Inspirados já nos ensinamentos de Sófocles, aqui, procurar-se-á a conexão, pelo conhecimento, entre o velho e o novo, com seus conflitos.
As pistas perseguidas, de modos específicos, continuarão a ser aquelas pavimentadas pelo grego do período clássico (séculos VI e V a.C).
terça-feira, 2 de dezembro de 2025
DESENGANO PESSOANO
🟦 TÍTULO SUGERIDO
Entre Memória, Política e Poesia: Da Flor da Pele ao Magnânimo
— Reflexões sobre Democracia, História, Literatura e Resistência
🟦 EPÍGRAFE
um poeta que viu longe demais e, por isso mesmo, se fragmentou para continuar existindo.
🟦 I. A MÚSICA E O DESASSOSSEGO: “O QUE SERÁ (À FLOR DA PELE)”
Francis Hime tocava ao piano quando apresentou a Chico Buarque a música que, imediatamente, também se tornou minha. Convenci-o a permitir que eu a gravasse em Geraes — e ele a gravaria novamente em Meus Caros Amigos. Assim, 1976 ganhou duas versões de uma mesma inquietação.
O Que Será (À Flor da Pele)
Chico Buarque (part. Milton Nascimento)
(Letra completa mantida conforme sua solicitação)
O que será que me dá
Que me bole por dentro, será que me dá
(...)
O que não tem juízo
Composição: Chico Buarque
🟦 II. DANDO VOZ AOS POETAS — FERNANDO PESSOA
🔗 Fonte original:
Dando Voz aos Poetas
https://www.facebook.com/100064479348089/posts/fernando-pessoa-alentejo-seen-from-the-train-alentejo-visto-do-comboio-damos-con/2324818861107751/
ALENTEJO SEEN FROM THE TRAIN — Fernando Pessoa
Nothing with nothing around it
And a few trees in between
(...)
For if ain't here, where the Devil is it?
1907
ALENTEJO VISTO DO COMBOIO
(tradução de Jorge de Sena)
Nada com só nada à volta
(...)
Pois se não é aqui, onde diabo será ele?
Fontes: Pessoa, 1974, Poemas Ingleses
🟦 III. GETÚLIO E O MAGNÂNIMO: UM DISCURSO SOBRE INTEGRAÇÃO NACIONAL
🔗 Discurso completo:
https://novaresistencia.org/2022/11/29/elogio-de-getulio-a-pedro-ii/
Getúlio Vargas, ao elogiar o Imperador D. Pedro II, revelou um raro entendimento integrativo da vida nacional — algo que falta ao Brasil contemporâneo.
🟦 IV. A DEMOCRACIA, A MEMÓRIA E O MAGNÂNIMO
Por Riobaldo Mattozinhos
(texto completo mantido e estruturado)
A política exige memória, discernimento e a rara virtude de mudar de opinião.
Como lembrado por Abrucio, e reconhecido por Felipe Salto ao “dar um passo atrás”, trata-se de gesto democrático.
A polarização, explicada pela metáfora econômica da “barreira de entrada”, não é apenas eleitoral, mas cognitiva.
“A história nunca pertence aos que reprimem; ela sempre retorna pela memória dos que resistiram.”
🟦 V. D. PEDRO II — O IMPERADOR QUE O BRASIL NÃO ESQUECE (E NÃO CONSERVA)
O Brasil celebra em 2 de dezembro os 200 anos de nascimento de D. Pedro II:
um intelectual reconhecido por Darwin, Pasteur, Wagner e Victor Hugo.
Estadista de estabilidade, ciência e sobriedade — e um exilado resignado.
🟦 VI. A OUTRA MEMÓRIA DO DIA 2: O MUSEU NACIONAL
Em 2 de setembro de 2018, o Museu Nacional ardeu.
Não é coincidência: país que não preserva seu passado destrói seu futuro.
🟦 VII. CONCLUSÃO — MEMÓRIA COMO ATO POLÍTICO
Celebrar o Magnânimo não é saudosismo monárquico.
Lembrar o Museu Nacional não é lamento — é advertência.
Só é democrata quem supõe mudar de opinião.
🟦 VIII. NOTA EXPLICATIVA — “RIObALDO MATTOZINHOS”
Explicação mantida conforme seu texto:
não é nome de personagem de Guimarães Rosa, mas associação simbólica ao cenário de Matozinhos.
🟦 IX. POLÍTICA CONTEMPORÂNEA — DIRCEU E O CENÁRIO DE 2026/2030
🔗 Entrevista A – Estadão
https://www.vercapas.com.br/edicao/capa/estadao/2025-11-30/
Dirceu projeta:
Tarcísio (adversário de Lula em 2026)
Rafael Fonteles, Haddad e João Campos como quadro do PT para 2030
A direita como refém da sombra de Bolsonaro
A polarização como dado estrutural
Conforme sua síntese:
As declarações de Dirceu funcionam como mapa político antecipado das eleições de 2026 e 2030.
🟦 X. GOETHE E A PERCEPÇÃO
Resumo fiel do seu texto:
Goethe via a percepção como ato participativo, fenomenológico e moral.
