Inspirados já nos ensinamentos de Sófocles, aqui, procurar-se-á a conexão, pelo conhecimento, entre o velho e o novo, com seus conflitos. As pistas perseguidas, de modos específicos, continuarão a ser aquelas pavimentadas pelo grego do período clássico (séculos VI e V a.C).
sexta-feira, 4 de novembro de 2022
TRISSECÇÃO DE UM MEDO
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O problema da trissecção
"Esses problemas desafiaram o poder intelectual de vários matemáticos e intelectuais durante muito tempo, e somente no século XIX demonstrou-se a impossibilidade dessa construção utilizando-se apenas régua não graduada e compasso."
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Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição.
Art. 2º São Poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário.
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A Tripartição dos Poderes está elencada no art. 2º, da Constituição Federal de 1988 (CF/88), sendo os poderes Legislativo, Executivo e Judiciário, independentes e harmônicos, interferindo uns nos outros para assegurar as garantias constitucionais e estabelecer o equilíbrio entre eles, evitando abusos.6 de jul. de 2018
Os três poderes: como funciona o sistema na teoria - Jus.com.br
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sexta-feira, 4 de novembro de 2022
Fernando Abrucio* - Frente ampla: da eleição ao governo
Eu & Fim de Semana / Valor Econômico
Há uma diversidade de grupos de eleitores, e para se governar o país é necessário conversar também com os que não votaram no presidente eleito
A eleição presidencial de 2022 foi a mais disputada de todo o período da redemocratização e o candidato vencedor não representa apenas um partido ou uma coligação de esquerda. Como o próprio Lula disse logo após a divulgação dos resultados, foi “a vitória de um imenso movimento democrático que se formou”. Esta lógica de frente ampla derrubou o bolsonarismo e será ainda mais importante para reconstruir o país, pois só com pactos entre atores plurais será possível retomar a rota perdida desde 2013.
O diagnóstico de que só será possível pacificar e reerguer o Brasil por meio de uma lógica de frente ampla nasce já da própria compreensão do resultado eleitoral. A derrota de Bolsonaro pode ser explicada, em boa parte, por sua incapacidade de se mostrar confiável para um grande contingente de eleitores. A ameaça constante ao STF, o modelo de guerra política defendido por Roberto Jefferson e outros bolsonaristas, os constantes conflitos e preconceitos proferidos contra mulheres, negros e nordestinos, enfim, a aposta na visão polarizada de mundo, tudo isso limitou o espaço de crescimento eleitoral de Bolsonaro.
Mesmo assim, o derrotado teve cerca de 58 milhões de votos, perdendo o pleito por menos de 2 pontos percentuais — ressalta-se que Lula teve um pouco mais de 60 milhões de votos, a maior votação da história do país. Mas não se pode ignorar que a enorme votação de Bolsonaro se deveu ao maior uso da máquina pública em favor de um candidato em todo o período democrático recente.
O governo federal torrou quase R$ 70 bilhões com gastos extraordinários, que nunca foram permitidos para os antecessores, afora isenções fiscais bilionárias cujo impacto no erário de todos os níveis de governo ainda é incerto. Além disso, patrocinou diversas mudanças legais para apoiar a cada semana um novo grupo de interesse. E, por fim, usou o aparato governamental contra o adversário até no dia da eleição, com uma operação policial digna do período áureo do PRI mexicano, quando havia eleições apenas para confirmar a vitória do partido único.
O tsunami de apoios e pressões governamentais, contudo, não foi suficiente. De todo modo, a partir da constatação do resultado eleitoral apertado, surgiu um diagnóstico de que o país saíra do pleito dividido. É preciso entender um pouco melhor o sentido dessa divisão. Ela não significa, em hipótese alguma, que há um lado monolítico lulista e outro bolsonarista. O campo vitorioso é heterogêneo do mesmo modo que os votos de Bolsonaro não são todos bolsonaristas-raiz (algo que não ultrapassa 20% do eleitorado, se muito). Uma boa parte do voto no candidato oficial se deveu às benesses governamentais, e outra parcela foi mais contra Lula do que a favor de Bolsonaro.
Há uma razoável diversidade de grupos de eleitores, de maneira que para se governar o país é necessário conversar também com os que não votaram no presidente eleito. Só que Lula não conseguirá convencer os radicais bolsonaristas, que são uma minoria. Não obstante, e mais importante, terá um bom espaço de diálogo com a maioria dos que votaram no outro candidato: setores mais conservadores, no campo dos costumes e no âmbito econômico, e com parte do antipetismo que votaram agora em Bolsonaro, mas que estão abertos à negociação democrática em torno de seus interesses. Isso já aconteceu no passado e foi possível ter um ambiente político e social menos tóxico do que o atual.
O fato é que a divisão apresentada ao final da eleição não é estática. Partir desse pressuposto é fundamental para se pensar numa estratégia contra a polarização estéril que se instalou no país nos últimos quatro anos. Só que tal cenário depende da manutenção da lógica de frente ampla durante todo o próximo período governamental, algo que envolve a formação de três pactos entre grupos plurais, buscando construir consensos produtivos para a coletividade, garantindo que o dissenso não se transforme em guerra e que possa inclusive ser importante como um foco de controle e aprendizado para os governantes.
