STJ
Defensores
públicos não precisam de inscrição na OAB
A decisão unânime foi da 2ª turma em processo
relatado pelo ministro Herman Benjamin.
sexta-feira, 2 de março de 2018
A 2ª turma do STJ julgou nesta quinta-feira, 1º/3,
processo sobre a necessidade de inscrição dos Defensores Públicos na OAB.
A questão, como ressaltado pelo relator,
ministro Herman Benjamin, é notoriamente controversa nos Tribunais locais
do país.
Regime próprio
Conforme o voto do relator, apesar dos defensores
públicos exercerem atividades de representação judicial e extrajudicial, de
advocacia contenciosa e consultiva, o que se assemelha bastante à advocacia,
“há inúmeras diferenças”.
Entre elas, os fatos de que a carreira está sujeita
a regime próprio e a estatutos específicos, submetem-se à fiscalização
disciplinar por órgãos próprios, necessita de aprovação prévia em concurso
público e os defensores não têm obrigação de apresentar instrumento do mandato
em sua atuação.
“Em conclusão, o art. 3º, § 1º, da Lei
8.906/1994 merece interpretação conforme à Constituição para obstar a
necessidade de inscrição na OAB dos membros das carreiras da Defensoria
Pública, não obstante se exija a inscrição do candidato em concurso público.
Ademais, a inscrição obrigatória não pode ter fundamento nesse comando em razão
do posterior e específico dispositivo presente no art. 4º, § 6º, da Lei
Complementar 80/1994.”
Em decisão unânime a turma deu provimento ao recurso
contra acórdão do TRF da 5ª região.
Processo: REsp
1.710.155
REsp
1.710.155
Leia a ementa do voto:
“EMENTA
ADMINISTRATIVO. CARREIRA DA DEFENSORIA PÚBLICA. DESNECESSIDADE DE INSCRIÇÃO NA ORDEM DOS ADVOGADOS DO BRASIL. INTERPRETAÇÃO CONFORME À CONSTITUIÇÃO DO ART. 3º, § 1º, DA LEI 8.906/1994. APLICAÇÃO DO ART. 4º, § 6º, DA LEI COMPLEMENTAR 80/1994.
ADMINISTRATIVO. CARREIRA DA DEFENSORIA PÚBLICA. DESNECESSIDADE DE INSCRIÇÃO NA ORDEM DOS ADVOGADOS DO BRASIL. INTERPRETAÇÃO CONFORME À CONSTITUIÇÃO DO ART. 3º, § 1º, DA LEI 8.906/1994. APLICAÇÃO DO ART. 4º, § 6º, DA LEI COMPLEMENTAR 80/1994.
1. Inicialmente, verifica-se que a argumentação em
torno da condenação em honorários veio desacompanhada da indicação de qual
dispositivo de lei federal teria sido violado, o que impede impossibilita o
exame do recurso interposto com base na alínea "a" do art. 105, III,
da Constituição.
2. O mérito do recurso gira em torno da necessidade
de inscrição dos Defensores Públicos na Ordem dos Advogados do Brasil, questão
notoriamente controversa nos Tribunais locais do País.
3. A Quinta Turma do Superior Tribunal de Justiça,
no RHC 61.848/PA, assentou que "os defensores não são advogados públicos,
possuem regime disciplinar próprio e têm sua capacidade postulatória decorrente
diretamente da Constituição Federal".
4. A Constituição de 1988 abordou expressamente a
Defensoria Pública dentro das funções essenciais à Justiça, ao lado do
Ministério Público, da Advocacia e da Advocacia Pública, com as quais não se
confunde.
5. Defensores Públicos exercem atividades de
representação judicial e extrajudicial, de advocacia contenciosa e consultiva,
o que se assemelha bastante à Advocacia, tratada em Seção à parte no texto
constitucional. Ao lado de tal semelhança, há inúmeras diferenças, pois a
carreira está sujeita a regime próprio e a estatutos específicos; submetem-se à
fiscalização disciplinar por órgãos próprios, e não pela OAB; necessitam
aprovação prévia em concurso público, sem a qual, ainda que se possua inscrição
na Ordem, não é possível exercer as funções do cargo, além de não haver
necessidade da apresentação de instrumento do mandato em sua atuação.
6. À vista dessas premissas, e promovendo o
necessário diálogo das fontes, tem-se que o Estatuto da Advocacia não é de todo
inaplicável aos Defensores Públicos, dada a similitude com a advocacia privada
das atividades que realizam. Dessa forma, impensável afastar, por exemplo, a
inviolabilidade por atos e manifestações (art. 2º, § 3º, da Lei 8.906/1994) ou
o sigilo da comunicação (art. 7º, III). Entretanto, por todas as diferenças,
aceita-se regime díspar previsto em legislação especial.
