sexta-feira, 25 de novembro de 2022

PESADELO, PARALELAS E ESQUADRO

*** Música | Esquadros - Adriana Calcanhotto e Brasil Jazz Sinfônica ************************************************************************************** Reconvexo Maria Bethânia Ouça Reconvexo Sou a chuva que lança a areia do Saara Sobre os automóveis de Roma Sou a sereia que dança, a destemida Iara Água e folha da Amazônia Sou a sombra da voz da matriarca da Roma Negra Você não me pega, você nem chega a me ver Meu som te cega, careta, quem é você? Que não sentiu o suingue de Henri Salvador Que não seguiu o Olodum balançando o Pelô E que não riu com a risada de Andy Warhol Que não, que não, e nem disse que não Eu sou o preto norte-americano forte Com um brinco de ouro na orelha Eu sou a flor da primeira música A mais velha, mais nova espada e seu corte Sou o cheiro dos livros desesperados, sou Gita Gogóia Seu olho me olha, mas não me pode alcançar Não tenho escolha, careta, vou descartar Quem não rezou a novena de Dona Canô Quem não seguiu o mendigo Joãozinho Beija-Flor Quem não amou a elegância sutil de Bobô Quem não é recôncavo e nem pode ser reconvexo Sou a chuva que lança a areia do Saara Sobre os automóveis de Roma Sou a sereia que dança, a destemida Iara Água e folha da Amazônia Sou a sombra da voz da matriarca da Roma Negra Você não me pega, você nem chega a me ver Meu som te cega, careta, quem é você? Que não sentiu o suingue de Henri Salvador Que não seguiu o Olodum balançando o Pelô E que não riu com a risada de Andy Warhol Que não, que não, e nem disse que não Eu sou o preto norte-americano forte Com um brinco de ouro na orelha Eu sou a flor da primeira música A mais velha, mais nova espada e seu corte Sou o cheiro dos livros desesperados, sou Gita Gogóia Seu olho me olha, mas não me pode alcançar Não tenho escolha, careta, vou descartar Quem não rezou a novena de Dona Canô Quem não seguiu o mendigo Joãozinho Beija-Flor Quem não amou a elegância sutil de Bobô Quem não é recôncavo e nem pode ser reconvexo Quem não rezou a novena de Dona Canô Quem não seguiu o mendigo Joãozinho Beija-Flor Quem não amou a elegância sutil de Bobô Quem não é recôncavo e nem pode ser reconvexo Ouça Reconvexo Composição: Caetano Veloso. ************************************************************ O NOVO CONDICIONADO PELO VELHO ***
*** Fac-símile da capa da primeira impressão de O 18 de brumário de Luís Bonaparte, no fascículo n. 1 da revista Die Revolution, publicada por Joseph Weydemeyer, em maio de 1852. *** "Em alguma passagem de suas obras, Hegel comenta que todos os grandes fatos e todos os grandes personagens da história mundial são encenados, por assim dizer, duas vezes1 . Ele se esqueceu de acrescentar: a primeira vez como tragédia, a segunda como farsa." _________________ 1 G. W. F. Hegel, Vorlesungen über die Philosophie der Geschichte. Dritter Teil [Preleções sobre a filosofia da história. Terceira parte] (Berlim, 1837. Werke, v. 9). https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/2804654/mod_resource/content/0/Marx%20-%20O%2018%20Brum%C3%A1rio%20de%20Lu%C3%ADs%20Bonaparte%20%28Boitempo%29.pdf *****************************************************************************
*** Moraes desbloqueia fundo partidário do Progressistas e Republicanos Presidente do TSE manteve a multa de R$ 22,9 milhões apenas para o PL, o partido de Jair Bolsonaro FLÁVIA MAIA BRASÍLIA 25/11/2022 19:08 *** Alexandre de Moraes / Crédito: Carlos Moura/SCO/STF *** O presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Alexandre de Moraes, determinou nesta sexta-feira (25/11) o desbloqueio do fundo partidário das legendas Progressistas e Republicanos e manteve a multa de R$ 22,9 milhões por litigância de má-fé apenas ao Partido Liberal (PL), que continua proibido de receber os repasses partidários. Moraes atendeu ao pedido dos partidos Progressistas e Republicanos, que informaram ao TSE que reconhecem o resultado e a validade das eleições de 2022. As siglas alegam que não foram consultadas sobre a ação que questionou o resultado do segundo turno e não autorizaram o ingresso da representação feita pelo presidente do Partido Liberal (PL), Valdemar da Costa Neto. Segundo as agremiações, Valdemar se autointitulou presidente da Coligação Pelo Bem do Brasil, do presidente Jair Bolsonaro, e não recebeu procuração específica para falar pela Coligação. Os partidos pediram a liberação dos recursos partidários para honrar compromissos com fornecedores e funcionários. “Ambos os partidos — Progressistas e Republicanos — afirmaram, expressamente, que reconheceram publicamente por seus dirigentes a vitória da Coligação Brasil da Esperança nas urnas, conforme declarações publicadas na imprensa e que, em momento algum, questionaram a integridade das urnas eletrônicas, diferentemente do que foi apresentado única e exclusivamente pelo Partido Liberal”, escreveu Moraes. Na quarta-feira (23/11), o presidente do TSE condenou a coligação de Bolsonaro a uma multa de R$ 22,9 milhões por litigância de má-fé por requerer a anulação de votos de urnas eletrônicas para o segundo turno das eleições de 2022 alegando suposta fraude. O ministro ainda determinou o bloqueio dos fundos partidários até o pagamento das multas. Na quinta, os demais partidos da coligação, o Progressistas e Republicanos alegaram que não concordavam com a ação ajuizada pelo PL e pediram a exclusão deles do polo ativo da ação e, consequentemente, das penalidades impostas. Fonte: JOTA FLÁVIA MAIA – Repórter em Brasília. Cobre Judiciário, em especial o Supremo Tribunal Federal (STF). Foi repórter do jornal