Observação ativa, holística e ligada à metamorfose das formas.
Citação atribuída a Goethe:
"Nós vemos as coisas não como elas são, mas como nós somos."
🟦 XI. 2 DE DEZEMBRO — DIA INTERNACIONAL PARA A ABOLIÇÃO DA ESCRAVATURA
(conforme texto enviado)
Reconhecido pela ONU.
A abolição no Brasil, porém, é celebrada em 13 de maio.
🟦 XII. MÍDIAS RELACIONADAS
Governo pede desculpas por ditadura perseguir o craque
https://www.youtube.com/shorts/qERcIh8eKBY
Entrevista: Fernando Abrucio para Felipe Salto — Warren Política
https://www.youtube.com/watch?v=v5iL1CIP_hY
(minutagem preservada conforme seu texto)
🟦 XIII. 50 ANOS DA OFENSIVA MILITAR CONTRA O PARTIDÃO (PCB)
Por Luiz Carlos Azedo
(texto integral organizado)
Um dos relatos mais importantes sobre a tentativa sistemática de destruição do PCB entre 1973 e 1976:
vigilância, infiltração, desaparecimentos, “Operação Radar” e o objetivo estratégico de eliminar tradição política, intelectual e cultural.
A conclusão:
O PCB não era perigoso militarmente; era perigoso politicamente — e é isso que regimes autoritários temem.
🟦 XIV. ENCERRAMENTO
A história nunca pertence aos que reprimem; ela volta pela memória dos que resistem.
S
um poeta que viu longe demais e, por isso mesmo, se fragmentou para continuar existindo.O que não tem limite“O Que Será (A Flor da Pele)” apareceu na minha vida dentro de um estúdio. O Francis Hime estava tocando no piano e me contou que aquela música era do Chico Buarque . No mesmo momento, respondi que então era dele e minha também, porque eu queria gravar. Convenci o Chico e ele disse que poderíamos gravar no disco “Geraes”, mas que também gravaria outra versão no disco dele “Meus Caros Amigos”. A música ganhou dois registros em 1976.
O Que Será (À Flor da Pele) (part. Milton Nascimento)Chico Buarque
O que será que me dá
Que me bole por dentro, será que me dá
Que brota à flor da pele, será que me dá
E que me sobe às faces e me faz corar
E que me salta aos olhos a me atraiçoar
E que me aperta o peito e me faz confessar
O que não tem mais jeito de dissimular
E que nem é direito ninguém recusar
E que me faz mendigo, me faz suplicar
O que não tem medida, nem nunca terá
O que não tem remédio, nem nunca terá
O que não tem receita
O que será que será
Que dá dentro da gente e que não devia
Que desacata a gente, que é revelia
Que é feito uma aguardente que não sacia
Que é feito estar doente de uma folia
Que nem dez mandamentos vão conciliar
Nem todos os unguentos vão aliviar
Nem todos os quebrantos, toda alquimia
E nem todos os santos, será que será
O que não tem descanso, nem nunca terá
O que não tem cansaço, nem nunca terá
O que não tem limite
O que será que me dá
Que me queima por dentro, será que me dá
Que me perturba o sono, será que me dá
Que todos os tremores me vêm agitar
Que todos os ardores me vêm atiçar
Que todos os suores me vêm encharcar
Que todos os meus nervos estão a rogar
Que todos os meus órgãos estão a clamar
E uma aflição medonha me faz implorar
O que não tem vergonha, nem nunca terá
O que não tem governo, nem nunca terá
O que não tem juízo
Composição: Chico Buarque.
DANDO VOZ AOS POETAS
·
FERNANDO PESSOA, «ALENTEJO SEEN FROM THE TRAIN / ALENTEJO VISTO DO COMBOIO»
Damos continuidade à série ‘O Alentejo na Poesia Portuguesa do Século XX’ com a publicação do segundo poema, da autoria de Fernando Pessoa, bem como uma nota sobre o autor e um comentário inéditos, por Rami Morais.
***
ALENTEJO SEEN FROM THE TRAIN
Nothing with nothing around it
And a few trees in between
None of which very clearly green,
Where no river or flower pays a visit.
If there be a hell, I've found it,
For if ain't here, where the Devil is it?
1907
*
ALENTEJO VISTO DO COMBOIO
Nada com só nada à volta
E umas árvores à mistura
Nenhuma delas verdura,
Que rio ou flor não enflora.
Se há inferno, dei com ele,
Pois se não é aqui, onde diabo será ele?
[Tradução portuguesa por Jorge de Sena]
***
Fontes: Poema – PESSOA, Fernando (1974). «Poemas Ingleses». Lisboa: Ática. 198-199. | Imagem – Google Imagens
***
Ao elogiar o Monarca, exaltando seus feitos e louvando seu espírito elevado, Getúlio demonstra uma compreensão Integrativa da Vida Nacional, muito relevante para os dias atuais.
