sexta-feira, 24 de agosto de 2018

Política das coisas...


... e coisas da política

Em um país desorientado

est modus in rebus
“Há um limite nas coisas. Frase com que Horácio aconselha a moderação em tudo.” 


in rerum natura
“Na natureza das coisas.”


“[...” E’ impossivel, até á hora presente, prever em que sentido se orientará o paiz, quando um dia, lhe for dado dizer como quer ser governado. A maior parte dos habilissimos politicos, que orientam em seu proveito o descontentamento popular, é francamente adepta do regimen presidencial. […] Os revolucionarios vencedores ficam em superficialidades, quando se lhes pede que apontem taes erros. Dir-se-ia que temem ir ao fundo da ferida. Si forem, verão que o mal unico, o mal essencial, o mal a curar no Brasil é esse proprio regimen presidencial, que a surpreza de 1889 conseguio implantar na Constituição de 24 de fevereiro.32 [...]”
32Mauricio de Medeiros, Outras revoluções virão…, Rio de Janeiro, Calvino Filho, 1932, p. 13-14.
Revista Tempo, vol. 20 – 2014:1-21

  
Realpolitik
Realpolitik, politics based on practical objectives rather than on ideals. The word does not mean “real” in the English sense but rather connotes “things”—hence a politics of adaptation to things as they are. Realpolitik thus suggests a pragmatic, no-nonsense view and a disregard for ethicalconsiderations. In diplomacy it is often associated with relentless, though realistic, pursuit of the national interest.
WRITTEN BY: 
The Editors of Encyclopaedia Britannica



Definition of realpolitik
: politics based on practical and material factors rather than on theoretical or ethical objectives



realpolitik
(palavra alemã Realpolitik)

substantivo feminino
[Política]  Política internacional ou de relações diplomáticas baseada essencialmente em questões práticas e pragmáticas, em detrimento de questões ideológicas ou éticas.


Marco Aurélio Nogueira: O tamanho da indefinição
- O Estado de S. Paulo

O Brasil não acabará depois das eleições, seja quem for o vencedor do pleito presidencial

O mundo gira e a caravana roda. Com o avançar do calendário eleitoral, a definição dos candidatos, de suas coligações e seus compromissos, com as primeiras pesquisas e os debates iniciais, subiu a temperatura e ingressamos em um tempo de tomadas de posição.

Não há porque temer esse tempo ou fugir dele em nome do candidato ideal ou de uma candidatura única que jamais existiu, que dificilmente poderia existir e que nem sequer deveria ser tida como exigência democrática. Democracia é pluralidade, divergência, choque de opiniões, manifestação de preferências. Numa época de partidos e verdades em crise, pregar a ordem unida é caminhar às cegas, sem poder de convencimento.

Guerras entre candidatos são suicidas, mas não há como contorná-las: lutam pela própria afirmação, não pela afirmação de um campo ou polo. É da lógica da disputa eleitoral. O sangue que escorre dos guerreiros pode mesmo adubar candidaturas autoritárias. Não há como evitar isso, ao menos no primeiro turno. Correr riscos é um dos preços da democracia.

A sabedoria está em minimizar os efeitos, evitar que os choques ultrapassem o razoável, traduzindo-se em agressão e ruptura. Mentiras escabrosas e campanhas negativas de desconstrução são tóxicas, envenenam a democracia. Não se trata somente de cordialidade, mas de bater sem deixar marcas e sem poupar o adversário principal, facilitando-lhe a vida.

Sempre será preciso fazer a análise concreta da situação concreta. A frase é marxista, mas não é preciso ser marxista para aceitá-la: trata-se de um suposto do realismo político e do esforço que se deve fazer para enxergar o todo, com suas determinações, suas possibilidades reais e as relações de força que nele têm lugar. Alcançar uma compreensão abrangente e a mais racional possível é boa norma de conduta na política.

