O
Leopardo e o Drama de Angélica na Pátria Alfabetizadora de Adultos em
Construção
O
Leopardo
Por Jorge Magalhães
O gato, felino animal caçador, espreita com seus grandes olhos amarelos
de assassino, o pardal que bica o chão. O gato pardo, oculta-se entre as folhas
rasteiras. De repente, o felino salta. Porém, mais esperto, a ave alça vôo,
escapando-lhe das garras ferinas. Decepcionado, o felino mia para o céu,
maldizendo a natureza por não ter-lhe dado asas.
(Do livro “Punhal de Dois Gumes”,
Edições Uirá, 1994)
Antonio Peres Pacheco
Enviado por Antonio Peres Pacheco em
01/02/2008
Código do texto: T842079
Código do texto: T842079
EDGAR
ALLAN POE – FICÇÃO COMPLETA – CONTOS DE TERROR, MISTÉRIO E MORTE
“(...) Para a
muito estranha embora muito familiar narrativa que estou a escrever, não espero
nem solicito crédito. Louco, em verdade, seria eu para esperá-lo, num caso em
que meus próprios sentidos rejeitam seu próprio testemunho. Contudo, louco não
sou e com toda a certeza não estou sonhando. Mas amanhã morrerei e hoje quero
aliviar minha alma. Meu imediato propósito é apresentar ao mundo, plena,
sucintamente e sem comentários, uma série de simples acontecimentos domésticos.
Pelas suas conseqüências, estes acontecimentos, me aterrorizam, me torturaram e
me aniquilaram. Entretanto, não tentarei explicá-los. Para mim, apenas se
apresentam cheios de horror. Para muitos, parecerão menos terríveis do que
grotescos. Mais tarde, talvez, alguma inteligência se encontre que reduza meu
fantasma a um lugar comum, alguma inteligência mais calma, mais lógica, menos
excitável do que a minha e que perceberá nas circunstâncias que pormenorizo com
terror apenas a vulgar sucessão de causas e efeitos, bastante naturais. (...)”
“Horário eleitoral de Dilma na TV esconde símbolos do PT”
Terça-feira,
14 de setembro de 2010
Programas deixam de lado a estrela, a
cor vermelha e depoimentos de lideranças do partido.
Por Ranier Bragon,
Marcio Falcão e Flávia Foreque
A estratégia é
comandada pelo marqueteiro João Santana, o mesmo da campanha de Lula à
reeleição, em 2006, quando já reduziu referência ao PT por conta do mensalão.
"(...) A
situação de Dom Fabrizio fica ainda mais delicada quando seu sobrinho Tancredi
(que lutou A FAVOR da Revolução) decide que quer casar-se com a filha de um dos
burgueses ricos da cidade, Angélica.
Ao arranjar o casamento, Dom Fabrizio percebe
que o pai da noiva dará ao casal um dote impressionante e muito acima do que
ele poderia sonhar.
A humilhação
é palpável.
“O LEOPARDO, OU A ÉTICA DA COMPAIXÃO”
Luiz Carlos Bresser Pereira
“(...)
Como toda obra de
arte, há muitas formas de interpretar O Leopardo. A mais óbvia é pensá-la, no
plano político, como a análise de um episódio histórico: o da transição do
poder, na Sicília, da aristocracia proprietária de terras para a burguesia
liberal, e a cooptação desta por aquela. Mas talvez seu segredo esteja no plano
ético: em apresentar um personagem excepcional, o príncipe de Salina, que nos
faz pensar no sentido da vida, que nos obriga a distinguir os homens e mulheres
diferenciados dos comuns, sem cairmos no risco do super-homem, mas pensando no
conceito de compaixão. Examinarei em seguida estes dois aspectos. (...)”
Política,
literatura e cinema em Lampedusa e Visconti”
Rosemary
Segurado* Rodrigo Estramanho de Almeida**
Resumo: Este
artigo tem por objetivo estabelecer uma compreensão acerca da temática da
política a partir de uma obra literária, no caso o romance O Leopardo (1954) de
Giuseppe Tomasi de Lampedusa e de um filme adaptado desta mesma obra, o
homônimo O Leopardo (1963) de Luchino Visconti.
Abstract: This article aims to
establish an understanding about the theme of politics as a literary work, for
the novel The Leopard (1954) by Giuseppe Tomasi de Lampedusa and a film
adaptation of that work, titled The Leopard (1963) by Luchino Visconti.
As relações
entre arte e política possibilitam a ampliação das dimensões de pensamento
sobre um conjunto de fenômenos sociais. O debate em torno destas tem se
mostrado fecundo para a expansão do objeto da política. Para melhor
compreendermos a dinâmica política de uma época, a arte oferece, por meio de
expressões estéticas, um conjunto de indícios a respeito da plêiade de questões
da realidade social, econômica e política.