O discurso que se segue consiste num elogio de Getúlio ao Imperador D. Pedro II. Além de exaltar seus feitos e contribuições à Nação durante o Império e louvar suas as características pessoais como Monarca e homem de espírito e apetites elevados, Vargas tece breve comentários principiológicos a respeito de alguns temas que circundam sua figura. Aborda a oposição republicana como uma “oposição leal” e exprime um entendimento integrativo da Vida Nacional ao reconhecer a importância do Império para a consolidação da Pátria.
• • •
Discurso pronunciado na Catedral de Petrópolis em razão da inauguração do Mausoléu dos Imperadores D. PEDRO II E D.a TERESA CRISTINA em 5 de dezembro de 1939.A Democracia, a Memória e o MagnânimoPorRiobaldo Mattozinhos
Há momentos em que a política e a história se tocam de modo tão claro que permitem reflexões essenciais sobre o país que fomos, que somos e que ainda desejamos ser. Em tempos de polarização aguda, a advertência clássica ressurge com força renovada: “só é democrata quem supõe mudar de opinião.” A frase, que ecoou em debate recente, sintetiza o valor que sustenta qualquer sociedade aberta — a disposição de rever crenças diante de argumentos, fatos ou circunstâncias.
Foi nesse espírito que se ouviu, ao final de uma discussão acadêmica, o comentário atribuído a Habberman, segundo Abrucio: “Tivemos aqui uma verdadeira aula.” A afirmação foi reiterada por Felipe Salto, que reconheceu o gesto intelectual como um passo atrás diante de seu ex-professor na FGV — não em subordinação, mas em refinamento crítico.
Trata-se de um gesto raro num ambiente político cada vez mais impermeável ao dissenso.
Esse trecho remete a outro argumento apresentado naquele mesmo debate:
“Voltando à questão da polarização, Felipe: você deve lembrar de suas aulas de microeconomia, bom economista que você é; na verdade, Lula e Bolsonaro criam barreira de entrada, isto é, a partir do patamar que eles têm, é muito difícil alguém concorrer contra eles, porque, no mínimo, eles conseguem produzir 70% dos votos de ambos e, no máximo, pode chegar a 88%.”
Independentemente das cifras, a metáfora emprestada da microeconomia — a “barreira de entrada” — busca explicar por que o sistema político tende a se fechar em torno de polos dominantes. O ponto não é apenas eleitoral: é cognitivo. Como ensinou o velho Partidão: “a história nunca pertence aos que reprimem; ela sempre retorna pela memória dos que resistiram.”
Essa memória, porém, não é neutra. Ela exige atenção, método e, sobretudo, responsabilidade. A frase atribuída a Rousseau — “Nossos sentidos nunca nos enganam; nossos julgamentos, sim” — adverte para a necessidade de separar impressão de interpretação. E é justamente a interpretação apressada o que, por vezes, “carece de qualquer sentido.”
D. Pedro II: memória de um Brasil possível
Neste dia 2 de dezembro, o Brasil recorda os 200 anos de Pedro de Alcântara do Brasil, o imperador D. Pedro II, celebrado por muitos como o maior dos brasileiros.
Figura ímpar, nasceu no Palácio da Quinta da Boa Vista em 1825 e morreu no exílio, em Paris, em 1891. Rei aos cinco anos, monarca por 58, foi — como reconheciam Darwin, Wagner, Pasteur e Victor Hugo — um intelectual de curiosidade inesgotável e um estadista de sobriedade rara.
Chamado O Magnânimo, D. Pedro II marcou o país por estabilidade institucional, vitórias militares decisivas e abertura ao conhecimento científico. Era, ao mesmo tempo, um homem de profunda devoção ao Brasil e um governante cansado do peso de reinar. Não resistiu à queda: aceitou o exílio sem fomentar qualquer restauração.
Décadas depois, a República reconheceria seu valor, trazendo seus restos mortais de volta ao país sob aplausos e cortejos.
Lembranças de um país que insiste em esquecer
É também no dia 2 que retorna outra memória — dolorosa e recente.
Em 2 de setembro de 2018, um incêndio destruiu o Museu Nacional, antigo Palácio Imperial. O acervo que abrigava séculos de história, ciência, arte e identidade brasileira foi consumido em poucas horas. A perda foi material, simbólica e civilizatória.
A coincidência das datas não é trivial. Ela reforça a pergunta essencial: qual país preservamos — e qual país, apesar de tudo, ainda queremos construir?
Conclusão: a política como trabalho de memória
Se a polarização política ergue barreiras, cabe à cultura democrática removê-las. Se julgamentos se precipitam, cabe ao debate público restaurar nuances. Se a história retorna pela memória dos que resistem, cabe ao presente honrar essa resistência.
Celebrar D. Pedro II não é nostalgia monárquica; é reconhecer um momento raro de continuidade institucional e investimento em ciência, cultura e Estado.
Lembrar o Museu Nacional é recuperar a consciência do que se perde quando a negligência vence o cuidado.
Entre uma data e outra, entre um debate e outro, retorna a frase que abre este artigo e que deveria acompanhar qualquer sociedade que pretende se chamar livre:
Só é democrata quem supõe mudar de opinião.*O que é “Riobaldo Mattozinhos”?
