“Tenho a impressão de que o senhor
deixou as pernas debaixo de um automóvel, Seu Ribeiro. Por que não andou mais
depressa? É o diabo.” Exclamação de Paulo Honório no Capítulo
7 de São Bernardo, de Graciliano Ramos
“A verdade é que não me preocupo
muito com o outro mundo. Admito Deus, pagador celeste dos meus trabalhadores,
mal remunerados cá na terra, e admito o Diabo, futuro carrasco do ladrão que me
furtou uma vaca de raça.” Paulo Honório, Capítulo 24, São
Bernardo
“A verdadeira busca começa onde
termina a vida de Paulo Honório. A busca verdadeira, entenda-se, a procura dos
verdadeiros e autênticos valores que deveriam reger as relações entre os
homens.” O mundo à revelia, João Luiz Lafetá
Quando
o PT deixou de ser o portador da “Revolução dos Santos”, e se locupletou no
“Ministério da Revolução”, foi ultrapassado pelo Ministério Público, único no
mundo, nos moldes concebidos pela Constituição de 1988, contra a qual o PT se
posicionou.
O
Ministério Público que se ombreara com PT e forças democráticas para expurgar o
neto do primeiro Ministro da Revolução, quando aquele demonstrou atraso e não
acompanhou o andar da carruagem da história.
No
poder, o PT foi Ribeirizado pelas rodas
do progresso e o vapor da democracia que renegara desde sua gênese, expressa na
rejeição da Constituição de 1986, e seu amesquinhamento no poder deslumbrado e
inconsequente.
Entrevista Luiz Werneck Vianna
•
A sociedade tradicional brasileira estrebucha com a intervenção cirúrgica no
mundo da política.
Por Patricia
Fachin - IHU On-Line
“O
fato é que está sendo dissipado um nevoeiro e está sendo extraído um véu que
encobria as relações espúrias entre o público e o privado”, afirma o sociólogo.
“Eu
tenho medo de que se perca o que há de ‘revolução verdadeira’ nesse processo, e
de que a velha política, o que há de pior na tradição republicana brasileira,
reencontre o seu lugar. Nesse momento em que você me telefona (11-03-2015), o
que está em curso é isso: a tentativa de desautorização, desmoralização e
desqualificação do papel desses reformadores da vida republicana brasileira”.
A
declaração é do sociólogo Luiz Werneck Vianna, em entrevista à IHU On-Line,
concedida por telefone na última sexta-feira, ao comentar os fatos envolvendo
as ações do Ministério Público e da Operação Lava Jato, que investiga as
relações de corrupção entre o Estado e as grandes empreiteiras.
Apesar
da crise política que se estende pelo país, com disputas de todos os lados, “as
instituições estão funcionando, sim”, e no “Brasil há uma ‘revolução dos
santos’”, aos moldes da que foi implementada no mundo anglo-saxão, conduzida
por “homens irmanados em torno de princípios, da crença forte no sistema das
leis, de valores éticos, como se fossem portadores de uma missão: a de renovar
os fundamentos da cultura brasileira, especialmente da cultura política brasileira”,
afirma o sociólogo.
Na
entrevista a seguir, Werneck Vianna lembra que, ao longo da história do Brasil,
a magistratura foi responsável por “articular” as relações entre o Estado e o
setor privado. Contudo, pontua, a Constituição de 88 “releu e interpretou essa
história, expurgou-a de seus elementos caracteristicamente autoritários e deu
projeção e imprimiu uma leitura democrática a essas instituições. Mais que
isso: inovou criando essa figura inédita no Direito comparado, que é o
Ministério Público, para agir junto à sociedade, em defesa dela”.
Segundo
ele, para entender o que acontece hoje no país, é preciso perceber que à medida
que essas instituições “se robusteciam, a política institucional foi se
enfraquecendo e se deteriorando até o ponto de que hoje boa parte dos
representantes do povo está com a vida comprometida num inquérito policial”.
Assim, hoje a “sociedade tradicional brasileira estrebucha com essa
intervenção, porque essa é uma intervenção cirúrgica no mundo da política e
especialmente na relação entre política e economia, entre os poderes políticos
e econômicos; basta ver a relação dos partidos com as empreiteiras, por onde
passa esse segredo de uma relação de contubérnio [convivência] entre a esfera
pública e a esfera privada no Brasil”.
A
dificuldade neste momento, adverte, é que “apenas com o Direito não será
possível mudar o Brasil. A meu ver, a ilusão das instituições é a de que isso é
possível somente se apoiando na Constituição e nos textos legais, mas isso não
basta; é preciso que a política entre em cena também. Mas está difícil de a
política entrar em cena do jeito que os partidos estão”. E conclui: “Temos que
procurar salvar a política, porque, do contrário, a ‘revolução dos santos’
poderá ficar inconclusa e poderá ser uma página frustrada na política
brasileira se ela não for completada pela ação política”.
“
– ‘...É, é o mundo à revelia...’ – isso foi o fêcho do que Zé Bebelo falou.”
(GUIMARÃES
ROSA, Grande Sertão Veredas )
Livro
6: São Bernardo - Graciliano Ramos - Record - 28/02/2014
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