sexta-feira, 18 de novembro de 2022

HAVIA

*** Beethoven: Sonata No.31 in A-flat Major, Op.110 (Lortie, Siirala, Kovacevich) *** Ashish Xiangyi Kumar The most warmly lyrical of all of Beethoven’s late sonatas, and probably my favourite of all 32. Why? ***********
*** sexta-feira, 18 de novembro de 2022 José de Souza Martins* - Infiltrações autoritárias na democracia brasileira Eu & Fim de Semana / Valor Econômico Os diferentes grupos organizados de referência na reprodução da intolerância com o outro, política ou religiosa, desenvolveram uma sociabilidade autoimune O curto regime bolsonarista fez e continua fazendo muitas revelações do que é o Brasil político. Mostrou-nos que o que imaginávamos ser o país utopicamente democrático da Constituição de 1988 é, na verdade, um país de democracia híbrida infiltrada por estruturas autoritárias e por uma cultura acentuadamente intolerante. O descuido pós-ditatorial, dos que lutaram pela democracia contra a ditadura de 1964, em relação a essa infiltração, permitiu que o autoritarismo crescesse e se multiplicasse nutrido pelos direitos do regime democrático. E criasse as bases sociais do que Theodor Adorno, em famoso estudo por ele coordenado nos EUA, chamou de personalidade autoritária. Bolsonaro a expressa e aglutina os dela dotados. A mudança de governo não mudará essa realidade, a menos que leve em conta que é preciso identificar e neutralizar os focos dessa vulnerabilidade. Os indícios já conhecidos das preocupações do novo governo, que assumirá na primeira hora de 2023, sugerem uma reiteração dos temas sociais e econômicos do período dos anos do petismo no poder. Os produtores de conhecimento crítico sobre a realidade social e histórica e das condições de superação de suas contradições não nos legaram os instrumentos para compreender e vencer o autoritarismo. Aparentemente, estamos desatualizados em relação ao possível e necessário nesta hora escura de incertezas e fragilidades. Ainda não conseguimos repensar a democracia deste novo momento, sua arquitetura, seus alicerces sociais e políticos. Estamos pensando em transição de maneira abstrata e, de certo modo, messiânica, fortemente dependente do carisma de uma só pessoa. Democracia, na verdade, é um empreendimento social e comunitário no campo da política e não apenas no dos políticos. A lentidão e a demora na releitura de um projeto democrático para o Brasil faz com que, de vários modos, Bolsonaro e os militares que o cercam adulam e usam saiam politicamente vitoriosos, apesar de derrotados nas urnas. Eles conseguiram dar visibilidade política e ideológica ao crônico autoritarismo brasileiro, conseguiram dar-lhe um nome e uma identidade antidemocrática - direita - como disse o próprio Bolsonaro no curto e contrariado discurso em que reconheceu que perdera. Tudo indica, no entanto, que os que ele representa não foram derrotados. Com essa identidade, eles conseguiram disseminar-se pelo país inteiro, por todas as classes sociais, até mesmo entre os pobres, pelas igrejas fundamentalistas ideologicamente aprisionadas no interior das muralhas indevassáveis da falsa consciência, com grande força de reprodução ampliada e de crescimento. Elas se tornaram a fábrica principal da alienação que veta e inibe no cotidiano a consciência crítica essencial à democracia. O autoritarismo bolsonarista, agora enraizado, e seus beneficiários dependem desse mecanismo de gestação e reprodução da consciência antidemocrática. As oposições ao autoritarismo organizado só tardiamente se agruparam em torno de Lula, simplesmente porque as pesquisas de opinião apontavam que ele era o único candidato potencial que poderia vencer Bolsonaro. Uma pessoa e não um programa de governo, que só agora está sendo montado. Nem é, ainda, um projeto democrático de nação. A estrutura organizada de um governo democrático e pluralista poderá não ser suficiente para vencer ou ao menos neutralizar a força autorreprodutiva da intolerância e do preconceito, valores de orientação e fundamentos da situação política antidemocrática que, apesar dos resultados da eleição, continuarão ativos. Os diferentes grupos organizados de referência na reprodução da intolerância com o outro, política ou religiosa, e reprodução ampliada da direita, desenvolveram uma sociabilidade autoimune, que aprisiona as pessoas em formas fechadas de vida social e de compartilhamento de ideias socialmente redutivas. As que podem ser definidas como próprias do que Goffman define como instituições totais. Nesse sentido, marcadas pela difusão de uma cultura autoritária no subterrâneo da democracia. Pela ressocialização de seus membros é ela formadora de personalidades autoritárias. Isto é, potencialmente ou mesmo ativamente fascistas. Isso se tornou notório no governo que acaba. Bolsonaro deu a esses grupos não só um nome, na definição como direita, mas uma identidade baseada na usurpação de símbolos da unidade nacional, fornecendo-lhes até mesmo uma motivação religiosa, como “Deus, pátria e família” e “Deus acima de todos, Brasil acima de tudo”. Concepções totalizantes e totalitárias, nesse sentido, ele não protagoniza uma ideologia, mas uma crença. Ele transformou o fascismo numa religião. *José de Souza Martins é sociólogo. Professor Emérito da Faculdade de Filosofia da USP. Professor da Cátedra Simón Bolivar, da Universidade de Cambridge, e fellow de Trinity Hall (1993-94). Pesquisador Emérito do CNPq. Membro da Academia Paulista de Letras. Entre outros livros, é autor de "As duas mortes de Francisca Júlia A Semana de Arte Moderna antes da semana" (Editora Unesp, 2022). *****************************************************************************************
*** sexta-feira, 18 de novembro de 2022 Fernando Abrucio* - Alimentar o ódio é minar a nação Eu & Fim de Semana / Valor Econômico A frente ampla é a única forma de salvar a nação da doença que cresce no país, e ela