Na Escolinha do Professor José Luiz Ribeiro
Mediação
e Linguagem: O lavador de pedras, Manoel de Barros
O
LAVADOR DE PEDRA - Manoel de Barros (conto)
O LAVADOR DE PEDRA
Manoel de Barros
in, Memórias Inventadas (VI)
Editora Planeta
São Paulo, 2003
A GENTE MORAVA NO PATRIMÔNIO DE PEDRA LISA.
PEDRA LISA ERA UM ARRUADO DE 13 CASAS E O RIO POR DETRÁS.
PELO ARRUADO PASSAVAM COMITIVAS DE BOIADEIROS E MUITOS ANDARILHOS.
MEU AVÔ BOTOU UMA VENDA NO ARRUADO. VENDIA TOUCINHO, FREIOS, ARROZ, RAPADURA E TAIS. OS MANTIMENTOS QUE OS BOIADEIROS COMPRAVAM DE PASSAGEM. ATRÁS DA VENDA ESTAVA O RIO. E UMA PEDRA QUE AFLORAVA NO MEIO DO RIO. MEU AVÔ, DE TARDEZINHA, IA LAVAR A PEDRA ONDE AS GARÇAS POUSAVAM E CACARAVAM. NA PEDRA NÃO CRESCIA NEM MUSGO. PORQUE O CUSPE DAS GARÇAS TEM UM ÁCIDO QUE MATA NO NASCEDOURO QUALQUER ESPÉCIE DE PLANTA.
MEU AVÔ GANHOU O DESNOME DE LAVADOR DE PEDRA. PORQUE TODA TARDE ELE IA LAVAR AQUELA PEDRA. A VENDA FICOU NO TEMPO ABANDONADA. QUE NEM UMA CAMA FICASSE ABANDONADA.
É QUE OS BOIADEIROS AGORA FAZIAM ATALHOS POR OUTRAS ESTRADAS.
A VENDA FICOU POR ISSO NO ABANDONO DE MORRER. PELO ARRUADO SÓ PASSAVAM AGORA OS ANDARILHOS. E OS ANDARILHOS PARAVAM SEMPRE PARA UMA PROSA COM MEU AVÔ. E PARA DIVIDIR A VIANDA QUE A MÃE MANDAVA PARA ELE.
AGORA O AVÔ MORAVA NA PORTA DA VENDA, DEBAIXO DE UM PÉ DE JATOBÁ.
DALI ELE VIA OS MENINOS RODANDO ARCOS DE BARRIL AO MODO QUE BICICLETA.
VIA OS MENINOS EM CAVALO-DE-PAU CORRENDO AO MODO QUE MONTADOS EM EMA. VIA OS MENINOS QUE JOGAVAM BOLA DE MEIA AO MODO QUE DE COURO.
E CORRIAM VELOZES PELO ARRUADO AO MODO QUE TIVESSEM COMIDO CANELA DE CACHORRO.
TUDO ISSO MAIS OS PASSARINHOS E OS ANDARILHOS ERA A PAISAGEM DO MEU AVÔ.
CHEGOU QUE ELE DISSE UMA VEZ: OS ANDARILHOS, AS CRIANÇAS E OS PASSARINHOS TÊM O DOM DE SER POESIA.
DOM DE SER POESIA É MUITO BOM!
Manoel de Barros
in, Memórias Inventadas (VI)
Editora Planeta
São Paulo, 2003
A GENTE MORAVA NO PATRIMÔNIO DE PEDRA LISA.
PEDRA LISA ERA UM ARRUADO DE 13 CASAS E O RIO POR DETRÁS.
PELO ARRUADO PASSAVAM COMITIVAS DE BOIADEIROS E MUITOS ANDARILHOS.
MEU AVÔ BOTOU UMA VENDA NO ARRUADO. VENDIA TOUCINHO, FREIOS, ARROZ, RAPADURA E TAIS. OS MANTIMENTOS QUE OS BOIADEIROS COMPRAVAM DE PASSAGEM. ATRÁS DA VENDA ESTAVA O RIO. E UMA PEDRA QUE AFLORAVA NO MEIO DO RIO. MEU AVÔ, DE TARDEZINHA, IA LAVAR A PEDRA ONDE AS GARÇAS POUSAVAM E CACARAVAM. NA PEDRA NÃO CRESCIA NEM MUSGO. PORQUE O CUSPE DAS GARÇAS TEM UM ÁCIDO QUE MATA NO NASCEDOURO QUALQUER ESPÉCIE DE PLANTA.