Não existe, na obra de Guimarães Rosa, nenhum personagem chamado “Riobaldo Mattozinhos” como nome completo oficial.
O protagonista de Grande Sertão: Veredas chama-se apenas Riobaldo (ou Riobaldo Tatarana, seu nome de guerra).
A expressão “Mattozinhos” aparece porque:
A Igreja do Bom Jesus de Matozinhos, em Barra do Guaicuí (MG), é um dos cenários reais associados à obra.
Na ficção, é ali que Riobaldo percebe com força o amor por Diadorim.
Por isso, alguns textos aproximam poeticamente o personagem desse lugar — daí surgir a junção “Riobaldo Mattozinhos”, mas não como nome verdadeiro, e sim como associação simbólica ou interpretativa.
Entrevista A _ 10'Ninguém forma maioria pregando indulto a Bolsonaro'JOSÉ DIRCEU Ex-ministro da Casa CivilPara ele, adversário de Lula em 2026 será o governador de SP, Tarcísio de Freitas
"Ex-ministro José Dirceu aponta governador Rafael Fonteles como possível sucessor de Lula em 2030Dirceu avaliou que o PT tem opções em formação para 2030, citando o chefe do Palácio de Karnak.Davi Fernandes Davi Fernandes Teresina - Piauí 30 de novembro de 2025 | 18h25
O ex-ministro da Casa Civil José Dirceu afirmou, em entrevista ao Estadão, publicada neste domingo (30), que o governador do Piauí, Rafael Fonteles, já aparece entre os nomes cotados dentro do PT para suceder o presidente Luiz Inácio Lula da Silva na disputa presidencial de 2030. Questionado sobre o desafio da legenda na construção do período pós-Lula, Dirceu disse que a continuidade do partido depende da capacidade de apresentar novos quadros e lembrou que, entre 2013 e 2019, o PT enfrentou forte rejeição pública, situação que considera superada. Dirceu avaliou que, no caso do PT, há opções em formação para 2030, citando novamente Haddad, Fonteles e João Campos como exemplos de lideranças que já circulam com visibilidade nacional. Canal de Denúncias Foto: Reprodução/Instagram Presidente Lula e Rafael Fonteles Presidente Lula e Rafael Fonteles “A construção do pós-Lula passa pela continuidade do PT. De 2013 a 2019 nós não podíamos sair às ruas com os símbolos do PT. Quem não tem nomes é a direita. Depois do Bolsonaro, a direita só tem hoje o Tarcísio. No nosso caso, estamos falando de 2030. Fernando Haddad (ministro da Fazenda) é um nome; o Rafael Fonteles, governador do Piauí, está se projetando nacionalmente, o João Campos (prefeito do Recife) amanhã poderá ser um candidato. Não tem vazio político”. Ao comentar o cenário de 2026, o ex-ministro tem assumido protagonismo na organização da campanha de Lula à reeleição e voltou a atuar nos bastidores do partido, como fazia quando comandou a articulação política petista entre 1995 e 2002. Dirceu afirmou ainda que candidatos da direita não devem conquistar votos ao defender anistia para Bolsonaro, mas também não conseguiriam se desvincular dele durante a disputa. Com isso, avalia que o próximo ciclo eleitoral será marcado pela influência direta do ex-presidente no comportamento de seus aliados e pela consolidação dos nomes em formação dentro do PT."
CONCLUSÃO
O trecho analisado é parte de uma estratégia mais ampla de construção de narrativas eleitorais.
Dirceu:
marca território no debate interno do PT,
projeta nomes para o futuro,
interpreta o adversário, e
reafirma a centralidade de Lula em 2026.
No conjunto, suas declarações funcionam como um mapa político antecipado das eleições de 2026 e 2030, apontando tanto vulnerabilidades da direita quanto a linha de continuidade e renovação dentro do PT.
Percepção em Gothe
A percepção em Goethe é uma abordagem fenomenológica e holística, que prioriza a experiência direta e a observação participativa para a construção do conhecimento. Diferentemente da visão analítica de seu tempo, ele defendia que o observador e o fenômeno são inseparáveis, e que os sentidos devem ser treinados para captar a unidade subjacente na multiplicidade da natureza. Essa percepção ativa e integrada, que abrange a dimensão subjetiva e a "sensorial-moral" das coisas, é um processo de aprendizado contínuo e aprimoramento das faculdades cognitivas.
A abordagem de Goethe:
Foco na experiência: Goethe acreditava que a ciência deveria começar com a experiência imediata e a observação atenta dos fenômenos, como a natureza.
Percepção como ato participativo: Ele via a percepção não como uma ação passiva, mas como uma participação ativa do indivíduo no fenômeno. O ser humano "participa" do que observa, e não está separado dele.
Visão holística: Em vez de "desmontar" a natureza em partes isoladas, ele a estudava como um todo, buscando as conexões e relações entre diferentes aspectos, como as florestas de diferentes partes do mundo.