O primeiro pacto plural que deve orientar um governo com lógica de frente ampla deve ser feito com a sociedade. Isso já começou a ser feito na campanha quando a campanha lulista dialogou com movimentos que juntavam gente de diversas esferas, como o Derrubando Muros e o Direitos-Já. Um novo mandato de Lula tem de continuar esse processo, começando pelos que foram alijados pela visão sectária de Bolsonaro, como as comunidades indígenas, grande parcela do campo cultural, movimentos sociais de mulheres, negros e LGBT, lideranças universitárias e especialistas em várias políticas públicas, entre outros.
Mas é fundamental e urgente também conversar com aquela parcela que atualmente mais rejeita o bloco liderado por Lula. É preciso abrir canais com grupos evangélicos, atores do agronegócio, empresários do comércio e do setor de serviços, microempreendedores, para citar apenas uma parte daqueles que precisam ser ouvidos e cujas demandas devem ser levadas em conta.
A ampliação dos ministérios para novas áreas, a criação de canais de diálogo com a sociedade — como o Conselhão — e a escolha de ministros com trânsito em setores que não votaram em Lula são mecanismos fundamentais para se ter um espaço ampliado de conversa e negociação. Nem sempre acordos serão obtidos e, obviamente, muitos não vão virar lulistas. A meta não é a unanimidade, tampouco ficar livre das críticas. O que o novo governo deve almejar é a conquista de um apoio maior do que o eleitoral. Além disso, é preciso mostrar a capacidade de ceder e incorporar pleitos legítimos, estabelecer pactos em pontos centrais da agenda pública e criar um clima social que impeça a lógica estéril da polarização vigente durante a era bolsonarista.
Além de ampliar o debate e os acordos com uma sociedade heterogênea, o segundo pacto entre plurais que deve nortear o novo governo envolve a relação com o sistema partidário. A coligação que elegeu Lula já é bem mais ampla do que a que Fernando Haddad teve em 2018. Nela, há atores de centro, como o Solidariedade e o próprio vice-presidente, Geraldo Alckmin, e mais à esquerda, com o predomínio do PT, mas com um papel muito relevante da maior liderança ambiental do país, Marina Silva. Com o segundo turno, novos apoiadores foram incorporados, como o PDT, setores vinculados ao PSDB e, sobretudo, a liderança emergente da senadora Simone Tebet. Creio ser ela a melhor síntese da teia multipartidária que elegeu o novo presidente: um apoio que foi capaz de juntar os vários Brasis num Brasil só.
A ampliação do arco partidário terá que continuar no processo de construção de maioria congressual. Isso envolverá a negociação e a partilha do poder com o MDB, o PSD e com mais alguma parcela da centro-direita, a ser definida ao longo dos próximos três meses. De qualquer maneira, será uma governabilidade de coalizão, mas é possível estabelecer esse pacto com atores plurais em torno de projetos e compartilhamento de ganhos em torno do desempenho governamental.
Se houver uma boa lista de propostas legislativas, um acordo básico que saiba combinar bem forte investimento social com responsabilidade fiscal — algo que está longe de ser impossível — e a construção de agendas integradoras e essenciais para o futuro do Brasil, como a questão ambiental acoplada à energética e à inserção internacional, será possível ter um governo de frente ampla estruturado por temas que deem um norte ao apoio político. Haverá dissensões e necessidade de as partes cederem posições, mas isso tende a ser melhor do que o jogo estéril de guerra permanente que vigorou no bolsonarismo.
O quebra-cabeças do modelo de frente ampla tem como última peça o pacto interinstitucional. É preciso, antes de tudo, reconstruir as relações com o sistema de Justiça. A ameaça deve dar lugar ao respeito sobre a autonomia de cada poder, por meio de um diálogo que defina onde pode ser cultivada a cooperação e onde deve ser garantida a independência. O mesmo cuidado deve ocorrer nas relações com o Legislativo, a começar pelas conversas sobre a definição dos presidentes das duas casas. O Congresso precisa ter um papel de protagonista, mas isso pode ser realizado de forma cooperativa e com ganhos mútuos junto ao Executivo. Isso deveria começar pela revisão do orçamento secreto, buscando casar o legítimo pleito das emendas parlamentares com uma visão mais integrada e transparente com as políticas públicas construídas pelos ministérios.
O maior exemplo da necessidade e do potencial de um pacto entre atores plurais está no plano federativo. É neste ponto que a lógica da frente ampla pode se mostrar vital para a reconstrução do país. Há governadores eleitos por vários partidos, apoiadores de Lula e de Bolsonaro. Uma maior colaboração federativa é um ganho para todos, pois as políticas públicas vão estar mais integradas, aumentando sua eficiência e sua efetividade. Além disso, quanto mais União, estados e municípios negociarem e fizerem acordos, mais a democracia será fortalecida por todo o território nacional.
A sociedade quer um governo mais amplo e menos sectário, com capacidade de diálogo e que pense em compatibilizar demandas diferentes, mas legítimas. Se Lula conseguir fazer isso em boa parte do mandato, o país terá recuperado o fôlego da transformação que perdeu em 2013.