Correio Braziliense e assessora de comunicação da Confederação Nacional da Indústria (CNI). Faz graduação em Direito no IDP. Email: flavia.maia@jota.info "Ambos os partidos - Progressistas e Republicanos - afirmaram, expressamente, que reconheceram publicamente por seus dirigentes a vitória da Coligação Brasil da Esperança nas urnas, conforme declarações publicadas na imprensa e que, em momento algum, questionaram a integridade das urnas eletrônicas, diferentemente do que foi apresentado única e exclusivamente pelo Partido Liberal", escreveu o ministro. "O regime calava uma boca e, em consequências, novas e diferentes bocas se abriam. O regime reprimia necessidades sociais e políticas, mas novas e alternativas, compensatórias, ganhavam voz e visibilidade. A política econômica multiplicava lucros extraordinários e suas consequências antissociais. Em suas contradições, dava vida a novos sujeitos de demandas sociais, de horizontes e de possibilidades de transformação social na direção de uma modernidade não só econômica, mas também social e política." ***
*** sexta-feira, 25 de novembro de 2022 José de Souza Martins* - Novos sujeitos políticos Eu & Fim de Semana / Valor Econômico As nações indígenas emergiram como personagens da história do presente. Houve aqui uma revolução social e quase ninguém percebeu O regime resultante do golpe militar de 1964, em nome da democracia supostamente ameaçada pelo comunismo, não favoreceu a emergência das populações excluídas dos direitos sociais e políticos próprios das sociedades democráticas, igualitárias e pluralistas. Os “diferentes” foram mantidos na prisão imaginária e excludente, a de sua diferença, como seres menores, aquém do propriamente humano. Ou, em desdobramento atual do regime ditatorial, considerados e tratados como iguais para que se virem com sua igualdade, que os fragiliza em face dos poderes descomunais do Estado e da economia. Na reunião do governo de 22 de abril de 2020, isso ficou claro. A política repressiva da ditadura de 1964 atingiu a classe trabalhadora, diferente no entendimento anormal dos normais, os que têm poder. Mas atingiu também os grupos sociais residuais que haviam ficado à margem da história. E atingiria também os novos sujeitos que ganhariam corpo e visibilidade em decorrência da política econômica e da intolerância própria da ditadura. O regime calava uma boca e, em consequências, novas e diferentes bocas se abriam. O regime reprimia necessidades sociais e políticas, mas novas e alternativas, compensatórias, ganhavam voz e visibilidade. A política econômica multiplicava lucros extraordinários e suas consequências antissociais. Em suas contradições, dava vida a novos sujeitos de demandas sociais, de horizontes e de possibilidades de transformação social na direção de uma modernidade não só econômica, mas também social e política. O regime militar repressivo não foi vencido por uma revolução política, mas pelas suas muitas brechas e fraturas que deram voz e vida a sujeitos sociais que historicamente haviam sido mantidos na fragilidade do silêncio e da falta de conexões políticas próprias para expressar suas carências. Foi o caso das populações rurais historicamente mantidas à margem da sociedade que sucedera à sociedade escravista com a abolição da escravatura. O medo político dos militares pôs a reforma agrária na agenda do Estado. Foi e ainda é o caso das populações indígenas, aqui tratadas como populações aquém da condição humana, tratamento que também se dera ao escravo. O regime militar foi marcado por verdadeiros episódios de guerra civil no confronto entre grileiros de terra, armados e tolerados, contra nações indígenas desarmadas. Alguns casos notáveis não entraram em nossa narrativa histórica, patrioteira. Um caso significativo foi o da revolta das tribos Kaingang, em 1976, que nos três estados do Sul se ergueram contra a invasão de suas terras pelos brancos, expulsando-os. Apossaram-se do conhecimento agrícola dos brancos e revitalizaram suas tradições. Outro caso foi o da coalizão dos povos Waimiri e Atruahi, reduzidos a 20% do que eram. Resistiram à genocida invasão dos brancos com a abertura da rodovia Manaus-Caracaraí. Ou a coalizão dos Txukahamãe com seus inimigos, os Kreenakarore. Quando os primeiros tomaram consciência do genocídio em andamento, contra os segundos, uniram-se a estes para protegê-los e ampará-los. Os anos 1970 foram os da guerra do Brasil atrasado e predatório contra os índios, que redundou no seu contrário: a guerra cultural e política dos índios contra a barbárie de uma concepção destrutiva de crescimento econômico sem desenvolvimento social, de um modelo de capitalismo sem seres humanos. Os diferentes povos indígenas inverteram o modelo dos brancos. Desenvolveram uma estratégia de incorporação, em suas táticas de sobrevivência, do conhecimento dos brancos, especialmente o conhecimento científico. Valeram-se dos antropólogos que iam estudá-los e decifraram os brancos como objeto raro, como cobaias. Desenvolveram estratégias autodefensivas. Receberam o apoio de missionários católicos e luteranos, da nova pastoral dos povos indígenas, redefinida como reação à ordem política repressiva e genocida. Antropólogos de diferentes universidades definiram uma nova concepção de etnologia, em que o observador é observado e a sociedade que por meio dele pesquisa tem sua maldade decifrada e suas virtudes aprendidas. As nações indígenas emergiram como personagens da história do presente. Já na ditadura, a praça dos Três Poderes foi delas. Nas negociações atuais para definição dos rumos e do projeto de nação