Desenvolvimento do observador: A ciência, para ele, era um processo de auto-educação. A percepção deve ser aprimorada, exercitando-se a capacidade de observar, refletir e fazer julgamentos a partir do que se vê.
Metamorfose e o impulso formativo: Sua fenomenologia da natureza foi fundamentada no conceito de "metamorfose", a observação das formas em constante transformação que revelam um "impulso formativo" subjacente.
Contraste com a visão de Newton: Na sua teoria das cores, por exemplo, ele criticava a visão de Newton por focar apenas no aspecto físico-matemático, ignorando a percepção humana e a influência de luz e sombra no fenômeno. Ele argumentava que a percepção das cores é um processo subjetivo e "sensorial-moral".
“Só é democrata quem supõe mudar de opinião.”Ao final, Habberman disse, segundo Abrucio. ‘Tivemos aqui uma verdadeira aula’, reiterou também ao final, Felipe Salto, num passo atrás de seu ex-professor na FGV.
Uma das frases frequentemente atribuídas a Goethe que capta a ideia sobre a natureza subjetiva da percepção é:
"Nós vemos as coisas não como elas são, mas como nós somos."
”O dia 2 de dezembro é o Dia Internacional para a Abolição da Escravatura, uma data reconhecida globalmente pelas Nações Unidas para erradicar as formas modernas de escravidão.
É importante notar que a data da abolição da escravidão no Brasil é diferente, sendo celebrada em 13 de maio. “
GOVERNO PEDE DESCULPAS POR DITADURA PERSEGUIR O CRAQUE...
👆”O dia 2 de dezembro é o Dia Internacional para a Abolição da Escravatura, uma data reconhecida globalmente pelas Nações Unidas para erradicar as formas modernas de escravidão.
É importante notar que a data da abolição da escravidão no Brasil é diferente, sendo celebrada em 13 de maio. “Entrevista com o professor Fernando Abrucio | Warren Política | Episódio 2Warren Investimentos
21 de nov. de 2025 Warren Política
No segundo episódio do Warren Política, o economista-chefe da Warren, Felipe Salto, recebe o cientista político Fernando Abrucio — professor da FGV, comentarista da GloboNews e colunista do Valor Econômico — para uma conversa profunda sobre os movimentos que devem definir as eleições de 2026 e o cenário político até 2030.
Gravado em São Paulo, o episódio aborda temas como:
• A força persistente da polarização entre lulismo e bolsonarismo;
• O papel do governador Tarcísio e os impactos da segurança pública na disputa;
• A possível candidatura de Flávio Bolsonaro e o peso da família Bolsonaro;
• O espaço (ou falta dele) para candidaturas de centro em 2026;
• O risco das emendas parlamentares, o avanço da Polícia Federal e a crise do presidencialismo de coalizão;
• As reformas que podem redefinir o país entre 2027 e 2028 — orçamentária, fiscal, segurança pública e educação;
• O cenário para uma renovação real em 2030.
Assista agora e entenda o que realmente está em jogo nas próximas eleições — e como essas decisões podem afetar a economia, o mercado e o futuro do Brasil.
Disclaimer: As opiniões expressas são de responsabilidade dos participantes e não refletem, necessariamente, a posição da Warren. O conteúdo tem caráter informativo e não constitui recomendação de investimento.
Minutagem do episódio
00:00–01:05 — Abertura
01:05–03:49 — Como está o cenário eleitoral hoje?
03:49–06:19 — Expansão fiscal, máquina pública e efeitos eleitorais
06:19–07:28 — Por que a polarização continua tão forte?
07:28–10:00 — PSD, centrão e o papel de Kassab
10:00–13:00 — Tarcísio, bolsonarismo e o mito do indulto
13:00–15:12 — Segurança pública e fortalecimento de Flávio Bolsonaro
15:12–18:03 — O Senado será dominado pela direita?
18:03–20:55 — O problema das emendas parlamentares
20:55–26:00 — 2030 como eleição da renovação
26:00–33:20 — Reformas estruturais para 2027–2028
33:20–41:00 — Inflação, juros e arcabouço fiscal
41:00–44:05 — O papel das instituições
44:05–50:34 — Como governar com o Congresso atual?
50:34–53:43 — Temas que devem dominar a campanha de 2026
53:43–56:01 — Encerramento e considerações finais
Política Democrática | Luiz Carlos Azedo – Há 50 anos, o regime militar tentou destruir o Partidão
1 de dezembro de 2025
LUIZ CARLOS AZEDO
Jornalista, colunista político dos jornais Correio Braziliense e Estado de Minas. comentarista da Rádio Tupi do Rio de Janeiro. Trabalhou nos jornais O Dia, Última Hora, O Fluminense, Diário de Notícias, O Globo e Diário Popular. Dirigiu o semanário Voz da Unidade. Apresentou o programa 3 a 1 da TV Brasil e foi diretor da Companhia de Notícias.