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Bolsonaristas cantando Hino Nacional para pneu viraliza
Um vídeo que circula nas redes socias mostra apoiadores de Jair Bolsonaro (PL) cantando o Hino Nacional para um pneu. A cena aconteceu em Irati, no Paraná.
https://www.youtube.com/watch?v=0fO6f6PKeDg
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Metrópoles
@Metropoles
Imagens que circulam na web sociais mostram apoiadores de Jair Bolsonaro (PL) cantando o Hino Nacional para um pneu. Segundo pessoas na internet, cena teria acontecido em Irati, no Paraná, em um dos pontos de bloqueio de bolsonaristas que não aceitam o resultado das eleições.
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9:25 AM · 3 de nov de 2022
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Ruy Castro é eleito imortal pela Academia Brasileira de Letras
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sexta-feira, 4 de novembro de 2022
Ruy Castro - O futuro presidiário
Folha de S. Paulo
Se Bolsonaro escapar da grade, será para esta que deveriam ir os que o absolverem
O ex-imbrochável está com medo. É o que se deduz da afinada de Bolsonaro junto aos caminhoneiros, de sua acoelhada visita ao STF e das consultas desesperadas a advogados. Ele busca uma fórmula que o salve de, despojado de suas imunidades como presidente, ver seus processos caírem na primeira instância, onde serão julgados como os de um criminoso comum — o que ele é. Se não conseguir, seus seguidores terão de acrescentar ao epíteto de ex-presidiário, que conferiram a Lula, um novo epíteto, a aplicar a ele: o de futuro presidiário.
Bolsonaro disse um dia que só três alternativas o tirariam do Planalto: ser preso, ser morto ou perder a eleição. "A primeira alternativa não existe", arrotou — frase que eu gostaria de vê-lo repetir agora. A terceira já se confirmou. E ninguém lhe deseja a segunda. Ao contrário, todos o querem vivo para pagar por seu legado. Pena Bolsonaro não ter tempo de vida para cumprir todas as sentenças que receber, devido ao número de quesitos em que a lei pode enquadrá-lo. Eis alguns.
Homofobia, xenofobia, racismo, desvio de verba pública (rachadinhas), formação de quadrilha, lavagem de dinheiro, peculato, estelionato, corrupção passiva, crime hediondo (suas atitudes na pandemia), charlatanismo (como garoto-propaganda da cloroquina), prevaricação, vazamento de dados sigilosos, uso de milícias digitais, propagação de fake news, ofensas e ameaças ao STF, abuso do poder, incitação à baderna, tentativa de golpe de Estado e, não por último, crimes contra a humanidade.
Até 1º de janeiro, Bolsonaro deverá sua liberdade a dois presidentes da Câmara, Rodrigo Maia e Arthur Lira, cujos traseiros sufocaram centenas de pedidos de impeachment, e ao PGR Augusto Aras, que protagonizará os alívios cômicos nas futuras biografias de Bolsonaro.
Se, depois de tudo, ele escapar da grade, será para esta que deveriam se destinar os que o absolverem.
Postado por Gilvan Cavalcanti de Melo às 08:37:00
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Um comentário:
Anônimo disse...
Magnífica coluna! Parabéns ao escritor e ao blog que o divulga! Está tudo aí, vamos aguardar pra breve os processos contra o GENOCIDA e finalmente os seus JULGAMENTOS! Como o colunista demonstrou, SÃO MUITOS CRIMES!! O canalha não pode escapar impune!
4/11/22 08:47
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03/11/2022 às 10h20min - Atualizada em 03/11/2022 às 10h20min
URGENTE : Fox News acaba de anunciar que Biden e CIA estão envolvidos na fraude das eleições brasileiras.
Denúncias gravíssimas na Fox News de que Joe Biden interferiu diretamente em nossas eleições. Agora já virou caso de ameaça à soberania nacional.
Cristina Barroso
(Reprodução)
A grande mídia brasileira continua calada fingindo que nada está acontecendo no país. Ontem o povo brasileiro compareceu em massa as ruas por não aceitarem o resultado das eleições. Mesmo em Estados em que o vencedor venceu com uma larga maioria de votos, o povo foi pras ruas questionar o resultado.
O analista político e apresentador do maior canal de televisão dos Estados Unidos, Tucker Carlson, comenta o resultado das eleições no Brasil e dando o maior destaque a censura do YouTube impedindo qualquer questionamento das eleições.
Ele declara que o presidente Bolsonaro foi derrotado por pouco por seu oponente de extrema-esquerda e criminoso condenado, Lula da Silva.
https://tribunanacional.com.br/noticia/4600/urgente--fox-news-acaba-de-anunciar-que-biden-e-cia-estao-envolvidos-na-fraude-das-eleicoes-brasileiras#.Y2PMy3UrxyQ.telegram
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🖕o pasquim nacional é tosco. Mais interessante é a mobilização internacional, Fox News à frente (mais vista do que a CNN). O Tucker Carlson vcs sabem quem é: estrela midiática, primeira linha dos republicanos, um dos sujeitos mais influentes dos EUA. O nosso Bozo está recebendo este tipo de pressão externa.
