade estóica de quem se propõe, acima de tudo, a testemunhar a verdade. E a verdade tem muitas faces", segundo as palavras do professor Alfredo Bosi.
"O livro de memórias de Marco Antônio Coelho é a história mais concisa e bem escrita que conheço sobre a militância comunista no Brasil. Pode-se agora avaliar com mais clareza o papel desempenhado por ela na educação e formação de uma boa parte dos quadros que estão hoje ocupando postos de direção na vida política do país. Por isso, e por sua qualidade literária, é uma leitura fascinante." - Armênio Guedes
"Esta é a história de um homem no seu tempo. A história pessoal e política de uma vida marcada pela dedicação à luta por um mundo melhor, de um homem moldado pela trajetória política do Brasil e do mundo. Exerceu bem as variadas funções, fossem legais ou clandestinas. A derrota política conduziu à tragédia pessoal. Teriam valido à pena a luta e o sofrimento? Sim. A derrota foi conjuntural. Os homens continuam a sonhar. Os que têm medo do futuro querem impedir que os homens sonhem. Não conseguirão. A vida de Marco Antônio Coelho - "Jacques" - servirá como estímulo e comprometimento para avançarmos na construção de uma sociedade melhor para todos nós." - Salomão Malina, presidente de honra do PPS "Bela e comovedora é a leitura do depoimento de Marco Antônio Coelho. Descreve o percurso de um brasileiro que fez uma opção ideológica conseqüente. A cepa ancestral mineira não o impediu que se tornasse militante comunista com todas as conseqüências que isso lhe trouxe clandestinidade, exercício de um mandato de Deputado Federal, num período de democracia aberta e tortura nos anos fechados. Sua história se desenvolve em quarenta anos de um Brasil múltiplo que conheceu luz e sombra e que cobrou duro preço dos que, com honestidade, embora a meu juízo, por equívoco, escolheram a via de uma mudança radical. Sua opção ao que entendia ser sua causa, exigiu-lhe um devotamento de sacerdote sem batina. Não demonstra nenhum tipo de decepção, embora seja vigoroso na crítica às palavras de ordem irrealistas que seu partido, inúmeras vezes, adotou. A democracia atual que considero firme e gradativamente à procura de ser mais justa e inclusiva, foi obra comum que absorveu o esforço e o ideal de inúmeras correntes políticas. Mesmo as que tinham idéias fora do lugar, com sua luta e sacrifício, ajudaram a torná-la possível." - José Gregori, Ministro da Justiça
_________________________________________________________________________________________________________
---------
------------
Era possível evitar o golpe de 64
Marco Antônio Coelho - Março 2014
O advogado e jornalista Marco Antônio Tavares Coelho, nascido em Belo Horizonte, em 1926, é o único remanescente da cúpula do PCB em 1964, quando houve o golpe militar que destituiu João Goulart. Era deputado federal pelo estado da Guanabara. Teve o mandato cassado, logo após o golpe; foi preso e barbaramente torturado pelos militares em 1975. Nesta entrevista ao Correio, conta que o secretário-geral do PCB, Luiz Carlos Prestes, defendia a reeleição do presidente João Goulart e rejeitava a volta ao poder do ex-presidente Juscelino Kubitschek, o que considera um erro. Revela também que tentou organizar uma resistência armada ao golpe, mas as metralhadoras e os fuzis prometidos por Darcy Ribeiro, chefe de gabinete de Jango, nunca chegaram. "A saída foi cair na clandestinidade e reorganizar o partido, que, naquele momento, ficou desorientado." (Entrevista dada a Luiz Carlos Azedo, Correio Braziliense, sexta-feira, 28 de março de 2014)
O golpe de 1964 era inevitável?
Não concordo, o golpe poderia ter sido evitado. Mas, para isso, as forças progressistas deveriam ter outro comportamento. Algumas coisas facilitaram o golpe, embora nada o justifique ou o legitime.