do novo governo pós-autoritário, os indígenas estão lá. Vários fizeram cursos nas universidades. Já estão presentes no Parlamento. Há algum tempo, Joênia Wapixana, advogada, apresentou ao STF a causa territorial de seu povo com um discurso em sua própria língua. Uma das cerca de 200 línguas indígenas do Brasil. Houve aqui uma revolução social e quase ninguém percebeu. *José de Souza Martins é sociólogo. Professor Emérito da Faculdade de Filosofia da USP. Professor da Cátedra Simón Bolivar, da Universidade de Cambridge, e fellow de Trinity Hall (1993-94). Pesquisador Emérito do CNPq. Membro da Academia Paulista de Letras. Entre outros livros, é autor de "As duas mortes de Francisca Júlia A Semana de Arte Moderna antes da semana" (Editora Unesp, 2022). ************************************ ***
*** sexta-feira, 25 de novembro de 2022 Fernando Gabeira - O estreito caminho da normalidade O Estado de S. Paulo O desespero e a vontade de perturbar estão presentes e devem ser contados como um fator duradouro nos próximos quatro anos O momento pós-eleitoral de agora é o mais agitado do período de redemocratização. Estradas bloqueadas, multidões diante dos quartéis, cenas de regozijo com a falsa notícia da prisão de Alexandre de Moraes, preces aos militares e até aos alienígenas, com quem tentam se comunicar com a lanterna dos celulares. Neste contexto coloca-se a difícil tarefa do novo governo: pagar suas dívidas de campanha com os mais pobres e reconciliar o País. Para atender aos mais pobres, o primeiro problema é dinheiro. No Orçamento que o governo Bolsonaro apresentou não estava previsto o Auxílio Brasil de R$ 600, mas só de R$ 405. Além disso, faltam recursos para o Farmácia Popular, a merenda escolar, o aumento do salário mínimo. A saída é estourar o teto de gastos, já muitas vezes furado pela gestão Bolsonaro. Uma forma suave de conseguir esses objetivos seria não apenas criticar o teto de gastos, mas transitar gradualmente para uma nova âncora fiscal. De modo geral, a simples e justa crítica ao teto de gastos aparece como se não se admitisse nenhum tipo de âncora fiscal, como se fosse possível viver num mundo de gastos ilimitados. Algumas novas referências para limitar os gastos, como índice de crescimento e evolução da dívida, já estão sendo colocadas na mesa. Qual a vantagem de atender aos pobres e, simultaneamente, não criar confrontos verbais com o chamado mercado? Teoricamente, não haveria problema em criticar ou, mesmo, desprezar o mercado sob o argumento de que é um espaço em que se pensa apenas no interesse dos mais ricos. Mas isso é apenas uma bravata. O trânsito mais suave para uma nova âncora fiscal, sem trair as promessas de campanha, seria melhor, diante da conjuntura política ainda conturbada pela extrema direita. A tarefa de reconciliação nacional não é fácil. Estivemos diante de manifestações de massas que devem declinar, por algumas razões. Uma delas é o fato de não alcançarem seu objetivo, que é anular as eleições. A outra é de ordem conjuntural: dificilmente algum movimento dessa natureza sobrevive ao impacto de uma Copa do Mundo seguida de festas natalinas. Depois do AI-5, o ato que reforçou a ditadura, em 13 de dezembro de 1968, fizemos inúmeras tentativas de protesto, todas dissipadas pelo espírito natalino. O que às vezes acontece quando manifestações de massa refluem é o surgimento de pequenos grupos radicais. Isso já pode ser observado em alguns pontos de Mato Grosso e de Santa Catarina. Em Lucas do Rio Verde (MT), a instalação de uma concessionária da estrada foi incendiada. Imagens de caminhões ardendo em fogo foram vistas na região de Sorriso (MT). Ataques armados e sequestro de caminhoneiros foram registrados em Santa Catarina. Enfim, o declínio das manifestações, como em outros momentos da História, abre espaço para os grupos de vanguarda que tentam manter acesa a chama do protesto. Ao analisar friamente essa situação, creio que a tática correta é isolar os grupos armados e evitar que novas manifestações brotem nas ruas. Qualquer movimento futuro que abale a economia artificialmente, provocando queda da Bolsa e alta do dólar, não provoca diretamente, mas estimula a rebelião. No curto prazo, há outra tática importante, não muito utilizada: a de respeitar os derrotados, argumentar pacientemente com eles e, quando isso for impossível, optar pelo silêncio. Não tenho a pretensão de dizer como as pessoas reagem, mesmo porque elas exercem uma exuberante liberdade. Mas frases do tipo “perdeu, Mané” contribuem para o ressentimento e aprofundam o abismo entre duas visões de Brasil. Se observamos o candidato derrotado, vemos que há um silêncio na superfície, mas movimentos na penumbra. Interessa a Bolsonaro manter a inquietação de seus eleitores. Seu vice, Braga Netto, andou pronunciando frases enigmáticas, dando a entender aos manifestantes que deveriam persistir, pois algo importante estava por acontecer. Valdemar Costa Neto, presidente do PL, conseguiu uma auditoria para questionar as urnas eletrônicas e tentar com isso botar lenha na fogueira. E um ministro do Tribunal de Contas da União (TCU), Augusto Nardes, aparece num áudio vazado dizendo que há grande inquietação nos quartéis, sugerindo também que um golpe militar está a caminho. A análise do natural fluxo e refluxo do movimento de massas indica a queda progressiva das manifestações de rua. Mas o desespero e a vontade de perturbar estão presentes e devem ser contados como um fator duradouro nos próximos quatro anos. Num quadro tão difícil, o ideal seria que o novo poder levasse em conta suas palavras e, se possível, evitasse