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sexta-feira, 4 de novembro de 2022
José de Souza Martins* - Raízes escravistas do assédio eleitoral
Eu & Fim de Semana / Valor Econômico
O medo tornou-se um item da estrutura de poder e um modo de dominação religiosa e política que se completam
Envolvendo 1.284 empresas, ocorreram 1.633 denúncias de assédio eleitoral, 1.572 das quais se deram após o primeiro turno das eleições, no comércio, na indústria e no agronegócio.
Muitos empregados atingidos por atos de coação para que votassem em quem o patrão indicava. Deviam as vítimas apresentar comprovante do voto, fotografado com o celular, caso contrário seriam demitidas. Processos foram abertos, pelo Ministério Público do Trabalho.
Já no período eleitoral de 2018, foram 212 os casos chegados ao conhecimento do MPT. As denúncias de agora, quatro anos depois, no segundo turno desta eleição de 2022, foram seis vezes mais numerosas. A atual situação política criou uma cultura de violação do direito do eleitor à verdade de seu voto.
A ocorrência não é tratada como indício de prática da escravidão, porque tratada como mero crime eleitoral, quando é, na verdade, também delito laboral. O patrão que assedia seu empregado e cerceia sua vontade cidadã de decidir seu voto de conformidade com o que lhe dita a consciência política priva-o do direito de ser dono de suas decisões. Isso ocorria com o escravo, que não era dono de sua vontade. Ao ser vendido, vendia o traficante na sua pessoa não só seu corpo, mas todos os seus atributos, sua própria consciência e seu imaginário onírico.
Não foi por acaso que os autores da primeira Constituição republicana e das leis dela decorrentes tivessem estabelecido regras de restrições eleitorais em relação a pessoas que embora juridicamente livres viviam em situação social de confinamento e tutela da vontade, como os recolhidos de instituições conventuais e as praças de pré, sujeitas a restrições de liberdade que não garantiam fossem elas donas de querer político.
Ainda assim, foi comum entre nós, na Primeira República, o voto de cabresto mediante o uso de vários recursos sociais de cerceamento do direito de expressão da vontade política, formas de coação de agregados e dependentes dos régulos de roça, que adotavam meios de sujeição de seus trabalhadores.
A verdade é que esses arcaísmos políticos ainda persistem em várias situações, especialmente na das empregadas domésticas. São elas vítimas da aplicação, aparentemente inocente, de técnicas de ressocialização para a sujeição. Os vínculos de trabalho as situam na borda do direito e do vínculo racional e contratual de trabalho, tornando-as vulneráveis à manipulação e direcionamento da vontade. Na prática, uma situação não só de assédio laboral, mas de sujeição escravista.
Em casos assim, o assédio eleitoral se situa num conjunto de crimes conexos ao de escravidão, sujeito a punição bem mais grave do que a mera multa.
O combate à escravidão no Brasil contemporâneo não tem levado em conta essa forma de sujeição ilegal, que é a do assédio eleitoral, porque escravidão, no imaginário brasileiro, tem sido, equivocadamente, reduzida à interpretação econômica na chamada escravidão por dívida.
Quando, na verdade, sua forma mais grave é a que resulta não só em lucro extraordinário derivado da sobreexploração do trabalho. Mas também em poder indevido resultante, indiretamente, da sujeição laboral imposta a empregados por coação e medo.
Os casos de assédio eleitoral, entre nós, desde 2018, coincidem com sua prática por negociantes e patrões cujas opções políticas são ou foram majoritariamente pela candidatura de Bolsonaro à Presidência da República. O que os situa num conjunto de procedimentos sociais arcaicos, de um projeto político orientado pelo ideal do retrocesso social de uma sociedade baseada na obediência dos subalternos a seus senhores. Negação da sociedade democrática e moderna, que se baseia na igualdade jurídica, no discernimento e no direito de exprimi-lo, nas questões sociais e políticas.
Com apoio de igrejas evangélicas fundamentalistas, que se tornaram coadjuvantes do autoritarismo do regime do atual governo, o medo tornou-se um item da estrutura de poder e um modo de dominações religiosa e política que se completam. Nos dois casos, o medo é provocado intencionalmente para criar insegurança e colocar sob sujeição milhares de pessoas destituídas de vontade própria e inaptas para o exercício livre da cidadania.
Um dos aspectos significativos da ordem política retrógrada que define o poder no Brasil foi que, minutos depois do resultado da eleição de 30 de outubro, multidões de evangélicos, em várias regiões do país, entraram em grande estado de exaltação. De joelhos, braços para cima, revestidos da bandeira ou de panos verdes e amarelos, imploravam a Deus que impedisse que suas igrejas fossem fechadas. O medo manipulado os privara de discernimento político e cidadão.
*Sociólogo, professor emérito da Faculdade de Filosofia da USP, professor da Cátedra Simón Bolívar da Universidade de Cambridge
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Edir Macedo pula do barco bolsonarista e adere a Lula usando o “perdão” como desculpa. Até quando os fiéis se deixarão enganar pelos falsos profetas mercadores de almas?
Esta mídia foi desativada em resposta a uma denúncia do proprietário dos direitos autorais.