será feita de grandes decisões e de pequenos atos A construção de nações foi uma das tarefas mais complexas da história da humanidade. O primeiro passo é estabelecer os limites territoriais dos países, algo ainda inacabado em parte do mundo, tendo muitas vezes a guerra como solução. Mas o aspecto mais complicado está na produção da identidade nacional. Constituir um povo que conviva com suas diferenças não é nada trivial. Mesmo sendo escandalosamente desigual, o Brasil conseguiu edificar uma sociedade razoavelmente tolerante, com espaços de convívio e respeito mútuo. Só que o ódio entre brasileiros tem sido alimentado cotidianamente. Isso pode afetar o destino de curto e longo prazo da nação. O ódio social nunca foi uma bússola para construir civilizações. Nos casos mais extremos, produziu-se a barbárie. Assim foi na Alemanha nazista, com a perseguição de vários grupos sociais, especialmente os judeus, com 6 milhões de mortos. O Brasil atual está longe disso, mas o crescimento do neonazismo nas redes sociais e manifestações declaradamente nazistas em universidades e até em escolas particulares de educação básica revelam que há sementes totalitárias sendo plantadas em nossa nação. Mas o ódio pode ter uma forma mais branda e duradoura, com divisões sociais marcadas pelo rechaço completo entre as forças políticas, transformando a atividade da política em um jogo de mágoas perpétuas. A Argentina tem trilhado essa história desde a Segunda Guerra Mundial, com períodos autoritários muito violentos e com momentos democráticos em que o diálogo tem pouco espaço entre os diferentes. O fato é que o desenvolvimento econômico e social argentino foi barrado por um grau de polarização que dificulta qualquer decisão que resulte da negociação e do respeito mútuo. Esse é o efeito Orloff que o Brasil mais deveria temer. Nos últimos 15 anos, um novo ciclo internacional de ódio político foi constituído. Ele é a combinação do avanço de redes sociais propositadamente polarizadoras com o discurso da nova extrema direita, caracterizada pela defesa de valores tradicionais, pelo nacionalismo excludente (nem todos os integrantes da nação são legítimos) e pela crítica às instituições impulsionadas a partir do Iluminismo ocidental. Por meio desses dois elementos, construiu-se um movimento baseado na busca da destruição dos inimigos, como a mídia tradicional, os liberais globalistas, a esquerda em seus vários matizes, a ciência e os intelectuais, além de grupos sociais politicamente minoritários (mulheres, negros, LGBTQIA+ etc.), para citar os principais alvos, realizando uma hiperpolitização de todos os espaços da vida humana. A hiperpolitização significa que nenhum espaço da vida humana pode estar alheio às ideias políticas que norteiam o grupo que se pretende dominante, ou melhor, que pretende eliminar todos os que não concordam com ele. É uma noção similar ao conceito de ideologia usado por Hannah Arendt para descrever os totalitarismos do século XX. Os filmes de Goebbels muitas vezes falavam da vida cotidiana, da higiene que a raça ariana deveria cultivar para se tornar superior. Hoje, a hiperpolitização não define apenas o que se deve fazer na seara política, mas como se comportar na esfera privada. A política é a atividade mais nobre entre os seres humanos, como já pensavam os clássicos como Aristóteles e Maquiavel, porém, quando tudo vira política, há grandes chances de se criar uma sociedade incapaz de conversar na padaria, de tomar o mesmo ônibus, de se sentar numa mesma sala de aula, de entender que o direito de um termina quando afeta a liberdade do outro - evitar que uma pessoa doente atravesse uma estrada é matar o sentido de uma nação. Será que a Copa do Mundo nos trará a ideia de brasileiros, iguais na sua diferença, de volta? É muito assustador quando uma sociedade começa a funcionar segundo uma divisão baseada no ódio ao outro, a quem pensa diferentemente ou tem uma origem social distinta. O clima social geral e em todas as organizações fica extremamente pesado. Haverá mais conflitos desnecessários, em algumas situações se chegará à violência, com a possibilidade da morte de um irmão ou irmã não de sangue, mas de identidade nacional. As escolas se tornarão menos suscetíveis ao aprendizado como resultado do diálogo e do compartilhamento de experiências diferentes. As empresas também sofrerão com esse processo de disseminação do ódio, provavelmente reduzindo sua produtividade, porque o sucesso organizacional depende bastante da combinação de talentos e visões de mundo diferentes. Para exemplificar a que ponto se chegou o ódio alimentado pelo bolsonarismo, basta lembrar que o Brasil precisa do Nordeste para a construção de seu imaginário cultural e de seu sucesso econômico - experimente segregar os estados, e barreiras econômicas nascerão a seguir, perdendo-se mercado consumidor e capital humano. Os meninos da escola privada que trataram seus colegas de forma preconceituosa terão enormes dificuldades de conseguir empregos no futuro, pois as empresas estão demandando diversidade, e quem for contra isso terá menos espaço na economia do século XXI. Voltando à Copa do Mundo, tema que vai ser dominante nas próximas semanas, seria impossível ganhar qualquer um dos cinco títulos que temos se o atual modelo de ódio definisse as convocações. Aqui vale diferenciar o conceito de pátria do sentido da palavra nação. Ficou na moda em certos círculos sociais se definir como patriota. Gostar da bandeira e do hino nacional unifica as pessoas de um país. Só que a palavra pátria tem a ver mais com o lado oficial do Estado nacional, e relaciona-se menos com o que profundamente liga as pessoas em uma determinada sociedade. A pátria pode ser evocada por ditadores, por gente que mata seus semelhantes em nome de objetivos políticos - muitos dos autoproclamados patriotas que estão nas ruas querem destruir seus inimigos, mesmo