Há meio século, o regime militar brasileiro desencadeou uma das ofensivas repressivas mais profundas e sistemáticas contra um partido político na história do país: a tentativa de destruição total do Partido Comunista Brasileiro (PCB). Conhecido popularmente como Partidão, o PCB era então a mais antiga organização política em atividade no Brasil e uma das que mais influenciaram a formação intelectual, sindical e cultural do país ao longo do século XX. A operação de “cerco e aniquilamento” foi concebida como objetivo estratégico pelo aparato repressivo — não só como resposta à sua atuação clandestina, mas também como projeto de eliminar do país uma tradição política que, desde 1922, moldava debates sobre democracia, direitos sociais e transformação nacional.
Entre 1973 e 1976, especialmente, a perseguição ao PCB assumiu características de uma “caçada ideológica” planejada. O alvo não era apenas a militância ativa, mas toda uma cultura política: dirigentes, quadros históricos, intelectuais, trabalhadores, jornalistas, sindicalistas e simpatizantes. A repressão buscava atingir o coração orgânico do partido, dissolver sua direção, cortar suas linhas de transmissão e romper sua continuidade histórica. Para tanto, empregou métodos que iam do monitoramento permanente aos sequestros, tortura e assassinatos — sempre envoltos na lógica da “guerra interna” que a Doutrina de Segurança Nacional definia como combate ao “inimigo comunista”.
Havia também agente infiltrado no coração do Comitê Central: o dirigente histórico Severino Theodoro Melo, o “Pacato”, remanescente do levante comunista de 1935 no Recife (PE). “Vinicius”, que havia sido recrutado pelos órgãos de segurança do regime, manteve-se operacional até 1991, sem que as suspeitas que já existiam a seu respeito, desde quando teve seu nome revelado à revista Veja pelo agente Marival Chaves, fossem consideradas como verdadeiras por seus antigos camaradas. Entretanto, foram confirmadas em entrevistas concedidas ao jornalista Marcelo Godoi, do jornal Estado de São Paulo e, mais tarde relatadas no livro Cachorros (Alameda).
A repressão ao Partidão tinha uma peculiaridade política em relação à perseguição às organizações de luta armada. Enquanto grupos como ALN, VAR-Palmares e MR-8 eram vistos como inimigos táticos, os comunistas do PCB eram tratados como inimigo estratégico, estrutural. Não porque estivessem envolvidos em ações armadas — o partido, ao contrário, fizera a opção clara pela resistência política, pela frente democrática e pela acumulação de forças na sociedade —, mas porque representavam, aos olhos dos militares, o “inimigo histórico”, o adversário ideológico que precisava ser extirpado para que o regime pudesse consolidar-se.
As Forças Armadas atribuíam ao PCB um papel quase mítico: o de organizador subterrâneo das classes trabalhadoras, formador de intelectuais críticos, articulador de redes sindicais e promotor de uma visão de país considerada incompatível com a doutrina do regime. Desde a Intentona de 1935 — transformada em símbolo da “subversão comunista” —, o Partido vinha sendo construído como fantasma útil para legitimar golpes de estado e a repressão à oposição. Em 1964, quando o golpe foi deflagrado, os principais documentos da Escola Superior de Guerra (ESG) já tratavam o Partidão como um dos responsáveis pela “corrupção da vida nacional”, o que carece de qualquer sentido. Para a ditadura, destruí-lo não era apenas oportuno: era um objetivo fundante.
A “Operação Radar” e o cerco final.
É nesse contexto que, entre 1973 e 1975, a repressão intensificou seus esforços. A chamada “Operação Radar”, coordenada pelo DOI-CODI e pelo CIE (Centro de Informações do Exército), tornou-se o principal instrumento da ofensiva. O objetivo era identificar os principais quadros clandestinos do PCB, desarticular os comitês regionais e capturar membros do Comitê Central.
A ofensiva teve três características fundamentais: o regime utilizou técnicas modernas de vigilância, infiltração e escuta telefônica para mapear contatos, rotinas, esconderijos e métodos de comunicação do partido (rastreabilidade das suas organizações); a prioridade era eliminar a direção: intelectuais, dirigentes sindicais, jornalistas e quadros formados na Escola do Partido (decapitação do centro dirigente)); e, ao contrário do que ocorria com os grupos armados, cujas prisões frequentemente eram divulgadas, a repressão ao PCB era mantida em sigilo; muitos dirigentes simplesmente desapareciam (apagamento da memória pelo silêncio).
O ponto culminante dessa perseguição foi a sequência de prisões, sequestros e assassinatos ocorridos entre 1974 e 1975, que atingiu diretamente o núcleo dirigente do Partido. Entre as vítimas mais conhecidas estão: Vladimir Herzog, jornalista assassinado em 1975, símbolo do ponto de inflexão moral contra a ditadura; Manoel Fiel Filho, operário metalúrgico assassinado poucos meses depois, revelando a continuidade da política de extermínio; e José Montenegro de Lima (“Magrão”), dirigente histórico sequestrado e desaparecido.
Outros quadros importantes, cuja eliminação buscava cortar as conexões territoriais do Partido, eram todos dirigentes clandestinos: Célio Augusto Guedes, José Romão, David Capistrano, Luiz Maranhão, João Massena de Melo, Elson Costa, Itair José Veloso. Hiran Lima Pereira, Nestor Veras, Jayme Miranda e Orlando Bonfim Jr foram sequestrados, mortos e seus corpos nunca foram devolvidos às suas respectivas famílias.