Alvarenga e Ranchinho - O Drama da Angélica em 4 Atos
"Cá
jaz Angélica
Moça
hiperbólica
Beleza
Helênica
Morreu
de cólica!"
Ouve meu cântico quase sem ritmo
Que a voz de um tísico magro esquelético
Poesia épica em forma esdrúxula
Feita sem métrica com rima rápida
Amei Angélica mulher anêmica
De cores pálidas e gestos tímidos
Era maligna e tinha ímpetos
De fazer cócegas no meu esôfago
Em noite frígida fomos ao Lírico
Ouvir o músico pianista célebre
Soprava o zéfiro ventinho úmido
Então Angélica ficou asmática
Fomos ao médico de muita clínica
Com muita prática e preço módico
Depois do inquérito descobre o clínico
O mal atávico mal sifilítico
Mandou-me célere comprar noz vômica
E ácido cítrico para o seu fígado
O farmacêutico mocinho estúpido
Errou na fórmula fez despropósito
Não tendo escrúpulo deu-me sem rótulo
Ácido fênico e ácido prússico
Corri mui lépido mais de um quilômetro
Num bonde elétrico de força múltipla
O dia cálido deixou-me tépido
Achei Angélica já toda trêmula
A terapêutica dose alopática
Lhe dei em xícara de ferro ágate
Tomou num fôlego triste e bucólica
Esta estrambólica droga fatídica
Caiu no esôfago deixou-a lívida
Dando-lhe cólica e morte trágica
O pai de Angélica chefe do tráfego
Homem carnívoro ficou perplexo
Por ser estrábico usava óculos
Um vidro côncavo o outro convexo
Morreu Angélica de um modo lúgubre
Moléstia crônica levou-a ao túmulo
Foi feita a autópsia todos os médicos
Foram unânimes no diagnóstico
Fiz-lhe um sarcófago assaz artístico
Todo de mármore da cor do ébano
E sobre o túmulo uma estatística
Coisa metódica como Os Lusíadas
E numa lápide paralelepípedo
Pus esse dístico terno e simbólico
"Cá
jaz Angélica
Moça
hiperbólica
Beleza
Helênica
Morreu
de cólica!"
“Sonho e Utopia:
uma
reflexão sobre o texto literário no processo de escolarização básica
de adultos”
Elisiani Vitória Tiepolo
Dissertação apresentada como requisito parcial à
obtenção do grau de Mestre em Literatura, Curso de
PósGraduação, Setor de Ciências Humanas, Letras
e Artes, Universidade Federal do Paraná.
Orientador: Prof. Dra. Marta Morais Costa
1996
Essa
literatura oral, produzida pelas classes populares,
contém embriões da literatura escrita, ou como bem traduziu Cecília
Meireles, “o gosto de contar é idêntico ao gosto de escrever
e os primeiros narradores são
os antepassados anônimos de todos os
escritores. O gosto de ouvir é como o gosto de ler. Assim,
as bibliotecas, antes de serem estas infinitas
estantes, com vozes presas dentro dos livros, foram
vivas e humanas, rumorosas, com gestos, canções, danças entremeadas às narrativas”42
.
42 MEIRELES,
Cecília. Problemas da literatura infantil. Rio de Janeiro:
Nova Fronteira, 1984, p. 49.
O
tom satírico da canção é conseguido, basicamente, pela seleção
vocabular, determinada pela escolha de somente palavras
proparoxítonas para o final de todos os versos. Disso decorre
a justaposição de palavras aparentemente desconexas mas que
assumem um novo significado no interior da canção, como por exemplo
nos versos “Era maligna/E tinha ímpetos/ De fazer cócegas/ No meu
esôfago”; ou em “noite frígida”, numa apropriação
propositadamente indevida de uma palavra que sonoramente remete a idéia de
frio; ou ainda em “bonde elétrico/ De força múltipla” e em “homem
carnívoro”. Além disso, a utilização de determinados
arcaísmos (“Fomos ao lírico...Soprava o zéfiro...mui
lépido...a terapêutica...assaz artístico”) se conjuga muito bem com a história
narrada, muito semelhante a dos folhetins românticos: “É a voz de um
tísico/ Magro e esquelético...Amei Angélica/ Mulher anêmica/ De
cores pálidas...E gestos tímidos”. Outro aspecto que merece
destaque é a utilização de determinados termos ou
referenciais próprios de uma cultura dita erudita que são
parodiados pelos compositores e desta forma
ridicularizados: “mal atávico...triste, bucólica...droga fatídica...Coisa
metódica/ Como os Lusíadas...Pus este dístico...Beleza helênica”.