que sejam seus vizinhos que um dia os levaram ao hospital ou cuidaram de seus filhos quando estavam fora de casa. A nacionalidade, ao contrário, vai além da estrutura institucional do poder. Ela está lá também, entretanto, sua principal característica é ser um sentimento profundo e de longo prazo de pertencimento a uma coletividade. A nação unifica sem que se produza a homogeneidade social. Em vez disso, deve garantir a unidade na diversidade, alimentando consensos e gerindo dissensos. O pertencimento a uma nação é a possibilidade de discordar e conviver, como quem torce para times diferentes, discute quem é a melhor equipe, xinga o juiz do jogo, mas ao final aceita as regras e acredita que o futebol só tem graça porque há adversários. O que seria do Corinthians sem o Palmeiras, e vice-versa? O ódio político está minando os vínculos básicos da nação brasileira. Em termos coletivos e intertemporais, ninguém ganha com isso, a não ser grupos organizados para conquistar o poder por meio da violência política e social. O problema é que esse tipo de extremismo convenceu uma parcela relevante da sociedade brasileira que, inebriada pela hiperpolitização que parece dar respostas a todas as angústias da vida social, mobiliza-se cegamente para a destruição das bases mais amplas da coletividade, colocando em risco o seu presente e, sobretudo, o futuro de seus filhos e netos. No curto prazo, é preciso construir espaços públicos de diálogo entre os diferentes, mostrando como é possível conviver com a divergência, negociar posições e até mudar de opinião. Claro que aqueles que cometeram crimes contra a democracia, segundo define a lei, podem ser punidos. Todavia, a maioria que está descontente com o resultado eleitoral e acredita nas teorias conspiratórias que são alimentadas pela hiperpolitização pode ser trazida de volta ao debate democrático com suas diferenças em relação ao presidente eleito. Para isso, é preciso que as principais instituições sociais, como a mídia e a universidade, e o novo governo se guiem pela maior abertura possível para conversar e incorporar demandas de diferentes setores sociais. No caso da terceira gestão presidencial de Lula, ele terá que se vigiar constantemente para evitar o hegemonismo que por muitas vezes acomete o PT. A frente ampla é a única forma de salvar a nação da doença do ódio que cresce no país, e ela será feita de grandes decisões e de pequenos atos, como o relativo à discussão da presidência do BID, quando o petismo se esqueceu das lições recentes e atuou como no passado hegemonista. A solução estrutural para evitar o crescimento do ódio político e social está na educação. É preciso fazer da diversidade a peça central do ensino, da creche à universidade. Há quase 30 anos formo alunos com ideias diferentes, e sempre estimulei o convívio e o aprendizado entre os divergentes. Já falhei na minha jornada pedagógica, como num episódio recente em que fui desrespeitoso com quem pensava diferentemente de mim. Talvez todos estejamos envoltos em muito ódio, quando precisamos de paciência e de empatia. Por essa razão, dedico este artigo a Danielle Klintowitz, falecida precocemente há algumas semanas. Ela foi minha orientanda e seu doutorado mostrava que uma política pública bem-sucedida depende de negociação e acordos entre os diferentes. E o que vale para ações governamentais, vale para a convivência de todas as pessoas da nossa nação. *Fernando Abrucio, doutor em ciência política pela USP e professor da Fundação Getulio Vargas. ******************************************************************************************************
*** sexta-feira, 18 de novembro de 2022 Luiz Carlos Azedo - A transição de Lula parece a Democracia Corinthiana Correio Braziliense A equipe de transição conta com 31 grupos temáticos, cada um empenhado em ter o seu próprio ministério, e mais de 300 pessoas indicadas para esses grupos de trabalho Uma das páginas mais interessantes da história do futebol brasileiro foi o surgimento da Democracia Corinthiana na década de 1980, um movimento que marcou a história do Timão paulista e representou, àquela época, o engajamento de um clube de futebol na luta pela redemocratização do país, com a participação dos craques do time, principalmente Sócrates, Wladimir, Casagrande e Zenon, na campanha das Diretas, Já. Internamente, o futebol do Corinthians passou a ser administrado de forma revolucionária, num modelo de autogestão no qual todas as decisões importantes do dia a dia, inclusive contratações e escalações, eram tomadas por toda a equipe, na base do "cada cabeça um voto", do roupeiro do time ao técnico Mário Travaglini. O sociólogo Adilson Monteiro Alves, diretor de futebol do clube na época, foi o pai dessa criança. O filho dele, Duílio Monteiro Alves, ocupa o mesmo cargo atualmente e pode ser candidato à Presidência do clube. Em sintonia com a conjuntura política, com um time muito competitivo, a Democracia Corinthiana conquistou as simpatias dos torcedores em todo o país e empolgou a "Fiel", sua grande torcida, principalmente por ter conquistado o Paulistão, em 1982 e 1983. Entretanto, quando Sócrates se transferiu para o Fiorentina, na Itália, começou a se esvaziar. O craque cumprira a promessa de que deixaria o país se a Emenda Dante de Oliveira, que restabeleceria as eleições diretas para presidente da República, não fosse aprovada. O nome "Democracia Corinthiana" foi cunhado pelo publicitário Washington Olivetto, que também criou uma marca inspirada na tipologia da Coca-Cola. Ela foi estampada na camisa alvinegra em algumas partidas, assim como as frases "Diretas, Já" e "Eu quero votar para presidente". Com a perda de seu principal líder dentro e fora do campo, os fracassos em campo e a derrota de Adilson Monteiro nas eleições para a Presidência do clube em 1985, a Democracia Corinthiana deixou de existir. A equipe de transição