quarta-feira, 20 de novembro de 2019

Tenho medo de capitães




Arena Conta Zumbi
Dina Sfat (Prêmio Governador do Estado - atriz revelação)



Arena Conta Zumbi (1964)

Peça de Augusto Boal e Gianfrancesco Guarnieri Música de Edu Lobo e Gianfrancesco Guarnieri Direção: Augusto Boal Elenco: Lima Duarte, Gianfrancesco Guarnieri, Dina Sfat, Marília Medalha, Suzana de Moraes, David José, Vânia Santana, Chant Dessian, Isaías Almada Regência e violão: Carlos Castilho - Nenê: Flauta - Bateria e Percussão geral: Anunciação Iluminação: Orion de Carvalho Produção: Míriam Muniz




Dina Sfat
Teatro  
 Data de nascimento deDina Sfat:28-10-1938 Local de nascimento:(Brasil / São Paulo / São Paulo) |  Data de morte23-03-1989 Local de morte:(Brasil / Rio de Janeiro / Rio de Janeiro)
Atualizado em: 09-06-2017
 Dina Sfat - O Rei da Vela , 1967 , Fredi Kleemann
Biografia
Dina Kutner de Souza (São Paulo, São Paulo, 1938 - Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1989). Atriz. Inquieta, profunda, dona de uma presença física singularmente sedutora e de uma aguda inteligência interpretativa, Dina Sfat distingue-se, na sua carreira teatral, pela exigência e coerência com que seleciona os seus compromissos profissionais. É uma das artistas de proa que verbalizam e expressam as reivindicações nacionais contra a injustiça e a opressão durante o período da ditadura. 
Filha de judeus poloneses, começa a trabalhar aos 16 anos em um laboratório de análises clínicas. Em 1962 faz uma ponta em Antígone América, de Carlos Henrique Escobar, montagem de Antônio Abujamra para Ruth Escobar. Volta ao amadorismo, como integrante de um grupo estudantil do centro acadêmico de engenharia da Universidade Mackenzie. Dessa experiência nasce seu contato com o Teatro de Arena, onde estréia profissionalmente substituindo a atriz que interpretava Manuela, a filha em Os Fuzis da Senhora Carrar, texto de Bertolt Brecht, dirigido por José Renato, em 1962. Adota, então, o nome artístico de Dina Sfat, homenageando a cidade natal de sua mãe.
Integra os elencos de O Melhor Juiz, o Rei, de Lope de Vega, 1963; Tartufo, de Molière, 1964; e ganha o Prêmio Governador do Estado de São Paulo de melhor atriz em Arena Conta Zumbi, 1965, musical de Gianfrancesco Guarnieri e Augusto Boal, todas com direção de Augusto Boal. Em 1967, participa de Arena Conta Tiradentes, novamente autoria de Gianfrancesco Guarnieri e Augusto Boal, no mesmo teatro.  
No final desse ano aceita um desafio: substituir às pressas Ítala Nandi no papel de Heloisa de Lesbos de O Rei da Vela, texto de Oswald de Andrade (1890 - 1954) encenado por José Celso Martinez Corrêa para o Teatro Oficina, conquistando as atenções do Rio de Janeiro.
Filma Corpos Ardentes, de Walter Hugo Kouri, com expressivos resultados; o que a conduz ao desempenho da guerrilheira Cy, de Macunaíma, filme de Joaquim Pedro de Andrade realizado em 1969, onde brilha ao lado de Paulo José, o protagonista. Eles se conhecem desde o Teatro de Arena, mas é a partir daí que passam a assumir uma relação marital estável.
Dissolvidos os dois grandes conjuntos teatrais dos anos 1960, Dina passa a aceitar contratos com produções independentes, alternando sua vida artística entre a televisão e o cinema. Seu currículo teatral registra expressivos desempenhos em Dorotéia Vai à Guerra, de Carlos Alberto Ratton, 1973; A Mandrágora, de Maquiavel, 1975; ambos direção de Paulo José. Participa da montagem de O Santo Inquérito, de Dias Gomes (1923 - 1999), 1976, dirigida por Flávio Rangel. Está em Seis Personagens à Procura de uma Autor, de Luigi Pirandello, mais uma direção de Paulo José, em 1977. Integra o elenco em Murro em Ponta de Faca, de Augusto Boal, 1979, primeira peça abordando a problemática dos exilados políticos a chegar aos palcos.