6:47 PM · 3 de nov de 2022
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🖕“…Compadre não morreu, minha filha. Seu padrinho vive. E continua mais vivo que os vivos que ele perdoa…” Gleisi, gatinha escaldada de outras imersões em águas turvas, em outros batizados, botou os bigodes de molho, ronronou e mostrou as garrinhas pro compadre MaisCedo do que ele esperava. Mas, se lembra de suas táticas, ele não desiste nunca. É brasileiro!
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EM RESPOSTA
Gleisi Hoffmann dispensa ‘perdão’ de Edir Macedo. ‘Ele é quem precisa pelas mentiras que propagou’
Líder da Igreja Universal, o bispo. que defendeu Bolsonaro e fez ataques à esquerda durante a campanha eleitoral, agora fala em “perdoar” Lula, segundo ele eleito por “vontade de Deus”
Por Redação RBA
Publicado 04/11/2022 - 10h11
Marina Ramos / Câmara dos Deputados
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"Ele é que precisa pedir perdão a Deus pelas mentiras que propagou, a indução de milhões de pessoas a acreditarem em barbaridades sobre Lula e sobre o PT, usando a igreja e seus meios de comunicação para isso", rebateu Gleisi
São Paulo – A presidenta do PT, Gleisi Hoffmann, reeleita deputada federal (PR), rebateu nesta sexta-feira (4) fala do bispo Edir Macedo sobre “perdão”. O líder da igreja evangélica Universal do Reino de Deus e dono da TV Record que, durante a campanha eleitoral, apoiou a reeleição de Jair Bolsonaro (PL) e atacou o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e seu partido, publicou vídeo ontem defendendo como uma “posição mais cristã” o perdão a Lula, após a vitória do petista.
Pelas redes sociais, a presidenta do PT afirmou “dispensar o perdão de Edir Macedo”. De acordo com a parlamentar, “ele é que precisa pedir perdão a Deus pelas mentiras que propagou, a indução de milhões de pessoas a acreditarem em barbaridades sobre Lula e sobre o PT, usando a igreja e seus meios de comunicação para isso. A nossa consciência está tranquila”, rebateu Gleisi.
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Gleisi Hoffmann
@gleisi
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Dispensamos o perdão de Edir Macedo. Ele é quem precisa pedir perdão a Deus pelas mentiras q propagou, a indução de milhões de pessoas a acreditarem em barbaridades sobre Lula e sobre o PT, usando a igreja e seus meios de comunicação para isso. A nossa consciência está tranquila
7:32 AM · 4 de nov de 2022
de Brasília, Brasil
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No período eleitoral, publicamente a igreja de Macedo se posicionou ferozmente contra Lula e a esquerda em geral. O jornal Folha Universal, produzido pelo grupo, divulgou uma série de editoriais nesse sentido, como no dia seguinte aos atos bolsonaristas que sequestraram as homenagens ao bicentenário da independência do Brasil, em 7 de setembro. O jornal dizia que a esquerda podia ” chorar copiosamente à vontade”, porque as “manifestações cívicas galvanizadas pelo presidente (Bolsonaro) deixaram claro que o líder supremo da esquerda no Brasil não terá vida fácil”, afirmavam.
Frente evangélica declara apoio a Lula e alerta para ‘armadilhas bolsonaristas’
Contradições
Em janeiro, o bispo Renato Cardoso, genro de Edir Macedo, publicou um artigo no site da igreja dizendo ainda que um cristão “não podia votar em partido de esquerda”.
Ontem, no entanto, o fundador da Universal modulou o discurso, afirmando aos seus seguidores que “não podemos ficar com mágoa, porque é isso que o diabo quer”. “O diabo quer acabar com a sua fé, com seu relacionamento com Deus por causa de Lula ou dos políticos. Não dá, não dá, minha filha, bola para frente, vamos olhar para frente”, afirmou. Edir Macedo ainda completou dizendo ter orado para que Bolsonaro ganhasse. “Mas seja feita Vossa vontade, sobretudo, porque o Senhor é quem manda. Deus fez a vontade Dele. Ele fez. Graças a Deus. Então, o que eu vou fazer agora?”
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Fundador da Universal modulou o discurso, afirmando aos seus seguidores que “não podemos ficar com mágoa, porque é isso que o diabo quer” / Foto: Divulgação
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Em setembro, reportagem do site The Intercept Brasil já indicava que, em meio a provável vitória de Lula, Edir Macedo se preparava para desembarcar da candidatura à reeleição do PL. Na reportagem, ele foi comparado por fontes ouvidas ao chamado “centrão” do Congresso. Em que, para se manter no poder, com qualquer um que ganhar, era preferível fazer um jogo duplo. Desde a eleição de Fernando Collor, em 1989, o líder neopentecostal se alinhou a todos os presidentes.
‘Igrejas estão caindo da graça’, alerta pastor, sobre uso da religião nas eleições
Oportunismo
Não à toa, a fala desta quinta foi destacada como “fisiológica” por pares evangélicos e também políticos. “Ele se sente mais confortável com a extrema direita, mas é pragmático. Está fazendo aceno para se aproximar do Lula”, observou o pastor Henrique Vieira, eleito deputado federal (Psol-RJ), em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo.