do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva, coordenada pelo vice-presidente Geraldo Alckmin, parece a Democracia Corinthiana. A impressão é de que ainda não existe um estado-maior do futuro governo Lula, que deveria ser o núcleo central da transição. Tem muita gente falando e agindo de forma descoordenada, o que passa a má impressão de a equipe estar mergulhada numa disputa interna pelos ministérios, o que gera insegurança no mercado e frustra expectativas dos agentes econômicos. Bumba meu boi A bagunça maior é na equipe de transição na área econômica, na qual já está evidente uma disputa entre seus integrantes. Ontem, houve uma manifestação pública dos economistas Arminio Fraga, Edmar Bacha e Pedro Malan, que advertiram Lula de que a responsabilidade fiscal será avalista do sucesso de seu terceiro mandato. A síntese da carta aberta dos três economistas é essa. Na sequência, no final da tarde de ontem, o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega renunciou à participação na equipe. Legalmente, a equipe de transição coordenada por Geraldo Alckmin tem 14 pessoas nomeadas, de um total de 50 cargos previstos em lei, com remuneração. Entretanto, a equipe já conta com 31 grupos temáticos, cada um empenhado em ter o seu o próprio ministério, e mais de 300 pessoas indicadas para esses grupos de trabalho, a maioria por representação política dos partidos que apoiaram Lula no primeiro e no segundo turnos da eleição, e não necessariamente pela qualificação e experiência técnica de cada um. O critério para formação desse time não parece ser construir a passagem segura de comando na administração, sem interrupção de seu funcionamento, principalmente nas atividades-fim. Tem muita gente falando e jogando para a arquibancada, e não para a equipe. É preciso um freio de arrumação na transição, não somente na área econômica, na qual o próprio presidente Lula vem dando declarações que miram seus eleitores, mas confronta os agentes econômicos, o que provoca alta do dólar, queda do valor de ações na Bovespa e expectativas negativas de investidores. É quase uma autossabotagem. Ao mesmo tempo em que manda sinais positivos para os parceiros internacionais na questão ambiental, anula seu próprio desempenho com declarações desastrosas sobre a economia. Não tem para onde correr. Se não quer tumultuar o começo de seu mandato, fazendo o jogo que o presidente Jair Bolsonaro gostaria que fizesse, para melar a transição, Lula precisa anunciar o nome do seu ministro da Fazenda e começar a tratar da montagem de seu ministério, porque a administração pública é uma estrutura complexa e hierarquizada, que não funciona na base do bumba meu boi, com todo respeito pelas nossas tradições populares. ************************************** HÁ / VIA *** *** Com Açúcar, Com Afeto Nara Leão *** VIA A VIA *** *** Com Açucar E Com Afeto Chico Buarque *** Com açúcar, com afeto, fiz seu doce predileto Pra você parar em casa, qual o quê Com seu terno mais bonito, você sai, não acredito Quando diz que não se atrasa Você diz que é um operário, sai em busca do salário Pra poder me sustentar, qual o quê No caminho da oficina, há um bar em cada esquina Pra você comemorar, sei lá o quê Sei que alguém vai sentar junto, você vai puxar assunto Discutindo futebol E ficar olhando as saias de quem vive pelas praias Coloridas pelo sol Vem a noite e mais um copo, sei que alegre ma non troppo Você vai querer cantar Na caixinha um novo amigo vai bater um samba antigo Pra você rememorar Quando a noite enfim lhe cansa, você vem feito criança Pra chorar o meu perdão, qual o quê Diz pra eu não ficar sentida, diz que vai mudar de vida Pra agradar meu coração E ao lhe ver assim cansado, maltrapilho e maltratado Como vou me aborrecer, qual o quê Logo vou esquentar seu prato, dou um beijo em seu retrato E abro os meus braços pra você compositores: Francisco Buarque De Hollanda https://www.kboing.com.br/chico-buarque/com-acucar-e-com-afeto/ **************************************************************** *** “…🌞Mesmo sem ter havido…” Bom dia *** *** Alibi Djavan *** Havia mais que um desejo A força do beijo Por mais que vadia Não sacia mais Meus olhos lacrimejam teu corpo Exposto à mentira do calor da ira No afã de um desejo que não contraíra No amor, a tortura está por um triz Mas gente atura e até se mostra feliz Quando se tem o álibi De ter nascido ávido E convivido inválido Mesmo sem ter havido, havido Havia mais que um desejo compositores: DJAVAN CAETANO VIANA https://www.kboing.com.br/djavan/alibi/ ***************************************** *** Allegro Ma Non Troppo Drugstore Allegro Ma Non Troppo I'm allegro ma non troppo Dove la, dove la felicità? I'm allegro ma non troppo Dove la, dove la felicità? [Hums] 'Cos I'm allegro ma non troppo Dove la, dove la felicità? [Hums] Allegro Ma Non Troppo Estou feliz, mas não muito Onde, onde está a felicidade? Estou feliz, mas não muito Onde, onde está a felicidade? [Hums] Porque eu estou feliz, mas não muito Onde, onde está a felicidade? [Hums] https://www.letras.mus.br/drugstore/379258/traducao.html ***********************************************************
*** Joaquim Nabuco memorialista Autores Alfredo Bosi Academia Brasileira de Letras https://www.revistas.usp.br/eav/article/view/10514 https://www.scielo.br/j/ea/a/M8Zfxqm97NRKJg57QyXbRwq/?lang=pt ************************************************************** De todo modo, é a práxis sustentada coerentemente que, em última análise, importa para avaliar a somatória de todos os atos que configura o caráter de um homem. Por isso, deve-se considerar o projeto que resultou da experiência vital de Nabuco junto aos escravos de Massangana. Doze anos depois da morte de Dona Ana Rosa, o jovem de vinte anos voltou à capela de São Mateus onde jazia a madrinha na parede ao lado do altar, "e pela pequena sacristia abandonada penetrei no cercado onde eram enterrados