:
– “Acorda, Haddad! Dória já acordou”!
Quem não vai à Tribuna da Internet
com a dedicação de um jornalista com mais de 50 anos de jornalismo, pode deixar
de ir à fonte de águas limpas e cristalinas de informação.
Observem que o artigo a seguir foi
publicado pelo editor Carlos Newton, naquela Tribuna Livre, em 07/04/2016.
Acordai,
jornalistas! Carlos Newton já acordou!
Está no sereno das comunicações há
apenas 50 anos.
O deputado João Doria e o filho,
que agora se lança na política
Sebastião
Nery
João
Doria, João Agripino da Costa Doria, baiano de excepcional talento, foi o mais
brilhante marqueteiro do pais, do time de Nizan Guanaes, Washington Olivetto,
Duda Mendonça.
Empolgado
com a candidatura de Juracy Magalhães, governador da Bahia, à presidência da
Republica, pela UDN, ficou contra Janio Quadros que, em novembro de 1960, ia
disputar a candidatura com Juracy na convenção da UDN. Doria criou um slogan
arrasador, como tudo que fazia: – “A UDN não precisa de vassoura.
Juracy é limpo”.
E
teve a ideia de mobilizar lideranças políticas do Nordeste: – “Chegou a Vez do
Nordeste – Para presidente, Juracy”.
“A
Tarde” gostou do projeto e lá fui eu pelo Nordeste para ouvir os governadores.
A segunda escala foi Pernambuco. Encontrei o rastro luminoso de Doria, o
criador do marketing político brasileiro.
No
ano anterior havia comandado a propaganda da renovadora candidatura do
industrial Cid Sampaio, da UDN, e concunhado de Miguel Arraes, depois
secretario da Fazenda do governo de Cid.
O
adversário de Cid era o respeitado professor, ex-deputado e senador Jarbas
Maranhão, do PSD. Doria criou nas rádios uma devastadora campanha contra ele.
Às seis da manhã, um relógio despertava, o locutor chamava: -“Acorda, Jarbas!
Cid já acordou!” Às sete horas, de novo o despertador tocando e o locutor : –
“Acorda, Jarbas! Cid já acordou”! E assim às oito, às nove, às dez, às onze. Às
doze, afinal : – “Jarbas acordou! Muito bem, Jarbas! Mas agora é tarde. Cid já
ganhou”.
Cid
me disse que ele e a UDN de Pernambuco iriam votar em Juracy, mas achava muito
difícil a UDN resistir à avalanche da aliança de Janio com Carlos Lacerda. Não
resistiu.
Em
1962 Doria saiu candidato a deputado federal pela Bahia, eu a deputado
estadual. Fizemos a campanha juntos. E ganhamos.
Um
dia Salvador amanheceu coberta de cartazes: – “João Doria vem ai”. Um mês
depois: “João Doria vai chegar”. Mais um mês e afinal:
-“João
Doria chegou”. Foi uma campanha eletrizante.
Agora
vejo o filho João Doria candidato a prefeito de São Paulo. Conheço a bravura
deles. DNA não falha.
O
NOSSO “AI-2”
Na
Câmara Federal, dirigente da Frente Parlamentar Nacionalista, logo João Doria
se revelou um parlamentar de primeira linha. Forte na tribuna, competente nas
negociações, o golpe militar de 64 não o perdoou. Foi cassado logo na primeira
lista, entre os 100 do 10 de abril.
E
fomos, cada um em seu canto, resistir a seu jeito. A maioria, como eu, entre
prisões e aparelhos, perdeu logo todo o ano de 64. E em 65 um grupo baiano foi
afinal encontrar-se em um esconderijo em São Paulo.
Não
nos conformávamos em a ditadura estar roubando preciosos anos de nossas vidas,
sem podermos atuar abertamente.
João
Dória, cassado, antes de exilar-se em Paris, onde se bacharelou em Psicologia
na Universidade da Sorbonne, e fazer mestrado e doutorado na Inglaterra na
Universidade de Sussex, chamou um pequeno grupo para despedir-se, os que ele
conhecia da campanha na Bahia: Mario Lima, Helio Duque, Domingos Leonelli, Luiz
Gonzaga, eu.
E
sugeriu fazermos um “Ato Institucional nº 2”, que seria “assinado” pelo
general-presidente Castelo. Ele na maquina, com seu talento e agilidade e nós,
em volta, sugerindo coisas, palpitando. De madrugada, estava pronto,
multiplicado em dezenas de copias. Cada um saiu com seu pacote, para
discretamente levarmos aos Correios e mandarmos a todos os jornais, revistas e
TVs.
Lembro
o artigo 1º: – “A partir desta data, o Brasil deixa de ser “Estados Unidos do
Brasil” e passa a ser “Brasil dos Estados Unidos”.
Eram
doze artigos. Cada um mais objetivo e indiscutível. Começaram a pipocar notas
pelos jornais e revistas. E lá um dia o Carlos Heitor Cony, com sua bravura,
publicou na integra no “Correio da Manhã”. Foi um escândalo nacional. O governo
ficou possesso. Cony foi preso. Nunca ninguém descobriu a origem, que revelei
pela primeira vez em meu livro “A Nuvem”, em homenagem a Doria e Cony.
REVISTA
“DIA 1”
Era
começo de 1965. Meses depois, em 27 de outubro de 65, o general-presidente
Castelo Branco assinou o Ato Institucional nº 2, com 33 artigos, muito pior do
que o nosso : (eleição indireta para a presidência da Republica para liquidar
Lacerda pois Juscelino já estava cassado; dissolução de todos os partidos
políticos; estupro do Supremo Tribunal aumentando de 11 para 16 o numero de
ministros, o que daria absoluta maioria ao governo; reabertura do processo de
cassações etc).
O
sucesso do nosso “AI-2” nos animou a continuar cutucando o cão com vara curta.
O que a maioria daquela baianada acuada em São Paulo, sabia fazer era jornal,
revista. Uma revista com poucos nomes legais e a maioria falsos. - “Dia 1”! Em homenagem
ao 1º de abril deles.
Quando
o governo percebeu que “Dia 1” era para valer, fechou.
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