improvisos, usando ao máximo a leitura de textos curtos. Embora seja uma experiência diferente, vale a pena observar como Bolsonaro encantou seus radicais, dizendo sempre coisas que os animavam, independentemente de avaliação cuidadosa da conjuntura. Resultado: é o primeiro presidente que não se reelegeu, na história da redemocratização. Na internet, há uma piada recorrente com diferentes situações e um só texto: recorra aos profissionais. A política brasileira tem alguns profissionais, no bom sentido, e a missão que se abre depende muito deles. *****************************************
*** O covarde em questão | JOSÉ PEDRIALI *** sexta-feira, 25 de novembro de 2022 Ruy Castro - O covarde em questão Folha de S. Paulo Bolsonaro não tem a hombridade dos generais que perdem a guerra e saem de cabeça erguida Acontece na guerra: o exército vencido bate em retirada e tenta se vingar do vitorioso deixando um rastro de destruição e morte. Mas, como bem sabem os militares, quem faz isto está sendo só covarde. Primeiro, porque é uma vingança a distância, a salvo, pelas costas, típica dos covardes. E também porque, ao plantar minas ao fugir, tocar fogo em cidades e florestas e envenenar rios e plantações, matarão muito mais inocentes, como crianças e animais, do que os experientes inimigos que pretendem atingir. Jair Bolsonaro é o covarde em questão. Ao encontrar o que merecia nas urnas e ter data marcada para ir embora, está aproveitando os últimos dias no cargo para completar seus quatro anos de meticulosa demolição do país. Vide seu apoio mudo e tácito aos atos terroristas e às barricadas nas estradas. O histérico baderneiro que, há dias, impediu um pai de vencer a barreira para levar o filho a uma cirurgia que lhe garantiria a visão pode ter nome e sobrenome. Mas este é só o pseudônimo do celerado. Seu verdadeiro nome é Jair Bolsonaro, e será a este que o pai deverá exigir satisfações se seu filho perder o olho. Como ainda tem tinta na caneta, Bolsonaro tenta passar o resto da boiada, infiltrando os derradeiros pilantras de sua confiança em órgãos judiciais, cortando verbas essenciais e desmontando os já poucos serviços de proteção às florestas. Quem perde com isso é o Brasil, mas e daí? E seu silêncio fala alto quando, agora temendo processos de verdade, ele escala Walter Braga Netto e Valdemar Costa Neto para fazer o trabalho sujo. Bolsonaro não tem a hombridade dos grandes generais que, ao perder a guerra, entregam sua espada ao vitorioso e saem de cabeça erguida —vencidos, mas não derrotados. Sua atitude é a de um moleque. Moleque, segundo o Houaiss, pode ser tanto um sujeito brincalhão e gaiato quanto uma criança ou um canalha. Você escolhe. **********************************
*** sexta-feira, 25 de novembro de 2022 Luiz Carlos Azedo - O estranhamento de torcer pelo Brasil sem vestir a camisa amarela Correio Braziliense A camisa da Seleção virou uma espécie de uniforme da extrema direita, que protesta à frente dos quartéis e bloqueia as estradas para impedir a posse do presidente Lula Havia uma expectativa de que a Copa do Mundo de Futebol no Catar mudasse o clima político no país, mas ainda não é o que está acontecendo. Vamos ver se os jogos da nossa Seleção — que estreou com os pés de Richarlison fazendo dois gols, um dos quais uma pintura — contribuirão para criar um novo clima de diálogo e convivência, em que todos estejamos do mesmo lado, ao torcer pelo Brasil. Não vejo em ninguém um sentimento antipatriótico, de rejeição à Seleção Brasileira de Tite, mas também não vejo a mesma sensação de pertencimento e identidade com a camisa canarinho como em outras copas. É muito esquisito! Talvez o Catar fique longe demais, a maioria conhece muito pouco esse Emirato, que é considerado o país mais rico do mundo. Protetorado britânico, após a queda da Império Otomano, o Catar é governado há 150 anos pela mesma família, que manteve o poder com mão de ferro após a independência, em 1971. Petróleo, gás e alumínio garantem ao país receitas muito superiores ao que gasta com importações, principalmente de bens de consumo, de alimentos, que o deserto não oferece, de carros de alto luxo. Doha, a capital, é uma das cidades mais modernas do mundo, com seus prédios altíssimos e arrojados, fruto de uma política cujo objetivo é transformar o Emirato num polo turístico, comercial e financeiro. O velho conceito de Peter Ducker, de que as cidades devem ser boas para morar, trabalhar e visitar, simultaneamente, deve ter inspirado a modernização da cidade, considerada uma das mais seguras do mundo. O Catar é um dos países com os quais o presidente Jair Bolsonaro conseguiu manter relações bem amistosas. Havia uma forte conexão entre a autocracia local e o projeto iliberal bolsonarista, que acabou derrotado nas urnas pelo presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva. Obviamente, não tem sentido romper os laços comerciais e econômicos que foram estabelecidos na visita de Bolsonaro aos Emiratos, mas nosso rumo político tem outros paradigmas, cujo eixo é o Estado democrático e não o direito divino ditado pelo Alcorão. Vale a pena examinar melhor o contexto em que a Copa se realiza. O Catar está entre os países do Oriente que se lançaram arrojadamente na globalização, sendo um dos líderes da corrida mundial para reinventar o Estado de forma a torná-lo mais eficiente e produtivo, tendo como modelo o capitalismo de Estado de Cingapura. O fato de ser uma monarquia autoritária, com grande disponibilidade de recursos, facilita muito as coisas. Entretanto, não pode servir de paradigma para nós. Somos um país democrático