O amplo e heterogêneo campo da democracia no Brasil vive hoje um dilema: é ou não possível trabalhar para que se tenha uma mudança consistente no país, uma mudança que mexa nas estruturas, nos sistemas em geral, nas instituições, nos hábitos políticos? Mudar tornou-se um imperativo, virá mais cedo ou mais tarde, já está vindo sem que percebamos bem, cegos que estamos por disputas e polarizações paralisantes. Não devemos ser maximalistas nem exagerar no argumento. O Brasil não é um doente terminal, não vai acabar nem descarrilhar depois das eleições, seja quem for o o próximo Presidente. Não há porque ficar parado perante o pior inimigo da democracia, nem temer os populistas de plantão. Não haverá salvadores da pátria e todos terão de cooperar entre si, fazer alianças, negociar, assimilar a velha política, pedir sacrifícios à sociedade. Errarão e acertarão, uns mais, outros menos. Perigos e ameaças virão mais de uns do que de outros. Mas a roda continuará a girar.

A exigência cabal de cooperação tem um efeito colateral positivo: faz com que todos tenham de abaixar o topete, moderar suas fantasias, aprender a respeitar os limites, arregimentar as forças que podem garantir que algo seja feito. Impõe a que se privilegiem a articulação e a mediação.

Os candidatos são o que são. Nenhum deles exibe propriamente força. Não dispõem nem de poderio político extraordinário, nem de particular força de persuasão. Cada um tem seu gueto, seu estilo, suas convicções, seu séquito. Todos precisam sair de si, ir além dos muros que os protegem, chegar onde o povo está. Uns acreditam que conseguirão isso com a televisão, outros com as redes. Mas ninguém sabe quão potentes serão esses meios.

Tudo somado, é o que explica o tamanho da indefinição.
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Marco Aurélio Nogueira é professor titular de teoria política da Unesp



José de Souza Martins: O poder oculto
- Eu &Fim de Semana | Valor Econômico

O aspecto mais desolador dos "debates" políticos na televisão, nessa campanha eleitoral, é que não há debate. Para que debate houvesse, seria necessário que os partidos fossem partidos verdadeiros, com doutrina e projeto de nação. Não o são. Há pouquíssima diferença entre eles e quase nenhuma entre os candidatos. Estamos à mercê do minimalismo de dilemas menores e cotidianos. E não dos relativos ao destino do país. É o caso do bombeiro incendiário que chacoalha a Bíblia diante do nariz dos outros e sataniza os brasileiros lúcidos que dele discordam. Em princípio, quem se apresenta candidato a um mandato em nome de religião ou de igreja deveria ter a candidatura vetada. É inconstitucional.

Na verdade, o elenco de temas propostos aos candidatos nesses debates é o que o noticiário cotidiano há muito tem colocado em destaque. Mais o que apavora as pessoas comuns do que aquilo que expressa suas aspirações de desenvolvimento humano. E de sua emancipação das carências e misérias que fazem da vida cotidiana do brasileiro uma vida de incertezas e de desesperança.

A temática dessas eleições, como de eleições passadas, não é a dos nossos problemas candentes, mas apenas os popularizados pelo noticiário alarmista do dia a dia. Processos políticos não são definidos pela popularidade manipulada, os assuntos que causam apreensão e incerteza. O noticiário não expressa o que somos nem mesmo os nossos carecimentos. E o mesmo se pode dizer dos resultados de pesquisas de opinião eleitoral. O que cabe no formulário e nas perguntas pré-formuladas não é necessariamente o que inquieta as pessoas. Há um abismo antropológico entre o perguntado e o respondido.