os escravos... Cruzes, que talvez não existam mais, sobre montes de pedras escondidas pelas urtigas, era tudo quase que restava da opulenta fábrica, como se chamava o quadro da escravatura...". O engenho vendido se transformara em usina. Da casa velha não restara vestígio. "O trabalho livre" - observa o memorialista - "tinha tomado o lugar em grande parte do trabalho escravo". Debaixo dos seus pés estavam os ossos dos negros velhos que o tinham amado na infância. Como na cena do escravo abraçado a seus pés, Nabuco vive então um novo momento revelador: "Foi assim que o problema moral da escravidão se desenhou pela primeira vez aos meus olhos em sua nitidez perfeita e com a sua solução obrigatória". Mas a revelação da iniquidade duraria apenas o tempo breve de uma epifania se não tivesse desencadeado no jovem Nabuco a certeza de uma decisão sem retorno. Diante daqueles túmulos abandonados, mas sagrados, ali mesmo, aos vinte anos, formei a resolução de votar a minha vida, se assim me fosse dado, ao serviço da raça generosa entre todas que a desigualdade da sua condição enternecia em vez de azedar e que por sua doçura no sofrimento emprestava até mesmo à opressão de que era vítima um reflexo de bondade... Nabuco poderia ter antecipado a frase que seria o lema do Mahatma Gandhi: "Eu amo a beleza do compromisso". https://www.scielo.br/j/ea/a/M8Zfxqm97NRKJg57QyXbRwq/?lang=pt ***
*** Joaquim Nabuco RETRATO JUVENIL *** Esta epifania ocorreu num momento conveniente. Questa epifania è di certo accompagnata da un ottimo tempismo. Um é um relâmpago, uma epifania. Il primo è come un fulmine, un'epifania. Parece que ela teve uma epifania. A quanto pare ha avuto un'illuminazione. https://context.reverso.net/traducao/portugues-italiano/epifania ******************************************************************** *** Temos mais de 100 atos do governo Bolsonaro para revogar, diz Carlos Minc Em entrevista à CNN, ex-ministro e membro da equipe de Meio Ambiente da transição afirmou que taxas de desmatamento podem ser derrubadas em seis meses *** Temos mais de 100 atos do governo Bolsonaro para revogar, diz Carlos Minc | CNN NOVO DIATemos mais de 100 atos do governo Bolsonaro para revogar, diz Carlos Minc | CNN NOVO DIA CNN 18/11/2022 às 11:11 | Atualizado 18/11/2022 às 11:13 Ouvir notícia O geógrafo ambientalista Carlos Minc, que está na equipe de Meio Ambiente da transição de governo do presidente eleito Lula (PT), afirmou à CNN, nesta sexta-feira (18), que foram levantados mais de 100 atos do governo Bolsonaro que devem ser revogados. “Eu listei 120 atos do governo – entre decretos, portarias, instruções normativas – que vetam praticamente aplicação de multas, tiram controle da exportação de madeira. Isso tudo pode ser revertido com uma assinatura, no que chamamos de revogaço ambiental”, disse, em entrevista ao CNN Novo Dia, o ex-ministro do Meio Ambiente. Ele afirmou que, ao reverter as medidas decretadas pelo atual governo, acredita que em seis meses as taxas de desmatamento podem ser derrubadas. Leia mais: Na COP27, ministro do Meio Ambiente diz que Brasil nunca deixou de ser protagonista do clima Na COP27, ministro do Meio Ambiente diz que Brasil nunca deixou de ser protagonista do clima Enem traz questões sobre mulheres, meio ambiente e povos tradicionais Enem traz questões sobre mulheres, meio ambiente e povos tradicionais Deputados e ambientalistas fazem ato por meio ambiente e contra “pautas-bomba” Deputados e ambientalistas fazem ato por meio ambiente e contra “pautas-bomba” “Reativar o Fundo Amazônia é uma meta essencial porque esses recursos podem ser usados na fiscalização, no monitoramento, no apoio ao extrativismo sustentável. Porque para reduzir o desmatamento não basta reprimir o crime. Tem que fazer pactos com a iniciativa privada, orientar boas práticas para criar empregos sem destruir o bioma”, acrescentou Minc. O ex-ministro afirmou que essas ações serão “sinalizações para o Brasil e pro mundo que vamos retomar a agenda verde”. “Não vamos ser complacentes ou coniventes com crime ambiental e com as agressões aos povos indígenas”, concluiu. Assista a entrevista completa no vídeo no topo da página * Publicado por Léo Lopes, com produção de Leonardo Ribeiro, da CNN Tópicos Tópicos Amazônia Desmatamento Equipe de transição Fundo Amazônia Luiz Inácio Lula da Silva (Lula) Meio ambiente Ministério do Meio Ambiente Revogaço Transição de governo https://www.cnnbrasil.com.br/nacional/temos-mais-de-100-atos-do-governo-bolsonaro-para-revogar-diz-carlos-minc/ ********************************* Família de novo ministro do Meio Ambiente disputa posse em terra indígena em SP João Fellet Da BBC News Brasil em São Paulo 23 junho 2021 ***
*** Joaquim Álvaro Pereira Leite e Jair Bolsonaro CRÉDITO,REPRODUÇÃO Legenda da foto, O novo ministro do Meio Ambiente, Joaquim Álvaro Pereira Leite, e o presidente Jair Bolsonaro Nomeado ministro do Meio Ambiente nesta quarta-feira (23/6) no lugar de Ricardo Salles, Joaquim Álvaro Pereira Leite integra uma família tradicional de fazendeiros de café de São Paulo que pleiteia um pedaço da Terra Indígena Jaraguá, em São Paulo. Segundo um documento da Funai (Fundação Nacional do Índio), capatazes a serviço da família chegaram a destruir a casa de uma família indígena ao tentar expulsá-la do território reclamado. A terra indígena fica nos municípios de São Paulo e Osasco e é a menor do país, com 532 hectares. Nela moram 534 indígenas dos povos Guarani Mbya e Ñandeva, segundo a Comissão Pró-Índio de São Paulo. O processo de demarcação do território se iniciou nos anos 1980, mas jamais foi concluído e está paralisado na Justiça. No relatório de identificação da terra indígena, publicado pela Funai em 2013, o antropólogo Spensy Pimentel diz que a família Pereira Leite cobrou várias vezes a paralisação da demarcação do território. Segundo o relatório, em 1986, Joaquim Álvaro