do Ocidente, com uma população muito mais numerosa e território de dimensões continentais. Nossa sociedade não segue rígidos padrões de comportamento ditados por dogmas religiosos, como é o caso das sociedades muçulmanas. Além disso, o Catar tem uma espécie de apartheid, no qual os trabalhadores estrangeiros não têm os mesmos direitos que os demais cidadãos do ponto de vista social. Um abismo social separa a elite árabe dos trabalhadores estrangeiros, entre os quais indianos, malaios, nepaleses e coreanos. Todos juntos A Copa no Catar vai desnudar essas duas realidades para o mundo, com certeza. Mas também há um abismo social entre aqueles que estão lá, assistindo aos jogos nos seis magníficos estádios construídos para o torneio, e os milhões e milhões de torcedores brasileiros que veem os jogos pela tevê e pelas redes sociais. Obviamente, a imprensa ocidental não se limitará à cobertura esportiva, mostrará o outro lado da realidade do país que tem a maior renda per capita do mundo. Mas, voltando ao futebol, vamos ver se a vitória do Brasil de 2 x 0 contra Sérvia fará a torcida brasileira pegar no tranco. Como disse, a sensação ainda é muito estranha, por causa da polarização política existente e pelo fato de a camisa da Seleção Brasileira ter virado uma espécie de uniforme da extrema direita bolsonarista, que protesta à frente dos quartéis, e dos caminhoneiros que bloqueiam as estradas. Ontem, no primeiro jogo do Brasil, era nítida a preocupação dos que ganharam as eleições com o fato de que poderiam ser confundidos com os derrotados, por causa do uniforme canarinho. Na década de 1970, a Seleção Brasileira era uma unanimidade, mas o “pra frente Brasil”, slogan da equipe, foi usado pelo regime militar para estigmatizar a oposição como antipatriótica, na base do “ame-o ou deixe-o”. Não é o caso agora. Muitos deixam de usar a camisa da Seleção para não serem confundidos com os bolsonaristas raiz, que a transformaram em uniforme político, sequestrando um dos símbolos de nossa identidade nacional. É uma bobagem, talvez seja a hora de mostrar que somos todos brasileiros e temos direito a usá-la, não importam as convicções políticas e religiosas. ******************** *** Paralelas · Erasmo Carlos A Banda Dos Contentes ***
*** sexta-feira, 25 de novembro de 2022 Flávia Oliveira - Adiante, Brasil O Globo Indumentária auriverde se tornou imprópria pelo sequestro pelos extremistas de direita Conhecer o passado é essencial para conduzir o presente e resguardar o futuro. Sou do tempo em que o querido e saudoso Jô Soares (1938-2022) encarnava no Zé da Galera o afã ofensivo da torcida canarinho. Semanalmente, em ligação telefônica de um orelhão, o personagem apelava ao técnico da seleção brasileira: — Bota ponta, Telê [Santana da Silva, 1931-2006]. Foi ele o homem que comandou o “dream time” de 1982, aquele da Tragédia do Sarriá, estádio espanhol. Eu tinha 12 anos e, por semanas, me culpei por, na tarde daquele 5 de julho, ter vestido a minissaia de brim tingido com o azul do manto de Nossa Senhora Aparecida, cor que inspirou a camisa da final de 1958, até hoje o segundo uniforme. A camiseta amarela já não me cabe. Viajo quatro décadas no tempo para, talvez, buscar naquela menina o torcer intransitivo, sem condicionalidade, que habitou até um punhado de anos a mulher que dela se fez. Por ora a indumentária auriverde está engavetada, imprópria que se tornou — para mim — pelo sequestro pelos extremistas de direita, inimigos públicos da democracia, dos povos indígenas e quilombolas, das mulheres e dos negros, dos LGBTQIA+ e da Amazônia preservada. É por isso que surpreende e entristece ler por aí referências ao esquema ofensivo do time de Tite — quatro letras, como Telê, começando com T, terminando com E — ancoradas na expressão “Pra frente, Brasil”. Em 1970, fase mais sangrenta da ditadura militar que acossou o país de 1964 a 1985, o governo do general Emílio Garrastazu Médici usou em peças ufanistas a frase de incentivo à seleção que conquistaria o tricampeonato na Copa do México. A marchinha de mesmo título, composição de Miguel Gustavo, virou hino da trajetória vitoriosa do elenco encabeçado por Pelé, Rivellino, Tostão, Gerson e Jairzinho. A mensagem era de união em torno de um governo que, nos porões, sequestrava e prendia e matava e desaparecia com os corpos insurgentes. O cineasta Roberto Farias (1932-2018) tratou do período em “Pra frente, Brasil”, de 1983. Reginaldo Farias protagonizava a história do trabalhador de classe média que, confundido com um ativista político, desaparece sob a ditadura, num país hipnotizado pela campanha do tri. Neste 2022, a democracia brasileira está toureando com um presidente da República e aliados, que se alimentam de ataques ao sistema e às autoridades eleitorais e resistem a aceitar o resultado das urnas, anunciado em 30 de outubro. Jair Bolsonaro sempre festejou a ditadura e tem como ídolo um torturador. Uma fração de seus eleitores aglomera-se em manifestações golpistas diante de quartéis e instalações militares desde o início do mês. Em diferentes estados, bloqueiam estradas ao limite da desumanidade para (tentar) impor arroubos políticos autoritários. A língua portuguesa enfileira sinônimos adequados a não ressuscitar o lema nefasto. No Chile, as manifestações que deram na eleição do jovem presidente Gabriel Boric eram embaladas por uma canção (“El pueblo unido jamás será vencido”) do grupo Quilapayún (três barbas, em língua nativa mapuche): Y ahora el pueblo/ que se alza em la lucha/ con voz de gigante/ gritando adelante. “Avante, Brasil”; “Adiante, Brasil”; “Ao