MEU AVÔ GANHOU O DESNOME DE LAVADOR DE PEDRA. PORQUE TODA TARDE ELE IA LAVAR AQUELA PEDRA. A VENDA FICOU NO TEMPO ABANDONADA. QUE NEM UMA CAMA FICASSE ABANDONADA.
É QUE OS BOIADEIROS AGORA FAZIAM ATALHOS POR OUTRAS ESTRADAS.
A VENDA FICOU POR ISSO NO ABANDONO DE MORRER. PELO ARRUADO SÓ PASSAVAM AGORA OS ANDARILHOS. E OS ANDARILHOS PARAVAM SEMPRE PARA UMA PROSA COM MEU AVÔ. E PARA DIVIDIR A VIANDA QUE A MÃE MANDAVA PARA ELE.
AGORA O AVÔ MORAVA NA PORTA DA VENDA, DEBAIXO DE UM PÉ DE JATOBÁ.
DALI ELE VIA OS MENINOS RODANDO ARCOS DE BARRIL AO MODO QUE BICICLETA.
VIA OS MENINOS EM CAVALO-DE-PAU CORRENDO AO MODO QUE MONTADOS EM EMA. VIA OS MENINOS QUE JOGAVAM BOLA DE MEIA AO MODO QUE DE COURO.
E CORRIAM VELOZES PELO ARRUADO AO MODO QUE TIVESSEM COMIDO CANELA DE CACHORRO.
TUDO ISSO MAIS OS PASSARINHOS E OS ANDARILHOS ERA A PAISAGEM DO MEU AVÔ.
CHEGOU QUE ELE DISSE UMA VEZ: OS ANDARILHOS, AS CRIANÇAS E OS PASSARINHOS TÊM O DOM DE SER POESIA.
DOM DE SER POESIA É MUITO BOM!
O
Lavador de Pedra - Manoel de Barros 6as e 7as séries
A gente morava no patrimônio de Pedra Lisa. Pedra
Lisa era um arruado de 13 casas e o rio por detrás. Pelo arruado passavam
comitivas de boiadeiros e muitos andarilhos. Meu avô botou uma Venda no
arruado. Vendia toucinho, freios, arroz, rapadura e tais. Os mantimentos que os
boiadeiros compravam de passagem. Atrás da Venda estava o rio. E uma pedra que
aforava no meio do rio. Meu avô, de tardezinha, ia lavar a pedra onde as garças
pousavam e cacaravam. Na pedra não crescia nem musgo. Porque o cuspe das garças
tem um ácido que mata no nascedouro qualquer espécie de planta. Meu avô ganhou
o desnome de Lavador de Pedra. Porque toda tarde ele ia lavar aquela pedra.
A Venda ficou no tempo abandonada. Que nem uma cama ficasse abandonada. É que os boiadeiros agora faziam atalhos por outras estradas. A Venda por isso ficou no abandono de morrer. Pelo arruado só passavam agora os andarilhos. E os andarilhos paravam sempre para uma prosa com o meu avô. E para dividir a vianda que a mãe mandava para ele. Agora o avô morava na porta da Venda, debaixo de um pé de jatobá. Tudo isso mais os passarinhos e os andarilhos era a paisagem do meu avô. Chegou que ele disse uma vez: Os andarilhos, as crianças e os passarinhos têm o dom de ser poesia. Dom de ser poesia é muito bom!
A Venda ficou no tempo abandonada. Que nem uma cama ficasse abandonada. É que os boiadeiros agora faziam atalhos por outras estradas. A Venda por isso ficou no abandono de morrer. Pelo arruado só passavam agora os andarilhos. E os andarilhos paravam sempre para uma prosa com o meu avô. E para dividir a vianda que a mãe mandava para ele. Agora o avô morava na porta da Venda, debaixo de um pé de jatobá. Tudo isso mais os passarinhos e os andarilhos era a paisagem do meu avô. Chegou que ele disse uma vez: Os andarilhos, as crianças e os passarinhos têm o dom de ser poesia. Dom de ser poesia é muito bom!
MINHA
ESCOLA
Ascenso Ferreira
Ascenso Ferreira
A escola que eu frequentava era cheia de grades como
as prisões.
E o meu Mestre, carrancudo como um dicionário;
Complicado como as Matemáticas;
Inacessível como Os Lusíadas de Camões!
À sua porta eu estacava sempre hesitante…
De um lado a vida… – A minha adorável vida de criança:
Pinhões… Papagaios… Carreiras ao sol…
Voos de trapézio à sombra da mangueira!
Saltos da ingazeira pra dentro do rio…
Jogos de castanhas…
– O meu engenho de barro de fazer mel!
Do outro lado, aquela tortura:
“As armas e os barões assinalados!”
– Quantas orações?
– Qual é o maior rio da China?