Pereira Leite Neto (pai do novo ministro) "exigiu que a Funai retirasse os marcos físicos do processo demarcatório da área indígena Jaraguá, alegando ser o proprietário da área, acusando agressivamente a Funai de estar praticando um crime". Pule Podcast e continue lendo Podcast Logo: Brasil Partido Brasil Partido João Fellet tenta entender como brasileiros chegaram ao grau atual de divisão. Episódios Fim do Podcast O relatório prossegue: "Tal agressividade, no entanto, extrapolou para além das missivas, e passaram então esses cidadãos a fazer ameaças aos índios, a intimidá-los com capatazes, e mesmo destruindo uma de suas casas". Segundo o documento, como a Funai não paralisou a demarcação, a família começou a ameaçar os indígenas diretamente. Em artigo no livro A grilagem de terras na formação territorial brasileira, a doutora em Geografia Humana pela USP Camila Salles de Faria transcreve o relato de um líder espiritual guarani, José Fernandes, sobre uma visita de um membro da família Pereira Leite à aldeia. "Chegou esse finado velho... Pereira Leite, (que disse): 'não, isso aqui é meu; agora temos que fazer tudo, vamos lá pra delegacia'. Aí eu falei 'não, não vou'. Aí ele falou assim: 'tem papel da terra que comprou aqui?' Eu falei: 'não, não tenho, mas também sou grande, viu?' Aí mostrei o meu documento de cacique. Aí ele foi embora." O líder provavelmente se referia José Álvaro Pereira Leite, morto em 2008 e avô do novo ministro. Foi José Álvaro Pereira Leite quem iniciou o processo judicial contra a demarcação. A antropóloga cita o relato de outra indígena, identificada como Eunice, sobre o patriarca da família. "Esse Pereira Leite, a família Pereira Leite, ele ameaça muito o pessoal indígena… Que vai pôr fogo na casa, que vai destruir... Numa época ele até veio com uma maleta de dinheiro para mim querendo comprar a terra de mim." Em 1996, diz o artigo de Faria, a família Pereira Leite pediu à Justiça a expulsão da comunidade e, acompanhada pela Polícia Militar de São Paulo, "tentou a retirada dos moradores indígenas da área". Porém, segundo o artigo, o Ministério Público Federal acionou a Polícia Federal, que interveio e evitou a expulsão. A justificativa é que, como terras indígenas são áreas da União, conflitos em torno desses territórios devem ser mediados por órgãos federais, e não estaduais, como as polícias militares. Formado em Administração de Empresas pela Universidade de Marília, o novo ministro do Meio ambiente diz em seu currículo ter trabalhado como "proprietário/administrador" da fazenda de café Alvorada, entre 1991 e 2002. Entre 1996 e 2019, ele foi conselheiro da Sociedade Rural Brasileira (SRB), uma das mais antigas e influentes entidades ruralistas do país. Também trabalhou como diretor de uma empresa do ramo farmacêutico e como consultor de uma marca de café. Antes de ser nomeado ministro, ele exercia o posto de secretário da Amazônia e Serviços Ambientais do Ministério do Meio Ambiente. Após a publicação original desta reportagem, o Ministério do Meio Ambiente enviou nota à BBC News Brasil. Confira a íntegra: "O Ministério do Meio Ambiente informa que o processo de disputa de posse em questão é tratado no âmbito do espólio da família paterna do ministro Joaquim Leite, que nunca teve atuação direta ou indireta no assunto." https://www.bbc.com/portuguese/brasil-57590288 ************************************************** MEIO AMBIENTE MEIO AMBIENTE Isolado na COP26, ministro do Meio Ambiente discretamente "passa a boiada" ***
*** Joaquim Leite, ministro do Meio Ambiente Imagem: Arte UOL *** Wanderley Preite Sobrinho e Jamil Chade Do UOL, em São Paulo, e em Glasgow, na Escócia 13/11/2021 04h00 Se não fosse pelo segundo lugar no antiprêmio "Fóssil do Dia", o ministro do Meio Ambiente, Joaquim Alvaro Pereira Leite, circularia pelos corredores da COP26 (26ª Conferência Mundial do Clima da ONU), em Glasgow, na Escócia, com a mesma desenvoltura com que é conhecido na Esplanada dos Ministérios: ao contrário da estridência de Ricardo Salles, Leite é conhecido em Brasília por, discretamente, manter a política ambiental do antecessor e "passar a boiada". A "premiação" oferecida a Leite por 1.500 entidades de combate às mudanças climáticas foi uma homenagem às avessas por seu discurso de 5 minutos que aterrorizou ambientalistas do mundo todo na quarta-feira (10). Recheado de exageros, a fala de Leite defendeu a tese de que "onde há muita floresta há muita pobreza". O UOL procurou o Ministério do Meio Ambiente para comentar esta reportagem, mas não recebeu resposta até a publicação. O impacto de sua apresentação contrasta com a discrição com que circula pela COP26. Leite chegou a Glasgow oito dias depois do início da principal conferência climática do mundo, iniciada em 31 de outubro. John Kerry, enviado especial dos Estados Unidos para as mudanças climáticas, desembarcou na Escócia no primeiro dia do evento. Chefe da maior delegação em Glasgow, Leite esteve em 24 reuniões e só participou de eventos públicos organizados pelo próprio governo. Ele recebeu delegações estrangeiras, mas ninguém conhece os nomes já que, "por questão de segurança", ele não divulga sua agenda. Na quarta, quando levou o antiprêmio, Leite falou a brasileiros em dois seminários e participou do "Dia do Agrobusiness". Até o estande oficial do Brasil na COP26 é decorado com os logotipos da CNI (Confederação Nacional Da Industria) e CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil). ***
*** O ministro do Meio Ambiente, Joaquim Leite, fala durante a COP26 Imagem: Yves Herman/Reuters *** As discussões climáticas, florestais e indigenistas ficaram para um estande informal, criado por um grupo de ONGs ambientais brasileiras. Leite foi convidado duas vezes para debater no estande alternativo, mas até ontem (12) não havia respondido. Surpresa maior, no entanto, foi seu alegado desconhecimento sobre um