ataque, Brasil”; “Força máxima, Brasil” são substitutas possíveis, tais como as camisas oficiais azuis e pretas, que andaram demandadas nos sites da fabricante de uniformes da seleção como alternativas à amarela. A voz de Gal Costa (1945-2022) eternizou “Divino, maravilhoso”, composição de Caetano Veloso e Gilberto Gil que ensina: É preciso estar atento e forte/ não temos tempo de temer a morte. Futebol é, muitas vezes, mais que um jogo; Copa do Mundo, mais que uma competição esportiva. São também possibilidades de repudiar mazelas de nossos tempos e reivindicar futuro auspicioso. Em 2010, no Mundial da África do Sul, já havia questionamentos sobre o legado do megaevento. Em 2013, eclodiram no Brasil, sede da Copa de 2014, manifestações por gastos públicos orientados às necessidades da população. Na Rússia 2018, houve críticas contra homofobia e racismo. Neste ano, a discriminação contra mulheres, a criminalização da homossexualidade, a exploração da mão de obra estrangeira estão no centro das críticas à escolha da Fifa pelo Catar. Na primeira semana do Mundial, a seleção do Irã deixou de cantar o hino nacional em protesto contra a repressão violenta do regime às manifestações contra o apartheid feminino. Desde setembro, quando a jovem Mahsa Amini morreu, após receber um golpe na cabeça por uso considerado indevido do hijab pela polícia moral, centenas de pessoas morreram em manifestações, e milhares foram presas. O time inglês se ajoelhou em campo antes da estreia contra o Irã na Copa, tal como os jogadores costumam fazer nos jogos da Premier League, em ação antirracista consagrada pelo futebol americano. A seleção alemã posou para a foto oficial da primeira partida com as mãos tapando a boca, em ato contra a censura. A Fifa ameaçou punir com cartões amarelo e vermelho os competidores que entrassem em campo com as braçadeiras estampadas com um arco-íris, símbolo do movimento LGBTQIA+. Para não deixar dúvida, a delegação do País de Gales aplicou o próprio brasão na bandeira multicolorida e a fincou no centro de treinamento. Questão de coragem. E de coerência. ***************** Tweet Ver novos Tweets Conversa Mílton Jung @miltonjung A aula de matemática ficou muito mais legal hoje cedo ***
*** 8:23 AM · 25 de nov de 2022 ·Twitter Web App https://twitter.com/miltonjung/status/1596102257988472832?s=48&t=8QlkPXu-AV4bBvZ7m45syg ***************************************************************************************** É famoso o artigo escrito por Pasolini sobre a final da Copa de 1970 comparando o estilo de jogo do Brasil e da Itália, onde dizia que o futebol italiano - por contiguidade o futebol europeu - era prosa e o futebol brasileiro - portanto latino-americano - era poesia. Desde 82, a primeira Copa que eu acompanhei, não via uma seleção jogar com tanto gosto quanto essa. O gol do Richarlison foi um poema de João Cabral: preciso, geométrico, sem firulas. Evoco outro italiano lembrado hoje em memes que se espalharam pela internete: Leonardo Fibonacci, o matemático que desenvolveu na idade média a sequência de cálculos que leva seu nome e ilustra essa imagem. A torção de corpo do jogador, fazendo no ar um movimento espiral para chutar a bola de voleio com força e precisão na direção da rede, sem chances para o arqueiro sérvio, pode ser comparada a uma espiral de nautilus, o desenho que representa a sequência matemática encontrada no arranjo arquitetônico de folhas, sementes, troncos, copas, flores, pétalas e outras formas encontradas na natureza. Volto a Pasolini que cravou: "Há no futebol momentos que são exclusivamente poéticos: trata-se dos momentos de gol. Cada gol é sempre uma invenção, uma subversão do código: cada gol é fatalidade, fulguração, espanto, irreversibilidade. Precisamente como a palavra poética." O gol de Richarlison foi um espanto, uma fulguração e ainda um desagravo por tudo que ele representa como renovação do futebol brasileiro, pelo seu engajamento político e social, pelo contraponto à atitude de Neymar que prometeu dedicar o primeiro gol ao futuro ex-presidente, como resposta àquela geração de jogadores que transformavam o campo em templo religioso com suas comemorações proselitistas. O Brasil pode até não levar o título, mas esse jogo já lavou a alma e a camisa verde e amarela. Makely Ka *****************************
*** "O futebol é um sistema de signos, ou seja, uma linguagem. Ele tem todas as características fundamentais da linguagem por excelência, aquela que imediatamente tomamos como termo de comparação, isto é, a linguagem escrita-falada. De fato as “palavras” da linguagem do futebol são formadas exatamente como as palavras da linguagem escrita-falada. Ora, como se formam estas últimas? Formam-se por meio da chamada “dupla articulação”, isto é, por infinitas combinações dos “fonemas” – que, em italiano, são as 21 letras do alfabeto. Os “fonemas” são, pois, as “unidades mínimas” da língua escrita-falada. Se quisermos nos divertir definindo a unidade mínima da língua do futebol, podemos dizer: “Um homem que usa os pés para chutar uma bola”. Aí está a unidade mínima, o “podema” (se quisermos continuar a brincadeira). As infinitas possibilidades de combinação dos “podemas” formam as “palavras futebolísticas”; e o conjunto das “palavras futebolísticas” constitui um discurso, regulado por normas sintáticas precisas. Os “podemas” são 22 (mais ou menos como os fonemas): as “palavras futebolísticas” são potencialmente infinitas, porque infinitas são as possibilidades de combinação dos “podemas” (o que, em termos práticos, equivale às passagens da bola entre os jogadores); a sintaxe