7. Em conclusão, o art. 3º, § 1º, da Lei 8.906/1994
merece interpretação conforme à Constituição para obstar a necessidade de
inscrição na OAB dos membros das carreiras da Defensoria Pública, não obstante
se exija a inscrição do candidato em concurso público. Ademais, a inscrição
obrigatória não pode ter fundamento nesse comando em razão do posterior e
específico dispositivo presente no art. 4º, § 6º, da Lei Complementar 80/1994.
8. Recurso Especial conhecido e provido, com
inversão do ônus da sucumbência.”
REGIMES DIFERENTES
Defensores públicos não precisam de inscrição na
OAB, decide 2ª Turma do STJ
1 de março de 2018, 18h25
Por Pedro Canário
Defensores públicos não precisam de inscrição na OAB
para trabalhar. De acordo com decisão desta quinta-feira (1º/3) da 2ª Turma do
Superior Tribunal de Justiça, embora a atividade de defensor seja “muito
semelhante” à dos advogados, não são iguais, já que os defensores têm regime
disciplinar próprio e dependem de concurso para ingressar na carreira.
Relator,
ministro Herman Benjamin concordou com a Defensoria.
Por unanimidade, a turma reformou entendimento do
Tribunal Regional Federal da 5ª Região. A corte havia decidido que defensores
precisam de inscrição na OAB tanto como condição para prestar o concurso
público quanto para “o exercício de suas funções”. A Defensoria Pública do
Ceará recorreu, alegando que sua capacidade postulatória decorre diretamente da
Constituição Federal, e não do Estatuto da Advocacia, como alega a OAB.
O ministro Herman Benjamin, relator do recurso,
concordou com a Defensoria. Para ele, o fato de o Estatuto da Ordem dizer que a
Defensoria Pública exerce “atividade de advocacia” não significa que os
integrantes da carreira precisem de autorização da autarquia para trabalhar e
muito menos que o exercício de suas atividades seja regulado por ela.
“Há inúmeras peculiaridades que fazem com que a
Defensoria Pública seja distinta da advocacia privada e, portanto, mereça
tratamento diverso”, escreveu Herman, no voto. Para ele, o parágrafo 1º do
artigo 3º do Estatuto da Advocacia, que define a Defensoria Pública como órgão
que exerce “atividade de advocacia”, precisa de “interpretação conforme a
Constituição” para liberar os defensores de inscrição na Ordem, mas mantendo
suas prerrogativas profissionais, típicas de advogados.
“A carreira está sujeita a regime próprio e a
estatutos específicos; submete-se à fiscalização disciplinar por órgãos
próprios, e não pela OAB; necessita aprovação prévia em concurso público, sem a
qual, ainda que possua inscrição na Ordem, não é possível exercer as funções do
cargo, além de não haver necessidade da apresentação de instrumento do mandato
em sua atuação”, disse o ministro. “A Constituição não previu a inscrição na
OAB como exigência para exercício do Defensor Público. Ao revés, impôs outras
restrições, como a vedação à advocacia privada.”
Herman não afastou completamente a incidência do
Estatuto da Advocacia sobre as atividades dos defensores públicos. Segundo ele,
os membros da Defensoria ainda estão protegidos pelas prerrogativas da advocacia,
como inviolabilidade por atos e manifestações e o sigilo das comunicações.
Revista Consultor Jurídico, 1 de março de 2018,
18h25
https://www.conjur.com.br/2018-mar-01/defensores-publicos-nao-inscritos-oab-decide-stj?utm_source=dlvr.it&utm_medium=facebook
ANEXOS
INTERPRETAÇÃO
CONFORME À CONSTITUIÇÃO DO ART. 3º, § 1º, DA LEI 8.906/1994.
LEI
8.906/1994.
Dispõe sobre o Estatuto da Advocacia e a Ordem dos
Advogados do Brasil (OAB).
Art. 3º O exercício da atividade de advocacia no
território brasileiro e a denominação de advogado são privativos dos inscritos
na Ordem dos Advogados do Brasil (OAB),
§ 1º Exercem atividade
de advocacia, sujeitando-se ao regime desta lei, além do regime próprio a que
se subordinem, os integrantes da Advocacia-Geral da União, da Procuradoria da
Fazenda Nacional, da Defensoria Pública e das Procuradorias e Consultorias
Jurídicas dos Estados, do Distrito Federal, dos Municípios e das respectivas
entidades de administração indireta e fundacional.
APLICAÇÃO
DO ART. 4º, § 6º, DA LEI COMPLEMENTAR 80/1994.
LEI
COMPLEMENTAR Nº 80, DE 12 DE JANEIRO DE 1994
Organiza a Defensoria Pública da União, do Distrito
Federal e dos Territórios e prescreve normas gerais para sua organização nos
Estados, e dá outras providências.
Art. 4º São funções institucionais da
Defensoria Pública, dentre outras:
§ 6º A capacidade postulatória do Defensor
Público decorre exclusivamente de sua nomeação e posse no cargo
público. (Incluído pela Lei Complementar nº 132, de
2009).