texto de sete páginas que era uma prévia do acordo final da conferência, o documento mais importante do encontro. O ministro ainda não havia lido o documento 12 horas depois de o texto preliminar ter sido enviado a todas as delegações, afirmou ele ao UOL. Avesso aos holofotes Isolado até pelo Itamaraty, que busca restabelecer contatos diplomáticos com o resto do mundo, o ministro de 54 anos repete internacionalmente o perfil doméstico de passar despercebido. Detratores e simpatizantes em Brasília são unânimes sobre Leite: ele não gosta de holofotes. Casado e pai de quatro filhos, o ministro se comporta como se fosse um quadro técnico, e não político, quando em contato com ONGs e congressistas da bancada ambiental. Mais despojado, prefere circular em camisa sem gravata. É também conhecido por ouvir com atenção, outro contraste em relação a Ricardo Salles. As diferenças, dizem, param por aí. ***
*** Os ministros Fábio Faria (Comunicações) e Joaquim Leite (Meio Ambiente), no pavilhão do Brasil na COP26; ao fundo, o logotipo da CNI Imagem: Jamil Chade/UOL *** "O Joaquim Leite não está fazendo nada de diferente do Ricardo Salles. Ele só não é incisivo politicamente", afirma o deputado federal oposicionista Nilto Tatto (PT-SP), membro da Comissão de Meio Ambiente da Câmara. "Não houve nenhuma medida para reverter o desmonte do meio ambiente pelo Salles. O Leite não reestruturou os órgãos fiscalizadores, como Funai [Fundação Nacional do Índio] e ICMbio [Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade], para enfrentar o desmatamento. Aliás, o ministério está subordinado à agenda agropecuária." Nilto Tatto, da Comissão de Meio Ambiente da Câmara "Amigo de longa data" do ministro, o deputado Evair Melo (PP-ES), também da Comissão de Meio Ambiente, diz que Leite tem "responsabilidade muito grande com o setor produtivo" e é "atento às solicitações de todos os parlamentares". Ele privilegiaria o diálogo para "unificar todos os setores, porque sabe que meio ambiente está ligado a todo o resto no Brasil: à agricultura, ao urbano, à cidadania, ao saneamento", diz. De Glasgow, o secretário executivo do Observatório do Clima, Marcio Astrini, disse ao UOL que "todas as medidas que fizeram o desmatamento e as emissões nacionais aumentarem, continuam em vigor". "Pode ter mudado quem toma conta da porteira, mas a boiada [sobre regras ambientais] continua igualmente passando", disse ele em referência à polêmica declaração de Salles durante uma reunião ministerial em abril de 2020. ***
*** O ministro Joaquim Leite ao lado do presidente Jair Bolsonaro Imagem: Antonio Molina /Fotoarena/Folhapress *** De produtor de café a ministro A desconfiança em relação a Leite se deve a seu passado, um administrador de empresas de formação que por 11 anos foi produtor de café e por 23 anos integrou o Conselho da SRB (Sociedade Rural Brasileira), histórica apoiadora da bancada ruralista. Leite só deixou a entidade em julho 2019, quando foi nomeado diretor do Departamento de Florestas do Ministério do Meio Ambiente. Em abril do ano seguinte, ele foi promovido a titular da Secretaria de Florestas e Desenvolvimento Sustentável, que em setembro de 2020 seria rebatizada de Secretaria da Amazônia e Serviços Ambientais. Leite só assumiu o ministério em 23 de junho deste ano, quando Salles deixou a pasta por suposto favorecimento ilegal a madeireiros, o que ele nega. O ministro, que já foi diretor do ramo farmacêutico, é conhecido também pela fama dos familiares. A irmã, Fernanda Pereira Leite, é sócia da filial brasileira da austríaca Glock, a renomada fabricante de pistolas. A empresa teria recebido mais de R$ 43 milhões do governo federal por meio de contratados sem licitação, aponta reportagem de A Pública. Família Pereira Leite X indígenas Advogada, Fernanda representou a família em um processo polêmico. Em 2015, ela questionou entendimento da Justiça de que terras da família Pereira Leite avançaram ilegalmente sobre porções do Jaraguá, entre São Paulo e Osasco, na região metropolitana da capital. Anos antes, em 2003, José Alvaro Pereira Leite, avô de Fernanda e do ministro, ingressou com ações para reintegração de posse dessas terras, que na década de 1980 foram declaradas indígenas pela Funai: 532 hectares em favor de 534 pessoas dos povos Guarani Mbya e Ñandeva. ***
*** Aldeia indígena no Jaraguá, em São Paulo. Família Pereira Leite reivindica a posse de parte da região Imagem: Reproduçãao *** Em 1986, o relatório da Funai sobre o território diz que Joaquim Álvaro Pereira Leite Neto — pai do ministro — "exigiu que a Funai retirasse os marcos físicos do processo demarcatório da área indígena Jaraguá, alegando ser o proprietário da área, acusando agressivamente a Funai de estar praticando um crime". Em artigo no livro "A grilagem de terras na formação territorial brasileira", a antropóloga Camila Salles de Faria cita o relato de uma indígena, identificada como Eunice, sobre o avô do ministro: "Esse Pereira Leite, a família Pereira Leite, ele ameaça muito o pessoal indígena. Que vai pôr fogo na casa, que vai destruir... Numa época ele até veio com uma maleta de dinheiro para mim querendo comprar a terra de mim", diz. Xondaro da comunidade — ou guerreiro que cuida do território com o coração —, Karai Djekupe é um dos atuais líderes da comunidade no Jaraguá. Ele conta que, diferentemente do pai e do avô, o ministro do Meio Ambiente nunca os ameaçou. A chegada de um membro da família Pereira Leite à pasta, no entanto, tirou o sono. ***
*** O líder guarani Karai Djekupe fecha acordo com o coronel da PM após protesto contra a construção de 11 prédios perto das terras da etnia Guarani Mbya, em Jaraguá, capital paulista Imagem: Marlene Bergamo/Folhapress *** "Quando ele foi nomeado, trouxe um receito em todos aqui", diz ele. "A gente fica triste, receoso porque um membro dos Pereira Leite agora tem poder político." A contenda