se exprime na “partida”, que é um verdadeiro discurso dramático. Os cifradores desta linguagem são os jogadores; nós, nas arquibancadas, somos os decifradores: em comum, possuímos um código. Quem não conhece o código do futebol não entende o “significado” das suas palavras (os passes) nem o sentido do seu discurso (um conjunto de passes). Não sou nem Roland Barthes nem Greimas, mas, como diletante, se quisesse, poderia escrever um ensaio sobre a “língua do futebol” bem mais convincente do que este artigo. ***
*** pasolin *** Aliás, penso que se poderia escrever um belo ensaio intitulado “Propp Aplicado ao Ludopédio”, já que, naturalmente, como qualquer língua, o futebol tem o seu momento puramente “instrumental”, rígida e abstratamente regulado pelo código, e o seu momento “expressivo”. Pouco antes, disse que toda língua se articula em várias sublínguas, cada qual com um subcódigo. Pois bem, com a língua do futebol também é possível fazer distinções desse tipo: o futebol também possui subcódigos, na medida em que, de puramente instrumental, se torna expressivo. Há futebol cuja linguagem é fundamentalmente prosaica e outros cuja linguagem é poética. Para explicar melhor a minha tese, darei -antecipando as conclusões- alguns exemplos: Bulgarelli joga um futebol de prosa, é um “prosador realista”; Riva joga um futebol de poesia, é um “poeta realista”. Corso joga um futebol de poesia, mas não é um “poeta realista”: é um poeta meio “maudit”, extravagante. Prosa e poesia Rivera joga um futebol de prosa: mas sua prosa é poética, de “elzevir”. Também Sandro Mazzola é um prosador elegante e poderia até escrever no “Corriere della Sera”, mas é mais poeta que Rivera: de vez em quando ele interrompe a prosa e inventa, de repente, dois versos fulgurantes. Note-se que não faço distinção de valor entre a prosa e a poesia; minha distinção é puramente técnica. Entretanto nos entendamos. A literatura italiana, sobretudo a mais recente, é a literatura dos “elzevires”: os escritores são elegantes e, no limite, estetizantes; a substância é quase sempre conservadora e meio provinciana… Em suma, democrata-cristã. Todas as linguagens faladas em um país, mesmo as mais especializadas e espinhosas, têm um terreno comum, que é a cultura desse país: a sua atualidade histórica. Assim, justamente por razões de cultura e de história, o futebol de alguns povos é fundamentalmente de prosa, seja ela realista ou estetizante (este último é o caso da Itália); ao passo que o futebol de outros povos é fundamentalmente de poesia. ***
*** paso *** Há no futebol momentos que são exclusivamente poéticos: trata-se dos momentos de gol. Cada gol é sempre uma invenção, uma subversão do código: cada gol é fatalidade, fulguração, espanto, irreversibilidade. Precisamente como a palavra poética. O artilheiro de um campeonato é sempre o melhor poeta do ano. Neste momento, Savoldi é o melhor poeta. O futebol que exprime mais gols é o mais poético. O drible é também essencialmente poético (embora nem sempre, como a ação do gol). De fato, o sonho de todo jogador (compartilhado por cada espectador) é partir da metade do campo, driblar os adversários e marcar. Se, dentro dos limites permitidos, é possível imaginar algo sublime no futebol, trata-se disso. Mas nunca acontece. É um sonho (que só vi realizado por Franco Franchi nos “Mágicos da Bola”, o qual, apesar do nível tosco, conseguiu ser perfeitamente onírico). Quem são os melhores dribladores do mundo e os melhores fazedores de gols? Os brasileiros. Portanto o futebol deles é um futebol de poesia – e, de fato, está todo centrado no drible e no gol. A retranca e a triangulação é futebol de prosa: baseia-se na sintaxe, isto é, no jogo coletivo e organizado, na execução racional do código. O seu único momento poético é o contra-ataque seguido do gol (que, como vimos, é necessariamente poético). Em suma, o momento poético do futebol parece ser (como sempre) o momento individualista (drible e gol; ou passe inspirado). O futebol de prosa é o do chamado sistema (o futebol europeu). Nesse esquema, o gol é confiado à conclusão, possivelmente por um “poeta realista” como Riva, mas deve derivar de uma organização de jogo coletivo, fundado por uma série de passagens “geométricas”, executadas segundo as regras do código (nisso Rivera é perfeito, apesar de Brera não gostar, porque se trata de uma perfeição meio estetizante, não-realista, como a dos meio-campistas ingleses ou alemães). O futebol de poesia é o latino-americano. Esquema que, para ser realizado, demanda uma capacidade monstruosa de driblar (coisa que na Europa é esnobada em nome da “prosa coletiva”): nele, o gol pode ser inventado por qualquer um e de qualquer posição. Se o drible e o gol são o momento individualista-poético do futebol, o futebol brasileiro é, portanto, um futebol de poesia. Sem fazer distinção de valor, mas em sentido puramente técnico, no México [em 1970] a prosa estetizante italiana foi batida pela poesia brasileira. "A dica do texto de Pasolini veio do amigo Emmanuel do Valle, jornalista e dono do blog Flamengo Alternativo. Valeu!" https://trivela.com.br/copa-do-mundo/prosa-contra-poesia-na-final-da-copa-de-1970-o-futebol-segundo-pasolini/ ********************* *** Papo Antagonista - 25/11 O Antagonista Transmitido há 4 horas https://www.youtube.com/watch?v=DerTrwgRAqE *********************************************
*** Dia da Não-Violência contra mulher é marcado por encontro da rede de proteção Portal de Notícias PJF | Dia da Não-Violência contra mulher é marcado por encontro da rede de proteção | SAS - 25/11/2022 Nesta sexta, 