Outro recurso interessante é a utilização das palavras
“perplexo”, que pode ser lida [perpléquiço] e “convexa”, pode ser lida
[convéquiça], e consideradas, portanto, como proparoxítonas. E, não
podemos deixar de nos divertir também, no final da canção, com o
cacófato “Cá jaz Angélica”. Temos, ainda, um trecho metapoético que
merece ser ressaltado: “Ouve meu cântico/ Quase sem ritmo...Poesia
épica/ Em forma esdrúxula/ Feita sem métrica/ Com rima rápida”. Se não
podemos verificar a falta de ritmo e métrica na canção
(todas as 4 estrofes de 24 versos são
compostas por tetrassílabos, quebrados apenas pela palavra
“paralelepípedo”) é certo que o tom épico e a falta de preocupação com
as rimas são corretamente indicadas, se bem que compensados pelo
ritmo e pelo acento proparoxítono. Então, é possível verificar que a
canção de Alvarenga e Ranchinho é fruto de uma precisa elaboração poética que
tem como eixo a utilização paródica de palavras proparoxítonas. E
parece também correto afirmar que mesmo que os alunos
desconheçam a teoria que denomina esse fato ou seja, mesmo
que não sejam capazes de nomear esse grupo de palavras
como proparoxítonas é possível a qualquer um deles perceber
a recorrência da acentuação sempre numa mesma sílaba e, conseqüentemente,
perceber o ritmo da canção; e, ainda, perceber que palavras
um tanto quanto antigas aparecem para contar uma história que
também parece antiga; ou que palavras tão difíceis estejam
contando a história de uma moça tão pura e singela, de nome tão incomum
que morreu de cólica (ou de dor de barriga, como
diriam alguns); e que “Cá jaz Angélica” soa esquisito e parece o nome
de uma fruta bastante conhecida pelos nordestinos cajá. Enfim, não
será à toa o riso dos ouvistes, sejam eles
analfabetos ou não. A utilização de
palavras proparoxítonas também foi o principal recurso
utilizado por Chico
Buarque, em sua
canção Construção, porém
com efeitos bem distintos:
Amou daquela
vez como se fosse a última
Beijou sua
mulher como se fosse a última
E cada
filho seu como se fosse o único
E atravessou a
rua com seu passo tímido
Subiu a
construção como se fosse máquina
Ergueu no
patamar quatro paredes sólidas
Tijolo por
tijolo num desenho mágico
Seus olhos embotados de
cimento e lágrima
Sentou pra
descansar como se fosse sábado
Comeu feijão
com arroz como se fosse um príncipe
Bebeu e
soluçou como se fosse um náufrago
Dançou e
gargalhou como se ouvisse música
E tropeçou
no céu como se fosse um pássaro
E se
acabou no chão feito um pacote flácido
Agonizou no
meio do passeio público
Morreu na
contramão atrapalhando o tráfego
Amou daquela
vez como se fosse o último
Beijou sua
mulher como se fosse a única
E cada
filho seu como se fosse o pródigo
E atravessou a
rua com seu passo bêbado
Subiu a
construção como se fosse sólido
Ergueu no
patamar quatro paredes mágicas
Tijolo por
tijolo num desenho lógico
Seus olhos embotados de
cimento e tráfego
Sentou pra
descansar como se fosse um príncipe
Comeu feijão
com arroz como se fosse o máximo
Bebeu e
soluçou como se fosse máquina
Dançou e
gargalhou como se fosse o próximo
E tropeçou
no ar como se fosse sábado
E se
acabou no chão feito um pacote tímido
Agonizou no
meio do passeio náufrago
Morreu na
contramão atrapalhando o público
Amou daquela
vez como se fosse máquina
Beijou sua
mulher como se fosse lógico
Ergueu no
patamar quatro paredes flácidas
Sentou pra
descansar como se fosse um pássaro
E flutuou no
ar como se fosse um príncipe
E se
acabou no chão feito um pacote bêbado
Morreu na
contramão atrapalhando o sábado 44
44 HOLLANDA,
Chico Buarque de. Chico Buarque, letra e música.
São Paulo: Companhia das Letras, 1989.
Mesmo que os alunos não conheçam a canção de Chico Buarque o
procedimento estético utilizado por ele pode soar-lhes conhecido
se esta canção for apresentada logo após de Alvarenga e
Ranchinho. Obviamente desconhecerão este nível de elaboração
textual. Afinal, a canção de Chico Buarque é uma construção na qual
os mesmo termos vão sendo recolocados e adquirem
novos sentidos nesse processo. Além de sugerir que esta
comparação seja feita com os alunos, gostaria de ressaltar a
ironia presente no fato de que enquanto a canção de Chico Buarque é considerada
antológica na música popular brasileira (é motivo, inclusive, de
muitas análises literárias) outras construções igualmente
criativas e bem elaboradas
como O Drama de Angélica deixam de sê-lo exatamente
porque provêm da cultura popular.
Chico Buarque –
Construção
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