sexta-feira, 23 de março de 2018

Palmatórias de volta


Na Escolinha do Professor José Luiz Ribeiro


Mediação e Linguagem: O lavador de pedras, Manoel de Barros

O LAVADOR DE PEDRA - Manoel de Barros (conto)

O LAVADOR DE PEDRA
Manoel de Barros
in, Memórias Inventadas (VI)
Editora Planeta
São Paulo, 2003

A GENTE MORAVA NO PATRIMÔNIO DE PEDRA LISA.
PEDRA LISA ERA UM ARRUADO DE 13 CASAS E O RIO POR DETRÁS.
PELO ARRUADO PASSAVAM COMITIVAS DE BOIADEIROS E MUITOS ANDARILHOS.
MEU AVÔ BOTOU UMA VENDA NO ARRUADO. VENDIA TOUCINHO, FREIOS, ARROZ, RAPADURA E TAIS. OS MANTIMENTOS QUE OS BOIADEIROS COMPRAVAM DE PASSAGEM. ATRÁS DA VENDA ESTAVA O RIO. E UMA PEDRA QUE AFLORAVA NO MEIO DO RIO. MEU AVÔ, DE TARDEZINHA, IA LAVAR A PEDRA ONDE AS GARÇAS POUSAVAM E CACARAVAM. NA PEDRA NÃO CRESCIA NEM MUSGO. PORQUE O CUSPE DAS GARÇAS TEM UM ÁCIDO QUE MATA NO NASCEDOURO QUALQUER ESPÉCIE DE PLANTA.
MEU AVÔ GANHOU O DESNOME DE LAVADOR DE PEDRA. PORQUE TODA TARDE ELE IA LAVAR AQUELA PEDRA. A VENDA FICOU NO TEMPO ABANDONADA. QUE NEM UMA CAMA FICASSE ABANDONADA.
É QUE OS BOIADEIROS AGORA FAZIAM ATALHOS POR OUTRAS ESTRADAS.
A VENDA FICOU POR ISSO NO ABANDONO DE MORRER. PELO ARRUADO SÓ PASSAVAM AGORA OS ANDARILHOS. E OS ANDARILHOS PARAVAM SEMPRE PARA UMA PROSA COM MEU AVÔ. E PARA DIVIDIR A VIANDA QUE A MÃE MANDAVA PARA ELE.
AGORA O AVÔ MORAVA NA PORTA DA VENDA, DEBAIXO DE UM PÉ DE JATOBÁ.
DALI ELE VIA OS MENINOS RODANDO ARCOS DE BARRIL AO MODO QUE BICICLETA.
VIA OS MENINOS EM CAVALO-DE-PAU CORRENDO AO MODO QUE MONTADOS EM EMA. VIA OS MENINOS QUE JOGAVAM BOLA DE MEIA AO MODO QUE DE COURO.
E CORRIAM VELOZES PELO ARRUADO AO MODO QUE TIVESSEM COMIDO CANELA DE CACHORRO.
TUDO ISSO MAIS OS PASSARINHOS E OS ANDARILHOS ERA A PAISAGEM DO MEU AVÔ.
CHEGOU QUE ELE DISSE UMA VEZ: OS ANDARILHOS, AS CRIANÇAS E OS PASSARINHOS TÊM O DOM DE SER POESIA.
DOM DE SER POESIA É MUITO BOM!



O Lavador de Pedra - Manoel de Barros 6as e 7as séries
A gente morava no patrimônio de Pedra Lisa. Pedra Lisa era um arruado de 13 casas e o rio por detrás. Pelo arruado passavam comitivas de boiadeiros e muitos andarilhos. Meu avô botou uma Venda no arruado. Vendia toucinho, freios, arroz, rapadura e tais. Os mantimentos que os boiadeiros compravam de passagem. Atrás da Venda estava o rio. E uma pedra que aforava no meio do rio. Meu avô, de tardezinha, ia lavar a pedra onde as garças pousavam e cacaravam. Na pedra não crescia nem musgo. Porque o cuspe das garças tem um ácido que mata no nascedouro qualquer espécie de planta. Meu avô ganhou o desnome de Lavador de Pedra. Porque toda tarde ele ia lavar aquela pedra.
A Venda ficou no tempo abandonada. Que nem uma cama ficasse abandonada. É que os boiadeiros agora faziam atalhos por outras estradas. A Venda por isso ficou no abandono de morrer. Pelo arruado só passavam agora os andarilhos. E os andarilhos paravam sempre para uma prosa com o meu avô. E para dividir a vianda que a mãe mandava para ele. Agora o avô morava na porta da Venda, debaixo de um pé de jatobá.  Tudo isso mais os passarinhos e os andarilhos era a paisagem do meu avô. Chegou que ele disse uma vez: Os andarilhos, as crianças e os passarinhos têm o dom de ser poesia. Dom de ser poesia é muito bom!