Ordem
dos Advogados do Brasil. Regime Jurídico. A natureza jurídica da anuidade por
ela cobrada. A imunidade tributária de seu patrimônio.
A
Ordem dos Advogados do Brasil foi criada pelo artigo 17 do Decreto nº19.408,
de 18 de novembro de 1930, como órgão de seleção, defesa e disciplina da classe
dos advogados em toda a República. Os dispositivos dos Decretos posteriores,
isto é, 20.784, de 14 de dezembro de 1931, 21.592, de 1 de julho de 1932,
22.039, de 1 de novembro de 1932, e 22.266, de 28 de dezembro de 1932, foram consolidados
pelo Decreto 22.478, de 20 de fevereiro de 1933.
André Borges
I - Introdução
Pretendemos investigar, à luz das diversas previsões constitucionais e legais
referentes ao tema, qual seria a natureza jurídica da OAB, envolvendo-nos, via de consequência,
na análise de duas outras questões afetas ao campo do direito tributário, a
saber: a imunidade tributária do patrimônio da OAB e a natureza jurídica
não-tributária da anuidade por ela cobrada.
O estudo foi redigido da forma como segue, não pretendendo revelar nenhuma
verdade absoluta (seria descabida esta pretensão), mas simplesmente despertar a
atenção de todos para intrigantes questões jurídicas.
II - O regime autárquico da OAB
A Lei Federal n0 8.906, de 04 de julho de 1994, estabeleceu, no “caput” do
seu artigo 44, que a Ordem dos Advogados do Brasil constitui-se em serviço
público, dotada de personalidade jurídica e forma federativa,
tendo por finalidades básicas “promover, com exclusividade, a representação, a
defesa, a seleção e a disciplina dos advogados em toda a República Federativa
do Brasil” (inc. II do art. 44). Também a Lei anterior, que havia instituído a
OAB ( Lei Federal nº 4.215/63), previa exatamente o
mesmo (art. 1º).
Assim agindo, o legislador, tendo por normas autorizadoras os artigos 59, XIII,
22, XVI e 37, XIX, todos da Constituição Federal, deu à OAB um
nítido perfil de pessoa jurídica de direito público interno, integrante
da administração federal descentralizada.
Sabendo-se que a própria Constituição (art. 37, XIX) estabelece serem entidades
da administração descentralizada da União as autarquias, as empresas
públicas, as sociedades de economia mista e as fundações
públicas, coloca-se a seguinte indagação: em qual desses regimes jurídicos a
OAB se enquadra? A única resposta insofismavelmente correta, em face da
vestimenta jurídica dada à OAB pela sua lei instituidora, é a de que esta
entidade de representação dos advogados integra o regime jurídico das autarquias
federais.
Com efeito, a OAB, como organização profissional autônoma e de finalidades
corporativas, amolda-se à perfeição ao conceito de autarquia dada pelo
Decreto-lei nº 200/67, que, ao dispor sobre a organização da
Administração Federal, assim a delimitou normativamente:
“Art. 5º - Para os fins desta lei,
considera-se:
I – autarquia – o serviço autônomo, criado por lei,
com personalidade jurídica, patrimônio e receitas próprios, para executar
atividades típicas da administração pública, que requeiram, para seu melhor
funcionamento, gestão administrativa e financeira descentralizada.”
(...) V – Conclusões
1ª) A OAB se configura como uma AUTARQUIA
CORPORATIVA ou uma CORPORAÇÃO PROFISSIONAL PÚBLICA. Não se subordina ela,
no entanto, a qualquer controle, vínculo funcional ou hierárquico com o seu
ente criador (a União), em razão das peculiaridades de seu regime jurídico (de
autarquia “especial” ou “sui generis”);
2ª) o patrimônio da OAB não pode ser objeto de
tributação, diante da regra constitucional da imunidade tributária, que exclui
da competência tributária das unidades federadas a oneração dos bens
pertencentes à entidade;
3ª) a instituição, majoração e cobrança da anuidade
profissional independe de lei específica, bastando haver a edição de
Resolução, porque a anuidade fixada pela OAB não possui natureza
tributária, configurando-se como ônus financeiro que deve ser absorvido por
quem pretender exercer a profissão.
Referências
http://www.globalframe.com.br/gf_base/empresas/MIGA/imagens/1B715DCC26970151E5EDB137603E5D4C5ABA_herman.JPG#IM-144049
http://www.migalhas.com.br/Quentes/17,MI275490,51045-Defensores+publicos+nao+precisam+de+inscricao+na+OAB
https://www.conjur.com.br/img/b/herman-benjamin1.png
https://www.conjur.com.br/2018-mar-01/defensores-publicos-nao-inscritos-oab-decide-stj?utm_source=dlvr.it&utm_medium=facebook
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8906.htm
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lcp/lcp80.htm
http://www.profpito.com/oabregjuranuidade.html
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