Esses assassinatos não foram isolados: representaram a fase mais violenta da ofensiva contra o PCB, que já vinha sofrendo baixas desde 1973, com prisões em massa nos estados do Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná e Rio Grande do Sul.
O objetivo central da repressão era matar o PCB como força política, intelectual e histórica. Em grande medida, conseguiu produzir danos profundos: desarticular o Comitê Central e suas células regionais; romper a cadeia de formação de quadros; destruir arquivos, bibliotecas e centros de estudo; desmantelar suas gráficas; enfraquecer o vínculo do Partido com o movimento operário; e produzir um trauma interno que redefiniria toda a sua trajetória posterior. Mas a repressão não conseguiu destruir o Partido.
Memória, justiça e democracia
E este ponto é crucial. Mesmo clandestino, fragmentado e sob vigilância permanente, o PCB resistiu porque sua força não estava apenas na estrutura organizativa, mas em algo mais profundo: sua cultura política, seu papel na formação intelectual brasileira, sua capilaridade social e sua memória histórica. O PCB era mais que uma organização: era uma tradição, um “estado de espírito”. Tradições e imaginário, ao contrário de aparelhos, não se eliminam com prisões ou tortura.
Esse é o legado paradoxal da violência do regime: ao tentar exterminar o Partidão, os militares contribuíram para consolidar a percepção pública de que o PCB representava, de fato, uma resistência democrática. A partir da morte de Herzog e Fiel Filho, ampliou-se a rejeição moral ao regime, fortaleceu-se o movimento pela anistia, e a Igreja Católica — especialmente sob o cardeal Paulo Evaristo Arns — passou a documentar sistematicamente as violações de direitos humanos.
O PCB não era perigoso militarmente. Era perigoso politicamente. Por cinco razões: capilaridade operária, presença nos sindicatos e no movimento fabril, especialmente em São Paulo e no Rio; formação intelectual, com atuação decisiva na imprensa, na produção teórica e na vida cultural; tradição histórica, porque afirmava uma continuidade de luta desde 1922, algo que o regime temia e queria apagar; capacidade de articulação democrática, pois o PCB defendia a frente ampla contra a ditadura, unindo esquerda, centro e liberais; e atuação subterrânea, mesmo ilegal, o PCB mantinha uma organização clandestina difícil de ser totalmente desmantelada.
Para os militares, o Partidão representava um tipo de poder que não dependia de armas, mas de influência. E influência, como se sabe, apavora regimes autoritários. Cinquenta anos depois, a tentativa de destruição do PCB permanece como uma das páginas mais dramáticas da história da repressão no Brasil. Não pelo número de mortos — que, embora significativo, é menor do que o registrado em algumas guerrilhas —, mas pela natureza simbólica e política da ofensiva. O regime não perseguia apenas indivíduos: perseguia a possibilidade de um país mais plural, aberto, crítico e democrático.
A grande lição histórica dessa violência é que projetos autoritários sempre tentam eliminar as organizações que articulam memória, pensamento e consciência. Ao atacar o Partidão, o regime atacou a própria ideia de política como debate e construção coletiva. Hoje, quando a democracia volta a ser pressionada por forças autoritárias, lembrar essa história não é apenas um dever memorial: é uma advertência, um resgate de que essas práticas fazem parte do saudosismo em relação ao regime militar.
Um país que não enfrenta seus traumas repete seus erros. Esquece seus mortos enfraquece a democracia. Apagar essa história abre espaço para novos autoritarismos. Cinquenta anos depois da onda repressiva dos anos 1970, o que permanece não é o silêncio imposto pelo regime, mas a sobrevivência da memória do PCB, de seus militantes e de todos os que resistiram. Como ensinou o velho Partidão: a história nunca pertence aos que reprimem, ela sempre retorna pela memória dos que resistiram.
DIA 02 DE DEZEMBR0 - ANIVERSÁRIO DO MAIOR DE TODOS OS BRASILEIROS - 200 ANOS DE PEDRO DE ALCÂNTARA DO BRASIL !!!
D Pedro II nasceu no Palácio da Quinta da Boa Vista em 2 de dezembro de 1825 e faleceu em Paris a 5 de dezembro de 1891.
Alcunhado o Magnânimo, foi o segundo e último monarca do Império do Brasil, tendo reinado o país durante um período de 58 anos.
Nascido no Rio de Janeiro, foi o filho mais novo do imperador Pedro I do Brasil e da imperatriz Maria Leopoldina de Áustria e, portanto, membro do ramo brasileiro da Casa de Bragança.
A abrupta abdicação do pai e sua partida para Portugal, tornaram Pedro imperador com apenas cinco anos. Obrigado a passar a maior parte do seu tempo estudando em preparação para reinar, conheceu poucos momentos de alegria e amigos de sua idade.