Torna-se produtora dos espetáculos que protagoniza, em As Criadas, de Jean Genet, 1981, e Hedda Gabler, de Henrik Ibsen, 1982. Esse último espetáculo alcança grande adesão de público não só no Rio de Janeiro, onde estréia, mas também numa longa tournée por vários Estados. Sua despedida dos palcos ocorre com A Irresistível Aventura, quatro peças em um ato dirigidas por Domingos Oliveira, 1984.
Na televisão, protagoniza novelas de grande projeção, tornando-se atriz de larga empatia e reconhecimento popular. Entre outras, destaca-se em Selva de Pedra, em 1972; Os Ossos do Barão, 1973; Saramandaia, 1976; O Astro, 1977; Bebê a Bordo, 1988; além das minisséries Avenida Paulista, em 1982, e Rabo de Saia, em 1984.
No cinema firma sua personalidade sempre densa, dramática e cheia de sutilezas em algumas películas de repercussão, lastreando seu prestígio. Como Jardim de Guerra, 1970; Tati, a Garota, 1973; Álbum de Família e Eros, o Deus do Amor, ambos em 1981; Das Tripas Coração, Tensão no Rio e O Homem do Pau Brasil, todos em 1982, sendo que neste último interpreta a pintora Tarsila do Amaral; deixa inacabado O Judeu, só concluído em 1995.
Não é possível desligar sua vida artística de sua ativa participação na vida cultural e política do país, seja integrando movimentos em prol da democracia ou da liberdade de expressão. Sua forte liderança neste campo é tão grande que, numa aula da Escola Superior de Guerra, um general a define como "líder feminista vinculada à estratégia de poder da extrema-esquerda". Ela, de fato, noticiou que sairia candidata ao cargo de vice-presidente do país pela sigla do Partido Comunista do Brasil - PCB, em 1984, mas jamais integra algum partido ou filia-se a qualquer facção política. Seu inconformismo e legítimo sentido de liberdade ancoram-se em generosa visão da vida e do mundo, sem sectarismos.
Ao descobrir-se com câncer, luta durante três anos contra a doença. Viaja para a Rússia, em tratamento, aproveitando para fazer um documentário para a TV, no momento em que a perestróika dava seus primeiros passos, levantando muita curiosidade sobre o assunto.
De seu casamento com Paulo José nascem três filhas. Ana e Bel Kutner tornam-se, igualmente, atrizes.
Pouco antes de morrer lança uma autobiografia, Dina Sfat - Palmas pra que Te Quero, escrita em parceria com a jornalista Mara Caballero.
Analisando a trajetória da intérprete, comenta o crítico Alberto Guzik: "Apaixonada e coerente, não poucas vezes Dina viu declarações suas transformadas em berços de polêmica. Mas sempre teve a coragem de sustentar suas idéias francamente e nunca se fechou ao diálogo. Quanto a seu trabalho em cena, embora fosse uma intérprete de bons recursos cênicos, voz trabalhada e evidente perícia na composição de caracteres, o que a destacava era a paixão. A vibração de sua presença, a imperiosa honestidade com que desenhava suas atuações, valeram-lhe uma posição de destaque, que a atriz manteve sempre com enorme dignidade".1
Notas
1. GUZIK, Alberto. Dina: a paixão como profissão. Jornal da Tarde, São Paulo, p. 19, 23 mar. 1989.






Capitão do mato
Por Ana Luíza Mello Santiago de Andrade
Graduada em História (Udesc, 2010)
Mestre em História (Udesc, 2013)
Doutora em História (USP, 2018)
Atribuiu-se a função de capitães-do-mato ou capitão-da-entrada-e-do-assalto aos homens pobres e livres que viviam para resgatar escravizados em fuga. O posto foi disseminado por toda a América Portuguesa, especialmente a partir do século XVII, tendo em vista o crescimento dos quilombos em todo território. A função principal dessa milícia especializada era a caça e a recaptura de escravos fugidos e a destruição dos Quilombos. A função, portanto, fazia parte da estrutura da sociedade escravocrata.