está paralisada até que o STF (Supremo Tribunal Federal) decida sobre o chamado marco temporal das terras indígenas. Se passar, essas populações só poderão reivindicar terras que ocupavam em 5 de outubro de 1988, data de promulgação da Constituição. O julgamento foi interrompido por um pedido de vista (análise do caso) do ministro Alexandre de Moraes. Se a tese defendida pelo governo Bolsonaro passar, a família Pereira Leite pode ficar com aproximadamente 2,2 hectares das terras no Jaraguá, uma região com aproximadamente cem famílias, afirma Djekupe. "Agora um membro da família Pereira Leite está na COP26 tratando das questões ambientais brasileiras em espaço importantíssimo de diálogo. O sentimento é de medo pelo que ele pode vir a fazer. Mas nós também acreditamos que as pessoas lá fora já entenderam que o governo não representa a política ambiental e indigenista do Brasil." Karai Djekupe, líder indígena https://noticias.uol.com.br/meio-ambiente/ultimas-noticias/redacao/2021/11/13/joaquim-leite-ministro-do-meio-ambiente-cop26.htm ********************************************************************************
*** COLUNISTAS Arthur Lira e Lula: o novo casamento entre o velho e o novo para que tudo mude e permaneça como está. Foto: Ricardo Stuckert *** COMENTÁRIO DO DIA *** *** VÍDEO Lula e Lira: “Se quisermos que tudo continue, é preciso que tudo mude”… RUDOLFO LAGO 09.11.2022 13:22 18 *** ANÁLISE COLUNA OPINIÃO REPORTAGEM Em PAÍS TEMAS DEMOCRACIA ELEIÇÕES TAGS ELEIÇÕES 2022 ARTHUR LIRA LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA VÍDEO JOSÉ SARNEY TANCREDO NEVES RUDOLFO LAGO COMENTÁRIO DO DIA NOVO GOVERNO O LEOPARDO RECEBA POR *** É um bocado curioso que o personagem-chave de “O Leopardo”, de Giuseppe di Lampeduza, talvez o mais importante romance político da história, se chame Tancredi. No romance de Lampeduza, Tancredi é a chave para o casamento da velha aristocracia com a burguesia que ascende. Troque-se o “i” do nome italiano pelo “o” do quase homônimo brasileiro, e temos Tancredo… Neves… E o nosso casamento dos velhos grupos políticos com os novos que surgem. “Se quisermos que tudo continue como está, é preciso que tudo mude”… “O Leopardo” conta a história de Fabrizio de Córbera, príncipe de Salina, que carrega consigo o epíteto de “Il Gattopardo” (O Leopardo), que dá título ao romance. No final do século 19, com a unificação da Itália, O Leopardo perderá seu principado. E, com isso, corre claramente o risco de perder seu perder político. Mas O Leopardo tem um sobrinho, Tancredi, que, apesar da linhagem nobre, incorporou-se às tropas de Giuseppe Garibaldi para conseguir a unificação italiana. O que faz então O Leopardo? Promove o casamente de Tancredi com Angelica, a filha de Dom Calegaro, integrante da nova burguesia que ascende com a unificação. Tancredi, então, diz a famosa frase: “Se quisermos que tudo continue como está, é preciso que tudo mude”… LEIA TAMBÉM Nocividade do voto útil impõe regulamentação de pesquisas MINISTÉRIO PÚBLICO DEMOCRÁTICO VÍDEO “Perdeu, mané”: Randolfe repete Barroso em bate-boca com bolsonarista CONGRESSO EM FOCO Veja o comentário em vídeo:
*** No filme de Luchino Visconti, Alain Delon interpreta Tancredi, e Claudia Cardinale é Angélica *** A alegoria contada em “O Leopardo” é o grande exemplo de como se dão os arranjos políticos, que promovem as mudanças, “ma non tropo”, recorrendo ao italiano original do romance. Como aconteceu no início da redemocratização do país, o fim da ditadura só se tornou possível e estável porque o nosso Tancredo Neves promoveu, como o Tancredi do romance, o casamento de parte importante das velhas forças que amparavam o regime militar com as novas forças que ascendiam nos estertores da ditadura. Tancredi casava-se com Angelica, Tancredo com José Sarney. Trinta e sete anos depois de Tancredo Neves e José Sarney promoverem o casamento que deu fim à ditadura militar, o Brasil enfrentou uma renhida disputa entre a manutenção da sua democracia e o risco real de retrocesso autoritário. A democracia venceu por uma margem apertadíssima. O que ainda dá ânimo para que radicais renitentes rezem e marchem em acampamentos patéticos pelo país. ***
*** Tancredo e Sarney: nossa versão tupiniquim do casamento entre o velho e novo. Foto: CPDOC/FGV *** È Lula agora quem assume o papel de Tancredi, a promover o casamento entre o novo e o velho para fazer com que o país que muda possa permanecer como está. Na manhã desta quarta-feira (9), ele esteve na residência oficial do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL). Lira é o principal líder de fato da base de sustentação do presidente que se despede e ameaçava a democracia, Jair Bolsonaro. Talvez tenha se tornado mais poderoso que o próprio Bolsonaro que foi cedendo a ele cada vez mais nacos de poder refém que era dos mais de cem pedidos de impeachment que Lira manteve guardados na sua gaveta. Lira quer se manter no ano que vem presidente da Câmara. Provavelmente Lula não irá se opor a isso. Lira quer manter o seu orçamento secreto. Lula talvez altere de forma negociada isso, mas sem retirar completamente a principal ferramenta de poder de que Lira hoje dispõe. Em troca, Lira deve garantir a Lula as condições de governabilidade que ele precisa para avançar e para manter no país a democracia. É o novo casamento do velho com o novo. “Se quisermos que tudo continue, é preciso que tudo mude”… AUTORIA ***
*** Rudolfo Lago RUDOLFO LAGO Diretor do Congresso em Foco Análise. Formado pela UnB, passou pelas principais redações do país. Responsável por furos como o dos anões do orçamento e o que levou à cassação de Luiz Estevão. Ganhador do Prêmio Esso. *** https://congressoemfoco.uol.com.br/projeto-bula/reportagem/lula-e-lira-se-quisermos-que-tudo-continue-e-preciso-que-tudo-mude/ *********************************************************

Nenhum comentário:

Postar um comentário