MINHA ESCOLA
Ascenso Ferreira
A escola que eu frequentava era cheia de grades como as prisões.
E o meu Mestre, carrancudo como um dicionário;
Complicado como as Matemáticas;
Inacessível como Os Lusíadas de Camões!
À sua porta eu estacava sempre hesitante…
De um lado a vida… – A minha adorável vida de criança:
Pinhões… Papagaios… Carreiras ao sol…
Voos de trapézio à sombra da mangueira!
Saltos da ingazeira pra dentro do rio…
Jogos de castanhas…
– O meu engenho de barro de fazer mel!
Do outro lado, aquela tortura:
“As armas e os barões assinalados!”
– Quantas orações?
– Qual é o maior rio da China?
– A 2 + 2 A B = quanto?
– Que é curvilíneo, convexo?
– Menino, venha dar sua lição de retórica!
– “Eu começo, atenienses, invocando
a proteção dos deuses do Olimpo
para os destinos da Grécia!”
– Muito bem! Isto é do grande Demóstenes!
– Agora, a de francês:
– “Quand le christianisme avait apparu sur la terre…”
– Basta.
– Hoje temos sabatina…
– O argumento é a bolo!
– Qual é a distância da Terra ao Sol?
– ? !!
– Não sabe? Passe a mão à palmatória!
– Bem, amanhã quero isso de cor…
Felizmente, à boca da noite,
Eu tinha uma velha que me contava histórias…
Lindas histórias do reino da Mãe-d’Água…
E me ensinava a tomar abenção à lua nova.



21/03/2018 4:30
A volta da palmatória
Leo Aversa

Um método arcaico pode resolver o problema dos pais que não têm tempo, paciência ou disposição

Houve um tempo em que dar a mão à palmatória era algo bem mais doloroso do que uma expressão batida. Nas escolas valia o errou-levou, nada de banquinho da disciplina ou cantinho da reflexão, só palmada, reguada ou joelho no milho. Uma dureza. Qualquer bagunça ou resposta atravessada e a coisa ficava feia pro aluno. Mas o tempo passou e por sorte as escolas mudaram seus métodos, suas práticas, e o castigo físico ficou para trás. Virou artigo de museu, igual ao bom dia, o por favor e o obrigado.

A educação melhorou com o fim dessa crueldade anacrônica ?

Valentina vive atracada ao celular. Com sete anos já tem o seu próprio iPhone e acesso à internet e WhatsApp. É lá que ela passa o dia trocando fotos, áudios, vídeos com outras — quanta ingenuidade — crianças. No começo, os pais da Valentina eram contra, mas uma amiguinha ganhou o seu, e eles não queriam a Valentina traumatizada por não ter algo que uma amiguinha tem. A mãe, às vezes, pede para a filha largar um pouco o celular, aí a Valentina ameaça não gostar mais dela e a mãe, aterrorizada com essa possibilidade, pede desculpas e se finge de morta. Já o pai até pergunta o que ela anda compartilhando, mas basta a menina responder que não é nada demais que ele se dá por satisfeito e volta para os seus assuntos. A Valentina leva o celular para a escola e fica chateada quando ele é confiscado pela professora. Seus pais acham isso um absurdo — a professora proibir celular, não a Valentina tentar postar selfies durante a aula — e logo devolvem o aparelho para a menina. Quem essa professora pensa que é, reclamam indignados.

Enzo está sempre zoando as aulas. Ele tem dez anos, é um menino esperto e tem por hobby tocar o terror na escola. Um garoto adorável, segundo os seus próprios pais, um capeta mimado, segundo os colegas. Antes de o Enzo nascer, os pais dele tentaram um jardim de cactos e um aquário, mas ambos davam muito trabalho e foram abandonados. Resolveram então ter um filho porque na época isso era meio modinha entre os amigos. Ao descobrirem que criança dá ainda mais trabalho que cactos ou aquários, entregaram o pequeno Enzo para um batalhão de babás de dar inveja ao príncipe George. O Enzo, sempre esperto, logo percebeu que as babás não o contrariavam para não perder o emprego e começou a dar as ordens. Como os pais estão sempre trabalhando — para pagar o batalhão de babás — em casa é ele o rei. Na escola também quer mandar em tudo e acha que os professores são babás sem uniforme. Os pais, atarantados, estão esperando que o lançamento de algum app para educar filhos solucione o problema. A tecnologia vai resolver tudo, pensam conectados.