– A 2 + 2 A B = quanto?
– Que é curvilíneo, convexo?
– Menino, venha dar sua lição de retórica!
– “Eu começo, atenienses, invocando
a proteção dos deuses do Olimpo
para os destinos da Grécia!”
– Muito bem! Isto é do grande Demóstenes!
– Agora, a de francês:
– “Quand le christianisme avait apparu sur la terre…”
– Basta.
– Hoje temos sabatina…
– O argumento é a bolo!
– Qual é a distância da Terra ao Sol?
– ? !!
– Não sabe? Passe a mão à palmatória!
– Bem, amanhã quero isso de cor…
Felizmente, à boca da noite,
Eu tinha uma velha que me contava histórias…
Lindas histórias do reino da Mãe-d’Água…
E me ensinava a tomar abenção à lua nova.
E o meu Mestre, carrancudo como um dicionário;
Complicado como as Matemáticas;
Inacessível como Os Lusíadas de Camões!
À sua porta eu estacava sempre hesitante…
De um lado a vida… – A minha adorável vida de criança:
Pinhões… Papagaios… Carreiras ao sol…
Voos de trapézio à sombra da mangueira!
Saltos da ingazeira pra dentro do rio…
Jogos de castanhas…
– O meu engenho de barro de fazer mel!
Do outro lado, aquela tortura:
“As armas e os barões assinalados!”
– Quantas orações?
– Qual é o maior rio da China?
– A 2 + 2 A B = quanto?
– Que é curvilíneo, convexo?
– Menino, venha dar sua lição de retórica!
– “Eu começo, atenienses, invocando
a proteção dos deuses do Olimpo
para os destinos da Grécia!”
– Muito bem! Isto é do grande Demóstenes!
– Agora, a de francês:
– “Quand le christianisme avait apparu sur la terre…”
– Basta.
– Hoje temos sabatina…
– O argumento é a bolo!
– Qual é a distância da Terra ao Sol?
– ? !!
– Não sabe? Passe a mão à palmatória!
– Bem, amanhã quero isso de cor…
Felizmente, à boca da noite,
Eu tinha uma velha que me contava histórias…
Lindas histórias do reino da Mãe-d’Água…
E me ensinava a tomar abenção à lua nova.
21/03/2018 4:30
A
volta da palmatória
Leo Aversa
Um método arcaico pode resolver o problema dos pais
que não têm tempo, paciência ou disposição
Houve um tempo em que dar a mão à palmatória era
algo bem mais doloroso do que uma expressão batida. Nas escolas valia o
errou-levou, nada de banquinho da disciplina ou cantinho da reflexão, só
palmada, reguada ou joelho no milho. Uma dureza. Qualquer bagunça ou resposta
atravessada e a coisa ficava feia pro aluno. Mas o tempo passou e por sorte as escolas
mudaram seus métodos, suas práticas, e o castigo físico ficou para trás. Virou
artigo de museu, igual ao bom dia, o por favor e o obrigado.
A educação melhorou com o fim dessa crueldade
anacrônica ?
Valentina vive atracada ao celular. Com sete anos já
tem o seu próprio iPhone e acesso à internet e WhatsApp. É lá que ela passa o
dia trocando fotos, áudios, vídeos com outras — quanta ingenuidade — crianças.
No começo, os pais da Valentina eram contra, mas uma amiguinha ganhou o seu, e
eles não queriam a Valentina traumatizada por não ter algo que uma amiguinha
tem. A mãe, às vezes, pede para a filha largar um pouco o celular, aí a
Valentina ameaça não gostar mais dela e a mãe, aterrorizada com essa
possibilidade, pede desculpas e se finge de morta. Já o pai até pergunta o que
ela anda compartilhando, mas basta a menina responder que não é nada demais que
ele se dá por satisfeito e volta para os seus assuntos. A Valentina leva o
celular para a escola e fica chateada quando ele é confiscado pela professora.
Seus pais acham isso um absurdo — a professora proibir celular, não a Valentina
tentar postar selfies durante a aula — e logo devolvem o aparelho para a
menina. Quem essa professora pensa que é, reclamam indignados.
Enzo está sempre zoando as aulas. Ele tem dez anos,
é um menino esperto e tem por hobby tocar o terror na escola. Um garoto
adorável, segundo os seus próprios pais, um capeta mimado, segundo os colegas.