Capitão do mato, pintura do artista alemão Johann Moritz Rugendas.

Os capitães-do-mato eram em sua maioria homens livres e pobres. A função existe antes mesmo do século XVII e consistia em algumas atividades temporárias e sem uma periodicidade certa. De maneira geral era exercida principalmente pelo feitor nas fazendas, a fim de reprimir e punir esse tipo de aglomeração conjunta.
É somente a partir de meados do século XVII – com a potência do Quilombo dos Palmares e sua fama de espalhando pela América Portuguesa – que a figura do capitão-do-mato passa a ser imprescindível para sustentação do regime escravocrata. A partir desse momento o cargo ganha regras definidas com o objetivo principal de evitar fugas. O cargo, portanto, não existe sem a escravidão e sua ocorrência esteve cada vez mais atrelada à experiência do trabalho compulsório e da resistência em quilombos. Inicialmente reprimiam alguns delitos no campo, mas, após o século XVII a prática foi espalhada por toda colônia como milícia especializada.
Homens livres, de cor ou não, prontificavam-se a exercer a função de capitão-do-mato em troca de prêmios ou para seu sustento. O posto era um dos mais baixos do aparato estatal e consequentemente, o de menor prestígio. Alguns libertos participaram dessa repressão institucionalizada e eram estratégicos pois conheciam a região e as táticas de fuga. Há um senso comum que atribui o exercício da tarefa aos libertos mas, pode-se afirmar que a função era exercida majoritariamente por homens pobres e livres, não sendo a escravização característica única desses homens. Havia, portanto, uma diversidade étnica na ocupação dos cargos, que não eram restritos apenas aos negros libertos. Certamente homens libertos geravam mais desconfiança às autoridades.
Uma das principais formas de exercer a função se dava pela via do Estado e de seu aparato burocrático. Para nomeação era necessário que o candidato enviasse uma carta de recomendação, garantindo sua confiabilidade. Assim, os “homens bons” recomendavam às autoridades aqueles que poderiam exercer tal ofício. Além disso, regras e limites da autoridade de suas funções regulavam as atividades dos capitães-do-mato. Para tais funções estes homens recebiam armamento, dinheiro, homens e demais recursos, principalmente em momentos de grande combate, como as perseguições ao Quilombo dos Palmares.
Mas a atuação dos capitães se dava em um curto período de tempo: um ano, aproximadamente. Isso porque havia muita desconfiança de homens pobres e livres, armados e a serviço da ordem escravista. A preocupação, portanto, era constante. Estes homens foram vigiados de perto pelas autoridades regionais e por toda a sociedade.
Desta forma os senhores viviam em estado de tensão a todo tempo: dependiam das ações dos capitães-do-mato para a assegurar a continuidade do regime escravocrata, mas, ao mesmo tempo, tinham medo da proximidade com esses homens e também que eles pudessem contribuir com os quilombolas.
A função de capitão-do-mato garantia não só a sobrevivência de homens pobres como também certo prestígio e distinção social. Assim, a posição colocava esses homens mais próximos dos senhores de engenho que dos escravizados e assim, garantiam poder e uma vivência comunitária.
Essas figuras foram tão importantes para a manutenção do sistema escravista que até a Santo Antônio de Pádua, um dos santos mais venerados tanto na Coroa quanto na colônia, é atribuída a patente de Capitão-do-Mato.
Referências bibliográficas:
SCHWARCZ, Lilia & STARLING, Heloisa. Brasil: uma biografia. São Paulo: Companhia das Letras, 2015.
Arquivado em: Brasil Colônia





Referências

https://youtu.be/52y7Kyd1Ewc
https://www.infoescola.com/historia/capitao-do-mato/
http://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa349566/dina-sfat
https://www.infoescola.com/wp-content/uploads/2017/02/Capitao-mato.jpg
https://www.infoescola.com/historia/capitao-do-mato/

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