25 de novembro, é celebrado o Dia Internacional da Não-Violência contra a Mulher, pensando nesse momento de conscientização, a Prefeitura de Juiz de Fora (PJF) promoveu uma roda de conversa com integrantes da rede de proteção e combate a violência contra a mulher no município. O encontro foi proposto pelas coordenadoras dos Centros de Referência Especializada de Assistência Social (Creas) Centro I e II e Norte, da Secretaria de Assistência Social (SAS) em parceria com a Casa da Mulher. Para a coordenadora do Creas 2, Lilian Cunha, a ideia do encontro é fortalecer a rede intersetorial em prol da proteção e também nos cuidados ao público feminino. “Nós atendemos muitas mulheres, é o maior núcleo que temos com violações de direitos. Abuso sexual, violência física e psicológica e negligência, principalmente em relação a mulher idosa, são as principais demandas. Todos os dias recebemos novos casos”, contou. Fernanda Moura, coordenadora da Casa da Mulher, abriu a reunião citando dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública. “A cada 11 minutos uma mulher é estuprada no país. O Brasil registrou no primeiro semestre de 2020, 648 feminicídios, quase 2% a mais do que em 2019”. Em todos os países que foram obrigados a decretar medidas de restrição devido à pandemia de coronavírus muitas mulheres e crianças se viram presas em residências pouco seguras. A maior parte dos feminicídios são cometidos pelos seus atuais ou ex-companheiros. Outros dados que chamam atenção são que mais de 100 milhões de meninas poderão ser vítimas de casamentos forçados durante a próxima década (Unicef). No ranking mundial que analisou a desigualdade de salários em 142 países, o Brasil ficou na posição 124”. De acordo com a gerente do departamento de proteção especial de média complexidade da SAS, Flavia Machado, a violência contra as mulheres se manifesta de diversas formas e constitui-se em uma das principais formas de violação dos seus direitos humanos, atingindo-as em seus direitos à vida, à saúde e à integridade física. Os Creas atendem as vítimas de violência doméstica promovendo a acolhida, escuta e o acompanhamento no serviço de Proteção e Atendimento Especializados a Famílias e Indivíduos (Paefi), bem como a interlocução e articulação da rede em prol da defesa e garantia de direitos da mulher. Foram distribuídos para as participantes laços laranjas remetendo a campanha da ONU Mulheres pelo fim da violência de gênero. A coordenadora de políticas para as mulheres da Secretaria Especial de Direitos Humanos, Samara Miranda, explicou que a iniciativa é celebrada nos dias 25 de cada mês. "O dia 25 de novembro marca um movimento internacional que visa um futuro livre da violência de gênero. O significado do laço pode ser interpretado de duas maneiras: o primeiro é um posicionamento público e social em se combater a violência, ação que envolve homens e mulheres. O segundo ponto é o de gerar uma curiosidade sobre o por que o uso deste símbolo e gerar uma conversa sobre o tema. Acreditamos que a comunicação, em todos os níveis, são importantes ferramentas para um futuro melhor", conclui. Origem da Data A Organização das Nações Unidas (ONU), desde 1999, reconhece o dia 25 de novembro como o Dia Internacional para a Eliminação da Violência Contra as Mulheres. A data foi escolhida em homenagem às irmãs Patria, María Teresa e Minerva Maribal, que foram violentamente torturadas e assassinadas nesta mesma data, em 1960, a mando do ditador da República Dominicana Rafael Trujillo. As irmãs dominicanas eram conhecidas por “Las Mariposas” e lutavam por melhores condições de vida na República Dominicana. Creas O Centro de Referência Especializado de Assistência Social (Creas) é uma unidade pública que presta atendimento a famílias e pessoas que estão em situação de risco social ou que tiveram seus direitos ameaçados ou violados. Formas de acesso - Demanda espontânea; - Encaminhamento da rede de atendimento socioassistencial e das políticas públicas setoriais; - Sistemas de Garantia de Direitos; - Disque Direitos Humanos - Disque 100 Creas Centro I Tel.: (32) 3690-8483 creascentro1@pjf.mg.gov.br Creas Centro II Tel.: (32) 3690-8275 / (32) 3690-7971 creascentro2@pjf.mg.gov.br Creas Norte Tel.: (32) 3223-3491 creasnorte@pjf.mg.gov.br Casa da Mulher Vinculada à SEDH, a Casa da Mulher Maria da Conceição Lammoglia Jabour é um centro municipal de atendimento humanizado, especializado em casos de mulheres em situação de violência doméstica. O espaço é referência na área, oferecendo atendimento psicológico e jurídico às vítimas de violência sexual, física e psicológica, seja ela esporádica ou recorrente, além de contar com um “Ponto de Acolhimento da Saúde para Mulheres Lésbicas, Bissexuais e Trans (LBT)”. A instituição também coordena políticas para mulheres, elabora e implementa campanhas educativas e não discriminatórias, contribuindo para eliminar preconceitos, atitudes e padrões de comportamento social que perpetuam a violência contra o gênero. O atendimento é realizado de segunda a sexta-feira, das 7h30 às 17h, na Avenida Garibaldi Campinhos 169, no bairro Vitorino Braga, antiga sede da Defesa Civil. https://www.pjf.mg.gov.br/noticias/view.php?modo=link2&idnoticia2=77859 ************************************************************************* *** En la mira: 16 Días de activismo contra la violencia de género 18 DE NOVIEMBRE DE 2022 https://www.unwomen.org/es/noticias/en-la-mira/2022/11/en-la-mira-16-dias-de-activismo-contra-la-violencia-de-genero *********************************

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