Talvez seja a hora de voltar para a palmatória e os castigos.

Não para crianças como o Enzo ou a Valentina, isso seria uma crueldade anacrônica.

Para os pais delas.
Deram um celular para uma criança pequena? Dez palmadas em cada. O filho não respeita professor? Pais ajoelhados no milho por meia hora.

Terceirizaram a educação do filho e ficam reclamando do comportamento dele? A tarde toda de chapéu de burro no canto da sala.


E a escola ainda pode cobrar dos pais um extra pela lição. Vai custar mais barato do que psicanalista pro Enzo, coach pra Valentina e autoajuda para todos.



Onde Eu Nasci Passa Um Rio
Caetano Veloso


 
Onde eu nasci passa um rio
Que passa no igual sem fim
Igual, sem fim, minha terra
Passava dentro de mim

Passava como se o tempo
Nada pudesse mudar
Passava como se o rio
Não desaguasse no mar

O rio deságua no mar
Já tanta coisa aprendi
Mas o que é mais meu cantar
É isso que eu canto aqui

Hoje eu sei que o mundo é grande
E o mar de ondas se faz
Mas nasceu junto com o rio
O canto que eu canto mais

O rio só chega no mar
Depois de andar pelo chão
O rio da minha terra
Deságua em meu coração
Composição: Caetano Veloso




Bola de Meia, Bola de Gude
Milton Nascimento
 


Há um menino
Há um moleque
Morando sempre no meu coração
Toda vez que o adulto balança
Ele vem pra me dar a mão

Há um passado no meu presente
Um sol bem quente lá no meu quintal
Toda vez que a bruxa me assombra
O menino me dá a mão

E me fala de coisas bonitas
Que eu acredito
Que não deixarão de existir
Amizade, palavra, respeito
Caráter, bondade alegria e amor
Pois não posso
Não devo
Não quero
Viver como toda essa gente
Insiste em viver
E não posso aceitar sossegado
Qualquer sacanagem ser coisa normal

Bola de meia, bola de gude
O solidário não quer solidão
Toda vez que a tristeza me alcança
O menino me dá a mão
Há um menino
Há um moleque
Morando sempre no meu coração
Toda vez que o adulto fraqueja
Ele vem pra me dar a mão
Composição: Fernando Brant / Milton Nascimento






5º Ciclo de conferências | Os poetas pelos poetas: Manoel de Barros: em que acreditar senão no riso?

Ciclo de Conferências "Os poetas pelos poetas" Conferência: "Manoel de Barros: em que acreditar senão no riso?" Coordenador: Acadêmico Antonio Carlos Secchin Conferencista: Alberto Pucheu Data: 22/7/2014

Exercícios Sobre Manoel De Barros

Com estes exercícios sobre Manoel de Barros, você avaliará seu conhecimento sobre um grande destaque da literatura brasileira.
Publicado por: Mariana do Carmo Pacheco em Exercícios de Literatura

http://exercicios.mundoeducacao.bol.uol.com.br/exercicios-literatura/exercicios-sobre-manoel-barros.htm




Referências
https://youtu.be/KcE_b5aiNIQ
http://casaderafael.blogspot.com.br/2013/09/memorias-inventadas-o-lavador-de-pedra.html?m=1
http://contosdocongonhas.blogspot.com.br/2010/05/o-lavador-de-pedra-manoel-de-barros-6as.html
http://www.tribunadainternet.com.br/nas-memorias-poeticas-de-ascenso-ferreira-a-escola-no-tempo-da-palmatoria/
https://oglobo.globo.com/rio/a-volta-da-palmatoria-22510031
https://youtu.be/2tgwFNoxRNM
https://www.letras.mus.br/caetano-veloso/144571/
https://youtu.be/G9RS2BkbqHw
https://www.letras.mus.br/milton-nascimento/102443/
https://youtu.be/ryy9QPN8oOs
https://www.youtube.com/watch?v=ryy9QPN8oOs&t=967s
http://exercicios.mundoeducacao.bol.uol.com.br/exercicios-literatura/exercicios-sobre-manoel-barros.htm

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