Antes de o Enzo nascer, os pais dele tentaram um jardim de cactos e um aquário,
mas ambos davam muito trabalho e foram abandonados. Resolveram então ter um
filho porque na época isso era meio modinha entre os amigos. Ao descobrirem que
criança dá ainda mais trabalho que cactos ou aquários, entregaram o pequeno
Enzo para um batalhão de babás de dar inveja ao príncipe George. O Enzo, sempre
esperto, logo percebeu que as babás não o contrariavam para não perder o
emprego e começou a dar as ordens. Como os pais estão sempre trabalhando — para
pagar o batalhão de babás — em casa é ele o rei. Na escola também quer mandar
em tudo e acha que os professores são babás sem uniforme. Os pais, atarantados,
estão esperando que o lançamento de algum app para educar filhos solucione o
problema. A tecnologia vai resolver tudo, pensam conectados.
Talvez seja a hora de voltar para a palmatória e os
castigos.
Não para crianças como o Enzo ou a Valentina, isso
seria uma crueldade anacrônica.
Para os pais delas.
Deram um celular para uma criança pequena? Dez
palmadas em cada. O filho não respeita professor? Pais ajoelhados no milho por
meia hora.
Terceirizaram a educação do filho e ficam reclamando
do comportamento dele? A tarde toda de chapéu de burro no canto da sala.
E a escola ainda pode cobrar dos pais um extra pela
lição. Vai custar mais barato do que psicanalista pro Enzo, coach pra Valentina
e autoajuda para todos.
Onde
Eu Nasci Passa Um Rio
Caetano Veloso
Onde eu nasci passa um rio
Que passa no igual sem fim
Igual, sem fim, minha terra
Passava dentro de mim
Passava como se o tempo
Nada pudesse mudar
Passava como se o rio
Não desaguasse no mar
O rio deságua no mar
Já tanta coisa aprendi
Mas o que é mais meu cantar
É isso que eu canto aqui
Hoje eu sei que o mundo é grande
E o mar de ondas se faz
Mas nasceu junto com o rio
O canto que eu canto mais
O rio só chega no mar
Depois de andar pelo chão
O rio da minha terra
Deságua em meu coração
Composição: Caetano Veloso
Bola
de Meia, Bola de Gude
Milton Nascimento
Há um menino
Há um moleque
Morando sempre no meu coração
Toda vez que o adulto balança
Ele vem pra me dar a mão
Há um passado no meu presente
Um sol bem quente lá no meu quintal
Toda vez que a bruxa me assombra
O menino me dá a mão
E me fala de coisas bonitas
Que eu acredito
Que não deixarão de existir
Amizade, palavra, respeito
Caráter, bondade alegria e amor
Pois não posso
Não devo
Não quero
Viver como toda essa gente
Insiste em viver
E não posso aceitar sossegado
Qualquer sacanagem ser coisa normal
Bola de meia, bola de gude
O solidário não quer solidão
Toda vez que a tristeza me alcança
O menino me dá a mão
Há um menino
Há um moleque
Morando sempre no meu coração
Toda vez que o adulto fraqueja
Ele vem pra me dar a mão
Composição: Fernando Brant / Milton Nascimento
5º
Ciclo de conferências | Os poetas pelos poetas: Manoel de Barros: em que acreditar
senão no riso?
Ciclo de Conferências "Os poetas pelos
poetas" Conferência: "Manoel de Barros: em que acreditar senão no
riso?" Coordenador: Acadêmico Antonio Carlos Secchin Conferencista:
Alberto Pucheu Data: 22/7/2014
Exercícios
Sobre Manoel De Barros
Com estes exercícios sobre Manoel de Barros, você
avaliará seu conhecimento sobre um grande destaque da literatura brasileira.
Publicado por: Mariana do Carmo Pacheco em Exercícios
de Literatura
http://exercicios.mundoeducacao.bol.uol.com.br/exercicios-literatura/exercicios-sobre-manoel-barros.htm
Referências
https://youtu.be/KcE_b5aiNIQ
http://casaderafael.blogspot.com.br/2013/09/memorias-inventadas-o-lavador-de-pedra.html?m=1
http://contosdocongonhas.blogspot.com.br/2010/05/o-lavador-de-pedra-manoel-de-barros-6as.html
http://www.tribunadainternet.com.br/nas-memorias-poeticas-de-ascenso-ferreira-a-escola-no-tempo-da-palmatoria/
https://oglobo.globo.com/rio/a-volta-da-palmatoria-22510031
https://youtu.be/2tgwFNoxRNM
https://www.letras.mus.br/caetano-veloso/144571/
https://youtu.be/G9RS2BkbqHw
https://www.letras.mus.br/milton-nascimento/102443/
https://youtu.be/ryy9QPN8oOs
https://www.youtube.com/watch?v=ryy9QPN8oOs&t=967s
http://exercicios.mundoeducacao.bol.uol.com.br/exercicios-literatura/exercicios-sobre-manoel-barros.htm
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