Quais foram as causas do golpe?
Foram várias. Em primeiro lugar, é necessário que se leve em conta que a reação, desde a jogada em que quiseram impedir a posse do presidente João Goulart, em 1962, vinha sendo derrotada. Os ministros militares que lançaram o protesto contra a posse do Jango, após a renúncia de Jânio Quadros, foram obrigados a recuar. Eles nunca se conformaram e se articularam para dar o golpe.
Havia uma situação de radicalização política e crise econômica na época. Por que eles destituíram o presidente Jango?
Naquele momento, havia uma grande campanha das forças progressistas pelas reformas de base, substanciais para enfrentar a crise econômica, mas elas eram consideradas subversivas. Não eram. Por exemplo, a questão da reforma agrária. O San Tiago Dantas e eu preparávamos um projeto de reforma agrária que não violasse as normas constitucionais, mas havia setores que queriam uma reforma mais radical. O Francisco Julião, criador das Ligas Camponesas, lançou um movimento cujo slogan era "Reforma agrária na lei ou na marra". Era uma dualidade que nós, do PCB, não queríamos aceitar. Houve outros erros das forças progressistas, que precipitaram os acontecimentos.
A sucessão de Jango em 1965, por exemplo?
Realmente, estava em curso a discussão sobre a sucessão presidencial. Em 3 de janeiro de 1964, o Luiz Carlos Prestes, secretário-geral do PCB, deu uma declaração de que o candidato deveria ser o próprio presidente Jango, que não poderia ser candidato. Por cima de todo mundo, lançou essa proposta num programa de televisão, mas isso não era constitucional. Dentro do próprio partido, havia camaradas que não concordavam com a candidatura de Juscelino Kubitschek, que o PSD estava articulando. Se nós tivéssemos recuado e apoiado a candidatura do Juscelino, o golpe seria evitado.
O PCB estava preparando um golpe?
Havia elementos no partido que pensavam dessa forma. O grosso do partido, porém, estava lutando pela legalidade, esse era o nosso problema fundamental. Declarações como essa, de que não seria possível a candidatura de Juscelino, porque seria um retrocesso político, estimularam os golpistas. Por causa disso, o PSD passou a fazer oposição ao governo Jango.
O que aconteceu em 31 de março?
Fui acordado com uma informação de Belo Horizonte, de que a 4ª Região Militar havia se levantado. Em vez de ir para a Câmara, fui para o centro de comunicações do Exército. Lá, recebi informações de que muitos elementos estavam aceitando o golpe, inclusive no Rio de Janeiro e no Rio Grande do Sul. De lá, segui para uma reunião do secretariado do Comitê Central, na Rua Álvaro Alvim (na Cinelândia, Rio de Janeiro), da qual participaram Prestes, Giocondo Dias e Dinarco Reis, todos ex-militares. Nessa época, Carlos Marighella já não fazia parte do secretariado e fazia agitação lateral.
O que foi discutido?
Na reunião, informei que havia me encontrado com o tenente-coronel Joaquim Inácio Baptista Cardoso, que era comandante da Divisão Blindada do Rio de Janeiro. Ele me contou que acabara de ser solto. Nós sabíamos que quem poderia resolver as coisas era essa divisão. Ele havia sido preso pelos golpistas e destituído do comando de sua tropa, a situação já era irreversível. Prestes propôs que eu fosse me encontrar com o Jango, o que só aconteceu no dia seguinte, em Brasília, com a recomendação de que seria indispensável a demissão do general Amaury Kruel do comando do II Exército. O Jango falou: "Bobagem, ele é muito amigo, acabei de nomear o filho dele representante do Loyd Brasileiro em Nova Orleans, nos EUA". Fiquei calado, mas nunca mais me esqueci disso. Kruel aderiu ao golpe.
Por que não houve resistência?