Pelo Twitter, o deputado federal Orlando Silva (PCdoB-SP), presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara, também ironizou a declaração de Edir Macedo. “Agora diz que Lula foi eleito pela vontade de Deus. Esse é profissional de salto em distância, já pulou de um barco direto para dentro do outro, sem sequer molhar a tanga. Até o fim do mês já trataram de ‘desbanhar’ o mito no Rio Jordão”, escreveu. O jornalista Chico Pinheiro, que atuou na campanha de Lula, questionou também a “arrogância” na fala do bispo.
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Chico Pinheiro🇧🇷🇧🇷
@chico_pinheiro
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“É isso que o diabo quer”, diz Edir, o autointitulado “bispo”. Ele sabe o que o diabo quer. É seu porta-voz ?
Edir Macedo, na prática Edir Morcego, o oportunista da cobrança do dízimo. Você se lembra do “ou dá ou desce”?
Jornalistas Livres
@J_LIVRES
Edir Macedo pula do barco bolsonarista e adere a Lula usando o “perdão” como desculpa. Até quando os fiéis se deixarão enganar pelos falsos profetas mercadores de almas?
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1:49 AM · 4 de nov de 2022
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bolsonaro, edir macedo, Eleições 2022, evangélicos, gleisi hoffmann, Lula
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"Quando a piada e as e metáforas precisam ser explicadas, o interlocutor pode ser cínico ou somente provocador. A consciência de cada um deveria ser o seu juiz. “A gente não precisa chorar para sentir dor. A gente pode sentir dor sem chorar.” De Dilma respondendo em entrevista a pergunta sobre tortura. A curiosidade pode tanto ser usada para a libertação quanto para a tortura."
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Dilma sobre impeachment e ditadura - "Não é necessário chorar para sofrer."
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“Não é necessário chorar para sofrer.” Dilma Rousseff. 2017.
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12:49 vorm. · 29. Dez. 2020
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Trissecção aproximada
Trissecção do ângulo é um dos problemas clássicos da geometria sobre construções com régua e compasso e consiste em, dado um ângulo qualquer, construir um outro com um terço de sua amplitude.
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A TRISSECÇÃO DE UM ÂNGULO
3.3. A impossibilidade da trissecção
Durante séculos foram empregados métodos diversos para a trissecção de
ângulos. Pela incansável busca sem resultados contundentes, muitos geômetras já
admitiam ser essa uma tarefa impossível com o uso de apenas régua não graduada
e compasso.
Um grande passo para se chegar à prova dessa impossibilidade veio da
Geometria Analítica, apresentada aos matemáticos do século XVII pelo francês
René Descartes (1556-1650). Com ela foi possível, a tradução das propriedades
das figuras planas em equações, cujas soluções são obtidas a partir das quatro
operações fundamentais da aritmética e da raiz quadrada. Era a tentativa de
unificar a Geometria e a Aritmética.
Dessa tentativa vem o conceito de número construtível, correspondente ao
comprimento de um segmento construído através de um número finito de
operações com régua e compasso executadas a partir de um segmento tomado
como unidade.
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TÍTULO I
DOS PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS
Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos:
I - a soberania;
II - a cidadania;
III - a dignidade da pessoa humana;
IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa; (Vide Lei nº 13.874, de 2019)
V - o pluralismo político.
Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição.
Art. 2º São Poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário.
Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil:
I - construir uma sociedade livre, justa e solidária;
II - garantir o desenvolvimento nacional;
III - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais;
IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação.
Art. 4º A República Federativa do Brasil rege-se nas suas relações internacionais pelos seguintes princípios:
I - independência nacional;
II - prevalência dos direitos humanos;
III - autodeterminação dos povos;
IV - não-intervenção;
V - igualdade entre os Estados;
VI - defesa da paz;
VII - solução pacífica dos conflitos;
VIII - repúdio ao terrorismo e ao racismo;
IX - cooperação entre os povos para o progresso da humanidade;
X - concessão de asilo político.
Parágrafo único. A República Federativa do Brasil buscará a integração econômica, política, social e cultural dos povos da América Latina, visando à formação de uma comunidade latino-americana de nações.
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16
Quem manda, como manda
Não importa o que lhe digam, quem manda é quem está levando
vantagem. É claro que, nisto, podem ser vistos vários níveis. Há muitas
pessoas, por exemplo, que se sentem “mandando”, mas na realidade este
mandar se resume à satisfação de um número restrito de desejos que elas,
por uma razão ou por outra, consideram satisfatório. O “mandar”, como
tudo mais, é relativo, mas o critério de levar vantagem, sob qualquer
sentido e em qualquer situação, é suficientemente elucidativo. Se, do
nosso ponto de vista, alguém leva vantagem sobre nós, mesmo que não
leve vantagem sobre outros, estará mandando. Quando esta vantagem é
evidente, na tomada de decisões de qualquer tipo, é que costumamos
visualizar o “poder”, mas na verdade basta que se esteja em melhor
situação do que nós (do nosso ponto de vista, pois, afinal, não temos
melhor critério) para se estar mandando.
Por exemplo, se alguém nos chama para limpar a fossa dele e esse
alguém também vive submetido a pressões e decisões alheias, esse
alguém pode alegar que, tanto quanto nós, ele também não manda.
Contudo, quem está limpando a fossa dele somos nós, e não ele a nossa.
Ele pode pagar para que façamos esse serviço em lugar dele, e nós
estamos na posição de ter que aceitar o serviço. Da mesma forma, tanto
uma mulher de boa posição econômica quanto a mulher que ela contrata
como babá de seu filho podem ter “os mesmos sofrimentos, a mesma
condição feminina discriminada, suportar a mesma tirania masculina, as
mesmas inquietações da maternidade etc. etc.” Não obstante, quem é
babá é uma, a patroa é outra. E é visível que, nesta relação, alguém leva
clara vantagem.
Isto não deve ser esquecido, da mesma forma que não devemos
esquecer de ver todas as coisas dentro da perspectiva do que de fato acontece e não do que é dito. É comum que, ideologicamente, se
desenvolvam teses quanto à relatividade dos bens deste mundo, “as
cargas que temos que suportar” e assim por diante. Metaforicamente,
essas cargas talvez sejam as mesmas. Efetivamente, não são. Pois a
babá, além de ser mãe como a outra (e em piores condições, a começar
pelos cuidados pré-natais e pela pobreza do parto), ainda é subordinada
à outra. Não obstante, os argumentos que buscam provar o contrário são
freqüentemente muito bem-sucedidos, e há empregadas domésticas que
se consideram irmãs feministas de suas patroas, embora estas não sejam
obrigadas a cuidar de fraldas sujas.
É preciso, pois, ter cuidado com as analogias excessivas.
Reconhecer que somos irmãos é sempre suspeito, quando esse
reconhecer envolve, de nossa parte, a aceitação de contingências duras e,
da outra parte, não envolve nada além de palavras. De fato, se somos
humildes de nascença e formação, nos sentimos melhor por não
podermos sentar à mesa com nossos patrões, porque “não gostamos
mesmo daqueles refinamentos de rico”. Os refinamentos podem não ser
bons em si, mas não devemos esquecer que não nos sentimos bem com
eles porque não fomos criados para isso, não porque tenhamos uma
incapacidade congênita para apreciar coisas refinadas. E, se achamos
que estamos melhor em nossa vida modesta e privada de tantas coisas
que os ricos consideram essenciais e sem as quais não podem viver,
devemos lembrar que, com isso, estamos tendo a opinião mais
conveniente para os que mandam, que conseguiram fazer nossa
cabeça com eficácia.
O valor do luxo, do supérfluo, do suntuário e mesmo do
conforto excessivo é de fato muito discutível, mas são Francisco de
Assis, exemplo clássico de abnegação e desapego aos bens materiais,
renunciou a tudo aquilo, numa opção consciente. O pobre e o
despossuído não renunciam, não agem em função de valores mais
altos voluntariamente escolhidos. Com eles não se trata de uma
renúncia, de uma abdicação — trata-se de um ato forçado que não
tem a dignidade, a liberdade e a força da abdicação. Dizer “estas coisas não valem nada, muito melhor é a autenticidade” só tem
sentido quando podemos renunciar por nós mesmos a elas. Tanto
assim que os ricos não costumam renunciar riqueza, nem a “essas
coisas sem valor”. Ao pobre, portanto, é negada a dignidade de
renunciar. Ele é obrigado a mergulhar na pobreza de nascença e a se
convencer de que assim está melhor.
Não significa isto, evidentemente, que a situação ideal da vida é
a riqueza (principalmente à custa da pobreza alheia), nem que
tenhamos que colocar os valores materiais na frente de nossas
preocupações. O que devemos é procurar evitar que nos retirem
opções, que nos cerceiem a plena liberdade humana, que nos
impeçam a plena realização do nosso potencial, que nos impinjam
convicções que não tenhamos escolha senão aceitar. O que
consideramos uma sociedade justa pode variar muito. É, afinal, uma
questão profundamente ideológica. Mas nossa visão de uma
sociedade justa não pode ser imposta — sobretudo quando quem
procura impor-nos essa visão se encontra numa situação claramente
melhor que a nossa, mesmo que deseje nos convencer de que está
em situação igual ou pior. Nada impede que aceitemos determinados
valores, segundo nossa escolha. Mas temos que estar conscientes dessa
escolha, fazê-la de forma plenamente voluntária (e isto envolve conhecer
bem as opções possíveis) e não deixar que nos impinjam uma “verdade”
ideológica sob a capa de uma verdade incontestável.
Como vimos, o monopólio da coerção jaz nominalmente no Estado.
Por esta razão se ambiciona a conquista de posições dentro da estrutura
do Estado, pretende-se conquistar o “governo”: para usar, dentro das
limitações inevitáveis, o poder decisório e coercitivo do Estado com a
finalidade de satisfazer interesses, ou realizar aquilo que se considera
certo. É claro que, se é o Estado que detém a posição formal de poder, é
necessário que vejamos, como temos aprendido a ver, quem está “por
trás do Estado”, quem ele representa basicamente. Como dissemos acima,
quem manda é quem está levando vantagem. Não é difícil inferir a quem o
Estado serve: basta ver quem está mais bem servido dentro da so-ciedade. Quem está mais bem servido é quem está mandando, não
importa o que lhe expliquem em contrário. É óbvio que você já viu que
“explicar o contrário” faz parte do esquema de dominação. Quem se
beneficia mais é quem está mandando, qualquer que seja a razão para isso
e mesmo que quem esteja mandando não exerça posição alguma na
estrutura formal do Estado.
Na estrutura do Estado, devemos observar ainda o surgimento de
um fenômeno contemporâneo, que vem pondo em risco até mesmo a
representatividade popular nas democracias. Trata-se da diferença, cada
vez mais ampla, entre quem detém a autoridade para as decisões e quem
detém o conhecimento indispensável para tomá-las — ou quem, apenas,
como acontece muito, é tido como detentor daquele conhecimento.
Por exemplo, o presidente da República de um país presidencialista
contemporâneo não pode dominar nem uma fração mínima de todo o
conhecimento de que necessitaria para tomar decisões que vão desde
aspectos complexos da política econômica até questões de saúde pública
ou energia nuclear. Em conseqüência, ele é obrigado, cada vez mais, a
confiar nos assessores, consultores e técnicos. O resultado disso é que o
controle das decisões públicas cada vez mais foge dos funcionários
eleitos, cada vez mais perde a representatividade. Isto é, inclusive,
grandemente fomentado pela convicção quase religiosa de que só os
especialistas entendem realmente dos diversos assuntos, quando esta é
uma crença bastante discutível em vários níveis. Chegamos até a acreditar
que a ciência e a técnica, mesmo no campo social, são absolutamente
neutras, a-ideológicas. Mas isto não é verdade. Também as proposições
técnicas podem ser submetidas àquelas perguntinhas que vimos no
capítulo sobre ideologia. Também elas, muitas vezes, não passam de
colocações fortemente ideológicas, mascaradas sob a capa de uma
“verdade científica” e muito ciosa das prerrogativas que isso lhe dá.
Daí o fenômeno da tecnocracia, do governo dos técnicos e dos
especialistas, dos que sabem o que é melhor para todos. Na realidade, se
a complexidade da ciência e da tecnologia contemporâneas nos coloca
muito na dependência desses especialistas, essa dependência não é, nem pode ser, total e absoluta. A ciência e a tecnologia não são algo acima do
homem, mas algo do homem. Não são infalíveis; são, muitas vezes e de
várias formas, francamente ideológicas e, no momento em que assumem
potencialidade política, são do interesse e da responsabilidade de todos a
que vão afetar. Por esta razão, o controle da informação e a utilização da
ciência e da tecnologia em lugar de serem entregues sem restrições aos
especialistas, hão de ser postos sob a supervisão da sociedade —
supervisão, evidentemente, adequada à liberdade de investigação
científica. Quando a ciência passa a ter significado e aplicação políticos, ela
interessa a todos, não importa quanto os detentores da “verdade”
estrilem.
Para encerrar, devemos observar que as formas pelas quais somos
mandados e as formas pelas quais as ideologias dominantes nos são
impostas não se resumem, como podemos pensar, à propaganda, pelo
menos no sentido estrito da palavra. Na verdade, grande parte dos
condicionantes e determinantes de nossa conduta está em tudo: na
linguagem, nos hábitos, na tradição, nas formas de convívio social, na
escola, nas aspirações que aprendemos a desenvolver como se fossem
realmente nossas.
A dominação mais forte e mais difícil de vencer (até mesmo porque é
comum que não a queiramos vencer) é a que se faz pela cabeça. Quando a
nossa cabeça não tem autonomia, quando, mesmo que não notemos,
pensam por nós, aí estamos dominados, seja pelo esquema interno a
nosso próprio país, seja por economias e culturas que o colonizam, seja
por ambos — como geralmente é o caso. A resistência contra essa
dominação, quando ela realmente nos toma conta da cabeça, é muito
difícil, inclusive porque pensamos que somos nós que estamos a decidir,
em vez de um esquema pré-fabricado que internalizamos. Isto se
percebe bem em situações simples, como quando concluímos que a
“realização” plena de um jovem praticando o esporte da moda não é
realização plena coisa nenhuma, mas a conseqüência prevista de um
processo de marketing em que ele foi colhido. Quando, entretanto, esse
processo é mais fundo, a ponto de o confundirmos com nossa própria identidade, nossa maneira de ser — aí a luta é mais difícil, e só pela
consciência política e pela produção cultural livre e autônoma
conseguiremos, coletivamente, vencer.
*
1 “Eu sou um verdadeiro escravo”, queixa-se o homem de
negócios, chegando ao trabalho cedo e encontrando a faxineira.
“Eu também”, responde a faxineira. Comente.
2 Tente catalogar quem, na sua opinião, manda na sociedade
brasileira.
3 “Acima de tudo, somos mulheres”, diz a patroa rica à
empregada. Se fosse você a empregada, concordaria?
4 “O homem mais feliz é o que não tem camisa.” Comente.
5 Você acha que o Brasil está ficando cada vez mais uma
tecnocracia? Achando ou não, você acha isso bom?
6 Na sua opinião, a televisão é apenas um divertimento ou
também faz a cabeça? Ou principalmente faz a cabeça?
https://mpassosbr.files.wordpress.com/2013/03/joc3a3o-ubaldo-ribeiro-polc3adtica-quem-manda-porque-manda-como-manda.pdf
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