Como sociólogo, não posso deixar de ver a conexão que há entre a notícia alarmista sobre a criminalidade urbana e o discurso religioso das diferentes igrejas, de um lado, e a conexão entre alarmismo, evangelismo televisivo e radiofônico e a política biblificada, de outro. Como ignorar o nexo entre a barbárie dos temas do noticiário e a suposta religiosidade de políticos que oferecem ao povo a alternativa violenta da punição radical e exterminadora contra as ideias e as visões de mundo que expressam a nossa diversidade social e cultural? A criminalização das diferenças, da pluralidade social, da diversidade das crenças e das visões de mundo, da civilidade, enfim, usurpou o cenário dos debates pela televisão, que são aqui mais para atemorizar do que para esclarecer. Mais para encurralar do que para libertar.

O cenário da disputa eleitoral tanto para o Executivo quanto para o Legislativo é o dos falsos problemas inventados pelas manipulações planejadas. As dos grupos de interesse que usurparam as ideologias partidárias com o propósito de amedrontar para fazer da incerteza popular a matéria-prima das disputas políticas.

Mais uma vez, vamos às urnas informados por aquilo que é de importância menor do que por aquilo que é de importância maior. A representação política está descaracterizada, como vemos em série publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo com base em pesquisa sobre os donos do poder. Quatro grupos de interesses políticos dominam o Congresso Nacional, e por extensão, a Presidência da República: o dos funcionários públicos, o do agronegócio, o da Bíblia e o da bala. Deputados e senadores estão distribuídos pelos partidos políticos, que por irrelevantes e descaracterizados se tornaram secundários em relação a esses grupos. Partido tornou-se mero instrumento legal para viabilizar o que não é e não pode ser. Partido, aqui, é o do mero agora e do passado, não o do possível e necessário. Qualquer que seja a opção do eleitorado, esses quatro grupos é que serão os efetivamente representados no Parlamento brasileiro. Os governantes governarão manipulados por eles.

Os problemas nacionais já não chegam à consciência política da nação. São desfigurados pela filtragem de interesses sobre os quais a nação não tem controle. Mais uma vez, o Brasil não será representado em seu Congresso Nacional senão pela distorção do que é, do que padece e do que quer vencer. O Brasil do Congresso é e será o Brasil vencido, iludido, usado e descartado. Pouquíssimos dos nossos políticos tem clara consciência do que representam, de que são atores de um teatro em que os verdadeiros sujeitos do processo político não se mostram, não se identificam. Qualquer que seja o partido vencedor ou o candidato vencedor, de vários modos será joguete dessas forças invisíveis e silenciosas que serão conhecidas unicamente se caírem na armadilha das investigações policiais, as dos mensalões e da Lava-Jato. Esse Brasil oculto derrota todos os dias, não só nas eleições, a política brasileira.
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José de Souza Martins é sociólogo e Professor Emérito da Faculdade de Filosofia da USP. Membro da Academia Paulista de Letras. Entre outros livros, autor de “A Política do Brasil Lúmpen e Místico” (Contexto).



THE VOICE BRASIL

Na estreia da fase Tira-Teima, os participantes do The Voice Brasil se apresentaram ao vivo pela primeira vez nesta temporada. No episódio desta quinta-feira, 23/8, quatro vozes, de cada time cantaram, e disputaram três vagas.

Confira em:
https://gshow.globo.com/realities/the-voice-brasil/2018/noticia/confira-tudo-que-rolou-na-primeira-noite-de-tira-teima.ghtml

Referências

https://www.dicionariodelatim.com.br/est-modus-in-rebus/
https://www.dicionariodelatim.com.br/in-rerum-natura/
http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=167031535014
https://www.britannica.com/topic/realpolitik
https://www.merriam-webster.com/dictionary/realpolitik
"realpolitik", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, https://www.priberam.pt/dlpo/realpolitik [consultado em 24-08-2018].
http://gilvanmelo.blogspot.com/2018/08/marco-aurelio-nogueira-o-tamanho-da.html
http://gilvanmelo.blogspot.com/2018/08/jose-de-souza-martins-o-poder-oculto.html
https://gshow.globo.com/realities/the-voice-brasil/2018/noticia/confira-tudo-que-rolou-na-primeira-noite-de-tira-teima.ghtml

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