Suas experiências com intrigas palacianas e disputas políticas durante este período tiveram grande impacto na formação de seu caráter. O imperador D. Pedro II tornou-se um homem com forte senso de dever e devoção ao seu país e seu povo. Por outro lado, ressentiu-se cada vez mais de seu papel como monarca.
Teve a maioridade decretada para assumir o governo e evitar a desintegração do Império, tendo deixado ao sucessor republicano um país caracterizado como potência emergente na arena internacional. A nação distinguiu-se de seus vizinhos hispano-americanos devido à sua estabilidade política e especialmente por sua forma de governo: uma funcional monarquia parlamentar constitucional.
O Brasil também foi vitorioso em três conflitos internacionais (a Guerra do Prata, a Guerra do Uruguai e a Guerra do Paraguai) sob seu reinado, assim como prevaleceu em outras disputas internacionais e tensões domésticas.
Um erudito, o imperador estabeleceu uma reputação como um vigoroso patrocinador do conhecimento, da cultura e das ciências. Ele ganhou o respeito e admiração de estudiosos como Graham Bell, Charles Darwin, Victor Hugo e Friedrich Nietzsche, e foi amigo de Richard Wagner, Louis Pasteur e Henry Wadsworth Longfellow, dentre outros.
D. Pedro II não permitiu nenhuma medida contra sua remoção e não apoiou qualquer tentativa de restauração da monarquia. O imperador deposto passou os seus últimos dois anos de vida no exílio na Europa, vivendo só.
Algumas décadas após sua morte, sua reputação foi restaurada e seus restos mortais foram trazidos de volta ao Brasil em meio a amplas celebrações.
E também lembrar que cada DIA 02 DE CADA MES , lembro que num domingo, dia 02 de Setembro de 2018 nosso Museu Nacional e nosso Palácio Imperial foi incinerado .
D Pedro de Alcântara , o Magnânimo Imperador do Brasil
Post de Claudio Prado De Mello
terça-feira, 2 de dezembro de 2025
Poesia | Ode Marcial, de Fernando PessoaÁlvaro de CamposODE MARCIAL
Inúmero rio sem água — só gente e coisas,
Pavorosamente sem água!
Soam tambores longínquos no meu ouvido,
E eu não sei se vejo o rio se ouço os tambores,
Como se não pudesse ouvir e ver ao mesmo tempo!
Helahoho! helahoho!
A máquina de costura da pobre viúva morta à baioneta...
Ela cosia à tarde indeterminadamente...
A mesa onde jogavam os velhos,
Tudo misturado, tudo misturado com corpos, com sangues,
Tudo um só rio, uma só onda, um só arrastado horror.
Helahoho! helahoho!
Desenterrei o comboio de lata da criança calcado no meio da estrada,
E chorei como todas as mães do mundo sobre o horror da vida.
Os meus pés panteístas tropeçaram na máquina de costura da viúva que mataram à baioneta
E esse pobre instrumento de paz meteu uma lança no meu coração.
Sim, fui eu o culpado de tudo, fui eu o soldado todos eles
Que matou, violou, queimou e quebrou.
Fui eu e a minha vergonha e o meu remorso com uma sombra disforme
Passeiam por todo o mundo como Ashavero,
Mas atrás dos meus passos soam passos do tamanho do infinito.
E um pavor físico de encontrar Deus faz-me fechar os olhos de repente.
Cristo absurdo da expiação de todos os crimes e de todas as violências,
A minha cruz está dentro de mim, hirta, a escaldar, a quebrar
E tudo dói na minha alma extensa como um Universo.
Arranquei o pobre brinquedo das mãos da criança e bati-lhe.
Os seus olhos assustados do meu filho que talvez terei e que matarão também
Pediram-me sem saber como toda a piedade por todos.
Do quarto da velha arranquei o retrato do filho e rasguei-o.
Ela, cheia de medo, chorou e não fez nada...
Senti de repente que ela era minha mãe e pela espinha abaixo passou-me o sopro de Deus.
Quebrei a máquina de costura da viúva pobre.
Ela chorava a um canto sem pensar na máquina de costura.
Haverá outro mundo onde eu tenha que ter uma filha que enviuve e a quem aconteça isto?
Mandei, capitão, fuzilar os camponeses trémulos,
Deixei violar as filhas de todos os pais atados a árvores,
Agora vi que foi dentro de meu coração que tudo isso se passou,
E tudo escalda e sufoca e eu não me posso mexer sem que tudo seja o mesmo.
Deus tenha piedade de mim que a não tive de ninguém!
s.d.
Poesias de Álvaro de Campos. Fernando Pessoa. Lisboa: Ática, 1944 (imp. 1993). - 304.
⭐ Síntese Final
O desengano pessoano expressa:
a dor da consciência em excesso;
o reconhecimento da ilusão como estrutura da vida;
a dissolução do eu em múltiplas máscaras;
a saudade impossível de uma unidade perdida;
o tédio e inércia de quem enxerga demasiado;
a modernidade como crise permanente.
É a assinatura espiritual de Fernando Pessoa:
um poeta que viu longe demais e, por isso mesmo, se fragmentou para continuar existindo.
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