Depois de comunicar à direção a resposta de Jango, dirigi-me ao Hotel Nacional para uma reunião com dirigentes e sindicalistas do partido aqui de Brasília, cujo objetivo era preparar a resistência armada ao golpe. O Darcy Ribeiro, que era o chefe de gabinete de Jango e um velho amigo, havia se comprometido a me entregar fuzis e metralhadoras e até me passou uma lista de políticos da UDN e ministros do Tribunal de Justiça que deveriam ser presos. Walter Ribeiro, um dos nossos camaradas do Comitê Central assassinado pela ditadura, era ex-tenente do Exército e orientava os preparativos. Mas não houve distribuição de armas. O grosso do Exército em Brasília já apoiava o golpe de Estado.
Depois que o Jango resolveu ir para o Rio Grande do Sul, em 1º de abril, o senhor foi para onde?
Nós esperávamos que ele resistisse no Rio Grande do Sul. Pretendíamos ir para Trombas e Formoso, em Goiás, onde havia uma guerrilha de camponeses. Mas, como não tínhamos armas, achamos melhor cair na clandestinidade. Alguns colegas da Câmara resolveram pedir asilo nas embaixadas. Alguns foram presos, como Julião. Meu apartamento já havia sido invadido. Mas eu tinha experiência de luta clandestina, decidi ir para São Paulo, por Belo Horizonte e Paracatu, com ajuda da família. Lá, me encontrei com Giocondo Dias e começamos o trabalho de reorganização do partido. Essa clandestinidade durou até 14 de janeiro de 1975, quando fui sequestrado e preso pelo Exército, no Rio de Janeiro.
O senhor foi muito torturado?
Só não fui assassinado como outros companheiros que viviam isolados na clandestinidade porque tinha um compromisso familiar. Pretendia jantar com minha mulher e meu filho, na casa de Helena Besserman, em 16 de janeiro, aniversário do Marquinhos (o jornalista Marco Antônio Tavares Coelho Filho). Teresa sabia que eu só não apareceria se estivesse preso e, por isso, quando não apareci, houve uma mobilização de parentes e amigos para denunciar o meu sequestro e me localizar. Informado, o senador Pedro Simon (MDB-RS) denunciou minha prisão no Senado. Eu era um ex-deputado como Rubem Paiva, que já havia sido assassinado. Quando fui transferido para a Rua Tutoia, em São Paulo, o cardeal Evaristo Arns soube do meu caso e foi lá me visitar. Não puderam me matar.
Cerco e aniquilamento
Após vitória do MDB nas eleições de 1974 - elegeu 16 dos 21 novos representantes dos estados no Senado, entre eles Itamar Franco (MG), Orestes Quércia (SP), Iris Rezende (GO), Mauro Benevides (CE), Paulo Brossard (RS) e José Richa (PR) -, a cúpula do PCB ficou eufórica. "O Orlando Bonfim havia viajado para o exterior e eu escrevi o editorial da Voz Operária que recomendava apertar o cerco contra a ditadura, quando a hora era de recuar. Eles é que apertaram o cerco para nos aniquilar", conta Marco Antônio Tavares Coelho. No mês seguinte, ele foi preso, numa operação na qual também "caíram" as gráficas do PCB.
Uma delas, em São Paulo, foi montada pelo ex-deputado comunista, com US$ 5 mil que recebera do ex-presidente João Goulart, no Uruguai, onde foi visitá-lo três meses após o golpe, em nome do PCB, para ajudar a demover o ex-governador Leonel Brizola de tentar invadir o Rio Grande do Sul pela fronteira. "Seríamos massacrados." Nessa gráfica, era impresso o clandestino Notícias censuradas, com a colaboração do jornalista Milton Coelho da Graça, que recolhia as matérias que haviam sido proibidas pelos militares nas redações do Rio de Janeiro e de São Paulo.
----------
Artigos relacionados:
Uma vida exemplar
Os erros que cometemos e o que aprendemos com eles
Fonte: Correio Braziliense, 28 mar. 2014.
_________________________________________________________________________________________________________
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário